Muitas pessoas aceitam a situação de massacres de populações indefesas em Gaza e noutras paragens, porque foram condicionadas durante muito tempo a verem certos povos como "inimigos". Porém, as pessoas de qualquer povo estão sobretudo preocupadas com os seus afazeres quotidianos e , salvo tenham sido também sujeitas a campanhas de ódio pelos seus governos, não nutrem antagonismo por outro povo. Na verdade, os inimigos são as elites governantes e as detentoras das maiores riquezas de qualquer país. São elas que instigam os sentimentos de ódio através da média que controlam.
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quinta-feira, 14 de setembro de 2023

Anya Parampil: TÁTICAS DE MUDANÇA DOS REGIMES, PELOS EUA

Uma importante descrição no popular programa «MOATS» de George Galloway: 



O livro de Parampil revela as táticas de guerra económica, a política de sanções, em paralelo com as subversões tendo como protagonistas locais, pessoas de ONGs, dedicadas a direitos humanos. O caso da Venezuela é detalhado, porque reúne muitas características das intervenções dos EUA nos países que não estão sob o seu domínio.

domingo, 7 de agosto de 2022

[Discurso de Daniel Ortega] «PORQUE RAZÃO OS EUA PROVOCAM GUERRAS CONTRA A RÚSSIA E A CHINA»


 No passado dia 2 de Agosto, enquanto Nancy Pelosi estava a fazer a sua visita provocatória a Taiwan, Daniel Ortega, o Presidente Sandinista da Nicarágua analisava num discurso porque razão os EUA levam a cabo uma política de agressão contra a China, a Rússia e todos os os Estados que não se alinhem na ordem mundial unipolar do Imperialismo Yankee. Vídeo produzido e falado por Benjamin Norton.

sábado, 21 de maio de 2022

COLAPSO ANUNCIADO DA PRÓXIMA CIMEIRA DAS AMÉRICAS


Cimeira organizada pelo governo americano e prevista para o próximo mês, em Los Angeles.
Anúncio da preparação da Cimeira dos Povos pela Democracia (a realizar nos EUA), que se assume como contra-cimeira, para exigir a terminação da agressão dos EUA à América Latina.

O maior violador das leis e regulamentos internacionais, assim como da ética mais elementar, tem sido os EUA. Este diálogo, no vídeo abaixo, mostra o Império das mentiras em toda a sua perversa extensão. 
O imperialismo americano, desde os finais do século XIX, até hoje, tem perpetrado os seus crimes contra a humanidade, as suas permanentes pressões, golpes, punições coletivas (sanções, embargos), mentindo descaradamente e projetando nos outros, aquilo que eles próprios - governantes dos USA - fazem. 

As nações e governos, mesmo quando favoráveis ao capitalismo, não deixam de sentir a opressão e ameaça permanentes do Império. Muito poucos dirigentes têm coragem de dizer aquilo que pensam.  Por isso, os responsáveis pela política bárbara do imperialismo americano não têm sido suficientemente desmascarados. Há ainda a ilusão, em muitas pessoas, de que o Império espalha a «democracia», a «prosperidade» e que, internamente, os EUA são um modelo invejável de governação.

As correntes progressistas nas Américas e na Europa, irão - por fim - despertar? Ou será que também se vão afundar com o Império americano, capturadas que foram pelo mesmo e mantidas apenas para dar a ilusão de pluralismo?


 

segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

NA ECONOMIA, «BOM ANO» DE 2021?

 Bom ano de 2021? Charles Sannat considera que o ano que agora entrou pode nos «fazer ter saudades» do que saiu, por mais incrível que nos pareça agora. Ele tem argumentos muito sólidos que permitem dar crédito ou verosimilhança a tal situação. 
                                                                                                                       

Abaixo, tentarei fazer uma síntese do que Charles Sannat apresentou neste vídeo, juntando a minha avaliação própria.


Primeiro, a questão da «crise do COVID»: Quando temos um Bill Gates a vaticinar que a crise do coronavírus não vai desaparecer antes de 2022, dá um arrepio na espinha, pois ele e seus congéneres «previram» em 2019 o essencial do que se passou ao longo do ano 2020. 

Segundo, as empresas ficam totalmente dependentes de ajudas dos governos, não apenas nos EUA, como na UE e noutras economias desenvolvidas. Estas empresas não irão ter subsídios eternamente e, nalgum momento, os subsídios irão parar. Nessa altura, haverá uma aceleração do desemprego. Se os bancos centrais continuarem a imprimir divisas como no ano passado, vão desencadear uma crise de hiperinflação. Neste caso também, haverá destruição acelerada de empresas e de postos de trabalho. 

Nos gráficos abaixo, da Reserva Federal de St. Louis, pode-se ver o que se passa nos EUA. 

Nos países europeus*, tanto do Euro, como os outros, a situação é substancialmente a mesma: um crescimento vertiginoso da massa monetária, do endividamento estatal e, tudo isto, com um pano de fundo de séria depressão da economia.

  * Nota: No caso do ECB e outros bancos centrais, os gráficos revelam situações bastante semelhantes ao que se passa com a Reserva Federal Americana.

                                     https://fred.stlouisfed.org/series/MABMM301USM189S

          
Fig. 1: agregado da massa monetária M3, de 1960 até hoje (clicar na imagem para ampliar)


         
Fig.: dívida em relação ao PIB dos EUA, de 1966 até hoje (clicar na imagem para ampliar) 

Terceiro, a descolagem completa da finança em relação às realidades de economia produtiva vai acelerar. Os valores bolsistas já estão, em geral, completamente dissociados do valor real das empresas cotadas e das suas performances, em termos de produção e de lucro. 

O que se observa agora com a economia financeirizada dos países ocidentais, é aquilo que se observou nas crises económicas e financeiras, que levaram à bancarrota o Zimbabué e a Venezuela: uma fuga para a frente, com multiplicação da impressão monetária, conjugada com o desejo do público salvar as suas poupanças, consciente de que o valor das moedas estava a ser destruído. As pessoas aplicavam tudo o que tinham em acções das bolsas. Nesta fase, as bolsas da Venezuela e do Zimbabué obtiveram subidas espectaculares, mas o valor em termos reais dessas acções, descia mais depressa do que as subidas nominais.

No geral, mantenho o que afirmei na minha avaliação periódica OLHANDO O MUNDO DA MINHA JANELA - PARTE IX. Convido-vos a ler e discutir esta e outras análises, pois o colapso (termo usado também por Sannat) não está longe; está em cima das nossas cabeças e , por isso, temos de saber muito bem o que fazer nestas circunstâncias. 

Estão todos/todas convidados/as a escrever comentários sobre estes temas. A discussão é livre no meu blog; podem exprimir vossas opiniões sem censura, aqui!

  

sexta-feira, 8 de maio de 2020

ESTAREMOS A ASSISTIR À BATALHA FINAL?

Uma batalha não é a guerra e esta batalha faz parte de uma guerra híbrida. Neste tipo de guerra, é ainda mais útil - em comparação com a guerra «clássica» - a sabedoria de um Sun Tzu. Ele ensina que o vencedor será quem souber esperar e avaliar acertadamente as forças no terreno, para desferir o golpe decisivo, no momento exacto.  

Gold Coins In Hand

Quando a FED não consegue evitar que a « FED FUNDS RATE implícita» se torne negativa, estando negativas as taxas de referência, incluindo as taxas de juro bancárias, na Europa e no Japão, desde há bastante tempo, isto significaria que a batalha entrou numa fase decisiva: mas qual batalha? 
- A batalha da perda da hegemonia do dólar, pela instauração duma «ordem global monetária» multicêntrica.
Acredito que esta seja a fase definitiva, mas que se trata do início do «último Acto». Por outras palavras, não creio que a tal «ordem global» se erga já amanhã, substituindo a ordem caduca (o petrodólar, que reinou desde 1973, até hoje). Mas, tudo me leva a crer que a hegemonia do dólar US está definitivamente posta em causa.
 O efeito transitório da subida do dólar US, nestes dias de crise económica disfarçados com maciças doses de propaganda (como se fosse «a crise do coronavírus», uma crise...sanitária, portanto), não pode enganar senão o mais ingénuo e crédulo; aquele que pensa que os números a subirem num ecrã da bolsa é sempre bom, em termos de apreciação real dos activos que detém.
Para se perder esta ilusão, basta estudar o caso da Venezuela: a sua bolsa de valores atingia novos cumes a cada dia que passava, à medida que a crise se aprofundava e o Bolivar ia perdendo qualquer resto de valor. As pessoas, em pânico, compravam acções, porque esperavam que algumas empresas não se afundassem e voltassem a ser rentáveis, passada a crise. Qualquer outro investimento (excluindo o ouro e prata físicos, que não são realmente investimentos financeiros) estava destinado a dissolver-se no éter... 
No caso do dólar US, principal divisa de reserva e havendo imensos activos denominados em dólares pelo mundo fora (incluindo as obrigações soberanas de vários países emergentes...), é inevitável que ele cresça, nesta fase. Com efeito, a procura de dólares é motivada tanto pelo medo, que leva os investidores a procurarem refúgio no (falso) porto de abrigo, como pelas vendas maciças de obrigações do Tesouro americano (treasuries) e de outras obrigações denominadas em USD, que são necessariamente saldadas nesta divisa. 
Tal subida do dólar não significa, portanto, que ele seja «mais forte», como repetem «ad nauseam» os noticiários financeiros, mas bem pelo contrário, pois se acompanha duma perda de influência. Precisamente, trata-se da perda de confiança no que foi - durante muitos anos - considerado o melhor «porto de abrigo» financeiro, as «treasuries»! 
Mas, esta subida do dólar, ainda por cima, é muito relativa! Ela apenas se verifica em relação às outras divisas: o dólar está constantemente a desvalorizar-se perante o ouro, a verdadeira reserva de valor, o verdadeiro porto de abrigo.
Nestas circunstâncias, tal como na Venezuela e no Zimbabwe, o dólar irá inflacionar ainda mais os mercados de acções, por um mero cálculo do valor. Com efeito, se tivermos uma acção duma empresa, sendo X a sua cotação num dado momento e numa dada divisa, se o valor dessa mesma divisa descer de modo substancial, então a referida acção vai automaticamente ajustar-se para cima: isto não significa que a empresa - em si mesma - esteja melhor, em termos de desempenho...
Vemos, portanto, como são falsas e enganadoras as narrativas da media financeira: reflectem o interesse muito directo dos seus patrões. Estes patrões podem ser magnates (como Bloomberg, por exemplo) ou Estados (muita imprensa, na Europa, sobrevive graças às ajudas estatais ...), ou uma combinação dos dois.  

Esta guerra é híbrida e global. Oxalá, não haja uma guerra «cinética»! Mas, se perante a guerra híbrida (económica, financeira, comercial, monetária...) temos de raciocinar em termos militares, então é melhor aprender, num curso intensivo, a «Arte da Guerra» de Sun Tzu ou fazer uma revisão aprofundada, à luz dos acontecimentos mais recentes.

PS1: Cynthia Chung, no seu artigo https://www.strategic-culture.org/news/2020/05/07/the-art-of-war-in-the-21st-century/
desenvolve o conceito de Sun Tzu de qual a verdadeira batalha e qual a melhor maneira de a combater.

terça-feira, 7 de abril de 2020

[ Manlio Dinucci] A NATO PEGA EM ARMAS PARA «COMBATER O CORONAVÍRUS»


                                


Os 30 Ministros dos Negócios Estrangeiros da NATO (Luigi Di Maio, em representação da Itália), que se reuniram, em 2 de Abril, por videoconferência (1) encarregaram o General norte-americano Tod Wolters, Comandante Supremo Aliado na Europa, de “coordenar o apoio militar necessário para combater a crise do coronavírus”.
É o mesmo general que, no Senado dos Estados Unidos, em 25 de Fevereiro passado, declarou que “as forças nucleares apoiam todas as operações militares USA, na Europa” e que ele é “um defensor de uma política flexível do primeiro uso” de armas nucleares, ou seja do, ataque nuclear de surpresa. (2) (“ O Doutor Strangelove cuida da nossa saúde", il manifesto, 24 de Março). (3)
O General Wolters é o Comandante Supremo da NATO, na qualidade de Chefe do Comando Europeu dos Estados Unidos, portanto, faz parte da cadeia de comando do Pentágono, que tem prioridade absoluta. Quais são as suas regras rígidas, confirma-o um episódio recente: o Capitão do porta-aviões Roosevelt, Brett Crozier, foi afastado do comando porque, perante a propagação do coronavírus a bordo, violou o segredo militar ao solicitar o envio de ajuda. (4)
Para “combater a crise do coronavírus”, o General Wolters tem “corredores preferenciais para vôos militares através do espaço aéreo europeu”, onde os vôos civis quase desapareceram. Os corredores preferenciais também são usados pelos bombardeiros americanos do ataque nuclear B2-Spirit: em 20 de Março, decolaram de Fairford, em Inglaterra, juntamente com caças noruegueses F-16, rumo ao Árctico, em direcção ao território russo (5). Deste modo - explica o General Basham, da Força Aérea dos EUA na Europa – “podemos responder, rápida e eficazmente, às ameaças na região, demonstrando a nossa determinação em levar o nosso poder de combate para qualquer lugar do mundo”. (6
Enquanto a NATO está comprometida em “combater o coronavírus” na Europa, dois dos principais aliados europeus, a França e a Grã-Bretanha, enviam os seus navios de guerra para as Caraíbas. O navio de ataque anfíbio Dixmund partiu de Toulon para a Guiana Francesa, em 3 de Abril, para o que o Presidente Macron define como “uma operação militar sem precedentes”, denominada «Resiliência» no contexto da «guerra ao coronavírus». (7) O Dixmund pode desempenhar a função secundária de navio hospitalar com 69 camas, 7 das quais para terapia intensiva. O papel principal deste navio enorme, de 200 m de comprimento e com uma ponte de voo de 5000 m2, é o de ataque anfíbio: ao aproximar-se da costa inimiga, ataca com dezenas de helicópteros e meios de desembarque que transportam tropas e veículos blindados. Características semelhantes, embora em menor escala, tem o navio britânico RFA Argus, que zarpou, em 2 de Abril, para a Guiana Britânica (8
Os dois navios europeus posicionar-se-ão, nas mesmas águas das Caraíbas, perto da Venezuela, onde está a chegar a frota de guerra - com os mais modernos navios de combate costeiro (construídos, também, pela Leonardo italiana, para a Marinha dos EUA) e milhares de fuzileiros navais - enviados oficialmente pelo Presidente Trump para impedir o tráfico de drogas. Ele acusa o Presidente da Venezuela, Nicolas Maduro, “de se aproveitar da crise do coronavírus para aumentar o narcotráfico com o qual ele financia o seu narco-Estado". (9)
O objectivo da operação, apoiada pela NATO, é fortalecer o aperto do embargo para estrangular economicamente a Venezuela (um país com as maiores reservas de petróleo do mundo), cuja situação é agravada pelo coronavírus que começou a espalhar-se. O objectivo é depor o Presidente Maduro, eleito regularmente (sobre cuja cabeça os USA colocaram uma recompensa de 15 milhões de dólares) (10) e instaurar um governo que conduza o país para a esfera de domínio USA. Não se pode excluir que possa ser provocado um incidente que sirva de pretexto para a invasão da Venezuela.
A crise do coronavírus cria condições internacionais favoráveis a uma operação deste tipo, talvez apresentada como “humanitária”.
Manlio Dinuci

il manifesto, 7 de Abril de 2020



(9) https://nypost.com/2020/04/02/us-to-deploy-navy-near-venezuela-to-stop-drug-trade 



COMMUNIQUÉ ON THE CONFERENCE OF 25 APRIL









DECLARAÇÃO DE FLORENÇA
Para uma frente internacional NATO EXIT, 
em todos os países europeus da NATO


Manlio DinucciGeógrafo e geopolitólogo. Livros mais recentes: Laboratorio di geografia, Zanichelli 2014 ; Diario di viaggio, Zanichelli 2017 ; L’arte della guerra / Annali della strategia Usa/Nato 1990-2016, Zambon 2016, Guerra Nucleare. Il Giorno Prima 2017; Diario di guerra Asterios Editores 2018; Premio internazionale per l'analisi geostrategica assegnato il 7 giugno 2019 dal Club dei giornalisti del Messico, A.C.

Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos 
Email: luisavasconcellos2012@gmail.com
Webpage: NO WAR NO NATO

quinta-feira, 2 de abril de 2020

NÃO PERMITAMOS QUE TRUMP PROVOQUE A GUERRA COM VENEZUELA!


                       



Don’t weaponize a pandemic. No war on Venezuela!


Just when we thought things couldn’t get any worse, in the middle of the coronavirus pandemic, Trump is trying to start a war with Venezuela! He used his Wednesday White House briefing to switch gears, hijacking the coronavirus briefing to announce that Navy warships will be moving towards Venezuela and suggesting that President Maduro could be trying to spread COVID-19 throughout the US. Sign our petition below: NO WAR ON VENEZUELA!

We the people are outraged that when hundreds of thousands of Americans, maybe millions, are facing death from coronavirus, and when Venezuelans are mustering all the forces they can to combat the coming viral onslaught in their own country, the Trump administration is provoking a war with Venezuela.

Last week the Trump administration indicted a sitting president, Nicolas Maduro, on bogus drug charges. They put out a $15 million dollar reward for information leading to his capture. And now they are sending Navy ships to the coast of Venezuela on the pretext of anti-drug operations and saying that the drug trade might be partially responsible for the spread of coronavirus in the U.S. The real goal of the Trump administration is to distract from their gross, even criminal, mishandling of the coronavirus crisis plus the same goal the administration has been pursuing for the past year: regime change.

This is clearly a dangerous step bringing us to the brink of war. WE SAY NO!!! HANDS OFF VENEZUELA!

How ironic that Trump said: “As governments and nations focus on the coronavirus there is a growing threat that cartels, criminals, terrorists and other malign actors will try to exploit the situation [in Venezuela] for their own gain.” That is precisely what the Trump administration is doing: distracting the American people from the COVID-19 crisis that has left them defenseless and terrified and exploiting the crisis to try to overthrow a sovereign nation.

Globally, we need to be harnessing ALL of our resources into stopping the virus that killing our people and our economies. The UN Secretary General has called for a global ceasefire to focus the world’s energy. And here Donald Trump is diverting our energies and resources on starting a new war??? This is madness.

Sincerely,

Please sign here.

domingo, 14 de julho de 2019

A CRISE HUMANITÁRIA VENEZUELANA É FABRICADA PELOS EUA E OCIDENTAIS



                                           


Alfredo de Zayas denuncia a forma como as instituições, supostamente defensoras dos direitos humanos, se venderam ao neo-liberalismo, ao imperialismo. 
Os direitos humanos têm sido  «transformados em armas». 

Um documento (em 2 dois vídeos) a não perder.

terça-feira, 18 de junho de 2019

SANÇÕES DOS EUA: SABOTAGEM ECONÓMICA MORTÍFERA, ILEGAL E INEFICAZ


Enquanto o mistério de quem é responsável pela sabotagem dos dois petroleiros no golfo de Omã permanece por resolver, tem sido bem claro que a administração Trump levou a cabo a sabotagem das encomendas de petróleo iranianas desde 2 de Maio, quando anunciou a sua intenção de causar uma redução das exportações de petróleo do Irão até zero, negando ao regime a sua principal fonte de rendimento.” A medida estava destinada à China, Índia, Japão, Coreia do Sul e Turquia, países que compram petróleo iraniano e agora têm de enfrentar ameaças dos EUA se continuarem a fazê-lo. Pode não ter sido uma força militar dos EUA a danificar os navios transportando petróleo iraniano, mas as suas acções têm o mesmo efeito e deveriam ser consideradas acções de terrorismo económico. A administração Trump também está a realizar um roubo massivo ao apoderar-se de 7 biliões de dólares da venda de petróleo da Venezuela impedindo o governo Maduro de acesso ao seu próprio dinheiro. De acordo com John Bolton, as sanções sobre a Venezuela têm efeito sobre um valor de 11 biliões de dólares de exportações de petróleo em 2019. A administração Trump também ameaça as companhias de navegação que transportam o petróleo venezuelano. Duas companhias, uma baseada na Libéria e outra na Grécia, foram já atingidas com multas por transportar petróleo venezuelano para Cuba. Não abriu buracos nos navios mas trata-se igualmente de sabotagem. Quer no Irão, Venezuela, Cuba ou Coreia do Norte ou ainda numa das 20 nações debaixo das sanções dos EUA, a administração Trump tem usado o seu peso económico para tentar impor mudança de regime ou mudanças importantes de políticas, em todo o globo.




Mortíferas

As sanções dos EUA contra o Irão são particularmente brutais. Embora tenham falhado totalmente obter as mudanças de regime desejadas pelos EUA, têm causado tensões crescentes com parceiros comerciais dos EUA pelo mundo fora e têm causado um sofrimento terrível ao povo comum no Irão. Embora os alimentos e os medicamentos estejam tecnicamente isentos das sanções, as sanções dos EUA contra os bancos iranianos  como o Parsian Bank, o maior banco não estatal do Irão, tornam quase impossível processar pagamentos para bens importados e isso inclui alimentos e medicamentos. A escassez resultante em medicamentos é responsável por ter causado milhares de mortes no Irão e as vítimas são normalmente pessoas comuns, não os Aiatolas nem os ministros do governo. A media corporativa nos EUA tem sido cúmplice com a pretensão de que as sanções dos EUA são um meio não violento para criar pressão sobre os governos visados com vista a forçá-los a uma determinada mudança de regime democrática. As notícias dos EUA raramente mencionam o seu impacto mortífero sobre as pessoas comuns, antes culpando as crises económicas resultantes apenas nos governos que estão sendo sancionados. O impacto mortífero das sanções é evidente na Venezuela, em que as sanções económicas severas atingiram a economia que já se ressentia da baixa dos preços do petróleo, da sabotagem pela oposição, pela corrupção e pelas más políticas governamentais. Um relatório conjunto anual por três universidades venezuelanas em 2018 mostrou que as sanções dos EUA eram em grande parte responsáveis por pelo menos umas 40 mil mortes adicionais nesse ano. A Associação Venezuelana Farmacêutica noticiou que havia uma carência de 85% dos medicamentos essenciais em 2018. Na ausência de sanções dos EUA, a retoma do nível global dos preços do petróleo em 2018 teria trazido pelo menos uma ligeira subida a economia na Venezuela e mais adequadas importações de comida e de medicamentos. Em vez disso, as sanções financeiras dos EUA impediram a Venezuela de rolar as suas dívidas e privaram a indústria petrolífera de dinheiro fresco para compra de peças, para reparações e para novos investimentos, causando ainda mais dramática quebra na produção de petróleo, relativamente a outros anos em que havia baixos preços de petróleo e depressão económica. A indústria petrolífera fornece 95% das receitas externas da Venezuela, portanto, ao se estrangular a sua indústria de petróleo e cortando a Venezuela do crédito internacional, as sanções previsível e intencionalmente capturaram a população venezuelana numa espiral descendente mortal. Um estudo por Jeffrey Sachs e Mark Weisbrot para o Centro de Investigação de Economia e Política intitulado “Sanctions as Collective Punishment: the Case of Venezuela,” [Sanções como Punição Colectiva; o Caso da Venezuela] relataram que o efeito combinado das sanções de 2017 e de 2019, têm a consequência de um impressionante declínio de 37,4% no PIB real da Venezuela em 2019, no seguimento de um declínio de 16,7% em 2018 e somando-se a uma quebra para lá de 60% nos preços do petróleo em 2012 e em 2016.
Na Coreia do Norte, muitas décadas de sanções, junto com extensos períodos de secas, deixaram milhões desta nação com 25 milhões de habitantes sofrendo de malnutrição e empobrecidos. As zonas rurais em particular, carecem de medicamentos e de água potável. As sanções ainda mais severas impostas em 2018 impediram a maior parte das exportações do país, diminuindo a capacidade do governo conseguir pagar as importações de comida para aliviar a escassez.



Ilegal 

Uma das características mais destacadas das sanções dos EUA é seu alcance extraterritorial Os EUA castiga os negócios de terceiras partes com penalidades por «violar» as sanções americanas. Quando os EUA abandonaram unilateralmente o acordo nuclear e impuseram sanções, o Departamento do Tesouro vangloriou-se de que, apenas num dia, a 5 de Novembro de 2018 sancionou mais de 700 indivíduos, entidades, companhias aéreas e marítimas fazendo negócios com o Irão. No que respeita à Venezuela  foi noticiado pela Reuters que, em Março de 2019 o Departamento de Estado deu “instruções a empresas e refinarias ao nível mundial para cortar os fornecimentos de petróleo venezuelano ou serem elas próprias a sofrer sanções, mesmo no caso das compras efectuadas não serem proibidas pela lista publicada de sanções dos EUA.” Uma empresa de petróleo queixou-se à Reuters, “Este é o modo de operar dos EUA nos dias de hoje e depois telefonam-nos para dizer que também existem regras que eles também querem que nós observemos.” Os membros do governo dos EUA dizem que as sanções irão ser benéficas para os povos da Venezuela e do Irão, ao empurrá-los a insurgirem-se e a derrubar os seus governos. Visto que o recurso à força militar, os golpes e operações encobertas para derrubar governos estrangeiros têm sido comprovadamente  catastróficas no Afeganistão, no Iraque, no Haiti, na Somália, nas Honduras, na Líbia, na Síria, na Ucrânia e no Iémene, a ideia de usar a posição dominante dos EUA e o dólar nos mercados financeiros internacionais como forma de «soft power» e assim conseguir mudanças de regimes, pode ser uma tentação de políticos dos EUA como forma mais fácil de coerção e mais fácil de convencer um público doméstico cansado de guerras e aliados hesitantes. Mas mudar do «choque e medo» do bombardeio aéreo e da ocupação militar para os silenciosos meios causadores de mortes por doenças curáveis, por desnutrição e por pobreza extrema está longe de ser uma opção humanitária e não é mais legítima do que o uso da força militar à luz do direito internacional. Denis Halliday era um auxiliar do Secretário Geral da ONU, que serviu como coordenador humanitário no Iraque e demitiu-se da ONU, em protesto pelas sanções brutais contra o Iraque em 1998. “Sanções pontuais, quando impostas pelo Conselho de Segurança, ou por um Estado, sobre um país soberano são uma forma de guerra, um instrumento grosseiro que inevitavelmente pune cidadãos inocentes” segundo Denis Halliday. “Mas, se estas são deliberadamente alargadas, sendo o seu resultado mortífero conhecido, neste caso as sanções podem ser consideradas genocídio." Quando a embaixadora dos EUA Madeleine Albright disse, no programa da CBS ‘Sixty Minutes’ em 1996, que a morte de 500.000 crianças iraquianas para tentar derrubar Saddam Hussein «se justificava» a continuação das sanções da ONU, contra o Iraque, estas estavam de acordo com a definição de genocídio. 
Nos dias de hoje, dois Relatores Especiais da ONU, nomeados pelo Conselho da ONU dos Direitos Humanos, entidades sérias e independentes, avaliam o impacto das sanções dos EUA sobre a Venezuela e as suas conclusões gerais aplicam-se igualmente ao caso do Irão. Alfred De Zayas visitou a Venezuela pouco depois dos EUA terem imposto sanções financeiras em 2017 e redigiu um relatório extenso sobre o que viu aí. Detectou impactos significativos devido à dependência de longo prazo da Venezuela em relação às exportações de petróleo, à fraca eficácia governativa e à corrupção, mas também condenou fortemente os EUA pelas suas sanções e «guerra económica». «As sanções económicas e os bloqueios, nos dias de hoje, são comparáveis com os cercos de cidades na idade-média» escreveu De Zayas «As sanções do século vinte e um, tentam por de joelhos não apenas uma cidade, mas países inteiros» O relatório de De Zayas recomendava que o Tribunal Penal Internacional deveria investigar as sanções dos EUA contra a Venezuela, como um crime contra a humanidade. 
Um segundo Relator Especial da ONU, Idriss Jazairy, produziu uma declaração vinculativa em resposta ao golpe falhado de Janeiro, apoiado pelos EUA, na Venezuela. Condenou a «coerção» por poderes externos como uma «violação das normas do direito internacional». «Sanções que podem levar à fome em massa e a carências de meios médicos não são a resposta à crise na Venezuela,” disse Jazairy, “…provocar uma crise económica e humanitária … não é um ponto de partida para solução pacífica de disputas.” As sanções também violam o Artigo 19 da Carta dos Estados Americanos, a qual é explícita na proibição de intervenções “seja por que motivo for, nos assuntos internos ou externos de qualquer outro Estado.”  Acrescenta que “proíbe não só a intervenção armada mas também qualquer outra forma de interferência ou ameaça tentada contra o Estado ou contra os seus elementos políticos, económicos e culturais.” O Artigo 20 da Carta da OEA é igualmente pertinente: “Nenhum Estado pode usar ou encorajar o uso de medidas coercivas de carácter económico ou político em ordem a forçar a vontade soberana de outro Estado e obter assim quaisquer tipo de vantagens” Nos termos da lei dos EUA, tanto as sanções de 2017 como 2019 contra a Venezuela são baseados em declarações presidenciais não substanciadas de que a situação na Venezuela criou uma «emergência nacional» nos Estados Unidos. Se os tribunais federais dos EUA não tivessem tanto medo de chamar à responsabilidade o ramo executivo em matérias de política externa, tal poderia ser desafiado e posto em causa, muito provavelmente, com ainda mais rapidez do que caso semelhante, o caso da «emergência nacional» na fronteira do México, pelo menos neste caso, estava geograficamente conectado ao território dos EUA.



Ineficaz

Existe ainda mais uma razão importante para poupar as pessoas do Irão, Venezuela e outros países seleccionados a este impacto mortífero e ilegal das sanções económicas dos EUA: não funcionam.
Há vinte anos, enquanto as sanções económicas retiravam 48% do PIB do Iraque durante 5 anos e os estudos sérios documentavam o seu efeito genocida, tais sanções não removeram Saddam Hussein do poder. Dois Assistentes dos Secretário Geral da ONU, Denis Halliday e Hans Von Sponeck, demitiram-se em protesto, das suas posições altamente colocadas na ONU, para não terem de por em prática estas sanções mortíferas. Em 1997, Robert Pape, então professor no Colégio de Dartmouth, tentou resolver as questões mais básicas no que respeita ao uso de sanções económicas para conseguir mudanças políticas noutros países, tendo para tal coligido e analisado dados históricos de 115 casos em que tal fora tentado, entre 1914 e 1990. O seu estudo intitulado “Why Economic Sanctions Do Not Work,”[Porque é que as Sanções Económicas Não Funcionam] concluiu que as sanções só tinham sido bem sucedidas em 5 de 115 casos. Pape colocou também uma questão importante e desafiadora: “Se as sanções económicas são raramente eficazes, porque é que os Estados continuam a usá-las?” Ele sugeriu três possíveis respostas: “Os responsáveis políticos que impõem as sanções sobrestimam sistematicamente a sua eficácia como meio coercivo.” “Os líderes que estão inclinados, em último recurso, a usar a força armada esperam que as sanções prévias tenham o efeito de aumentar a credibilidade das ameaças militares subsequentes.” “A imposição de sanções confere aos líderes vantagens domésticas maiores quer do que negar os apelos a sanções, quer do que o recurso à força.” Pensamos que a resposta possa ser uma combinação de todas as opções anteriores. Mas estamos convictos firmemente que nenhuma combinação das razões acima ou outro raciocínio possam jamais justificar o custo humano genocida das sanções económicas no Iraque, na Coreia do Norte, no Irão, na Venezuela ou em qualquer outro lugar. 
Enquanto o mundo condena os recentes ataques contra os petroleiros e tenta identificar os responsáveis, as condenações globais deveriam também incidir sobre a nação responsável pela guerra económica mortífera, ilegal e ineficaz, que está no cerne desta crise: Os Estados Unidos da América.

Medea Benjamin é uma activista política dos EUA, co-fundadora do Code Pink https://www.codepink.org

quinta-feira, 9 de maio de 2019

RELAÇÃO DA CRISE VENEZUELANA COM O CONTROLO GLOBAL DO MERCADO MUNDIAL DO PETRÓLEO

«O que o nosso (dos EUA) governo não nos diz sobre a Venezuela»:




                                              Uma brilhante análise de Kim Iversen

Veja também o seu excelente video sobre «o que todas essas guerras para mudança de regime têm em comum?» : https://www.youtube.com/watch?v=Mtba_KqCmUQ


quarta-feira, 1 de maio de 2019

ESPECIAL VENEZUELA



O golpe militar tentado pelos EUA, nos dias 29-30 de Abril do corrente ano foi derrotado. As forças militares venezuelanas continuaram fiéis ao presidente Maduro. Porém, este episódio mostra como as forças pilotadas à distância pelo Departamento de Estado, pela CIA e por outras agências dos EUA, no terreno, estão posicionadas para desencadear a guerra civil, neste país tão rico e tão sacrificado. Sem dúvida, que este processo é criminoso e a sua condução mostra até que ponto os defensores de Guaidó e outros fantoches dos americanos desprezam o próprio povo que dizem representar. Com efeito, a maioria do povo apoia consistentemente o governo Maduro e demonstrou esse apoio, agora mesmo, juntando-se muitos milhares, em torno do palácio presidencial. Lembremos que foi o povo que derrotou o golpe de 2002 contra Chavez. O então Chefe de Estado teve de ser solto, depois de ter sido preso pelos golpistas, devido ao facto da pressão popular ser demasiado forte. 
Aos inimigos da Venezuela e do seu povo, só restam a continuação do cerco económico, a constante propaganda com que inundam os media controlados por eles, a fabricação de uma oposição golpista. Pois eles sabem que a utilização directa da força militar dos EUA, mesmo que esteja maquilhada em operação para «restaurar a democracia na Venezuela», iria custar demasiado caro em homens e colocaria uma espécie de vulcão junto da «sua porta das traseiras». 
A guerra dos EUA na Venezuela é um exemplo de guerra híbrida e assimétrica, assistindo-se, ao longo de duas décadas, a uma escalada dos meios e da violência, tal como tem sido planeada pelos estrategas do Pentágono, da CIA e do Departamento de Estado. 
Nesta fase do processo, já se podem traçar duas conclusões, cujo significado ultrapassa o aspecto regional: 
- Primeiro, os EUA estão, de facto, a enterrar todo o edifício da legalidade internacional, penosamente erguido pelos diversos países dos dois lados da Guerra Fria Nº1. Esta deriva é longa, pois já ocorre desde a transformação da NATO num instrumento de agressão, em 1999 na ex-Jugoslávia. Não é fruto da política de Trump, especificamente. Embora Trump, acossado pelas facções contrárias internas que o acusam de ser um «peão» dos russos, tenha usado a política internacional como trunfo para se manter internamente fora do alcance dos seus opositores, que queriam a sua destituição. Ele, para evitar isso e para ter as mãos livres noutros aspectos da sua política, fez um «deal»: dava uma fatia substancial do poder no plano internacional aos neocons e ao aparelho do partido democrata, para - em troca - ter oportunidade de avançar com a reestruturação da economia americana.  
- Segundo, os aliados europeus dos EUA mantêm-se obedientes, em relação aos assuntos da América Latina. Efectivamente, seguem uma política externa do tipo «Monroe»: os assuntos do Continente Americano são essencialmente deixados à discrição do «Tio Sam». Aquilo que têm feito em relação à Venezuela, mais não é do que uma negação grosseira dos princípios elementares das relações de Estado a Estado, uma violação das normas internacionais da diplomacia, com o reconhecimento de Guaidó como o presidente legítimo, quando nem sequer foi candidato ao cargo, assim como um atentado às regras dos negócios internacionais quando retêm ou capturam a propriedade do Estado venezuelano, quer sob forma de ouro retido no Banco de Inglaterra, quer sob forma das contas bancárias com os pagamentos do petróleo venezuelano. Para eles, isso não lhe importa muito, pois os seus princípios são ajustáveis às conveniências: na medida em que se mostrem vassalos obedientes dos EUA, talvez beneficiem de um comportamento benevolente do hiper-império... 

Assim, como corolário destes dois aspectos acima,  o golpe em marcha na Venezuela não poderá ter um desenlace pacífico, que se traduziria pela negociação entre as diversas oposições e o regime, a não ser que houvesse uma mudança substancial no panorama internacional. Esta mudança teria de implicar um acordo entre EUA, Rússia e China, de partilha de esferas de influência (uma espécie de Ialta nº2), mas isto não está no horizonte. 
Veremos, mas parece-me que a evolução dos acontecimentos coloca como mais provável um cenário de guerra civil, o que seria péssimo para o povo venezuelano.

domingo, 31 de março de 2019

SITUAÇÃO NA VENEZUELA; DECLARAÇÕES DA PORTA-VOZ DO GOVERNO DE MOSCOVO

Maria Zakharova é porta-voz do governo russo. Ela explica nesta comunicação qual o posicionamento da Rússia em relação à ajuda à Venezuela, criticando em termos enérgicos a atitude de ingerência grosseira permanente de Washington, nos assuntos internos de um país soberano, referindo as violações dos EUA em relação a importantes princípios e leis internacionais, incluindo a Convenção de Viena, que regula as relações diplomáticas, como os países devem encarar as embaixadas e outros bens de países no seu território, etc.


terça-feira, 26 de março de 2019

NÃO ESPIES POR MIM, ARGENTINA


WAYNE MADSEN | 20.03.2019
https://www.strategic-culture.org/news/2019/03/20/dont-spy-for-me-argentina.html


Quando um presidente dos EUA incompetente contrata como seu «enviado especial» para mudança de regime na Venezuela o mesmo bufão que, nas suas trapalhadas, ajudou a que o escândalo Irão-Contras rebentasse, pode-se esperar tudo.
Abrams, ao ajudar a canalizar por engano fundos que solicitara ao Sultão de Brunei, que, em vez disso, acabaram por ir parar à conta suíça de um rico armador, chamou a atenção e despoletou a investigação sobre o esquema de cobertura Irão-Contras pelas autoridades bancárias suíças.
A descoberta recente, pelo juiz argentino Alejo Ramos Padilla de que a administração de Trump cooptara o regime direitista argentino do presidente Mauricio Macri para atingir a companhia petrolífera estatal da Venezuela e o regime de esquerda do Uruguai, numa enorme operação de extorsão, exibe todos os sinais do enviado imbecil de Trump para a Venezuela, Elliott Abrams. Quando ele era Secretário de Estado Adjunto para os assuntos do Hemisfério Ocidental, durante a administração de Ronald Reagan, Abrams foi indiciado pelo seu papel no comércio ilegal de armas para o Irão em troca dos reféns americanos, mantidos pelas milícias xiitas pró-iranianas no Líbano. Agora, foi repescado da reforma pelo seu colega neo-conservador, John Bolton, para levar a cabo o derrube do governo do presidente Nicolas Maduro na Venezuela.
Durante o episódio Irão-Contras, o nefasto Abrams, que se auto-denomina perito sobre a América Latina, ajudou a usar os fundos obtidos da venda ilegal de armas ao Irão para comprar, no mercado negro, armas para os Contras da Nicarágua. Ele levou a cabo a operação com a assistência do cartel de droga de Medellin na Colômbia e com o líder panamiano Manuel Noriega. Abrams teria provavelmente cumprido uma longa sentença de prisão pelos seus crimes, caso o presidente George H. W. Bush não o tivesse perdoado, assim como a outros condenados pelo caso Irão-Contras, na véspera de Natal de 1992.
As impressões digitais de Abrams, de Bolton, do secretário de Estado Mike Pompeo e do Senador e membro do Comité para as Relações com o Hemisfério Ocidental, Marco Rubio, estão por todo lado neste escândalo de extorsão, que agora abala a Argentina. O juiz Padilla está direccionando o processo contra o regime de Macri, o qual envolve milhões de dólares, que têm sido extorquidos por aliados de Macri contra alvos de oposição política, assim como coerção de falso testemunho exercida sobre estes alvos. Padilla disse ao Comité de Liberdade de Expressão da Câmara dos Deputados Argentina que descobriu «uma rede para-estatal de espionagem de grande magnitude, ideológica, política e judicial», acrescentando que se tratava de “uma teia de operações de espionagem ilegais, envolvendo forças judiciais, do governo, da segurança, dos poderes políticos e dos media”.
Macri esteve associado como sócio no negócio do imobiliário com a Organização Trump, para construir na baixa de Buenos Aires uma Torre Trump. Embora o projecto não tenha vingado, as relações de negócio entre Macri e seu pai, o italo-argentino milionário Francesco Macri, com a Organização Trump estendem-se, no passado, aos dias em que o pai de Donald Trump, Fred Trump, dirigia a empresa e são famosas. Elas incluíram colaborações para construção de imobiliário em Manhattan e em Buenos Aires. Companhias de fachada, off-shore da empresa Trump Organization e da empresa da família de Macri, o conglomerado Socma, estão presentes em documentos da agora defunta firma de advogados da cidade do Panamá, Mossacka-Fonseca.
O juíz Padilla foi recentemente convidado a testemunhar sobre o escândalo de extorsão pelo presidente do Comité para a Liberdade de Expressão, Leopoldo Moreau. O convite surge depois do presidente do Comité de Contra-Espionagem, o senador Juan Carlos Marino, um fiel adepto de Macri, ter recusado convidar Padilla a testemunhar frente ao Comité a que preside. Moreau classificou o escândalo de extorsão «o mais grave escândalo institucional desde que a democracia regressou à Argentina [em 1983],” acrescentando que é “uma máfia dedicando-se a entalar oponentes, forçando ao seu testemunho falso e espionagem.” Padilla indicou como executantes da operação de extorsão, o Delegado Público Federal Carlos Stornelli, o seu próximo associado, Marcelo d’Alessio, os serviços secretos argentinos, a “Agencia Federal de Inteligencia”(AFI), o chefe da AFI, Gustavo Arribas, duas mulheres-congressistas de direita — Elisa Carrió e Paula Olivetto da Coalição Cívica pró-Macri — e o diário de direita, “Clarín”.
D’Alessio foi preso a 15 de Fevereiro deste ano. Nas 22 horas de gravações audio e video incriminatórias de d’Alessio, este declarou ter recolhido 12 milhões dólares, em subornos de indivíduos que tinham sido ilegalmente sujeitos a chantagem, desde Agosto de 2018. Quanto a Stornelli, pensa-se ter ele conduzido a operação de extorsão com conhecimento e encorajamento da Ministra da Segurança, Patricia Bullrich. Stornelli recusou comparecer diante do juiz Padilla ou a entregar seus telemóveis, como lhe tinha sido ordenado judicialmente. O indivíduo que seria o presumido «colector» de fundos destas operações, Salta Mayor Gustavo Sáen, próximo aliado de Macri, forneceu os seus telemóveis pessoais a Padilla.
Padilla, que tem estado sob intensa crítica dos media pró-Macri, tem sido descrito, por alguns, como o equivalente na Argentina de Robert Mueller, o Conselheiro Especial dos EUA, investigando Trump.
Padilla revelou que d’Alessio trabalhou para a CIA e que tinha na sua posse documentos da embaixada dos EUA em Buenos Aires, manuais da CIA sobre agentes encobertos na Argentina e na Venezuela, e armas licenciadas nos EUA. Os textos de mensagens usando WhatsApp, extraídas do smart-phone de d’Alessio, tinham a ver com espionagem contra o Uruguai, chantagem para obrigar a fazer falso testemunho contra o governo de Maduro de Venezuela, a que submetera um advogado da “Petróleos de Venezuela, S.A.” (PdVSA), a companhia estatal venezuelana de petróleos, cujos activos foram tomados pela administração Trump, e de ter enviado relatórios, via mala diplomática, a um centro de espionagem dos EUA, no Estado do Maine, onde  está situado o «US Navy’s Very-Low Frequency Navy Communications Station», na cidade de Cutler. Padilla disse que, na busca a casa de d’Alessio’s na cidade de Esteban Echeverría, “Encontrámos documentos, ficheiros de serviços secretos, blocos de apontamentos com dados detalhados sobre filhos, esposas e parentes daqueles que estavam a ser alvo de chantagem, aparelhos para espionagem como câmaras ocultas, drones, uma arma que chamou a atenção de todos” Padilla estava obviamente a referir-se à tentativa de assassinato falhada contra o presidente venezuelano Nicolas Maduro em Agosto passado, operação relacionada com os operativos da CIA, baseados na Colômbia. A operação visando a PdVSA era uma tentativa, em parte, de falsamente ligar a empresa ao tráfico de drogas e de armas e outras operações ilícitas para acusar o presidente Maduro e seu antecessor, Hugo Chavez, de envolvimento em tais operações. Padilla descobriu que a operação para denegrir Maduro e Chavez envolvia não apenas d’Alessio e a CIA, mas igualmente a DEA, a agência dos EUA de combate à droga. A operação, com o nome de código “OPERATION BRUSA DOVAT,” envolvia o anterior director da PdVSA, Gonzalo Brusa Dovat, um cidadão uruguaio, e enquadrava-se no plano global da administração Trump para congelar os bens da companhia de petróleos venezuelana no estrangeiro. Outras mensagens de texto de d’Alessio revelavam uma armadilha para comprometer o ministro das obras públicas Julio de Vido e seu secretário, Roberto Baratta, utilizando dados roubados por um operacional da NSA (National Security Agency dos EUA) David Cohen, que trabalhava para “Energía Argentina SA” (ENARSA), a agência estatal argentina da energia. Cohen foi constituído arguido pelas autoridades argentinas a 8 de Março. Padilla também descobriu o envolvimento dos serviços de espionagem de Israel na operação para-estatal de extorsão.
Padilla revelou que a operação de extorsão visava também a actual senadora da oposição e ex-presidente Cristina Fernández de Kirchner e vários proeminentes jornalistas anti-Macri.
Também se descobriu no telemóvel de d’Alessio mensagens de texto de membros da equipa de Trump na Casa Branca, oferecendo a Macri «apoio mediático» (“media coaching”) para sua campanha de re-eleição de 2019. O ex-estratega principal de Trump, Steve Bannon deu assistência efectiva ao presidente neo-nazi brasileiro Jair Bolsonaro, durante a sua campanha vitoriosa de 2018. Em Fevereiro deste ano, Bannon designou o filho de Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro, um senador brasileiro, como o chefe para a América Latina da organização mundial fascista, chamada «O Movimento».
A operação conjunta da Argentina/CIA/Israel, centrava-se na tentativa de comprometer o governo de esquerda da “Frente Amplio de Uruguai” do presidente Tabaré Vázquez, numa falsa ligação à missão comercial iraniana operando no Uruguai. D’Alessio tinha em sua posse, segundo foi revelado, correspondência com cabeçalho da embaixada dos EUA em Buenos Aires e com cabeçalho do ministério da defesa de Israel. A ligação forjada ao Irão foi utilizada como justificação para uma operação ilegal de vigilância dos políticos da Frente Amplio, incluindo o presidente Vázquez, o antigo presidente José “Pepe” Mujica e sua esposa, a actual vice-presidente Lucía Topolansky.




Havia alegações falsas nos ficheiros guardados por d’Alessio de que a missão comercial iraniana no Uruguai estava fazendo negócios com a Argentina, através duma companhia russa de fachada. A informação forjada terá sido fornecida aparentemente pelos serviços secretos de Israel, o MOSSAD. D’Alessio foi identificado por Padilla como fazendo parte de uma operação visando o Hezbollah libanês. Descobriu, sem surpresa, que d’Alessio estava em ligação com o presidente da câmara de comércio Argentina-Israel em Buenos Aires.




As revelações de Padilla levaram o juiz de instrução uruguaio do crime organizado, Luís Pacheco, a afirmar que poderá solicitar mais informação sobre o escândalo das extorsões ao governo da Argentina.




Está-se perante a possibilidade de tentativa de golpe contra o presidente Vázquez, ajudada e avalizada pela CIA e a Casa Branca de Trump. A 13 de Março, Vázquez demitiu o comandante-chefe do exército, General Guido Manini Ríos, por este ter criticado os julgamentos de oficiais culpados de violações dos direitos humanos na ditadura militar uruguaia, por se ter reunido com políticos direitistas de oposição, e mais grave ainda, por ter visitado Bolsonaro, que elogiou ditaduras militares passadas do Brasil e doutras nações latino-americanas, incluindo o Uruguai, a Argentina e o Chile.




A CIA, dirigida pela defensora da tortura, Gina Haspel, tornou-se a tropa de choque do exército que serve os desejos de Trump e as escuras políticas neo-conservadoras de Bolton e de Pompeo. É claro que Abrams, Bolton, Pompeo, Rubio, Bannon e seus protegidos, incluindo Macri e Bolsonaro, estão a tentar recriar a OPERAÇÃO CONDOR dos anos 1960, 70 e 80, uma aliança dos serviços secretos das ditaduras da Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai, que eram os membros titulares, enquanto o Equador e o Peru eram membros associados. Dezenas de milhares de militantes de esquerda foram perseguidos e executados, na época da Operação Condor, que operava em plena concordância e com participação da CIA.




O regime de Macri respondeu às revelações de Padilla perante a câmara dos deputados da Argentina iniciando um processo de impugnação contra o juiz. O ministro da justiça requereu formalmente ao Conselho da Magistratura, que tem autoridade sobre os juízes, para abrir uma investigação formal a Padilla. Padilla foi sujeito a uma campanha perversa de difamação nos media argentinos pró-Macri, com alguns críticos questionando mesmo seu serviço militar durante a guerra das Malvinas contra os britânicos. Padilla, neste ponto, não difere de Robert Mueller, cujo serviço no Corpo de Marines no Vietnam também foi questionado pelos aliados de Trump.

TRADUÇÃO DE MANUEL BAPTISTA