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quarta-feira, 10 de julho de 2024

Príncipe saudita impediu confisco de 300 mil milhões de dólares russos cativos em bancos ocidentais

Parecia haver, a certa altura, total sintonia entre os dirigentes do G7, da UE  e Zelensky, no sentido da confiscação total dos 300 mil milhões de dólares em ativos da Federação Russa, em bancos europeus (sobretudo Franceses, Alemães e Belgas ).

De repente, o discurso mudou, com explicações bastante duvidosas, do ponto de vista jurídico, da parte dos governos da UE. Agora, só iriam ser confiscados os juros resultantes desses ativos e não o capital próprio. Para o mundo capitalista, a expropriação dos juros não tem qualquer lógica, na medida em que estes foram obtidos como resultado legítimo do investimento desses ativos. Continuava a ser uma monstruosidade jurídica do ponto de vista do sistema vigente.   

Agora, a Bloomberg vem nos dar a chave do problema. A Arábia Saudita ameaçou despejar no mercado as obrigações do tesouro desses países ocidentais, se eles expropriassem a Rússia dos seus ativos, para dá-los ao regime de Kiev e seus psicopáticos dirigentes. 

Foi afinal isso que mudou o discursos dos ocidentais, fazendo com que - agora - já não seriam «expropriáveis» os 300 mil milhões de ativos russos, mas «apenas» os juros que estes tinham rendido. Embora a lógica seja tão absurda como quando anunciavam que iriam «confiscar» os bens da Federação Russa e até de oligarcas (portanto, privados), que estavam em bancos de vários países da UE.

A monstruosidade deste confisco só tem paralelo com a operação falhada de promover um fantoche a «presidente» da Venezuela, entregando-lhe e ao seu «governo no exílio», o ouro venezuelano à guarda do Banco Central britânico (Bank of England).

A Venezuela não recuperou o ouro. Porém, todas as instâncias internacionais competentes na matéria, consideram que se tratou de pirataria financeira dos britânicos . 

ttps://morningstaronline.co.uk/article/f/give-venezuela-back-its-gold-2023

Agora, com a guerra na Ucrânia, os piratas que governam a UE decidiram fazer substancialmente o mesmo  com os ativos russos: Eles queriam pagar-se dos fornecimentos de armas e munições à Ucrânia, que têm sido fornecidas desde muito antes de Fevereiro de 2022 e, sobretudo desde então, despejadas em enormes quantidades e destruídas sistematicamente pelas forças armadas russas. Na realidade, nem um cêntimo do dinheiro russo confiscado irá para os cofres estatais da Ucrânia. Uma parte será para pagar as toneladas de material de guerra despejadas quotidianamente na guerra assoprada e fomentada pelos ocidentais, outra parte, irá para os bolsos de políticos corruptos, de Zelensky e da camarilha que gravita em torno dele, ou ainda, dos bilionários ao estilo de Kolomoisky (que financiava o «Batalhão Azov» e partidos ditos nacionalistas, na verdade, neonazis). 

Para mais pormenores, leia o artigo de Zero Hedge: Diz muito sobre o fim do petrodólar e perda da hegemonia financeira do Ocidente sobre o Mundo: Os detentores de dívida dos países ricos têm, agora, mais meios de pressão sobre estes, do que antes. Antes, os emissores de dívida (como os EUA), faziam voz grossa e ameaçavam invadir quem se atrevesse a vender as «treasuries» guardadas em reserva.

quarta-feira, 19 de junho de 2024

CRÓNICA (Nº28) DA IIIª GUERRA MUNDIAL: UM ANIMAL É MAIS PERIGOSO SE ESTÁ FERIDO DE MORTE

Os imperialistas estão furiosos; a «ordem emergindo do caos», saiu-lhes furada. Estão como animais feridos de morte, que sabem que vão morrer; batem-se com o desespero de quem já não tem hipóteses de ganhar. 

Mas, repetem a ficção de que Ucrânia pode ganhar aos russos: A OTAN, recentemente, pela voz de Stoltenberg (seu Secretário-geral), reafirmou o compromisso em admitir a Ucrânia como membro da OTAN. 

Só que este país precisava de satisfazer um requisito imprescindível: tinha de vencer a guerra contra os russos. Ora, aqui está um exemplo de hipocrisia e maldade, eternizando o que os dois povos (Ucraniano e Russo) já sofreram. Os próprios estatutos da OTAN proíbem a adesão de um candidato, se este estiver em guerra. Portanto, a OTAN aposta na guerra «eterna» com a Rússia, usando a Ucrânia.

Entretanto, o petrodólar já recebeu a sua sentença de morte. E foi MBS que veio dar a estocada final. Lembrem-se do caquético e servil Biden vir, há um ano atrás, pedinchar ao príncipe herdeiro Mohamed Bin Salman, que este se juntasse ao embargo do petróleo russo e - ainda por cima - fizesse baixar substancialmente os preços, inundando de petróleo saudita o mercado mundial. 

 https://www.youtube.com/watch?v=IVijYJlMf_8      LENA PETROVA

A «cimeira» da Suíça foi um enorme fiasco e a prova provada da incapacidade dos súbditos do Império em fazerem a política da paz (verdadeira) . Para eles, a paz significa a capitulação da Rússia. Isto não está sequer remotamente dentro dos possíveis. 

Como alguém que «busca encarecidamente a paz», apressaram-se a fazer afronta atrás de afronta, roubando as reservas russas em divisas à guarda dos bancos ocidentais e entregando esses ativos, pertencentes ao povo russo, ao regime criminoso e mafioso de Kiev. 

Não satisfeitos com isso, assumem armar a junta resultante do golpe fascista de 2014, com mísseis de cruzeiro, capazes de alcançar qualquer ponto dentro da Rússia. Para quem quer fazer figura de «pacificador», não está mal, não senhor!  

https://www.youtube.com/watch?v=hJGsRBdFMpA   NEUTRALITY STUDIES

O pânico dos poderes dominando o Ocidente, ou seja, as chefias dos países vassalos do imperialismo e que já foram - no seu tempo - potências de primeira-grandeza, possuidoras de vastos domínios coloniais, mostra como são totalmente desapiedados, em relação à população civil palestiniana, que eles olham como se «não fosse em seu poder parar esses massacres imediatamente». 

Como estão, aliás, muito preocupados com os ucranianos; Têm-se esmerado em prolongar a guerra, uma guerra com zero hipótese do regime de Kiev vencer, com ou sem armas estrangeiras, com ou sem tropas «mercenárias» (militares que despiram a farda, mas que continuam a ser pagos pela OTAN). 

Dizem fontes insuspeitas que, pelo menos, morreram 500 mil soldados ucranianos nesta guerra de atrição («meat grinder» = moedor de carne). 

Muitos mais irão morrer inutilmente, para satisfazer a gula insaciável do complexo militar-industrial (principalmente dos EUA) e não menos insaciável gula de Blackrock, Vanguard, Monsanto e congéneres. Desde o princípio desta guerra, têm sido aqueles, os grandes compradores de terras ucranianas de primeira qualidade, para somar aos seus avultados investimentos em muitas áreas, desde os fundos financeiros aos terrenos agrícolas, nos EUA e um pouco por todo o lado. 



A característica saliente neste fim de império e de novo milénio, é que as guerras imperiais constantes não são lançadas para serem ganhas, são guerras "eternas", ou seja duram muito para melhor encherem os bolsos dos contratadores, das empresas abutres, grandes bancos «sistémicos», fundos de investimento financeiro e, claro está, das fábricas de armamento. Eles sabem que não podem vencer, então vão provocando os seus adversários que entretanto se organizaram.

Como? Como fazem eles o «cerco a 5 dimensões» à hidra imperial?

- Monetária-financeira (divisa dos BRICS usando «blockchain»)

-Desenvolvimento em infraestruturas e tecnologias (BRICS);

-Integração dos sistemas de defesa;

-Aumento da capacidade nas tecnologias de ponta (ex.: semicondutores);

- Trocas comerciais com todo o mundo, numa base de reciprocidade e interesse mútuo.

Face a estas iniciativas estratégicas, o que tem o Ocidente para oferecer?

-Mais neocolonialismo;

-mais «revoluções coloridas»;

-mais ameaça de invasão aos recalcitrantes;

- mais sanções

-mais propaganda

https://strategic-culture.su/news/2024/06/18/hegemon-orders-europe-bet-on-war-and-steal-russia-money/      PEPE ESCOBAR



quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

OTAN VAI DIRIGIR A OPERAÇÃO NO MAR VERMELHO CONTRA OS HUTHIS

 Veja o vídeo de entrevista a Thierry Meyssan, pelo «Courrier des Stratèges»:

                                           [TEM LEGENDAS AUTOMÁTICAS EM FRANCÊS]

Consulte o artigo de John Helmer «RUNNING THE RED GAUNTLET» sobre a guerra em alastramento no Mar Vermelho (estreito de Bab el-Mandeb)
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PS1 (22/12/2023): A instabilidade parece acentuar-se com a entrada em cena de navios de guerra  iranianos, chineses, russos e indianos; face a uma anunciada força naval liderada por americanos e OTAN:

PS2 (23/12/2023): Uma hipócrita resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas foi aprovada. Israel poderá continuar negar o auxílio humanitário  à população palestiniana de Gaza, com a consequência de fome devastadora e epidemias:  https://www.youtube.com/watch?v=IT0yW6kS3Uo

PS3 (23/12/2023): Espetacular fracasso dos EUA em juntar os seus países aliados, da OTAN e outros, na missão no Mar Vermelho. Vejam esta notícia, abaixo. Na realidade, isto é uma autêntica bofetada no poder hegemónico:

PS24/12/2023: A brilhante iniciativa estratégica dos houthis, no estreito que controla o Mar Vermelho, vem mostrar aos EUA, que os aliados da OTAN (França, Itália, sobretudo Espanha...) não estão disponíveis para se queimarem, para defender Israel. Sobretudo, não estão interessados em entrar em conflito com o Irão. Isto quer dizer que o panorama internacional mudou - qualitativamente - com o alargamento dos BRICS. Será o início do fim da OTAN.
https://johnhelmer.net/honey-trap-for-israelis-and-americans-in-the-red-sea/#more-89104

domingo, 20 de agosto de 2023

Seymour Hersh: O VERÃO DOS FALCÕES

Seymour Hersh: Summer of the Hawks (O Verão dos Falcões)

O tomar os desejos pela realidade continua sendo a regra na equipa de política externa de Biden, enquanto continua a carnificina na Ucrânia.




O Secretário de Estado Anthony Blinken fala durante a cimeira para líderes africanos em Washington, DC, 02 de Agosto 2023. (Foto oficial do Departamento de Estado por Chuck Kennedy)

(transcrevo o artigo da página de Seymour Hersh / Substack )


It’s been weeks since we looked into the adventures of the Biden administration’s foreign policy cluster, led by Tony Blinken, Jake Sullivan, and Victoria Nuland. How has the trio of war hawks spent the summer?

Sullivan, the national security adviser, recently brought an American delegation to the second international peace summit earlier this month at Jeddah in Saudi Arabia. The summit was led by Crown Prince Mohammed bin Salman, known as MBS, who in June announced a merger between his state-backed golf tour and the PGA. Four years earlier MBS was accused of ordering the assassination and dismemberment of the journalist Jamal Khashoggi at the Saudi consulate in Istanbul, for perceived disloyalty to the state.

As unlikely as it sounds, there was such a peace summit and its stars did include MBS, Sullivan, and President Volodymyr Zelensky of Ukraine. What was missing was a representative of Russia, which was not invited to the summit. It included just a handful of heads of state from the fewer than fifty nations that sent delegates. The conference lasted two days, and attracted what could only be described as little international attention.

Reuters reported that Zelensky’s goal was to get international support for “the principles” that that he will consider as a basis for the settlement of the war, including “the withdrawal of all Russian troops and the return of all Ukrainian territory.” Russia’s formal response to the non-event came not from President Vladimir Putin but from Deputy Minister of Foreign Affairs Sergei Ryabkov. He called the summit “a reflection of the West’s attempt to continue futile, doomed efforts” to mobilize the Global South behind Zelensky.

India and China both sent delegations to the session, perhaps drawn to Saudi Arabia for its immense oil reserves. One Indian academic observer dismissed the event as achieving little more than “good advertising for MBS’s convening power within the Global South; the kingdom’s positioning in the same; and perhaps more narrowly, aiding American efforts to build consensus by making sure China attends the meeting with . . . Jake Sullivan in the same room.”

Meanwhile, far away on the battlefield in Ukraine, Russia continued to thwart Zelensky’s ongoing counteroffensive. I asked an American intelligence official why it was Sullivan who emerged from the Biden administration’s foreign policy circle to preside over the inconsequential conference in Saudi Arabia.

“Jeddah was Sullivan’s baby,” the official said. “He planned it to be Biden’s equivalent of [President Woodrow] Wilson’s Versailles. The grand alliance of the free world meeting in a victory celebration after the humiliating defeat of the hated foe to determine the shape of nations for the next generation. Fame and Glory. Promotion and re-election. The jewel in the crown was to be Zelensky’s achievement of Putin’s unconditional surrender after the lightning spring offensive. They were even planning a Nuremberg type trial at the world court, with Jake as our representative. Just one more fuck-up, but who is counting? Forty nations showed up, all but six looking for free food after the Odessa shutdown”—a reference to Putin’s curtailing of Ukrainian wheat shipments in response to Zelensky’s renewed attacks on the bridge linking Crimea to the Russian mainland.

Enough about Sullivan. Let us now turn to Victoria Nuland, an architect of the 2014 overthrow of the pro-Russian government in Ukraine, one of the American moves that led us to where we are, though it was Putin who initiated the horrid current war. The ultra-hawkish Nuland was promoted early this summer by Biden, over the heated objections of many in the State Department, to be the acting deputy secretary of state. She has not been formally nominated as the deputy for fear that her nomination would lead to a hellish fight in the Senate.

It was Nuland who was sent last week to see what could be salvaged after a coup led to the overthrow of a pro-Western government in Niger, one of a group of former French colonies in West Africa that have remained in the French sphere of influence. President Mohamed Bazoum, who was democratically elected, was tossed out of office by a junta led by the head of his presidential guard, General Abdourahmane Tchiani. The general suspended the constitution and jailed potential political opponents. Five other military officers were named to his cabinet. All of this generated enormous public support on the streets in Niamey, Niger’s capital—enough support to discourage outside Western intervention.

There were grim reports in the Western press that initially viewed the upheaval in East-West terms: some of the supporters of the coup were carrying Russian flags as they marched in the streets. The New York Times saw the coup as a blow to the main US ally in the region, Nigerian President Bola Ahmed Tinubu, who controls vast oil and gas reserves. Tinubu threatened the new government in Niger with military action unless they returned power to Bazoum. He set a deadline that passed without any outside intervention. The revolution in Niger was not seen by those living in the region in east-west terms but as a long needed rejection of long-standing French economic and political control. It is a scenario that may be repeated again and again throughout the French-dominated Sahel nations in sub-Saharan Africa.

There are distinctions that do not bode well for the new government in Niger. The nation is blessed, or perhaps cursed, by having a significant amount of the remaining natural uranium deposits in the world. As the world warms up, a return to nuclear generated power is seen as inevitable, with obvious implications for the value of the stuff underground in Niger. The raw uranium ore, when separated, filtered and processed is known worldwide as yellowcake.

The corruption so often “talked about in Niger is not about petty bribes by government officials, but about an entire structure—developed during French colonial rule—that prevents Niger from establishing sovereignty over its raw materials and over its development,” according to a recent analysis published by Baltimore’s Real News Network. Three out of four laptops in France are powered by nuclear energy, much of which is derived from uranium mines in Niger effectively controlled by its former colonial overlord.

Niger is also the home of three American drone bases targeting Islamic radicals throughout the region. There are also undeclared Special Forces outposts in the region, whose soldiers receive double pay while on their risky combat assignments. The American official told me that “the 1,500 US troops now in Niger are exactly the number of American troops who were in South Vietnam at the time John F. Kennedy took over the presidency in 1961.”

Most important, and little noted in Western reporting in recent weeks, Niger is directly in the path of the new Trans-Saharan pipeline being constructed to deliver the Nigerian gas to Western Europe. The pipeline’s importance to Europe’s economy was heightened last September by the destruction of the Nord Stream pipelines in the Baltic Sea.

Into this scene came Victoria Nuland, who must have drawn the short straw inside the Biden Administration. She was sent to negotiate with the new regime and to arrange a meeting with the ousted President Bazoum, whose life remains under constant threat from the governing junta. The New York Times reported that she got nowhere after talks she described as “extremely frank and at times quite difficult.” The intelligence official put her remarks to the Times in American military lingo: “Victoria set out to save the Niger uranium owners from the barbaric Russians and got a huge single-finger salute.”

Quieter in recent weeks than Sullivan and Nuland has been Secretary of State Tony Blinken. Where was he? I asked that question of the official, who said that Blinken “has figured out that the United States”—that is, our ally Ukraine—“will not win the war” against Russia. “The word was getting to him through the Agency [CIA] that the Ukrainian offense was not going to work. It was a show by Zelensky and there were some in the administration who believed his bullshit.

“Blinken wanted to broker a peace deal between Russia and Ukraine as Kissinger did in Paris to end the Vietnam war.” Instead, the official said, “it was going to be a big lose and Blinken found himself way over his skis. But he does not want to go down as the court jester.”

It was at this moment of doubt, the official said, that Bill Burns, the CIA director, “made his move to join the sinking ship.” He was referring to Burns’s speech earlier this summer at the annual Ditchley conference near London. He appeared to put aside his earlier doubts about expanding NATO to the east and affirmed his support at least five times for Biden’s program.

“Burns does not lack self-confidence and ambition,” the intelligence official said, especially when Blinken, the ardent war hawk, was suddenly having doubts. Burns served in a prior administration as deputy secretary of state and running the CIA was hardly a just reward.

Burns would not replace a disillusioned Blinken, but only get a token promotion: an appointment to Biden’s cabinet. The cabinet meets no more than once a month and, as recorded by C-SPAN, the meetings tend to be tightly scripted affairs and to begin with the president reading from a prepared text.

Tony Blinken, who publicly vowed just a few months ago that there would be no immediate ceasefire in Ukraine, is still in office and, if asked, would certainly dispute any notion of discontent with Zelensky or the administration’s murderous and failing war policy in Ukraine.

So the White House’s wishful approach to the war, when it comes to realistic talk to the American people, will continue apace. But the end is nearing, even if the assessments supplied by Biden to the public are out of a comic strip.

© 2023 Seymour Hersh

NOTE TO SCHEERPOST READERS: We are happy to be able to run some of Sy Hersh’s pieces from his new Substack venture. Please, if you can, sign up at seymourhersh.substack.com so you can support Sy Hersh’s work and the ability to bring it here on ScheerPost. Thank you!

quarta-feira, 5 de abril de 2023

GONZALO LIRA: A PAZ RETIRA O CONTROLO DO MÉDIO-ORIENTE AOS EUA

 Oiça e veja esta curta conversa de Gonzalo Lira


RESUMO (feito por MB)

Há uns quinze dias houve uma sensacional notícia sobre um acordo firmado pela Arábia Saudita e o Irão. Os ex-inimigos acordaram em abrir embaixadas nas respetivas capitais. Ambos chegam à conclusão que têm, eles próprios, de assegurar a segurança dos seus países e o controlo do preço do petróleo. 

Só podem fazê-lo, aproximando-se entre países que partilham os mesmos interesses económicos. 

Não podem contar com um país, os EUA, que pretende ser a superpotência hegemónica e cujos planos para Médio Oriente têm passado por semear o caos, desencadeando discórdia e guerras de domínio, destruição e pilhagem dos recursos (Afeganistão, Iraque, Líbia, Síria...). 

O herdeiro do trono saudita, Bin Salman sabe que será rei deste país e que reinará por longo tempo. Ele faz as suas jogadas, tendo em conta um tempo longo. Ele percebeu que os EUA não serão mais a potência dominante, aquela que tinha assegurado a monarquia, afastando todos os obstáculos diplomáticos e proporcionado a formação de quadros e o equipamento moderno e sofisticado para as suas forças armadas.  

O seu anúncio de que a Arábia Saudita estava pronta a vender petróleo em outras divisas que não o dólar, foi o prego final no caixão do «petrodólar» . A deslocação oficial de Xi Jin Pin, veio assinalar isso e também que os BRICS estavam abertos para a entrada do Reino Saudita; pois, como é sabido, nos BRICS seus membros não têm de possuir à partida uma uniformidade em relação aos mais diversos assuntos, desde os militares, até aos ideológicos. 

Isto permite que o Reino Saudita encontre um mercado seguro, na China e em todo o Oriente. Como político inteligente (mesmo que seja cruel, cínico, etc), Bin Salman viu que era tempo de saltar para fora da aliança com os EUA. Uma aliança que o obrigava a guerrear com vários inimigos poderosos no Médio Oriente, para «fazer o frete aos americanos e israelitas». Bin Salman estava só à espera de uma oportunidade para isso.

A mudança geoestratégica no Médio Oriente, vai deixar os americanos desesperadamente isolados nas partes da Síria que eles ainda ocupam, ilegal e ilegitimamente, de onde têm roubado petróleo e bens agrícolas que pertencem ao povo sírio.

A Turquia, embora membro da OTAN, tem feito ouvidos moucos aos apelos para exercer sanções contra a Rússia. Erdogan aceita que Lavrov e Putin sejam os intermediários na operação diplomática que irá finalizar a guerra na Síria. Sem o apoio turco, nem americano, as várias milícias anti- Assad vão ficar sem retaguarda, sem apoio logístico, sem fornecimento de armas e munições. 

Assim o império Yankee tem estado a sofrer a «morte por mil golpes, ou mil feridas»: Um corpo é retalhado, ficando com mil feridas, cada uma delas não é letal. Mas, no conjunto, as feridas esvaziam o corpo de sangue e de vida. 


POST-SCRIPTUM

Este quadro é descrito por outras personalidades do jornalismo, como Pepe Escobar (brasileiro), que está há muitos anos no Extremo-Oriente, que tem feito um excelente trabalho, explicando a diplomacia chinesa e os projetos associados às «Novas Rotas da Seda».  Tenho acompanhado os assuntos de geoestratégia e tenho lido e ouvido as opiniões de vários analistas e comentadores. Assim como eu tenho conhecimento de PONTOS DE VISTA CONTRÁRIOS AO MEU, E NÃO SOU UM JORNALISTA, também os jornalistas e comentadores no Ocidente, têm necessariamente tal conhecimento.

Mas, a maioria dos jornalistas (e dos políticos) no Ocidente, fazem ocultação, desinformação e propaganda. A sua opinião é totalmente enviesada. É como se fossem os «cães de guarda» do Império.

Por isso, as exceções são de saudar, em pessoas como Pepe Escobar, George Galloway, John Helmer, John Pilger e algumas mais.

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POST-POST-SCRIPTUM:

  Veja último vídeo de Gonzalo Lira: 

https://www.youtube.com/watch?v=yHMHQ-1Pe6k

quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

OURO REGRESSA AO CENTRO DO SISTEMA FINANCEIRO

 A China é detentora duma quantidade de ouro difícil de apurar. No entanto, aquilo que se sabe é que o ouro em mãos do Estado, é mais do que o ouro oficialmente contabilizado no People's Bank of China, o banco central chinês. Por outro lado, nos últimos decénios, o povo foi encorajado a comprar ouro. A quantidade de ouro acumulado por este muito poupado povo (a poupança, por agregado familiar, é cerca de 40% do seu rendimento) é também quase impossível de avaliar.


                             Imagem: Loja de venda de ouro a retalho, em Pequim

O que se sabe, é que o ouro importado doutras paragens, principalmente através da Bolsa de metais preciosos de Xangai, faz desta, a praça mais importante mundialmente, no que diz respeito a trocas reais, ao metal físico. No mercado londrino (LBMA) ou no americano (COMEX), a quantidade de ouro realmente transacionada, é uma pequena percentagem dos contratos de futuros que são comprados e vendidos, ou seja, do «ouro-papel». É com estes contratos, que a finança e os Estados fazem uma permanente manipulação do ouro, um metal precioso muito «político»: é o único metal que continua a ser reconhecido como monetário (= como dinheiro real) pelos bancos centrais do mundo inteiro.
Ora, a China quer enriquecer o seu povo: É previsível que isto vá significar a oportunidade de adquirir mais ouro com os seus yuan. O yuan irá tornar-se assim como um «substituto» do ouro. O que Pequim tem de fazer (ao contrário dos padrões monetários/ouro, do passado) é não fixar/ indexar o preço do ouro em yuan. Se não indexarem a sua moeda ao ouro, continuará a haver, no entanto, uma forte correlação (1) com o ouro, mas não será algo fixo, rígido.
Penso que é este o caminho que as autoridades monetárias e financeiras chinesas estão a tomar há algum tempo: Lembremos que vem do tempo de Deng, o slogan «Enriquecer é Virtuoso». Desde o início do século XXI, que a posse de ouro na China, por cidadãos privados não só foi autorizada, como foi encorajada. Todo o ouro minerado na China, lá fica. A China é o 2º produtor mundial de ouro, atrás da Rússia. Não há exportação de ouro chinês. O enorme volume de importação vem, sobretudo, do Ocidente. As empresas de fundição e refinaria de ouro, na Suíça (com 70% da refinação mundial de metais preciosos), têm estado ocupadas - a tempo inteiro - em converter barras «LBMA» (que obedecem às especificações ocidentais) em barras de quilograma, que obedecem às especificações da China.
Como não podia deixar de acontecer, os media económicos e comentaristas ao serviço dos interesses financeiros ocidentais, querem que seus leitores continuem a «engolir» a treta de que o ouro é um mau investimento, de que sua posse não traz dividendos, apenas despesas associadas, etc. Mas - de facto - mesmo os bancos centrais ocidentais têm estado a adquirir ouro, desde há uns cinco anos (venderam muito ouro, no início do século XXI, quando seu preço em dólares era cerca de 1/5 de agora!). Os multimilionários também o compram, embora não queiram publicidade sobre isso. A sua preocupação é desfazerem-se dos ativos financeiros e adquirir imobiliário ou metais preciosos.
Não tenho dúvidas de que a era do dólar-rei acabou. A única coisa que mantém os países ocidentais dentro da esfera do dólar, é o medo. Porque os americanos têm defendido o dólar com invasões e guerras: no caso do Iraque, está provado que a verdadeira razão da guerra que levou à captura de Saddam Hussein e sua execução, num simulacro de julgamento, foi este ter decidido que o petróleo iraquiano seria vendido doravante em euros. Quanto à guerra e ocupação que levaram á trágica morte de Muamar Kadafi e a destruição da Líbia - foi o país africano mais próspero - foram decididas pelos EUA e seus aliados, porque Kadafi propôs a construção do «dinar pan-africano», moeda única, que seria usada pelos países africanos e na qual venderiam suas matérias-primas, em substituição dos dólares, euros, etc. Agora, não se atrevem a fazer o mesmo com a Rússia, a China, nem sequer com a Arábia Saudita. 
Todos os países (mesmo os aliados dos EUA) temem, com razão, as manipulações que os americanos fazem com a sua moeda, seu controlo da rede de transferências - a rede SWIFT - e todos os processos de transferências que passam por bancos americanos: Quaisquer países que façam transações em dólares, podem potencialmente sofrer sanções, por parte dos EUA. Os países do Golfo e a Arábia Saudita estão a fazer as pazes com seu inimigo, o Irão e pediram a intermediação dos russos para esta aproximação, porque perceberam que o petrodólar morreu e que só poderão ter espaço de manobra, se saírem da esfera americana. 
Os que ficam na esfera do dólar americano, são os que não podem fazer doutro modo, nomeadamente, os países europeus ocidentais. Eles tornaram-se, desde o fim da 2ª Guerra Mundial, neocolónias de facto dos EUA.

Em todo o Ocidente, os indivíduos continuam a ser canalizados para investir em ativos de natureza financeira. Estes, dentro de pouco tempo, ficarão denominados em moedas digitais : e-dólares, e-euros, e-libras, e-yens. Quando isso acontecer, as cotações do ouro e da prata serão muito mais elevadas, do que no presente. Nessa altura, quem for detentor de certa quantidade destes metais, terá capacidade de adquirir valiosos bens imobiliários, terrenos agrícolas e outros bens não-financeiros. 
Os bens tangíveis, globalmente, irão manter, ou aumentar, em valor real, enquanto os instrumentos financeiros (contas a prazo, obrigações, derivados, criptomoedas, etc.), sofrerão enormes perdas. (2)
A ruína dos pequenos investidores faz parte do «golpe» dos muito ricos. Estes, preveniram-se e compraram, com os lucros obtidos na especulação bolsista, toda a espécie de bens não financeiros, dos metais preciosos, às terras agrícolas, ao imobiliário e mesmo, obras de arte e objetos de coleção. 
Os pequenos e médios investidores podem evitar ser erradicados da face da Terra, se tiverem o bom-senso de fazer o mesmo (mudar de ativos financeiros, para ativos tangíveis) - e quanto mais depressa, melhor. As pessoas que ficam nos mercados financeiros, à espera de «melhores dias», irão perder o máximo. A conversão de ativos financeiros em ouro ou prata, metais reconhecidos universalmente como tendo valor (e cotação), pode corresponder à diferença entre conservar o essencial e a perda completa do património.

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(1) No mercado de ouro de Xangai, as compras e vendas do metal precioso são obrigatoriamente em yuan.
(2) A conversão do dinheiro usual, em digital é um aspeto central do «Great Reset». O valor nominal das unidades pode ser o mesmo, mas o valor real não será idêntico. Ou seja, 1 dólar, 1 euro,1 yen,  etc... de hoje (18-01-2023), serão mais valiosos do que 1 e-dólar,1 e-euro, 1 e-yen,  da digitalização integral da economia. Haverá uma brutal transferência de riqueza, que a grande maioria não compreenderá, nem terá consciência, no imediato.

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PS1: O GRÁFICO ABAIXO  DÁ-NOS UMA IDEIA DA VALORIZAÇÃO DO OURO NO ANO DE 2022, EM TERMOS DE «DIVISAS FIAT». OUTRA MANEIRA DE VER, É CONSIDERAR QUANTO CADA DIVISA SE DESVALORIZOU, EM RELAÇÃO AO OURO.(retirado de AQUI)



sábado, 2 de abril de 2022

CRÓNICA (nº5) DA IIIª GUERRA MUNDIAL: UM RESET PODE ESCONDER UM OUTRO.



China, maior produtor de bens industriais; Rússia, maior exportador de matérias-primas

A exigência russa de pagamento em rublos, das exportações de combustíveis (gás e petróleo) para países «não-amigos», anunciada esta semana pelo Presidente Putin, tem de ser equacionada em relação com a tomada dos ativos do Banco Central da Rússia. Lembro que esta medida dos EUA/NATO, no início de Março deste ano, foi talvez a mais extrema das sanções dos ocidentais, visto que o banco central detém reservas, que são parte integrante do património da nação russa. Acresce que, no caso vertente, os países que decretaram a operação de «congelamento» (na prática, é roubo), nem sequer estavam em guerra formalmente com a Rússia.
De qualquer maneira, a continuação das exportações de energia russa para países claramente hostis, capazes dum ato que se pode classificar de pirataria financeira, é surpreendente. Estavam reunidas as condições de «Force Majeure»: Por ter deixado de haver a mínima garantia de pagamento dos compradores, a parte vendedora tem legitimidade para interromper ou cancelar o contrato. Com efeito, a Rússia pode legitimamente recear, a partir deste momento, que os pagamentos efetuados em euros ou dólares, sejam bloqueados em contas bancárias russas nos países ocidentais, ficando sujeitos a confisco. Lembremos como os EUA arbitrariamente, há bem pouco tempo, em relação aos ativos do Banco Central do Afeganistão à guarda de bancos nova iorquinos, confiscaram metade destes, enquanto a outra metade foi destinada a «assistência humanitária» (mas não administrada pelo estado afegão).
O facto da Rússia continuar as entregas de gás à Europa, nestas circunstâncias, apenas com a condição de serem pagas em rublos, poderá ser vista como uma medida para que, no futuro, os europeus da NATO e a Rússia, possam reatar um relacionamento normal.
Quanto ao facto dos europeus serem confrontados com a obrigação de comprar rublos para adquirir o gás russo, não deveria ser visto como mais escandaloso que a obrigação (desde há meio-século!) de comprarem dólares para adquirir petróleo, vendido exclusivamente em dólares pelos sauditas e por outros no Médio-Oriente.
Note-se que esta medida - pagamentos em rublos - não foi tomada de maneira irrefletida. Aliás, ela tem consequências de longo prazo. Os dirigentes da Rússia inspiraram-se, com certeza, no acordo celebrado em 1973, entre Kissinger e o rei da Arábia Saudita, pelo qual o pagamento do petróleo saudita seria em dólares US, exclusivamente. Em compensação, era dada total proteção militar pelos americanos aos sauditas. O resultado prático nessa altura, foi a consolidação do papel internacional do dólar e o nascimento do petrodólar.
Agora a Rússia é o principal exportador de combustíveis fósseis no Mundo. A Rússia tem condições para exigir que eles sejam pagos na sua divisa, em rublos. Os russos têm apenas o controlo sobre sua moeda nacional, não podem ter a garantia de que os dólares, euros, yens, etc., depositados nas suas contas em bancos estrangeiros, não sejam confiscados. Os europeus e os americanos, mostraram-se muito pouco respeitosos da soberania doutros Estados e das normas internacionais por que se devem reger, incluindo a intangibilidade das reservas de países terceiros colocadas à sua guarda. Lembro os casos da Venezuela, Líbia, Iraque, Irão, Afeganistão: Tratou-se de confisco de bens financeiros e de ouro; medidas unilaterais e, portanto, assimiláveis a pirataria financeira.
No futuro, teremos um conjunto de trocas comerciais em divisas dos respetivos países. Já estão em vigor acordos entre a Índia e a Rússia, usando rupias e rublos, ou entre a China e a Rússia, usando yuan e rublos. Muitos outros países serão favorecidos e protegidos da ingerência dos ocidentais, se fizerem suas trocas comerciais nas respetivas divisas. A diferença de saldos nas exportações de dois países, caso exista, pode ser resolvida de várias maneiras. Uma delas, que não implica divisas de terceiros, é proceder ao ajuste com correspondentes quantias em ouro.
Se este sistema vier a consolidar-se, mais de metade da humanidade não ficará sujeita à ditadura do dólar. Este vai ficar cada vez mais confinado a circular dentro dos EUA. A sua circulação, ao nível internacional, será sobretudo com países mais próximos - politicamente - dos EUA.
O facto do rublo ser emitido por um país tão rico em matérias primas, exportador de combustíveis, de metais e de cereais, é um facto insofismável. Goste-se, ou não dos russos e do seu governo, o facto é que este país tem imensas riquezas que tem exportado para todo o Mundo.
Se uma parte do Mundo, a Europa ocidental, se nega a comprar aos russos o gás natural, será esta a sofrer. Será uma espécie de autopunição. A parceria total entre a Rússia e China faz com que aquela tenha garantido o mercado chinês de combustíveis, que, aliás, tem estado em plena expansão. Não será difícil para a Rússia, reorientar para a China as exportações de gás destinadas à Europa ocidental.
As sanções unilaterais, com o pretexto da invasão da Ucrânia, são uma grande hipocrisia e um tiro que saiu pela culatra aos EUA/NATO. Vários têm dito que a Ucrânia foi empurrada a fazer graves provocações à Rússia, sendo falsamente apoiada por «garantias» ocidentais. A invasão do Leste e Sul da Ucrânia pela Rússia, foi uma operação limitada, por decisão prévia de Putin e do governo russo. Os comentadores que não querem ver isso, que estão sempre a clamar que a Rússia falhou militarmente, estão somente a fazer propaganda, não dizem a verdade.
Esta situação vai-se desenvolver em sentido contrário ao que desejavam os EUA. Estes, desejavam criar uma armadilha, como um novo «Afeganistão», desta vez na fronteira europeia da Rússia. Mas o palco deste confronto, não está sequer limitado à Ucrânia. O palco, é o Globo inteiro.
Estão envolvidos todos os países, porque se está a dar uma mudança tectónica geoestratégica, desde as economias nacionais e regionais, às rotas comerciais, e aos abastecimentos em energia e matérias-primas. Em suma, o que está em causa é o redesenhar da configuração do Mundo.

Um comboio (de Reset) pode esconder um outro!


Estamos a assistir a um "Great Reset" e ao instalar duma "Nova Ordem Mundial". Simplesmente, este não é o Great Reset para o qual as elites de Davos trabalhavam, mas um outro Reset, que tem como protagonistas o Eixo Euro-Asiático e muitos outros países, mais virados para a cooperação com eles, do que com as potências «Ocidentais», associadas a um passado colonial e neocolonial.

PS1: Importantes decisões do Kremlin foram tomadas, em relação à conversão das divisas estrangeiras, possuídas pelos cidadãos russos. Estabeleceu o governo russo, que estas podiam ser convertidas em ouro ou outros metais preciosos ao preço corrente dos mercados. Agora estabeleceu um preço fixo de ouro a 5000 rublos por grama de ouro, valor um pouco abaixo do mercado internacional. Isto significa que um banco russo pode vender o ouro ao banco central por esse preço, é um preço de garantia. Porém, o significado disto é muito mais importante, pois está a dar uma garantia, em ouro, ao valor do rublo. O rublo poderá agora ser equivalente ao ouro, dentro da Rússia. A internacionalização virá numa fase posterior. Uma divisa garantida pelas abundantes matérias-primas e que pode ser trocada por ouro a um câmbio fixo, eis a definição da nova moeda de reserva mundial.

                                                 Putin visita depósito de ouro


PS2 : Vale a pena ler na íntegra o artigo muito rigoroso e lúcido de Ellen Brown, autora célebre nos EUA. Ir para: The Coming Global Financial Revolution

PS3: Mais que um «Bretton Woods III» estamos a assistir a um total renovo das bases sobre as quais se vão processar, daqui por diante, as trocas comerciais e fluxos de capitais entre países: 
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 VER:

https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2022/03/cronica-da-terceira-guerra-mundial.html

https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2022/03/cronica-da-terceira-guerra-mundial_13.html

https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2022/03/cronica-da-terceira-guerra-mundial_0396436697.html

https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2022/03/cronica-da-terceira-guerra-mundial_24.html

quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

ARÁBIA SAUDITA, GRANDE ALIADO DOS EUA E OCIDENTE NO MÉDIO ORIENTE

 Quem é Mohamed bin Salman?  Qual o papel da CIA no seu reino? O que motiva o Presidente francês Emmanuel Macron a manter boas relações pessoais e de Estado com o Príncipe herdeiro do trono saudita? 

Estas e muitas outras questões são esclarecidas no livro, «Petróleo e Sangue» de Bradley Hope e Justin Scheck,  agora traduzido em francês.

O Reino Saudita e as suas relações internacionais, é o conteúdo principal desta «Grande Interview» de J.J. Seymour a Pierre Jovanovic, no vídeo abaixo.






domingo, 8 de março de 2020

OUTRO CISNE NEGRO...

Arábia Saudita declara guerra de preços do petróleo, num contexto de pandemia     
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Com todo o barulho mediático em torno da pandemia de coronavírus, tenho a certeza que passou despercebido para muitos o fracasso da reunião da OPEC+ em Viena, na passada sexta-feira, 6 de Março. 
Nesta reunião, a Rússia (que não é membro mas tem tentado coordenar a sua política petrolífera com o cartel dominado pela Arábia Saudita), não aceitou a proposta de redução de produção por longo tempo para sustentar os preços.
A Arábia Saudita decidiu fazer uma jogada «brilhante» de hara-kiri, anunciando a subida da sua produção para mais de doze milhões de barris diários, tendo agora um pouco menos de dez milhões de barris. O preço do petróleo deu logo um tombo. 
A lógica dos sauditas para esta decisão seria a de roubar o mercado europeu aos russos, os quais se desmultiplicaram em iniciativas para fornecimento de petróleo e gás natural, nos últimos tempos. 
Por outro, iria também inviabilizar o sector do petróleo de xisto, nos EUA, que tem necessidade de um preço do crude da ordem de 50/55 dólares/barril, para atingir o limite de rentabilidade. É provável que o barril desça para 20$. A indústria do petróleo de xisto iria à falência, a breve trecho, por não conseguir cobrir as despesas de exploração e os juros dos empréstimos enormes, que a têm sustentado. 
No entanto, a situação causada pela Arábia Saudita em 2014 (a pedido dos americanos) não causou um abalo assim tão grande à economia russa. Esta soube aguentar muito bem o impacto, tendo-se tornado mais diversificada. A Rússia terá capacidade para aguentar outra vez a descida do preço do crude. 
Do lado americano, é verdade que as empresas de petróleo de xisto ficarão ainda mais endividadas mas, num país onde os défices se quantificam por triliões de dólares, serão apenas mais algumas gotas de dívida a somar ao oceano. Enquanto o dólar permanecer a principal moeda de reserva e de comércio mundial, não é difícil imaginar um salvamento conjugado da sua indústria petrolífera pela Casa Branca e por Wall Street. 
Mas, o reino governado com mão de ferro pelo príncipe herdeiro Mohamed Bin Salman, terá um défice orçamental altíssimo (da ordem de 15 % ou mais). Claro que, no curto prazo, tem reservas monetárias suficientes.
Porém, a crise originada pelo rebentamento das bolhas dos mercados todos, catalisada pela epidemia do coronavírus, pode prolongar-se por tempo indeterminado. É impossível saber durante quanto tempo irá durar a retracção da economia mundial. 
Para já, a própria OPEC pode ser declarada morta, pois os países médios produtores de petróleo, ficarão certamente numa situação dramática, em consequência da diminuição brusca dos rendimentos oriundos do petróleo (quase sempre a rubrica de maior vulto nas suas exportações). A grande maioria dos países da OPEC - e a própria OPEC, enquanto tal - não poderão sobreviver, nestas circunstâncias. 
Mesmo que a Arábia Saudita com esta manobra conseguisse derrotar os seus dois maiores concorrentes (o petróleo russo e o petróleo americano de xisto), teria de aguentar as consequências da diminuição drástica de receita, que poderá durar vários anos, resultando daí impossibilidade em satisfazer os múltiplos compromissos sociais, tanto relativos à população em geral, como à «elite» do poder (família real alargada e forças armadas). 
Talvez seja este o verdadeiro motivo pelo qual Bin Salman decidiu mandar prender (outra vez!) um número elevado de militares e de príncipes, em prevenção de um golpe para o derrubar...

Seja como for, os países médios produtores de petróleo ficarão desestabilizados, empobrecidos, por esta decisão unilateral da Arábia Saudita. Face à ameaça de pandemia e de recessão mundial profunda, esta decisão não poderia ter vindo em pior momento.

PS: sobre a geopolítica envolvendo assunto, ver aqui uma análise pormenorizada de Thierry Meyssan

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

[Manlio Dinucci] COM GUERINI, AINDA MAIS LIGADOS AO PENTÁGONO


                         



“Relação historicamente privilegiada, que é necessário reforçar o mais possível": assim, na sua visita a Washington (29-31 de Janeiro), o Ministro da Defesa, Lorenzo Guerini (PD) definiu a ligação da Itália com os Estados Unidos.

O Secretário de Defesa dos EUA, Mark Esper, definiu a Itália como “um sólido aliado NATO” que, albergando mais de 34.000 militares e outros funcionários do Pentágono, “desempenha um papel vital na nossa projecção de força na Europa, no Mediterrâneo e no norte da África”.

O papel da Itália é mais importante de tudo quanto diga o mesmo Esper. O Pentágono pode lançar do nosso território, através dos comandos e das bases dos USA/NATO, operações militares numa área que, do Atlântico se estende à Rússia e, ao sul, a toda a África e ao Médio Oriente. Sempre com o consentimento e com a colaboração do Estado italiano.

“Ambos os países - sublinha o comunicado oficial do Pentágono - reconhecem a influência desestabilizadora do Irão no Médio Oriente e concordam em continuar a trabalhar juntos para conter as actividades iranianas, cada vez mais perturbadoras”. É assim cancelada a posição formal assumida pelo Governo italiano (e, portanto, pelo próprio Guerini) que, após o assassínio de Soleimani ordenado por Trump e a reacção iraniana, tinha sublinhado a necessidade de “evitar uma escalada posterior e favorecer uma redução da tensão através da diplomacia”. Confirmando que a decidir é Washington e não Roma, Guerini declarou, na conferência de imprensa no Pentágono, que “a Itália decidiu permanecer no Iraque após uma conversa telefónica com o Secretário Esper”.

Guerini - informa o Ministério da Defesa - também foi recebido pelo Conselheiro do Presidente Trump, Jared Kushner, “promotor do recente plano de paz para o Médio Oriente”, ou seja, do plano de criar um “Estado Palestiniano” segundo o modelo das “reservas índias” criadas pelos EUA, no século XIX.

O Ministro Guerini também teve, de Esper, alguns puxões de orelhas: a Itália deve empenhar-se mais para levar a sua despesa militar (cerca de 70 milhões de euros por dia) a, pelo menos, 2% do PIB (cerca de 100 milhões de euros por dia ); deve limitar também ou proibir o uso da tecnologia chinesa 5G, em particular a da Huawei, que “compromete a segurança da Aliança”.F-35
No entanto, imediatamente a seguir, o Ministro Guerini teve a sua maior satisfação: o Chefe do Pentágono agradeceu-lhe por “ter reforçado o papel da Itália como parceiro fundamental dos Estados Unidos na indústria da Defesa, e pelo seu forte apoio ao programa do caça F-35, no qual a Itália, um parceiro de segundo nível, fez investimentos importantes na pesquisa e no desenvolvimento”.

Em Washington - lê-se num comunicado publicado em Roma - o Ministro Guerini encontrou-se com “representantes da indústria italiana da Defesa e com os principais ‘think tanks’ do sector”.

Em primeiro lugar, certamente, com os dirigentes da Leonardo - a maior indústria militar italiana, da qual o Ministério da Economia e Finanças é o principal accionista - que nos EUA fornece produtos e serviços às forças armadas e às agências de inteligência/serviços secretos, e em Itália gere a fábrica de Cameri dos caças F-35 da Lockheed Martin.

Guerini também se reuniu, em Washington, com os gerentes da Fincantieri, controlada em mais de 70% pelo Ministério da Economia e Finanças. Nos EUA, o Fincantieri Marine Group constrói navios de combate costeiros para a US Navy. Quatro navios do mesmo tipo estão agora a ser construídos por esta empresa Fincantieri para a Arábia Saudita, sob um contrato de 2 biliões de dólares, estipulado pela Lockheed Martin.

Em 2019, enquanto Fincantieri, controlada pelo governo, assinava o contrato para a construção de navios de guerra para a Arábia Saudita, a Câmara aprovava uma moção, apresentada pela maioria do governo, que pedia um embargo à venda de armamentos à Arábia Saudita.

il manifesto, 4 de Fevereiro de 2020


               







DECLARAÇÃO DE FLORENÇA
Para uma frente internacional NATO EXIT,
em todos os países europeus da NATO


Manlio DinucciGeógrafo e geopolitólogo. Livros mais recentes: Laboratorio di geografia, Zanichelli 2014 ; Diario di viaggio, Zanichelli 2017 ; L’arte della guerra / Annali della strategia Usa/Nato 1990-2016, Zambon 2016, Guerra Nucleare. Il Giorno Prima 2017; Diario di guerra Asterios Editores 2018; Premio internazionale per l'analisi geostrategica assegnato il 7 giugno 2019 dal Club dei giornalisti del Messico, A.C.

Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos
Webpage: NO WAR NO NATO

quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

[Manlio Dinucci] A China e não só o Irão, sob fogo no Médio Oriente

[Nota de Manuel Banet: também Federico Pieraccini refere a importância do papel da China, que explicaria a decisão, do «Estado profundo» americano, de assassinar Soleimani. Mas, Pieraccini refere também que o primeiro-ministro do Iraque estava a ser fortemente pressionado por Trump devido a ter adjudicado a reparação da rede eléctrica iraquiana aos chineses. Incapaz de conter o deslizar em direcção à China do Irão, Iraque, Síria, e até a Turquia e a Arábia Saudita, Washington opta por semear o caos na região, que já não consegue dominar]
                         

FRANÇAIS ITALIANO PORTUGUÊS
O assassínio do General iraniano Soleimani autorizado pelo Presidente Trump desencadeou uma reacção em cadeia que se propaga para além da região do Médio Oriente. Esse objectivo estava nas intenções daqueles que decidiram esse acto. Soleimani estava sob a mira dos Estados Unidos há muito tempo, mas os Presidentes Bush e Obama não haviam autorizado a sua morte. Por que é que o Presidente Trump o fez? Há vários motivos, incluindo o interesse pessoal do Presidente em salvar-se do ‘impeachment’, apresentando-se como um firme defensor da América diante de um inimigo ameaçador. O motivo fundamental da decisão de assassinar Soleimani, tomada pelo ‘Estado Profundo’ antes da Casa Branca, deve ser procurado num factor que se tornou crítico para os interesses dos EUA só nos últimos anos: a progressiva presença económica chinesa, no Irão.
O Irão desempenha um papel de primeira importância na Nova Rota da Seda, lançada em Pequim em 2013, numa fase avançada de realização: ela consiste numa rede rodoviária e ferroviária entre a China e a Europa através da Ásia Central, do Médio Oriente e da Rússia, combinada com uma rota marítima através do Oceano Índico, do Mar Vermelho e do Mediterrâneo. Para as infraestruturas rodoviárias, ferroviárias e portuárias em mais de 60 países, estão previstos investimentos de mais de 1 trilião de dólares. Neste contexto, a China está a efectuar um investimento no Irão, de cerca de 400 biliões de dólares: 280 na indústria petrolífera, do gás e da petroquímica; 120 em infraestruturas de transporte, incluindo oleodutos e gasodutos. Prevê-se que estes investimentos, realizados num período de cinco anos, sejam renovados sucessivamente.
No sector energético, a China National Petroleum Corporation, sociedade de propriedade estatal, recebeu do governo iraniano um contrato para o desenvolvimento da jazida ‘offshore’ de South Pars, no Golfo Pérsico, a maior reserva de gás natural do mundo. Além do mais, juntamente com outra empresa chinesa, a Sinopec (três quartos da mesma são propriedade estatal), está empenhada em desenvolver a produção dos campos petrolíferos de West Karoun. Desafiando o embargo USA, a China está a aumentar as importações de petróleo iraniano. Ainda mais grave para os USA é que, nesses e noutros acordos comerciais entre a China e o Irão, prevê-se o uso crescente do renminbi chinês e de outras moedas, excluindo cada vez mais o dólar.
No sector dos transportes, a China assinou um contrato para a electrificação de 900 km das linhas ferroviárias iranianas, como parte de um projecto que prevê a electrificação de toda a rede até 2025 e, provavelmente, também assinará um para uma linha de alta velocidade de mais de 400 km. As linhas ferroviárias iranianas estão ligadas à estrutura ferroviária de 2.300 km que, já a funcionar entre a China e o Irão, reduz o tempo de transporte de mercadorias para 15 dias, contra os 45 dias de transporte marítimo. Através de Tabriz, grande cidade industrial no noroeste do Irão - de onde parte um gasoduto de 2.500 km que chega a Ancara, na Turquia - as infraestruturas de transporte da Nova Rota da Seda, poderão alcançar a Europa.
Os acordos entre a China e o Irão não pressupõem componentes militares, mas, segundo uma fonte iraniana, para proteger as instalações serão necessários cerca de 5.000 guardas chineses contratados pelas empresas construtoras para os serviços de segurança. É significativo também o facto de que, no final de Dezembro, ocorreu no Golfo de Omã e no Oceano Índico, o primeiro exercício naval entre o Irão, a China e a Rússia.
Neste contexto, está claro por que razão, em Washington, foi decidido o assassínio de Soleimani: foi deliberadamente provocada a resposta militar de Teerão para reforçar o controlo sobre o Irão e poder atingi-lo, afectando o projecto chinês da Nova Rota da Seda, ao qual os USA não conseguem contrapor-se no plano económico. A reacção em cadeia desencadeada pelo assassínio de Soleimani também envolve a China e a Rússia, criando uma situação cada vez mais perigosa. 

il manifesto, 9 de Janeiro 2020






DECLARAÇÃO DE FLORENÇA
Para uma frente internacional NATO EXIT, 
em todos os países europeus da NATO


Manlio DinucciGeógrafo e geopolitólogo. Livros mais recentes: Laboratorio di geografia, Zanichelli 2014 ; Diario di viaggio, Zanichelli 2017 ; L’arte della guerra / Annali della strategia Usa/Nato 1990-2016, Zambon 2016, Guerra Nucleare. Il Giorno Prima 2017; Diario di guerra Asterios Editores 2018; Premio internazionale per l'analisi geostrategica assegnato il 7 giugno 2019 dal Club dei giornalisti del Messico, A.C.

Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos 
Webpage: NO WAR NO NATO