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terça-feira, 5 de novembro de 2024

ESTAMOS NUMA SITUAÇÃO MUNDIAL INÉDITA; O QUE DEVEMOS SABER.

A hipótese do ouro, junto com outros metais e matérias primas associados, participar numa divisa sintética, destinada ao comércio entre os BRICS foi excluída, por enquanto.

Porém, a visão de que o ouro é realmente dinheiro, pois conserva o seu valor, mantém-se e reforça-se. A capacidade duma certa quantidade de ouro ser trocada por mercadorias, sejam alqueires de trigo ou barris de petróleo, etc. mantém-se e reforça-se. 


SIGNIFICADO DA ACUMULAÇÃO DE OURO EM BANCOS CENTRAIS

Portanto, indiretamente, os países que possuírem muito ouro nos seus bancos centrais estão mais precavidos aquando de crises financeiras, que os que têm exclusivamente ou sobretudo, uma ou várias divisas de reserva (o dólar, o yen, a libra, o euro, o yuan...). 

Entretanto, grandes quantidades de ouro vão sendo compradas pelos bancos centrais no mundo inteiro. Este movimento não é exclusivo de países dos BRICS, que olham com desconfiança o dólar, visto que este tem servido para fazer chantagem, permitindo que as sanções (ilegais, todas elas, face à lei internacional) decretadas pelos EUA acabam por ser adotadas por países terceiros, sob pena de retaliações e multas.  Muitos bancos centrais de países do Ocidente, ou de aliados do Ocidente, têm comprado muito ouro, ultimamente.

Evidentemente, o reino do dólar está a chegar ao fim. A sua ascensão a moeda de reserva mundial deu-se no rescaldo da IIª Guerra Mundial, em que os EUA eram a única potência que tinha ficado intacta, na sua estrutura e na sua capacidade industrial. Todas as potências europeias beligerantes estavam de rastos, quer fossem do campo dos vencedores, quer fossem dos vencidos. 


HAVERÁ NECESSIDADE DE DIVISA MUNDIAL DE RESERVA?

Na realidade, com o desenvolvimento da digitalização do dinheiro, as trocas entre países podem muito facilmente ser feitas usando as respetivas divisas nacionais. Isto não coloca problema a nível de trocas comerciais ou financeiras de grande volume. Também a nível de retalho, ou para viajantes ou turistas, não deveria ser problema trocar em divisas do país visitado, as divisas que transportasse o visitante. 

A necessidade de «inventar» um «repositório de valor», universalmente reconhecido (é este o papel de uma divisa de reserva mundial - o dólar), não existe na verdade. Aliás, o ouro preenche muito bem essa função, caso se considere que tem de haver algo que funcione como uma reserva de valor no mundo financeiro e que seja um ativo tangível, com valor reconhecido em todos os cantos do Globo. O desenvolvimento das tecnologias informáticas e de telecomunicações veio tornar supérflua a existência de uma moeda de reserva mundial. Aliás, está claro para todos que as divisas que usamos no dia-a-dia já estão largamente digitalizadas. O papel moeda é ainda usado, mesmo nas economias mais desenvolvidas, mas em percentagem cada vez mais modesta nas atividades comerciais. Não há razão prática nenhuma para forçar a digitalização a 100% das nossas economias. Esta tentativa mascara o desejo do controlo totalitário sobre os cidadãos: Uma divisa assim, torna toda a troca envolvendo esta divisa digital completamente transparente para o banco central respetivo. Este poderá monitorizar as transações, manipular as pessoas a consumirem mais disto e menos daquilo ou mesmo, interditar certas pessoas de usarem a divisa digital.


O RESULTADO DA CRISE SERÁ IMPREVISÍVEL & IRREVERSÍVEL

Nesta época de transição para um mundo muito mais incerto, com guerras acesas que poderão alastrar, com crises económicas e financeiras que atingem o coração do sistema capitalista internacional, temos de saber como nos comportar, em relação às poupanças e aos investimentos. 

O mundo capitalista está na véspera de um colapso muito maior do que o de 2008, pois desta vez, nem os governos, nem os bancos centrais, poderão salvar da bancarrota inúmeras empresas. Os próprios Estados estão sobre endividados num ponto jamais visto no passado. A guerras híbridas multiplicam-se, sendo as armas económicas e  financeiras parte importante da panóplia: sanções económicas, bloqueios, tarifas alfandegárias, embargos, exclusões. Nisto, os cidadãos dos países são envolvidos contra a sua vontade: somos os danos colaterais das guerras económicas, assim como os mortos e feridos civis, o são de conflitos bélicos com mísseis e canhões.

Não dou conselhos de investimento ou outros, mas penso que há duas coisas que temos de saber:

- Triar a informação, separando-a da propaganda. Saber analisar os factos, tentando ver como se movem os grandes atores; não como eles falam, mas como agem.

- Garantir a satisfação das necessidades imediatas, mas tendo em conta a possibilidade de cenários catastróficos. Portanto, dar preferência à resiliência sobre os ganhos, por mais apetecíveis que pareçam. 

O futuro coletivo depende de haver suficientes indivíduos que consigam superar a grande crise e reconstruir aquilo que foi destruído. 

Por isso, estou interessado em salvaguardar a minha família e eu próprio, mas também, que o mesmo aconteça a muitas pessoas da classe trabalhadora e da classe média. 

 

terça-feira, 22 de outubro de 2024

PRIMEIRO DIA DA CIMEIRA DOS BRICS EM KAZAN (RÚSSIA)

 Tal como temos vindo a relatar, os BRICS foram fortalecendo as suas trocas comerciais recíprocas, evitando o dólar como intermediário, fazendo o ajuste final com ouro (visto que os câmbios entre duas divisas podem oscilar durante a negociação). Este processo é bastante simples e não implica uma entidade centralizada (a instauração do «BRICS Pay» irá potenciar as trocas país a país). 

Quanto ao processo de investimento, esse sim, beneficia de uma entidade centralizada, o Banco de Investimento dos BRICS. Tem sido um motor para o desenvolvimento de muitos países do Sul Global, que anteriormente só podiam recorrer (na prática) às instituições controladas pelos EUA, como o FMI e o Banco Mundial, que só emprestavam a troco de condições como os famosos «programas de ajustamento estrutural», os quais levavam ao empobrecimento ainda maior destes países. 
Este investimento financiado pelos BRICS, incide em infraestruturas, novos meios de comunicação e em economia digital. Permite que - em pouco tempo - os países africanos atinjam a autossuficiência e desenvolvimento autónomo, como nunca tiveram, desde a descolonização. A África sairá grande vencedora (económica), na segunda metade do século XXI. 

No que toca à adesão plena aos BRICS de cerca de 40 países-candidatos, colocam-se dificuldades, pois o alargamento tem de ser feito perante regras claras e não ambíguas; o que era possível ser feito a 5, com um «consenso oral», já não é procedimento adequado a 40 ou 50. 
A prudência em fazer uma série de acordos parciais e bilaterais, com os países-candidatos, é de simples bom-senso; também é vantajosa para os candidatos, pois assim estarão em condições de avaliar as vantagens e inconvenientes das suas economias se integrarem plenamente aos BRICS. 


Esta entrevista acima, em espanhol (pode ativar as legendas na mesma língua), pode exemplificar o ponto de vista, não apenas do entrevistado (De Castro), como de muitos empresários, espanhóis e europeus. 

Há que ver as coisas num modo não ideológico, não preconceituoso. E tem razão o entrevistado, pois o pragmatismo permitiria aumentar os intercâmbios comerciais entre a Europa e o resto do Mundo, aliviando assim a crise de recessão/depressão que a Europa tem estado a sofrer, desde há dois anos, por mais que politicamente tentem ocultar a  gravidade da sua situação. A existência desta oportunidade, da Europa se unir ao Sul Global, é posta em relevo pelo entrevistado.


sábado, 19 de outubro de 2024

O «RESET» QUE VIRÁ PELOS BRICS: M-BRIDGE, DIVISA DIGITAL, CABAZ COM 40% DE OURO

A 4 dias da cimeira de Kazan dos BRICS, as diversas fontes alternativas de notícias esmeram-se em trazer especialistas (reais) nos domínios financeiros, monetários, geoestratégicos e de matérias-primas, para darem um panorama sobre as decisões prováveis e aquilo que isso influi na balança de poder internacional, nas relações económicas entre países, etc. 

Andrew Schectman é um experiente negociante em metais preciosos, dos EUA, que tem uma visão de largo alcance sobre muitos assuntos, pelo que esta entrevista com Michele Makori de KITKO news deverá dar-nos pistas válidas sobre o próximo futuro. Andy tem previsto com notável precisão as mudanças que correspondem às diversas etapas para um «reset» monetário mundial, não exatamente o que os globalistas queriam, mas no qual eles tentam influir para não ficarem completamente fora da partida.





RELACIONADO:











PS1: Alasdair Mcleod mostra como o ouro subiu em relação às principais divisas, mas devemos reconhecer, diz ele, que o ouro não subiu; as divisas é que desceram em relação ao ouro!



sexta-feira, 11 de outubro de 2024

CIMEIRA DE KAZAN: MUDANÇA DE MARÉ NAS DIVISAS FIAT (Alasdair Mcload)

Nesta entrevista Alasdair Mcleod esclarece a fundo o que está em jogo, no contexto atual, geopolítico e financeiro. 

Não perca! Ele coloca as questões que ninguém se atreve a colocar!


                                                 



NB: Ao longo dos anos, tenho acompanhado a crise do dólar. Também tenho ponderado quais as respostas que, sobretudo na Rússia e na China, têm sido implementadas, quer dentro dos seus países, quer no seio dos BRICS. Temos agora, em Kazan, o momento da criação dum sistema internacional, adossado ao ouro e graças ao qual as trocas internacionais beneficiarão de estabilidade e segurança.

A nova unidade de troca não pertencerá a nenhuma nação, ao contrário do sistema resultante de Bretton Woods, que instaurou o dólar dos EUA como divisa de reserva mundial, que todos os bancos centrais dos diversos países deviam possuir como reserva.

No mundo de hoje, as relações monetárias são estruturalmente causadoras de inflação. Esta é, na essência, a perda de valor aquisitivo duma divisa. É o que acontece no constante desvalorizar do dólar US. Este, desde 1971 perdeu 98% do poder aquisitivo face ao ouro, arrastando consigo todas as outras divisas.

domingo, 6 de outubro de 2024

De 26 de Setembro a 6 de Outubro, tanta coisa mudou!

 Talvez, os "DEZ DIAS QUE ABALARAM O MUNDO"* das nossas vidas.

Eu estive doente e tive de assistir a minha esposa, também ela doente. Por isso, não escrevi, nesta semana, novos artigos para meus leitores do blog. Mas, agora que estou melhor, consegui apenas publicar dois vídeos esclarecedores:

O 1º, é uma entrevista de Glen Greenwald ao Prof. Jeffrey Sachs. 

Para se perceber como chegámos a este ponto, é preciso ter uma noção de todo o desenvolvimento que conduziu ao estado presente. A entrevista é intitulada «A Guerra Ucraniana Foi uma Jogada Estouvada» e faz todo o sentido, porque, como o Prof. Sachs recorda, os EUA e a OTAN, durante anos, tudo fizeram para que se chegasse a este estado. Mas, não só a provocação à guerra foi estouvada, como foi de incrível irresponsabilidade, a sucessão de recusas, a cada vez que a Rússia vinha propor conversações para novo acordo de paz e segurança no continente Europeu.


o 2º, é Andy Schectman, um comerciante e especialista de mercados de metais preciosos, que não tem dúvidas sobre a leviandade dos dirigentes políticos, banqueiros centrais e da classe dos oligarcas ocidentais.

Todos eles estavam absolutamente seguros, até há bem pouco tempo, que o dólar era inexpugnável como moeda de reserva e como moeda de intercâmbio comercial em todo o mundo. As forças que se opunham ao dólar tinham, no entanto, excelentes economistas e estrategas, não deixando passar as oportunidades de fortalecer a construção dos BRICS e das trocas entre eles, prescindindo do dólar, assim como do desenhar de uma moeda não vinculada a um país, mas a um pacote de matérias primas, onde o ouro entrava com uma cota de 40%.

Esta moeda internacional que, estou quase certo, vai ser proclamada na próxima Cimeira dos BRICS de Kazan, terá um respaldo muito maior do que o dólar (moeda dita «fiat»), que apenas tem como respaldo a «palavra» , as «promessas» do governo dos EUA.



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*O título do livro de John Reed, de reportagem sobre os dez dias de 1917, que antecederam e imediatamente sucederam à tomada do Palácio de Inverno pelos bolcheviques em 25 de Outubro (do calendário ortodoxo).  John Reed, o jornalista e revolucionário, cidadão dos EUA, a quem foi concedida a honra de ser enterrado na Praça Vermelha. 

quinta-feira, 5 de setembro de 2024

SISTEMA ENERGÉTICO E SISTEMA MONETÁRIO

Não há sistemas económicos perfeitos, senão nas cabeças transtornadas de certos indivíduos, embriagados por uma qualquer ideologia.

Tem sido aventada, por muitos analistas financeiros, a hipótese de o ouro retomar um lugar central no sistema monetário internacional, ou seja, como unidade de referência e convertível nas diversas divisas. O problema com o ouro, é a sua extrema concentração de valor. No dia de hoje (05-09-24), um 1gr. de ouro vale cerca de 73 €.
Verifica-se que o ouro é comprado às toneladas pelos bancos centrais de muitos países: China, Rússia, e outros países dos BRICS, ou candidatos; mas também muitos países ditos «ocidentais» têm feito compras avultadas de ouro.
A particularidade do ouro, se visto do ângulo de matéria-prima, é que existe uma enorme reserva deste metal acima da superfície, armazenado não apenas em bancos centrais, como em cofres-fortes de instituições e de particulares. Pelo contrário, o ouro que está nas minas, em condições de ser extraído (cujas operações de mineração têm rentabilidade), é cada vez menor. Outra particularidade, é que a sua utilização industrial e na ourivesaria (joias e outros objetos em ouro) é em muito menor percentagem, do que o ouro que se destina a ser armazenado. Estas particularidades, devem-se ao facto do ouro ser considerado o metal precioso mais apropriado para servir como reserva de valor.
As pessoas estão habituadas a contabilizar o valor das matérias-primas em dólares, mas fariam melhor em converter a divisa fiat (como o dólar ou outra) em gramas, ou onças de ouro.  No intervalo de tempo de 1971 até hoje, dólar perdeu cerca de 98% do seu valor em relação ao ouro. Como se pode ver no gráfico abaixo, houve grandes oscilações do preço do crude em dólares. Porém, também foi necessário cada vez mais dólares, ao longo do tempo(1), para comprar o mesmo barril de petróleo. Porém, o valor desse barril medido em gramas de ouro quase não mexeu nos últimos 50 anos.


Os outros metais preciosos - a prata, a platina, o paládio - têm uma utilização industrial muito maior que o ouro. Por exemplo, hoje em dia, a prata transacionada no mercado destina-se, em cerca de 50%, ao armazenamento em cofres-fortes («metal monetário»); sendo a outra metade, utilizada em muitas e diversas aplicações: Painéis solares, medicina, eletrónica, etc.
Provavelmente, quaisquer que sejam as transformações que ocorram no sistema monetário, os bancos centrais saberão o que fazer para inspirar confiança nas suas respetivas divisas nacionais: O ouro pode continuar a ser um metal monetário, armazenado nos bancos centrais, conferindo a garantia do valor das divisas emitidas pelos mesmos bancos centrais. Habitualmente, diz-se que neste caso, uma divisa está adossada ao ouro. Isto é diferente de voltar a haver, como no Séc. XIX e anteriormente, um «padrão-ouro». Nesse tempo havia conversão automática e fixa de certa quantidade de ouro, numa certa quantidade de divisa em papel (e vice-versa).

Dentro da imperfeição das coisas humanas, talvez o melhor sistema monetário fosse um sistema ancorado em necessidades universais, ou seja, coisas que têm importância fundamental em qualquer ponto do Planeta. Estou a pensar em formas de energia.
Todas as formas de energia utilizáveis (o petróleo, a eletricidade, seja ela gerada por central hidroelétrica, por «renováveis», por central a carvão ou por central nuclear) na indústria e nos lares, etc. serviriam. Estas energias servem para produzir trabalho, no sentido geral de uma transformação material.
De facto, isso seria o mais natural, enquanto base para assentar a moeda universal de referência. Não seria a moeda de um país, não estaria baseada na força política, militar ou industrial de uma potência (ou de várias), seria uma equivalência simples e fixa entre uma unidade de energia e o valor monetário respetivoSe, por exemplo, o Joule fosse a unidade de energia a que a moeda universal estava ligada, haveria uma equivalência simples:

1 unidade monetária = 1 Joule ;
ou
1 unidade monetária = 1000 Joule.

Todas as unidades de energia são convertíveis umas nas outras, mas seria mais fácil que a moeda universal estivesse ligada à unidade do sistema S.I.

A energia consumida sobre a energia total disponível, daria a medida correta do dispêndio de um país, de uma cidade, de uma indústria, etc. A noção de conservação energética levaria a que se efetuasse cada trabalho com o menor gasto possível de energia.
A conversão de quantidades de energia em unidades monetárias seria direta. O trabalho humano seria facilmente calculável, na base da energia que o trabalhador precisaria, não só para o trabalho, como para todos os outros aspetos da sua vida (família incluída). Isto não evitaria nem injustiças sociais, nem a exploração. Seria apenas uma ligação estreita e automática do que chamamos «dinheiro», à quantidade equivalente de energia. Iria tornar mais patente a quantidade de energia fornecida pelo trabalho individual e coletivo.
A energia conservada num trabalho de qualquer tipo e o consumo da energia (pelos humanos e por máquinas) nessa obra, seria um critério objetivo de avaliação. Claro que existem muitos outros critérios pelos quais se pode e deve avaliar, mas a eficiência energética do processo é importante; ela iria tornar-se mais visível.
Nesta mudança, haveria um grupo de indivíduos que ficaria a perder: refiro-me aos especuladores. Estes, jogam com variações bruscas nos diferentes mercados, para comprar por preço artificialmente embaratecido, ou vender por preço inflacionado, quando existem ondas de pânico no grande público. 
Os preços da energia, nas suas diferentes formas, teriam muito mais estabilidade. Isso seria afinal o melhor para toda a sociedade. A estabilidade dos preços dos produtos é um importante objetivo. Ora, os produtos mais diversos precisam de energia para serem fabricados e  transportados. 
Sabemos como as crises petrolíferas são causadoras de graves ruturas na produção e causam uma séria agitação e revolta nas pessoas. Pois a adoção do padrão de energia, ou o equivalente monetário da mesma, iria tornar muito menos suscetível que o mercado da energia, ao nível global ou regional, fosse seriamente perturbado.  
Para fundamentar esta afirmação, basta ver, em pormenor, o que se passou desde 1971, há pouco mais de meio século, com o preço do petróleo em dólares e em onças de ouro (consulte o gráfico acima). 
Nessa altura, os dólares deixaram de estar acoplados ao ouro através da relação: 1 onça de ouro/35 dólares. Tendo disparado a impressão monetária a partir dessa altura, os dólares tinham necessariamente de entrar numa espiral de desvalorização (2). 
Pelo contrário, o ouro manteve aproximadamente a mesma relação com o barril de petróleo, ao longo de mais de 50 anos. Como foi isso possível? 
O ouro, tal como o petróleo, é um produto da Natureza, existe em quantidades finitas. Não se pode fabricar. Mesmo que cientistas inventassem um processo para realizar o que os alquimistas supostamente faziam, "transmutar chumbo em ouro": Este processo, com certeza, seria muito mais dispendioso do que a simples mineração do ouro. 
Repare-se que, tal como o ouro, o petróleo é um recurso finito. Existe muito petróleo mas, ou ele está em locais de difícil acesso, cujo custo de extração é proibitivo, ou situa-se em zonas mais acessíveis, mas a quantidade que daí se pode extrair é demasiado pequena para rentabilizar os custos de foragem e de exploração. O restante, é o petróleo explorável: Aquele que satisfaz tanto as exigências técnicas, como económicas, para tal. É apenas uma fração do petróleo total. 
Note-se que o sistema monetário que proponho não está indexado ao petróleo, mas a todas as formas de energia exploráveis, como referi acima. O dinheiro, na forma como o concebo, deve legitimamente ser visto como «a forma de expressar a titularidade de uma certa quantidade de energia».   
Neste Mundo, apesar de tudo, continuariam os conflitos e as injustiças, eu sei. Mas, eu não estou a propor uma «panaceia», uma solução mágica para os males do Planeta! Como disse atrás, estou convencido que a nova unidade-padrão de valor iria permitir uma maior lucidez e racionalidade nas escolhas das pessoas, das empresas e dos Estados.
  As nações que souberem salvaguardar e utilizar os seus recursos de maneira sábia, poderão melhorar em todos os campos: Os recursos humanos e os recursos energéticos, devem estar na primeira linha das preocupações da cidadania e de um governo competente.
Talvez demorasse duas ou três gerações, até as pessoas mudarem seus comportamentos, mas tal acabaria por acontecer: Já não estariam tão ansiosas por acumular; teriam maior capacidade em gerir suas vidas, suas economias, suas despesas. Teriam também maior facilidade em avaliar os projetos ou os programas, que os políticos lhes apresentassem.

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(1) Poucas pessoas compreendem que a inflação é sempre um fenómeno monetário. Isto é: quando a entidade emissora da moeda (banco central, em consonância com o governo) aumenta a quantidade de dinheiro em circulação, existe inflação. 
A inflação é - também - um «imposto» e o mais injusto dos impostos. Proporcionalmente, os pobres sofrem muito mais do que os ricos. Em situações de elevada inflação, os preços dos alimentos são os que mais sobem. Mas, para os ricos, a alimentação é apenas uma fração pequena das despesas; para os pobres, é a despesa quase exclusiva, ou a mais importante.

 (2)*A cotação do ouro mais frequente é em dólares por onça de ouro. Atualmente (05-09-24), esta cotação ronda os 2510 dólares US/ onça de ouro (cerca de 72 vezes a cotação no início de 1971). 




quinta-feira, 8 de agosto de 2024

O BITCOIN NÃO É SUBSTITUTO PARA O OURO


Retirei o gráfico nº1 de um artigo de Alasdair Macleod «Fool's gold and gold». Nele, é analisado o último crash bolsista, induzido pela súbita subida da taxa de juro das obrigações soberanas japonesas, que anteriormente se encontravam virtualmente ao nível zero. Esta mudança fez com que o «carry-trade» Yen-Dólar deixasse de ser rentável. Este processo durou décadas, sendo protagonizado por bancos e especuladores financeiros, que pediam emprestado em yens (a bancos japoneses ou a outros que os tivessem), para depois os trocarem por dólares e os investirem, obtendo uma confortável margem de lucro. Este processo implicava que o empréstimo de Yen fosse quase gratuito (como tinha sido durante décadas devido a juros quase nulos das obrigações do Tesouro japonesas). Isto permitia embaratecer, de forma considerável, operações recorrendo ao crédito.

Com a cessação brusca e não anunciada de tal «carry trade», muitas apostas ficaram a descoberto, nomeadamente nos «casinos bolsistas». Os que se encontraram de repente a descoberto, tiveram de cobrir seus déficits com a venda de ações tecnológicas e de bitcoins.

Verifica-se portanto que o bitcoin, tal como noutras ocasiões, se comporta do mesmo modo que o índice NASDAQ.


E quanto ao ouro? na figura nº2, abaixo, verifica-se que o ouro (preço expresso em euros) sobe no mesmo período de forma mais regular que o NASDAQ. Os recentes movimentos foram de descida, porém muito mais suaves que do NASDAQ e do BITCOIN. 



É evidente que perante um crash tão grande, como o que ocorreu a partir do início de Agosto deste ano, o ouro teria de baixar um pouco, pois também terá servido para cobrir perdas nos mercados bolsistas. Porém, perdeu numa proporção muito modesta. 

Na tabela seguinte, verifica-se que houve uma pequena descida, correspondente ao crash da semana passada, mas seguiu-se uma rápida recuperação, nesta semana (dados colhidos a 08/08/2024):

 

cotação do ouro em dólares USgold_performance_chart
                     

De novo, pela enésima vez, o ouro consegue conservar o seu valor perante as mais diversas divisas, apesar das bolsas mundiais terem sofrido um recuo acentuado no valor de muitas ações, perdendo algumas delas todos os ganhos obtidos desde o início do ano de 2024. 

Eis porque o bitcoin nunca poderá ser equiparado ao ouro (dizem que é «como ouro», que é «o ouro do século XXI», etc): 

O bitcoin comporta-se como uma ação tecnológica cotada no NASDAQ. O bitcoin ACOMPANHA as descidas das bolsas. O ouro, por contraste, não está correlacionado com ações (a não ser com ações de minas de ouro, claro!); tem muita estabilidade; tem procura em todo o Mundo; no médio e longo prazo é o ativo monetário mais estável, batendo divisas, obrigações, índices bolsistas e outras aplicações financeiras. Alguém que conheça um pouco do mercado do ouro, sabe que ele constitui o melhor refúgio, permitindo a conservação do valor, especialmente em tempos tão conturbados como os de hoje.

quarta-feira, 10 de julho de 2024

Príncipe saudita impediu confisco de 300 mil milhões de dólares russos cativos em bancos ocidentais

Parecia haver, a certa altura, total sintonia entre os dirigentes do G7, da UE  e Zelensky, no sentido da confiscação total dos 300 mil milhões de dólares em ativos da Federação Russa, em bancos europeus (sobretudo Franceses, Alemães e Belgas ).

De repente, o discurso mudou, com explicações bastante duvidosas, do ponto de vista jurídico, da parte dos governos da UE. Agora, só iriam ser confiscados os juros resultantes desses ativos e não o capital próprio. Para o mundo capitalista, a expropriação dos juros não tem qualquer lógica, na medida em que estes foram obtidos como resultado legítimo do investimento desses ativos. Continuava a ser uma monstruosidade jurídica do ponto de vista do sistema vigente.   

Agora, a Bloomberg vem nos dar a chave do problema. A Arábia Saudita ameaçou despejar no mercado as obrigações do tesouro desses países ocidentais, se eles expropriassem a Rússia dos seus ativos, para dá-los ao regime de Kiev e seus psicopáticos dirigentes. 

Foi afinal isso que mudou o discursos dos ocidentais, fazendo com que - agora - já não seriam «expropriáveis» os 300 mil milhões de ativos russos, mas «apenas» os juros que estes tinham rendido. Embora a lógica seja tão absurda como quando anunciavam que iriam «confiscar» os bens da Federação Russa e até de oligarcas (portanto, privados), que estavam em bancos de vários países da UE.

A monstruosidade deste confisco só tem paralelo com a operação falhada de promover um fantoche a «presidente» da Venezuela, entregando-lhe e ao seu «governo no exílio», o ouro venezuelano à guarda do Banco Central britânico (Bank of England).

A Venezuela não recuperou o ouro. Porém, todas as instâncias internacionais competentes na matéria, consideram que se tratou de pirataria financeira dos britânicos . 

ttps://morningstaronline.co.uk/article/f/give-venezuela-back-its-gold-2023

Agora, com a guerra na Ucrânia, os piratas que governam a UE decidiram fazer substancialmente o mesmo  com os ativos russos: Eles queriam pagar-se dos fornecimentos de armas e munições à Ucrânia, que têm sido fornecidas desde muito antes de Fevereiro de 2022 e, sobretudo desde então, despejadas em enormes quantidades e destruídas sistematicamente pelas forças armadas russas. Na realidade, nem um cêntimo do dinheiro russo confiscado irá para os cofres estatais da Ucrânia. Uma parte será para pagar as toneladas de material de guerra despejadas quotidianamente na guerra assoprada e fomentada pelos ocidentais, outra parte, irá para os bolsos de políticos corruptos, de Zelensky e da camarilha que gravita em torno dele, ou ainda, dos bilionários ao estilo de Kolomoisky (que financiava o «Batalhão Azov» e partidos ditos nacionalistas, na verdade, neonazis). 

Para mais pormenores, leia o artigo de Zero Hedge: Diz muito sobre o fim do petrodólar e perda da hegemonia financeira do Ocidente sobre o Mundo: Os detentores de dívida dos países ricos têm, agora, mais meios de pressão sobre estes, do que antes. Antes, os emissores de dívida (como os EUA), faziam voz grossa e ameaçavam invadir quem se atrevesse a vender as «treasuries» guardadas em reserva.

domingo, 12 de maio de 2024

DIVISA DIGITAL DOS BRICS JÁ FOI ANUNCIADA; RESTA IMPLEMENTÁ-LA

 No domínio da guerra monetária, que se sobrepõe ou coalesce com a guerra financeira, de sanções económicas e de guerra híbrida, com focos de guerra aberta na Ucrânia e em Gaza, sobressai a crescente de-dolarização. 

Este processo carece de explicação para se compreender o significado de uma nova moeda, emitida e garantida pelos BRICS. Com efeito, a existência de uma divisa de um país (os EUA) como detentor da moeda de reserva mundial (o Dólar US) confere a este uma efetiva capacidade de tirar partido (abusivo) deste privilégio. No caso do dólar, o privilégio consistia em que todos os países, fossem eles ricos ou pobres, amigos ou não dos EUA, tinham de possuir em reserva dólares, pois as principais mercadorias, que se têm de negociar ao nível mundial, como combustíveis fósseis ou as matérias-primas estratégicas, são exclusivamente negociadas e transacionadas em dólares. Isto foi permitir que os EUA estivessem - décadas a fio - em défice, nas suas balanças comercial e do orçamento Federal, sem daí ocorrer uma catástrofe em termos de economia interna dos EUA e sem perder a possibilidade de efetuar toda a espécie de trocas comerciais internacionais. Esta situação simplesmente seria inacreditável, para um país - grande ou pequeno - que tivesse muitos anos seguidos de défice comercial e orçamental. Qualquer país, que não os EUA, iria entrar em colapso a breve prazo, pois os capitais internacionais, financeiros e outros, iriam  fugir de qualquer negócio com um país tecnicamente falido. É, porém, exatamente este o estado dos EUA, de bancarrota, com 34 triliões de dívida acumulada*, uma soma astronómica que nunca poderá ser paga no futuro. 

Ora, o dólar não apenas permitiu a situação constante de défice, ou seja, de dívida que se vai acumulando, perante credores internos ou exteriores à economia dos EUA, como foi utilizado pelo poder político como uma arma, como um instrumento de guerra, para efetuar sanções. Estas sanções são atos de guerra económica, sem qualquer legitimidade. Porém, como os EUA são ainda a potência dominante, podem impor a países terceiros que «cumpram com as sanções», ditadas por eles, americanos. Na ausência de cumprimento, eles podem provocar o estrangulamento económico, quando não uma guerra, contra esse país recalcitrante. Este estado de coisas impulsionou muitos países do Terceiro-Mundo a se aproximarem e a pedirem a adesão aos BRICS, pois nestes não existe exigência de conformidade com o poder mais forte, em termos do sistema económico ou político vigentes. Ou seja, um país, ao aderir aos BRICS, pode continuar a economia que tinha antes, o mesmo regime político, as mesmas instituições, sem que isso seja sujeito a interferência de outros membros, nomeadamente, dos mais fortes. 

Por outro lado, a criação de moeda que não seja pertença de nenhum país, como será a dos BRICS, terá como consequência que esta será sobretudo uma intermediária nas trocas, já não necessitando de complexas ponderações entre as divisas do país A e do país B, para determinada transação, ou mesmo, avaliações do valor direto das mercadorias, sendo trocadas sem intermediação de dinheiro, mas com ajustamentos efetuado em metais preciosos, para cobrir o diferencial entre as respetivas divisas desses países. Ambas as modalidades têm sido praticadas, com resultado satisfatório, por países que não desejam estar sujeitos à chantagem do dólar. Com efeito, a troca envolvendo dólares, vai implicar o escrutínio de um banco americano (nomeadamente dos bancos gigantes de Wall Street). Pode, por isso, o poder político dos EUA decretar sanções eficazes (até agora) contra um país (por exemplo, o Irão), pois as trocas, sendo feitas usando o dólar, passam por um processo de controlo e verificação duma empresa financeira americana, situada em solo americano e sob jurisdição americana. 

Agora, o tipo da divisa emitida pelos BRICS, ainda ninguém sabe qual será. Tem-se especulado que será um produto inteiramente digital, com as características de Divisa Digital Emitida por Banco(s) Central(ais); é muito provável que esta divisa seja adossada ao ouro,  a outros metais preciosos, a combustíveis,  e a outras matérias-primas.

A questão da convertibilidade direta em ouro, como existiu no passado, não se irá colocar, creio: Não me parece que os BRICS queiram fazer do ouro (novamente) a garantia de valor das trocas, mesmo que usando uma divisa em papel ou eletrónica, enquanto forma cómoda de substituir o ouro. 

Mas, o que é certo, é que esta nova divisa internacional irá satisfazer uma necessidade ao nível das grandes trocas entre os Estados ou entre organizações públicas ou privadas. Com efeito, as trocas usando o dólar como moeda de reserva estão sujeitas a imprevistos, tanto no domínio geopolítico, como económico: Quando um país faz um acordo em dólares num contrato de longo prazo e a sua divisa nacional se desvaloriza de maneira significativa, em relação ao mesmo dólar, esse contrato pode tornar-se muito desfavorável para este mesmo país. 

Agora, a estabilidade de longo prazo conferida pela nova moeda dos BRICS, irá com certeza minimizar as hipóteses de tal acontecer. Note-se que a flutuação de divisas, duma em relação às outras, não corresponde necessariamente a um melhor desempenho económico do país A, em relação ao país B: Pode muito bem haver contextos que provoquem a descida acentuada de uma divisa, como fatores económicos ou políticos, ou outras circunstâncias no contexto mundial, que escapam largamente ao controlo dos países em causa. 

A existência da nova divisa internacional, embora não assumindo oficialmente o papel de moeda de reserva, irá permitir maior estabilidade nos preços, nos contratos e nas trocas internacionais. Isto, em si mesmo, vai ser muito importante para o desenvolvimento global. Vai haver condições para que as trocas sejam mais favoráveis para os países pobres, que têm como quase único meio de obter divisas a exportação de matérias-primas. 

Não se pode deixar de falar do destino do dólar, neste contexto: O dólar será, provavelmente, mantido como divisa dos EUA e, nesta base, será utilizado e trocado de acordo com as necessidades do mercado: Como os EUA não vão deixar de ter uma dimensão considerável no domínio industrial, comercial e da inovação, não será de espantar que o dólar continue a ser usado numa fatia das trocas financeiras e comerciais internacionais. O que vai ser diferente, é que deixará de haver exclusividade: Já não haverá qualquer «obrigatoriedade» em comprar no mercado internacional, em dólares (a países, que não sejam os EUA) os combustíveis ou  os cereais, etc. 

A libra foi, durante cerca de século e meio (do início do século XIX, a meados do século XX), a moeda de reserva e comercial. Foi destronada pelo dólar, mas continuou a ter um papel nas trocas internacionais. 

A nova divisa dos BRICS não será a «panaceia», mas terá a virtude de permitir que as trocas se efetuem de modo mais equilibrado, que não haja nenhum país capaz de impor sua «lei», só pelo facto de ser emissor da moeda com o papel de reserva mundial. Também haverá maior dinamismo no comércio. Em particular, irá desaparecer a flutuação excessiva entre divisas, eliminando assim um risco que pode inviabilizar um negócio que se pensava ser rentável.


                              O conteúdo do vídeo acima, de Lena Petrova, é muito esclarecedor. 
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PS1: No vídeo seguinte, duas opções de criação de uma divisa dos BRICS são detalhadas:
https://www.youtube.com/watch?v=PF65jyA6qXc

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*A propriedade dessa dívida é a 80% propriedade do fundo de investimento da segurança social e outras entidades coletivas dos EUA.

sábado, 20 de abril de 2024

O TRIUNFO DA ESTUPIDEZ

 


Os ocidentais, pelo menos os que detêm mais poder, seja ele económico ou político, são capazes de ficar muito orgulhosos porque «fizeram uma tonelada de dinheiro». É assim que pensam, realmente. Confundem as coisas. Não têm a mínima noção da realidade económica. São capazes de ficar extasiados perante a subida das bolsas e das ações nas quais apostaram, porém, não têm em conta que a divisa na qual essas mesmas são avaliadas (e todos os ativos, geralmente), se deprecia em proporção tão grande como a «valorização» dos seus ativos. 

Nunca na História se acumularam tantos erros estratégicos, pela chamada elite. Os poderosos, nos anos noventa, decidiram que os países pobres, do Terceiro Mundo, eram os locais apropriados para deslocalizar as suas empresas. «Matavam de uma cajadada, dois coelhos»: Obtinham enormes lucros com estas deslocalizações e conseguiam controlar a classe trabalhadora dos próprios países, sujeitando-a à precariedade, ao desemprego, à diminuição do seu nível de vida.  Na realidade, estavam a serrar o ramo sobre o qual se sentavam; numa sociedade capitalista o mercado (dos bens materiais e dos serviços) é que dita o lucro: Se não houver escoamento para a mercadoria, os seus fabricantes podem ter acumulado muita mais-valia (potencial) no processo de produção, isso não produz qualquer lucro líquido, pois no final, eles só podem concretizar a operação pela venda dos tais produtos acabados. Se não há compradores, ou porque o produto proposto não lhes interessa ou porque estão debilitados economicamente e não podem gastar dinheiro em coisas não essenciais, os capitalistas irão, com certeza, para a falência. E assim foi. 

Os produtos elaborados no «Oriente» eram muito mais baratos e mais satisfatórios. Portanto, tinham colocação garantida tanto nos povos do oriente, como do ocidente. A desindustrialização foi um desastre para o capitalismo ocidental, promovido pelo mesmo e resultou num maior crescimento da capacidade produtiva e do poderio económico das economias orientais. 

Outra das belas operações dos ocidentais foi a sua obsessiva venda de ouro, quer estivesse guardado em cofres-fortes de bancos comerciais, ou nos bancos centrais dos diversos Estados. 

Os países recetores foram aqueles com excedentes comerciais crónicos. Foram acumulando ouro, tanto quanto podiam, sabendo que o preço a que lhes era vendido, era um preço de saldo. 

O ouro está agora em mãos fortes. Ele foi cedido  por mãos fracas. Infelizmente, não  apenas as mãos eram fracas, também as cabeças: Com efeito, acreditaram numa espécie de ladainha que «justificava» as vendas massivas do ouro como ele sendo «a pet rock» («uma rocha de estimação»). 

Mas o ouro é dinheiro verdadeiro, há mais de 5000 anos, que não sobe nem desce, pelo contrário são as divisas fiat que sobem e descem constantemente. Se assim não fosse, não haveria nenhuma lógica para os bancos centrais de todo o Mundo acumularem este metal especial. 

Agora, vê-se que quem possui o ouro, possui o poder. O mais extraordinário, é que a classe possidente no Ocidente se convenceu das suas próprias falácias, acreditou na sua própria propaganda. 

Nunca se viu um grau tão grande de autoderrota. Não tenho pena das classes possidentes ocidentais, tenho compaixão pelas pessoas trabalhadoras, exploradas, enganadas, espoliadas dentro desse tal «jardim do Paraíso» do Ocidente (como diz Josep Borrell). 

Afinal eles, trabalhadores dos países ocidentais, devem sentir-se ainda mais infelizes, perante os milhões de pessoas que deixaram de ser pobres e que ascenderam ao nível de «classe média» no Oriente, enquanto elas, no Ocidente, desciam para o inferno da pobreza.

Não vale a pena, sequer, esgrimir argumentos com os falsos «especialistas» ou «economistas da treta», que enxameiam os nossos media corporativos: Se uma pessoa quer olhar os factos por si mesmos, sem se distrair pelas argumentações sofísticas, tem de concordar comigo: 

- Nos finais do século XX e nos princípios deste século, a classe dominante dos nossos países ocidentais, possuída de vertigem do poder e da sua invencibilidade, provocou a sua própria queda.

sexta-feira, 12 de abril de 2024

O CANÁRIO NA MINA DE CARVÃO*

                                                 O CANÁRIO NA MINA DE CARVÃO*



               Gráfico retirado do site https://www.goldmoney.com/research

Nas últimas semanas, tanto o ouro como a prata, têm subido de forma parabólica, sem cessar. Esta subida é correlacionável com uma situação muito anómala do mercado. Em particular, os acontecimentos geopolíticos indicam aos investidores (apenas 0.5% dos investidores têm ouro nos seus portefólios!) que estamos a passar pelo período mais conturbado, não só do século XXI, como das nossas vidas.

A instabilidade geopolítica foi potenciada por dois acontecimentos:

- O ataque terrorista contra um concerto na periferia de Moscovo, que fez 144 mortos e grande número de feridos, cuja responsabilidade o governo russo atribui aos serviços ucranianos, inspirados por Washington e Londres. Em consequência deste ataque, houve um potenciar e alargar de ações ofensivas russas em toda a Ucrânia.

O segundo evento é o ataque às instalações consulares iranianas, pelos israelitas. Este ataque causou sete mortos diretos, dos quais um general iraniano. 

Ao atacar representações diplomáticas, que são salvaguardadas pela convenção de Viena, estejam onde estiverem e sejam de que país for, o governo de Israel indicou que não hesitaria em transgredir todas as regras e convenções internacionais, como aliás o tem feito abundantemente no genocídio que leva a cabo em Gaza, desde o 7 de Outubro passado. 

Todo o mundo está a aguardar quando e como será a resposta iraniana a este crime. As representações diplomáticas são consideradas território do país; portanto, o ataque de Damasco pelos israelitas é uma agressão ao território do Irão. É uma agressão brutal, sem dúvida, motivada pelo desespero de terem de retirar de Gaza onde -apesar da chacina causada na população civil - não conseguiram erradicar o Hamas (o seu objetivo declarado).  

As pessoas mais bem informadas, assim como grandes empórios financeiros e os bancos centrais, já há muito tempo que começaram a acumular ouro (e prata) para enfrentar a enorme crise económico-financeira-monetária que está agora a começar a desenrolar-se, mas que desde 2008 era visível, aquando do quase-colapso do sistema global do capitalismo e das catadupas de dinheiro oferecido aos grandes bancos sistémicos e aos grandes fundos de investimento. 

Como de costume, os últimos a despertar são os pequenos, convencidos de que estão a  fazer fortuna na bolsa quando, na verdade, o valor nominal das ações deixou de ter significado, face à perda acelerada de valor (em termos reais de poder aquisitivo) das principais divisas nas quais essas ações estão cotadas. 

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* No passado, os mineiros costumavam levar, para dentro das minas, canários engaiolados; se estes morressem, então isso devia-se a concentração elevada de metano, pois os canários eram mais sensíveis.  Então, havia que evacuar a mina, antes que ocorresse uma explosão. Ficou a expressão para designar o sinal que antecede a catástrofe em termos financeiros.

quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

O SÉCULO DE OURO, LITERALMENTE

 A de-dolarização* vai continuar ao longo do ano de 2024. Ela atinge agora um marco histórico. As reservas de ouro detidas pelos bancos centrais relativamente a Obrigações do Tesouro dos EUA, alcançaram a marca dos 50% pela primeira vez.

Gráfico nº1: Valor das reservas oficiais (Bancos Centrais) em ouro relativamente às Obrigações do Tesouro denominadas em dólares


Sendo a China a segunda maior detentora de dívida americana, sob forma de Obrigações do Tesouro dos EUA, a mudança na composição de suas reservas em ouro e em ativos denominados em dólares é muito significativa. Note-se que os valores oficiais em toneladas de ouro, contabilizadas no Banco Central Chinês (o PBC), são considerados por muitos observadores muito abaixo da realidade, pois existem grandes quantidades de ouro nas mãos do Estado, que não estão incluídas na contabilidade do referido banco central. 

Gráfico nº2:  China - o valor dos ativos em ouro em relação aos ativos de Obrigações do Tesouro dos EUA


A acumulação de ouro pelos BRICS, comparada com os ativos em ouro dos EUA e da União Europeia, vai aumentando, sem nenhum sinal de abrandamento. Alguns pensam que esta acumulação de ouro indica que será lançada no futuro próximo uma moeda comum, sustentada pelo ouro. Mas, outros observadores pensam que os BRICS, em vez de adotarem uma moeda comum, diretamente ancorada ao ouro, vão continuar as trocas em divisas nacionais respetivas, servindo o ouro como parâmetro de ajustamento nas trocas bilaterais. De qualquer maneira, o ouro nos BRICS  já desempenha um papel relevante no sistema monetário em construção.

Gráfico nº3: Ativos em ouro nos bancos centrais dos BRICS, em proporção com os ativos em ouro dos bancos centrais dos EUA e da União Europeia.

De uma forma ou de outra, o ouro está a ser reintroduzido no sistema monetário mundial. Os BRICS não são os únicos: o Banco de Compensações Internacionais estabeleceu, há vários anos, que o ouro iria ser considerado  como «Tier 1», em todo o sistema bancário (bancos centrais e comerciais). Isto significa que os Estados, as empresas e as pessoas podem usar o ouro como colateral, da mesma forma como usavam as obrigações soberanas.

(Gráficos copiados do site seguinte  

https://kingworldnews.com/eric-pomboy-what-is-happening-in-the-gold-market-is-stunning/   )

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* NB: A de-dolarização é sobretudo uma recusa em deter ou em comprar dívida do tesouro dos EUA («treasuries»). Quando um banco central vende «Treasuries», não importa por que motivo, está a adquirir dólares em troca dessas treasuries. Assim, a procura de dólares no mercado mundial das divisas aumenta pontualmente. Mas, como os EUA estão falidos, o que acontece direta ou indiretamente, é a emissão de mais dólares, para cobrir essa operação de resgate de treasuries. Ao fazê-lo, o banco central americano (a FED) está diluindo o valor do dólar. Por outro lado, ser possuidor de dólares, equivale a  ser sujeito a sanções e chantagens pelo governo dos EUA. Estas, apenas se podem efetivar através da manipulação do dólar e das contas denominadas em dólares, possuídas por entidades estrangeiras. Quem não esteja disposto a isso, mesmo sendo aliado dos EUA, vai evitar converter os seus excedentes em Treasuries e vai preferir algo que não possa ser instrumentalizado contra o próprio detentor: é o caso de barras de ouro. 

sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

A CORRIDA AO OURO AINDA AGORA COMEÇOU

 


Seria difícil alguém contradizer Lena Petrova. Ela fundamenta rigorosamente cada afirmação que faz. Independentemente do «recado publicitário» no fim do vídeo,  são apresentados vários indicadores por Lena Petrova. O sentido destes indicadores é perfeitamente claro. 

A corrida ao ouro é impulsionada por bancos centrais, sem dúvida a China e outros países do oriente, ou ligados aos BRICS, mas também do campo ocidental, como é o caso da Polónia. 

Os bancos centrais compram ouro em quantidades tais, que o ouro minerado, anualmente, não chega: Isto significa que o ouro guardado em cofres, está a ser descarregado no mercado por uns e adquirido por outros. Penso que os primeiros são -sobretudo- os bancos comerciais do Ocidente. Estes têm de fazer face à subida rápida dos juros das obrigações e de cobrir suas perdas em apostas feitas nos mercados de derivados. Estes mercados são dos mais opacos em toda a finança, pois suas operações executam-se, geralmente, sem serem incluídas nos balanços das entidades bancárias. 

As grandes fortunas privadas e os "hedge funds", estão - pelo contrário - a imitar os bancos centrais orientais. Não se pode querer sinal mais claro de estarmos próximo dum ponto de inflexão no sistema monetário internacional. 

O que me parece mais provável, é os bancos centrais ocidentais «levarem ao tapete» suas respetivas divisas e tentarem, depois ou em paralelo, o «passe de mágica», da introdução das divisas digitais emitidas pelos bancos centrais (CBDC). 

Isto não vai resolver nada: Quanto muito, vai dar a ilusão ao público não-esclarecido, de que se entrou num novo paradigma. Na realidade, estão a camuflar as dívidas incorridas pelos Estados e outras entidades. O incumprimento destas dívidas e diversas obrigações irá sobretudo impactar os pobres e as classes médias. A classe financeira e os Estados entrarão em incumprimento, mas farão o jogo de apagar ou baralhar as pistas. 

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PS1 (15/12/2023): Dentro de pouco tempo, vamos ver a FED anunciar a inversão da política de subida das taxas de juro - ou seja - de restrição do crédito. Irá iniciar novo ciclo de expansão monetária, ou «Quantitative Easing»: A retoma da impressão monetária irá aumentar a pressão inflacionista. 

Em ambos os casos (restrição ou expansão do crédito), a economia real irá sofrer, com terríveis consequências para todos nós (ver AQUI , ou AQUI , entre vários outros artigos publicados).