Mostrar mensagens com a etiqueta Turquia. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Turquia. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, 22 de outubro de 2024

PRIMEIRO DIA DA CIMEIRA DOS BRICS EM KAZAN (RÚSSIA)

 Tal como temos vindo a relatar, os BRICS foram fortalecendo as suas trocas comerciais recíprocas, evitando o dólar como intermediário, fazendo o ajuste final com ouro (visto que os câmbios entre duas divisas podem oscilar durante a negociação). Este processo é bastante simples e não implica uma entidade centralizada (a instauração do «BRICS Pay» irá potenciar as trocas país a país). 

Quanto ao processo de investimento, esse sim, beneficia de uma entidade centralizada, o Banco de Investimento dos BRICS. Tem sido um motor para o desenvolvimento de muitos países do Sul Global, que anteriormente só podiam recorrer (na prática) às instituições controladas pelos EUA, como o FMI e o Banco Mundial, que só emprestavam a troco de condições como os famosos «programas de ajustamento estrutural», os quais levavam ao empobrecimento ainda maior destes países. 
Este investimento financiado pelos BRICS, incide em infraestruturas, novos meios de comunicação e em economia digital. Permite que - em pouco tempo - os países africanos atinjam a autossuficiência e desenvolvimento autónomo, como nunca tiveram, desde a descolonização. A África sairá grande vencedora (económica), na segunda metade do século XXI. 

No que toca à adesão plena aos BRICS de cerca de 40 países-candidatos, colocam-se dificuldades, pois o alargamento tem de ser feito perante regras claras e não ambíguas; o que era possível ser feito a 5, com um «consenso oral», já não é procedimento adequado a 40 ou 50. 
A prudência em fazer uma série de acordos parciais e bilaterais, com os países-candidatos, é de simples bom-senso; também é vantajosa para os candidatos, pois assim estarão em condições de avaliar as vantagens e inconvenientes das suas economias se integrarem plenamente aos BRICS. 


Esta entrevista acima, em espanhol (pode ativar as legendas na mesma língua), pode exemplificar o ponto de vista, não apenas do entrevistado (De Castro), como de muitos empresários, espanhóis e europeus. 

Há que ver as coisas num modo não ideológico, não preconceituoso. E tem razão o entrevistado, pois o pragmatismo permitiria aumentar os intercâmbios comerciais entre a Europa e o resto do Mundo, aliviando assim a crise de recessão/depressão que a Europa tem estado a sofrer, desde há dois anos, por mais que politicamente tentem ocultar a  gravidade da sua situação. A existência desta oportunidade, da Europa se unir ao Sul Global, é posta em relevo pelo entrevistado.


quarta-feira, 9 de outubro de 2024

O MUNDO NA IIIª GUERRA MUNDIAL

CRÓNICA (Nº32) DA IIIª GUERRA MUNDIAL



Comentário de Manuel Banet:

A situação de impunidade e o à vontade com que Israel se move nos «palcos» internacionais, apesar das comprovadas violações repetidas do direito internacional e dos direitos humanos,  provocam a rutura da Turquia com a OTAN, e a sua aproximação aos BRICSEste é apenas um dos aspetos da total reorganização das alianças geopolíticas, em curso.
Além das duas guerras acesas no presente, nomeadamente na Ucrânia e no Líbano, há muitas zonas sujeitas a confrontos de «baixa intensidade» e das quais quase não se ouve falar. 

No campo económico, as sanções (ilegais) dos países ocidentais, contra certos membros dos BRICS, estão a levar a uma estrutura do comércio internacional separada em duas metades. A necessidade de proteger os bens financeiros dos seus países da rapina exercida pela administração dos EUA, que utiliza o dólar como arma de chantagem e de guerra, levou à construção de outras redes de pagamento internacionais, evitando o SWIFT (controlado pelos EUA), assim como à duplicação - pelos BRICS - de estruturas financeiras e bancárias internacionais, como o FMI e o Banco Mundial.

Entretanto, já existe um número elevado de candidatos à adesão aos BRICS, mesmo antes da conferência anual, em Kazan (Rússia): Nesta, é quase certo que sejam dados passos concretos para instaurar uma divisa nova (de nome provisório «The Unit»), destinada às trocas financeiras e comerciais de grande volume entre os aderentes aos BRICS e, também, envolvendo outros Estados que tenham  acordos com esta aliança. 

A própria ONU está posta em causa, dada a sua inoperância chocante em relação ao genocídio dos palestinianos civis em Gaza e nos Territórios. Ela própria demonstra a sua inutilidade, ao exibir a sua impotência em manter a paz e fazer respeitar as normas básicas da sua Carta. Esta incapacidade deve-se, em larga parte, à incondicional cobertura que recebe Israel dos países ocidentais, nomeadamente dos EUA, que possui poder de veto nas resoluções do Conselho de Segurança da ONU.

A constatação de que os EUA não conseguem impor a sua vontade, apesar do poderio militar que (ainda) possuem, não é tranquilizadora, pois há muitos elementos, na Administração e no Pentágono, que pensam ser possível utilizar bombas nucleares como meio de «esmagar» os adversários, sem que estes tenham a capacidade de responder. Mas isto é falso, trata-se de um delírio perigoso de megalomaníacos. Por outras palavras, em caso de confronto nuclear global, a destruição mútua e recíproca está garantida. 

A necessidade de convergência de todas as vontades pela afirmação de políticas de paz e pelo fim da guerra como meio de resolução dos conflitos, vai-se tornando cada vez mais evidente, à medida que a situação internacional se agrava. 

terça-feira, 23 de julho de 2024

O FÓRUM ECONÓMICO MUNDIAL (WEF) APODERA-SE DE GOBEKLI TEPE!

Gobekli Tepe já era «escândalo» desde o início das escavações, nos anos 90 do século passado: Porque se tratava de arquitetura monumental, datada entre 13.600 e 12.000 anos atrás, quando, segundo a arqueologia oficial, as sociedades eram de caçadores-recolectores e suas culturas da Idade da pedra polida. Não havia - segundo eles - lugar, nessa época, para templos com arquiteturas que implicavam muitos trabalhadores e importantes recursos, canalizados para a feitura desses monumentos de pedra. Igualmente, parecia-lhes impossível a produção das esculturas, dos altos e baixos-relevos nos pilares antropomórficos em forma de T.

Gobekli Tepe foi a surpresa que obrigou a reformular o passado longínquo, a reescrever os tratados sobre o Neolítico (Idade da pedra polida); foi o ruir de preconceitos sobre as sociedades de caçadores-recolectores, seu grau de sofisticação, seu sentido estético e arquitetónico, associado a um complexo sistema de crenças religiosas.
Aquele vasto conjunto de monumentos do nosso passado comum, deveria ser preservado com o máximo cuidado. As zonas ainda não escavadas deveriam ser muito bem preservadas. Sabe-se, através de estudos de radiometria do subsolo, que enormes áreas junto das escavações encerram tesouros de pedra, semelhantes aos que já estão expostos.
Mas, não! Os multimilionários do Fórum Económico Mundial de Davos decidiram que «Gobekli Tepe deveria ficar reservado para escavação pelas gerações futuras» (sic!).
Quem são eles para ditar o que a Humanidade e a Arqueologia devem, ou não, saber? Que conhecimentos arqueológicos possuem? Porque são eles a decidir sobre quando e como efetuar as escavações?
Além disso, o desfigurar deste conjunto arqueológico único, é um crime contra todos nós, pois Gobekli Tepe está classificado como Património Mundial.
Conjugada com a arrogância dos muito ricos, a corrupção existiu, sem dúvida, num certo número de responsáveis estatais e académicos. Eles deveriam ter dado prioridade às escavações e à integridade do local.
Vejam o que eles fizeram, no vídeo seguinte:



 

PS1: Gobekli Tepe, com cerca de 12000 anos, tem inscrito na pedra o mais antigo calendário lunar/solar conhecido. Graças a ele, e a figuras inscritas na pedra, foi possível situar no tempo a terrível catástrofe astronómica que durou 27 dias e que desencadeou um duríssimo arrefecimento do clima. Veja os pormenores em : 

domingo, 14 de julho de 2024

CONEXÃO ENTRE ALTAS PATENTES HITLERIANAS E A OTAN


Nós sabíamos da História do século XX, que a OTAN foi formada no início da guerra fria (o Pacto de Varsóvia formou-se em reação à chamada Aliança Atlântica). Sabíamos também que a OTAN, desde o início albergou ditaduras, nomeadamente a de Salazar, apesar de se apresentar como «aliança de países democráticos, face ao perigo totalitário vindo de leste e em particular, da URSS». Não ignorávamos também como acolheu favoravelmente sucessivos golpes antidemocráticos na Turquia e na Grécia.

Tem sido bastante divulgada ultimamente, a «operação Paperclip» pela qual os americanos «salvaram» , não apenas cientistas que trabalharam para o regime nazi, como Von Braun, também torcionários que foram ensinar as técnicas de interrogatórios à CIA e a ditaduras do cone sul da América e também na Escola da PIDE, em Portugal.

A desnazificação da Alemanha ficou inteiramente no papel, a Oeste. Não houve preocupação em limpar os quadros da função pública, da polícia, do exército, dos elementos comprometidos com o regime hitleriano e seus numerosos crimes contra os povos invadidos e contra o seu próprio povo.
A chamada «luta contra o comunismo» era a alegada justificação para todo este branqueamento. Mas, de facto, os responsáveis nazis reconvertidos em democratas foram imprimir um ódio visceral em várias gerações, contra tudo o que fosse soviético, russo ou comunista.

Em resumo, desde que fossem anti-soviéticos, anti-comunistas, tudo lhes era perdoado, tanto os crimes do passado, como os do presente. Tinham rédea livre para organizar células terroristas nos países da OTAN (como o grupo «Gládio» e seus crimes em Itália) para prevenir a mudança dos países ocidentais para o campo «vermelho».

Hoje, com os discursos histéricos e belicistas do secretário-geral da OTAN, Stoltenberg e de muitos membros, incluindo chefes de Estado e de governo, parece que recuámos 75 anos, à data da fundação da OTAN, que tinha declaradamente por missão «salvar o ocidente do perigo vermelho». É esse discurso rançoso e rancoroso que eles reciclaram há pouco tempo e nos impõem agora, para justificar a deriva belicista contra outras potências (Federação Russa, República Popular da China), que eles vêm como ameaças.

O psicopatas estão realmente presentes em todos os quadrantes e sectores, de todas as sociedades: Porém, acho que existe uma concentração perigosa no topo das hierarquias civis e militares dos países que enformam a OTAN. As pessoas são selecionadas para cargos de responsabilidade, sobretudo pela sua fidelidade a determinada ideologia - um aglomerado de posições pró-capitalistas e anti-socialistas, englobando traços de ódio a determinadas etnias - mais do que pelo seu valor e inteligência.

O caso do membro do Estado-maior de Hitler, Adolf Heusinger pode parecer uma exceção mas, de facto, ele é apenas um dos casos resultantes do branqueamento de pessoas com passado nazi, pela Alemanha ocidental e pela OTAN.

Transcrevo na íntegra a notícia do site «www.dispropaganda.com». Boas leituras.

Original em:



Mar 24, 2017


Adolf Heusinger and the Hitler - NATO connection.




General Adolf Heusinger was Adolf Hitler's Chief of the General Staff of the Army during World War II. With the outbreak of the Second World War Heusinger accompanied the German HQ field staff and assisted in the planning of operations in Poland, Denmark, Norway, and France and the Low Countries (coastal region in western Europe, consisting especially of the Netherlands and Belgium). He was promoted to colonel on August 1, 1940 and became chief of the Operationsabteilung in October 1940, making him number three in the Army planning hierarchy . In 1944 Heusinger assumed office as Chief of the General Staff of the Army. In this capacity, he attended the meeting at Adolf Hitler's Wolf's Lair on July 20, 1944, and was standing next to Hitler when the bomb planted by Claus von Stauffenberg exploded.


Heusinger (on the left) meeting with Hitler. After the war, this German war criminal, the man who helped Hitler plan and execute his invasion of neighboring countries, was not even put on trial, quite contrary he was allowed to take over the newly established West German army, the "Bundeswehr". This was not a unique event, but a very common phenomenon in post WW2 Western Germany. Nazi war criminals and people who supported and helped Hitler to carry the holocaust and other crimes against Humanity were never put on trial for their crimes against the Jews, the Poles, the Russians and the people of Europe, but instead were installed in top positions in the western German government, army, industry and western German society at large. Many former Nazis served in the new German military, media and government, attaining high offices. They also rebuilt western Germany, with the generous help of billions of dollars of US taxpayers money under the “Marshal Plan”, and became an integral and founding part of the “new” German elites which ended up ruling the “new” Germany, which was basically the same old Germany, just rebranded. In 1950, Heusinger became an advisor on military matters to Konrad Adenauer, the first Chancellor of West Germany, and with the establishment of the West Germany Armed Forces (the "Bundeswehr") in 1955, Heusinger returned to military service, and was appointed as Generalleutnant (lieutenant general) on November 12, 1955. Shortly thereafter, in June 1957, Heusinger was promoted to full general and named the first Inspector General of the Bundeswehr ("Generalinspekteur der Bundeswehr"), and served in that capacity until March 1961.


Adolf Heusinger as head of the West German army (1960)

In 1961, Heusinger was made the Chairman of the NATO Military Committee (essentially he was NATO's chief of staff). He served in that capacity until 1964. So instead of facing trial and paying for the crimes he committed, this war criminal who personally signed orders to murder allied POW's during the war, this human trash that helped Hitler plan and carry out the atrocities and war crimes that the German army perpetuated in Europe and Russia, this psychopathic murderer was allowed to rebuild the West German army and later to become one of NATO's heads in Europe.

Sources:


sexta-feira, 8 de março de 2024

Thierry Meyssan: «Vivemos, talvez, os últimos dias do fascismo judeu»

 

À distância de alguns dias, a explicação da demissão brusca de Victoria Nuland é-nos dada por Thierry Meyssan na seguinte entrevista:

 https://www.youtube.com/watch?v=f3Rq15HzaHU

Um dos mais lúcidos comentadores sobre o Médio-Oriente, tendo uma vasta experiência na zona, publica um boletim e mantém um site, indispensáveis para se compreender a geoestratégia de hoje e a evolução histórica nos últimos cem anos. 

A maior parte dos artigos, escritos em francês, estão traduzidos para português (e para outras línguas).

terça-feira, 24 de outubro de 2023

[CRÓNICA(Nº19) DA IIIª GUERRA MUNDIAL] A GUERRA VISTA POR OUTRO ÂNGULO

                    Foto: Intenso bombardeamento de Gaza City pela aviação israelita

CONTRASTE ENTRE DINÂMICAS DE DESENVOLVIMENTO E DE GUERRA 

 Na semana passada, o  Fórum das Novas Rotas da Seda em Pequim incluiu - para a integração Euroasiática - investimentos totalizando cerca de 100 biliões de dólares em projetos para novas infraestruturas e para desenvolvimento.

Há dois dias, o presidente Biden apresentou ao Congresso um projeto, votado por unanimidade, consistindo em ajuda militar totalizando mais de cem biliões de dólares, cerca de 60 biliões para  Ucrânia (para comprar mais armas), e para Israel uns 40 biliões (sobretudo para compra de força aérea e mísseis ).

As motivações das águias e falcões imperiais são transparentes, como aponta Pepe Escobar, no seu mais recente artigo.


PARECE-ME FATAL QUE ESTA GUERRA SE GENERALIZE A VÁRIOS VIZINHOS DE ISRAEL. 

Pois a questão central que se coloca é que nenhum muçulmano, seja qual for a sua tendência política, religiosa ou sua nação pode ver tranquilamente a aniquilação de um povo irmão (muçulmano) indefeso em Gaza, sem ficar tremendamente indignado e desejoso de vingança. Os que governam os países árabes da região podem não ser muito ardentes defensores da causa palestiniana, mas se não se mostrarem em sintonia com as massas, podem ter, internamente, que enfrentar uma rebelião. O presidente Erdogan da Turquia está ciente disso, ele sabe que o povo não esqueceu a afronta feita em 2008, com o assassinato de civis turcos, num barco destinado a entregar ajuda humanitária  a Gaza, brutalmente atacado pela marinha guarda-costeira israelita. A marinha de guerra turca está posicionada perto de Israel, ao largo de Chipre.

Seja qual for o desenrolar desta guerra assimétrica Israel-Palestina, o certo é que o campo pró-palestiniano está reforçado como nunca,  inclusive, as simpatias pelo Hamas cresceram muito. Este movimento está a conseguir efetuar  a reunificação de toda a resistência palestiniana.


PROPAGANDA DE GUERRA DO OCIDENTE 

A propaganda do Ocidente, tanto as narrativas do governo dos EUA e de governos seus vassalos, como as duma media prostituída aos poderosos, não deixa que a real complexidade da situação político-militar seja perceptível pelo público, em geral. É preciso ir á procura ativa de fontes não alinhadas com o «globalistão», para se perceber quais as cartas possuídas pelos diversos intervenientes. As mentiras repetidas das autoridades de Israel deveriam fazer com que os jornalistas ocidentais olhassem com sentido crítico as suas histórias. Mas, pelo contrário, transcrevem acriticamente essas mentiras, nunca as confrontando com factos do terreno. Esta atitude da media é semelhante às sucessivas «notícias», segundo as quais as forças ucranianas estavam prestes a causar tremenda derrota no exército russo. Isto foi dito e redito, tantas vezes e de forma obviamente enganosa. O resultado, quando a realidade veio deitar por terra tais narrativas, foi que muitas pessoas acordaram para a natureza da media de massas.


JOGO PERIGOSO DO OCIDENTE

O jogo do «Ocidente coletivo» além de nojento - porque não se importa que as forças armadas de Israel anunciem e cometam um genocídio perante o olhar do Mundo inteiro - tem uma vertente de irresponsabilidade inquietante, pois assopra nas brasas quentes da destruição de Gaza, parecendo que o seu objetivo é o de causar uma guerra regional, com possibilidade de evoluir rapidamente para uma guerra generalizada. Pensam que assim, poderão obter a dominância total e definitiva do Ocidente sobre o resto do Mundo!  

Se os políticos no poder, nos países ocidentais, fossem sujeitos à crítica livre e esclarecida, não poderiam manter-se no poder. Por isso, a matança dum povo tem de ser recoberta de um manto de mentiras!


PS1: Mecanismo de propaganda de guerra e de lavagem ao cérebro:

A media corporativa, unanimemente, toma posição a favor de Israel. Basta ler os títulos, em que sistematicamente classifica o conflito como «Guerra Israel -Hamas». Este é seu modo hipócrita de colocar a situação, escondendo a vontade (e os atos) de genocídio anti- árabe, por parte dos sionistas, desde antes de 1948. 

Habilmente, deslocam o problema, como se fosse a questão do «Hamas, organização terrorista» que estivesse em causa, quando é o próprio Estado, Governo e Forças Armadas de Israel que (coletivamente) cometem atos terroristas, criminosos e estão a exterminar civis inocentes na Faixa de Gaza. 

PS2: Uma lição esclarecedora do Coronel US Douglas Macgregor: 

https://www.youtube.com/watch?v=00frv5blaXM


PS3: Leia como um jornal dito «de esquerda» faz censura despudorada sobre a questão Palestiniana

https://www.globalresearch.ca/surge-suppression-how-guardian-applies-censorship/5837810


segunda-feira, 29 de maio de 2023

GÖBEKLI TEPE: IMPORTANTES NOVAS DESCOBERTAS

 


Os arqueólogos profissionais e os académicos são os que têm mais reticências em integrar as descobertas  do Sul da Turquia, na sua visão do final do paleolítico e do início do neolítico.
Graham Hancock explicava este grande monumento de 12 mil anos, como resultando de um povo sobrevivente da grande catástrofe, que fez desaparecer «Atlantis», devido a colisão de asteroide(s) no período chamado "Younger Dryas". Os sobreviventes de «Atlantis» teriam transmitido tecnologias avançadas aos caçadores-recolectores: A existência duma sofisticada civilização com monumentos de pedra, no Levante e Médio-Oriente não se coaduna com a «cronologia convencional» da passagem do paleolítico para o neolítico.
Este vídeo baseia-se na evidência, mas não é senão uma explicação plausível. Mas penso que tem o mérito de não fazer hipóteses fantasistas; fica sempre dentro do verosímil e do que sabemos sobre os humanos dessa época. A hipótese que coloca é testável cientificamente, ou seja, está sujeita a ser invalidada (ou confirmada) por novas descobertas, nas campanhas em curso nesta zona do Sul da Turquia. 

-------------------------------
NB: Outros artigos sobre o tema de Göbekli Tepe:


quarta-feira, 5 de abril de 2023

GONZALO LIRA: A PAZ RETIRA O CONTROLO DO MÉDIO-ORIENTE AOS EUA

 Oiça e veja esta curta conversa de Gonzalo Lira


RESUMO (feito por MB)

Há uns quinze dias houve uma sensacional notícia sobre um acordo firmado pela Arábia Saudita e o Irão. Os ex-inimigos acordaram em abrir embaixadas nas respetivas capitais. Ambos chegam à conclusão que têm, eles próprios, de assegurar a segurança dos seus países e o controlo do preço do petróleo. 

Só podem fazê-lo, aproximando-se entre países que partilham os mesmos interesses económicos. 

Não podem contar com um país, os EUA, que pretende ser a superpotência hegemónica e cujos planos para Médio Oriente têm passado por semear o caos, desencadeando discórdia e guerras de domínio, destruição e pilhagem dos recursos (Afeganistão, Iraque, Líbia, Síria...). 

O herdeiro do trono saudita, Bin Salman sabe que será rei deste país e que reinará por longo tempo. Ele faz as suas jogadas, tendo em conta um tempo longo. Ele percebeu que os EUA não serão mais a potência dominante, aquela que tinha assegurado a monarquia, afastando todos os obstáculos diplomáticos e proporcionado a formação de quadros e o equipamento moderno e sofisticado para as suas forças armadas.  

O seu anúncio de que a Arábia Saudita estava pronta a vender petróleo em outras divisas que não o dólar, foi o prego final no caixão do «petrodólar» . A deslocação oficial de Xi Jin Pin, veio assinalar isso e também que os BRICS estavam abertos para a entrada do Reino Saudita; pois, como é sabido, nos BRICS seus membros não têm de possuir à partida uma uniformidade em relação aos mais diversos assuntos, desde os militares, até aos ideológicos. 

Isto permite que o Reino Saudita encontre um mercado seguro, na China e em todo o Oriente. Como político inteligente (mesmo que seja cruel, cínico, etc), Bin Salman viu que era tempo de saltar para fora da aliança com os EUA. Uma aliança que o obrigava a guerrear com vários inimigos poderosos no Médio Oriente, para «fazer o frete aos americanos e israelitas». Bin Salman estava só à espera de uma oportunidade para isso.

A mudança geoestratégica no Médio Oriente, vai deixar os americanos desesperadamente isolados nas partes da Síria que eles ainda ocupam, ilegal e ilegitimamente, de onde têm roubado petróleo e bens agrícolas que pertencem ao povo sírio.

A Turquia, embora membro da OTAN, tem feito ouvidos moucos aos apelos para exercer sanções contra a Rússia. Erdogan aceita que Lavrov e Putin sejam os intermediários na operação diplomática que irá finalizar a guerra na Síria. Sem o apoio turco, nem americano, as várias milícias anti- Assad vão ficar sem retaguarda, sem apoio logístico, sem fornecimento de armas e munições. 

Assim o império Yankee tem estado a sofrer a «morte por mil golpes, ou mil feridas»: Um corpo é retalhado, ficando com mil feridas, cada uma delas não é letal. Mas, no conjunto, as feridas esvaziam o corpo de sangue e de vida. 


POST-SCRIPTUM

Este quadro é descrito por outras personalidades do jornalismo, como Pepe Escobar (brasileiro), que está há muitos anos no Extremo-Oriente, que tem feito um excelente trabalho, explicando a diplomacia chinesa e os projetos associados às «Novas Rotas da Seda».  Tenho acompanhado os assuntos de geoestratégia e tenho lido e ouvido as opiniões de vários analistas e comentadores. Assim como eu tenho conhecimento de PONTOS DE VISTA CONTRÁRIOS AO MEU, E NÃO SOU UM JORNALISTA, também os jornalistas e comentadores no Ocidente, têm necessariamente tal conhecimento.

Mas, a maioria dos jornalistas (e dos políticos) no Ocidente, fazem ocultação, desinformação e propaganda. A sua opinião é totalmente enviesada. É como se fossem os «cães de guarda» do Império.

Por isso, as exceções são de saudar, em pessoas como Pepe Escobar, George Galloway, John Helmer, John Pilger e algumas mais.

-------------------   

POST-POST-SCRIPTUM:

  Veja último vídeo de Gonzalo Lira: 

https://www.youtube.com/watch?v=yHMHQ-1Pe6k

domingo, 19 de fevereiro de 2023

A PROPÓSITO DE UMA FRASE DE D. H. LAWRENCE

Aplica-se, hoje, o dito de D. H. Lawrence, de há um século atrás: “O essencial da alma americana é sua dureza, isolada, estoica, de assassino. Ela nunca chegou a derreter-se.” Citação retirada de artigo de Ed Curtin: https://off-guardian.org/2023/02/19/the-world-wants-to-be-deceived/
Não tenho dúvidas da justeza* de D. H. Lawrence, há um século atrás, como não duvido da justeza* do diagnóstico dececionado de Edward Curtin no excelente artigo: «O Mundo Quer Ser Enganado».

Mas, na realidade, não há assassino sem vítima. Quem se coloca na posição de vítima, são aqueles mesmos que ficam impressionados com «as luzes da ribalta», com retórica humanitária e a imagem totalmente falsa da maior «democracia» do Mundo, que estes assimilam, não vendo que estão a engolir em pequenas doses de veneno, o engano destinado a apresentar o «típico» americano como alguém muito decente, crente, bonacheirão, firme na defesa da «democracia» e respeitoso do poder, seja ele o do dinheiro ou o político.  

Para ilustrar este facto, irei descrever algumas experiências pessoais, embora eu saiba que não têm qualquer significado em termos estatísticos:

1) Há muitos anos, no metro, casualmente, encetei conversa com uma jovem americana. Não me lembro de que conteúdo falámos, só sei que a certa altura, a conversa resvalou para a política, em especial a americana. Não pude evitar falar-lhe das guerras sujas que os EUA estavam a fazer ou a apoiar fações, como no caso da Nicarágua (o diálogo passava-se quando Ronald Reagan era presidente). Ela abriu muito os olhos de espanto e dizendo, com voz ofendida, que a América era uma Nação pacífica, que ajudava os povos mais fracos. 

2) Num cemitério situado na Coreia do Sul, sob bandeira das Nações Unidas, repousam os soldados americanos e da coligação liderada pelos americanos que combateram na guerra da Coreia. Eu mostrei-me surpreendido ao guia, que a Coreia do Norte e a China não estivessem representadas, pois estávamos num pedaço de território que pertencia (legalmente) à ONU e não à Coreia do Sul. Ele não teve argumentos para me contrariar, mas também que os tivesse, não iria entrar em discussão comigo, visto que ele tinha de ser amável com os turistas. 
Mas a todos os sul-coreanos a quem contei o episódio e a minha perplexidade, não houve um que tivesse respondido o óbvio (para mim): A coligação que combateu as forças da Coreia do Norte e da China Popular, embora nominalmente sob bandeira da ONU, na realidade, eram tropas americanas e das nações que contribuíram com «voluntários». 
Há diferenças até na morte; eles (americanos) não esquecem, nem perdoam nunca. Se és inimigo, nem após a morte, te reconhecem a dignidade de ser humano.   

3) Num curso de Verão, num cantão da Suíça para aprender língua alemã, conheci uma jovem americana. Ela tinha talento musical e preparava-se para frequentar um curso superior de música na Suíça. Eu esteva no curso de Verão para poder beneficiar duma bolsa de investigação dada pela embaixada suíça. Ora, esse curso de língua alemã era frequentado por variados estudantes de ambos os sexos. Não sei por que motivo, a referida jovem, meteu-se-lhe na cabeça ensinar aos colegas dos outros países (ele era a única cidadã dos EUA) o seu hino nacional. As pessoas fizeram-lhe a vontade, não por submissão ou por convicção, mas porque quiseram mostrar-lhe que não tinham nada de pessoal contra ela (nem contra o seu país). Mas, eu fiquei a pensar no que aconteceria, se um Iraniano ou um Chinês (eram vários), tivesse a mesma ideia de querer ensinar aos companheiros de curso, o seu hino nacional? Tal não seria possível, porque nem eu nem os membros das outras nações,  estávamos interessados em manifestar um nacionalismo que ia ao ponto de obrigar os colegas, por cortesia, a aprenderem um hino que não lhes dizia nada.

4) Uma estudante, fazendo mestrado ou doutoramento em Coimbra, de origem curda e de nacionalidade turca, contou-me que, nas zonas curdas sob «proteção» americana, os diversos grupos étnicos, curdos, turcos, cristão sírios, árabes, etc. vivem em comunidades separadas e que cada comunidade tinha seus representantes, «em democracia». Mas isto era exatamente o modelo importado dos EUA (não sei se ela tinha consciência disso), em que as comunidades vivem separadas, têm uma organização comunitária separada por etnias e/ou por religiões: Os representantes políticos locais e regionais, são dum dos grupos étnicos mais fortes na zona, ou têm acordos que asseguram que os interesses dos vários grupos étnicos serão tidos em conta. Não existe nos EUA, qualquer «mistura» de pessoas vindas dos diversos cantos do globo (quanto aos que lá sempre estiveram, os sobreviventes do genocídio, estes foram «aparcados» em reservas e aí continuam). É por isso que, nos EUA, há periodicamente explosões de violência. Por as pessoas se definirem pela cor ou tom da pele: «brancos», «amarelos», «negros» e «latinos». Ou melhor, os poderes tudo fizeram para que as pessoas tenham sua representação mental da sociedade, dividida em comunidades por raças. Assim, a realidade fundamental da identidade de interesses entre oprimidos (seja qual for sua etnia) contra opressores (seja qual for a sua, também) é diluída.

5) Eu tive frequentes contactos com cidadãos dos EUA, enquanto estudante ou como recém-formado. Podia-se falar sobre política de modo civilizado, sendo eu cuidadoso para que não se sentissem ofendidos. Com efeito, mesmo alguém de elevado nível cultural, poderia confundir meu anti-imperialismo com uma forma de exprimir antipatia pessoal pelos americanos. Porém, o que sobressaia era que, os que estavam dentro do espectro político «mainstream», tinham uma abordagem simplista. Por contraste, as pessoas não-académicas, ativistas sociais ou sindicais dos EUA, que encontrei em vários momentos da minha vida, eram pessoas com originalidade; tinham interessantes pontos de vista sobre vários assuntos de política internacional.  

Não se pode generalizar, mas confesso que esta vivência acaba por influenciar o meu modo de ver o povo americano. Tenho lido muitos textos - os de Edward Curtin, Howard Zinn, Noam Chomsky e outros - sobre o modo como têm sido condicionados, nos EUA, geração após geração. 
Sei que a minha abordagem pode parecer simplista; de facto, não vivi nunca nos EUA. Gostava que os americanos não se tomassem pelo povo «excecional», isso - além de ridículo - é mesmo ofensivo para as restantes nações.
Pessoalmente, compreendo o forte sentimento de identidade que se possa ter, em relação à nação onde se viveu a maior parte da vida, da qual são os nossos pais e mães. Sei que o sistema educativo e político acaba por ter muita influência no moldar da mentalidade individual e coletiva. 
Mas, a questão é, simplesmente, de não se colocar numa postura de «superioridade» falsa, pois repousa sobre o poderio, a riqueza e força militar de uma potência, sobre as outras.  
A multipolaridade não vai eliminar as desigualdades entre as nações. Não vai anular diferenças culturais e políticas óbvias. Penso que vai permitir que não haja nenhuma nação hegemónica que dite às outras por que parâmetros políticos, morais, etc. estas outras se devem reger.  Para não falhar, não poderá ser apenas um projeto de força económica, militar, política, etc.: Tem de haver o suporte dum conjunto de regras ou leis internacionais, que permitam os povos viverem e desenvolverem-se, sem colonialismo, neocolonialismo, nem imperialismo. 

-------------------------------------------
* Não duvido da justeza de D.H. Lawrence e de Edward Curtin porque assumo naturalmente que ao falarem de «assassinos americanos» referem-se aos líderes, os que têm real poder, no Governo, na Administração e nos Negócios.



quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

ECONOMIA: TRÊS DEMOLIÇÕES EM CURSO

 1-  EVERGRANDE E CRISE DO IMOBILIÁRIO NA CHINA

Na China, as poupanças das famílias têm estado investidas a 75% no imobiliário. Nos EUA e na Europa, o imobiliário representa cerca de 25% dos ativos das famílias.

Nas condições do boom inicial da economia chinesa, dos anos 90 até há bem pouco tempo, investir no imobiliário era a maneira «segura» de se obter mais-valias, visto que havia um crescimento enérgico da economia. Por outro lado, mantinha-se a tradicional tendência dos chineses em aforrar. Quanto a investimentos em ativos financeiros, as bolsas não inspiravam confiança a muitas pessoas, o capitalismo na China é algo recente.

Perante a enorme dívida de «Evergrande» , gigante do imobiliário chinês, Xi Jin Pin deu a entender que não haveria um resgate pelo Estado, quer de Evergrande, quer doutros, que partilhavam o colossal mercado. Isto significa que muitas pessoas de posses modestas terão suas poupanças fortemente diminuídas. Muitas venderam ao desbarato apartamentos, outras ficaram a dever ao banco somas bem superiores ao valor do imóvel que tinham comprado, com dinheiro emprestado. Muitos bancos, sobretudo ao nível regional, estão em maus lençóis e vão precisar de um resgate estatal. 

O resultado das falências atuais e em perspetiva, é que muita capacidade instalada nas empresas de imobiliário vai ter de ser reorientada. Muitas destas empresas acabarão por ser adquiridas por empresas estatais, ou por parcerias públicas-privadas. Vai haver uma realocação dos meios de produção, num sector que estava há muito tempo a desperdiçar matérias-primas, capitais e mão-de-obra. 

Portanto, aquilo que me parece mais provável é que esta crise irá doer a muitos, mas - por outro lado - haverá uma aceleração do programa do PCCh de dinamizar o mercado interno, de modo que a produção industrial chinesa não esteja tão virada para as exportações, mas também para o consumo interno.  

2-  A DESTRUIÇÃO DA LIRA TURCA

Na Turquia, Erdogan sonha ser o «guia» do Islão político, quer fazer renascer o esplendor do império otomano. A sua demagogia levou-o a provocar uma crise monetária, económica e financeira, ao teimar que os juros altos é que causam a inflação. Os economistas, no mundo inteiro, estão de acordo em que é exatamente o contrário: Os juros altos vão estimular a poupança e logo, fazer diminuir a massa monetária em circulação. Haverá menos dinheiro para comprar os bens na economia. O efeito, quando os juros aumentam, é de diminuição da inflação. 

A destruição do valor da lira, por muitos discursos e truques que Erdogan faça, está garantida. Parece óbvio que esta política vai exacerbar a inflação, cronicamente alta na Turquia. A inflação acelerou bastante, desde Setembro passado. No presente, o valor oficial da inflação ronda os 20%, mas será maior, na realidade. 

Alguns observadores colocam a hipótese de ser um ataque deliberado ao poder de compra da população, para embaratecer o custo do trabalho e propulsionar assim as exportações turcas. Mas eu penso que esta destruição do valor da lira atingiu uma proporção tal, que não pode ser benéfica. Veremos o que acontece no próximo ano.

Não seria impossível que, perante a situação catastrófica, Erdogan decida criar uma nova unidade monetária. Talvez com indexação ao ouro, visto que o banco central da Turquia tem comprado ouro em grande quantidade nos últimos anos?
- Neste caso, a «nova lira turca» e as obrigações de dívida soberana, terão muita procura se possuírem a garantia de serem cambiáveis em ouro.
A destruição do valor da lira terá um desfecho: Não poderá manter-se tal situação por muito tempo. Ela implica um sofrimento enorme para as classes mais pobres, um descontentamento popular e o risco da desestabilização política associada.

3- O «QUANTATIVE EASING» VAI CONTINUAR 

As manobras de J. Powell e da «FED» pretendem manter uma espectativa sobre a capacidade de controlo da inflação nos EUA, o que na realidade não possuem. Os investidores americanos, ou estrangeiros, com ativos denominados em dólares gostariam que assim fosse. 

Porém, o euro- dólar não é controlável por ninguém, por nenhum banco central. Os «euro -dólares» são, muitos deles, emitidos fora da jurisdição dos EUA: São triliões de dólares, em mãos estrangeiras (não apenas na Europa, mas em todo o mundo), presentes em todos os mercados, dos mercados de divisas, aos de matérias primas. As possibilidades de controlar os movimentos dos euro- dólares, pela FED ou por qualquer outra entidade dos EUA, são zero. A acumulação de triliões em divisa americana, fora dos EUA, deu-se ao longo de decénios: desde Bretton Woods (1944), o dólar foi moeda de reserva mundial e principal divisa comercial internacional.

A política externa de Biden, teleguiada pelos «neoliberais- neoconservadores», entrincheirados no aparelho de Estado americano, tem sido no sentido de hostilizar a Rússia e a China. A Rússia despejou, há algum tempo, o excesso de dólares que detinha no banco central, comprando muito ouro. As suas vendas de gás e petróleo à China e a outros parceiros, representam uma parte importante das suas exportações: os pagamentos não estão a ser efetuados em dólares, mas nas respetivas moedas dos países, ou em ouro. Os chineses tinham acumulado mais de 1,2 triliões de dólares, em «bonds» do Tesouro americano, devido ao seu excedente comercial crónico com os EUA. Estes bonds têm sido escoados: primeiro convertidos em dólares e depois gastos para investimento nas Novas Rotas da Seda. 

O congelamento ou a diminuição do comércio sino-americano afeta os chineses, mas é mais prejudicial para os EUA, que não têm a infraestrutura industrial (exportaram-na para a China!) para substituir as importações vindas do gigante asiático. 

O resultado disto é a continuação da produção (digital) de dólares, sem contrapartida, em bens ou serviços: É a destruição lenta do valor do dólar, em relação ao que valia  no início do século XX. 

Aquando da criação da FED (1913), o dólar tinha um determinado valor em relação ao ouro, correspondente a uma determinada capacidade aquisitiva. Desde então, calcula-se que terá perdido ~97% do seu valor. Ao ponto de um dólar de hoje, comprar aquilo que podia ser adquirido apenas por 2 cents em 1971, quando Nixon unilateralmente desindexou o dólar do ouro.

Sabemos que está aberta, há algum tempo, a corrida para a desvalorização das divisas - o euro, o yen, a libra, etc. etc. A destruição de valor irá «justificar» a introdução - em simultâneo, ou num curto intervalo de tempo - de divisas digitais dos bancos centrais.
Estão - os bancos centrais e os governos - a contar com isso para iludir as pessoas. Mas, as dívidas não se vão embora. O que vai acontecer é que os sistemas de pensões de reforma e de segurança social, o Wellfare State, vão ser sacrificados. Será um «default» encapotado. Ou seja, a promessa feita às pessoas já reformadas e aos futuros reformados, não será cumprida. A mesma coisa, em relação aos subsídios de desemprego e aos apoios na doença e na invalidez.
Portanto, as perdas de uns (do lado mais fraco) serão camufladas, mas não se irão embora, como é evidente: Serão dívidas que os Estados e os sistemas públicos ou privados de Pensões e Segurança Social, esperam fiquem «extintas» pelo falecimento dos seus beneficiários.

quarta-feira, 24 de novembro de 2021

COLAPSO DA LIRA TURCA: LIÇÃO SOBRE (HIPER) INFLAÇÃO


 A forçada manutenção da taxa de juros muito baixa, por ordem direta de Erdogan, foi desencadear uma aceleração da inflação. Há, neste momento, uma inflação de 18-19%. É um ponto de fuga para a perda total de controlo da divisa e, portanto, o crescer da espiral da hiperinflação. 
Temos um povo ansioso por vender as suas liras e comprar moedas «fortes» (dólar, euro, etc.). Há uma fuga maciça de capitais. 
A ausência de «tampão monetário» como, por exemplo, abundantes reservas em divisas estrangeiras no banco central turco, conjugada com uma dívida externa importante, podem levar a uma falta de pagamento (os sovereign bonds deixam de pagar juros, ou o principal).
A possibilidade de reversão desta situação dramática implica que o banco central decrete uma subida muito acentuada dos juros (da ordem dos 20%), para tornar rentável o investimento nos «bonds» turcos e para estancar a hemorragia de capitais. 
Esta hipótese seria viável, dado que nos últimos anos a Turquia comprou (o seu banco central, sobretudo) muito ouro. A venda do ouro no mercado internacional pode fornecer suficientes divisas estrangeiras de que tanto carece. Veremos o que acontece nos próximos dias/semanas.
Mesmo assim, não há garantia de sucesso, pois a situação agora criada acompanha-se da grande quebra de confiança quer do público turco, quer internacional. 
Se não houver uma rápida e significativa descida da inflação, haverá consequências políticas: é matemático.

---------------
PS1: Note-se que a posição de Erdogan, no fim de contas, não é qualitativamente diferente da posição da FED e dos principais bancos centrais ocidentais: Pois, estes estão constantemente a fazer engenharia financeira (Q.E. e outras manobras) para baixar artificialmente os juros. Dizem sempre, para «justificar» as suas políticas inflacionárias, que é para «estimular a economia». 
Portanto, se é absurdo para o caso da Turquia, por que razão não o é também para os bancos centrais dos principais países ocidentais? 
- Penso que há apenas uma variável que difere, nas 2 situações: É o fator mais instável e caprichoso, a confiança do público nas divisas, nos seus governos e bancos centrais. O volume de divisas em circulação não pode ser um justificativo. Onde é mais provável que haja uma avalancha de neve: Quando o montão acumulado for gigantesco, ou quando for moderado?

PS2: O caminho para a hiperinflação está bem encetado, com as pessoas a comprar o que podem, não o que precisam, com muita pressa em verem-se livres das liras, antes que estas desvalorizem ainda mais. Se o fenómeno da inflação é sempre, em última análise, um fenómeno monetário, também é verdade que é intensificado pela psicologia das massas.

PS3 (17-12-21): Erdogan não está a revelar o real propósito da sua política económica e financeira (e cambial). As «justificações» de que as taxas de juro altas é que «causam a inflação» ou os argumentos religiosos, são «camuflagens» da sua verdadeira política.  A real motivação seria outra: embaratecer o custo do trabalho na Turquia. Assim, os produtos turcos podem vencer os competidores, embaratecendo seu custo de produção. Ele aceita, em troca, que a lira se desvalorize muito... Esta é tese defendida pelo blog «MoA». 
Em todo o caso, Erdogan não poderá facilmente recuperar os capitais perdidos na sangria, por ele provocada, neste último ano. Estou cético em relação à explicação dada por MoA. O meu palpite é que, independentemente das intenções, esta política vai penalizar demasiado o povo turco e vai causar redemoinhos políticos.

PS4: Erdogan, numa manobra desesperada, faz  a promessa de que os depositantes em liras nos bancos receberão uma compensação igual à perda de juros causada pela desvalorização. Assim, provocou a corrida para compra de lira, que teve uma espetacular subida.
No entanto, a bolsa, cujas ações tinham compensado, pela sua subida, a perda de valor resultante da desvalorização da lira, começou por subir e, logo de seguida, sofreu um «crach» de 7.1% na mesma sessão. 
Penso que a Turquia está a seguir o mesmo percurso que a Venezuela, para a hiperinflação.

sábado, 16 de outubro de 2021

GRANDE ENTREVISTA de J.-J. SEYMOUR a PIERRE JOVANOVIC (em francês)


 A NÃO PERDER ...

Fala da prostituição da media,

Da dependência do presidente Macron em relação aos sauditas

Do facto do mediático Bernard Henry Lévy ser estipendiado pelo Qatar

Da campanha incessante contra Erdogan

Dos motivos da CIA para fazerem a guerra encoberta à Turquia

Do papel fundamental do Bósforo no comércio mundial

Das perspetivas florescentes da Turquia e Ásia Central,

Da saúde económica e financeira da Turquia

Do contraste com a Europa, principalmente a do Euro

Do endividamento da banca francesa e europeia

Do desequilíbrio causado pelo Euro, a favor da Alemanha

Da liberdade de indumentária e da segurança nas ruas de Istambul

E muito mais. 

Um vídeo recheado de informação!


Vista panorâmica do Bósforo. O canal de Istambul, previsto para 2023, irá duplicar a capacidade e permitir melhor circulação dos navios.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

[Manlio Dinucci] Fogos de artifício de fim de ano: 50 bombas nucleares USA da Turquia para Aviano

                            

Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos
Email: luisavasconcellos2012@gmail.com
Webpage: NO WAR NO NATO

“Cinquenta ogivas nucleares estariam prontas para mudar da base turca de Incirlik, na Anatólia, para a base USAF de Aviano, em Friuli Venezia Giulia, já que os EUA desconfiam cada vez mais da lealdade à NATO do presidente turco Erdogan”: relata a ANSA citando o que foi declarado pelo general aposentado da Força Aérea dos EUA, Chuck Wald, numa entrevista à Bloomberg, em 16 de Novembro. O facto da ANSA e alguns jornais falarem sobre este assunto, mesmo tarde, ainda é positivo. Isto confirma o que il manifesto documentou há muito tempo. "Parece provável - escrevemos em 22 de Outubro (mas a ANSA ignorou a notícia) - que, entre as opções consideradas em Washington, há a transferência de armas nucleares dos EUA da Turquia para outro país mais confiável. Segundo o Atomic Scientists Bulletin (EUA), a base aérea de Aviano pode ser a melhor opção europeia do ponto de vista político, mas provavelmente não tem espaço suficiente para receber todas as armas nucleares da Incirlik. O espaço poderia, no entanto, ser obtido, dado que já havia começado em Aviano, o trabalho de reestruturação para acolher as bombas nucleares B61-12 ».
Baseado no que foi relatado pela ANSA, o coordenador nacional dos Verdes, Angelo Bonelli, pergunta ao governo se confirma a notícia e traz imediatamente o problema à avaliação do Parlamento, pois que a Itália seria “transformada no maior depósito de armas nucleares da Europa e este silêncio do governo italiano é inaceitável”. Na realidade, não é só o governo que está calado, mas o próprio Parlamento, onde a questão das armas nucleares dos EUA em Itália, é tabu. Levantá-la significaria questionar a relação de sujeição da Itália aos Estados Unidos.
Assim, a Itália continua a ser a base avançada das forças nucleares USA. Segundo as últimas estimativas da Federação de Cientistas Americanos, em cada uma das duas bases italianas e nas da Alemanha, Bélgica e Holanda, actualmente existem 20 bombas B61 para um total de 100 mais 50 em Incirlik, na Turquia. No entanto, ninguém pode verificar quantas são na realidade. Das estimativas resulta que os USA estão a diminuir o seu número, o que está longe de ser tranquilizador. Eles estão a preparar-se para substituí-las pelas novas bombas nucleares B61-12. Diferentemente da B61, lançada verticalmente, a B61-12 segue em direcção ao alvo, guiada por um sistema de satélite e também tem a capacidade de penetrar no subsolo, explodindo em profundidade para destruir os bunkers dos centros de comando. O programa do Pentágono planeia, a partir de 2021, construir 500 bombas B61-12 com um custo de aproximadamente 10 biliões de dólares. Não se sabe quantas B61-12 serão instaladas em Itália, nem em que bases, provavelmente não só em Aviano e Ghedi. Como mostra o mesmo anúncio do projecto, publicado pelo Ministério da Defesa, os novos hangares de Ghedi poderão hospedar 30 caças F-35 com 60 bombas nucleares B61-12, o triplo das actuais B-61 (il manifesto, 28 de Novembro de 2017).
Ao mesmo tempo, os USA estão a preparar-se para instalar mísseis nucleares terrestres (entre 500 e 5.500 km) na Itália e em outros países europeus, semelhantes aos Euromísseis eliminados pelo Tratado INF, assinado em 1987 pelos USA e pela URSS. Acusando a Rússia (sem qualquer prova) de tê-lo violado, os USA retiraram-se do Tratado, começando a construir mísseis da categoria proibida: em 18 de Agosto eles testaram um novo míssil de cruzeiro e, em 12 de Dezembro, um novo míssil balístico, este último capaz de atingir o objectivo em poucos minutos. Ao mesmo tempo, estão a fortalecer o “escudo antimísseis” na Europa. Na sua “resposta assimétrica”, a Rússia começa a instalar mísseis hipersónicos que, capazes de atingir uma velocidade de 33.000 km/h e de manobrar, podem perfurar qualquer “escudo”.
A situação em que nos encontramos é, portanto, muito mais perigosa do que demonstra a notícia já alarmante da provável transferência de bombas nucleares USA de Incirlik para Aviano. Nesta situação, domina o silêncio imposto pela vasta coligação política bipartidária responsável pelo facto da Itália, país não nuclear, albergar e estar preparada para usar armas nucleares, violando o Tratado de Não Proliferação que ratificou. Essa responsabilidade torna-se ainda mais grave, pelo facto da Itália, como membro da NATO, se recusar a aderir ao Tratado sobre a Proibição de armas nucleares (Tratado ONU), votado por uma grande maioria da Assembleia Geral das Nações Unidas.

il manifesto, 30 de Dezembro de 2019

sexta-feira, 15 de novembro de 2019

THIERRY MEYSSAN: As insolúveis contradições do Daesh e do PKK/YPG



Só conhecemos o que se passa no Levante através da propaganda de guerra do país em que vivemos. Ignoramos os outros pontos de vista e, mais ainda, como os nossos exércitos se têm comportado. Para destrinçar o verdadeiro do falso, os historiadores terão que examinar os documentos disponíveis. Ora, aquilo que nos diz a documentação militar ocidental contradiz as declarações dos políticos e a narrativa dos jornais. Apenas tomando em consideração a existência duma estratégia do Pentágono desde 2001 é que se poderá compreender o que se tem realmente passado, e porque é que, a este propósito, se chega hoje em dia a tais contradições.

                    

A remodelagem do Levante segundo o Estado-Maior do Pentágono para o Levante. Este mapa foi descrito pelo Coronel Ralph Peters num artigo, em 13 de Setembro de 2001, mas só foi publicado em 2006.

Não se compreende o que se passa no Norte da Síria porque se acredita, logo à partida, que uma luta aí opunha os malvados jiadistas do Daesh (E.I.) aos simpáticos Curdos do PKK/YPG. Ora, isto é absolutamente falso. Essa luta apenas acontecia quando se tratava de limitar os respectivos territórios ou por solidariedade étnica, jamais por razões ideológicas ou religiosas.

Além disso, não se quer ver o papel que jogou Donald Trump. Como a imprensa passa o seu tempo a insultar o Presidente eleito dos Estados Unidos, não se pode contar com ela para analisar e compreender a sua política no Médio-Oriente Alargado. Ora, há uma linha directriz clara: o fim da doutrina Rumsfeld/Cebrowski, herança do 11 de Setembro. Nisto, ele opõe-se aos seus generais —todos formatados nos mandatos Bush Jr e Obama em controlar o mundo— e à classe política da Europa ocidental.

Para compreender o que se passa, é preciso considerar os factos a montante e não a jusante. Regressemos ao plano elaborado pelo Pentágono no início da Administração Bush, em 2001, e revelado, dois dias após os atentados de 11 de Setembro, pelo Coronel Ralph Peters na Parameters [1], a revista do Exército de Terra dos EUA: a «remodelagem» do mundo, a começar pelo Médio-Oriente Alargado. Este plano foi confirmado, um mês mais tarde, pelo Secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, que nomeou o seu principal cérebro, o Almirante Arthur Cebrowski, director do Gabinete de Transformação da Força. Ele foi explicitado pelo assistente deste último, Thomas Barnett, em 2005, no The Pentagon’s New Map (O Novo Mapa do Pentágono -ndT) [2]. E, ilustrado pelo mesmo Ralph Peters logo que ele publicou, em 2006, no Armed Forces Journal (Jornal das Forças Armadas -ndT) o mapa do primeiro episódio: aquilo em que se devia tornar o Médio-Oriente Alargado [3]. Tendo em conta as dificuldades encontradas no terreno, ele foi objecto de uma emenda publicada por uma pesquisadora Pentágono, Robin Wright, no suplemento dominical do New York Times [4], em 2013.

Segundo estes documentos cinco Estados deviam ser desmembrados em quatorze entidades: a Síria e o Iraque, o Iémene, a Líbia e a Arábia Saudita. 

                
Mapa publicado por Robin Wright em 2013, quer dizer um ano antes da transformação do Daesh e antes da do PKK/YPG.

Em relação à Síria e ao Iraque, estes dois Estados deviam ser divididos em quatro. O mapa publicado em 2013 desenha os contornos de um «Sunnistão» e de um «Curdistão», ambos a cavalo sobre os dois Estados actuais. No ano seguinte, o primeiro foi criado pelo Daesh (EI), o segundo pelo YPG. No momento em que este mapa foi publicado, o Daesh não passava de uma minúscula organização terrorista anti-síria entre centenas de outras; enquanto o YPG era uma milícia pró-governamental, na qual os salários dos combatentes eram pagos pela República Árabe Síria. Nada no terreno permitia prever a criação do Califado e do Rojava desejada pelo Pentágono.

O quotidiano curdo turco Özgür Gündem [5] publicou o registo de decisão da reunião no decurso da qual a CIA preparou a maneira pela qual o Daesh (EI) invadiria o Iraque, a partir de Raqqa. Este documento indica que Masrour "Jomaa" Barzani, então Chefe da Inteligência no Governo regional do Curdistão, participou nesta reunião de planificação (planejamento-br), a 1 de Junho de 2014, em Amã (Jordânia). Ele tornou-se o Primeiro-ministro do Governo regional do Curdistão iraquiano em Julho passado.

Importa lembrar que, segundo o mapa de Robin Wright, o «Curdistão» dos EUA devia incluir o Nordeste da Síria (tal como o «Curdistão» francês de 1936) e a região curda do Iraque (o que os Franceses não haviam considerado).

O apoio do Governo regional do Curdistão iraquiano à invasão do Iraque pelo Daesh (EI) é incontestável: ele deixou os jiadistas massacrar os Curdos de religião Yazidi no Sinjar e reduzir as suas mulheres à escravidão. Os que foram salvos foram-no por Curdos turcos e sírios, vindos especialmente ao local, para lhes dar apoio salvador sob o olhar trocista dos peshmergas, os soldados Curdos iraquianos.

O Daesh cometeu inúmeras atrocidades, impondo o seu reino pelo terror. Ele realizou uma limpeza religiosa dos Curdos yazidis, Assírios cristãos, Árabes xiitas etc. Estes «rebeldes» beneficiaram da ajuda financeira e militar da CIA, do Pentágono e de, pelo menos, 17 Estados, tal como foi reportado, com documentos em suporte, pelos diários búlgaro Trud [6] e croata Jutarnji list [7]. Com um pessoal devidamente formado em Fort Benning (USA), o Daesh(EI) lançou impostos e abriu serviços públicos até se constituir em «Estado», muito embora ninguém o tenha reconhecido como tal.

Não sabemos como o PKK foi transformado, em 2005, de um partido político marxista-leninista pró-soviético para uma milícia ecologista libertária e pró-atlantista. E, ainda menos, como o YPG da Síria mudou de pele em 2014.

Ele passou para o comando operacional de oficiais turcos do PKK e da OTAN. Segundo o lado da fronteira turco-síria, o PKK-YPG é internacionalmente qualificado de maneira diferente. Se se estiver posicionado na Turquia, é «uma organização terrorista», mas se estiver na Síria, torna-se «um partido político de oposição à ditadura». Ora até 2014, ele não via ditadura na Síria. Batia-se pela defesa da República Árabe Síria e pela manutenção do Presidente Bashar al-Assad no Poder.

O YPG respeitou as leis da guerra e não cometeu atrocidades comparáveis às do Daesh (EI), mas não hesitou em limpar etnicamente o Nordeste da Síria para criar o «Rojava», o que constitui um crime contra a humanidade. Ele espoliou e expulsou centenas de milhar de Assírios e de Árabes. Acreditava bater-se pelo seu povo, mas estava apenas a realizar os sonhos do Pentágono. Para isso, beneficiou, publicamente, do armamento do Pentágono, tal como o semanário britânico dos mercados militares Jane’s [8] e o quotidiano italiano Il Manifesto [9] mostraram, e da França, tal como François Hollande o revelou. O Rojava acabou por não ter tempo de se fundir com a região curda do Iraque.

Após a queda do Califado, entre outros sob os golpes do PKK/YPG, este pediu a autorização do governo de Damasco para atravessar as linhas do Exército árabe sírio a fim de voar em socorro dos Curdos do Noroeste ameaçados pelo Exército turco. O que obteve. Mas assim que o PKK/YPG se movimentou, fez transitar oficiais do Daesh, em fuga, que foram presos pela República Árabe Síria.

Estes documentos e estes factos não nos dizem que protagonistas estão certos ou errados, isso é uma outra questão. No entanto, no terreno, é impossível ser ao mesmo tempo contra o Daesh(EI) e a favor do PKK/YPG sem cair em irreconciliáveis contradições .

Os actos de Donald Trump consistiram em destruir os pseudo-Estados fabricados pelo Pentágono : o Califado e o Rojava ; o que, no entanto, não significa nem o fim do Daesh (EI), nem o do PKK/YPG.

Tradução

[1] “Stability, America’s Ennemy”, Ralph Peters, Parameters, Winter 2001-02, pp. 5-20. Également in Beyond Terror: Strategy in a Changing World, Stackpole Books.
[2The Pentagon’s New Map, Thomas P. M. Barnett, Putnam Publishing Group, 2004.
[3] “Blood borders - How a better Middle East would look”, Colonel Ralph Peters, Armed Forces Journal, June 2006
[4] “Imagining a Remapped Middle East”, Robin Wright, The New York Times Sunday Review, 28 septembre 2013.
[5] « Yer : Amman, Tarih : 1, Konu : Musul », Akif Serhat, Özgür Gündem, 6 temmuz 2014.
[6] “350 diplomatic flights carry weapons for terrorists”, Dilyana Gaytandzhieva, Trud, July 2, 2017.
[8] “US arms shipment to Syrian rebels detailed”, Jeremy Binnie & Neil Gibson, Jane’s, April 7th, 2016.
[9] “Da Camp Darby armi Usa per la guerra in Siria e Yemen”, Manlio Dinucci, Il Manifesto, 18 aprile 2017.