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sexta-feira, 16 de agosto de 2024

A CHINA, COMO NÃO É NOTÍCIADA NO OCIDENTE


 

                                          https://www.youtube.com/watch?v=PLphverPXMc

Na competição capitalista internacional, a importância de proteger e promover os produtores do próprio país, face à competição internacional, são pedras de toque para um vigoroso e autónomo desenvolvimento. Igualmente, a possibilidade de comerciar com quem estiver disponível para fazê-lo, sem interferência de terceiros, será a chave para uma expansão do comércio e relações bilaterais. 

A política imperialista raivosa dos EUA, que se aperceberam - um bocado tarde! - de que o seu favorecimento da China, enquanto «fábrica global», estava a permitir o desenvolvimento dum competidor que iria em breve arrebatar os primeiros lugares na competição industrial, tecnológica e no comércio global, é de uma imbecilidade (dos dirigentes ocidentais), que não tem paralelo. Esta política foi de curto prazo e continua a sê-lo; enquanto a política industrial da China é de desenvolvimento, no longo prazo.

Nesta guerra pelo controlo dos mercados, o que sobressai é a transformação em «arma de guerra» do dólar o qual, enquanto moeda de reserva global, deveria ser essencialmente um veículo neutro. Mas ele foi transformado no veículo para tornar eficazes as sanções económicas. Estas são outra arma de guerra económica, totalmente ilegítima, que os EUA se habituaram a colocar aos que punham em causa a hegemonia americana. 

Mas, a resposta, por parte da Rússia e da China (e numa certa medida, também do Irão), fez com que os efeitos dessas sanções fizessem «boomerang»: As sanções apenas aguçaram o engenho de contorná-las nos mercados financeiros (ver o vídeo, AQUI), e sobretudo, pelo desenvolvimento da produção nacional, em substituição de artigos importados. 

No caso da Rússia, sobressai a rapidez e eficácia com que - perante as sanções - soube desenvolver a sua agricultura, ao ponto de que em vez de ser importadora líquida de produtos alimentares, passou a ser largamente autónoma e, mesmo, exportadora de cereais. 

No caso da China, o que mais sobressai, na repercussão da ultrapassagem das sanções colocadas pelos EUA, são os enérgicos desenvolvimentos, com consequências nos setores da indústria chinesa mais avançados tecnologicamente, como (AI) Inteligência Artificial, indústrias eletrónicas (semicondutores ou «microchips») com aplicações militares, ou ainda os carros EV (veículos elétricos).

Uma visão da China dominada por um regime comunista, em que as pessoas estão essencialmente oprimidas pelo mesmo, é o que a propaganda ocidental tem feito passar. Uma pessoa não motivada pela ideologia e que não partilhe os pressupostos sobre os quais assenta o regime chinês, deveria, porém, em nome do realismo, compreender o que está a passar-se:

 Deveria ver a China como outra civilização, que usou e assimilou um certo número de valores e técnicas do «Ocidente», mas adaptadas às circunstâncias da sua multimilenar civilização. Não tem sentido projetarmos nossos medos, nossas frustrações, no povo chinês. Isto traduz-se por racismo e cedência perante o que existe de mais opressor, nos nossos países ocidentais.

Daí a dizer que tudo corre bem no «Império do Meio», é outra coisa. Não creio que nenhuma sociedade, seja ela qual for, está isenta de problemas internos, de problemas que são fruto da sua História, ou que resultam dos caminhos tomados no seu desenvolvimento. 

O capitalismo foi promovido na China, durante 40 anos. Uma série de magnates surgem, neste contexto, com bom relacionamento com a hierarquia do Partido Comunista. O povo chinês, somente, é que terá de resolver as contradições que se vão desenvolvendo. Toda a ingerência neste domínio tem como origem, de facto, a tentativa de domínio (territorial e populacional). Nada de bom se pode esperar de tais tentativas desesperadas do imperialismo EUA, em declínio.

Se ele conseguisse seus intentos, iria ter mais força para oprimir o povo chinês e outros povos, pelo Globo fora. Se ele falha (como parece ser o caso), a guerra híbrida está deixando marcas que só dificultam o advento da cooperação entre nações e povos. 

O que é cada vez mais premente é construir a paz em torno de objetivos realistas, baseada em princípios universalmente reconhecidos: As vantagens mútuas nas relações; a resolução de diferendos pela diplomacia,   não pela guerra; a não ingerência de potências nos assuntos internos de um país;  a cooperação em relação a desafios globais da humanidade (ex.: ecossistemas, saúde, exploração espacial).


sábado, 18 de novembro de 2023

4 FRAGILIDADES DO IMPÉRIO [ Parte II]

Na Parte I deste ensaio, analisámos as fragilidades dos EUA em relação ao sistema monetário mundial e a situação precária do dólar, enquanto moeda de reserva global. Nessa mesma parte I, analisámos igualmente a disponibilidade de energia, suas diversas fontes e sua gestão, assim como a importância da mesma nas guerras levadas a cabo pelo Império.
Na parte II, iremos nos debruçar sobre as fragilidades imperiais do poderio militar e sobre a media corporativa (a «mass media»), enquanto instrumento de propaganda do novo totalitarismo.





PODERIO MILITAR



Todos os impérios baseiam-se na força sobre outras nações e na expansão territorial. Ambas as características são dependentes de um exército, uma máquina de guerra bem equipada e treinada, que possa conquistar, manter as conquistas e forçar a submissão dos povos.
O exército dos EUA tem de corresponder às missões que lhe são confiadas pelo poder político. Mas este, dominado nas últimas décadas pela fação mais belicista ,«neocon» do Status Quo, tem usado a força militar a torto e a direito. As guerras do império são essencialmente de agressão, quer ocorra ou não a invasão terrestre do território inimigo, quer haja ou não uma coligação com potências vassalas.
O facto mais saliente, em termos geopolíticos, é que desde o 11 de Setembro de 2001, as guerras em que os EUA se envolveram, foram todas derrotas militares, o que tem um efeito dentro dos próprios EUA, mas também junto dos outros governos e povos, aliados ou adversários.
Os EUA mantêm cerca de 800 bases em todo o Globo; algumas, têm poucas centenas de soldados; outras têm dezenas de milhares. O dispositivo para este domínio global é muito complexo e pesado.
Tanto em equipamento, como armamento, combustível, meios de transporte e logística, estas bases são uma pesada e complicada estrutura, que tem o Pentágono como vértice.
A OTAN, com sede em Bruxelas, reúne grande número de países europeus, mas é controlada por Washington. O comandante-chefe é sempre um general dos EUA. Várias bases na Europa são utilizadas para armazenar cabeças nucleares e vetores correspondentes (mísseis ou aviões). Estas bases estão em violação de leis de países como Itália, que proíbem o estacionamento e trânsito de armas nucleares.
Quase oitenta anos após o fim da II Guerra Mundial, uma potência vencedora (os EUA) continua a ocupação militar da Alemanha, da Itália e de outros países. Teoricamente, estes exércitos de ocupação americanos fazem parte do dispositivo multinacional da OTAN. Porém, as bases da OTAN funcionam segundo o modelo americano e estão submetidas à cadeia de comando, dominada por generais dos EUA. Formalmente, os EUA não estão a «ocupar» estas nações. Mas, é assim que parte significativa da população os vê. O mesmo ou semelhante, se passa com o Japão e a Coreia: Nestes casos, trata-se apenas de contingentes dos EUA. O modelo é reproduzido noutras paragens, em maior ou menor escala.
Em bases de maior dimensão, os militares têm bairros separados nas vilas ou cidades próximas dos quartéis, onde vivem com as suas famílias. Estas pequenas amostras de «American way of life» vivem em circuito fechado, ignorando largamente a vida e cultura dos países onde estão instalados. Isto provoca grande frustração na população autóctone e também torna as bases menos capazes de se defenderem de um ataque. É verdade que eles têm militares e polícia dos próprios países ocupados, que podem servir como agentes repressores de qualquer movimento de contestação violenta, ou pacífica das bases. Mas, tal não impede o surgimento de movimentos significativos de rejeição das bases. Em vários pontos (Okinawa, no Japão, Jeju, na Coreia do Sul, em La Rota, em Espanha, etc.) essa contestação pacífica tem feito manifestações todos os anos.
De um momento para o outro, num país qualquer, pode despoletar-se um processo que obrigue à saída duma base dos EUA nesse território. Tal é verosímil que aconteça na Síria ou no Iraque. Também é possível na Turquia, um importante membro da OTAN: As posições tomadas pelo seu presidente, Erdogan - para as quais tem apoio popular massivo - têm entrado em choque com as posições de Washington.
O dispositivo de domínio global dos EUA, por mais forte e potente que seja, é demasiado frágil para aguentar ataques em simultâneo às suas bases, em pontos geográficos distantes.
Também se verifica que - no terreno - as forças dos EUA não estão capazes de combater numa campanha antiguerrilha, como se verificou no Afeganistão e noutros cenários recentes. Em consequência disso, a estratégia dos EUA tem consistido em arrasar todas as estruturas «revertendo-as à idade da pedra». Mas, tais «feitos de armas» são horrendos crimes de guerra que ficam gravados na memória coletiva dos povos-mártires.
A doutrina de que os EUA podem usar, em primeiro lugar, armas nucleares «táticas» foi emitida e aprovada, logo no início deste século. Esta doutrina foi um recuo em relação à doutrina prévia. Anteriormente, os EUA usariam a arma nuclear como dissuasora, como resposta a um ataque nuclear, nunca preventivamente. Tal posicionamento era mais adequado ao desanuviamento entre superpotências. Mas justamente, é isso que os «neocons» querem evitar. Eles estão convencidos que os EUA podem ganhar uma guerra nuclear e assim manter sua hegemonia mundial. É para esse objetivo que apontam o programa (o PNAC) dos neocons, as suas declarações e os seus atos. A China e a Rússia são vistas como inimigas, sujeitas a provocações ou, mesmo, a «guerras através de intermediários». Isto acontece, porque os neocons têm dominado sucessivas administrações, quer elas sejam Democratas, ou Republicanas.




MÍDIA CORPORATIVA OU DE MASSAS

A «liberdade de imprensa» é porventura a característica mais saliente da democracia liberal. Mas as chamadas «democracias liberais» já não são nem uma, nem outra coisa.
A era da Internet foi uma decepção, pois não deu fácil e livre  acesso à informação e à difusão de informação «cidadã», com um mínimo de impacto. O dispositivo cedo foi controlado por grandes conglomerados de mídia, encerrando os internautas numa espécie de mundo fictício - a verdadeira «matrix» - de que só alguns têm plena consciência.   
Os provedores de Internet pertencentes às grandes corporações da Silicon Valley foram abordados pelo poder político em relação aos «abusos» que podiam cometer os usuários da Internet. Serviram-se de pretextos, como o do combate à pedofilia, à pornografia infantil, ao terrorismo islamista, etc. para os forçar a desempenhar o papel de agentes de vigilância massiva. Assim, o pequeno mundo de Google, Facebook, Microsoft, Youtube, etc ficou perante o seguinte dilema: ou mantinham uma estrita neutralidade e ficavam confinados às margens, ou aceitavam jogar o jogo e teriam imensos contratos do governo. Inclusive tiveram e têm contratos em parceria com as agências de «inteligência» (de espionagem), a NSA, a CIA, etc., permitindo a estas realizar atividades de espionagem em massa, de censura e de intoxicação da opinião pública, proibidas pela constituição às agências governamentais. Agora são o domínio de «entidades privadas», que recolhem e analisam os nossos dados e depois os fornecem ao Estado.
O que resta, em termos de «democracia», é uma paisagem esquálida, onde mais de 90% de cidadãos não têm efetivamente acesso a informação significativa, apenas recebem informações de agências, televisões, jornais, sites internet, «sérios», «credíveis», que fornecem informação aprovada pelo governo, ou pelas agências deste. 
O caso mais patente foi aquando da encenação da pandemia de Covid: Esta foi o pretexto para calar (enquanto não se podem eliminar) os dissidentes, lançando campanhas de difamação pública, perante as quais não havia a mínima possibilidade de retorquir, desmentir, ou contradizer. Depois, foi a campanha histérica anti-russa, aquando da invasão russa da Ucrânia, que «justificou» mais umas tantas excomunhões. Agora mesmo, é a campanha terrorista unânime dos media «de referência», equiparando as pessoas que estão contra a limpeza étnica dos palestinianos por Israel, a terroristas, antissemitas, apoiantes do Hamas, etc. 
Que podemos dizer? 
Sem informação livre, não existe democracia. Estamos a atingir o ponto em que os poderes das  chamadas «democracias ocidentais», deixam cair a máscara e se revelam como executantes de dispositivos totalitários, pondo em cena o pesadelo orwelliano ou plagiando as medidas de controlo social da China «comunista».
As pessoas viveram numa atmosfera de relativa liberdade de opinião, no Ocidente, quando isso era importante para afirmar o contraste com os regimes totalitários da URSS e de seus aliados. Estava-se numa era de confronto entre duas superpotências, dois modos de conceber o mundo, dois modelos de sociedade. Assim, a imprensa ocidental foi - durante algum tempo - relativamente livre e relativamente independente do poder de Estado. Não deixo -porém - de relativizar, pois muita imprensa estava nas mãos de grandes magnates. Estes não iriam permitir que tudo fosse publicado, sobretudo se colidia com os seus impérios.  
O chamado «4º poder» significou que a imprensa tinha independência em relação aos outros três poderes do Estado (poder legislativo ou parlamento, o executivo ou governo e  o judicial ou os tribunais). Agora, «o 4º poder» significa que a imprensa e media em geral são os porta-vozes do poder do dinheiro, o qual tem os políticos na mão.  
Se os donos dum grupo de media acharem que isso coincide com seus interesses,  deitam abaixo um governo; se acham que um governo impopular deve ficar, custe o que custar, vão promover campanhas a favor do governo e de difamação da oposição.
Quem não reconhece a situação, ou faz parte do dispositivo governamental/ mediático, ou é mantido na ignorância sobre os mecanismos do poder e  a manipulação das consciências.   
O que acontece com este processo, é que (citando Hannah Arendt): «Se todos te mentem constantemente, o que vai acontecer, não é que passas a acreditar nas mentiras; é que deixarás de acreditar seja no que for». 
Já há cada vez mais pessoas que rejeitam as narrativas do poder e que são céticas radicais. Esperemos que elas consigam contrariar a deriva totalitária a que assistimos no Ocidente.

quinta-feira, 6 de abril de 2023

MICHAEL PARENTI: «DESTRUIDORES DE NAÇÕES»




 Michael Parenti é um professor universitário americano. 

É a exceção na academia, não só dos EUA, como também do chamado «mundo ocidental». 

Ele denuncia o imperialismo e desmascara o que significa, na verdade, a «democracia» que o poder imperial tenta implantar em todo o lado. É a destruição programada de tudo o que se opõe à sua hegemonia!

quinta-feira, 23 de março de 2023

DA HEGEMONIA Á MULTIPOLARIDADE... por Adeyinka Makinde

 Adeyinka Makinde escreve sobre este tema o ensaio, talvez o mais completo e objetivo, dos que tive oportunidade de ler. Ele demonstra, para além de qualquer dúvida, que o Hegemon acumulou  erros estratégicos, que lhe vão retirar a hipótese de manter o domínio num mundo unipolar. São esses mesmos erros que estão a empurrar a Rússia e todos os países Euroasiáticos a formar um eixo, tal como eu descrevi em várias ocasiões neste blog e no meu artigo anterior

É paradoxal ver, no Ocidente, pessoas com uma formação em que os factos apontados pelo autor não possam ser ignorados, como por exemplo, jornalistas ou pessoas formadas em História Contemporânea, mas que adotam acriticamente os pontos de propaganda produzidos pelas máquinas de desinformação ao serviço do Império dos EUA. 

Vale a pena ler o ensaio, no link abaixo. Está escrito em inglês, mas  o site Global Research possui um sistema tradução em muitas línguas:

https://www.globalresearch.ca/from-hegemony-to-multipolarity-how-post-cold-war-us-foreign-policy-towards-russia-creating-modern-eurasia/5812690

                        
                                         Gorbatchov com Helmut Kohl e H-D. Genscher (1990)


segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

«IN GOD DOLLAR WE TRUST» ?

 

                                    Nova Iorque: Empire State Building visto no ocaso


                       Gráfico retirado dum artigo de A. Mcleod, que pode consultar AQUI

Nós somos matraqueados permanentemente com a «força do dólar», em relação às outras divisas ocidentais, pelo menos, as que têm maior peso tanto no comércio, como enquanto membros de SDR,  a famosa «divisa» artificial, que é (de facto) um cabaz de divisas, usado na contabilidade interna do FMI.  Mas, o comércio e a participação dos países nas trocas globais não se resume ao «Ocidente». Este conjunto de países é denominado assim, embora devessem ser designados por aquilo que - de uma forma, ou de outra - são: Constituem os mais fieis aliados (ou vassalos) dos EUA; os países de língua inglesa (Austrália, Nova Zelândia, Reino Unido, Canadá e EUA), a Europa da União Europeia, o Japão, a Coreia do Sul e pouco mais (cerca de 15% da população mundial).

O sistema de Bretton Woods, foi instaurado quando os EUA eram a potência tecnicamente vencedora da 2º Guerra Mundial. A URSS e muitos outros países que lutaram contra as potências do Eixo (Alemanha hitleriana e potências suas aliadas) estavam de rastos. A sua vida económica e social sofreu de tal maneira, que não estavam muito melhor que os países vencidos (Alemanha, Japão, Itália, e outros.)

Assim, quando foram assinados os acordos de Bretton Woods em 1944, e nos anos imediatos, os EUA dominavam o comércio mundial (cerca de 50% deste), possuíam a maioria das reservas de ouro em bancos centrais (cerca de 70 % do ouro guardado nos bancos centrais) e tinham uma infraestrutura industrial intacta e em plena expansão. 

Um sistema de Bretton Woods não poderá voltar a ser reinstalado, não porque seja impossível reinstaurar um padrão-ouro (embora seja uma má solução), mas porque não existe nenhuma potência com o poderio hegemónico dos EUA à saída da IIª Guerra Mundial.

Um futuro multipolar será sempre mais instável, que um futuro unipolar. Mas, um sistema global unipolar não dará a um conjunto de países, possuindo a maioria da população mundial e dos recursos em matérias-primas, a possibilidade de fazerem valer os seus interesses e de poderem negociar em termos aceitáveis, a sua participação no comércio, no investimento e na repartição do bem-estar individual e social, ao nível mundial. Por muito injusto que seja um mundo multipolar, como o foi em diversos períodos da História, para aqueles povos submetidos a um império ou a uma nação mais forte,  nada se compara com a força bruta e a ausência total de consideração pelos direitos e pela dignidade dos mais pobres, num império mundial único, hegemónico. 

O império liderado pelos EUA tem demonstrado isso, neste pequeno intervalo de tempo, que vai da implosão da União Soviética (1991), até hoje. No entanto, reveste o seu desprezo absoluto, com a hipocrisia típica da civilização de comerciantes, aventureiros e donos de escravos - que foram os impérios Português, Espanhol, Britânico, Holandês - especializados na guerra de razia e de rapina, que foi o modo como se expandiram e enriqueceram estas potências coloniais desde o século XVI até hoje. 

Não é por o comércio internacional ser feito em tal ou tal unidade de valor, vulgo «moeda», que a troca é mais ou menos desigual. Desde Ricardo, que se reconhece que determinadas nações têm determinadas vantagens competitivas, no comércio internacional, em relação a determinados produtos industriais, agrícolas ou minerais. É sobretudo o preço do trabalho que conta, por agregado. Assim, os países onde o trabalho é mais barato, foram aqueles que receberam as indústrias deslocalizadas dos países industriais tradicionais, os países europeus ocidentais e os EUA, sobretudo. 

Mas o globalismo, ideologia associada ao neoliberalismo, está completamente posto em causa. Este globalismo «reinou» durante um curto período, em que as potências industriais europeias e norte-americanas exportaram as suas indústrias para beneficiarem da mão-de-obra barata dos países ex- coloniais, ou que tinham uma grande diferença no seu grau de desenvolvimento. Estes países, entretanto, fortaleceram-se e tornaram-se mais capazes de impor suas condições a países outrora dominantes. 

Esta mudança entra em colisão com a mentalidade colonialista e imperialista, das classes dirigentes dos países ocidentais, que também se transmitiu a extratos explorados desses mesmos países.  Órfã de uma instância política que formalmente a representasse, a classe trabalhadora dos países do Ocidente virou-se para os demagogos de extrema-direita, ou confinou-se na rejeição da política. O abstencionismo crónico tem sido maior na classe trabalhadora marginalizada,  do que na «classe média», ou classe trabalhadora integrada, que tradicionalmente vota à esquerda.

Do ponto de vista do império dominante, este já percebeu que é demasiado tarde para inverter a tendência global. Trump não foi bem sucedido, porque - em parte - não conseguiu o entusiasmo interclassista e patriótico que ele esperava para a sua campanha de fazer regressar as indústrias ao solo americano. Sem dúvida, ele foi sabotado pelo «establishment» de Washington, mas também não conseguiu uma adesão significativa dos setores da indústria, ditos «high-tech», tecnológicos. 

As mutações do sistema monetário são sempre consequência de um duplo jogo de forças: As forças relacionadas com o capitalismo mais dinâmico - hoje, a China e outros países asiáticos, principalmente - por um lado, e por outro, com a capacidade militar global: Sabe-se que as simulações duma guerra Russo-Chinesa / Americana (NATO), realizadas no Pentágono, deram invariavelmente resultados negativos para as forças americanas e suas aliadas. 

Assim como a arquitetura de Bretton Woods foi consequência da prevalência dos EUA no comércio, indústria, finanças e domínio militar, após a IIª Guerra Mundial; também a nova arquitetura global do sistema monetário terá de refletir a realidade das trocas comerciais, das forças produtivas, das capacidades de defesa e da inovação tecnológica, que os diversos atores mundiais terão alcançado, na atualidade. 

O facto de o dólar surgir como «forte», em relação a outras moedas ocidentais não significa que a divisa dos EUA continue a possuir a mesma prevalência mundial. Existe uma diminuição significativa das trocas efetuadas em dólares, numa parte importante do Mundo, o que significa que há rutura, face ao período de trocas efetivamente mundializadas. Significa que os países da esfera político-económica do dólar, estão encerrados numa de matriz de tipo neocolonial em que a potência dominante tem a possibilidade (e exerce-a) de dizer o que esses países devem comerciar e com quem, com que tipo de mercadorias e com que formas de pagamento. O sistema de sanções montado pelos EUA é muito astuto, no curto prazo, porém a impossibilidade das empresas europeias comerciarem com países possuidores de grandes reservas de energia (como o Irão) ou com a Rússia e China, que possuem certos produtos praticamente insubstituíveis, no curto prazo (certos metais, como o titânio, ou terras raras, ou ainda, os «microchips»), traduz-se numa perda de competitividade  da União Europeia, nos mercados mundiais. Isto é válido para todos os seus membros, em especial, para o gigante industrial, a Alemanha.

Por contraste, os países dos BRICS+ e das Novas Rotas da Seda têm reais perspetivas de desenvolvimento, de alargamento dos mercados. Os países da «velha Europa» não estarão em condições de competir, devido à diminuição da sua parte nos mercados, ao acréscimo de custos de produção e devido à «mão de aço» da potência «hegemónica regional» , os EUA. Por enquanto, estes comportam-se como o senhor feudal (o suserano) em relação aos vassalos. 

Mas, embora o feudalismo tenha durado alguns séculos, o novo feudalismo dos EUA, perante outro sistema multipolar, não poderá manter uma «hegemonia regional», durante muito tempo. Uma tal situação é intrinsecamente instável, não poderá durar mais do que alguns decénios.

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(1) O  «SDR» significa Special Drawing Rights, em português, Direitos de Saque Especiais.

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PS1: Para compreenderes a estratégia globalista em todas as suas vertentes, lê:

https://www.globalresearch.ca/globalist-cabal-meets-again-prepare-world-domination/5805836

PS2: Os dementes que estão no poder não se importam que seja desencadeada uma guerra nuclear; por outro lado, os povos estão de tal maneira doutrinados, que não percebem realmente o que representa a generalização do conflito Rússia/Ucrânia.  

https://caitlinjohnstone.com/2023/01/25/hardly-anyone-is-thinking-logically-about-the-risk-of-nuclear-war/

segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

BLACKMAIL

 Segundo o pensamento das elites de Washington, para que o império EUA mantenha a sua hegemonia, precisa de inviabilizar a subida de qualquer poderio rival que possa colocar em risco essa hegemonia. É esse o caso da Rússia e da China, segundo os imperialistas americanos. Simples e direto, este raciocínio é falso e especioso. É basicamente erróneo, porque nunca nenhum poder, por maior que fosse, foi detentor duma hegemonia em todo o planeta. Querer isso, é um sonho megalomaníaco, que apenas o Império Britânico, onde «o Sol nunca se punha», tentou (e falhou), durante um período relativamente curto, menos de um século. Os poderes europeus, na sua expansão imperialista e colonial, entraram numa rivalidade mais acesa no século XIX, ao ponto de desembocarem na Iª Guerra Mundial, em 1914.

O sonho imperial de hegemonia planetária está decisivamente posto em causa pela subida em potência da China e da Rússia, aliadas e em sintonia, para enfrentar os ataques raivosos dos governos de Washington e das «repúblicas das bananas», em que se transformaram os países europeus, mesmo os mais ricos e com passado «glorioso». 

Em termos económicos e no longo prazo, os dois gigantes do Continente Euroasiático e seus aliados, estão preparados para enfrentar as mais drásticas sanções que os EUA e o «Ocidente» se lembrem de lançar. De facto, as sanções atualmente em vigor, lançadas com pretextos falaciosos, apenas tiveram efeitos nefastos para as economias europeias. Estas, ficaram com menos mercados para aí colocarem os seus produtos, ficaram também com menos matérias-primas para suas indústrias e carentes de componentes de alta tecnologia, como os «microchips», fabricados quase exclusivamente na China e fornecendo a indústria automóvel e de eletrodomésticos. O embargo de produtos agrícolas à Rússia teve como resultado o desenvolvimento rápido da agricultura russa, fazendo dela um setor exportador, além de ter atingido a autossuficiência no setor alimentar. Pelo contrário, as proibições de exportação para a Rússia, liquidaram muitas pequenas e médias empresas agrícolas europeias. Tiveram especial dureza nos países da orla do Mediterrâneo (exportadores de fruta e legumes frescos).

A fabricada «ameaça de invasão» da Ucrânia pelo exército russo, já tratada por mim detalhadamente noutro artigo  deste blog, tem como única razão de ser, que os americanos temem - acima de tudo - a independência energética dos alemães. 

Com efeito, a Alemanha possui um nível científico e tecnológico muito elevado,  e conservou sua infraestrutura industrial, ao contrário doutros países europeus que a exportaram largamente para o Extremo-Oriente, em particular. Por estes motivos, a Alemanha será, provavelmente, o poder dominante no século XXI, na Europa. Ora, para o imperialismo dos EUA, isso não será nada favorável: Na Alemanha está estacionado (desde o fim da IIª Guerra Mundial) um exército de ocupação americano, essencial para o dispositivo hegemónico no coração da Europa. Mas, nenhuma potência de primeira grandeza ficará satisfeita de ter um corpo estranho permanentemente estacionado no seu território, com as consequências políticas, económicas e de autonomia que isso implica.

A questão do «Nord Stream 2» é - portanto - o fator que está por detrás de toda a histeria fabricada em torno do «perigo» russo, da sua preparação da invasão da Ucrânia, que nunca foi, nem será efetiva, como já demonstrei anteriormente.

O jogo dos EUA é, antes de mais, um jogo de pressão destinado aos «aliados/vassalos» europeus, em particular, sobre os alemães. Do ponto de vista económico, a Rússia está pouco interessada em vender o seu gás natural à Europa. Ela tem um mercado sempre aberto e voraz em recursos energéticos, na China. Ela não terá problemas em colocar aí o seu gás natural, caso os europeus não o comprem. Pelo contrário, estes têm tudo a perder: um abastecimento regular e garantido, com preços estáveis, resultantes de contratos a longo termo. 

Sem isso, será impossível a Europa cumprir a severa transição energética, que a si própria impôs. Não vou aqui discutir se foram sábias, ou não, as decisões políticas e económicas dos governos europeus. Apenas constato que a transição para uma energia menos poluente (eliminação do carvão como fonte de alimentação de centrais elétricas, entre outros objetivos), fica posta em causa, se a Europa não puder contar com o gás russo, no período de transição. 

A referida transição tornou-se mais difícil, pela decisão de desativar as centrais nucleares, um pouco por todo o lado, na Europa, mas em particular, na Alemanha. Foi uma decisão precipitada, motivada, não pela necessidade, mas pelas agendas eleitorais na Alemanha e em vários outros países. 

Todos nós já sabemos que as energias eólica e solar não são operacionais, se não existir outra fonte de energia de produção constante, alimentando a rede elétrica. Por definição, nem as eólicas nem os painéis voltaicos, podem jamais ser fontes constantes. Também não existe qualquer processo pouco dispendioso de armazenar grande quantidade de energia duma fonte intermitente (como são as energias solar e eólica). Portanto, só a energia nuclear ou o gás natural poderiam fornecer a base de estabilidade para as redes de energia elétrica, aquando dos picos de consumo (ou quando é noite, ou quando não há vento).

A «solução» americana, de fornecer à Europa (no caso desta renunciar ao Nord Stream 2) gás de fracking, através da sua liquefação e envio em grandes navios-tanques, é uma «pseudo-solução». Envolve compressão, confinamento em tanques capazes de sustentar uma grande pressão, deslocação em navios-tanques, os quais têm de ter determinadas características. Todas as infraestruturas portuárias e todas as outras componentes do processo terão de ser construídas especificamente para este fim. O resultado é que a montagem do dispositivo  e a operação do mesmo, irão encarecer o produto. O envio de gás por gasoduto, é incomparavelmente mais barato e mais seguro. 

São dois, os motivos que levam os americanos a tentar impor aos europeus a renúncia ao «NS2» e ao gás russo: 

-Querem «desencravar» a indústria do fracking que está em crise: O preço do gás não cobre as despesas de exploração dessas empresas. Estas empresas que exploram o gás de xisto, fizeram empréstimos, sobre empréstimos que foram «segurados» pelos bancos. Estes, por sua vez, venderam esta dívida a clientes, tal como tinham feito com as hipotecas «subprime». A única maneira das empresas de fracking pagarem os empréstimos, é tornarem-se rentáveis, coisa que até agora não provaram sê-lo. Por razões ideológicas, não creio que o governo dos EUA vá subsidiar diretamente o setor do fracking.  Portanto, os vassalos europeus, quer gostem ou não, serão forçados a tornar viável este setor energético dos EUA, que é um enorme buraco, um péssimo investimento. 

- Querem partir a Europa em duas metades assimétricas; a metade que lhes é submissa, totalmente separada da Rússia europeia que é uma fatia muito grande da Europa. Lembremos que esta se estende do Atlântico aos Urais! A necessidade de terem a Rússia como inimiga é, sobretudo, a de terem na mão os seus aliados (súbditos) da Europa ocidental. Poucas pessoas sabem que a Rússia de hoje, apesar de ser um gigante, em termos de área, tem um PIB da mesma ordem de grandeza que uma Itália! Por isso, a estratégia americana é simples; trata-se de manter a tensão nas fronteiras europeias da Rússia, para que se eternize a NATO. Se esta se mantiver, a Europa continuará firmemente sob o controlo da «Nação indispensável» (Barack Obama dixit).

Não é nada difícil compreender - neste imbróglio relativo à «invasão» da Ucrânia - o seu papel de propaganda, de manobra de diversão: Trata-se de dissipar o efeito, nos aliados europeus da NATO, da posição russa de exigir uma negociação séria, para obter garantias sólidas quanto à sua segurança própria e dos seus vizinhos. Os europeus (de todas as nações) só teriam a ganhar com tal abertura de negociações diplomáticas, com vista à obtenção, para a Europa no seu todo, de garantias de estabilidade, tanto em termos militares, como políticos e económicos. Isso não poderá jamais agradar aos imperialistas americanos! 

Em primeiro lugar, ficaria claro que não é assunto deles, não têm legitimidade para se sentarem à mesa das negociações: não tem a ver com as fronteiras americanas, nem diz respeito às relações com os vizinhos dos EUA. Em segundo lugar, poderia desembocar na desativação da NATO, substituída por uma estrutura não-militar, mas diplomática. Essa estrutura iria debruçar-se sobre conflitos pendentes e sobre os futuros. Teria a função de encontrar vias para uma resolução pacífica, diplomática, dos mesmos. Talvez bastasse darem mais operacionalidade à OSCE.

Um «capo» da Máfia nunca vai aceitar que os seus «protegidos» se organizem fora da sua «proteção» (ou racket). Quanto tempo demorará a Europa a libertar-se deste «padrinho»? 

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PS1: Veja o vídeo de entrevista de «Grayzone» AQUI

PS2: Artigo de Mike Whitney extremamente bem documentado e demonstrando o absurdo da política americana em relação à Rússia, agora e desde o fim da Guerra Fria: https://www.unz.com/mwhitney/moscow-to-washington-remove-the-nukes-on-our-doorstep-and-stop-the-eastward-push/

PS3: Hoje 02/02/2022, síntese magistral sobre a crise Rússia/ EUA/NATO/Ucrânia https://www.paulcraigroberts.org/2022/02/02/the-world-needs-a-russian-chinese-pax-romana/ 

PS4: Artigo «How NATO Empire-Building set stage crisis over Ukraine» está escrito na perspetiva do constitucionalismo e dos valores tradicionais da América. É uma crítica contundente da geopolítica e política externa levadas a cabo pelos EUA desde o colapso da URSS. https://www.zerohedge.com/geopolitical/how-nato-empire-building-set-stage-crisis-over-ukraine

PS5: Este artigo descreve o jogo geopolítico americano, ao longo dos anos, em relação ao gás natural russo, importado pela Europa desde os anos 60.  https://www.zerohedge.com/geopolitical/pipeline-politics-hits-multipolar-realities-nord-stream-2-ukraine-crisis

PS6: Maria Zakharova põe a claro a situação de vassalos dos países europeus da NATO, em particular da Alemanha, face aos EUA. O que também eu tinha escrito há um mês. Qualquer pessoa não-mentecapta sabe que é assim. https://www.rt.com/russia/548712-germany-occupied-us-nordstream-zakharova/

PS7: Mike Whitney  «In a world where Germany and Russia are friends and trading partners, there is no need for US military bases, no need for expensive US-made weapons and missile systems, and no need for NATO.» https://www.unz.com/mwhitney/the-crisis-in-ukraine-is-not-about-ukraine-its-about-germany/ 

PS8: Conforme o artigo de Pepe Escobar, a guerra da energia segue o seu caminho, conforme eu previra há mês e meio!

segunda-feira, 18 de outubro de 2021

[Michael Hudson] SUPER IMPERIALISMO


Saiu uma nova edição (a 3ª), atualizada, de «Super Imperialism» de Michael Hudson, economista e professor universitário, consultor do governo chinês em assuntos económicos. 
Os entrevistadores (do site Gray Zone) têm feito um trabalho notável, de furar o muro de silêncio sobre muitos assuntos e opiniões que o Império - com a media prostituta à ordens - não gosta de ver tratados. 
Partilhe-se ou não as opiniões deste autor, o que ele diz e escreve é, muitas vezes, relevante
Considero Michael Hudson alguém com algo de novo e original a dizer. Espero poder, em breve, ler a 3ª edição da obra «Super Imperialism». 


PS1: Uma entrevista com Michael Hudson, sobre o seu livro com o podcast e a transcrição AQUI

 

quinta-feira, 28 de maio de 2020

A POLÍTICA DO CAOS E A SALVAGUARDA DO DEMOS

                                (música - som organizado - negação do caos) 

Estou sempre atento ao que se passa no Extremo-Oriente, em particular na China, incluindo Hong Kong.

As forças do caos estão insatisfeitas; querem mais, muito mais: A sua única satisfação é a satisfação total, ou seja, a hegemonia mundial.

Nenhum poder, nos últimos vinte anos, se interpôs verdadeiramente entre as suas ambições megalomaníacas e o mundo

Precisavam de um novo «Pearl Harbour»: tiveram-no num 11 de Setembro. Ó quão fatídica data, pois nela se tinha inaugurado o golpe em 1973, para derrubar o socialismo Latino Americano, no Chile de Allende, que passou a ser o modelo de golpe militar fascista, com Pinochet e as forças da CIA. 

Passou a ser também o modelo de aplicação do neo-liberalismo, onde «liberalismo» tem apenas o significado de não haver limites - de qualquer espécie - para o capital. 

Mas, o domínio sem partilha do Globo, objectivo claramente denunciado por Michel Chossudovsky e outros, está ainda dependente de conseguirem manter em cheque, para depois derrubarem, o outro super-poder. Por isso, têm de construir uma narrativa diabolizante doutra civilização, cinco vezes milenária, que se transformou, se adaptou e que não está interessada em dominar o resto do mundo.  Tem adentro de suas fronteiras o suficiente para garantir um nível de vida decente e mesmo além disso, para a sua população. Basta que não caia na irracionalidade do «mercado livre», uma aberração ideológica e lógica*. 

[* Como já escrevi, Adam Smith e outros idealizaram um modelo teórico, sem que se traduzisse nos factos das sociedades e economias reais, tanto do seu tempo como de todos os tempos. Por isso, a maior parte das vezes, o uso do próprio conceito de «mercado livre» resulta dum equívoco, ou duma distorção, para permitir o domínio do mais forte sobre o mais fraco. Não é realmente nada do que os liberais do século XVIII sonharam. ]

A essência do poder na China de hoje, é de um poder totalitário. Não há dúvida nisso. 

É verdade que, havendo meios financeiros quase infinitos, um poder - incluindo a China de hoje, seja qual for a sua caracterização - é sempre derrubável: com diversos meios subversivos, desestabilizadores, conjugados com sanções e demonizações, para impedir indignação ou solidariedade (porque o público está amedrontado). Mas, o que não é possível é instaurar um regime genuíno, democrático, de respeito pelos direitos humanos, resultando de actos de subversão inspirados e subsidiados do exterior que - em geral - culminam com uma guerra e uma invasão. 

Felizmente para os chineses, o regime presente está bem forte. 
Os Rockefeller, Rothschilds, Gates, Soros e outros, vêem a conquista do Império do Meio como sua «jóia da coroa», aquela vitória que os iria realmente erguer à situação de «senhores do mundo» por mil anos. 
Este sonho de ditadores imperiais, desde a antiguidade aos nossos dias, não se poderá realizar. Porque a existência da espécie humana estará em jogo. Ou, por outras palavras, se tal acontecer, será depois da humanidade passar por uma guerra nuclear (total, pois não é concebível - todos os estrategas sabem-no perfeitamente - uma guerra nuclear limitada). 
Mas uma guerra nuclear deixará um planeta inabitável: estéril em muitas zonas e mesmo nas zonas que aparentem ser habitáveis, efeitos de longo prazo, como os níveis de radiações e de elementos radioactivos, tornarão a vida humana não sustentável.
A loucura da oligarquia mundialista, que alguns erroneamente chamam de «elite», é completa. Estão - conscientemente - a encaminhar para o abismo a civilização e a natureza que os sustenta. 
Ofuscados pela sua incapacidade de obterem o comando sem partilha, semeiam o caos e pensam no seu delírio que do caos possa nascer a ordem. Pois a IIª Lei da Termodinâmica, a Física toda, dizem que o caos só pode originar mais caos. 
O que eles pretendem, semear a morte e a destruição, para se alimentarem dos despojos, será como «abutres». 
Mas, nem sequer serão abutres no sentido ecológico, pois estes se alimentam de carniça (cadáveres); os abutres desempenham um papel importante na saúde dos ecossistemas... são tão importantes como as gazelas ou os beija-flor, ou outros animais «simpáticos»! 
Nós vivemos todos hipnotizados, iludidos, intoxicados com ideologias caducas, quando o real está mesmo diante dos nossos olhos! 
Esta denegação, esta persistente incapacidade de reconhecer o real, é a verdadeira prisão dos povos. 
Se tivéssemos a noção clara de como estamos a entregar (incondicionalmente!) o poder a predadores e psicopatas, que têm nenhuma consideração pelas nossas vidas, saúde, ou dignidade... as construções de poder (no Ocidente, Oriente, Sul ou Norte) iriam ser rapidamente desmontadas. Elas desfaziam-se, como cenários de circo que deixaram de servir, depois de terminado o espectáculo, depois de apagadas as luzes multicolores, tal como as músicas, os cheiros e a agitação, que davam vertigens.

PS1 - Na sequência do que venho divulgando neste blog sobre as manobras do (hiper) imperialismo e da oligarquia global, para conseguirem a docilidade dos cidadãos, é importante a cronologia comentada, apresentada no excelente artigo do Prof. Chossudovsky:

Global Capitalism, “World Government” and the Corona Crisis

When the Lie Becomes the Truth There is No Moving Backwards

quarta-feira, 7 de agosto de 2019

PORQUÊ OS EUA SAÍRAM DO TRATADO INF?

Aquilo que não vos dizem






O secretário dos EUA da Defesa, Mark Esper, numa tournée em vários países da região Ásia-Pacífico afirmou que a principal prioridade para o Pentágono é a China:



“Os nossos competidores estratégicos são a China e a Rússia, principalmente e por esta ordem,” Esper recentemente declarou.


Nós somos mantidos no escuro em relação ao tratado INF* e às razões pelas quais os EUA realmente desejaram terminar com ele. Não devemos cair na propaganda da NATO afirmando que os russos violaram o referido tratado, em várias ocasiões. Pelo contrário, os americanos e vários países europeus da NATO o fizeram, como sabemos, está comprovado. Mas, então qual a vantagem estratégica do Pentágono em propulsionar a nova corrida aos armamentos e tornar possível a colocação no terreno de armas nucleares «tácticas»?
- A razão principal é a China. Numa postura prudente de construção de suas capacidades de defesa, a China, não constrangida pelo tratado INF, tem vindo a desenvolver sistemas de mísseis de médio alcance. Estes mísseis podem possuir uma carga convencional, mas também podem servir para transportar uma carga nuclear.
Perante estes mísseis, a marinha poderosa dos EUA com os seus destroyers e porta-aviões (cruzando próximo das costas da China), fica completamente exposta. Com efeito, não poderá retaliar a um ataque com mísseis chineses, sendo estes lançados bem do interior da China em direcção à frota americana do Pacífico. Os chineses e os americanos, assim como todos os peritos militares sabem disso há muito tempo. Recentemente, uma alta patente chinesa teve um «deslize», ao afirmar isso mesmo, coisa que realmente deixou os neocons e os militares do Pentagono com os «cornos a arder». 
Os EUA, na prática, assumem o papel de potência tutelar das nações do Indo-pacífico, sendo isso mesmo que «obriga» a presença permanente de uma frota americana bem perto das costas da China. Tal como a alegação da «ameaça» russa, ao mesmo tempo que estacionam tropas e mais tropas da NATO junto das fronteiras russas, igualmente consideram que a China está a ameaçar a liberdade de navegação (sic!), por defender as suas costas e águas territoriais.
 No quadro mais geral do projecto hegemónico, a escolha da China como prioridade (como inimigo principal), faz todo o sentido. O projecto - em si mesmo - é que não faz, o de manter todo o planeta sob controlo do império dos EUA.
A China está a conquistar o primeiro lugar,em termos económicos, se não é que o seu primeiro lugar já está realizado. Com efeito, em paridade de poder de compra, os chineses subiram imenso em duas décadas, enquanto a população dos EUA está cada vez mais pobre, apesar da propaganda em contrário. O índice de inflação está falsificado, para fazer crer na manutenção dum poder aquisitivo das famílias pobres e da classe média dos EUA. Os índices de desemprego são completamente manipulados, o que se vê pela enorme taxa de pessoas em idade de trabalhar que não está empregada; querem fazer crer que a taxa de desemprego nos EUA é muito baixa, porém os números reais são contraditórios com isso. John Williams do site shadowstats.com tem acompanhado estes índices e outros, no pressuposto de quais seriam seus valores, caso os critérios fossem os mesmos que nos anos 80. Isso é apenas uma parte da realidade. Outra parte, é a miséria da epidemia opióides, que afecta imensas pessoas, desde veteranos das guerras, até a pessoas viciadas em resultado de tratamentos do cancro. Muitos índices relativos ao bem-estar humano, na educação, na saúde, na esperança de vida, etc. estão mais próximos dos países «em desenvolvimento», do que dos países «desenvolvidos». A tragédia da incapacidade de muita população nos EUA ter um tratamento decente, por não possuir cobertura adequada de saúde, continua. Muitos milhões (último censo indicava mais de 30 milhões!) de americanos dependem de «food stamps», ou seja, de senhas para comprar géneros alimentícios no supermercado, para sobreviver.
A guerra comercial com a China está a prejudicar mais a agricultura e o pequeno comércio americanos do que tem efeito inibidor na indústria da China. Neste período de «guerra comercial», o facto é que a China exportou MAIS, sendo evidente que as tarifas, por mais que escondam isso ao povo americano, são encarecedoras para ELES, que compram os produtos importados da China, acelerando portanto artificialmente a inflação e diminuindo ainda mais o seu poder de compra.
Não admira que Wall Street e, portanto, todo o mundo da finança dentro e fora dos EUA, compreenda que a política oficial de Washington encaminhe os EUA e o mundo para uma recessão. A entrada num período de recessão está muito claramente a ser equacionada, a prova disso é a inversão de tendência das bolsas americanas e mundiais, com a subida vertiginosa dos metais preciosos, em especial, o ouro.
A crise do dólar prossegue, visto que o presidente Trump decidiu responder à descida do Yuan, pela contra-medida da descida do dólar: assim, a guerra comercial alarga-se a guerra monetária.
Todos estes factores económicos e financeiros, tanto internos aos EUA como mundiais, levam a que a tentação dos dirigentes - megalomaníacos e muito mal aconselhados - seja a da guerra com tiros.

A tensão provocada com as constantes provocações militares , seja nas fronteiras russas, seja nas águas territoriais do Irão ou ainda da China, cada vez mais se parecem com uma louca corrida para o abismo, visto que todos sabem como uma determinada guerra começa, mas ninguém sabe, ao certo, como essa guerra acaba.

(*tratado INF: acordo alcançado por Reagan e Gorbatchov, no âmbito de uma redução geral das tensões na Europa. Ele proíbe a pesquisa, produção e colocação de mísseis de alcance intermédio. Este tratado implicava verificações de lado a lado, para garantir que não haveria este tipo de armas no continente europeu)

segunda-feira, 30 de abril de 2018

PORQUE É QUE OS INTERESSES DOS EUA PREVALECEM SEMPRE?

Vejam esta parte de uma série de entrevistas: verão que Paul Craig Roberts dá uma resposta clara e límpida...assim como a uma série de outras questões fundamentais.


segunda-feira, 9 de abril de 2018

PAUL CRAIG ROBERTS - O COLAPSO DA HEGEMONIA dos EUA


Paul Craig Roberts explica o «sumo» do unilateralismo, a ideologia inerente à governação dos EUA,  desde a chegada dos neo-cons ao poder na era Bill Clinton. 

sexta-feira, 28 de julho de 2017

O SONHO DOS «NEOCONS»: CONQUISTAR A RÚSSIA

Há mais de vinte anos, o regime decorrente da dissolução da URSS estava sob ataque cerrado.
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Os «conselheiros», que rodeavam Yeltsin e toda uma corte da barões envolvidos na maior traficância de bens nacionais jamais ocorrida em toda a História, não apenas russa, como de todo o planeta, tinham como verdadeira missão, não a transformação dos despojos da URSS numa «democracia» de mercado ao estilo ocidental, mas sim numa neo-colónia dos triunfadores da guerra fria, o Império USA e seus acólitos atlantistas.
O saque foi interrompido no entanto, porque Yeltsin, apesar de muito doente de alcoolismo e de cardiopatia, percebeu que estava a ser um joguete de forças que apenas desejavam esse destino para a Rússia, o de neo-colónia.

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Chamou Putin, uma surpresa para os atlantistas e para muitos dos bilionários russos recém-instaurados graças à década de 90, essencialmente a pior vivida pela população russa, desde o fim da IIª Guerra mundial.
Basta lembrar a subida exponencial dos suicídios, do alcoolismo, a diminuição brusca da esperança de vida, a fome, a miséria, o aumento de banditismo, além do terrorismo associado a islamitas salafitas na Tchetchénia e noutras repúblicas do Caucaso.  

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Putin e seus apoiantes souberam dominar os donos de fortunas (Berezovsky, Khodorkovsky…) obtidas com a compra de empresas por um preço ridículo e imediatamente rentáveis.

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Esta venda ao desbarato processou-se da seguinte maneira: os grandes conglomerados da URSS eram juridicamente propriedade do povo soviético. Quando se procedeu ao desmantelamento do regime soviético, houve que dar uma aparência de legalidade a esse processo. Lembraram-se então de distribuir títulos de propriedade dos bens nacionais a cada cidadão russo, por forma que ele teria a possibilidade de transacioná-los.
Assim aconteceu com praticamente todos os tais «donos» de títulos, pois eles estavam perante uma desproteção completa face à hiperinflação que se abatera sobre o rublo (vejam as taxas de desvalorização, nos anos 90, de 1 para mil!).
Com um rublo em queda livre, uma involução total do aparelho produtivo, um aumento exponencial do crime organizado, etc… não foi difícil a um certo número de «espertos» obterem os tais títulos de propriedade, oferecendo aos seus detentores somas muito ridículas, aos olhos de hoje.
Assim, arrivistas da pior espécie conseguiram - num ápice - multiplicar as suas fortunas por dez ou por cem, através de métodos com a aparência de «legais»!
Na primeira década do nosso século deu-se o reerguer do Estado russo, pelas mãos de Putin e seus apoiantes. Desencadeou-se um processo de reverter parte das riquezas, principalmente petróleo e gás, para benefício nacional, sem eliminar porém a totalidade dos oligarcas formados na década anterior.
A partir desse momento, com a restauração da produção industrial e a correlativa capacidade de exportação da Rússia, os aliados atlantistas do Império, começaram a perceber que seria melhor entrarem em parceria estratégica com o novo senhor do Kremlin, beneficiando de fluxo contínuo de gás natural para abastecer as suas economias, assim como de uma parte importante do petróleo (extra OPEP), não sendo mais reféns energéticos absolutos dos países árabes, principalmente da Arábia Saudita e dos Emiratos.

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Estavam eles - os dirigentes dos principais estados da UE - muito contentes, quando os americanos - sob a administração Obama - decidem interferir pesadamente, através de ONGs que recebiam ajudas de milhões (foram, pelo menos, gastos 5 mil milhões, segundo disse Hillary Clinton em público) para derrubar o governo constitucional e democraticamente eleito na Ucrânia.
Em Fevereiro de 2014, sob a estreita tutela de Victória Nulan, os neo-nazis conseguiram derrubar, num golpe violento, o governo ucraniano.

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Eram saudosos do tempo em que legiões ucranianas (o seu chefe, Stepan Bandera, foi promovido a herói e inspirador dessa escumalha neo-nazi) se aliaram a Hitler para massacrar polacos, judeus, e «vermelhos». São histéricos capazes das piores atrocidades, como vieram a demonstrar meses depois, em Odessa. Furiosamente anti-russos, ao ponto de não deixar nenhuma hipótese às províncias do leste, maioritariamente russófonas, senão ficarem independentes do poder instalado.
Os americanos tinham o que queriam. As relações, entre a Rússia e a União Europeia, tinham-se degradado. Para culminar, fabricaram o trágico incidente com o avião de passageiros em Julho de 2017, para incriminar falsamente os russos pelo sucedido, ao mesmo tempo que inviabilizavam uma peritagem independente e neutral para investigar as causas e circunstâncias desta tragédia.

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Desde 2014 até agora e apesar de todas as variações de humor em Washington, apesar da mudança de presidente, que se presumia ser decisiva em política internacional, as políticas de Washington resumem-se a impor um regime de sanções, restringindo o comércio, proibindo  contactos, cercando a Rússia com mísseis, etc.
Este tipo de comportamento é compensador para manter a hegemonia da superpotência no curto prazo, mas tem o grave inconveniente de não poder ser levado para além de um certo ponto. Com efeito, o ponto de ruptura já foi alcançado em dois casos, de forma totalmente visível:
- com o governo turco - há cerca de um ano- na sequência de uma tentativa de golpe contra Erdogan, que este afirma teve apoio dos EUA.  

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- agora, com o governo alemão, visto que a Alemanha tinha sido poupada a incluir a construção do gasoduto Nord Stream no regime de sanções, imposto a todos os membros da NATO e decorrente da situação na Ucrânia.

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Este gasoduto é uma obra conjunta da Rússia e da Alemanha e irá abastecer em gás natural este último país, por um trajeto bem mais seguro do que os gasodutos actuais que passam pela Ucrânia e são susceptíveis de sabotagem, de serem danificados por falta de manutenção adequada, etc.
A Alemanha é um país industrial que teve o bom senso de não exportar toda a sua infraestrutura e produção e, portanto, necessita absolutamente de um fornecimento  regular de energia, a um preço competitivo, coisa que os EUA não poderão dar, pois não têm capacidade de colocar seus excedentes do «fracking» de forma regular, durante largo prazo. Nem jamais conseguirão fazê-lo a preços inferiores aos russos. Ou seja, eles queriam obrigar os europeus a privarem-se de uma fonte de abastecimento de energia abundante e relativamente barata, por uma energia mais cara e contingente!

Não é difícil ver que a hegemonia dos EUA está periclitante.

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É muito menos fácil compreender para onde se dirige o mundo, dado que existem demasiadas forças contraditórias na geopolítica mundial e que as questões decisivas quase nunca são expostas de forma franca e aberta. Pode mesmo dizer-se que nunca o são, pois raras vezes se vem a saber realmente o que estava em jogo, mesmo passados decénios sobre os acontecimentos.
Do meu ponto de vista, a perigosidade do Império Anglo-Americano irá crescendo. Porque não conseguirá ter sucesso em amarrar o sistema financeiro mundial ao petro-dólar, mas verá cada vez mais países se unirem em torno de projectos concretos que irão viabilizar maior intercâmbio, comércio, desenvolvimento, através da iniciativa «One Belt One Road», ou seja, «a nova rota da seda».
Como tem sido hábito desde o final da II Guerra Mundial, os grandes poderes irão continuar a disputar as suas zonas de influência através de guerras  por procuração, cada um procurando desestabilizar o adversário em zonas críticas e onde estejam já presentes as sementes da discórdia.
O Médio Oriente vai continuar por algum tempo a sofrer este destino, como encruzilhada entre vários interesses contraditórios e numa região do globo simultaneamente rica em termos de combustíveis fósseis e vital em termos das rotas comerciais marítimas Leste-Oeste.
Mas o grande «bolo» será, sem dúvida, o Continente Europeu, demasiado grande e poderoso para ser - simplesmente - «neo-colonizado» por americanos ou por sino-russos.
Apenas será possível, a qualquer deles, obter parcerias estratégicas, ou seja, em que a Europa mantenha a sua capacidade de autonomia, não sendo lacaio ou vassalo de nenhum dos superpoderes.
Por isto, ou apesar disto, os EUA apostaram - veja-se o papel deles no golpe da Ucrânia- na desestabilização e em subjugar os seus aliados europeus. O tiro saiu-lhes pela culatra. No entanto, eles deixaram no seu rastro, destruição de vidas, de economias e vários Estados falidos. Não é apenas o caso da Ucrânia, mas também da Líbia e, num certo grau, o da Síria.
Certamente, a principal causa do fluxo de refugiados que assola a Europa, nestes anos e tem desestabilizado os vários governos, é a política americana no Médio Oriente e Norte de África.

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Recentemente, nos EUA, o grupo designado por «neocons», que se entrincheirou há décadas no «Estado profundo», tem mostrado como ainda possui um peso muito grande, por directa ou indirecta sabotagem da política de Trump. Com isso, pretende obrigar o poder presidencial a conformar-se com a política internacional que tem vindo a ser seguida, indiferentemente, por administrações republicanas e democratas.  
É necessário compreender que este grupo dos «neocons» não se contenta com os EUA serem a primeira potência militar do planeta, eles querem dominância total: isto significa que o seu  objectivo é o de fazer com que não existam competidores, não apenas no plano militar, como no plano económico e de desenvolvimento científico-tecnológico, pois estes três aspectos se entrelaçam de forma indissociável.
Assim, o plano deles é tornar o mais difícil possível, que a China e a Rússia se desenvolvam, se expandam, tanto nas suas capacidades industriais, como nas trocas comerciais com o resto do mundo. Eles querem que existam «regimes espantalhos», como o Norte Coreano, para «justificar» uma política de sanções.
Esta forma de guerra económica, de assédio, serve muito bem aos EUA para continuar a intimidar (fazer bullying) aos outros países, sejam eles competidores ou aliados.

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A lógica neocon está completamente viciada por uma visão megalomaníaca de uma América superpoder «bondoso» da história mundial, apenas ela capaz de levar a todo o globo a democracia como eles a concebem, ou seja, o  regime liberal capitalista, tal como existe na Europa e América do Norte.
No longo prazo, porém, eles sabem que a estratégia dita de «contenção» não chega.
Para o seu objetivo ser alcançado, para essa tal hegemonia, têm de desmantelar a Rússia.
A Federação Russa terá, na perspectiva deles, de se fragmentar, ficando como uma série de mini-estados facilmente controláveis, sem poder para contrariar o grande poder hegemónico.
Eles não temem a guerra nuclear; pensam que ela será ocasião de arredar definitivamente a competição que faz obstáculo aos seus grandiosos projetos.

Se esta descrição vos parece vinda de mentes enlouquecidas, pois é verdade: mas não é a minha, nem a de muitos analistas que descrevem os problemas, mais ou menos, nos mesmos termos.
Ela é a visão louca de um poderoso grupo, os «neocons», que tem dominado totalmente a política externa americana desde os tempos do presidente Bill Clinton e tem mantido o seu controlo, apesar das mudanças na Presidência e no Congresso, nestas últimas décadas.