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segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

A LENTA AGONIA DO EURO*


O vídeo acima analisa a economia da Zona Euro e deixa pouca esperança de ser evitada a crise final. 

 A fraqueza do Euro está patente quando a sua taxa de câmbio em relação ao Dólar vai diminuindo, ao ponto de se estar perto de atingir a paridade Dólar/Euro. Mas será que esta indicação é a mais relevante? 

- De facto, todas as moedas fiducitárias, em particular as do Ocidente, têm vindo a perder poder de compra a uma velocidade estonteante. A forma mais correta de avaliar a perda de valor, será em relação ao ouro. O metal amarelo é, de facto, o «metal monetário» que sempre foi reconhecido como portador de um valor estável, servindo como instrumento de troca,  dinheiro, desde há mais de 5000 anos.**

Se nos reportarmos ao valor das moedas fiat mais utilizadas nas trocas comerciais dos mercados internacionais do Ocidente (Dólar, Euro, Yen, Libra...), verificamos que o valor de todas elas, em relação à onça de ouro, tem diminuído exponencialmente nos últimos 5 anos, com uma aceleração da descida nos últimos seis meses. Em relação ao Dólar, para se comprar um quilograma de ouro, há 5 anos, eram necessários 50.000 Dólares US. Hoje, a mesma quantidade de ouro, apenas pode ser adquirida por 85.000 Dólares US.  Quanto ao Euro, no início de Dez. de 2019, custava 45.000 Euros um quilograma de ouro; agora, custa 81.000 Euros. 

Esta relação entre o ouro e as moedas fiat é importante, pois - na verdade - é como uma linha-base para se medir a inflação. Porque o valor de todas as outras mercadorias sobe no médio prazo, acima das percentagens de aumento do ouro. Por outras palavras se, no espaço temporal de 5 anos, o ouro aumentou (em moedas fiat) de 60% ou um pouco mais, podemos ter a certeza de que os items de consumo corrente, no mesmo intervalo de tempo, aumentaram acima dessa percentagem. Com efeito, o custo da alimentação, avaliada em termos de preços médios nos países do Euro, subiu mais de 100%, mais do dobro em apenas 5 anos. 

A população europeia, geralmente, ficou mais pobre, pois os seus rendimentos (em salários, pensões, ou outras fontes) foram crescendo nominalmente a um ritmo muito menor que os preços dos bens e serviços básicos. Só a oligarquia,  já muito rica, viu as suas fortunas aumentar realmente, ou seja, em termos de capacidade aquisitiva. 

O valor duma moeda, mesmo se medido da forma mais rigorosa possível, nunca está numa relação linear estricta com a política económica de uma nação e, neste caso, do conjunto de nações que adoptaram o Euro. Do mesmo modo, os juros dos bonds emitidos pelos vários países do Euro (dívida soberana) não reflectem, desde a crise do Euro em 2012, a avaliação dos mercados em relação à solidez das respectivas economias. Esta dissociação deveu-se à política «excecional» do BCE, que aliás se prolonga até agora, em comprar a dívida emitida pelos Estados mais fracos da Zona Euro, falseando assim o valor de mercado dos bonds emitidos. Os compradores de tais bonds tinham a garantia de que estes eram sustentados pelo BCE, sendo portanto avaliados como investimentos semelhantes em risco à  compra de bonds das melhores economias europeias, como a Alemanha e outros Estados do Norte da Europa: Mas, com a vantagem dos juros serem um pouco mais elevados,que destes últimos. 

Nestas condições, os Estados mais endividados, em vez de reduzir de modo significativo seu endividamento, continuaram a pedir emprestado, ano após ano, mais do que as quantias que liquidavam da sua dívida soberana, aumentando assim o seu endividamento. Todos os Estados do Sul da Euro Zona (incluindo a França e a Itália) estão hoje numa posição de dívida em percentagem do PIB, equivalente aos casos da Grécia, de Portugal e doutros, no ano de 2012.   

Mesmo na ausência de políticas erradas por parte dos Estados participantes do Euro, o Sistema Monetário Europeu acumula desequilíbrios de modo estrutural, ou seja, devido a um défice da capacidade produtiva e de exportação nos países do Sul, enquanto o oposto acontece em relação aos países do Norte. Não pode ser de outro modo, num sistema que funciona largamente como mercado interno, «A Eurolândia». Onde existir um défice, tem de haver, do outro lado, um superávit: Se a balança comercial de certos países do Euro é cronicamente deficitária (os chamados «PIGS»), isso significa que outros países  do Euro têm um superávit crónico: Este caso é o das economias mais vigorosas, a Alemanha, a Holanda e países Escandinavos.  Isto porque a grande maioria das trocas comerciais ocorre dentro do espaço Euro. 

O Euro não pode ser assimilado sequer à divisa dum Estado soberano, porque se assim fosse, esse Estado poderia subir ou baixar a taxa de câmbio em relação às divisas estrangeiras e aumentar ou diminuir os juros das obrigações soberanas. Tal não acontece no sistema do Euro. Assim, o crónico défice das contas externas só pode ser mantido com uma política de austeridade,  castigando sobretudo os produtores, os que produzem a riqueza. 

Ao longo de décadas, o défice das contas públicas e do comércio externo nos países mais endividados, implicou o défice de investimento em  infrestruturas, em educação e em inovação, tudo o que garante, no longo prazo, que um país progrida economicamente. Só lhes resta então vender «as jóias da coroa», ou seja, as empresas e recursos nacionais que dão lucro, ou que possuam capacidade de gerar lucro. 

Estamos em Portugal e noutros países europeus, neste estádio. A situação é análoga à dos países do «Terceiro Mundo», com dívidas excessivas aos bancos e entidades financeiras internacionais e que se foram agravando, ficando aqueles países cada vez mais atolados no ciclo da dependência.   

Por outro lado, os EUA, a potência tutelar da Europa através da OTAN, accentua o seu peso, forçando os países europeus a alinhar na guerra da Ucrânia por eles provocada metodicamente - e que estava perdida, à partida - contra a Rússia, o principal fornecedor de energia aos países europeus mais industrializados e o grande importador de géneros alimentares dos países meridionais. 

Este conflito foi a «receita perfeita» para o Império, pois os súbditos europeus ficavam cada vez mais dependentes, não apenas em termos militares, como em aspetos essenciais da economia, como o abastecimento energético. O aprofundamento da crise económica na U.E. foi devido, em grande parte, ao seu envolvimento na aventura belicista contra a Rússia. O corolário foi a fuga de indústrias europeias para o outro lado do Atlântico, nos EUA, para beneficiar das condições mais favoráveis, em termos de impostos, de custos da energia e outras vantagens competitivas. 

Claro que os investidores internacionais estão conscientes do ponto em que a economia europeia se encontra e do desfecho mais provável: Haverá aumento dos juros da dívida soberana dos Estados europeus, assinalando a falta de confiança na sua economia, com a concomitante espiral descendente: Inflação, perda de competitividade, desemprego, recessão e contração da economia...

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*Devido ao "colete de forças" da Comissão Europeia, o mais provável será o definhar da Zona Euro, acompanhada pela crise política dentro dos Estados dominantes. A saída de países individuais do Euro vai ser contrariada, de todas as maneiras possíveis, por Bruxelas.

** Da newsletter de Buillon Vault, veja no gráfico abaixo, que descreve a evolução do retorno sobre investimento para uma série de classes de ativos; o ouro supera qualquer outro ativo no intervalo de tempo representado (de 1999 - até hoje):

O ouro cresceu 820% em Dólares US...

 

...770% em Euros...

 

...e bem acima de 1 000% em Libras esterlinas.


Relacionado:

PLANO DRAGHI: SUPER ESTADO EUROPEU








quarta-feira, 6 de março de 2024

O YUAN ULTRAPASSA O EURO, NA SUA UTILIZAÇÃO INTERNACIONAL


O yuan está a deslocar o dólar e o euro nas trocas comerciais, com especial relevo para as compras de energia.
Quando foi admitido no cabaz de divisas que formam o SDR (ou «direitos de saque especiais», a «moeda interna» do FMI), as trocas em Yuan situavam-se à volta de 2% do mercado internacional de divisas. A fatia de trocas internacionais em yuan foi crescendo, até se tornar a segunda divisa no sistema de pagamentos mundial «Swift», com 5,8%.

 

sábado, 1 de abril de 2023

Inflação: o imposto oculto

 Não existe ainda uma consciência na generalidade das pessoas, sobre o modo como o Estado obtém o financiamento para as despesas que faz. Teoricamente, ele funcionaria com o dinheiro dos impostos. Mas, é fácil constatar que ele gasta muito mais do que recebe e, ainda por cima, tem despesa que não está inscrita no Orçamento de Estado.

Como é que os Estados se mantêm, muitas vezes com défices orçamentais que se avolumam de ano para ano?

Existem vários mecanismos que levam a um aumento da receita de imposto, sem que isso se torne muito óbvio para a generalidade das pessoas. Assim, se houver um aumento geral dos preços, todos os produtos que têm o imposto de valor acrescentado (IVA) aumentam na mesma proporção. Dirão: mas o valor maior cobrado vai cobrir as maiores despesas do Estado, portanto em termos líquidos, não é propriamente um aumento.

- Certo, só que as despesas do Estado são, numa grande fatia, despesas fixas ou que pouco aumentam: Estou  a referir-me a despesa com ordenados dos funcionários e agentes do Estado, assim como as pensões de reforma e invalidez. Estas despesas deveriam aumentar na devida proporção do aumento do custo de vida, mas tal não acontece nunca. Um funcionário público, ou um pensionista do Estado, terão mais alguns euros no seu ordenado ou pensão, mas de forma nenhuma tais aumentos atingem o valor que corresponderia à inflação.

Além do mais, o índice de inflação não é objetivamente avaliado. Desta forma, o Estado não tem de desembolsar tanto como seria o caso, se a inflação fosse avaliada corretamente. Se o verdadeiro índice de inflação for de 12 % ao ano, o «cozinhado» que fazem com as estatísticas poderá dar um índice (falso) de 8%. Nestas circunstâncias, não apenas o Estado desembolsa menos 4% com ordenados e pensões, como vai buscar mais na receita do IVA. 

Em geral, o Estado, sobretudo quando estiver em défice, cobre as despesas emitindo obrigações do Tesouro,  títulos de dívida que vencem a prazos de 2, 5 ou 10 anos, por exemplo. Nesse intervalo, o Estado vai dar um juro fixo. Se nesse intervalo de tempo houver uma inflação maior do que a taxa de juro fixo, o Estado vai pagar menos (em valor real) pelo empréstimo feito: nominalmente é a mesma coisa mas, tanto o principal da obrigação, como o juro a ela associado, terão menor valor real (menos capacidade aquisitiva). 

Os Estados do Euro, têm sido «premiados» com a compra automática das obrigações que colocam no mercado e que não encontraram comprador,  pois o BCE (Banco Central Europeu) comprometeu-se a comprar todos os títulos do Tesouro dos Estados aderentes ao Euro. Então, os juros foram baixando para estas obrigações, até ao ponto em que Estados muito débeis, em termos financeiros, como Portugal, tinham um juro associado a sua dívida semelhante, ou mesmo inferior, a Estados com melhor situação económica e financeira. Assim, Portugal estava obrigado a pagar juros da dívida no valor (por hipótese) de 3% em média durante um longo período, mas semelhante juro era o de obrigações estatais de países com muito melhor situação global. Era como se os compradores da dívida portuguesa aceitassem adquiri-la, embora o valor real das obrigações fosse muito menor. 

Com efeito, o valor de uma obrigação é tanto maior quanto mais baixo for o seu juro. Isto reflete o cálculo do mercado sobre os riscos que correm os compradores de - ao fim do tempo definido - não receberem pagamento do principal (situação de bancarrota do Estado), ou de haver interrupção temporária no pagamento dos juros, ou outro tipo de incumprimento. Nestas circunstâncias, o apoio sistemático do BCE através da compra de obrigações dos Estados mais débeis, reflete-se a vários níveis: Estes empréstimos têm comprador garantido, com juro mais baixo e com menor despesa nos orçamentos públicos desses Estados (Os juros da dívida pública são obrigatoriamente inscritos no orçamento de Estado).  

Os ordenados e pensões são sistematicamente depreciados: o seu «ajuste» é feito tardiamente, num intervalo que pode ser dum ano; é baseado num índice oficial de inflação fictício; nalguns casos, provoca o aumento no imposto (IRS), por mudança  de escalão, o que anula o pequeno aumento recebido. 

Os grandes capitalistas também aproveitam a inflação em seu favor. Não apenas nos ordenados que têm de pagar; mesmo aumentando-os, estes terão menos valor, em termos relativos. Eles «antecipam» as subidas de preços, colocando a mesma mercadoria, cuja compra foi ao «preço antigo», com preço inflacionado ou aumentando a margem de lucro porque decidem vender a um preço muito maior que a inflação, que eles próprios sofreram no processo de fabrico.  

Em Portugal, o Estado não tem verdadeiros motivos para se preocupar muito com a subida dos preços, até certo ponto. O ponto crítico é a capacidade da população em suportar uma forte descida do seu nível de vida. Esta descida pode significar a caída na pobreza extrema, para alguns, e o empobrecimento relativo para a imensa maioria. Penso que a generalidade das pessoas estaria de acordo que, em Portugal, o bem-estar económico tem diminuído para a grande maioria, desde há alguns anos, sobretudo desde há cerca de ano e meio, com o agravamento da inflação.

Há perdas acentuadas nos pequenos comércios e nos serviços, que são as empresas mais criticamente dependentes da retração brusca da clientela. Muitos têm de abrir falência, outros têm de reduzir pessoal para fazer face ao novo contexto. Esta concentração favorece os grandes grupos, por exemplo os hipermercados, ao eliminar a concorrência do pequeno comércio de bairro.  

Por fim, a injustiça desta taxa, ou imposto oculto, ressalta se verificarmos que as pessoas pobres, ou com rendimentos médios-baixos, têm como principal despesa a alimentação (e outras necessidades quotidianas): A inflação é sempre mais acentuada neste item. Ora, os ricos têm, proporcionalmente às despesas, muito menos impacto, com o aumento dos preços da alimentação:  A alimentação pode representar uns 60% do rendimento, numa família pobre e somente 20% numa família rica. 


Alimentos subiram 20% na UE, num ano.


quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

OURO REGRESSA AO CENTRO DO SISTEMA FINANCEIRO

 A China é detentora duma quantidade de ouro difícil de apurar. No entanto, aquilo que se sabe é que o ouro em mãos do Estado, é mais do que o ouro oficialmente contabilizado no People's Bank of China, o banco central chinês. Por outro lado, nos últimos decénios, o povo foi encorajado a comprar ouro. A quantidade de ouro acumulado por este muito poupado povo (a poupança, por agregado familiar, é cerca de 40% do seu rendimento) é também quase impossível de avaliar.


                             Imagem: Loja de venda de ouro a retalho, em Pequim

O que se sabe, é que o ouro importado doutras paragens, principalmente através da Bolsa de metais preciosos de Xangai, faz desta, a praça mais importante mundialmente, no que diz respeito a trocas reais, ao metal físico. No mercado londrino (LBMA) ou no americano (COMEX), a quantidade de ouro realmente transacionada, é uma pequena percentagem dos contratos de futuros que são comprados e vendidos, ou seja, do «ouro-papel». É com estes contratos, que a finança e os Estados fazem uma permanente manipulação do ouro, um metal precioso muito «político»: é o único metal que continua a ser reconhecido como monetário (= como dinheiro real) pelos bancos centrais do mundo inteiro.
Ora, a China quer enriquecer o seu povo: É previsível que isto vá significar a oportunidade de adquirir mais ouro com os seus yuan. O yuan irá tornar-se assim como um «substituto» do ouro. O que Pequim tem de fazer (ao contrário dos padrões monetários/ouro, do passado) é não fixar/ indexar o preço do ouro em yuan. Se não indexarem a sua moeda ao ouro, continuará a haver, no entanto, uma forte correlação (1) com o ouro, mas não será algo fixo, rígido.
Penso que é este o caminho que as autoridades monetárias e financeiras chinesas estão a tomar há algum tempo: Lembremos que vem do tempo de Deng, o slogan «Enriquecer é Virtuoso». Desde o início do século XXI, que a posse de ouro na China, por cidadãos privados não só foi autorizada, como foi encorajada. Todo o ouro minerado na China, lá fica. A China é o 2º produtor mundial de ouro, atrás da Rússia. Não há exportação de ouro chinês. O enorme volume de importação vem, sobretudo, do Ocidente. As empresas de fundição e refinaria de ouro, na Suíça (com 70% da refinação mundial de metais preciosos), têm estado ocupadas - a tempo inteiro - em converter barras «LBMA» (que obedecem às especificações ocidentais) em barras de quilograma, que obedecem às especificações da China.
Como não podia deixar de acontecer, os media económicos e comentaristas ao serviço dos interesses financeiros ocidentais, querem que seus leitores continuem a «engolir» a treta de que o ouro é um mau investimento, de que sua posse não traz dividendos, apenas despesas associadas, etc. Mas - de facto - mesmo os bancos centrais ocidentais têm estado a adquirir ouro, desde há uns cinco anos (venderam muito ouro, no início do século XXI, quando seu preço em dólares era cerca de 1/5 de agora!). Os multimilionários também o compram, embora não queiram publicidade sobre isso. A sua preocupação é desfazerem-se dos ativos financeiros e adquirir imobiliário ou metais preciosos.
Não tenho dúvidas de que a era do dólar-rei acabou. A única coisa que mantém os países ocidentais dentro da esfera do dólar, é o medo. Porque os americanos têm defendido o dólar com invasões e guerras: no caso do Iraque, está provado que a verdadeira razão da guerra que levou à captura de Saddam Hussein e sua execução, num simulacro de julgamento, foi este ter decidido que o petróleo iraquiano seria vendido doravante em euros. Quanto à guerra e ocupação que levaram á trágica morte de Muamar Kadafi e a destruição da Líbia - foi o país africano mais próspero - foram decididas pelos EUA e seus aliados, porque Kadafi propôs a construção do «dinar pan-africano», moeda única, que seria usada pelos países africanos e na qual venderiam suas matérias-primas, em substituição dos dólares, euros, etc. Agora, não se atrevem a fazer o mesmo com a Rússia, a China, nem sequer com a Arábia Saudita. 
Todos os países (mesmo os aliados dos EUA) temem, com razão, as manipulações que os americanos fazem com a sua moeda, seu controlo da rede de transferências - a rede SWIFT - e todos os processos de transferências que passam por bancos americanos: Quaisquer países que façam transações em dólares, podem potencialmente sofrer sanções, por parte dos EUA. Os países do Golfo e a Arábia Saudita estão a fazer as pazes com seu inimigo, o Irão e pediram a intermediação dos russos para esta aproximação, porque perceberam que o petrodólar morreu e que só poderão ter espaço de manobra, se saírem da esfera americana. 
Os que ficam na esfera do dólar americano, são os que não podem fazer doutro modo, nomeadamente, os países europeus ocidentais. Eles tornaram-se, desde o fim da 2ª Guerra Mundial, neocolónias de facto dos EUA.

Em todo o Ocidente, os indivíduos continuam a ser canalizados para investir em ativos de natureza financeira. Estes, dentro de pouco tempo, ficarão denominados em moedas digitais : e-dólares, e-euros, e-libras, e-yens. Quando isso acontecer, as cotações do ouro e da prata serão muito mais elevadas, do que no presente. Nessa altura, quem for detentor de certa quantidade destes metais, terá capacidade de adquirir valiosos bens imobiliários, terrenos agrícolas e outros bens não-financeiros. 
Os bens tangíveis, globalmente, irão manter, ou aumentar, em valor real, enquanto os instrumentos financeiros (contas a prazo, obrigações, derivados, criptomoedas, etc.), sofrerão enormes perdas. (2)
A ruína dos pequenos investidores faz parte do «golpe» dos muito ricos. Estes, preveniram-se e compraram, com os lucros obtidos na especulação bolsista, toda a espécie de bens não financeiros, dos metais preciosos, às terras agrícolas, ao imobiliário e mesmo, obras de arte e objetos de coleção. 
Os pequenos e médios investidores podem evitar ser erradicados da face da Terra, se tiverem o bom-senso de fazer o mesmo (mudar de ativos financeiros, para ativos tangíveis) - e quanto mais depressa, melhor. As pessoas que ficam nos mercados financeiros, à espera de «melhores dias», irão perder o máximo. A conversão de ativos financeiros em ouro ou prata, metais reconhecidos universalmente como tendo valor (e cotação), pode corresponder à diferença entre conservar o essencial e a perda completa do património.

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(1) No mercado de ouro de Xangai, as compras e vendas do metal precioso são obrigatoriamente em yuan.
(2) A conversão do dinheiro usual, em digital é um aspeto central do «Great Reset». O valor nominal das unidades pode ser o mesmo, mas o valor real não será idêntico. Ou seja, 1 dólar, 1 euro,1 yen,  etc... de hoje (18-01-2023), serão mais valiosos do que 1 e-dólar,1 e-euro, 1 e-yen,  da digitalização integral da economia. Haverá uma brutal transferência de riqueza, que a grande maioria não compreenderá, nem terá consciência, no imediato.

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PS1: O GRÁFICO ABAIXO  DÁ-NOS UMA IDEIA DA VALORIZAÇÃO DO OURO NO ANO DE 2022, EM TERMOS DE «DIVISAS FIAT». OUTRA MANEIRA DE VER, É CONSIDERAR QUANTO CADA DIVISA SE DESVALORIZOU, EM RELAÇÃO AO OURO.(retirado de AQUI)



domingo, 2 de outubro de 2022

A EUROPA METEU-SE NUM BECO SEM SAÍDA

   Maidan (2014) a violência do golpe de Estado, instigado e apoiado pelos Ocidentais

Quando diversos governos europeus se precipitaram, na sequência da invasão russa da Ucrânia, para executarem as sanções, é notável que um certo número destas, como a expulsão dos Bancos russos do sistema SWIFT, ou a tomada (não o congelamento) das reservas em divisas detidas pelo Banco Central da Rússia, não tivessem sido jamais consideradas como possíveis, publicamente. O efeito devastador de tais sanções inéditas seria de causar um colapso da economia da Rússia, a sua descida subsequente no caos e a revolta contra Putin e o seu governo. Estas expectativas foram, nessa altura, enfaticamente afirmadas pelos governos atlantistas e seus propagandistas. Essa tal ênfase, faz-me pensar que estavam 100 % confiantes do seu resultado.
O facto é que a economia e o próprio Estado russo se tinham estado a preparar para esta guerra económica, desde que verificaram o papel dos ocidentais no golpe de Estado na Ucrânia, o golpe dito de Maidan, que derrubou um governo legítimo e instalou forças nacionalistas, chauvinistas, as piores de que há memória, desde o fim da IIª Guerra Mundial. Eu lembro-me perfeitamente das declarações histéricas de certos líderes do triunfante golpe de Maidan em 2014. A perseguição furiosa aos elementos russófonos, foi ao ponto de uma guerra de extermínio, de etnocídio, contra uma parte do próprio povo ucraniano. As províncias do Don eram províncias russas ofertadas por Lenine à república soviética da Ucrânia em 1922, a Crimeia foi povoada por russos desde o final do século XVIII, e estes são muito maioritários nesta península. Por outro lado, houve impunidade total dos elementos (conhecidos) pelo bárbaro crime de imolação pelo fogo de mais de 40 pessoas que se refugiaram no edifício dos sindicatos, em Odessa (outra cidade claramente russófona). Em consequência do ataque violento à sua cultura, às suas propriedades, meios de subsistência e -sobretudo- à sua própria vida, os russófonos da Ucrânia foram empurrados para a guerra civil pelos bandidos de extrema-direita. Estes foram chamados, eufemisticamente, pelas chancelarias e pelos órgãos de imprensa, de «nacionalistas», quando na verdade, integravam uma extrema-direita nazi, em continuidade com a divisão SS formada por ucranianos durante a IIª Guerra Mundial e culpada de inúmeros massacres e atrocidades.
Nada do que ocorreu durante estes oito anos, incluindo a invasão russa e a recente inclusão as ex-províncias ucranianas de Lugansk, Donetsk, Kherson e Zaporizhzhia, no território da Rússia, teria acontecido, se europeus e americanos, desde 2014, não tivessem jogado no confronto e na provocação com a Rússia, às suas fronteiras, nesta área tampão extremamente complexa do ponto de vista das etnias, da História, etc.
Todo este jogo absurdo, por parte dos governos da Europa ocidental, mostra até que ponto eles são vassalos do poder de Washington. Com efeito, é este que mantém a Europa refém e «protege-a», assim como os gangsters «protegem» os comércios que lhes pagam um tributo. A cobardia e corrupção dos seus dirigentes políticos, é o que torna viável o jogo americano. Ao ponto de se aplicar perfeitamente a interrogação retórica, «com amigos assim, para que são precisos inimigos?»
Agora, estamos perante uma classe política que não sabe o que fazer. Toda ela está totalmente impotente para evitar os rigores de austeridade, de inflação galopante, de miséria e de fome, causados nos respetivos povos pela sua própria estupidez. O povo e os trabalhadores já percebem e não perdoarão. Os dirigentes europeus embarcaram numa violenta guerra de sanções, em proveito alheio (Washington) sem sequer se precaverem das (prováveis) consequências de ficarem cortados dos principais fornecimentos de gás, petróleo, adubos e cereais! Absurdo, mas verdade. Incrível, mas autêntico. Nada nem ninguém poderá negar a evidência dos factos.
Todos os dados apontam para isto. Os governos europeus da OTAN caíram na armadilha, que seu «suserano» os EUA, lhes pregou, para os ter na mão.
Tinham ainda uma pequena «tarefa» a fazer para dar o golpe final. A sabotagem, tornando inviáveis, no curto e médio prazos, os fluxos de gás dos gasodutos NS 1 e NS2. Assim a Alemanha e outros, não iriam poder retomar as importações de gás russo. A saída diplomática da guerra é do interesse dos europeus ocidentais, além de ser - obviamente - vital para o povo ucraniano. Mas, encontrar uma saída diplomática, é aquilo que Washington mais deseja evitar, no  presente conflito no Leste da Europa.
Penso que as circunstâncias em que se encontra a Europa ocidental hoje, podem causar um choque de tomada de consciência. Não creio possível a continuação da pantomima de que os Americanos são «amigos» e «aliados» dos europeus:
- O dólar joga claramente contra o euro e agora contra a libra: OS MEIOS FINANCEIROS, A COMEÇAR PELA FED E POR WALL STREET, agem como inimigos dos europeus, querem captar as suas indústrias mais valiosos, as indústrias de ponta. Eles querem que a Europa se desindustrialize, para as melhores indústrias europeias se instalarem nos EUA. Estas indústrias beneficiarão de regimes especiais de proteção. As economias dos países ocidentais, sobretudo as dos mais poderosos, são agora privadas do acesso às fontes de energia seguras e baratas, para depois serem saqueadas e exportadas (as mais interessantes) para territórios do Tio Sam.
O que digo acima é evidente. Pois, de uma forma ou de outra, é exatamente o que JÁ OCORRE DEBAIXO DO NOSSO OLHAR. Talvez eles consigam salvar a sua economia da hecatombe, à custa da hecatombe dos seus «amigos e aliados» europeus. Mas, será isto um verdadeiro triunfo?

 ALGUMAS REFERÊNCIAS RELACIONADAS:

https://thecradle.co/Article/Columns/16307

https://consortiumnews.com/2022/09/30/scott-ritter-the-onus-is-on-biden-putin/

https://www.nakedcapitalism.com/2022/09/michael-hudson-on-the-euro-without-germany.html

https://www.youtube.com/watch?v=2wpMMSvKUTU

https://www.globaltimes.cn/page/202209/1276456.shtml

https://www.unz.com/article/nordstream-the-signal-that-washington-knows-it-has-lost-the-great-game/


PS1: Agora, que Blinken classificou (na Sexta feira passada, 30 de Set.) as explosões dos gasodutos no Báltico como «uma tremenda oportunidade» ou seja, agora, os europeus têm de comprar LNG americano em grande quantidade, não há mais lugar para dúvidas. A húbris da administração Biden é reveladora de QUEM fez essas sabotagens. Não me custa crer que os americanos tiveram a colaboração operacional dos britânicos e polacos e conhecimento prévio dos membros da NATO do Báltico, Alemanha, Dinamarca, Suécia. Veja:

 https://www.zerohedge.com/geopolitical/blinken-calls-sabotage-attacks-nord-stream-pipelines-tremendous-opportunity

Se os Estados da Europa ocidental tivessem governos nacionais e não fantoches, esta situação deveria conduzir à rutura com os EUA e ao rebentamento da própria NATO.
https://www.unz.com/runz/american-pravda-of-pipelines-and-plagues/


PS2: A candidatura da Ucrânia à «entrada de emergência» na NATO, teve como resposta um frio «NÃO» do lado da NATO. Aos americanos, obviamente, não lhes interessa que a Ucrânia esteja dentro da NATO. Querem que a Ucrânia lute contra a Rússia até à exaustão das suas forças, mas sem alastramento à NATO, o que iria certamente significar uma guerra direta NATO-Rússia. 

segunda-feira, 5 de setembro de 2022

ESTRUTURA DEFEITUOSA DO EURO E COLAPSO DA ECONOMIA EUROPEIA


Ao vermos esta apresentação, percebemos que a UE, com os desequilíbrios entre Estados devedores (o Sul) e credores (o Norte, a Alemanha), não está em condições de aguentar o choque da interrupção de fornecimento do gás russo.
Ao decidir cortar (a si própria) o fornecimento de gás e petróleo provenientes da Rússia, a U. E. está a fazer suicídio. Se não houver abastecimento energético suficiente, a indústria, a agricultura, os transportes e a própria sobrevivência das pessoas, ficam postos em causa.

Em complemento, pode ler-se o artigo abaixo, que relata as medidas que a Áustria e a Suécia estão a tomar, perante a crise energética na UE:

quinta-feira, 19 de maio de 2022

PERDIDO POR CEM, PERDIDO POR MIL...


 

Sobretudo quando se trata de dinheiros públicos, ou seja, aquele dinheiro que - cedo ou tarde - todos nós teremos de pagar, porque somos nós a fonte donde o Estado vai buscar o dinheiro.

Isto vem a propósito dos biliões que se vão enterrar (ou melhor, vão entrar... e sair) nesse poço sem fundo: 

- Quando a guerra está perdida, quando os próprios ministros do governo Zelensky declaram que só com muitos biliões a podem aguentar porque o Estado ucraniano está falido. Vem, depressa, Úrsula ajudar! 

A ajuda da União Europeia consistirá (para já) em  9 biliões frescos. Eles serão devorados até ao último cêntimo, num Estado falido. Estado esse que é o mais corrupto do mundo. O mais certo, é o dinheiro ir parar às contas do Kolomoisky e outros oligarcas e apoiantes do regime, além das contas off-shore do comediante Zelensky, feito presidente. 

Porém, a palhaçada não acaba aqui, pois o congresso dos EUA já decidiu enviar 40 biliões, para «ajuda». Isto é o negócio do século, para muitos cleptocratas, e não apenas da Ucrânia, também dos próprios países «doadores». (Eu coloco «doadores» entre aspas, pois nós não fomos ouvidos nem chamados. )

Nós, «os servos», dum lado e doutro do Atlântico, apenas servimos para fornecer os tais biliões, com mais impostos, medidas de austeridade, etc. Não há distinções. Os chefes dizem que é preciso enviar tantos biliões para a Ucrânia; e que os súbditos não se atrevam a levantar a voz!



Isto faz-me lembrar um pouco de história recente de Portugal:

- Em tempos de crise profunda, Portugal tinha uma espécie de gestores, que se poderia caracterizar como «abutre dos negócios». Estes gestores, bem vestidos e engravatados, tomavam conta de empresas em falência. Mediante falsas garantias e esquemas de corrupção, conseguiam obter, junto de bancos, empréstimos para «salvar as empresas». 

Estas, já estavam falidas, na prática, mas não tinha sido ainda decretada a sua falência. Porém, os trabalhadores não recebiam salário há meses e as mobílias, as matérias-primas, os equipamentos, eram secretamente vendidos ao desbarato.  

Nem a empresa «a salvar», nem os trabalhadores, viam a cor do dinheiro de tais empréstimos. Os «gestores» tinham a arte de fazer desaparecer o dinheiro sem que se pudesse apontar o dedo, pois «eles tinham feito o seu melhor», para salvar a empresa.

Agora, a comédia macabra tem como cenário a Ucrânia. A sua população não terá outra escolha senão emigrar para terras dos seus «benfeitores», ou então, viver no «Zimbabwe europeu».

Não o merecem; são - para todos os efeitos - irmãos e irmãs de infortúnio. Nós devemos acolhê-los, mas - em simultâneo - devemos denunciar os abutres que se acoitam, a todos os níveis do poder e da casta política, nos países da NATO. Povoam ministérios,  ONGs, administrações de empresas de toda a espécie, mas, em especial, as de «segurança» e de armamento. Para eles, isto é «uma party»!  

O dinheiro vai desaparecer e ninguém se espantará que assim seja. O Estado, afinal, é como uma monstruosa empresa. E sabemos bem que o dinheiro despejado em empresas falidas, é dinheiro perdido. Isto aplica-se aos Estados, também! Embora, no caso dos Estados, esse dinheiro não esteja perdido para todos: Há sempre uns mais iguais que os outros. Há os que enchem os bolsos com uns milhões e vão gozá-los em estâncias de férias bem agradáveis. Quanto aos outros, que fossem espertos e aprendessem com os oligarcas.

Mas, o processo de entrada em falência do sistema Euro, já está bastante avançado; ultimamente sofreu uma aceleração. Vejam como o dólar está «forte» e o euro, como está «fraco». Pois, a divisa europeia vai estar ainda mais fraca. Vai ser um sorvedoiro, até ao rebentamento final do sistema monetário europeu. O sorvedoiro de dinheiro da guerra ucraniana, vai acabar por levar à falência total e irrecuperável e ao rebentamento - de um modo ou doutro - do sistema da União Europeia. 

Os magnates dos EUA ficam a olhar todos contentes, pois a economia americana, por mais disfuncional que seja, vai aparecer aos olhos dos capitalistas, como o «último porto de abrigo» («safe haven») e os capitais do mundo vão afluir de novo aos USA ... Penso que este é o cálculo do lado do Tio Sam. Posso estar completamente enganado; até gostava de estar completamente enganado, mas o cenário para os povos da UE é realmente negro. Os dirigentes ocidentais traíram os seus eleitores, só que estes ainda não o sabem e quando o souberem, já será tarde demais. 

Só desejo que os povos da Europa aprendam, duma vez por todas, com a dura lição que está a desabar em cima de suas cabeças. 

sábado, 2 de abril de 2022

CRÓNICA (nº5) DA IIIª GUERRA MUNDIAL: UM RESET PODE ESCONDER UM OUTRO.



China, maior produtor de bens industriais; Rússia, maior exportador de matérias-primas

A exigência russa de pagamento em rublos, das exportações de combustíveis (gás e petróleo) para países «não-amigos», anunciada esta semana pelo Presidente Putin, tem de ser equacionada em relação com a tomada dos ativos do Banco Central da Rússia. Lembro que esta medida dos EUA/NATO, no início de Março deste ano, foi talvez a mais extrema das sanções dos ocidentais, visto que o banco central detém reservas, que são parte integrante do património da nação russa. Acresce que, no caso vertente, os países que decretaram a operação de «congelamento» (na prática, é roubo), nem sequer estavam em guerra formalmente com a Rússia.
De qualquer maneira, a continuação das exportações de energia russa para países claramente hostis, capazes dum ato que se pode classificar de pirataria financeira, é surpreendente. Estavam reunidas as condições de «Force Majeure»: Por ter deixado de haver a mínima garantia de pagamento dos compradores, a parte vendedora tem legitimidade para interromper ou cancelar o contrato. Com efeito, a Rússia pode legitimamente recear, a partir deste momento, que os pagamentos efetuados em euros ou dólares, sejam bloqueados em contas bancárias russas nos países ocidentais, ficando sujeitos a confisco. Lembremos como os EUA arbitrariamente, há bem pouco tempo, em relação aos ativos do Banco Central do Afeganistão à guarda de bancos nova iorquinos, confiscaram metade destes, enquanto a outra metade foi destinada a «assistência humanitária» (mas não administrada pelo estado afegão).
O facto da Rússia continuar as entregas de gás à Europa, nestas circunstâncias, apenas com a condição de serem pagas em rublos, poderá ser vista como uma medida para que, no futuro, os europeus da NATO e a Rússia, possam reatar um relacionamento normal.
Quanto ao facto dos europeus serem confrontados com a obrigação de comprar rublos para adquirir o gás russo, não deveria ser visto como mais escandaloso que a obrigação (desde há meio-século!) de comprarem dólares para adquirir petróleo, vendido exclusivamente em dólares pelos sauditas e por outros no Médio-Oriente.
Note-se que esta medida - pagamentos em rublos - não foi tomada de maneira irrefletida. Aliás, ela tem consequências de longo prazo. Os dirigentes da Rússia inspiraram-se, com certeza, no acordo celebrado em 1973, entre Kissinger e o rei da Arábia Saudita, pelo qual o pagamento do petróleo saudita seria em dólares US, exclusivamente. Em compensação, era dada total proteção militar pelos americanos aos sauditas. O resultado prático nessa altura, foi a consolidação do papel internacional do dólar e o nascimento do petrodólar.
Agora a Rússia é o principal exportador de combustíveis fósseis no Mundo. A Rússia tem condições para exigir que eles sejam pagos na sua divisa, em rublos. Os russos têm apenas o controlo sobre sua moeda nacional, não podem ter a garantia de que os dólares, euros, yens, etc., depositados nas suas contas em bancos estrangeiros, não sejam confiscados. Os europeus e os americanos, mostraram-se muito pouco respeitosos da soberania doutros Estados e das normas internacionais por que se devem reger, incluindo a intangibilidade das reservas de países terceiros colocadas à sua guarda. Lembro os casos da Venezuela, Líbia, Iraque, Irão, Afeganistão: Tratou-se de confisco de bens financeiros e de ouro; medidas unilaterais e, portanto, assimiláveis a pirataria financeira.
No futuro, teremos um conjunto de trocas comerciais em divisas dos respetivos países. Já estão em vigor acordos entre a Índia e a Rússia, usando rupias e rublos, ou entre a China e a Rússia, usando yuan e rublos. Muitos outros países serão favorecidos e protegidos da ingerência dos ocidentais, se fizerem suas trocas comerciais nas respetivas divisas. A diferença de saldos nas exportações de dois países, caso exista, pode ser resolvida de várias maneiras. Uma delas, que não implica divisas de terceiros, é proceder ao ajuste com correspondentes quantias em ouro.
Se este sistema vier a consolidar-se, mais de metade da humanidade não ficará sujeita à ditadura do dólar. Este vai ficar cada vez mais confinado a circular dentro dos EUA. A sua circulação, ao nível internacional, será sobretudo com países mais próximos - politicamente - dos EUA.
O facto do rublo ser emitido por um país tão rico em matérias primas, exportador de combustíveis, de metais e de cereais, é um facto insofismável. Goste-se, ou não dos russos e do seu governo, o facto é que este país tem imensas riquezas que tem exportado para todo o Mundo.
Se uma parte do Mundo, a Europa ocidental, se nega a comprar aos russos o gás natural, será esta a sofrer. Será uma espécie de autopunição. A parceria total entre a Rússia e China faz com que aquela tenha garantido o mercado chinês de combustíveis, que, aliás, tem estado em plena expansão. Não será difícil para a Rússia, reorientar para a China as exportações de gás destinadas à Europa ocidental.
As sanções unilaterais, com o pretexto da invasão da Ucrânia, são uma grande hipocrisia e um tiro que saiu pela culatra aos EUA/NATO. Vários têm dito que a Ucrânia foi empurrada a fazer graves provocações à Rússia, sendo falsamente apoiada por «garantias» ocidentais. A invasão do Leste e Sul da Ucrânia pela Rússia, foi uma operação limitada, por decisão prévia de Putin e do governo russo. Os comentadores que não querem ver isso, que estão sempre a clamar que a Rússia falhou militarmente, estão somente a fazer propaganda, não dizem a verdade.
Esta situação vai-se desenvolver em sentido contrário ao que desejavam os EUA. Estes, desejavam criar uma armadilha, como um novo «Afeganistão», desta vez na fronteira europeia da Rússia. Mas o palco deste confronto, não está sequer limitado à Ucrânia. O palco, é o Globo inteiro.
Estão envolvidos todos os países, porque se está a dar uma mudança tectónica geoestratégica, desde as economias nacionais e regionais, às rotas comerciais, e aos abastecimentos em energia e matérias-primas. Em suma, o que está em causa é o redesenhar da configuração do Mundo.

Um comboio (de Reset) pode esconder um outro!


Estamos a assistir a um "Great Reset" e ao instalar duma "Nova Ordem Mundial". Simplesmente, este não é o Great Reset para o qual as elites de Davos trabalhavam, mas um outro Reset, que tem como protagonistas o Eixo Euro-Asiático e muitos outros países, mais virados para a cooperação com eles, do que com as potências «Ocidentais», associadas a um passado colonial e neocolonial.

PS1: Importantes decisões do Kremlin foram tomadas, em relação à conversão das divisas estrangeiras, possuídas pelos cidadãos russos. Estabeleceu o governo russo, que estas podiam ser convertidas em ouro ou outros metais preciosos ao preço corrente dos mercados. Agora estabeleceu um preço fixo de ouro a 5000 rublos por grama de ouro, valor um pouco abaixo do mercado internacional. Isto significa que um banco russo pode vender o ouro ao banco central por esse preço, é um preço de garantia. Porém, o significado disto é muito mais importante, pois está a dar uma garantia, em ouro, ao valor do rublo. O rublo poderá agora ser equivalente ao ouro, dentro da Rússia. A internacionalização virá numa fase posterior. Uma divisa garantida pelas abundantes matérias-primas e que pode ser trocada por ouro a um câmbio fixo, eis a definição da nova moeda de reserva mundial.

                                                 Putin visita depósito de ouro


PS2 : Vale a pena ler na íntegra o artigo muito rigoroso e lúcido de Ellen Brown, autora célebre nos EUA. Ir para: The Coming Global Financial Revolution

PS3: Mais que um «Bretton Woods III» estamos a assistir a um total renovo das bases sobre as quais se vão processar, daqui por diante, as trocas comerciais e fluxos de capitais entre países: 
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 VER:

https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2022/03/cronica-da-terceira-guerra-mundial.html

https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2022/03/cronica-da-terceira-guerra-mundial_13.html

https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2022/03/cronica-da-terceira-guerra-mundial_0396436697.html

https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2022/03/cronica-da-terceira-guerra-mundial_24.html

sábado, 16 de outubro de 2021

GRANDE ENTREVISTA de J.-J. SEYMOUR a PIERRE JOVANOVIC (em francês)


 A NÃO PERDER ...

Fala da prostituição da media,

Da dependência do presidente Macron em relação aos sauditas

Do facto do mediático Bernard Henry Lévy ser estipendiado pelo Qatar

Da campanha incessante contra Erdogan

Dos motivos da CIA para fazerem a guerra encoberta à Turquia

Do papel fundamental do Bósforo no comércio mundial

Das perspetivas florescentes da Turquia e Ásia Central,

Da saúde económica e financeira da Turquia

Do contraste com a Europa, principalmente a do Euro

Do endividamento da banca francesa e europeia

Do desequilíbrio causado pelo Euro, a favor da Alemanha

Da liberdade de indumentária e da segurança nas ruas de Istambul

E muito mais. 

Um vídeo recheado de informação!


Vista panorâmica do Bósforo. O canal de Istambul, previsto para 2023, irá duplicar a capacidade e permitir melhor circulação dos navios.

domingo, 27 de junho de 2021

AINDA NÃO SABE, MAS A SUA NOTA DE 20 € EM BREVE, VALERÁ APENAS 2


                                             (... e a moeda de 2€, valerá 20 cêntimos, claro!)


Comentário de Manuel Banet:
Neste vídeo - muito pedagógico e falado em francês - Charles Sannat expõe a característica fundamental das divisas «fiat», que apenas estão baseadas na palavra do governo: daí o termo latino «fiat», que quer dizer confiança; a palavra «fiador» tem a mesma raiz.
Como dizia Voltaire, toda e qualquer moeda em papel tende a reverter ao seu valor intrínseco, que é zero.
No seu tempo (século XVIII), o comércio era feito em parte com notas de crédito, o que permitia que comerciantes e negociantes não tivessem de transportar consigo grandes quantidades de moedas de ouro.
No século XIX, o ouro continuou a ser o dinheiro verdadeiro e as notas de banco, um substituto do ouro: Uma pessoa podia ir ao banco trocar o dinheiro-papel por quantidade equivalente em ouro. A taxa de conversão era fixa, o que tinha como efeito não haver especulação monetária: todas as moedas - sendo representação de uma dada quantidade de ouro - estavam deste modo numa relação constante entre elas.
A fase atual, em que as divisas estão em oscilação permanente, umas em relação às outras, foi iniciada com a retirada do dólar US da convertibilidade em ouro, por Nixon, em 15 de Agosto 1971.
Agora, quase 50 anos depois dessa data, está-se a chegar ao fim de um ciclo. Pode ser que este sistema dure ainda algum tempo. Mas, as entidades que decidem ao nível monetário (Bancos Centrais, BIS, FMI...), já estão plenamente convencidas e já anunciaram publicamente medidas para substituir este sistema.
Porém, as fórmulas apresentadas não incluem (ainda?) repor o ouro no centro do sistema mundial financeiro e monetário. Mas, as cripto-moedas centralizadas (dos Estados), a digitalização total das trocas comerciais (desaparecimento do papel-moeda, das notas de banco, de circulação) e outras medidas anunciadas, não irão -por si só - dar estabilidade ao sistema. Estas reformas não são as que poderiam incutir uma renovada confiança nas moedas emitidas pelos Estados.
Uma moeda tem de ser confiável, enquanto meio de pagamento, unidade de contabilidade e repositório de valor.
O dinheiro digital não trará confiança aos atores económicos: poderá ser inflacionado a uma velocidade ainda maior que o dinheiro «em papel» atual.
Ora, estamos a assistir à deliberada destruição do valor das principais moedas ocidentais, o dólar, a libra, o euro, o yen. Isso está a ocorrer pela impressão monetária descomunal, que faz subir os balanços dos bancos centrais respetivos a valores astronómicos. Mas, muitos dos ativos adquiridos nas operações de «quantitive easing», são de valor muito questionável. Não são mais do que dívidas, na grande maioria.
Isto significa que o aumento de dinheiro posto em circulação não tem uma verdadeira contrapartida num aumento de produção. Por outras palavras, os próprios bancos centrais estão a levar a cabo operações de contrafação. Neste caso, serão os consumidores que irão «pagar», pois o excesso de dinheiro para adquirir bens, cuja produção não aumenta (ou até diminuí), desencadeia a subida acentuada da inflação.
Por definição, todos os episódios de inflação são transitórios, mas nesses períodos inflacionários, são os mais poderosos capitalistas que enriquecem, à custa da falência dos mais pequenos, do desemprego de massa, do empobrecimento acelerado da grande maioria da população.

Se a memória não me falha, Henry Ford dizia que «Se o homem da rua suspeitasse de como o dinheiro é realmente criado e como entra em circulação, haveria uma revolução no dia imediato». Por sua vez, Lenine dizia que «Não existe maneira mais eficaz de enfraquecer o capitalismo, do que socavar o valor da moeda».

Estamos numa época estranha, em que as forças de destruição superam as de criação. Em que cientistas, políticos e filósofos têm diante dos olhos o que se está a passar - a destruição das condições de subsistência dos mais fracos - mas não fazem grande coisa para mudar a situação.
Há um certo fatalismo na sua visão, porque estão fixados numa ideologia travestida de ciência, a economia que se ensina hoje nos cursos superiores, um pouco por todo o lado: Afinal, trata-se de pseudo-ciência com o seu deus, o mercado. Pensa as relações dos humanos entre si, e destes com a Natureza, como se fossem regidas por «leis» do mercado. São apenas enunciados ideológicos, que servem como justificação às políticas neo-liberais. Enunciam teorias usando modelos matemáticos, o que lhes dá a aparência de ciência. Porém, esquecem que a ciência tem como base a observação e a descrição rigorosa dos factos, não dos modelos.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

NA ECONOMIA, «BOM ANO» DE 2021?

 Bom ano de 2021? Charles Sannat considera que o ano que agora entrou pode nos «fazer ter saudades» do que saiu, por mais incrível que nos pareça agora. Ele tem argumentos muito sólidos que permitem dar crédito ou verosimilhança a tal situação. 
                                                                                                                       

Abaixo, tentarei fazer uma síntese do que Charles Sannat apresentou neste vídeo, juntando a minha avaliação própria.


Primeiro, a questão da «crise do COVID»: Quando temos um Bill Gates a vaticinar que a crise do coronavírus não vai desaparecer antes de 2022, dá um arrepio na espinha, pois ele e seus congéneres «previram» em 2019 o essencial do que se passou ao longo do ano 2020. 

Segundo, as empresas ficam totalmente dependentes de ajudas dos governos, não apenas nos EUA, como na UE e noutras economias desenvolvidas. Estas empresas não irão ter subsídios eternamente e, nalgum momento, os subsídios irão parar. Nessa altura, haverá uma aceleração do desemprego. Se os bancos centrais continuarem a imprimir divisas como no ano passado, vão desencadear uma crise de hiperinflação. Neste caso também, haverá destruição acelerada de empresas e de postos de trabalho. 

Nos gráficos abaixo, da Reserva Federal de St. Louis, pode-se ver o que se passa nos EUA. 

Nos países europeus*, tanto do Euro, como os outros, a situação é substancialmente a mesma: um crescimento vertiginoso da massa monetária, do endividamento estatal e, tudo isto, com um pano de fundo de séria depressão da economia.

  * Nota: No caso do ECB e outros bancos centrais, os gráficos revelam situações bastante semelhantes ao que se passa com a Reserva Federal Americana.

                                     https://fred.stlouisfed.org/series/MABMM301USM189S

          
Fig. 1: agregado da massa monetária M3, de 1960 até hoje (clicar na imagem para ampliar)


         
Fig.: dívida em relação ao PIB dos EUA, de 1966 até hoje (clicar na imagem para ampliar) 

Terceiro, a descolagem completa da finança em relação às realidades de economia produtiva vai acelerar. Os valores bolsistas já estão, em geral, completamente dissociados do valor real das empresas cotadas e das suas performances, em termos de produção e de lucro. 

O que se observa agora com a economia financeirizada dos países ocidentais, é aquilo que se observou nas crises económicas e financeiras, que levaram à bancarrota o Zimbabué e a Venezuela: uma fuga para a frente, com multiplicação da impressão monetária, conjugada com o desejo do público salvar as suas poupanças, consciente de que o valor das moedas estava a ser destruído. As pessoas aplicavam tudo o que tinham em acções das bolsas. Nesta fase, as bolsas da Venezuela e do Zimbabué obtiveram subidas espectaculares, mas o valor em termos reais dessas acções, descia mais depressa do que as subidas nominais.

No geral, mantenho o que afirmei na minha avaliação periódica OLHANDO O MUNDO DA MINHA JANELA - PARTE IX. Convido-vos a ler e discutir esta e outras análises, pois o colapso (termo usado também por Sannat) não está longe; está em cima das nossas cabeças e , por isso, temos de saber muito bem o que fazer nestas circunstâncias. 

Estão todos/todas convidados/as a escrever comentários sobre estes temas. A discussão é livre no meu blog; podem exprimir vossas opiniões sem censura, aqui!