Muitas pessoas aceitam a situação de massacres de populações indefesas em Gaza e noutras paragens, porque foram condicionadas durante muito tempo a verem certos povos como "inimigos". Porém, as pessoas de qualquer povo estão sobretudo preocupadas com os seus afazeres quotidianos e , salvo tenham sido também sujeitas a campanhas de ódio pelos seus governos, não nutrem antagonismo por outro povo. Na verdade, os inimigos são as elites governantes e as detentoras das maiores riquezas de qualquer país. São elas que instigam os sentimentos de ódio através da média que controlam.
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quinta-feira, 12 de outubro de 2023

CRÓNICA (Nº17) DA IIIª GUERRA MUNDIAL: QUALQUER QUE SEJA O SEU RESULTADO ...

 ... NO IMEDIATO, O SISTEMA ECONÓMICO E FINANCEIRO MUNDIAL irá sofrer um grande abalo; o «Cisne Negro» tão falado. 

Embora a situação estivesse a ser incubada desde há alguns anos, com a deriva direitista e fundamentalista do governo de Israel, «punindo» os árabes, fazendo incursões constantes na esplanada das mesquitas, em Jerusalém, incluindo no interior da mais importante, a mesquita de Al-Aqsa

O propósito dos sionistas é (desde o princípio da proclamação do Estado de Israel e mesmo antes) expulsar o máximo de árabes, de forma a que o território da Palestina seja exclusivamente povoado por judeus. Este é o seu objetivo declarado. Porém, o mundo árabe está cada vez mais saturado da arrogância do Estado de Israel e compreende que as nações árabes estão em vantagem, se houver unidade entre elas. Mas, quanto às consequências desta guerra, qualquer que seja o seu desfecho, sempre trágico para as vítimas civis palestinianas e israelitas, estas são totalmente previsíveis:

- Uma subida do preço internacional do petróleo

- O acentuar da fratura do mundo em dois blocos assimétricos: o chamado Ocidente, ainda com a maioria do capital financeiro, mas com uma minoria populacional; e os países do Sul, cada vez mais próximos dos BRICS e do eixo Moscovo-Pequim- Teerão    

          

- Um acentuar da inflação alimentar, sobretudo no Terceiro Mundo, e sua maior dependência das exportações de cereais da Rússia. Um aprofundar das relações recíprocas dos países dos BRICS+ e dos países candidatos, ou com boas relações com aqueles.

- A venda, em maior quantidade, de bonds do Tesouro dos EUA, que funcionam como a forma habitual de armazenamento dos dólares, pelos diversos países (a chamada de-dolarização). Estes bonds acabam por ser adquiridos pelo próprio Tesouro dos EUA e/ou pelo Banco central, a Fed, chegando-se rapidamente a uma situação como no Japão; o banco central japonês é o único comprador de bonds do governo. 

A inflação também vai ser maior nos EUA (e restantes países da OTAN). A capacidade dos EUA exportarem a inflação, como o fizeram até agora, vai estar diminuída.

- Vai haver aceleração das trocas comerciais entre países, não usando o dólar. Até agora estavam estes intercâmbios limitados aos países dos BRICS e a outros, sujeitos a sanções brutais pelos EUA. Agora, vai haver muito mais trocas comerciais usando as divisas dos países respetivos e os défices na balança de transações serão compensados por transferências de ouro.

- A crise será mundial e múltipla (económica, financeira, monetária, política e social): Nenhum país ou conjunto de países, sairá vencedor. No entanto, os países que têm algo de sólido a oferecer, como matérias-primas ou produtos industriais, vão sofrer relativamente menos do que os que se financeirizaram, ao longo dos últimos 30 a 40 anos. Estes (EUA, Europa ocidental) já não são viáveis sem a drenagem constante de energia, matérias-primas e força de trabalho dos países do Terceiro Mundo. 

-Se não houver escalada nesta guerra,  que desembocaria fatalmente no uso de armamento nuclear numa fase ou noutra da mesma, o Mundo irá transitar para nova configuração geopolítica, a multipolaridade, o que não significa igualdade entre as nações, mas abre a possibilidade dos mais fracos jogarem com várias hipóteses de alianças.


sábado, 2 de abril de 2022

CRÓNICA (nº5) DA IIIª GUERRA MUNDIAL: UM RESET PODE ESCONDER UM OUTRO.



China, maior produtor de bens industriais; Rússia, maior exportador de matérias-primas

A exigência russa de pagamento em rublos, das exportações de combustíveis (gás e petróleo) para países «não-amigos», anunciada esta semana pelo Presidente Putin, tem de ser equacionada em relação com a tomada dos ativos do Banco Central da Rússia. Lembro que esta medida dos EUA/NATO, no início de Março deste ano, foi talvez a mais extrema das sanções dos ocidentais, visto que o banco central detém reservas, que são parte integrante do património da nação russa. Acresce que, no caso vertente, os países que decretaram a operação de «congelamento» (na prática, é roubo), nem sequer estavam em guerra formalmente com a Rússia.
De qualquer maneira, a continuação das exportações de energia russa para países claramente hostis, capazes dum ato que se pode classificar de pirataria financeira, é surpreendente. Estavam reunidas as condições de «Force Majeure»: Por ter deixado de haver a mínima garantia de pagamento dos compradores, a parte vendedora tem legitimidade para interromper ou cancelar o contrato. Com efeito, a Rússia pode legitimamente recear, a partir deste momento, que os pagamentos efetuados em euros ou dólares, sejam bloqueados em contas bancárias russas nos países ocidentais, ficando sujeitos a confisco. Lembremos como os EUA arbitrariamente, há bem pouco tempo, em relação aos ativos do Banco Central do Afeganistão à guarda de bancos nova iorquinos, confiscaram metade destes, enquanto a outra metade foi destinada a «assistência humanitária» (mas não administrada pelo estado afegão).
O facto da Rússia continuar as entregas de gás à Europa, nestas circunstâncias, apenas com a condição de serem pagas em rublos, poderá ser vista como uma medida para que, no futuro, os europeus da NATO e a Rússia, possam reatar um relacionamento normal.
Quanto ao facto dos europeus serem confrontados com a obrigação de comprar rublos para adquirir o gás russo, não deveria ser visto como mais escandaloso que a obrigação (desde há meio-século!) de comprarem dólares para adquirir petróleo, vendido exclusivamente em dólares pelos sauditas e por outros no Médio-Oriente.
Note-se que esta medida - pagamentos em rublos - não foi tomada de maneira irrefletida. Aliás, ela tem consequências de longo prazo. Os dirigentes da Rússia inspiraram-se, com certeza, no acordo celebrado em 1973, entre Kissinger e o rei da Arábia Saudita, pelo qual o pagamento do petróleo saudita seria em dólares US, exclusivamente. Em compensação, era dada total proteção militar pelos americanos aos sauditas. O resultado prático nessa altura, foi a consolidação do papel internacional do dólar e o nascimento do petrodólar.
Agora a Rússia é o principal exportador de combustíveis fósseis no Mundo. A Rússia tem condições para exigir que eles sejam pagos na sua divisa, em rublos. Os russos têm apenas o controlo sobre sua moeda nacional, não podem ter a garantia de que os dólares, euros, yens, etc., depositados nas suas contas em bancos estrangeiros, não sejam confiscados. Os europeus e os americanos, mostraram-se muito pouco respeitosos da soberania doutros Estados e das normas internacionais por que se devem reger, incluindo a intangibilidade das reservas de países terceiros colocadas à sua guarda. Lembro os casos da Venezuela, Líbia, Iraque, Irão, Afeganistão: Tratou-se de confisco de bens financeiros e de ouro; medidas unilaterais e, portanto, assimiláveis a pirataria financeira.
No futuro, teremos um conjunto de trocas comerciais em divisas dos respetivos países. Já estão em vigor acordos entre a Índia e a Rússia, usando rupias e rublos, ou entre a China e a Rússia, usando yuan e rublos. Muitos outros países serão favorecidos e protegidos da ingerência dos ocidentais, se fizerem suas trocas comerciais nas respetivas divisas. A diferença de saldos nas exportações de dois países, caso exista, pode ser resolvida de várias maneiras. Uma delas, que não implica divisas de terceiros, é proceder ao ajuste com correspondentes quantias em ouro.
Se este sistema vier a consolidar-se, mais de metade da humanidade não ficará sujeita à ditadura do dólar. Este vai ficar cada vez mais confinado a circular dentro dos EUA. A sua circulação, ao nível internacional, será sobretudo com países mais próximos - politicamente - dos EUA.
O facto do rublo ser emitido por um país tão rico em matérias primas, exportador de combustíveis, de metais e de cereais, é um facto insofismável. Goste-se, ou não dos russos e do seu governo, o facto é que este país tem imensas riquezas que tem exportado para todo o Mundo.
Se uma parte do Mundo, a Europa ocidental, se nega a comprar aos russos o gás natural, será esta a sofrer. Será uma espécie de autopunição. A parceria total entre a Rússia e China faz com que aquela tenha garantido o mercado chinês de combustíveis, que, aliás, tem estado em plena expansão. Não será difícil para a Rússia, reorientar para a China as exportações de gás destinadas à Europa ocidental.
As sanções unilaterais, com o pretexto da invasão da Ucrânia, são uma grande hipocrisia e um tiro que saiu pela culatra aos EUA/NATO. Vários têm dito que a Ucrânia foi empurrada a fazer graves provocações à Rússia, sendo falsamente apoiada por «garantias» ocidentais. A invasão do Leste e Sul da Ucrânia pela Rússia, foi uma operação limitada, por decisão prévia de Putin e do governo russo. Os comentadores que não querem ver isso, que estão sempre a clamar que a Rússia falhou militarmente, estão somente a fazer propaganda, não dizem a verdade.
Esta situação vai-se desenvolver em sentido contrário ao que desejavam os EUA. Estes, desejavam criar uma armadilha, como um novo «Afeganistão», desta vez na fronteira europeia da Rússia. Mas o palco deste confronto, não está sequer limitado à Ucrânia. O palco, é o Globo inteiro.
Estão envolvidos todos os países, porque se está a dar uma mudança tectónica geoestratégica, desde as economias nacionais e regionais, às rotas comerciais, e aos abastecimentos em energia e matérias-primas. Em suma, o que está em causa é o redesenhar da configuração do Mundo.

Um comboio (de Reset) pode esconder um outro!


Estamos a assistir a um "Great Reset" e ao instalar duma "Nova Ordem Mundial". Simplesmente, este não é o Great Reset para o qual as elites de Davos trabalhavam, mas um outro Reset, que tem como protagonistas o Eixo Euro-Asiático e muitos outros países, mais virados para a cooperação com eles, do que com as potências «Ocidentais», associadas a um passado colonial e neocolonial.

PS1: Importantes decisões do Kremlin foram tomadas, em relação à conversão das divisas estrangeiras, possuídas pelos cidadãos russos. Estabeleceu o governo russo, que estas podiam ser convertidas em ouro ou outros metais preciosos ao preço corrente dos mercados. Agora estabeleceu um preço fixo de ouro a 5000 rublos por grama de ouro, valor um pouco abaixo do mercado internacional. Isto significa que um banco russo pode vender o ouro ao banco central por esse preço, é um preço de garantia. Porém, o significado disto é muito mais importante, pois está a dar uma garantia, em ouro, ao valor do rublo. O rublo poderá agora ser equivalente ao ouro, dentro da Rússia. A internacionalização virá numa fase posterior. Uma divisa garantida pelas abundantes matérias-primas e que pode ser trocada por ouro a um câmbio fixo, eis a definição da nova moeda de reserva mundial.

                                                 Putin visita depósito de ouro


PS2 : Vale a pena ler na íntegra o artigo muito rigoroso e lúcido de Ellen Brown, autora célebre nos EUA. Ir para: The Coming Global Financial Revolution

PS3: Mais que um «Bretton Woods III» estamos a assistir a um total renovo das bases sobre as quais se vão processar, daqui por diante, as trocas comerciais e fluxos de capitais entre países: 
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 VER:

https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2022/03/cronica-da-terceira-guerra-mundial.html

https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2022/03/cronica-da-terceira-guerra-mundial_13.html

https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2022/03/cronica-da-terceira-guerra-mundial_0396436697.html

https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2022/03/cronica-da-terceira-guerra-mundial_24.html

sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

ROUBO DAS PENSÕES DE REFORMA, ESTÁDIO DERRADEIRO DO CAPITALISMO?


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Foto dos anos 1930, mostrando uma «sopa dos pobres»; aquilo a que os idosos deste século XXI estarão reduzidos com a liquidação dos sistemas de pensões por repartição

O que é que caracteriza o sistema actual na maioria dos países da Europa ocidental (há excepções, como Grã-Bretanha e outros)? 
- O facto de que os fundos são co-geridos pelas associações patronais e sindicatos, com a colaboração do Estado.

Qual a consequência disso na prática? 
- Na sequência da crise mundial de 2008 estes fundos não ficaram demasiado afectados, ao contrário dos fundos de pensões do outro lado do Atlântico, que têm uma gestão privada nos EUA e sofreram (e sofrem) profundos abalos, pondo em causa a viabilidade das pensões de reforma de ex-empregados do Estado. Têm sido noticiadas falências de caixas de pensões de polícias, bombeiros, professores, etc... 

Porque é que tais fundos (dos EUA) ficaram descapitalizados? 
- Sendo geridos privadamente, não havia restrições em colocar os capitais em instrumentos de rentabilidade alta, mas muito inseguros. Por outras palavras, fez-se participar estes fundos, em pleno, na economia especulativa. Uma maior rentabilidade significa maior risco, normalmente. Nos fundos de pensões da Europa ocidental são colocadas restrições sobre quais os investimentos que são permitidos e, dentro da estrutura dos mesmos, há uma base, suficientemente larga, de investimentos considerados sem risco ou com risco muito baixo. 

Qual o sentido profundo da reforma Macron das pensões? 
- A aparente preocupação com uniformização do cálculo e uma pseudo-igualdade, vem preparar o terreno para a privatização por etapas da gestão dos fundos de pensões, a retirada do controlo dos trabalhadores.

Quais as consequências da gestão privatizada destes fundos?
- Os assalariados serão empurrados para fundos de gestão privada (modelo dos EUA e de outros países onde reina o neo-liberalismo). Nestes, não apenas estarão sujeitos a um esquema «por capitalização», mas os capitais serão apropriados para toda a espécie de engenharias financeiras. Vão multiplicar-se as falências, pois a tomada de riscos excessivos é considerada «normal», sobretudo se quem toma esses riscos, não o faz com seus próprios capitais!

Contrariamente ao senso comum, Christine Lagarde, ex-chefe do FMI e nova patroa da BCE, parece ignorar que «não há capitalismo sem capital». Ela deu logo o tom, pouco depois de entrar nas novas funções, ao afirmar: «quanto à perda dos juros dos depósitos (e logo a impossibilidade de poupanças), as pessoas deviam considerar isto muito menos importante do que conservar o emprego». O que está implícito no seu raciocínio, é que os juros convidam as pessoas a manter suas poupanças «improdutivas», nas contas bancárias, por contraste com o investimento em «veículos financeiros» que vão alimentar e dinamizar a economia... Mas isso, é apenas uma falácia, pois os juros mantêm a poupança, esta constitui o mais importante meio de formação de capital, o qual será aplicado em investimento... Sem poupança... não há capital, sem capital... não há investimento, sem investimento... não há capitalismo. Fazem de conta que estão a favorecer a economia produtiva, enquanto estão a limitá-la severamente. 
A apropriação dos fundos de pensões, públicos e privados, é a próxima etapa do chamado «reset», pela oligarquia.
                                                 
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É caso para plagiar o  título do livro de Lenine («Imperialismo, estádio supremo do capitalismo»): 

- «Roubo das pensões, estádio derradeiro do capitalismo»

domingo, 17 de março de 2019

A PROFUNDA TRANSFORMAÇÃO VINDA DAS ESTEPES HÁ 4500 ANOS




Há cinco mil anos, as estepes do Ponto - região que se estende do sul do Cáucaso até à Anatólia - eram  palco da primeira revolução nos transportes: com efeito, o carro puxado por parelhas de cavalos, tornava muito mais fácil a deslocação das populações, que viviam em regime nómada, criando gado nas planícies que se estendiam desde o que é hoje o Irão, até ao Danúbio, na Europa Central.
Como há alguns meses tinha relatado em vários artigos neste blog (ver aqui e aqui), a aplicação da técnica do ADN antigo aos restos fossilizados* permitiu retraçar as migrações de populações nómadas, como os Yamnaya. Estas tribos nómadas foram importantes, não apenas devido à domesticação do cavalo, como também por estarem na origem de quase todas as  numerosas línguas, desde o centro da Ásia e até à Europa ocidental. Nesta vastíssima extensão, os diversos povos falam línguas com raízes comuns, descendentes dessas culturas do Ponto, com algumas excepções: o vasto grupo linguístico indo-europeu




A teoria de que a substituição completa (1, 2) da população masculina dos territórios conquistados pelos povos das estepes, aquando da migração para o ocidente europeu, se deveu a um massacre em massa dos homens, sendo as mulheres autóctones tomadas à força, parece-me não reflectir os processos que terão ocorrido, nem se coaduna com aquilo que se sabe de ocorrências semelhantes de outras épocas. 

O facto dos idiótipos** do ADN do cromossoma Y, das épocas anteriores à grande migração, terem quase desaparecido na Península Ibérica, desde há 4500 anos em diante,  pode estar correlacionado com outros factores. 
Com efeito, acumulam-se evidências duma grande epidemia - tão devastadora como a peste negra, que assolou a Europa no final da Idade Média - ter ocorrido pouco antes, ou em simultâneo ao movimento migratório das populações nómadas do Leste. 
Não se sabendo, ao certo, qual a natureza exacta da estirpe responsável, sabe-se - no entanto - que esta causou uma quebra populacional nas populações da Europa central. 
Muito provavelmente, os povos do Leste foram ocupando os territórios cujas povoações entraram em colapso ou em decadência acentuada. 
Se este movimento se revestiu de aspectos de conquista militar ou não, é impossível, por enquanto, determinar. 
De qualquer maneira, quer tenha sido pacífica ou violenta nos momentos iniciais, uma tal conquista não pode ter sido genocida. 
Os romanos, os mouros e muitos outros povos conquistadores, antes e depois deles, permitiam que algo da cultura dos povos por eles dominados se exprimisse, assimilando até certos chefes e elites da mesma, tentando harmonizá-los no contexto da civilização dominante, conquistadora. 
Não vejo por que razão os homens das estepes euro-asiáticas tivessem agido de modo totalmente diferente. 
Mesmo no caso de uma conquista violenta, esta não podia causar a erradicação completa e deliberada da população masculina, pois isso significaria não haver  escravos em quantidade suficiente para cultivar as terras e servir os vencedores. 
A densidade demográfica europeia, de há cerca de 4500 anos, era muito baixa: havia extensas zonas da Europa de floresta densa e contínua, apenas com algum povoamento (povoações com dezenas, a poucas centenas de pessoas, não mais) ao longo dos grandes rios.

 As culturas anteriores às migrações dos povos indo-europeus não foram erradicadas, antes fundiram-se com as dos povos vindos do leste, num novo molde. 
Existem numerosas evidências arqueológicas desse fenómeno, como o surgimento de novas formas arquetípicas, por exemplo a cultura cujos vasos têm decoração  «cordiforme», ligeiramente posterior às vagas de migração vindas do Leste. 
Embora seja difícil a datação dos monumentos megalíticos, sabe-se que a civilização correspondente durou milénios, sobretudo na orla atlântica da Europa (desde a Irlanda, Escócia, Inglaterra até à Galiza e a Portugal, passando pela Bretanha). É seguro afirmar-se que a civilização megalítica se iniciou muito antes e continuou depois da grande migração dos povos das estepes.

A minha hipótese é de que a fusão dos elementos das várias culturas propiciou o aparecimento da «idade do bronze», ou seja, das primeiras cidades, dos primeiros Estados organizados e das rotas do comércio internacional.  

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* não apenas têm sido obtidos e sequenciados os ADN de fósseis humanos do paleolítico (alguns, com mais de 50 mil anos) como também do neolítico, do calcolítico, da idade do bronze e mais recentes.
** o ideótipo é o conjunto de marcadores de um cromossoma, neste caso, o cromossoma Y, que é apenas transmitido por via masculina.


1) https://www.dn.pt/vida-e-futuro/interior/homens-das-estepes-e-novos-misterios-a-peninsula-iberica-a-luz-da-genetica-10680408.html

2) https://observador.pt/2019/03/14/revista-science-divulga-estudo-com-colaboracao-portuguesa-sobre-o-passado-genetico-da-peninsula-iberica/