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quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

OURO REGRESSA AO CENTRO DO SISTEMA FINANCEIRO

 A China é detentora duma quantidade de ouro difícil de apurar. No entanto, aquilo que se sabe é que o ouro em mãos do Estado, é mais do que o ouro oficialmente contabilizado no People's Bank of China, o banco central chinês. Por outro lado, nos últimos decénios, o povo foi encorajado a comprar ouro. A quantidade de ouro acumulado por este muito poupado povo (a poupança, por agregado familiar, é cerca de 40% do seu rendimento) é também quase impossível de avaliar.


                             Imagem: Loja de venda de ouro a retalho, em Pequim

O que se sabe, é que o ouro importado doutras paragens, principalmente através da Bolsa de metais preciosos de Xangai, faz desta, a praça mais importante mundialmente, no que diz respeito a trocas reais, ao metal físico. No mercado londrino (LBMA) ou no americano (COMEX), a quantidade de ouro realmente transacionada, é uma pequena percentagem dos contratos de futuros que são comprados e vendidos, ou seja, do «ouro-papel». É com estes contratos, que a finança e os Estados fazem uma permanente manipulação do ouro, um metal precioso muito «político»: é o único metal que continua a ser reconhecido como monetário (= como dinheiro real) pelos bancos centrais do mundo inteiro.
Ora, a China quer enriquecer o seu povo: É previsível que isto vá significar a oportunidade de adquirir mais ouro com os seus yuan. O yuan irá tornar-se assim como um «substituto» do ouro. O que Pequim tem de fazer (ao contrário dos padrões monetários/ouro, do passado) é não fixar/ indexar o preço do ouro em yuan. Se não indexarem a sua moeda ao ouro, continuará a haver, no entanto, uma forte correlação (1) com o ouro, mas não será algo fixo, rígido.
Penso que é este o caminho que as autoridades monetárias e financeiras chinesas estão a tomar há algum tempo: Lembremos que vem do tempo de Deng, o slogan «Enriquecer é Virtuoso». Desde o início do século XXI, que a posse de ouro na China, por cidadãos privados não só foi autorizada, como foi encorajada. Todo o ouro minerado na China, lá fica. A China é o 2º produtor mundial de ouro, atrás da Rússia. Não há exportação de ouro chinês. O enorme volume de importação vem, sobretudo, do Ocidente. As empresas de fundição e refinaria de ouro, na Suíça (com 70% da refinação mundial de metais preciosos), têm estado ocupadas - a tempo inteiro - em converter barras «LBMA» (que obedecem às especificações ocidentais) em barras de quilograma, que obedecem às especificações da China.
Como não podia deixar de acontecer, os media económicos e comentaristas ao serviço dos interesses financeiros ocidentais, querem que seus leitores continuem a «engolir» a treta de que o ouro é um mau investimento, de que sua posse não traz dividendos, apenas despesas associadas, etc. Mas - de facto - mesmo os bancos centrais ocidentais têm estado a adquirir ouro, desde há uns cinco anos (venderam muito ouro, no início do século XXI, quando seu preço em dólares era cerca de 1/5 de agora!). Os multimilionários também o compram, embora não queiram publicidade sobre isso. A sua preocupação é desfazerem-se dos ativos financeiros e adquirir imobiliário ou metais preciosos.
Não tenho dúvidas de que a era do dólar-rei acabou. A única coisa que mantém os países ocidentais dentro da esfera do dólar, é o medo. Porque os americanos têm defendido o dólar com invasões e guerras: no caso do Iraque, está provado que a verdadeira razão da guerra que levou à captura de Saddam Hussein e sua execução, num simulacro de julgamento, foi este ter decidido que o petróleo iraquiano seria vendido doravante em euros. Quanto à guerra e ocupação que levaram á trágica morte de Muamar Kadafi e a destruição da Líbia - foi o país africano mais próspero - foram decididas pelos EUA e seus aliados, porque Kadafi propôs a construção do «dinar pan-africano», moeda única, que seria usada pelos países africanos e na qual venderiam suas matérias-primas, em substituição dos dólares, euros, etc. Agora, não se atrevem a fazer o mesmo com a Rússia, a China, nem sequer com a Arábia Saudita. 
Todos os países (mesmo os aliados dos EUA) temem, com razão, as manipulações que os americanos fazem com a sua moeda, seu controlo da rede de transferências - a rede SWIFT - e todos os processos de transferências que passam por bancos americanos: Quaisquer países que façam transações em dólares, podem potencialmente sofrer sanções, por parte dos EUA. Os países do Golfo e a Arábia Saudita estão a fazer as pazes com seu inimigo, o Irão e pediram a intermediação dos russos para esta aproximação, porque perceberam que o petrodólar morreu e que só poderão ter espaço de manobra, se saírem da esfera americana. 
Os que ficam na esfera do dólar americano, são os que não podem fazer doutro modo, nomeadamente, os países europeus ocidentais. Eles tornaram-se, desde o fim da 2ª Guerra Mundial, neocolónias de facto dos EUA.

Em todo o Ocidente, os indivíduos continuam a ser canalizados para investir em ativos de natureza financeira. Estes, dentro de pouco tempo, ficarão denominados em moedas digitais : e-dólares, e-euros, e-libras, e-yens. Quando isso acontecer, as cotações do ouro e da prata serão muito mais elevadas, do que no presente. Nessa altura, quem for detentor de certa quantidade destes metais, terá capacidade de adquirir valiosos bens imobiliários, terrenos agrícolas e outros bens não-financeiros. 
Os bens tangíveis, globalmente, irão manter, ou aumentar, em valor real, enquanto os instrumentos financeiros (contas a prazo, obrigações, derivados, criptomoedas, etc.), sofrerão enormes perdas. (2)
A ruína dos pequenos investidores faz parte do «golpe» dos muito ricos. Estes, preveniram-se e compraram, com os lucros obtidos na especulação bolsista, toda a espécie de bens não financeiros, dos metais preciosos, às terras agrícolas, ao imobiliário e mesmo, obras de arte e objetos de coleção. 
Os pequenos e médios investidores podem evitar ser erradicados da face da Terra, se tiverem o bom-senso de fazer o mesmo (mudar de ativos financeiros, para ativos tangíveis) - e quanto mais depressa, melhor. As pessoas que ficam nos mercados financeiros, à espera de «melhores dias», irão perder o máximo. A conversão de ativos financeiros em ouro ou prata, metais reconhecidos universalmente como tendo valor (e cotação), pode corresponder à diferença entre conservar o essencial e a perda completa do património.

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(1) No mercado de ouro de Xangai, as compras e vendas do metal precioso são obrigatoriamente em yuan.
(2) A conversão do dinheiro usual, em digital é um aspeto central do «Great Reset». O valor nominal das unidades pode ser o mesmo, mas o valor real não será idêntico. Ou seja, 1 dólar, 1 euro,1 yen,  etc... de hoje (18-01-2023), serão mais valiosos do que 1 e-dólar,1 e-euro, 1 e-yen,  da digitalização integral da economia. Haverá uma brutal transferência de riqueza, que a grande maioria não compreenderá, nem terá consciência, no imediato.

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PS1: O GRÁFICO ABAIXO  DÁ-NOS UMA IDEIA DA VALORIZAÇÃO DO OURO NO ANO DE 2022, EM TERMOS DE «DIVISAS FIAT». OUTRA MANEIRA DE VER, É CONSIDERAR QUANTO CADA DIVISA SE DESVALORIZOU, EM RELAÇÃO AO OURO.(retirado de AQUI)



segunda-feira, 16 de maio de 2022

FIM DA HEGEMONIA DO DÓLAR ?




Este programa de George Galloway é o que - ultimamente - posso encontrar de melhor e mais honesto em termos de pensamento plural, anti-capitalista, anti-imperialista. Os seus intervenientes são pessoas cultas e defensoras de uma alternativa socialista, no sentido lato do termo.

 Será o Dólar a chave para a hegemonia US? 
- Mas, na realidade, a questão traduz-se em avaliar com cuidado, sobre a natureza da hegemonia US. Com efeito, não se pensa na hegemonia do dólar nas operações financeiras apenas mas, sobretudo, na facilidade com que os EUA podem decretar sanções contra países e regimes que  não sejam do seu agrado. 

Esta discussão inclui o Dr. Francisco Rodriguez (perito em economia política, Middlesex Univ.), Shabbir Razvi (analista económico e político), Prof. Michael Hudson (através de link vídeo a partir de Missouri, USA), Clive Menzies (investigador em economia política) e Prof. Steve Keen (australiano, via ligação vídeo de Bangkok).

 

sexta-feira, 28 de junho de 2019

GEOPOLÍTICA DA TERCEIRA GUERRA MUNDIAL

                                            «THE GEOPOLITICS OF WORLD WAR III»


Este excelente documentário explica como se realiza o domínio do dólar US e como o império dos EUA está indissoluvelmente relacionado com o petrodólar. 
Na minha opinião, tudo o que este documentário mostra, ajuda a compreender melhor por que razão estamos num momento tão perigoso para a própria sobrevivência da espécie humana. 

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

PARA COMPREENDER O MUNDO DE HOJE...

Para compreender o mundo de hoje... é preciso conhecer o que é afinal o «great reset» e esta entrevista dada por Jim Willie é absolutamente essencial.


A grande mudança vai implicar o retorno do ouro, como padrão de todas as divisas. Caminha-se para um universo dual, onde o dólar terá uma dada zona de influência e o Yuan terá outra.
As previsões em relação ao euro e aos projectos da Europa do Norte de regressar às suas divisas são muito audaciosas, mas devem ser tomadas a sério porque Jim Willie tem uma série de correspondentes, muito bem situados em vários pontos do globo, no mundo financeiro.
[como censuraram o vídeo anterior... vejam este, enquanto não o for!]

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

A POLÍTICA DE SANÇÕES, UM SINTOMA CLARO DA PERDA DE INFLUÊNCIA

                           Resultado de imagem para iran sanctions 2018


Quando é preciso exercer pressão, ameaçar, fazer guerra económica, isso significa que a liderança de um país não tem mais capacidade de provocar a adesão dos aliados e o respeito dos adversários.
As sanções unilaterais que Washington tem promovido como forma de impor a sua vontade, embora as apresente com o pretexto falacioso de que o faz para «punir» actos supostamente contra os direitos humanos das populações, são a maior evidência da decadência dos EUA e da complexa rede de dependências económicas, políticas, institucionais e militares que se tem auto-designado por «Ocidente». 
Os impérios são mortais, como a História o tem mostrado repetidamente. 

Está-se num ponto de transição em relação a todo um conjunto de parâmetros...

- Moeda de reserva: O dólar foi - desde Bretton Woods em 1944 - erigido em moeda de reserva, tendo mantido a sua paridade ao ouro (35 dólares por uma onça de ouro) até Nixon despegar o dólar desse compromisso, em 1971. A partir deste momento, todo o sistema monetário internacional entrou numa espiral de inflação e instabilidade. A conservação artificial dos diversos países no sistema dólar foi obtida graças ao acordo com a Arábia Saudita, conseguido por Kissinger em 1973, segundo o qual os EUA iriam sempre defender o regime saudita, enquanto este exigisse que seu petróleo fosse pago em dólares. Sendo a Arábia Saudita, nessa data (1973), o mais importante país exportador de petróleo da OPEP, todos os outros fizeram o mesmo; só aceitaram dólares em pagamento do seu petróleo.
O petrodólar está a perder a proeminência, pois vários países exportadores estão explicitamente a estabelecer contratos em que o petróleo (ou o gás) já não é pago em dólares: caso da Rússia, especialmente, com seus gigantescos contratos com a China. Mas também é o caso do Irão, da Venezuela, de Angola e mesmo do Catar. 
Não tarda muito que a própria Arábia Saudita aceite os yuan em pagamento de petróleo. A China é o maior comprador do petróleo saudita e instituiu recentemente um sistema «petro-yuan», em que as notas de crédito emitidas em yuan podem ser convertidas em ouro, no mercado de Xangai. A Rússia e o Irão, utilizando o referido petro-yuan, têm aumentado suas compras de ouro ou de produtos chineses. 

- Armamento: A superioridade dos sistemas de mísseis russos é tal que, a Turquia e a Arábia Saudita, aliados tradicionais dos EUA, preferiram adquirir SS-300, aos equivalentes americanos.
 Por outro lado, a Rússia com um orçamento militar muito menor que o dos EUA, consegue modernizar e tornar operacionais todos os ramos das suas forças armadas, depois destes terem sofrido, durante a década de 90. 
A colaboração entre a China e a Rússia vai potenciar os sistemas de defesa de ambos. Por exemplo, a detecção precoce e resposta adequada a um ataque surpresa, na China, beneficia dum melhor desempenho, em relação a quaisquer outras potências,  devido à sua rede instalada de supercomputadores.
Além disso, os armamentos russos mostraram sua eficácia recentemente, na guerra na Síria. A superioridade de tais armas impressionou de tal maneira generais dos EUA e da NATO, que estes aconselharam maior prudência ao presidente.

-A perda de aliados: Em pouco tempo, vários países «emergentes» começaram a descolar da vassalagem em relação aos EUA e a fazerem acordos de cooperação militar (as Filipinas com a China, por exemplo), de investimento em infraestruturas, etc. É o caso dos mais de  60 países envolvidos na «Belt and Road Iniciative». É ainda o caso de numerosos países africanos, que têm feito acordos mutuamente  vantajosos, podendo ficar com portos, caminhos de ferro, etc. a troco de suas matérias-primas...
Mas o mais grave ainda, é a discordância que pode chegar a uma completa desautorização pelos parceiros da NATO. Nomeadamente, apesar da admoestação e ameaças de Trump, os alemães prosseguem com o projecto «Nord Stream 2», em parceria com a Rússia, negando-se a aceitar quaisquer sanções. Além deles, muitas outras vozes europeias vêm clamando pelo fim das sanções contra este país.

- Recuo da globalização: Embora explicitamente desejada pelo actual ocupante da Casa Branca, a retirada de vários acordos  em instâncias da globalização, traduz-se por perda de influência. São os casos da retirada, ou desistência, dos acordos TPP e TTIP, assim como as exigências de renegociação do NAFTA, a  possibilidade de saída da OMC ou de organismos especializados da ONU... tudo isto contraria o poderio dum Império que se vê na liderança do Mundo globalizado. 

                          Resultado de imagem para iran sanctions 2018

- A retirada dos EUA do acordo multi-partido com o Irão trouxe ao de cima uma contradição flagrante entre a vontade do poder dominante e dos seus aliados/vassalos europeus. Estes, além do aprovisionamento em petróleo e gás, estão muito empenhados em estabelecer contratos de todo o tipo, desde obras públicas à aeronáutica, com o Irão.

- A utilização da arma das sanções é apenas eficaz se os países se vergarem, se submeterem. Pois, se não se sentirem intimidados, a ameaça surge apenas como forma brutal de pressão, como injustiça feita em primeiro lugar aos povos, não aos líderes dos países sancionados. 
Quando as sanções são unilaterais, quando são decididas ilegalmente e à revelia da ONU, apenas têm um efeito de intimidação, mas não chegam a ser eficazes, logo à partida. 
De certeza que os EUA sabem isso, visto que experimentaram esta situação com suas sanções contra Cuba, que perduraram cerca de 50 anos! No final, tiveram de as levantar; tinham-se tornado um anacronismo grotesco.

Sendo esta política internacional o equivalente do proverbial «pau», sem a «cenoura» para amenizar,  amigos e inimigos concluem que é melhor reforçar laços com outros, diversificar as parcerias: ficar exclusivamente na órbita de Washington, só traz limitações e não resulta em vantagens de qualquer espécie. 
Longe vão os dias em que os EUA eram vistos - por alguns - como sinónimo de segurança e desenvolvimento!

quinta-feira, 28 de junho de 2018

CRIPTOMOEDAS, METAIS, PETRO-DOLAR... EXPLICAÇÃO

Muitas pessoas continuam completamente no escuro, não percebendo a lógica que liga o sistema monetário, financeiro e portanto também a economia real, tangível...
Por isso, vale a pena ouvir este analista, que explica as coisas de forma muito simples. Vinte e poucos minutos de atenção, que valem a pena gastar. 


quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

O QUE IMPLICA A VOLATILIDADE DAS CRIPTOMOEDAS

As criptomoedas, desde o seu nascimento, sobretudo o bitcoin, mas depois, outras também (ethereum, riple, etc.) estão sujeitas a enorme volatilidade. Os dados mais recentes, apontam para uma descida vertiginosa, apenas comparável a recentes subidas, também elas, vertiginosas. 

Para se ter uma ideia dos riscos que o investidor pode correr ao decidir investir em bitcoin ou outras criptomoedas, basta dar uma olhadela ao mapa abaixo:
                             


 Note-se que, os países que aderem ao sistema «dólar» são os mesmos onde o bitcoin e seus análogos são legais. Os países onde é ilegal ou muito desaconselhável possuir, são justamente os países que têm acumulado reservas de ouro (não apenas os bancos centrais, mas também a população).

A entrevista seguinte pode ajudar-nos a compreender como as coisas são vistas nos meios financeiros bem informados: 


Existem sinais de que as pessoas da classe média dos países afluentes, mas também dos restantes países, estão a entrar na bolha especulativa do mercado das criptomoedas, tal como no mercado imobiliário e nas bolsas. 
Recebi informação de que o aumento de endividamento dos americanos através dos cartões de crédito, não é devido a um aumento do consumo propriamente dito, mas a usarem os seus cartões de crédito para comprar criptomoedas. 
A confirmar-se a  sua veracidade, isto significa que a bolha especulativa com as criptomoedas atingiu a fase de mania, a fase em que quase todas as pessoas desejam estar investidas num determinado mercado.
Como tenho explicado, esta inflação monetária, por enquanto confinada  a certos ativos, vai espalhar-se pela economia em geral. 

Recentemente, foi publicada a National Security Strategy, uma «declaração de guerra» do presidente Trump, em relação à China e Rússia, ao definir em documento oficial que os seus passos para criarem um mercado de petróleo e de divisas que marginalizasse o dólar era uma ameaça direta à «segurança» (leia-se hegemonia) dos EUA. Mas, entretanto, a imprensa e media distraem o público com um livro de mexericos sobre a vida dentro da Casa Branca... Quanto ao documento acima citado, no fundo, todo o mundo já sabia isso, mas agora é oficial e assumido como razão maior de conflito entre super potências.

Temos  os ingredientes todos para uma crise que acompanha o abandono do petrodólar, a passagem para outra moeda padrão nas trocas internacionais.

A conclusão lógica do que precede é que o ano de 2018 vai ser - no mínimo - um ano de muitas surpresas, de muita instabilidade nos mercados, com consequências na economia real, do dia a dia. 

sábado, 21 de outubro de 2017

HUBRIS E ARROGÂNCIA, É O QUE RESTA AO IMPÉRIO

               

No seguimento das questões levantadas pela iniciativa da China de estabelecer contratos futuros de compra de petróleo em Yuan, o qual é convertível em ouro no Shangai Gold Exchange, há muitos analistas que descrevem isso como um ataque direto ao dólar. O dólar seria destronado do seu papel como moeda de reserva, visto que os países produtores de petróleo (principalmente, os pertencentes à OPEP) deixam de aceitar em exclusivo esta divisa. Antes, qualquer país comprador tinha de possuir dólares para adquirir esta estratégica matéria-prima. É assim que funciona há 43 anos o sistema do petrodólar, resultante das negociações entre Kissinger e a monarquia saudita. 

Porém, tal visão é muito estreita, visto que os chineses detêm um excesso de dólares (acima de um trilião) como resultado do seu comércio, altamente deficitário para os EUA. 
Provocar  a descida acentuada do dólar, sendo esta a mais importante divisa de reserva no banco central e nos bancos comerciais chineses, parece uma forma de auto-sabotagem, mais do que medida estratégica, no contexto do sistema monetário e financeiro mundial.

Além disso, o facto do dólar continuar a ser a moeda de reserva mundial, deve-se a seus detentores, estatais ou privados, assim o quererem. Enquanto assim quiserem, não importa em que divisas seja transaccionado o petróleo (ou outra matéria-prima), o dólar continuará a estar na posição de moeda de reserva mundial. 

O perigo maior para o sistema do petrodólar, vem apenas e somente da enorme arrogância e hubris do império americano. Este tem usado e abusado da situação de privilégio de ser detentor da moeda reserva mundial para impor sanções, para dificultar o comércio e sabotar países. 
O sistema de Bretton Woods só poderia ser aceitável por todos os actores ao nível mundial, se os EUA fossem capazes de refrear a tentação de usarem a sua posição especialíssima, como arma contra todos os que se rebelam e contestam a sua hegemonia.

Com efeito, nenhum país está a salvo destas medidas de guerra económica, que são o decretar unilateral de sanções, como veio recentemente provar a imposição de sanções contra a Rússia e forçando os seus aliados (vassalos) da NATO a seguirem o mesmo caminho, mesmo com enorme prejuízo para eles próprios. 

Mas a Rússia e a China são potências demasiado grandes para ficarem «debaixo da pata» de Washington. Naturalmente, têm encetado o caminho de se autonomizarem do sistema dólar, assim como do controlo do sistema «Swift», das transferências de divisas e de transações internacionais. Já criaram e funcionam com o seu sistema próprio, equivalente ao sistema Swift.

Paralelamente, a China e a Rússia vão comprando tanto ouro quanto podem, pois sabem que este sistema monetário está no fim do seu «prazo de validade». No sistema actual, as divisas são meramente símbolos, manipulados pelos bancos centrais e comerciais, sem nenhuma ligação sólida à economia real, são divisas «fiat». 
Assim, os EUA têm tido o exorbitante privilégio de obter, a troco de «pedaços de papel» ou de dígitos eletrónicos, importações de bens e serviços, sem os quais a economia dos EUA iria certamente para o colapso, visto que já deixou há muito de ter base industrial suficiente para se auto-sustentar e exportar. 
Por outras palavras, mais nenhum país no mundo tem a capacidade de se manter sucessivas décadas (!) em défice comercial. Os EUA conseguem este prodígio, porque «exportam» a sua divisa e o mundo inteiro, por enquanto, aceita  o dólar como pagamento.

O facto do Yuan estar a dar passos para seu reconhecimento, enquanto moeda de reserva não é de agora, basta pensar-se na longa batalha para que o FMI incluísse a divisa chinesa no cabaz de divisas, o SDR (cabaz composto por determinadas percentagens de dólares, libras, yens, euros e - agora - de yuans).
Os países ou agentes privados ficarão contentes em serem detentores de yuan, pois agora têm a possibilidade concreta de trocar estes yuan por ouro. 

O ouro, vale a pena recordá-lo, embora tenha sido «desmonetizado», continua a ser um metal monetário e um símbolo de riqueza e de poder, como foi durante milénios. 
De outro modo, seria absurdo e incompreensível que todos os bancos centrais possuam importantes quantidades deste metal; se fosse apenas uma matéria-prima entre outras, não haveria razão objetiva para tais instituições - exclusivamente financeiras -continuarem a deter e adquirir mais ouro. 
Nos finais da IIª Guerra Mundial, o regime de Hitler estava já claramente derrotado: ainda assim, conseguia fazer importações a troco de ouro, pois já não conseguia que os parceiros comerciais aceitassem o marco alemão.

Quando houver bastante comércio internacional em várias outras divisas, diminuindo bastante a fatia de cerca de 60% actual em dólares, as nações e as empresas já não verão como essencial possuírem esta moeda em reserva. 
É nessa altura que o dólar será abandonado como reserva «oficiosa», pois toda a gente sabe que o dólar - desde 1971 - já não está garantido por nada de sólido. Antes, mantinha a sua convertibilidade em ouro, o que resultava do acordo de Bretton Woods
O desaparecimento do estatuto do dólar, enquanto divisa de reserva, não será súbito, nem total: basta ver o exemplo histórico da libra.

Vários analistas de mercados financeiros vêem sinais claros de que o ouro voltará a desempenhar um papel de relevo no sistema monetário internacional. Com efeito, este tem uma vantagem inegável sobre qualquer divisa emitida por um banco central: é que não pode ser fabricado a preceito ou conforme as conveniências de uma super-potência, além de seu valor ser o mesmo em todo o mundo e aceite, independente do local onde foi minerado ou refinado. 

segunda-feira, 3 de julho de 2017

O QATAR E O FIM DO PETRO-DÓLAR

                      

Esqueçam tudo o que sabem sobre o Médio-Oriente, ou melhor, tudo o que julgam saber, visto que temos estado literalmente a sofrer sucessivas lavagens ao cérebro, acerca das guerras na bacia do Mediterrâneo e no Oriente-médio.

Com efeito, os media apresentam sempre a grelha de leitura do conflito religioso, na sua vertente sectária, entre muçulmanos xiitas e sunitas. Nada é mais falso do que esta leitura «confessional» para explicar o fundamento profundo destas guerras. 

É preciso realmente recuar a 1971 e ao repúdio de Bretton Woods pelos EUA, a superpotência sob cuja égide foram firmados estes acordos. Do repúdio unilateral de Bretton Woods nasceu o petrodólar, resultante do acordo da monarquia saudita com Kissinger em só aceitar dólares em pagamento do petróleo contra uma proteção total pelo exército dos EUA. 

Só assim se compreenderá que a batalha que se trava é económica e financeira antes de mais; que envolve parcerias estratégicas para controlar os mercados estratégicos de «ouro negro» (petróleo e gás natural) e do ouro, propriamente dito. 

Finalmente, para se possuir uma perspetiva realista sobre a reorganização do mundo ao nível do padrão monetário, o chamado «reset», teremos que compreender o seguinte: quem controlar os fluxos de capitais, controlará o futuro, ora o capital real não é o dólar, ou petrodólar ou euro dólar, mas antes as matérias primas estratégicas, nomeadamente e em primeiro lugar os combustíveis fósseis, assim como o ouro, o valor de reserva em última instância.

Quem quiser perceber algo das lutas, das guerras, dos terrorismos, terá de se distanciar das narrativas dos media de «referência». Só fazendo uma pesquisa individual poderá adquirir algum saber, para além do ecrã de propaganda. Só quem puder ou souber manter-se ao corrente da situação, diversificando as suas fontes, poderá construir sua visão geral de geoestratégia e de política.

Os artigos de Shaun Bradley («O fim do petro-dólar, o que a FED não quer que você saiba») e de Ahmed Charai («A única saída para a crise do Qatar) têm aspetos criticáveis, enunciam as opiniões dos respetivos autores, mas eu aconselho a sua leitura integral e atenta, pois estão recheados de informações preciosas, as quais são sonegadas ou cujo significado é sistematicamente obscurecido pela comunicação social de massa. 

A crise entre o Qatar e os outros países do Conselho do Golfo (formada pela Arábia Saudita e os Emirados) é reveladora da transição para fora do petrodólar e da perda de hegemonia dos EUA. 

Neste gigantesco jogo de tronos ... as populações, principalmente os civis inocentes, são as grandes vítimas.

Mas também estamos a assistir a isto tudo, porque a «nação excepcional» e seus aliados europeus, decidiu - há muito tempo - que as políticas focalizadas nos «direitos humanos» só se aplicavam a países de Leste e à Rússia (ou à União Soviética). Apenas usadas como arma de contra-propaganda ao «comunismo e socialismo» (ou, mais precisamente a quaisquer alternativas populares, mesmo as mais reformistas...). 

Quanto às monarquias do Golfo, cada qual mais reacionária que a outra, completamente corrompidas, tinham de ser acarinhadas por «realismo político». Aqui, pouco importava elas não serem propriamente modelos de virtudes humanitárias (veja-se a guerra contra os civis no Iemen, largamente ignorada, veja-se a guerra por procuração, contra um dos poucos regimes laicos, o sírio...). 

Mas, como mostra a crise dos países do Golfo com o Qatar, chegou o momento de certos aliados mudarem de campo, o que acontece também com a Turquia. Por outras palavras, a grande mudança, o «reset», está a desenrolar-se diante dos nossos olhos. 

Quem não observar as coisas tal como elas são, irá fatalmente tomar decisões erróneas, a todos os níveis, porque irá considerar como sólido aquilo que se está a desmoronar, irá investir em miragens, para ficar com uma «mão cheia de nada». 

Tanto no plano financeiro, como no sentido de «investimento emocional», as pessoas deveriam questionar - antes que seja tarde demais - as suas certezas. Aquilo que tomam como «dado adquirido» resulta - muitas vezes - da perpétua propaganda que se abate sobre todos nós. 

Quem ler os dois artigos supra-citados e os comparar com a narrativa que nos é constantemente vendida nos media, terá um elemento comparativo e de avaliação. Não me parece exagero dizer que temos estado sujeitos a endoutrinamento, neste assunto, como em muitos outros. 
Infelizmente, isso acontece um pouco por todo o mundo, talvez mais maciçamente nos países onde o nível cultural geral é baixo. Mas, onde o público é mais sofisticado, a mentira também o é!