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quarta-feira, 6 de março de 2024

O YUAN ULTRAPASSA O EURO, NA SUA UTILIZAÇÃO INTERNACIONAL


O yuan está a deslocar o dólar e o euro nas trocas comerciais, com especial relevo para as compras de energia.
Quando foi admitido no cabaz de divisas que formam o SDR (ou «direitos de saque especiais», a «moeda interna» do FMI), as trocas em Yuan situavam-se à volta de 2% do mercado internacional de divisas. A fatia de trocas internacionais em yuan foi crescendo, até se tornar a segunda divisa no sistema de pagamentos mundial «Swift», com 5,8%.

 

domingo, 16 de julho de 2023

CRÓNICA ( Nº14 ) DA IIIª GUERRA MUNDIAL

                             


Temos de aceitar uma vez por todas que, apesar da guerra na Ucrânia ser uma carnificina como não houve muitas, o cenário principal desta Terceira Guerra Mundial joga-se em planos muito diferentes do mero confronto militar. É um confronto total: Nada mais óbvio, a meu ver, que a luta de uns (BRICS e associados) para arrancarem a hegemonia do dólar, por um lado. Por outro, os EUA e seus aliados, a fazerem tudo para guardar essa hegemonia, incluindo - mas não exclusivamente - através da guerra «cinética» ou dita convencional, fazendo pairar a ameaça de guerra nuclear.

 (Ver minhas crónicas anteriores: Crónica Nº13 da IIIª GUERRA MUNDIAL)

Li alguns artigos (ver links em baixo) e tentei resumir, neste escrito, o que aprendi com eles.



Alasdair Macleod chama-nos a atenção para o anúncio - feito pela Rússia - de que estaria para breve uma nova divisa, da responsabilidade dos BRICS, que seria apoiada no ouro. Os media ocidentais, tentaram - como de costume - ignorar ou minimizar a importância deste passo, anunciado para ser oficializado dentro de tempo muito breve, na cimeira dos BRICS de Johannesburg. Os BRICS,  entretanto, vão-se alargando, a sua estrutura está a fazer a junção com outras instituições da globalização «alternativa», a Organização de Cooperação de Xangai e a União Económica Euroasiática. Trata-se - nada menos - da maioria da Ásia (incluindo países do Médio-Oriente), além de países de África e América Latina. Ao todo, serão uns 61 países (se a minha contagem está certa), a formarem este novo bloco, em torno do núcleo inicial dos BRICS.

A segunda peça, é de autoria de Marcel Salikhov, o diretor do Centro de Peritagem Económica da Escola Superior de Economia de Moscovo, inicialmente publicada no Valdai Discussion ClubEste documento lê-se como sendo uma planificação estratégica para acabar com a hegemonia do dólar. O autor di-lo, sem esconder os objetivos, com a segurança de alguém que sabe ter apoio e colaboração dum conjunto de especialistas monetários de vários países. Estes países constituíram a «Grande Aliança Informal»  que se alargou e consolidou, perante a constatação de que os EUA e seus vassalos não hesitavam em deitar pela borda fora as «regras internacionais», como as do FMI e do Sistema Monetário Mundial (Por ex.: O estatuto especial dos bancos centrais e dos seus ativos), ou a utilização de sanções unilaterais como meio de chantagem política sobre regimes não afetos aos senhores hegemónicos (Aliás, indo contra o espírito e a letra dos tratados da ONU e da OMC).  

Quem quiser, pode compreender -pela leitura do artigo - quais os passos propostos para a derrota do dólar enquanto instrumento bélico, usado para subjugar os Estados, exercendo sobre eles uma chantagem permanente, com o abuso do seu estatuto de «moeda de reserva».

Finalmente, o artigo do jornal on-line britânico Off-Guardian, por Riley Waggaman, correspondente em Moscovo. O rublo digital nasceu oficialmente, tendo a Duma (o parlamento russo) votado a lei na Terça-feira passada (a 11 de Julho de 2023). Note-se - de passagem - o silêncio, a falsa indiferença da media corporativa

O que me parece importante fazer sobressair é que este lançamento do rublo digital não é desgarrado, mas coordenado com o lançamento sob forma digital duma divisa própria dos BRICS. A China, por sua vez, já possui instrumentos técnicos para lançar o Yuan digital em grande escala. Já o fez, a nível experimental, em várias províncias.

Quem está imbuído de conceitos keynesianos, ou deles derivados, tem tendência a desprezar o papel monetário do ouro. Porém, agora, o ouro surge «em todo o seu esplendor». Qualquer país que queira aderir ao «novo clube», quer use um nome novo, ou o nome tradicional da sua divisa própria, precisa de ter um certo grau* de cobertura em ouro nas suas reservas bancárias. Isto tem  a sua lógica: Os países podem fazer comércio entre si usando moedas nacionais respetivas; mas, as trocas deverão ser periodicamente ajustadas pois, por coincidência somente, o valor das exportações dum país, cobriria exatamente o valor das importações do outro. 

[* Não se trata de convertibilidade automática em ouro, dum padrão-ouro como existiu no séc. XIX, até à Iª Guerra Mundial (1914-1918): Nessa época, as notas de banco eram literalmente certificados de ouro. O seu possuidor tinha direito de as trocar pela quantidade correspondente em ouro ao balcão dum banco comercial.]

O resultado de os membros, e da própria organização dos BRICS alargada, terem a sua divisa comum e as divisas digitais dos vários países (rublo, yuan, ...) com o «backing» do ouro, é que esvaziam as moedas digitais  que os países ocidentais pretendem lançar como versões digitais das divisas «fiat». Estas últimas, não são garantidas por nada, a não ser pela «confiança» nos bancos centrais e nos governos que as emitem!


ARTIGOS EM QUE ME BASEEI:

https://www.goldmoney.com/research/the-bell-tolls-for-fiat

https://www.informationclearinghouse.info/57678.htm

https://off-guardian.org/2023/07/15/the-digital-ruble-its-finally-here/


PS1 : Nomi Prins, em entrevista ao KWN, reforça os aspetos da mudança tectónica, referida no meu artigo acima. Veja e leia:

https://kingworldnews.com/nomi-prins-just-warned-what-is-about-to-be-announced-will-shock-the-world/



sexta-feira, 7 de abril de 2023

A DESDOLARIZAÇÃO ACELERA-SE

Para mim, e para muitas pessoas independentes, este movimento de desdolarização era inevitável. Porém, a velocidade a que a situação mudou, surpreende, tanto em termos monetários como das alianças geoestratégicas, tanto no sentimento das pessoas como no distanciamento de governos em relação aos EUA e ao dólar.
É que os EUA, nos últimos anos, acumularam erros estratégicos, fazendo com que inimigos e amigos se colocassem numa postura defensiva e acolhessem com grande interesse as propostas do bloco emergente, em que Rússia & China são pilares centrais, com os BRICS e com mais de uma centena de países, que entretanto aderiram a projetos das Novas Rotas da Seda.
Basta ver a perda de influência rápida dos EUA, primeiro na África a sul do Sahara e depois no Médio Oriente. Tendo os EUA - há duas décadas, apenas - uma situação hegemónica, agora, excetuando seus «vassalos/aliados», já não conseguem hoje impedir que os Estados procurem novas parcerias.
Nestas, procura-se a reciprocidade, os acordos «win-win» mas, sobretudo, sem interferências nos respetivos regimes políticos e no respeito pela soberania dos Estados, sejam eles fortes ou fracos, grandes ou pequenos.

Proponho ao leitor, que consulte os dois artigos abaixo, um de autoria de Alasdair Mcleod e o outro de Matthew Piepenburg. Dão-nos o contexto, assim como muita informação sobre a mudança tectónica em curso e esclarecimentos sobre o que já transparece sobre a nova arquitetura monetária mundial.
Creio que os povos do Sul têm a ganhar com a mudança, pois a utilização do dólar como moeda de reserva foi permitir que os governos americanos, sem escrúpulos, abusassem do privilégio.
Se eles não tivessem transformado o dólar em «arma de guerra», da guerra económica (ilegal e ilícita) e das sanções contra aqueles que lhes resistiam, talvez conservassem, por mais algum tempo, o predomínio do dólar, quer em termos de comércio internacional, quer em termos de moeda de reserva.
Assim, com a sua agressividade militar e a não menos brutal guerra económica, podem ainda fazer muito mal, mas não conseguem mais do que obter como «aliados», os que foram sujeitos a chantagem permanente.
Como conseguiram manter o dólar, nos últimos tempos? Pela força das bases militares que têm espalhadas nos 4 continentes e pelo terrorismo económico e financeiro, dos congelamentos e rapina de ativos dos Estados e particulares de países não submissos.
Estamos a viver uma mudança de paradigma, um momento histórico de mudança estrutural.



    Desde 2016, que o ouro é cotado e transacionado em Yuan, na bolsa de Xangai

https://www.goldmoney.com/research/time-to-trash-triffin

 https://goldswitzerland.com/golden-question-is-the-petrodollar-the-next-thing-to-break/





sábado, 11 de fevereiro de 2023

A DESDOLARIZAÇÃO ACELERA-SE

Segundo as últimas notícias, veiculadas por Pepe Escobar, os sistemas de pagamento bancário do Irão e da Rússia estarão em direta interação, em breve, formando uma plataforma imune às intervenções de guerra económica, que os EUA - pretensos «donos do mundo» - quiseram impor.  

Outro sinal claro de desdolarização, é o acordo firmado entre o Banco central da China  e o do Brasil: Estas instituições assinaram um memorando de cooperação permitindo a utilização do RMB (renminbi, o «dinheiro do povo» ou yuan). Isto vai fazer com que avancem significativamente e na prática, os acordos de investimento e cooperação. Mais um passo para a internacionalização do RMB, com a diminuição correlativa da fatia de trocas comerciais efetuadas em dólares.

Como eu tenho afirmado aqui, nestas páginas, o processo da guerra global que podemos chamar a IIIª Guerra Mundial, ocorre em vários planos, desde a parte propriamente militar, até À RÁPIDA TRANSFORMAÇÃO DA PAISAGEM MONETÁRIA, ENTRE OS PAÍSES NÃO TOTALMENTE DEPENDENTES DOS EUA. Note-se, que isto inclui países como a Arábia Saudita e as monarquias do Golfo.

Mesmo países com fortes laços com os EUA, como a Coreia do Sul, são obrigados - em função do contexto global no qual estão inseridos - a não alinharem com os EUA no que toca às sanções, pois isso iria afetar diretamente a sua indústria. 

Não me surpreendem nada estes desenvolvimentos, tenho escrito sobre eles, em várias ocasiões. O que me surpreende é miopia dos poderosos, desde banqueiros até aos generais que, no centro do dispositivo imperial, dispõem de todas as informações e podem fazer uma avaliação realista da situação que eles próprios criaram. Não acredito que eles tenham uma ideia clara do que têm estado fazer. 

De facto, têm estado a dar múltiplos tiros pela culatra (ou no pé). Penso que perceberam já a acumulação de erros estratégicos, que têm levado o Império do Dólar à situação presente. Acredito que, perante este panorama, decidiram fazer «como se», perante as massas dos países que controlam, a começar pelos próprios cidadãos americanos. 

Os povos do chamado «Ocidente» têm sido  sujeitos a uma dose de propaganda impressionante. Alguém que acredite integralmente na paisagem política, económica e militar que é veiculada pela  media  ocidental, é como se estivesse num universo paralelo. Haverá alguns ainda sob essa ilusão, mas muitos outros, embora já tenham descolado do tecido de mentiras propalado pelas fontes nas quais confiavam, estão ainda desprovidos de instrumentos conceptuais para perceberem realmente o que se está a passar.  

quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

OURO REGRESSA AO CENTRO DO SISTEMA FINANCEIRO

 A China é detentora duma quantidade de ouro difícil de apurar. No entanto, aquilo que se sabe é que o ouro em mãos do Estado, é mais do que o ouro oficialmente contabilizado no People's Bank of China, o banco central chinês. Por outro lado, nos últimos decénios, o povo foi encorajado a comprar ouro. A quantidade de ouro acumulado por este muito poupado povo (a poupança, por agregado familiar, é cerca de 40% do seu rendimento) é também quase impossível de avaliar.


                             Imagem: Loja de venda de ouro a retalho, em Pequim

O que se sabe, é que o ouro importado doutras paragens, principalmente através da Bolsa de metais preciosos de Xangai, faz desta, a praça mais importante mundialmente, no que diz respeito a trocas reais, ao metal físico. No mercado londrino (LBMA) ou no americano (COMEX), a quantidade de ouro realmente transacionada, é uma pequena percentagem dos contratos de futuros que são comprados e vendidos, ou seja, do «ouro-papel». É com estes contratos, que a finança e os Estados fazem uma permanente manipulação do ouro, um metal precioso muito «político»: é o único metal que continua a ser reconhecido como monetário (= como dinheiro real) pelos bancos centrais do mundo inteiro.
Ora, a China quer enriquecer o seu povo: É previsível que isto vá significar a oportunidade de adquirir mais ouro com os seus yuan. O yuan irá tornar-se assim como um «substituto» do ouro. O que Pequim tem de fazer (ao contrário dos padrões monetários/ouro, do passado) é não fixar/ indexar o preço do ouro em yuan. Se não indexarem a sua moeda ao ouro, continuará a haver, no entanto, uma forte correlação (1) com o ouro, mas não será algo fixo, rígido.
Penso que é este o caminho que as autoridades monetárias e financeiras chinesas estão a tomar há algum tempo: Lembremos que vem do tempo de Deng, o slogan «Enriquecer é Virtuoso». Desde o início do século XXI, que a posse de ouro na China, por cidadãos privados não só foi autorizada, como foi encorajada. Todo o ouro minerado na China, lá fica. A China é o 2º produtor mundial de ouro, atrás da Rússia. Não há exportação de ouro chinês. O enorme volume de importação vem, sobretudo, do Ocidente. As empresas de fundição e refinaria de ouro, na Suíça (com 70% da refinação mundial de metais preciosos), têm estado ocupadas - a tempo inteiro - em converter barras «LBMA» (que obedecem às especificações ocidentais) em barras de quilograma, que obedecem às especificações da China.
Como não podia deixar de acontecer, os media económicos e comentaristas ao serviço dos interesses financeiros ocidentais, querem que seus leitores continuem a «engolir» a treta de que o ouro é um mau investimento, de que sua posse não traz dividendos, apenas despesas associadas, etc. Mas - de facto - mesmo os bancos centrais ocidentais têm estado a adquirir ouro, desde há uns cinco anos (venderam muito ouro, no início do século XXI, quando seu preço em dólares era cerca de 1/5 de agora!). Os multimilionários também o compram, embora não queiram publicidade sobre isso. A sua preocupação é desfazerem-se dos ativos financeiros e adquirir imobiliário ou metais preciosos.
Não tenho dúvidas de que a era do dólar-rei acabou. A única coisa que mantém os países ocidentais dentro da esfera do dólar, é o medo. Porque os americanos têm defendido o dólar com invasões e guerras: no caso do Iraque, está provado que a verdadeira razão da guerra que levou à captura de Saddam Hussein e sua execução, num simulacro de julgamento, foi este ter decidido que o petróleo iraquiano seria vendido doravante em euros. Quanto à guerra e ocupação que levaram á trágica morte de Muamar Kadafi e a destruição da Líbia - foi o país africano mais próspero - foram decididas pelos EUA e seus aliados, porque Kadafi propôs a construção do «dinar pan-africano», moeda única, que seria usada pelos países africanos e na qual venderiam suas matérias-primas, em substituição dos dólares, euros, etc. Agora, não se atrevem a fazer o mesmo com a Rússia, a China, nem sequer com a Arábia Saudita. 
Todos os países (mesmo os aliados dos EUA) temem, com razão, as manipulações que os americanos fazem com a sua moeda, seu controlo da rede de transferências - a rede SWIFT - e todos os processos de transferências que passam por bancos americanos: Quaisquer países que façam transações em dólares, podem potencialmente sofrer sanções, por parte dos EUA. Os países do Golfo e a Arábia Saudita estão a fazer as pazes com seu inimigo, o Irão e pediram a intermediação dos russos para esta aproximação, porque perceberam que o petrodólar morreu e que só poderão ter espaço de manobra, se saírem da esfera americana. 
Os que ficam na esfera do dólar americano, são os que não podem fazer doutro modo, nomeadamente, os países europeus ocidentais. Eles tornaram-se, desde o fim da 2ª Guerra Mundial, neocolónias de facto dos EUA.

Em todo o Ocidente, os indivíduos continuam a ser canalizados para investir em ativos de natureza financeira. Estes, dentro de pouco tempo, ficarão denominados em moedas digitais : e-dólares, e-euros, e-libras, e-yens. Quando isso acontecer, as cotações do ouro e da prata serão muito mais elevadas, do que no presente. Nessa altura, quem for detentor de certa quantidade destes metais, terá capacidade de adquirir valiosos bens imobiliários, terrenos agrícolas e outros bens não-financeiros. 
Os bens tangíveis, globalmente, irão manter, ou aumentar, em valor real, enquanto os instrumentos financeiros (contas a prazo, obrigações, derivados, criptomoedas, etc.), sofrerão enormes perdas. (2)
A ruína dos pequenos investidores faz parte do «golpe» dos muito ricos. Estes, preveniram-se e compraram, com os lucros obtidos na especulação bolsista, toda a espécie de bens não financeiros, dos metais preciosos, às terras agrícolas, ao imobiliário e mesmo, obras de arte e objetos de coleção. 
Os pequenos e médios investidores podem evitar ser erradicados da face da Terra, se tiverem o bom-senso de fazer o mesmo (mudar de ativos financeiros, para ativos tangíveis) - e quanto mais depressa, melhor. As pessoas que ficam nos mercados financeiros, à espera de «melhores dias», irão perder o máximo. A conversão de ativos financeiros em ouro ou prata, metais reconhecidos universalmente como tendo valor (e cotação), pode corresponder à diferença entre conservar o essencial e a perda completa do património.

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(1) No mercado de ouro de Xangai, as compras e vendas do metal precioso são obrigatoriamente em yuan.
(2) A conversão do dinheiro usual, em digital é um aspeto central do «Great Reset». O valor nominal das unidades pode ser o mesmo, mas o valor real não será idêntico. Ou seja, 1 dólar, 1 euro,1 yen,  etc... de hoje (18-01-2023), serão mais valiosos do que 1 e-dólar,1 e-euro, 1 e-yen,  da digitalização integral da economia. Haverá uma brutal transferência de riqueza, que a grande maioria não compreenderá, nem terá consciência, no imediato.

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PS1: O GRÁFICO ABAIXO  DÁ-NOS UMA IDEIA DA VALORIZAÇÃO DO OURO NO ANO DE 2022, EM TERMOS DE «DIVISAS FIAT». OUTRA MANEIRA DE VER, É CONSIDERAR QUANTO CADA DIVISA SE DESVALORIZOU, EM RELAÇÃO AO OURO.(retirado de AQUI)



domingo, 1 de janeiro de 2023

FUNDO SOBERANO RUSSO AUTORIZADO A SUBIR PERCENTAGEM DE YUAN ATÉ 60%

 https://www.reuters.com/markets/currencies/permitted-share-chinas-yuan-russian-wealth-fund-doubled-60-finmin-2022-12-30/


A Rússia foi exposta a uma severa guerra de sanções, que começou pouco depois do golpe de Estado pró-ocidental de Maidan, em 2014. Porém, com a invasão russa da Ucrânia, os países do Ocidente, liderados pelos EUA, fizeram uma brutal (e obviamente ilegal) confiscação dos fundos em divisas, presentes nos bancos ocidentais e pertencentes ao Banco Nacional da Rússia (o banco central, detentor de ouro e divisas em reserva) confiscando também os bens de pessoas individuais, apenas por serem russas.
Face a esta atitude de extrema hostilidade dos poderes ocidentais, a reação da Rússia foi totalmente previsível: Desfazer-se das divisas de países hostis, que tinham tido parte nesse roubo. Cerca de metade das reservas em divisas estrangeiras da Rússia, as que se encontravam em bancos ocidentais, foram «congeladas», mas - na realidade - com a intenção de nunca mais as devolverem, pois a UE e os EUA têm estado a fazer planos para «reconstrução da Ucrânia», utilizando os fundos russos «congelados» (ou seja, roubados).
Naturalmente, surge agora a decisão de aumentar para o dobro a participação de ouro (de 20 para 40%) e de yuan (de 30% para 60%) permitidos para esse fundo soberano nacional da Rússia. Sem dúvida, os países hostis à Rússia não poderão esperar um qualquer interesse da Rússia em (continuar a) exportar energia (gás natural e petróleo) para eles. Terão de se abastecer junto de outros, no mercado internacional.
A estratégia deles, países ocidentais, querendo impor ao mundo um preço máximo sobre o petróleo, falhou redondamente com o «não» da Arábia Saudita e dos países da OPEP.


Mas, note-se, este desfecho inicia uma nova era, onde as economias dos dois blocos - euroasiático e «atlântico» - estão praticamente divorciadas, a própria China estando mais interessada em exportar para países seus amigos, do que para seus adversários geopolíticos que têm designado (oficialmente) a China como a principal ameaça.
Mesmo que a guerra russo-ucraniana acabe e se estabeleça num acordo de paz, é muito provável que se mantenha a partição entre o domínio do «yuan-ouro», ou seja, onde as notas de crédito em yuan (incluindo as de pagamento da energia) sejam convertíveis em ouro; e a «zona dólar», com os EUA e seus aliados anglo-saxões (Reino Unido, Austrália, Canadá Nova Zelândia), assim como a União Europeia (quase todos, membros da OTAN). Note-se que as zonas monetárias vão estar imbricadas: Existirão países no «Ocidente», que continuarão a ter boas relações com o Eixo Euroasiático, tais como o Brasil (membro dos BRICS), a Venezuela, a Argentina e outros da América Latina e Caraíbas. O mesmo, em relação a muitos países, antes tidos como pró-ocidentais, nos continentes Asiático e Africano. 
Por outro lado, do Extremo Oriente ao Médio Oriente, por maior que seja o crescimento do comércio com a China, através das Novas Rotas da Seda, muitos países quererão manter boas relações com os EUA e o Ocidente, aos níveis económico e militar (armamento, sistemas de defesa, treino de tropas e cooperação em informação e espionagem,...).
Note-se também, que o Mundo, no decurso da 1ª Guerra Fria, experimentou severas restrições ao comércio internacional. Mas, o nível de sanções agora atingido, é tal que a chamada globalização vai apenas ser uma memória do passado. Com o comércio internacional sendo severamente atingido, haverá necessariamente um empobrecimento global. Isso irá também afetar todos os países que pretendem manter-se neutrais.
Creio que vai durar e ser muito significativo, dentro do conjunto de decisões monetárias, económicas e de defesa, o efeito desta decisão do Fundo Nacional russo. Vai estender-se muito para além do ano de 2023, que agora começa.
A guerra entre a Ucrânia (apoiada pela OTAN) e a Rússia, é um momento infeliz e transitório desta guerra mundial híbrida (a IIIª Guerra Mundial). Porém, tudo indica que esta medida não é de simples retaliação, face às sanções massivas dos países ocidentais: Será antes um mudar definitivo de rumo da Rússia, não apenas em termos de política monetária, mas também económica e geoestratégica.




quinta-feira, 17 de novembro de 2022

SOBRE O CRASH DE FTX E AS DIVISAS DIGITAIS DOS BANCOS CENTRAIS

 Toda a construção parece, agora, que se sabe muito mais coisas sobre FTX e seu dono, algo muito frágil e ligado ao meio corrupto da política americana. Mas, embora as perdas para o dono e para os investidores em criptos sejam avaliadas em mais de 20 biliões de dólares, pode considerar-se que o mundo não ficou mais pobre. Porquê? Porque a imensa maioria das pessoas, AGORA, não vai colocar as suas poupanças em veículos tão especulativos, em que se arriscam a perder tudo se a plataforma onde colocaram os seus bitcoins e outras cripto, entrar em falência

Agora, também se perfila no horizonte próximo a possibilidade de entrada em vigor de divisas cripto, emitidas pelos bancos centrais ocidentais. É verdade que o país mais avançado nesta digitalização a 100%  do dinheiro é a China, que colocou experimentalmente, em várias províncias, cripto-Yuan em circulação. Porém, aquilo que transparece dos estudos dos BRICS e de uma série de países a eles associados, é que a própria ideia de  nova divisa de reserva mundial, que de facto seja aceite como tal, não pode ser a divisa nacional, seja de que país for.



O reino do dólar como moeda de reserva, «obrigava» a que os EUA tivessem défices comerciais e da balança de pagamentos permanentes, em ordem a fornecerem o mercado mundial em dólares, sempre «consumidos» pelos diversos países - amigos ou inimigos dos EUA - no comércio e nas operações de financiamento internacionais. Além disso, os EUA não resistiram à tentação de se aproveitarem, de todas as maneiras, do seu monopólio de emissão da moeda de reserva mundial. Com efeito, o défice crónico da balança de pagamentos e comercial dos EUA era suportado pela emissão de dólares, os quais deixaram de estar indexados ao ouro desde 1971. Isto significa que os EUA recebiam matérias-primas e produtos manufaturados, que eles «pagavam» com pedaços de papel. Estes, apenas eram aceites porque os outros países os aceitavam também como forma de pagamento. Este sistema era gerador de inflação, visto que os EUA têm emitido muito mais dólares, do que os mercados financeiros e comerciais mundiais conseguem absorver. A crise mundial de inflação, agora em curso, não é mais do que a consequência de 8 anos de «quantitative easing» pela FED.  Agora, nem a Arábia Saudita está muito interessada em que lhe paguem o petróleo em dólares. Logicamente, estando o reinado do dólar a chegar ao fim, pode-se imaginar que os que desenham a nova moeda de reserva mundial, queiram evitar para esta os defeitos de que sofria o dólar, enquanto desempenhava esta função.  

- É verdade que os cidadãos de um determinado Estado, se lhes impuserem que a sua moeda seja digital, não terão muitas hipóteses de evitar usá-la no quotidiano. Por isso, as moedas digitais emitidas por bancos centrais, têm garantidos os mercados internos dos respectivos países. Mas, para terem aceitação inequívoca, ao nível internacional, têm de ser mais do que «digitais», têm de estar indexadas a algo de tangível, como matérias-primas estratégicas e/ou metais preciosos. É nesse sentido que caminham os que estão a construir uma nova moeda de reserva mundial. Provavelmente existirá um cabaz de moedas nacionais e que inclua também certas matérias-primas e metais preciosos. Isto significa que será uma moeda digital mundial muito estável, com um câmbio estável, não só para as divisas presentes no cabaz, como para as outras. Outra vantagem para os países detentores da nova unidade de valor monetário será terem acesso às matérias primas e ao ouro.

- O corte entre os blocos «euro asiático» e o «ocidental/anglo-americano» vai dar-se não somente em termos de alianças militares, mas também de blocos comerciais e espaços de circulação de divisas internacionais: Se as hostilidades se agudizarem e prolongarem, pode mesmo acontecer que não haja convertibilidade direta entre as moedas de reserva que vierem a ser adotadas num e noutro campo. 

PS1: Parece que o dono de FTX, « Sam Bankman-Fried-on-Amphetamines » era, não só um drogado, mas também tinha o cérebro bastante afetado. Então, o autor do artigo seguinte coloca a questão de Sam ser apenas um simples joguete ("patsy"), tendo por detrás a manipulá-lo alguém poderoso: 

https://www.unz.com/kbarrett/sam-bankman-fried-on-amphetamines/

quarta-feira, 6 de maio de 2020

CHINA ENSAIA YUAN DIGITAL, CONVERTÍVEL EM OURO

                          10 inolvidables paseos por la mágica SHANGHAI - Viajar es para siempre
                          foto:  Xangai, local da «Shangai Gold Exchange» (SGE)

Segundo o bem informado jornalista Pepe Escobar, um Yuan exclusivamente digital está a ser ensaiado em quatro regiões chinesas. Este seria o protótipo de cripto-Yuan, destinado a garantir aos países que fazem comércio com a China, uma estabilidade no valor da divisa, com benefício imediato na confiança recíproca e, portanto, destronando definitivamente o dólar, até agora mantido como principal divisa de reserva mundial, graças à compra de petróleo usando em exclusividade os dólares no mercado mundial. 
Embora o assunto não seja novo, o facto de haver uma atitude experimental do banco central chinês (PBOC), diz-nos que o lançamento do «cripto-Yuan» com garantia-ouro está para breve.
Não é provável que seja directamente convertível em ouro, mas acredito possa ser usado o «cripto-Yuan» na compra de ouro físico, no mercado de Xangai (SGE). 

Note-se que os mercados de «commodities», em Nova Iorque e Londres, têm servido, há longos anos, aos grandes bancos ocidentais (e Estados que se escondem por trás deles), para manipularem as cotações do ouro e doutros metais preciosos, através da emissão de contratos de futuros vazios (o «ouro-papel»). Portanto, o volume de compras e vendas de contratos de ouro e prata destas plataformas (o COMEX e LBMA) não tem relação com o volume de transacções de metais físicos que aí ocorrem. Tenho dedicado muitos artigos a este assunto desde há longo tempo.
Para evitar a ingerência e as sanções americanas, os chineses e os russos, nas suas trocas comerciais recíprocas, têm saldado os diferenciais destas trocas em ouro ou notas de crédito em Yuan, com possibilidade destas servirem para compra de ouro no mercado de Xangai. 
Segundo Jim Willie*, o mecanismo teria sido aplicado na venda de petróleo à China, pela Arábia Saudita e outras potências petrolíferas do Golfo, embora o façam de forma discreta, para manter uma fachada de fixação dos preços do «crude» em dólares US.

(*pode ver uma entrevista-vídeo recente aqui)

PS1: artigo do SCMP mostra o que é realmente a criptomoeda do People's Bank of China, o cripto-Yuan. Os maiores receios quanto à sociedade de controlo são justificados: https://www.scmp.com/economy/china-economy/article/3083952/what-chinas-cryptocurrency-sovereign-digital-currency-and-why?utm_medium=email&utm_source=mailchimp&utm_campaign=enlz-gme_scmp_focus_hk&utm_content=20200515&MCUID=a41d4f7ba2&MCCampaignID=06b83b1130&MCAccountID=7b1e9e7f8075914aba9cff17f&tc=13

quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

PREVISÕES DE SAXO BANK PARA 2020

                             


Estas «Outrageous Predictions» do Saxo Bank são, afinal de contas, um somatório de acontecimentos julgados improváveis mas não impossíveis de acontecer. Caso algum deles se concretizar, deverá ser muito perturbador dos mercados e da economia. 


A previsão nº10, da China lançar uma moeda de reserva que afaste a dependência do sistema monetário internacional do dólar (como se vê na imagem junta) não me parece nada improvável. 

Os bancos centrais da China e da Rússia, nomeadamente, já ensaiam soluções de cripto-moedas controladas pelos bancos respectivos.

Por outro lado, ergueram uma réplica do FMI e do Banco Mundial, o Asian Infrastructure Investment Bank, um banco que tem sido vector essencial no desenvolvimento das Novas Rotas da Seda.

A quantidade de ouro detida pela China não é, de facto, conhecida. Muitos analistas consideram que seja muito maior que a quantidade oficialmente indicada. 

A China lançou recentemente e pretende ver alargada a utilização de seus instrumentos próprios de dívida, a curto e médio prazo, análogos aos bilhetes do tesouro e às obrigações do tesouro dos EUA. 
Serão análogos, só com uma pequena diferença: são remíveis em ouro físico, na bolsa de Xangai. 

Veremos, ao longo de 2020, quais as previsões «extravagantes» do Saxo bank, que se afigurem acertadas...

quinta-feira, 17 de outubro de 2019

ESTÃO EM CRISE DUAS MOEDAS COM PARIDADE CAMBIAL COM O DÓLAR

                                
Chamo a atenção para o artigo de Tom Luongo, que analisa em pormenor a crise de legitimidade no governo de Hong Kong e a desestabilização desta «praça-forte» da finança internacional na Ásia e que possui desde há longos anos uma moeda local, o dólar de Hong Kong (HKD) em paridade cambial com o dólar US , por um lado...  
...Por outro lado, lembra-nos Luongo, existe outra moeda em paridade cambial com o dólar, o Riyal da Arábia Saudita (SAR). Ora,  o desastre que tem sido ultimamente a guerra do reino da Arábia Saudita com os Houthi do Iémene, poderá precipitar uma mudança estratégica  na região.

                                  
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Analisemos historicamente o papel que desempenharam ambas as paridades cambiais com o dólar US, o qual tem sido a moeda de reserva internacional, desde o fim da II Guerra Mundial. 


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No lado chinês, durante os anos de isolamento do regime comunista da China em relação ao «ocidente», a praça financeira de Hong Kong, colónia britânica até 1997, desempenhou um papel insubstituível para a China continental, de porta de entrada e saída de mercadorias e de fluxos de capitais. A partir da grande viragem protagonizada pela política de Deng Xiao Ping, este papel foi reforçado. Nos últimos vinte anos, de crescimento exponencial, a China utilizou Hong Kong de modo intensivo para atrair os fluxos de capitais para investimento no território da RPC. Do ponto de vista dos capitalistas interessados em investir na RPC, era muito mais tranquilizador estar baseado em Hong Kong, que tinha e tem um conjunto de garantias relativas aos capitais estrangeiros, devido aos acordos de devolução válidos até 2047, do que a alternativa de Xangai, onde se aplica em pleno a legislação da RPC. 
Para atrair os investimentos via Hong Kong, a paridade do dólar de Hong Kong (HKD) com o dólar US, é estratégica. Com efeito, o governo da China tem vindo a desvalorizar sua moeda nacional, o Yuan, como forma de manter a competitividade dos produtos «made in China». Ultimamente, ainda se fala mais da desvalorização da divisa chinesa, uma guerra cambial no seguimento da guerra comercial, inaugurada por Trump. 
Tornando-se instável a situação de Hong Kong, havendo tendência para fuga de capitais, ou diminuição acentuada da entrada de capitais frescos para fazer negócios com a China, é provável que o dólar de Hong Kong não consiga manter paridade cambial com o dólar US. A certa altura, o dispêndio de dólares US - nas reservas do banco central de Hong Kong - para sustentar o dólar de Hong Kong, pode ser excessivo e haver o desligar da paridade cambial.
Há fortes indícios duma «mãozinha ocidental» na desestabilização política de Hong Kong: mesmo que não tenha sido iniciada mas apenas aproveitada pelos EUA, esta é uma arma que eles estão a usar, para forçar a China a ceder em certos aspectos fundamentais desta guerra, dita «comercial». 
O que nos é vendido como «guerra comercial», é - na realidade - o redesenhar das esferas de influência mundiais, ou seja, como é que as duas super-potências (China e EUA) vão partilhar o mercado global e que tipo de relacionamento se vai estabelecer entre elas.

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A paridade do dólar US com o Riyal (SAR), está intimamente relacionada ao acordo dos EUA com os sauditas, negociado em 1973, na origem do chamado petro-dólar. 
Recordemos que Kissinger conseguiu obter que os barris de petróleo só pudessem ser cotados e vendidos em dólares US, em troca de uma protecção total do Reino, então o maior produtor de petróleo da OPEP. 
Toda a política dos EUA no Médio Oriente tem estado orientada para manter esta exclusividade da venda do petróleo em dólares, mais importante ainda do que o acesso directo dos EUA ao crude. 
Com efeito, enquanto houver necessidade de dólares US para comprar crude no mercado internacional, a moeda nacional dos EUA poderá continuar a ser a principal moeda de reserva mundial. 
A paridade cambial do riyal (SAR) com o dólar US facilita o afluxo de capitais, não apenas para investimento no reino saudita, como também para todos os sultanatos em redor. Vai permitir que os investidores internacionais estejam mais seguros, quanto ao retorno sobre seus investimentos. 
A garantia cambial é muito importante para os negócios. Com efeito, sem tal garantia cambial, o investimento num país com moeda instável e com tendência para desvalorização periódica, pode anular qualquer rentabilidade dos capitais investidos. Esta é uma das razões principais por que o volume do investimento estrangeiro fica abaixo do seu potencial, em muitos países ditos «em desenvolvimento».   

No momento em que ocorre uma mudança tectónica nas relações económicas, financeiras e geopolíticas ao nível mundial, não é coincidência que duas moedas com paridade cambial com o dólar US, estejam sob «ataque». Note-se que num caso (Hong Kong), a desestabilização joga a favor do «reino do dólar US», enquanto no outro caso (Arábia Saudita), é precisamente o contrário.
- Desestabilização em Hong Kong, cria uma situação de escassez de investimento estrangeiro na China, no momento em que esta necessita de ainda mais capital do exterior, para consolidar a sua economia, no momento em que está a realizar a grande viragem duma economia de exportação, para uma economia mais vocacionada para satisfazer o consumo interno. 
- Desestabilização na Arábia Saudita, fragiliza o principal aliado dos EUA no Médio Oriente, ao ponto de se equacionar o afastamento do príncipe herdeiro e responsável da guerra no Iémene, perante a situação de derrota estrondosa do seu exércitoface aos Huthis. 
Embora a Arábia Saudita tenha sido compradora de muito armamento sofisticado aos EUA, Reino Unido, França... observa-se, recentemente, uma mudança «deslizante» de suas alianças, com a China a substituir-se paulatinamente aos EUA, propondo a compra de petróleo saudita utilizando o yuan (em troca da entrada de capitais chineses na Aramco) e a Rússia a oferecer-se como garante da defesa e fornecedora de armamentos de ponta à monarquia saudita.

São demasiado complexas as jogadas envolvidas. Nada do que se passa no Médio Oriente (vejam-se os últimos desenvolvimentos na situação da fronteira Síria-Turquia) nos é explicado de forma cabal. 
A media limita-se a reproduzir o discurso de propaganda dum ou doutro governo. Nunca equaciona - nas suas pseudo-análises - a agenda globalista, a Nova Ordem Mundial
No entanto, embora eu não tenha ideia precisa dos pontos em negociação, tenho a certeza de que esta agenda globalista está sendo negociada agora, discretamente.


segunda-feira, 30 de setembro de 2019

A DESDOLARIZAÇÃO JÁ TEM EFEITOS TANGÍVEIS

                


Que relação poderá existir entre:
- a recente crise de liquidez no mercado «ovenight» ou REPO* que obrigou a intervenção da FED, acorrendo com centenas de biliões, para garantir que este mercado se mantinha líquido,
- a intensa venda de treasuries (obrigações do tesouro americano) por parte de competidores mundiais dos EUA, como Rússia e China, 
- a aceitação de moedas outras que não o dólar em pagamento do petróleo, por vários países, incluindo certos emiratos do Golfo
-  a existência de uma indústria do petróleo e gás de xisto nos EUA, cuja produção actual ultrapassa a da Arábia Saudita, mas que tem um défice estrutural, pois a obtenção de cada litro desse petróleo faz-se com prejuízo em dólares, apenas colmatado com o constante bombear de dinheiro por Wall Street

Bem, tudo o que está descrito acima tem-se verificado, significando que o petro-dólar está nas suas últimas. Significa também que não tardará o dia em que os produtores de matérias-primas e de produtos industriais torcerão o nariz a pagamentos em dólares e dirão «não aceitamos pagamento com dólares US».
Para que funcione o sistema do petro-dólar, o qual é o fundamento do domínio financeiro dos EUA sobre o mundo, é necessário que haja uma constante demanda de dólares nos mercados. É assim que o dólar mantém a sua cotação, é assim que existem compradores para as obrigações do tesouro denominadas em dólares, etc. 
O sistema do petro-dólar tem funcionado, visto que há uma demanda constante no comércio internacional, nomeadamente por causa da exclusividade de cotação em dólares do petróleo (acordo de 1973 entre Nixon/Kissinger e Arábia Saudita, depois alargado a toda a OPEP).
Mas, ultimamente,  vimos a Rússia desfazer-se das suas reservas, sob forma de «treasuries» (obrigações do tesouro USA), vimos alguns produtores importantes de petróleo como o Irão, a Venezuela e a Rússia a aceitarem outras divisas - que não o dólar - em pagamento do seu «crude». 
Vemos também que a desconfiança de muitos investidores, incluindo gestores de fundos bilionários, em relação ao sistema do dólar tem aumentado e se exprime na compra (publicitada) de ouro e metais preciosos, com o objectivo de salvaguardar valor do capital, em face da crise sistémica vindoura, anunciada por muitos.
Por outro lado, a grande banca, sobretudo nos EUA, está realmente em grandes dificuldades, pois não consegue já ocultar que a sua rentabilidade mergulhou, que está cada vez mais exposta a investimentos tóxicos, nos quais se incluem os derivados, assim como outros investimentos não rentáveis. 
Entre estes, encontra-se a indústria do «fracking». Desde o primeiro dia desta indústria, o seu funcionamento e viabilidade dependia, não tanto da cotação do barril de petróleo ao nível internacional, como da capacidade dos bancos e entidades financeiras, atraírem dinheiro para a financiar. 
Assim, os pequenos investidores e os investidores institucionais (como seguradoras, fundos de pensões, etc...) foram atraídos a investirem numa indústria que nunca foi rentável, que acumulou sempre perdas. No final, os pequenos vão ficar «depenados», salvando-se os grandes magnates...  
Se a FED e o Tesouro (através do seu fundo financeiro de intervenção) precisam de intervir, baixando as taxas de juro, «imprimindo» dólares, comprando «treasuries», isto vai, obviamente, no sentido de aumentar a quantidade de dólares em circulação. Estes dólares não causam inflação, porque são «enterrados» em dois grandes «poços de dinheiro»: 
- as indústrias bélicas e as guerras, directamente ou por intermediários, pelo mundo fora.
- a indústria do fracking nos EUA, que dá a ilusão de uma grande autonomia energética, mas é sustentada de forma artificial pelo constante colectar de «capital fresco», junto dos investidores que procuram uma maior rendibilidade, a todo o custo**.

Por um lado, o dólar não pode estar em excesso nos mercados mundiais, senão ele vai perder cotação, face a outras moedas e face ao ouro.  
Mas, por outro lado, não podem os bancos (nomeadamente os grandes, que estão no centro do mercado REPO ou «overnight») ficar com falta de liquidez. 
A subida dos juros do «overnight» (nalguns casos, atingiu os 10%, quando o valor «normal» era em torno dos 2%) assinala ao mundo que é difícil obter financiamento, que há falta de liquidez (como aconteceu no desencadear da crise de 2007/2008). 
Daí a injecção de centenas de biliões nesse mercado, por parte da FED. Agora, a FED quer servir-se do pretexto de assegurar a liquidez no mercado REPO, para fazer novo QE (Quantative easing) envergonhado.

Esta «engenharia financeira» global, apenas pode funcionar por algum tempo. 
Assim que existam alternativas viáveis ao dólar, tais como as notas de crédito para pagamento de combustíveis em Yuan, é só uma questão de tempo até o mundo reconhecer que o sistema do dólar já não oferece nenhuma garantia, porque seu valor é mantido artificialmente. 
A força bruta, o poder militar, não podem estar em todo o lado, simultaneamente e em força. 
Não pode o Império do Dólar coagir tudo e todos a usarem a sua moeda, quase em exclusivo, nas relações comerciais e financeiras internacionais, como aconteceu no passado, durante largas décadas, nem manter uma hiper-valorização artificial dos «bonds» americanos, com rentabilidade bem acima das dos bonds de  muitos países, cujas obrigações soberanas oferecem um juro menor e, portanto, são menos atraentes para os investidores.
É só uma questão de tempo, até o império do dólar se desmoronar**. 
Pode ser uma experiência muito dolorosa para o mundo, pois os EUA têm tido a habilidade de «exportar» a sua crise para outros parceiros, nomeadamente, o Japão e a UE. 
Outros países, ditos em desenvolvimento, poderão ficar com as suas economias seriamente afectadas. Por exemplo, muitos países endividaram-se em dólares quando o juro dessa dívida era mais atraente e sobretudo  quando o dólar estava «barato» em relação a outras divisas. Depois, o dólar subiu e manteve-se alto, o que obrigou esses países a fazer um esforço maior no pagamento dos juros e do capital em dívida. 

Penso que os bancos centrais de muitas regiões do mundo, não apenas das «super-potências competidoras» China e Rússia, mas também de muitos outros países, incluindo aliados dos EUA, estão a tomar precauções face a uma enorme crise financeira, que está à vista. 
Não é por acaso que os bancos centrais de vários países  alinhados com os EUA e membros da NATO, como a Turquia ou a Polónia, estão a comprar grandes quantidades de ouro; é porque vêem «o que está escrito na parede»...
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Notas:

* O «REPO» é um mercado de empréstimo dos bancos entre si, de curta duração (por isso o termo overnight): um banco pode precisar de liquidez momentaneamente, sendo normalmente oferecido (a juro baixo) o empréstimo necessário, mediante colateral. Este normalmente, o colateral é sob forma de algo com cotação «triplo A» como obrigações do tesouro dos EUA ou equivalente...

**Ler W. Engdahl «The New American Oil Empire Built on Sand» em: 

*** Para maior esclarecimento, pode-se consultar o recente vídeo de entrevista de Greg Hunter a Rob Kirby: 
https://www.youtube.com/watch?v=xAF6_9_WS8g&t=1227s

domingo, 18 de agosto de 2019

A CRISE VIRÁ DO LADO DA DÍVIDA SOBERANA, DOS TÍTULOS DA DÍVIDA PÚBLICA


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Sabe-se que o grave problema que afecta o sistema económico e financeiro ocidental é a enormidade da dívida. Dívida dos Estados, dívida das empresas e dívida das famílias... tudo somado, a quantidade de dívida é muito maior do que a existente nas vésperas do colapso de Lehman Brothers!

O processo de um Estado se ver livre da dívida pública é somente um, na prática. Embora, em teoria, um governo pudesse decretar insolvência, reconhecendo estar falido e portanto não pagar aos seus credores, isso é demasiado penoso e politicamente suicida. Portanto, os governos irão fazer aquilo que sempre fizeram, ou seja, inflacionam a sua moeda nacional (no caso do Euro, será antes a moeda comum de uma série de Estados da União Europeia).

Um dos casos mais graves de acentuado crescimento da dívida pública, sem fim à vista e com tendência para se agravar, é o dos EUA. Obama conseguiu o «glorioso feito» de duplicar, durante os seus dois mandatos, a dívida pública acumulada antes dele, desde o início da existência dos EUA.
Nada menos fiável do que os EUA. Se decidirem que algum país está com exigências excessivas, podem simplesmente obliterá-lo do mapa... veja-se o caso da Líbia! 
Mesmo os aliados não estão a salvo de serem «esfolados»: como clausula secreta dos acordos que instituíam o sistema do petro-dólar (em 1973), os sauditas foram obrigados a fornecer muitos biliões em treasuries, que provinham do petróleo, para os seus protectores de Washington disporem dessas somas colossais. Não estão nominalmente na posse do Tesouro, mas é como se estivessem: as tais treasuries servem como «fundo de estabilização» do Tesouro. Quando os mercados variam bruscamente ou quando algo vai num sentido desfavorável aos interesses de Washington, esse fundo gigantesco intervém, discretamente. Os especialistas dos mercados conhecem bem as intervenções do referido fundo.    
É basicamente o medo, a impressionante máquina militar, que impõe «respeito» pelo dólar US, com o qual os EUA compram tudo o que precisam, dando em troca... esses papéis verdes impressos! 

A China foi acumulando, em resultado do seu comércio com os EUA e outras partes do mundo, a gigantesca soma de 1,3 triliões de dólares, que estão sob forma de obrigações do Tesouro dos EUA («treasuries»).
Há quem diga que esta constitui uma arma poderosa da China, que poderá despejar no mercado fazendo baixar subitamente o valor dos referidos treasuries. Mas, isso é falso. Não só não é possível eles desfazerem-se de tal soma bruscamente, como teria um efeito oposto ao desejado. Ainda por cima, poderia desencadear uma guerra, por os EUA se sentirem acossados naquilo que é fundamental para eles, a sustentabilidade da sua dívida...

Os russos, há algum tempo, desfizeram-se de quase todas as suas treasuries. Mas eles tinham muito menos, do que a China tem. O que eles fizeram foi genial: Eles deram os treasuries como aval a vários bancos europeus, para garantia de empréstimos aos mesmos bancos. Depois, fizeram default sobre as dívidas a esses bancos e estes tomaram posse das treasuries, dadas como aval. Assim, não colocaram no mercado essas treasuries e obrigaram a outra parte a aceitá-los. Não me parece que se possa repetir isso.

Os Chineses fizeram a Belt and Road: é - além de outras coisas - um processo lento de se desfazerem de treasuries. Com esses dólares, eles financiam grandes obras, portos, aeroportos, caminhos de ferro, etc. nos países mais diversos, com os quais têm acordos. Ficam aliviados do excedente em dólares e tornam-se credores de vários países, sendo possível que recebam em pagamento géneros (matérias-primas), ou notas de crédito denominadas em Yuan.

Segundo uns analistas, os americanos têm de comprar a si próprios (a FED compra ao Tesouro, o qual emite dívida) cerca de 70% da dívida emitida e têm de fazer malabarismos, usando derivados (credit default swaps), para criar a ilusão de procura de treasuries e assim sustentar seu preço. 
Também conseguem procura porque têm uma taxa ligeiramente acima de zero, enquanto muitas das obrigações europeias (como os bunds alemães) estão com juros negativos, ou seja, o emprestador tem - ao fim de x anos - a soma investida, MENOS uma determinada soma y, correspondente ao juro negativo. 

A dívida excessiva a nível mundial não poderá ser aliviada por uma espécie de «jubileu», pois haverá países que ficam a perder imenso com isso por comparação com outros que até incluem os mais ricos, pois estes têm tido um comportamento irresponsável de acumulação de dívida, sem contrapartida em criação de riqueza. Quando uma pessoa ou uma empresa ou um Estado se endividam pode ser uma coisa boa e sensata ou o contrário: se for para investir em algo que por sua vez irá gerar rendimento, irá produzir algo (bens ou serviços), irá traduzir-se por um acréscimo de rendimento (ao nível dos Estados, maior receita de imposto), então é provável que tal investimento seja sensato e produtivo. Mas um empréstimo gasto em despesa não reprodutível, que não vai gerar capital que o pague no médio/longo prazo, é somente um peso suplementar que incide sobre as economias, sobretudo das gerações futuras. 

Num contexto de sobre-endividamento, a inflação é desejada por bancos centrais e por governos, porque vai «comer» parte da dívida acumulada, ou seja, é como um «default» suave, a uma taxa de uns pouco por cento ao ano, que o público não compreende e atribui à ganância dos comerciantes ou às reivindicações excessivas dos assalariados, etc... mas, não aos verdadeiros culpados.

Perante um aumento descontrolado da dívida, a tentação é desvalorização correspondente do dinheiro, o que tem sido feito, de forma sistemática, sem que as pessoas percebam o que se está a passar: se a inflação registada nas estatísticas ao longo de um ano, for de 2%, por hipótese mas - na verdade -  sendo esta de 4 ou 5 %, como se tem verificado, é muito difícil alguém contrariar o discurso oficial. Seria preciso um instrumento independente, de recolha e tratamento estatístico, algo como um Instituto de Estatística alternativo, ou algo parecido, com credibilidade igual ou superior aos institutos do Estado. 

Portanto, a aceleração da impressão monetária, ou seja,  «Quantitive Easing» e as taxas de juro próximas de zero ou negativas  anunciadas pelos bancos centrais ocidentais, irão apenas contribuir para manter durante algum tempo (quanto?) as bolhas das bolsas de acções, das obrigações, do imobiliário... em que se tem vivido. 
Mas, chegará o momento em que as pessoas compreenderão que estão a ser aldrabadas, que números crescentes não representam aumento de valor, não correspondem a nada de sólido. 

A perda de confiança numa divisa, nas divisas «em papel», é um processo muito rápido: compreende-se que os bancos centrais dos países do Oriente se previnam disso, comprando todo o ouro que podem nos mercados. Alguns financeiros, gerindo fundos bilionários, também compreendem o que se está a passar e também estão a aconselhar os seus clientes a fazer o mesmo.

A subida dos metais preciosos, em especial do ouro (e isto é notável) faz-se, apesar da existência confirmada de conluio entre bancos centrais ocidentais e grandes bancos, emissores de contratos de futuros (um tipo de derivado) sobre o ouro e a prata. Eles despejam no mercado, em momentos especiais, quantidades abismais de contratos. É assim que o preço do ouro e da prata têm sido reprimidos, ao ponto de, em paridade do poder de compra, a prata nunca ter estado tão barata! Se estes contratos correspondessem - de facto - a ouro físico, seria necessária várias vezes a produção anual minerada. Evidentemente, trata-se duma fraude, mas fraude consentida pelas entidades ditas supervisoras dos mercados e pelos bancos centrais.
O sistema de emissão de dinheiro ilimitado e controlado pelas entidades globais, é inviável: dentro de um prazo (não determinável exactamente, pois dependerá da duração e profundidade da crise vindoura), terá de haver uma profunda reforma do sistema monetário.  
Mas, entretanto, é bem provável que haja guerras, revoluções, fomes, transferências de riqueza, fenómenos que se verificaram no passado, em associação com as crises económicas mais graves.