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sexta-feira, 16 de agosto de 2024

A CHINA, COMO NÃO É NOTÍCIADA NO OCIDENTE


 

                                          https://www.youtube.com/watch?v=PLphverPXMc

Na competição capitalista internacional, a importância de proteger e promover os produtores do próprio país, face à competição internacional, são pedras de toque para um vigoroso e autónomo desenvolvimento. Igualmente, a possibilidade de comerciar com quem estiver disponível para fazê-lo, sem interferência de terceiros, será a chave para uma expansão do comércio e relações bilaterais. 

A política imperialista raivosa dos EUA, que se aperceberam - um bocado tarde! - de que o seu favorecimento da China, enquanto «fábrica global», estava a permitir o desenvolvimento dum competidor que iria em breve arrebatar os primeiros lugares na competição industrial, tecnológica e no comércio global, é de uma imbecilidade (dos dirigentes ocidentais), que não tem paralelo. Esta política foi de curto prazo e continua a sê-lo; enquanto a política industrial da China é de desenvolvimento, no longo prazo.

Nesta guerra pelo controlo dos mercados, o que sobressai é a transformação em «arma de guerra» do dólar o qual, enquanto moeda de reserva global, deveria ser essencialmente um veículo neutro. Mas ele foi transformado no veículo para tornar eficazes as sanções económicas. Estas são outra arma de guerra económica, totalmente ilegítima, que os EUA se habituaram a colocar aos que punham em causa a hegemonia americana. 

Mas, a resposta, por parte da Rússia e da China (e numa certa medida, também do Irão), fez com que os efeitos dessas sanções fizessem «boomerang»: As sanções apenas aguçaram o engenho de contorná-las nos mercados financeiros (ver o vídeo, AQUI), e sobretudo, pelo desenvolvimento da produção nacional, em substituição de artigos importados. 

No caso da Rússia, sobressai a rapidez e eficácia com que - perante as sanções - soube desenvolver a sua agricultura, ao ponto de que em vez de ser importadora líquida de produtos alimentares, passou a ser largamente autónoma e, mesmo, exportadora de cereais. 

No caso da China, o que mais sobressai, na repercussão da ultrapassagem das sanções colocadas pelos EUA, são os enérgicos desenvolvimentos, com consequências nos setores da indústria chinesa mais avançados tecnologicamente, como (AI) Inteligência Artificial, indústrias eletrónicas (semicondutores ou «microchips») com aplicações militares, ou ainda os carros EV (veículos elétricos).

Uma visão da China dominada por um regime comunista, em que as pessoas estão essencialmente oprimidas pelo mesmo, é o que a propaganda ocidental tem feito passar. Uma pessoa não motivada pela ideologia e que não partilhe os pressupostos sobre os quais assenta o regime chinês, deveria, porém, em nome do realismo, compreender o que está a passar-se:

 Deveria ver a China como outra civilização, que usou e assimilou um certo número de valores e técnicas do «Ocidente», mas adaptadas às circunstâncias da sua multimilenar civilização. Não tem sentido projetarmos nossos medos, nossas frustrações, no povo chinês. Isto traduz-se por racismo e cedência perante o que existe de mais opressor, nos nossos países ocidentais.

Daí a dizer que tudo corre bem no «Império do Meio», é outra coisa. Não creio que nenhuma sociedade, seja ela qual for, está isenta de problemas internos, de problemas que são fruto da sua História, ou que resultam dos caminhos tomados no seu desenvolvimento. 

O capitalismo foi promovido na China, durante 40 anos. Uma série de magnates surgem, neste contexto, com bom relacionamento com a hierarquia do Partido Comunista. O povo chinês, somente, é que terá de resolver as contradições que se vão desenvolvendo. Toda a ingerência neste domínio tem como origem, de facto, a tentativa de domínio (territorial e populacional). Nada de bom se pode esperar de tais tentativas desesperadas do imperialismo EUA, em declínio.

Se ele conseguisse seus intentos, iria ter mais força para oprimir o povo chinês e outros povos, pelo Globo fora. Se ele falha (como parece ser o caso), a guerra híbrida está deixando marcas que só dificultam o advento da cooperação entre nações e povos. 

O que é cada vez mais premente é construir a paz em torno de objetivos realistas, baseada em princípios universalmente reconhecidos: As vantagens mútuas nas relações; a resolução de diferendos pela diplomacia,   não pela guerra; a não ingerência de potências nos assuntos internos de um país;  a cooperação em relação a desafios globais da humanidade (ex.: ecossistemas, saúde, exploração espacial).


domingo, 27 de dezembro de 2020

OLHANDO O MUNDO DA MINHA JANELA - PARTE IX


Relendo o escrito sob o mesmo título, o oitavo da série, publicado a 24 de Setembro deste ano, constata-se, pelo desenrolar dos acontecimentos, que eu não me enganei. 
Mas, isto não é nenhum mistério, não possuo poderes de divinação. Simplesmente, os factos estavam lá, diante de meus olhos, bem visíveis, nessa altura. Não é necessário ter-se uma bola de cristal! Basta não termos a vista embaciada por uma ideologia ou pela propaganda insidiosa, para correctamente vermos o presente.

«As previsões são muito difíceis de se fazer... sobretudo em relação ao futuro», como dizia alguém, um humorista-filósofo. 
Portanto, vou me cingir ao presente. 

O maior golpe de Estado de toda a história parece estar a desenrolar-se a preceito para seus planejadores e executantes. Mas, quem são eles? 

- São os mesmos para quem esta crise manufacturada, do COVID, representa um acréscimo considerável nos lucros. Apple, Google, Facebook, Netflix, Amazon, Microsoft, Tesla... são as grandes vencedoras deste jogo. As suas acções atingiram novos cumes, os índices da bolsa de Nova Iorque seriam negativos sem a sua participação. Além disso, esmagam qualquer hipótese de concorrência e obtêm contratos sumarentos com os governos (principalmente os dos EUA).

- Os outros vencedores são os grandes da indústria farmacêutica, na qual estão investidos multi- bilionários como os Bill Gates ou os Rockefeller. No caso das farmacêuticas, conseguem colocar as suas vacinas não testadas (Moderna, Pfizer, Astra-Zeneca...) ou os seus medicamentos de duvidosa eficácia (ex.: Remdesivir da Gilead), sem verdadeira supervisão dos organismos teoricamente independentes, presentes nos diversos Estados. Estes deveriam, em nome da Saúde Pública, controlar se os referidos medicamentos e vacinas se conformam ou não com as exigências necessárias para serem licenciados. Desde já, se pode afirmar claramente que não, nenhuma vacina está em condições de passar o teste para aprovação. Afinal, tal aprovação é obtida com o pretexto de uma «urgência», que não é mais que pressão exercida sobre políticos e agências que - teoricamente - deveriam ser independentes dos interesses das grandes farmacêuticas. Ainda por cima, os fabricantes de vacinas obtiveram «um passe livre», ou seja, estão isentos de quaisquer responsabilidades sobre acidentes decorrentes do uso de suas vacinas, não podem tais casos ser julgados em tribunal. As vítimas terão de recorrer aos Estados, sendo portanto eles - ou seja, nós todos, contribuintes - a pagar pelo que foi incompetência, ou desleixe, ou mão criminosa dos fabricantes... 

- No plano dos Estados e dos governos, a crise do COVID foi «um maná». Não de dinheiro, porém, pois ficaram numa situação de falência manifesta: os chamados estímulos à economia, são apenas impressão monetária, cujo benefício é para os muito ricos, apenas, indo inflacionar as bolhas de activos financeiros, com prejuízo para a economia real. 
Foi um maná, porque lhes permitiu por em prática técnicas de controlo de massas, que se atribuíam tradicionalmente aos regimes totalitários, em particular ao da China Popular. 
A introdução de tais técnicas foi «pacífica», raros foram os que apontaram os aspectos das mesmas, claramente violadores da legalidade, da constitucionalidade e da protecção dos direitos humanos. Porém, assiste-se à introdução de toda a espécie de controlo, por uma «polícia sanitária», associada à saturação «das ondas» com propaganda, já nem sequer disfarçada, ao ponto de ser impossível ouvir, ver ou ler, na media «mainstream», algo que contradiga a narrativa dominante. Em duas palavras, a democracia morreu.

- Os magnates e políticos que se reúnem entre eles, no Clube de Bilderberg ou no Fórum Mundial de Davos, parecem levar a cabo o seu jogo sem grande oposição. As oposições estão neutralizadas pelo medo, pela cooptação, ou pela influência de organizações ditas independentes, as NGO /ONGs - organizações não-governamentais - que fazem o jogo dos muito poderosos, financiadas pelas suas fundações (como NED - National Endowment for Democracy dos EUA, ou a Fundação para «uma Sociedade Aberta» de Georg Soros).

- Sabia-se, desde o princípio, a quem beneficiavam os tumultos levados a cabo por «Black Lives Matter» e «Antifa», sabia-se mesmo quem eram os seus financiadores. A existência de uma atmosfera de golpe de Estado, de revolta latente, contra o regime Trump, tinha de se revestir do aspecto duma revolta popular, mas as forças que estavam por detrás do palco, as que manobravam os manifestantes, não deixavam dúvidas sobre quais as causas profundas. O resultado eleitoral obtido por Joe Biden, depois do núcleo duro do partido democrata ter afastado os outros candidatos à presidência, que tinham algum laivo de esquerda, como Bernie Sanders ou Elizabeth Warren, foi o mais inexpressivo que dar se pode. Os apoiantes de Trump dizem que a eleição lhe foi roubada. Pode ser que tenham razão, mas... numa eleição, «não são os votantes que contam, são os que contam os votos*».

- No domínio geo-estratégico, a máquina de guerra dos EUA, só ou conjuntamente com seus aliados, reforçou ou intensificou a ocupação do Afeganistão, da Síria, do Iraque. As esquadras dos EUA sulcam os mares da China, bloqueiam o acesso de navios mercantes aos portos da Venezuela. Com apoio da vassalagem - NATO, etc -  intensificam manobras e provocações às fronteiras de países «inimigos» Rússia e China. Viveram-se em 2020 momentos só comparáveis às fases mais tensas da chamada Guerra Fria. 
De facto, esta nunca deixou de existir: Há um «partido», sempre presente dentro de ambos os partidos do poder nos EUA - Democrata e Republicano - que tem sido dominante: o «partido» que defende os interesses do complexo militar-industrial e advoga uma constante pressão, ou seja, provocações constantes, contra os inimigos, «com vista a que estes não se atrevam a tomar acções ofensivas», falando a linguagem deles.

- Temos agora situações de total inversão dos papeis: Os supostos anti-democráticos regimes de Putin e de Xi Jin Pin, avançam com soluções de paz, de redução da escalada militar, do armamento estratégico; os «democráticos» líderes do Ocidente, fazem o oposto e incentivam a subversão, «revoluções coloridas», às fronteiras ou dentro dos territórios adversários.

- Temos os líderes dos países dos BRICS, supostamente anti-liberais, a proporem maior abertura comercial, um entendimento básico para manter o livre comércio. Enquanto os líderes do «Ocidente», supostamente herdeiros da tradição liberal (tanto liberalismo político, como económico),  não param de erguer barreiras, de impor sanções (ilegais) e discriminar ou excluir empresas, sendo o caso da Huawei, apenas o mais visível. 

- Finalmente, no plano da economia mundial, os países ditos emergentes, são os que realmente já emergiram, pois tiveram uma recuperação rápida da sua produção, após a crise do COVID, como se verifica pelo crescimento da China e da Coreia do Sul. Enquanto europeus e norte-americanos, supostamente «desenvolvidos», estão a afundar-se a grande velocidade. 
É legítimo estranhar que, para esse afundamento do Ocidente, estejam a contribuir afinal os que detêm as rédeas da economia e do poder político. Porém, os oligarcas e seus mandatários políticos não são idiotas nem suicidas. Eles sabem que as economias dos seus países estão metidas num beco sem saída.
O montante das dívidas, sejam elas dos Estados, empresas ou famílias, atingiu e ultrapassou os níveis de solvência, ou seja, os níveis de endividamento em que as dívidas são pagáveis pelos devedores. Tal já não é o caso. Em vez disso, há uma fuga para a frente, uma impressão monetária desenfreada, que impulsiona bolhas especulativas, como nunca. 
O resultado disto será, com certeza, muito duro para «os de baixo» e, mesmo, para os «do meio». 

- O chamado Great Reset resume-se ao seguinte: 
Um plano destinado a eliminar as dívidas acumuladas, sem que a oligarquia perca muito, ou até, nalguns casos, consiga ganhar, pela ampliação do seu mercado, por exemplo. 
Por contraste, sabendo-se que os 99%, o pouco que possuem irão perder, os oligarcas e os governos ao seu serviço preparam o terreno: reforçam polícias, dotando-as de meios, torcem e retorcem as legislações, para que a repressão sobre os desapossados possa ocorrer, (se possível) com um semblante de legalidade. Para tal, também lhes interessa ter uma media totalmente escrava, ou seja, propalando um fluxo contínuo de «informação» que é, na realidade, condicionamento psicológico das massas. 

- Não acredito que as pessoas sejam estúpidas; podem estar desinformadas. Mas, muitas estão a acordar para a distopia em curso e compreendem que eles (os poderosos) só querem manter a passividade das multidões para continuar no poder. 
Acredito que este jogo dos poderosos é muito arriscado, pois não podem evitar que muitas pessoas e povos se revoltem, face às injustiças e ao agravamento da exploração e miséria, que eles estão a provocar, neste momento. 
Inclusive, acredito que haja pessoas, nos organismos de repressão do Estado, que percebem como estão a ser usadas contra suas próprias famílias, pelos globalistas /fascizantes. 

Esta ínfima oligarquia, agrupada em clubes, fórums, ONG's, fundações, empresas de «high tech» e de armamento e em diversos departamentos estatais, tem o intuito de se apropriar todos os recursos do planeta, mas só pode fazê-lo pela astúcia, pela corrupção de elementos políticos eleitos das nações. 

Ela tem uma agenda muito clara**, que conduzirá, caso a cidadania deixe, a um controlo das massas mais eficaz que as ditaduras totalitárias do passado. 

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*Uma afirmação correntemente atribuída a Stalin, mas nada permite afirmar que ele jamais a tenha proferido. A ideia é que o controlo do processo pós-eleitoral é determinante do resultado, ou seja, as eleições são falsificadas. Isso é que é determinante para o seu resultado...

**Quem tenha dúvidas sobre a veracidade da agenda da oligarquia mundial, veja o excelente documentário, saído a 15 de Janeiro de 2021, The New Normal.
 

quinta-feira, 19 de novembro de 2020

VÍDEO INTELIGENTE SOBRE A EVOLUÇÃO DA CHINA (em francês)

                                             


                                          (podes accionar as legendas automáticas em francês)

                                           https://www.youtube.com/watch?v=KjReGwbQDhM

quarta-feira, 9 de setembro de 2020

[Manlio Dinucci] O LADO NEGRO DA 5G: O USO MILITAR



A manifestação de 12 de Setembro, em Roma, “Stop 5G” concentra-se, com razão, nas possíveis consequências das emissões electromagnéticas para a saúde e para o meio ambiente, em particular sobre o decreto que impede os prefeitos de regulamentar a instalação de antenas 5G, na área municipal.
No entanto, continua a ignorar-se um aspecto fundamental desta tecnologia: o seu uso militar. Já fálamos disso no Il Manifesto (10 de Dezembro de 2019), mas com resultados escassos. Os programas sucessivos lançados pelo Pentágono, documentados oficialmente, confirmam o que escrevemos há nove meses.
A “Estratégia 5G”, aprovada em 2 de Maio de 2020, estabelece que “o Departamento de Defesa deve desenvolver e empregar novos conceitos operacionais que utilizem a conectividade ubíqua oferecida pela tecnologia 5G para aumentar a eficácia, resiliência, velocidade e letalidade das nossas forças armadas”.
O Pentágono já está a experimentar aplicações militares desta tecnologia em cinco bases aéreas, navais e terrestres: Hill (Utah), Nellis (Nevada), San Diego (Califórnia), Albany (Geórgia), Lewis-McChord (Washington). Confirmou, em conferência de imprensa, em 3 de Junho, o Dr. Joseph Evans, Director Técnico da 5G, do Departamento de Defesa.
Ele então anunciou que as aplicações militares da 5G em breve serão testadas noutras sete bases: Norfolk (Virginia), Pearl Harbor-Hickam (Hawaii), San Antonio (Texas), Fort Irwin (Califórnia), Fort Hood (Texas), Camp Pendleton (Califórnia), Tinker (Oklahoma).
Os especialistas prevêem que a 5G terá um papel decisivo no desenvolvimento de armas hipersónicas, inclusive as que têm ogivas nucleares: para guiá-las em trajectórias variáveis, a fim de evitar mísseis interceptores, tem de recolher, processar e transmitir muito rapidamente, enormes quantidades de dados. É necessário o mesmo para activar as defesas em caso de ataque com tais armas, confiando nos sistemas automáticos.
A nova tecnologia também terá um papel fundamental na battle network (rede de batalha), sendo capaz de conectar milhões de equipamentos de rádio bidirecionais numa área circunscrita.
O 5G também será extremamente importante para os serviços secretos e para as forças especiais: tornará possível sistemas de espionagem muito mais eficazes e aumentará a letalidade dos drones assassinos.
Essas e outras aplicações militares dessa tecnologia estão, certamente, também a ser estudadas na China e noutros países. O portanto, o que está em curso sobre a 5G não é só uma guerra comercial.
Confirma-o o documento estratégico do Pentágono: “As tecnologias 5G representam capacidades estratégicas determinantes para a segurança nacional dos Estados Unidos e a dos nossos aliados”. É necessário, portanto, "protegê-las dos adversários" e convencer os aliados a fazerem o mesmo para garantir a "interoperabilidade" das aplicações militares da 5G no âmbito da NATO.
Isto explica por que é que a Itália e os outros aliados europeus dos EUA excluíram a Huawei e outras empresas chinesas das licitações para o fornecimento de equipamentos de telecomunicações 5G.
“A tecnologia 5G - explica o Dr. Joseph Evans numa conferência de imprensa, no Pentágono - é vital para manter as vantagens militares e económicas dos Estados Unidos”, não só contra os seus adversários, principalmente a China e a Rússia, mas também contra os próprios aliados.
Por esta razão "o Departamento de Defesa está a trabalhar estreitamente com parceiros industriais, que investem centenas de biliões de dólares em tecnologia 5G, a fim de explorar esses investimentos maciços para aplicações militares de 5G", incluindo "aplicações de dupla utilização" militares e civis.
Por outras palavras, a rede comercial 5G, construída por empresas privadas, é usada pelo Pentágono com uma despesa cujo custo é menor do que seria necessário se a rede fosse construída apenas para fins militares.
Serão os utentes comuns - a quem as multinacionais 5G venderão seus serviços - a pagar pela tecnologia que, como prometem, deve "mudar as nossas vidas", mas que ao mesmo tempo será utilizada para criar armas de nova geração para uma guerra que significará o fim das gerações humanas.

Manlio Dinucci
Il Manifesto, 8 de Setembro de 2020

FRANÇAIS ITALIANO PORTUGUÊS
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APPEAL TO THE LEADERS OF THE NINE NUCLEAR WEAPONS' STATES

(China, France, India, Israel, North Korea, Pakistan, Russia, the United Kingdom and the United States)



Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos
Email: luisavasconcellos2012@gmail.com

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

[Manlio Dinucci] COM GUERINI, AINDA MAIS LIGADOS AO PENTÁGONO


                         



“Relação historicamente privilegiada, que é necessário reforçar o mais possível": assim, na sua visita a Washington (29-31 de Janeiro), o Ministro da Defesa, Lorenzo Guerini (PD) definiu a ligação da Itália com os Estados Unidos.

O Secretário de Defesa dos EUA, Mark Esper, definiu a Itália como “um sólido aliado NATO” que, albergando mais de 34.000 militares e outros funcionários do Pentágono, “desempenha um papel vital na nossa projecção de força na Europa, no Mediterrâneo e no norte da África”.

O papel da Itália é mais importante de tudo quanto diga o mesmo Esper. O Pentágono pode lançar do nosso território, através dos comandos e das bases dos USA/NATO, operações militares numa área que, do Atlântico se estende à Rússia e, ao sul, a toda a África e ao Médio Oriente. Sempre com o consentimento e com a colaboração do Estado italiano.

“Ambos os países - sublinha o comunicado oficial do Pentágono - reconhecem a influência desestabilizadora do Irão no Médio Oriente e concordam em continuar a trabalhar juntos para conter as actividades iranianas, cada vez mais perturbadoras”. É assim cancelada a posição formal assumida pelo Governo italiano (e, portanto, pelo próprio Guerini) que, após o assassínio de Soleimani ordenado por Trump e a reacção iraniana, tinha sublinhado a necessidade de “evitar uma escalada posterior e favorecer uma redução da tensão através da diplomacia”. Confirmando que a decidir é Washington e não Roma, Guerini declarou, na conferência de imprensa no Pentágono, que “a Itália decidiu permanecer no Iraque após uma conversa telefónica com o Secretário Esper”.

Guerini - informa o Ministério da Defesa - também foi recebido pelo Conselheiro do Presidente Trump, Jared Kushner, “promotor do recente plano de paz para o Médio Oriente”, ou seja, do plano de criar um “Estado Palestiniano” segundo o modelo das “reservas índias” criadas pelos EUA, no século XIX.

O Ministro Guerini também teve, de Esper, alguns puxões de orelhas: a Itália deve empenhar-se mais para levar a sua despesa militar (cerca de 70 milhões de euros por dia) a, pelo menos, 2% do PIB (cerca de 100 milhões de euros por dia ); deve limitar também ou proibir o uso da tecnologia chinesa 5G, em particular a da Huawei, que “compromete a segurança da Aliança”.F-35
No entanto, imediatamente a seguir, o Ministro Guerini teve a sua maior satisfação: o Chefe do Pentágono agradeceu-lhe por “ter reforçado o papel da Itália como parceiro fundamental dos Estados Unidos na indústria da Defesa, e pelo seu forte apoio ao programa do caça F-35, no qual a Itália, um parceiro de segundo nível, fez investimentos importantes na pesquisa e no desenvolvimento”.

Em Washington - lê-se num comunicado publicado em Roma - o Ministro Guerini encontrou-se com “representantes da indústria italiana da Defesa e com os principais ‘think tanks’ do sector”.

Em primeiro lugar, certamente, com os dirigentes da Leonardo - a maior indústria militar italiana, da qual o Ministério da Economia e Finanças é o principal accionista - que nos EUA fornece produtos e serviços às forças armadas e às agências de inteligência/serviços secretos, e em Itália gere a fábrica de Cameri dos caças F-35 da Lockheed Martin.

Guerini também se reuniu, em Washington, com os gerentes da Fincantieri, controlada em mais de 70% pelo Ministério da Economia e Finanças. Nos EUA, o Fincantieri Marine Group constrói navios de combate costeiros para a US Navy. Quatro navios do mesmo tipo estão agora a ser construídos por esta empresa Fincantieri para a Arábia Saudita, sob um contrato de 2 biliões de dólares, estipulado pela Lockheed Martin.

Em 2019, enquanto Fincantieri, controlada pelo governo, assinava o contrato para a construção de navios de guerra para a Arábia Saudita, a Câmara aprovava uma moção, apresentada pela maioria do governo, que pedia um embargo à venda de armamentos à Arábia Saudita.

il manifesto, 4 de Fevereiro de 2020


               







DECLARAÇÃO DE FLORENÇA
Para uma frente internacional NATO EXIT,
em todos os países europeus da NATO


Manlio DinucciGeógrafo e geopolitólogo. Livros mais recentes: Laboratorio di geografia, Zanichelli 2014 ; Diario di viaggio, Zanichelli 2017 ; L’arte della guerra / Annali della strategia Usa/Nato 1990-2016, Zambon 2016, Guerra Nucleare. Il Giorno Prima 2017; Diario di guerra Asterios Editores 2018; Premio internazionale per l'analisi geostrategica assegnato il 7 giugno 2019 dal Club dei giornalisti del Messico, A.C.

Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos
Webpage: NO WAR NO NATO

quinta-feira, 15 de agosto de 2019

SOBRE A GUERRA HÍBRIDA


A guerra híbrida levada a cabo pelos EUA contra a China, com a assistência de seus mais próximos vassalos, Reino Unido, Canadá, Austrália... é um caso bem estabelecido em como uma potência em declínio, está a fazer tudo para travar e - se possível - inverter a ascensão de outra potência a primeiro lugar mundial. 

Embora a China seja uma antiquíssima civilização que já foi, em tempos, o mais poderoso império sobre a Terra, um século de opressão colonial e devastações terríveis antes e durante a IIª Guerra Mundial, deixaram uma pesada herança. 
O estado de pobreza e fraqueza levaram que a República Popular da China (proclamada em 1949) não fosse considerada o principal objectivo estratégico dos EUA e da NATO, durante a guerra fria, mas sim a União Soviética.
Quando se desmoronou a URSS e a Rússia foi transformada em repasto para os apetites das multinacionais (sobretudo do petróleo) durante o governo fraco e corrupto de Yeltsin, parecia efectivamente que - quer se gostasse, ou não - se iria assistir a «um século americano», conforme afirmado num célebre manifesto (PNAS) tornado público por um grupo de «neocons», pouco tempo antes da viragem do milénio. 

A Rússia de Putin encarregou-se de destruir as veleidades de omnipotência das forças mais agressivas do imperialismo americano. 
Mas, igualmente, jogaram dois outros factores:
-A forte resistência encontrada pelos americanos e seus aliados da NATO no Afeganistão e no Iraque, 
-A ascensão da China ao lugar de gigante económico, com a sua iniciativa das Novas Rotas da Seda. Este desenvolvimento é lógico e corresponde a uma filosofia - intrinsecamente liberal - de respeito pelos parceiros comerciais e de vantagens mútuas. 
É preciso não esquecer que isto vem na sequência da tarefa que lhe foi proporcionada e favorecida pelos próprios grandes capitalistas ocidentais: a de tornar-se a «fábrica do mundo». 
É, portanto, particularmente desesperante, numa observação das relações internacionais e políticas no Ocidente, verificar que os ditos dirigentes apenas orientaram a barca ao sabor da corrente maior de dinheiro. 
Assim foi com todos os presidentes dos EUA, desde Bill Clinton, especialmente com Barack Obama, que fez acreditar que haveria uma real viragem da política dos EUA devido à cor de sua pele, mas que foi o instigador da política de «pivot to Asia» /«viragem para a Ásia», o que em claro significa viragem para fazer o cerco à China, unificando contra ela uma coligação de forças (estados vassalos) e aumentando os dispositivos bélicos, desde as bases militares, às frotas que a cercam em permanência.
Assim, os EUA cliente primeiro dos produtos industriais fabricados na China (muitos dos quais sob licença de firmas americanas), começaram a objectar contra a suposta «injustiça» da grande disparidade na balança comercial EUA-China, tendo a administração Trump passado a sancionar alguns bens importados com tarifas, já em 2018. 
Esta política de pressão sobre a China foi subitamente agravada, em Dezembro desse ano, com o aprisionamento da vice-presidente executiva da Huawei - quando ela se encontrava em trânsito em Vancouver, Canadá - sob pretexto desta firma ter «violado as sanções» contra o Irão, sanções ilegais e unilaterais e que não podiam obrigar cidadãos e empresas estrangeiros, comerciando fora das fronteiras dos EUA.
Xi Jin Pin e altos dirigentes chineses levaram a cabo conversações, com vista a minorar e - se possível - eliminar as situações de conflito comercial. Enquanto a administração Trump foi para conversações com outro espírito: insistia em queixas relacionadas com patentes, mas sem de facto chegar a algo concreto, que permitisse uma base negocial. As conversações capotaram e as tarifas decretadas por Trump entraram em vigor. Como retaliação, a China deixou de importar produtos agrícolas dos EUA (sobretudo soja, produzida pelos agricultores do Midwest, sólida base de apoio eleitoral de Trump).
As forças da propaganda, comandadas pela CIA e outras agências, intensificaram a propaganda contra o alegado mau registo de direitos humanos da China, nomeadamente na região mais ocidental do Xinjiang onde existem populações de etnias minoritárias, muçulmanas. Entre eles, a CIA conseguiu infiltrar elementos radicais islâmicos, muitos tendo experiência de combate nas fileiras de grupos djihadistas na Síria. Pelo que, as medidas de contenção - de «contra-guerrilha» - de Pequim, podem ser consideradas demasiado duras, porém têm de ser contextualizadas, coisa que a imprensa ocidental não faz, em 99% dos casos.

Agora, a pretexto de uma lei de extradição que estava em discussão na Assembleia Legislativa de Hong-Kong, elementos radicalizados procuram desencadear a repressão do exército, sendo que Pequim não irá permitir que a violência e o caos sejam semeados impunemente no território de Hong-Kong. 
Este território sempre fez parte da China; esteve sob ocupação britânica desde as guerras do ópio e foi restaurada a soberania chinesa em 1997, através do processo de devolução, negociado com o Reino Unido. Este processo reconhece a soberania chinesa ao mesmo tempo que institui uma zona administrativa especial. A situação económica do território de Hong-Kong é especial, na medida em que as leis socialistas não se aplicam nele; ou seja, a propriedade dos meios de produção continua a ser privada até 2047. 
A revolta estudantil, apesar de ter inicialmente uma relativa legitimidade, está a tomar uma feição cada vez mais violenta e não se compreende quais as motivações políticas concretas, pois o território de Hong-Kong está firmemente na China. As bandeiras do Reino Unido ou dos EUA, agitadas por alguns manifestantes - mais do que exprimirem uma influência directa destes países na revolta - é apenas uma maneira de fazer valer uma adesão primária ao Ocidente, no desespero de causarem simpatia na opinião pública e nos poderes ocidentais. É escusado dizer que eles estão completamente equivocados a esse respeito.
O «Ocidente», que está sempre pronto a criticar a China, ou outros, na ONU e noutros aéropagos, tem feito muito mais e muito pior, em relação a manifestações semelhantes, nos seus próprios países. Mas, sobretudo, a China é demasiado importante para o comércio e as relações económicas mundiais para ser decretado um embargo comercial. Os EUA e seus aliados bem gostariam de o fazer, mas simplesmente não podem, devido à dependência estrutural do seu aparelho produtivo e de aprovisionamento em produtos de consumo, das importações chinesas. 
Um mundo em que os produtos chineses deixassem de fluir, simplesmente parava, num espaço de tempo relativamente curto. Imagino que bastariam semanas, não meses... pois tudo rapidamente começaria a falhar, ao não haver peças intermédias no fabrico, como micro-processadores, e outras. 

Talvez, a única coisa positiva que nos trouxe a globalização capitalista, seja a impossibilidade de uma guerra total, apenas possibilitando uma série de provocações bélicas, desestabilizações, subversões ... tudo o que cabe dentro do conceito de «guerra híbrida». 

sexta-feira, 24 de maio de 2019

A GUERRA COMERCIAL, O PONTO DE VISTA CHINÊS (E MEU COMENTÁRIO)


Foi com grande interesse que li o artigo do South China Morning Post, Donald Trump’s trade war and Huawei ban push China to rethink economic ties with US 

https://www.scmp.com/economy/china-economy/article/3011319/donald-trumps-trade-war-and-huawei-ban-push-china-rethink

                      A Chinese diplomat in Pakistan tweeted this picture of an apple, sliced to look like the Huawei logo, in a series of social media posts on Tuesday defending the tech company. Photo: Twitter 
                     [foto de maçã cortada, simulando o logo da Huawei]

Este artigo estimulou-me a redigir as considerações seguintes:

Quanto a mim, a guerra comercial dos Estados Unidos com a China estava programada pela equipa de Trump (incluindo Bannon, mesmo que este já não tenha uma posição oficial na Casa Branca): a prisão em Vancouver (Canadá) e as acusações (com pedido de extradição) contra a directora financeira Meng Wanzhou não foram coincidências infelizes, foi tudo programado para ocorrer PRECISAMENTE durante o G20 (1 Dez de 2018). 

Por outro lado, o avanço da tecnologia 5G chinesa, faz com que não seria possível uma empresa ocidental, mesmo a mais forte, obter uma fatia dominante do novo mercado, caso houvesse uma competição «saudável» entre empresas. A Huawei está muito mais avançada que as suas concorrentes no que toca à tecnologia 5G, o que aliás é reconhecido pelos especialistas ocidentais. 

Finalmente, a obsessão da política americana actual em fazer com que as empresas voltem para o solo americano, para que se re-industrialize o país, só pode ser conseguida através dum corte dramático, duma interrupção da economia mundializada, globalizada, funcionando segundo as regras da OMC. 
Tudo se passa como se os americanos descobrissem finalmente, com espanto, como os chineses souberam tirar partido da globalização, desenvolveram uma inteligente estratégia para penetrar os mercados mundiais com seus produtos e desenvolveram infraestruturas em numerosos países (as Novas Rotas da Seda).

Penso que o desenvolvimento da China é irreversível, no médio prazo. Podem existir alguns atrasos, mas são ultrapassáveis. Pelo contrário, a possibilidade dos EUA se manterem como potência hegemónica, que dita a sua lei às outras, acabou. 
Agora, os EUA estão a jogar para manterem dentro da sua esfera uma parte do mundo (o Ocidente), cercando-a e proibindo-a de fazer negócios ou comércio com as outras potências, que não estão para se sujeitarem à vassalagem.

No fundo, isto insere-se na lógica de Washington em criar uma nova guerra fria mas, em vez da «cortina de ferro», teríamos um «cinto de castidade de ferro», com ameaças de sanções económicas, e até ameaças militares, para aliados recalcitrantes, que teimem em manter boas relações com o lado proibido. 

Repare-se que tudo o que se passa agora com a China, não é inédito. 
Foi o que, de certa maneira, se passou com o golpe na Ucrânia, na origem do esfriar das relações entre a Rússia e os países da Europa ocidental: estes tiveram de fazer, sob mando dos EUA, uma guerra de sanções económicas, para sua desvantagem. 
Depois, agravaram-se ainda mais as relações entre os EUA e a Rússia, com a denúncia do tratado sobre mísseis intermédios; aqui de novo, a Europa é a grande vítima da situação pelo aumento de riscos de deflagração de guerra nuclear no seu solo. 
O mesmo raciocínio vale para a retirada dos EUA do acordo do nuclear civil com o Irão, envolvendo várias potências, incluindo europeias, a colocação de sanções contra o Irão, etc. 

Tudo isto ocorre sob a batuta dos neo-cons. Estes dominam completamente o presidente Trump, na esfera da política externa. Terão feito com ele um acordo informal, em como o poupavam ao «impeachment» e, em contrapartida, ele seguia as directivas deles, em matéria de política externa.

Creio que, a um nível mais geral, os EUA não podem aspirar a mais do que uma nova versão do tratado de Tordesilhas. Isso significa que os EUA, a Rússia e a China têm de chegar - mais cedo ou mais tarde - a um acordo. 
Os EUA terão o domínio incontestado do Ocidente (Europa ocidental e Continente Americano). A Rússia e a China terão suas esferas de influência no Extremo Oriente, Ásia central e Europa oriental. 
Além disso, haverá uma maior fluidez na circulação de mercadorias (livre-trânsito) ao longo das rotas terrestres e marítimas que ligarão as várias partes do super-continente euro-asiático ... 
  



quinta-feira, 7 de março de 2019

PEQUIM NÃO NECESSITA DE «PORTAS DAS TRASEIRAS» DE HUAWEI

                      

Um perito diz que a National Security Agency dos EUA nunca encontrou «portas das traseiras» da Huawei para a espionagem chinesa.

 Por FRANK CHEN

 Enquanto os EUA e alguns dos seus aliados se juntam para excluírem a Huawei das suas infraestruturas de telecomunicações, alguns peritos em cibersegurança ocidentais questionam abertamente as razões de porem em destaque e penalizarem a empresa chinesa de tecnologia.
Eles dizem que é «inverosímil» que a Huawei tenha construído as chamadas «portas das traseiras» nos sistemas porque teriam medo de ser detectadas, em especial considerando que Pequim já pode «hackear» (invadir) os sistemas estrangeiros sem recorrer a tal auxílio.
Washington insiste em que qualquer nação que utilize aparelhagem da Huawei nas redes sem fios da próxima geração (5G) está a dar a Pequim um instrumento directo para espionagem. Os americanos dizem que o gigante de tecnologia baseado em Shenzhen, ao colocar um laço global no equipamento de 5G está a colocar-se às ordens do poder, pondo a empresa a funcionar como agência de Pequim.
As autoridades dos EUA também citam a lei chinesa que «compele os seus cidadãos e suas companhias a participar em actividades de vigilância».

                          

A directora financeira de Huawei, Meng Wanzhou está agora em liberdade sob caução em Vancouver depois de ter estado detida durante uma paragem em trânsito no aeroporto da cidade, em Dezembro. O Canadá pode decidir extraditá-la a pedido dos EUA por alegadamente ter violado as sanções contra o Irão.  Foto: Reuters

Mas os peritos em segurança disseram à «Associated Press» que o governo dos EUA estava provavelmente a exagerar esse risco. A realidade é que Pequim não necessita de implantar software malicioso (malware) ou acesso clandestino a aparelhagem da Huawei como routers, interfaces ou estações de Internet sem fio para se infiltrar nas redes do estrangeiro, as quais já têm «notoriamente fraca segurança» fazendo delas prezas fáceis de serem exploradas.
Jan-Peter Kleinhans, um especialista do grupo berlinense «Neue Verantwortung Stiftung» especializado em segurança informática e vigilância de Estados, diz que se os chineses quiserem conectar-se ou imiscuir-se nas redes globais «eles farão isso independentemente do tipo de equipamento que esteja usando» e que os hackers ao serviço de Pequim, são muito eficientes e não têm mostrado preferência pela tecnologia de uma empresa sobre a de outra.
Além disso, a Huawei já teria sido apanhada e banida há muitos anos se tais portas das traseiras tivessem sido instaladas nos seus equipamentos, para benefício da espionagem de Pequim, pois teria sido descoberta pelos seus clientes estrangeiros ou pelos serviços de segurança dos governos.
A Huawei accionou um contra-processo contra o governo dos EUA por acusações fabricadas e sem quaisquer provas, da sua alegada cumplicidade em espionagem.


Os aliados europeus têm mostrado relutância em adoptarem um banimento sem provas do equipamento da Huawei. Por exemplo, a Alemanha assinalou que não faz tenção de restringir o negócio da Huawei, firmando em vez disso um acordo de não-espionagem recíproca com a China. A Polónia e República Checa (ambas as nações membros da NATO) têm também autorizado a Huawei a penetrar nos respectivos mercados de telecomunicações e de usuários finais.
A AP também citou Priscilla Moriuchi, ex-directora das operações do Extremo-Oriente da NSA (National Security Agency) dos EUA de que não tinha conhecimento da NSA ter jamais encontrado «portas das traseiras» criadas pela Huawei para a espionagem chinesa.
                     Passengers watch a television screen broadcasting news about Edward Snowden on a train in Hong Kong, June 14, 2013. The former US spy contractor Edward Snowden created an international furore when he revealed US surveillance secrets to the media. Snowden was in Hong Kong when the first stories about the leaks were published. As Washington sought his extradition, Hong Kong allowed Snowden to leave in June for Moscow where he was given asylum. Supporters see him as a whistle-blower who boldly exposed government excess, but others consider him a traitor. Photo: Reuters/Bobby Yip
Uma foto de 2013 mostra passageiros vendo as notícias sobre Edward Snowden num comboio em Hong Kong. O ex-espião contratante, dos EUA, criou uma indignação internacional quando revelou  à media internacional os segredos da vigilância dos EUA. Como Washington procurou obter a sua extradição as autoridades de Hong Kong autorizaram-no a partir para Moscovo onde lhe foi dado asilo. Foto: Reuters

A ironia consiste no conhecimento geral de que os EUA fizeram aquilo exactamente de que acusam a Huawei de estar fazendo.
De acordo com documentos expostos em 2013 pelo contratante dissidente da NSA, Edward Snowden, que fugiu de Hong-Kong e obteve posteriormente asilo de Moscovo, os EUA «plantaram dispositivos de vigilância nos equipamentos de redes,  fabricados por companhias como Cisco Systems, e estes depois foram distribuídos pelo mundo inteiro».
As revelações chocantes do dador de alerta estiveram na origem de uma exclusão dos produtos Cisco da parte de Pequim.
Apesar do bloqueio coordenado dos EUA, a Huawei afirma que estabeleceu contratos com 30 firmas emissoras de sinal, internacionalmente, para teste e ensaio de redes 5G e tecnologias sem fios («wireless»).





terça-feira, 11 de dezembro de 2018

ENQUANTO A VERDADE É NEGADA, O ESTADO PROFUNDO AVANÇA


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Enquanto a verdade é negada ao público americano e internacional em geral, o «Estado Profundo» da nação que se auto-classifica como «indispensável» continua a manobrar com total impunidade.

Em múltiplas ocasiões verifica-se que Trump foi ultrapassado pelo «Estado profundo», nomeadamente em relação à sua política de apaziguamento com a Rússia, sabotada múltiplas vezes, sendo a última o incidente marítimo no estreito de Kerch, com navios de guerra ucranianos entrando em águas territoriais russas, uma manobra destinada a provocar um aumento de tensão ao nível não apenas local, mas a bloquear qualquer movimento de países europeus e  de  Trump no sentido de aliviar a política de sanções
Estas sanções, como sabemos, têm sido talvez piores para os países europeus e aliados dos EUA, do que para a Rússia propriamente. Esta política tem propiciado que Putin leve a cabo a modernização do arsenal estratégico russo, o aumento da operacionalidade das forças armadas, o reforço da aliança com a China em todos os domínios, incluindo o militar, a aceleração da «desdolarização» da economia russa. 

O incidente com a prisão no Canadá, por pedido expresso dos americanos, sobre a cidadã chinesa, Meng Wanzhou, directora executiva da Huawei, filha do principal accionista da mesma, tem contornos demasiado escabrosos. 
O pretexto de que a Huawei tem relações comerciais com o  Irão, seria risível, se não fosse uma negação patente da lei e direito internacionais. Com efeito, a referida directora da Huawei não cometeu nenhum crime, nem face às leis americana ou canadiana nem face à lei internacional, para ser colocada nesta posição. É, portanto, o equivalente ao nível de Estados de uma tomada de refém por bandidos. Reflecte este acto exactamente aquilo em que se tornaram os EUA, desde que os neocons fazem a lei, ou seja, desde as presidências de Bill Clinton, G. W. Bush, Obama e agora de Trump.

Em termos de lei internacional, os EUA deve ser considerado um «Estado pária», um «rogue State», pois as convenções e regras internacionais, quer as que regem relações ao nível dos Estados, quer de empresas tanto entre elas, como com Estados (direito internacional privado), estão a ser postas em causa flagrantemente pelos EUA, os quais só as invocam quando isso lhes convém para a sua retórica. 
Para cúmulo, também as convenções internacionais que protegem os cidadãos do arbítrio dos Estados, são espezinhadas, agora. 
Com esta política, os Estados-vassalos, particularmente na Europa, terão as maiores dificuldades de se alinharem e mesmo serão forçados a entrar em contradição com a política dos EUA. Já o fizeram em relação à retirada unilateral dos EUA do acordo com o Irão.  

Face a tanta falta de senso político e mesmo de senso comum, há que tentar compreender a razão e lógica subjacentes a isto tudo. Parece-me que o Estado profundo tem forçado Trump a aceitar políticas contrárias às suas crenças e à vontade que exprimiu na campanha eleitoral, que foram uma das razões porque foi eleito, sendo a outra, o facto de uma vasta camada de eleitores estar farta de ser humilhada por uma «elite» bem pensante (liberal de esquerda), que apoiava Clinton. 

Podemos criticar severamente as incoerências das posições e dos actos praticados por Trump, sem dúvida. Sem dúvida, ele tem responsabilidades. 
Mas, parece-me que ele está sujeito a chantagem. Parece-me que muito do que se passa por detrás da cena tem a ver com isso. Parece-me que o «Estado profundo» dispõe de meios eficazes de exercer chantagem. Usou essa chantagem com a pretensa cumplicidade russa na sua campanha e eleição de 2016, quando, na verdade, foram Obama e Hillary que deram aos russos a concessão (perigosa, em termos de defesa dos EUA), o acordo dito do urânio, segundo o qual os russos efectuariam a refinação do combustível nuclear, destinado às centrais nucleares americanas. 
Sabemos que o Estado profundo americano tem no seu passado o assassinato de um presidente (JF Kennedy) e de muitos outros destacados cidadãos (Martin Luther King, Malcolm X, etc, etc), para não falar do golpe de Estado, encoberto de ataque terrorista, do 11 de Setembro de 2001
Este Estado profundo não é «reformável» e nem creio que seja possível aplacá-lo. 
Trump tem sido obrigado a ceder em aspectos vitais da política americana. A própria composição do governo tem sofrido alterações no sentido de colocar homens e mulheres de confiança dos neocons, como John Bolton, enquanto garantes de que as políticas de Trump não tomem caminhos demasiado contrários aos desígnios estratégicos deles. 

Sem dúvida, os EUA são efectivamente um país de «partido único» como diz Chomsky, com duas alas, os Democratas e os Republicanos... Eu acrescentaria que por detrás da cena quem tem realmente a chave do poder nos EUA são os neocons, sendo estes voluntariamente, agentes do complexo militar industrial e securitário, agentes dos lobbies do armamento, da agro-indústria, da indústria farmacêutica e, sobretudo, da grande banca, de «Wall Street», os interesses financeiros, que possuem directa ou indirectamente uma enorme fatia dos EUA.