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quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

Causas da inflação: Pelo lado da procura ou pelo lado da oferta?

 Quando observamos a situação atual da economia e mercados nos países ocidentais, depara-se-nos uma situação estranha. 

As causas da inflação podem ser esquematicamente atribuídas a um excesso da procura (quando há mais dinheiro disponível do que bens consumíveis); ou a uma escassez da oferta, quando a produção não consegue satisfazer a procura dos consumidores (há menos produtos do que compradores dos mesmos).

Todos nós sabemos que a «crise do COVID» desencadeou uma resposta coordenada mundial de lockdown (confinamento) durante o mês de Março de 2020, tendo havido uma redução muito grande de toda a espécie de atividades económicas e de trocas comerciais, no mundo inteiro. As restrições draconianas supostamente necessárias para combater o vírus, foram muito pouco eficazes* no combate à epidemia. Porém, foram «eficazes» em perturbar gravemente a logística, o aprovisionamento das cadeias de produção, montagem e distribuição, de toda a espécie de bens manufaturados. 

Quem conhece o funcionamento de quaisquer empresas industriais sabe que elas - mesmo as maiores - tiveram imensas dificuldades. Algumas tiveram de interromper a produção - por exemplo, nalguns modelos de eletrodomésticos ou de carros - porque tinham esgotado os stocks de «chips» e de outras componentes essenciais e não facilmente substituíveis. Isto passou-se nos anos de 2020-2021.

 O sistema de produção industrial montado nos últimos decénios, adoptou a estratégia industrial do «Just In Time», ou seja, as componentes são produzidas à medida das necessidades de incorporação destas no produto final. Assim, os fabricantes evitam a existência de grandes stocks de componentes, a sua gestão complexa, os espaços de armazém a que obrigam, etc. Mas, por outro lado, é um sistema muito frágil, suscetível de ficar paralisado por causa de uma secção da empresa, ou de um fornecedor externo, que estejam a funcionar mal, ou estejam paralisados, por qualquer razão. 

As ruturas nas cadeias de produção foram um dos fatores que levaram a uma situação inédita, nos tempos recentes: Haver nítida escassez da oferta dos bens, em relação à procura. 

Depois, a situação não voltou inteiramente ao normal, pois as estruturas mais frágeis tiveram imensas dificuldades, que não foram colmatadas pelas ajudas dos Estados. Estas ajudas foram canalizadas para dois setores: a banca e as grandes empresas e o «dinheiro de helicóptero», as ajudas diretas para as pessoas, numa espécie de antevisão de um «rendimento universal» em certos países. As repercussões desta rutura ainda hoje se notam na estrutura produtiva, principalmente nos países do Ocidente, pois houve demasiados elos da cadeia de produção que foram interrompidos. Como sabemos, há muita externalização de serviços no funcionamento concreto das economias dos países afluentes. São estas, em geral empresas pequenas ou médias, as mais afetadas pela crise desencadeada pela resposta ao COVID. Quantas ficaram debilitadas? Quantas acabaram por fechar? Todos estes casos vão traduzir-se numa «escassez da oferta», que - muitas vezes - tem efeitos de desorganização noutros setores. Ao nível dos preços, houve uma subida não motivada pelo aumento da massa monetária em circulação (ou independente disso).

Por outro lado, criou-se um ambiente de «Guerra Fria nº2», com as sanções drásticas contra a Rússia e a criação de dificuldades nas relações com a China. As consequentes dificuldades dos países ocidentais, no abastecimento de gás natural e de petróleo, fizeram com que houvesse - a partir de Março de 2022 - uma subida muito grande dos preços  da energia. Esta inflação também é causada pela «falta de oferta», por escassez dos combustíveis: Aqui, trata-se de escassez autoinfligida, pois a Rússia não utilizou a «arma do petróleo» como contraposição às sanções muito duras dos países da NATO, em consequência da invasão da Ucrânia, em Fevereiro de 2022. Temos aqui uma segunda causa, muito importante, de inflação. O preço da energia não descerá facilmente para níveis semelhantes aos que vigoravam há apenas três anos atrás. O efeito direto é no consumo das famílias, afetadas pelas faturas bruscamente crescentes do gás, da eletricidade e de gasolina. Porém, muitas atividades económicas são severamente castigadas pelo aumento da componente energética nos seus custos de produção: A maior parte das empresas fica no dilema de aumentar os preços dos seus produtos devido ao aumento da fatura energética, ou de manter os preços para não perder clientes e ficar afetada no seu rendimento, podendo mesmo ter de decretar falência.

Uma subida das taxas de juro vai encarecer o crédito e logo, em muitos casos, vai «arrefecer» a procura. Por exemplo, juros mais altos = menos crédito à habitação = menos compradores de casas. Mas, tais subidas de taxas de juros funcionam para situações em que haja maior disponibilidade das empresas e dos particulares para consumirem mais. Ou seja, a subida da taxa de juros, só tem efeito se e somente se houver um excesso de capital disponível no sistema. Não se trata disso, no caso atual, mas da escassez ao nível da produção, da oferta de produtos. Logo, os «remédios» que os bancos centrais - a pedido dos governos - aplicam, são totalmente ineficazes para minorar a crise. Pior: são prejudiciais, pois limitam o crédito à produção das empresas, quando justamente, era preciso aumentar tal produção. As medidas levadas a cabo pelos governos e bancos centrais ocidentais não servem, porque é a capacidade produção em variados setores que está a ser afetada. As economias ocidentais sofreram uma retração - brutal nalguns casos - da oferta: A única política económica eficaz passará por criar condições materiais, concretas, para acabarem os estrangulamentos artificiais da produção. 

Um levantamento das sanções absurdas contra a Rússia impõe-se. Aliás, estas sanções são causadoras do maior dano aos próprios países que as decretaram. A Rússia tem-se mostrado capaz de lhes fazer frente. Tem mostrado possuir uma economia muito mais resiliente do que os políticos do ocidente julgavam. Sobretudo, não sofreu de isolamento ao nível internacional, como aqueles esperavam. Tem alargado as relações a todos os níveis com a China, a Índia e os países da Ásia do Sul e do Médio Oriente.

Há quem pense que a política monetária e financeira seguida no Ocidente está a precipitar os países  para o colapso. Porém, será um colapso desejado, procurado, pois vem tornar possível, aquilo que em circunstâncias «normais» não o era. Refiro-me à digitalização a 100%, ou seja, os únicos instrumentos monetários legais seriam as divisas digitais emitidas pelos bancos centrais. A economia seria mais controlável pelos governantes,  mas isso não implica melhorias para as pessoas comuns, antes pelo contrário. Mas, tal como na saga da pandemia de COVID, uma psicose de medo pânico pode levar as pessoas a fugirem para «soluções» que vão ao contrário da sua autonomia. As pessoas trocam, com demasiada facilidade, as parcas liberdades de que AINDA gozam, pela segurança (FALSA) que lhes promete um Estado todo poderoso, em união com as grandes corporações**. 

A definição do fascismo - segundo o próprio Mussolini - está a ser realizada, agora, em frente dos nossos olhos, pela plutocracia e  governos «ocidentais»: A união do Estado com as corporações.

 


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(*) sabemos que as poucas nações (como a Suécia, mas não é caso único) que não entraram numa política mais estrita de confinamentos, tiveram taxas de morbilidade e de mortandade causadas pelo vírus Sars-Cov-2, da mesma ordem de grandeza e não superiores, às que fizeram confinamentos estritos.

(**) pense-se nos setores de AI, robótica, comunicação massificada, redes sociais cujos proprietários são magnates, redes de distribuição mundiais, etc. 


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Para saber mais sobre o assunto, consultar:

https://www.goldmoney.com/research/winter-in-central-europe-and-for-the-dollar

https://goldswitzerland.com/in-the-end-the-goes-to-zero-and-the-us-defaults/

https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2022/11/crise-sistemica.html

https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2022/09/colapso-progrmado.html


terça-feira, 2 de agosto de 2022

REFLEXÕES ESTIVAIS



Escrevo, impulsionado pelo louco sentimento - louco, porque sei que não responde a expectativa racional - de que as minhas meditações encontrão algum eco nos leitores, que eu estimo, embora não os conheça pessoalmente, salvo raras exceções.
Pois, o que me apetece escrever no calor deste Verão perto do mar, é que realmente não encontro motivos para serenamente usufruir da calma estival, para aproveitar o remanso à sombra, na sesta depois do almoço, ou para passear ao fim da tarde nas falésias com a minha cadela.
Não, realmente, estou demasiado inquieto, indisposto mesmo, com as notícias que vejo, oiço e leio.

- O braço-de-ferro entre os EUA e a China, a propósito de Taiwan continua. É inacreditável mas verdade, os EUA provocarem a China para algo que pode degenerar em guerra global, portanto com perigo de se tornar nuclear? Não será isto uma prova da loucura e desorientação estratégica dos dirigentes, dos verdadeiros, os que mexem os cordelinhos discretamente, em Washington?
- A guerra na Ucrânia está muito acesa e nenhuma perspetiva concreta de paz se apresenta, de momento. Continuam a morrer soldados e civis dos dois lados, sem qualquer razão, apenas adensando a tragédia.
- Os governos europeus foram lançados na aventura de sanções suicidárias contra a Rússia, a qual não tem de mexer um dedo, apenas deixar as coisas correr o seu curso, para a Europa ficar sem os recursos energéticos necessários à população e à indústria, sem fertilizantes para sua agricultura, sem matérias-primas e bens industriais, que eram fornecidos pela Rússia, muitas vezes a preços vantajosos porque envolviam contratos de longo prazo.
- A «resposta» europeia à situação de catástrofe, no plano militar e humanitário, ainda é mais irresponsável, tendo eles e os americanos incentivado esta situação, espicaçado os russos a encetarem esta campanha militar. Ainda por cima, encorajam o lado ucraniano a não procurar uma saída negociada, a bater-se com armamentos sofisticados por eles oferecidos, mas inadequados ao terreno e sem que as tropas estivessem treinadas para os utilizar.
- Eu não culpo inteiramente os poderes da Ucrânia; eles não têm alternativa, senão obedecer às ordens dos americanos, dos europeus, ou de serem sujeitos a «suicídio», ou «acidente trágico», ou golpe derrubando o poder atual, a favor de outro, mais dócil para os verdadeiros patrões.
No plano dos media, verifico que estão demasiado subservientes, que as pessoas são mantidas numa bolha de desinformação, sendo ocultadas todas as notícias que possam pôr em dúvida a narrativa oficial dos Estados ocidentais, pelo contrário, inundando o espaço informativo com as campanhas mais sujas e falsas que jamais vi, contra o outro lado, que não é apenas Putin, mas todo o governo russo, e também o povo. A adesão do povo russo (com ou sem razão) às decisões dos seus líderes nunca foi tão elevada.
Enquanto Putin é pintado com as cores de ditador cruel e sanguinário, o que verifico é que os «pacifistas» do ocidente agitam histericamente bandeiras ucranianas, não tendo vergonha de apoiar explicita e com pleno conhecimento de causa, um governo dominado por nazis, banderistas, que instauraram uma espécie de culto nacional a Stepan Bandera, figura desprezível de traidor, criminoso de guerra, colaborador das SS nazis, nos massacres de judeus, polacos, ucranianos antifascistas.
- Sabendo-se perfeitamente qual o substrato ideológico do governo resultante do golpe de «Euro-Maidan» de 2014, ele teve apoios, de toda a ordem, dos países da NATO: Durante 8 anos, treinaram as forças armadas ucranianas (incluindo os batalhões de forças «especiais» Azov e outros) para estas atingirem o nível de forças operacionais de um membro da NATO. Sabia-se que a população etnicamente russa do Don estava a ser flagelada por incursões e bombardeamentos constantes, das forças regulares e dos batalhões «especiais», durante os oito anos em que nominalmente existiram os «Acordos de Minsk».
- Os acordos de Minsk, firmados entre os representantes do governo ucraniano e das forças das repúblicas separatistas, apenas incluíam a Rússia, a Alemanha e a França, como garantes do seu cumprimento. Nestes oito anos, os ocidentais nada fizeram para estimular o seu cumprimento. Essa inação dos ocidentais permitiu (convidou) as violações frequentes dos acordos, do lado do governo ucraniano.
- A 20 de Fevereiro, quando a Rússia reconheceu formalmente as duas repúblicas separatistas, estava em preparação uma operação massiva de ataque e invasão das Repúblicas de Lugansk e Donetsk: se os russos não se tivessem interposto entre a força de 75 mil homens (os que tinham melhor treino e equipamento) e as referidas repúblicas, teria sido um banho de sangue.
- É realmente muito sujo o jogo de todos os que, de forma vesga, nada fazem para prevenir uma situação de genocídio, mas depois vêm carpir lágrimas de crocodilo, perante a invasão russa.
- Entendamo-nos: é uma tragédia, eu disse isso logo, e que esta invasão devia parar. Porém, esta decorre de uma situação muito delicada, em que Putin e o Estado russo tinham jurado defender os povos das duas repúblicas, seus irmãos russos. O restante povo russo (da Federação das Repúblicas da Rússia) nunca perdoaria, caso não fosse cumprida a promessa de proteção, perante a situação de genocídio lento (8 anos!) e a iminência duma Blizt Krieg, preparada por Kiev, às fronteiras dos dois territórios.
- Realmente, todos os intervenientes nos governos ocidentais têm as mãos manchadas do sangue ucraniano e russo, pois são cúmplices principais, através das suas políticas e através da NATO, no desencadear desta guerra, que não era uma fatalidade. Bastava, no Outono de 2021, as chancelarias ocidentais (incluindo a dos EUA) tomarem a sério os insistentes pedidos da diplomacia russa para conversações relativas à segurança europeia global.
- Mais ainda que os atos criminosos do governo ucraniano, ou que a revelação de que a Ucrânia se dispunha a rasgar o acordo internacional firmado, que garantia que ela nunca possuiria armas nucleares, foi o seguinte, o ato decisivo:
- O ato de negação de diálogo diplomático fez mudar a perspetiva de Moscovo, sendo certo que estavam demasiados fatores vitais em jogo para que Putin tomasse de modo ligeiro a recusa ocidental. Estou certo que os diplomatas russos explicaram aos ocidentais porque razão era vital, para a estabilidade e a convivência pacífica na Europa, que não houvesse alargamento da NATO à Ucrânia. De facto, o objetivo dos ocidentais era de acirrar o conflito, exercer pressão até o governo russo ser forçado a ceder. Mas ele não cedeu, nem podia fazê-lo, porque o que estava em causa era a Rússia, enquanto país independente, soberano, não transformado num amontoado de repúblicas autónomas, incapazes de resistir à investida neoliberal. Como todos sabemos, foi isto que tentaram fazer da Rússia, nos anos 90, no tempo de Yelstin.
- A cidadania - atualmente - está sujeita à completa dominação pela oligarquia. A oligarquia que nos governa, em Washington ou em quaisquer outras capitais Ocidentais, está totalmente identificada com a cabala de Davos.
- A pretexto de uma (falsa) transição ecológica, querem matar à fome três quartos da humanidade. Pode parecer exagero, mas infelizmente, isto pode ser corroborado por demasiados indícios:
- A autêntica guerra contra os agricultores, na Holanda, na Itália e em todos os sistemas agrícolas com elevado rendimento, que permitiam colmatar as falhas alimentares crónicas no Terceiro Mundo.
- O prolongar da guerra na Ucrânia e das sanções ocidentais contra produtos russos, nomeadamente agrícolas, incluindo a impossibilidade dos navios russos terem a sua carga segurada, devido à proibição dos ocidentais de que as companhias seguradoras dos navios aceitassem fazer tais seguros.
- Muito do que se passa, tem como efeito uma realmente terrível recessão ao nível mundial. Os países vão sofrer de fome, frio e escassez. Vai haver, numa escala ainda maior que no presente (veja-se o caso do Sri Lanka) insurreições, revoltas da fome.
- Os poderosos têm estado a reforçar as polícias de choque e os dispositivos para controlo das multidões. Em breve, o modelo de vigilância eletrónica generalizada, ensaiado com o COVID-19, vai funcionar de forma ainda mais massiva e mais coerciva.
- Vão chamar as «Alterações Climáticas» a torto e a direito, como justificação. Não apenas haverá políticas de austeridade (para os pobres), acompanhadas da perda das liberdades e garantias fundamentais. Irão aproveitar muitos vírus (como «monkeypox» ou varíola símia) que existem no estado endémico e que, esporadicamente, causam um surto local, como pretexto para medidas de ditadura vacinal, com um caráter mais ou menos permanente.
- Vai ser impossível viajar, em circunstâncias normais: Haverá uma polícia que decidirá se tal ou tal viagem, por tal ou tal pessoa, é ou não, «legítima» ou «segura». O turismo, uma das maiores fontes de receita de Portugal e dos países   mediterrânicos, vai colapsar.
- Mas, para o governo dos senhores, é tempo da «ralé» se convencer que tem de viver na maior  «simplicidade»; terá de renunciar ao automóvel e a muitas outras coisas - aquecimento, ar climatizado, alimentos não sintéticos, etc. - para que a «elite» e as forças armadas continuem a usar os seus «jets».

Tudo o que escrevi acima, está em fontes fidedignas, que tenho citado neste blog. A ignorância não é desculpa para as pessoas não se informarem. Só quem o fizer, pode ajuizar até que ponto o que enunciei acima, tem cabimento, ou não. As questões que levanto são de tal modo graves, que o simples facto de serem omitidas pelos media, ou tratadas de uma maneira parcial, facciosa, deveria despertar as pessoas, que ainda não estejam plenamente alertadas. As que estão plenamente conscientes destes perigos, devem fazer um esforço, junto de outras nas quais tenham confiança, para que algo comece a mudar.

- Será que as pessoas só irão acordar, quando já for tarde demais? Um grande paradoxo da nossa época é que não é assim tão difícil saber quais os planos da oligarquia. Podemos ficar amplamente informados, se nos dermos ao trabalho de pesquisar, de consultar fontes e de as confrontar com os dados. Porém, o adormecimento é de tal ordem, que os privilegiados podem atuar com impunidade e arrogância... Até ver; pois revoluções despontam já, nos países do Terceiro Mundo.

sábado, 2 de abril de 2022

CRÓNICA (nº5) DA IIIª GUERRA MUNDIAL: UM RESET PODE ESCONDER UM OUTRO.



China, maior produtor de bens industriais; Rússia, maior exportador de matérias-primas

A exigência russa de pagamento em rublos, das exportações de combustíveis (gás e petróleo) para países «não-amigos», anunciada esta semana pelo Presidente Putin, tem de ser equacionada em relação com a tomada dos ativos do Banco Central da Rússia. Lembro que esta medida dos EUA/NATO, no início de Março deste ano, foi talvez a mais extrema das sanções dos ocidentais, visto que o banco central detém reservas, que são parte integrante do património da nação russa. Acresce que, no caso vertente, os países que decretaram a operação de «congelamento» (na prática, é roubo), nem sequer estavam em guerra formalmente com a Rússia.
De qualquer maneira, a continuação das exportações de energia russa para países claramente hostis, capazes dum ato que se pode classificar de pirataria financeira, é surpreendente. Estavam reunidas as condições de «Force Majeure»: Por ter deixado de haver a mínima garantia de pagamento dos compradores, a parte vendedora tem legitimidade para interromper ou cancelar o contrato. Com efeito, a Rússia pode legitimamente recear, a partir deste momento, que os pagamentos efetuados em euros ou dólares, sejam bloqueados em contas bancárias russas nos países ocidentais, ficando sujeitos a confisco. Lembremos como os EUA arbitrariamente, há bem pouco tempo, em relação aos ativos do Banco Central do Afeganistão à guarda de bancos nova iorquinos, confiscaram metade destes, enquanto a outra metade foi destinada a «assistência humanitária» (mas não administrada pelo estado afegão).
O facto da Rússia continuar as entregas de gás à Europa, nestas circunstâncias, apenas com a condição de serem pagas em rublos, poderá ser vista como uma medida para que, no futuro, os europeus da NATO e a Rússia, possam reatar um relacionamento normal.
Quanto ao facto dos europeus serem confrontados com a obrigação de comprar rublos para adquirir o gás russo, não deveria ser visto como mais escandaloso que a obrigação (desde há meio-século!) de comprarem dólares para adquirir petróleo, vendido exclusivamente em dólares pelos sauditas e por outros no Médio-Oriente.
Note-se que esta medida - pagamentos em rublos - não foi tomada de maneira irrefletida. Aliás, ela tem consequências de longo prazo. Os dirigentes da Rússia inspiraram-se, com certeza, no acordo celebrado em 1973, entre Kissinger e o rei da Arábia Saudita, pelo qual o pagamento do petróleo saudita seria em dólares US, exclusivamente. Em compensação, era dada total proteção militar pelos americanos aos sauditas. O resultado prático nessa altura, foi a consolidação do papel internacional do dólar e o nascimento do petrodólar.
Agora a Rússia é o principal exportador de combustíveis fósseis no Mundo. A Rússia tem condições para exigir que eles sejam pagos na sua divisa, em rublos. Os russos têm apenas o controlo sobre sua moeda nacional, não podem ter a garantia de que os dólares, euros, yens, etc., depositados nas suas contas em bancos estrangeiros, não sejam confiscados. Os europeus e os americanos, mostraram-se muito pouco respeitosos da soberania doutros Estados e das normas internacionais por que se devem reger, incluindo a intangibilidade das reservas de países terceiros colocadas à sua guarda. Lembro os casos da Venezuela, Líbia, Iraque, Irão, Afeganistão: Tratou-se de confisco de bens financeiros e de ouro; medidas unilaterais e, portanto, assimiláveis a pirataria financeira.
No futuro, teremos um conjunto de trocas comerciais em divisas dos respetivos países. Já estão em vigor acordos entre a Índia e a Rússia, usando rupias e rublos, ou entre a China e a Rússia, usando yuan e rublos. Muitos outros países serão favorecidos e protegidos da ingerência dos ocidentais, se fizerem suas trocas comerciais nas respetivas divisas. A diferença de saldos nas exportações de dois países, caso exista, pode ser resolvida de várias maneiras. Uma delas, que não implica divisas de terceiros, é proceder ao ajuste com correspondentes quantias em ouro.
Se este sistema vier a consolidar-se, mais de metade da humanidade não ficará sujeita à ditadura do dólar. Este vai ficar cada vez mais confinado a circular dentro dos EUA. A sua circulação, ao nível internacional, será sobretudo com países mais próximos - politicamente - dos EUA.
O facto do rublo ser emitido por um país tão rico em matérias primas, exportador de combustíveis, de metais e de cereais, é um facto insofismável. Goste-se, ou não dos russos e do seu governo, o facto é que este país tem imensas riquezas que tem exportado para todo o Mundo.
Se uma parte do Mundo, a Europa ocidental, se nega a comprar aos russos o gás natural, será esta a sofrer. Será uma espécie de autopunição. A parceria total entre a Rússia e China faz com que aquela tenha garantido o mercado chinês de combustíveis, que, aliás, tem estado em plena expansão. Não será difícil para a Rússia, reorientar para a China as exportações de gás destinadas à Europa ocidental.
As sanções unilaterais, com o pretexto da invasão da Ucrânia, são uma grande hipocrisia e um tiro que saiu pela culatra aos EUA/NATO. Vários têm dito que a Ucrânia foi empurrada a fazer graves provocações à Rússia, sendo falsamente apoiada por «garantias» ocidentais. A invasão do Leste e Sul da Ucrânia pela Rússia, foi uma operação limitada, por decisão prévia de Putin e do governo russo. Os comentadores que não querem ver isso, que estão sempre a clamar que a Rússia falhou militarmente, estão somente a fazer propaganda, não dizem a verdade.
Esta situação vai-se desenvolver em sentido contrário ao que desejavam os EUA. Estes, desejavam criar uma armadilha, como um novo «Afeganistão», desta vez na fronteira europeia da Rússia. Mas o palco deste confronto, não está sequer limitado à Ucrânia. O palco, é o Globo inteiro.
Estão envolvidos todos os países, porque se está a dar uma mudança tectónica geoestratégica, desde as economias nacionais e regionais, às rotas comerciais, e aos abastecimentos em energia e matérias-primas. Em suma, o que está em causa é o redesenhar da configuração do Mundo.

Um comboio (de Reset) pode esconder um outro!


Estamos a assistir a um "Great Reset" e ao instalar duma "Nova Ordem Mundial". Simplesmente, este não é o Great Reset para o qual as elites de Davos trabalhavam, mas um outro Reset, que tem como protagonistas o Eixo Euro-Asiático e muitos outros países, mais virados para a cooperação com eles, do que com as potências «Ocidentais», associadas a um passado colonial e neocolonial.

PS1: Importantes decisões do Kremlin foram tomadas, em relação à conversão das divisas estrangeiras, possuídas pelos cidadãos russos. Estabeleceu o governo russo, que estas podiam ser convertidas em ouro ou outros metais preciosos ao preço corrente dos mercados. Agora estabeleceu um preço fixo de ouro a 5000 rublos por grama de ouro, valor um pouco abaixo do mercado internacional. Isto significa que um banco russo pode vender o ouro ao banco central por esse preço, é um preço de garantia. Porém, o significado disto é muito mais importante, pois está a dar uma garantia, em ouro, ao valor do rublo. O rublo poderá agora ser equivalente ao ouro, dentro da Rússia. A internacionalização virá numa fase posterior. Uma divisa garantida pelas abundantes matérias-primas e que pode ser trocada por ouro a um câmbio fixo, eis a definição da nova moeda de reserva mundial.

                                                 Putin visita depósito de ouro


PS2 : Vale a pena ler na íntegra o artigo muito rigoroso e lúcido de Ellen Brown, autora célebre nos EUA. Ir para: The Coming Global Financial Revolution

PS3: Mais que um «Bretton Woods III» estamos a assistir a um total renovo das bases sobre as quais se vão processar, daqui por diante, as trocas comerciais e fluxos de capitais entre países: 
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 VER:

https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2022/03/cronica-da-terceira-guerra-mundial.html

https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2022/03/cronica-da-terceira-guerra-mundial_13.html

https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2022/03/cronica-da-terceira-guerra-mundial_0396436697.html

https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2022/03/cronica-da-terceira-guerra-mundial_24.html

sexta-feira, 1 de outubro de 2021

UMA MISTURA EXPLOSIVA

 


Considere-se este cenário(*) :

1- Penúria de combustíveis;

2- Penúria de géneros alimentícios e outros bens de primeira necessidade;

3- Ativação de doenças infeciosas do foro respiratório no Inverno (hemisfério Norte), confundidas com o vírus do COVID;

4- Acréscimo de casos (mortes e lesões graves, debilitantes) causados pelas vacinas ARNm, propagando a proteína viral mortífera no corpo dos vacinados. Atribuição falsa a «novos variantes» do COVID;

5- Desenvolvimento em espiral da hiperinflação. Os números da inflação «oficial» sem qualquer correlação com o quotidiano das pessoas;

6- Espiral do desemprego devido a constrangimentos nos mercados de matérias primas, ao aumento acentuado do preço, ou diminuição brusca do abastecimento dos combustíveis e, sobretudo, devido à retração do poder de compra dos consumidores;

7- Acréscimo da retórica bélica e de provocações entre Estados, uma tática usada desde sempre para desviar os cidadãos das mazelas domésticas, atribuindo-as ao «inimigo». Aumento acentuado do risco de guerra generalizada;

8- Caos financeiro, com falências de bancos em série. O FMI, ou outra instituição global, serão impotentes para socorrer as estruturas financeiras dos diversos países, que irão sucumbir ao excesso de dívida, à implosão dos contratos, não contabilizados nos balanços das instituições, com somas colossais - mas não quantificáveis - envolvidas no «shadow banking» e em «derivados». Colapso das bolsas.

9- Os Estados não conseguirão honrar suas dívidas (bancarrotas). Os bancos centrais vão inflacionar as divisas, emitindo-as sem restrição, para «salvar» as economias dos respetivos Estados. O que restará de valor das divisas será destruído, causando uma miséria global. Imposição da lei marcial nos países que foram «democracias liberais», no passado. Já se está a ver uma amostra na Ilha-continente da Austrália. 

10- A fome, a violência, o caos, o desespero, podem explodir. Serão explosões não controláveis, nem canalizáveis. Fim daquilo que nos habituámos a ter como adquirido. Será o fim da civilidade; do respeito pela lei e pela ordem; do direito a assistência médica; do respeito pelos direitos dos indivíduos; do respeito pelos contratos firmados - contratos de aluguer de casa, contratos de trabalho e de tudo o mais; fim da presunção de inocência; repressão feroz de manifestantes pelos policiais, etc...

Este, é o cenário que vejo em desenvolvimento para o chamado «Ocidente», pelo menos. Pode não vir a desenrolar-se na íntegra, em certos países. Pode demorar mais a surgir, ou ser mais rápido e brutal do que pensámos. Ninguém pode dizer. O ruir do sistema vai traduzir-se - está a traduzir-se - no agravamento de crises entrecruzadas, nos sectores económico, financeiro, monetário e do comércio. As disfunções de um sector repercutem-se nos outros; trata-se de um «efeito sinergístico», de uma destruição caótica. 

Não será a media de massas a dar o alarme: Quando ela falar abertamente destas catástrofes entrecruzadas, já será demasiado tarde para nos defendermos. Lamento dizer-vos, mas este cenário não é exagero da minha parte. Tenho acompanhado as análises de Lynette Zang, Egon Von Greyerz e de muitos outros**. Recentemente, também Bill Blain e outros gestores de fundos, esclarecem-nos sobre a gravidade da situação. Muitos dos elementos apontados, são descurados pelos economistas habituais, nos media convencionais. 


Post Scriptum: Economistas de várias escolas dirão que, no âmago do sistema capitalista, estão as crises. Estas devem-se à expansão e contração do crédito que, por sua vez, provoca a expansão e contração do consumo e da produção. Mas, o que eles não dizem, é que esta destruição periódica e violenta de capital, é também uma destruição de incontáveis vidas. Não somente no sentido literal de causar mortes (pelas fomes, guerras, epidemias), igualmente no sentido de muitas vidas ficarem destroçadas, sem possibilidade de recuperar a «normalidade do antes».  Porque o capitalismo é um sistema de predação, pela sua natureza. Os capitalistas «bem-sucedidos» aproveitaram as crises para prosperar: são como abutres, nutrindo-se dos despojos.

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(*) Tomem isto como um aviso de tsunami, de catástrofe em preparação e cujos sinais precursores são claramente visíveis, em particular por uma elite mais informada, a qual não tem hesitado em colocar a salvo as suas fortunas. 

(**) Nenhum dos nomes acima citados pode ser designado de anticapitalista. Antes pelo contrário. Quanto aos anticapitalistas declarados, quer me parecer que são particularmente míopes, muitos dos que se designam com tal. Mais raros são aqueles que realmente têm algo de interessante a dizer, como é o caso do economista marxista Michael Hudson ... 


segunda-feira, 2 de agosto de 2021

ENFRENTAR AS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS OU GERIR NARRATIVAS, RUMO AO CONTROLO CENTRALIZADO DA SOCIEDADE?

Decidi traduzir uma parte do artigo de Matthew Piepenburg, «The Death of Truth & the Rise of Centralized Government Control».
 
[Ler o artigo na íntegra, em inglês, no link abaixo (1)].

 Políticas de «Câmbio Climático» - Sábias, Altruístas ou Apenas Mais Controlo Centralizado?

Quanto a mais exemplos de uso criativo da linguagem para esconder a verdade, pode aparecer como uma surpresa para todos aqueles de nós que se preocupam com o planeta, de que o súbito e politizado interesse no «câmbio climático» possa não ser tão altruísta ou progressivo como os políticos gostariam de vos fazer crer.
Num contexto global de desespero causado pela dívida insolvente e de crescente centralização, os líderes sequiosos de aumentar a sua credibilidade, desejam que nós admiremos a sua iniciativa verde. Mas, o real motivo por detrás dos seus planos pode ser menos colorido de verde do que da cor do petróleo.
Com todas as forças inflacionárias se conjugando (expansão extrema da massa monetária, déficits fiscais, garantias governamentais, etc.), a última coisa que os nossos líderes - não muito confiáveis - desejam confessar é que os preços do petróleo e as dificuldades do abastecimento em petróleo, mostram que chegámos ao «pico do petróleo», que a era do petróleo barato está a chegar ao fim.
Em vez de confessar que, na base das inúmeras ondas de choque na economia e na política, existe a situação do «pico do petróleo», os poderes preferem usar as «Alterações Climáticas» para se justificarem, na guerra total que - de repente - estão a lançar contra os combustíveis fósseis e isto para mascarar a viragem para um controlo governamental mais centralizado dos cidadãos, dos seus pensamentos e dos seus consumos de energia.
No início de Julho, por exemplo, o Financial Times anunciou que “em ordem a que uma finança sustentável funcione, precisamos de Planificação Central.
A sério? - Ótimo, mais planificação central.
Esta afirmação sincera foi produzida face à nova estratégia da UE, de finança sustentável e de Padrão das Obrigações Verdes, destinadas a fazer da Europa o primeiro continente climaticamente neutro em 2050.
Parece nobre? Quem não gosta da "neutralidade do clima"?
Mas, porquê a finança sustentável e a neutralidade climática exigiriam uma planificação central?
O que é deliberadamente censurado nesta iniciativa é este pequeno conceito incómodo e em perigo hoje, o de permitir que os mercados livres decidam qual das diversas fontes de energia tem o melhor «Retorno da Energia sobre a Energia Investida» [“Energy Return on Invested Energy” (EROIE)].
Escusado será dizer que, no que toca à otimização dos custos, a melhor taxa de retorno continua a ser a desses malcheirosos combustíveis, não das eólicas ou de reatores nucleares.
Escusado, também, será dizer que, se as forças do mercado estivessem a atuar realmente, os participantes escolheriam a forma de energia mais barata, mais eficiente para um mesmo custo, de novo: os combustíveis fósseis.
A fazer as manchetes, nestes dias, no entanto aparecem os atores políticos globais (de Yellen, até à IEA) preocupados (nobremente?) em liquidar a rentabilidade dos combustíveis fósseis. A IEA declarou querer que os grupos do sector energético deixem de produzir petróleo e gás a partir de 2050.
Mas, de novo: Será que o motivo é realmente nobre? Será acerca do ambiente? Da segurança do planeta? Ou outra coisa?
Cinicamente, pode haver um problema escondido por debaixo desta superfície brilhante da política, incluindo o facto de que a taxa de extração de petróleo abaixo da superfície deste mesmo planeta, não se moveu muito, na década passada.


Por outras palavras, terá o mundo atingido o pico do petróleo?
Será que os decisores políticos estão deliberadamente a atacar o mercado livre de utilização das fontes energéticas para salvar o planeta ou ,secretamente, acreditam que o pico do petróleo (nomeadamente, do petróleo «barato») é uma realidade poderosa, contra a qual eles devem agir agora, dum modo extremo?
Em resumo, será a «Alteração Climática» uma astúcia politicamente correta (2) para mascarar a realidade muito mais sombria, de que o «pico do petróleo» está em cima de nós, o que terá um impacto muito drástico nos mercados da dívida, na geopolítica (pense-se na Arábia Saudita), e na inflação (subindo na vertical)?
Sem dúvida, que a «mudança climática» oferece uma imagem mais simpática, que umas parangonas sobre o «pico do petróleo», com tudo o que isso traz em consequência, caso o petróleo a preço acessível se torne uma memória distante.

in:

[2] https://www.zerohedge.com/weather/advance-climate-agenda-never-waste-bad-weather