Muitas pessoas aceitam a situação de massacres de populações indefesas em Gaza e noutras paragens, porque foram condicionadas durante muito tempo a verem certos povos como "inimigos". Porém, as pessoas de qualquer povo estão sobretudo preocupadas com os seus afazeres quotidianos e , salvo tenham sido também sujeitas a campanhas de ódio pelos seus governos, não nutrem antagonismo por outro povo. Na verdade, os inimigos são as elites governantes e as detentoras das maiores riquezas de qualquer país. São elas que instigam os sentimentos de ódio através da média que controlam.

sexta-feira, 26 de abril de 2024

RECUERDOS DE LA ALHAMBRA DE FRANCSICO TÁRREGA POR ANDRÉS SEGOVIA


 O grande mestre que foi Andrés Segovia deu o pleno brilho da guitarra espanhola em suas interpretações, elas próprias, monumentos da música.
 Francisco Tarrega pertence ao grupo de grandes compositores para este instrumento, da segunda metade do século XIX e princípios do século vinte.


Apogeu e decadência da Civilização Ibérica

Esta peça, muito conhecida, convida-nos a considerar o fausto e o requinte da civilização Islâmica, que se estendeu pela maior parte da Península Ibérica e que durou vários séculos.  
Esta cultura, não só artística, como também cientifica, permitiu que este espaço ibérico fosse ocasião para o chamado 1º Renascimento, que ocorreu em pleno período medieval: Este renascimento, corresponde ao período de maior florescimento da cultura árabe na Península Ibérica, em que obras de historiadores, filósofos, matemáticos, etc. da Antiguidade foram estudadas, graças a traduções em língua árabe, feitas a partir de originais gregos, muitos dos quais se tinham perdido. Além da herança árabe, a Península foi testemunha do florescimento da cultura judaica. A tradição cristã, muçulmana e judaica, todas as três culturas e religiões, apesar das cruzadas e de outras catástrofes que assolaram o mundo medieval, encontraram maneira de - não apenas viverem nos mesmos espaços - como de se fecundaram reciprocamente, dando origem aos dois reinos (Portugal e Castela) mais poderosos, enquanto «condensado de cientistas» da época. Os grandes projetos de expansão marítima, tanto de portugueses como de castelhanos, não seriam possíveis sem uma sólida base científica e técnica. Os reinos Ibéricos tinham um escol de cientistas, físicos, astrónomos, geógrafos, aos quais se somavam homens com grande saber e perícia técnica nas artes de marejar, de construção naval, da medicina, da botânica, etc. juntamente com o «saber de experiência feito» dos mercadores e dos aventureiros.  
As duas grandes expulsões - dos judeus e dos mouros muçulmanos - foram ambas decretadas pelos reis ibéricos. Os poderes reais queriam deste modo agradar ao alto clero e ao Papa. Na realidade, foram desastres porque cortaram esses reinos de boa parte da elite científica e erudita dos mesmos. Foi um empobrecimento cultural brusco, por fanatismo ou por gula de poder. As guerras - nessa época - eram supostamente contra os «infiéis», mas - sobretudo - faziam-se com intuitos de conquista territorial e de monopólio das rotas comerciais tão cobiçadas. Assim, os reinos ibéricos, pouco tempo depois do momento de maior expansão (nos finais do século XV, princípios do século XVI),  sofreram processos brutais de expulsão de uma parte das suas gentes, que incluíam justamente as elites intelectuais e científicas que tinham contribuído para essa mesma expansão.
Assim se explica que os primeiros sinais de decadência, se tenham manifestado pouco tempo depois do apogeu, com apenas um ou dois decénios de intervalo. 
A cultura, a civilização, ganham com o entrecruzamento de várias tradições; com um espírito de tolerância e respeito pelas heranças culturais doutros povos. É algo que não se pode impor, mas que aconteceu naturalmente, até mesmo no contexto de rivalidade acesa entre Cristandade e Islão. Faço notar que o povo judeu, nessa época, desempenhou papeis muito relevantes para os reinados cristãos. Os sábios judeus foram muito respeitados por cristãos e muçulmanos, ao mais alto nível, até que o fanatismo religioso (neste caso, católico) ameaçou de excomunhão os reis e reinados que tinham tolerância para com outras religiões. A expulsão ou conversão à força de judeus e muçulmanos foi uma terrível tragédia, para estes; mas, esteve também na origem da perda de influência, da incapacidade de sustentar os impérios comerciais, que rapidamente tinham sido formados, sobretudo no Oriente. 
Em suma, estas intolerâncias foram uma causa profunda da decadência que rapidamente se verificou, a todos os níveis: científico, militar, demográfico, económico.. .

terça-feira, 23 de abril de 2024

PORQUE BIDEN APOIA GOVERNO GENOCIDA DE NETANYAHU ?

 



Além das motivações políticas, não esqueçamos que Biden é o perfeito presidente da máfia sionista, pois ele foi escolhido pelos seus muitos «telhados de vidro». Era do conhecimento público (antes das eleições, há 4 anos) o enorme escândalo do seu filho Hunter Biden (psicopata sexual, adicto em drogas), que fazia a compra de influências, nomeadamente, entre altos dignatários do Partido Comunista Chinês, que são simultaneamente grandes acionistas de empresas chinesas e o vice-presidente Biden. O estado senil do seu pai e vice-presidente de Obama, já era conhecido. O facto de ter sido um «falcão», que apoiou entusiasticamente a invasão do Iraque em 2003, idem. Tudo isso, fazia dele o candidato mais fraco possível, mais facilmente manipulável: A AIPAC, a ADL (lobbies judaicos, pró-sionistas), o lobby do armamento e os grandes bancos é que elegeram Biden. 
O poder não reside da Casa Branca, nem no Capitólio: é claro que este reside em conglomerados de interesses, doadores das campanhas multimilionárias e aos quais os candidatos respondem, antes de mais. Por isso, há um divórcio tão grande entre o sentimento da «rua» nos EUA e aquilo que faz a «elite», a «oligarquia». 
Os dirigentes europeus, subservientes, são rápidos a copiar os piores exemplos de corrupção e de cinismo dos colegas americanos. Com a agravante de - na Europa - estarem a «suicidar» os seus países, seus Estados, suas economias, sacrificando os seus povos, só para demonstrar fidelidade ao seu «senhor feudal», os EUA.

segunda-feira, 22 de abril de 2024

OPUS VOL. III, 14. GRITO DOS OPRIMIDOS DA TERRA

 



Quase todos se designam como ambientalistas

Está na moda; mas, quantos estão genuinamente

A lutar pelo ambiente, o que inclui os humanos?



Onde estão os ambientalistas quando se trata

De manifestar contra a guerra

Exigindo paz imediata, salvando vidas

E salvando a ecosfera, impactada

Pelo desastre ecológico das guerras?


Que protesto contra a hipocrisia 

Dos dirigentes que falam contra

Mas enviam armas e munições

A um dos lados, para eternizar

O bom negócio para a indústria

Dos armamentos?


Não lhes importa o ambiente

Nem tão pouco as pessoas

São ecologistas da treta

Que se indignam apenas

Com um dos lados e calam

Críticas a quem lhes paga!


A Terra, essa, não tem 

Quem a defenda

Apenas a regeneração

Natural, no longo prazo

Se os homens entretanto

Não tiverem conseguido

Tudo destruir!




domingo, 21 de abril de 2024

UCRÂNIA ESTÁ A ATINGIR O PONTO DE COLAPSO

 SCOTT RITTER: PERDEMOS O CONTROLO DO MUNDO PORQUE NOS RECUSAMOS A COMPREENDER O QUE SE PASSA


O nível dos chefes ocidentais é tal que, na Rússia e na China, não precisam de fazer grande coisa. A estupidez dos referidos dirigentes ocidentais apenas os enterra cada vez mais: São ridículos, desprezíveis e sobretudo criminosos (pensem em Gaza!).

Scott Ritter diz muitas verdades. Oiçam o que diz a propósito de
Stoltenberg
Scholz
Yellen
...
A estupidez não tem limites!
Zone contenant les pièces jointes

sábado, 20 de abril de 2024

O TRIUNFO DA ESTUPIDEZ

 


Os ocidentais, pelo menos os que detêm mais poder, seja ele económico ou político, são capazes de ficar muito orgulhosos porque «fizeram uma tonelada de dinheiro». É assim que pensam, realmente. Confundem as coisas. Não têm a mínima noção da realidade económica. São capazes de ficar extasiados perante a subida das bolsas e das ações nas quais apostaram, porém, não têm em conta que a divisa na qual essas mesmas são avaliadas (e todos os ativos, geralmente), se deprecia em proporção tão grande como a «valorização» dos seus ativos. 

Nunca na História se acumularam tantos erros estratégicos, pela chamada elite. Os poderosos, nos anos noventa, decidiram que os países pobres, do Terceiro Mundo, eram os locais apropriados para deslocalizar as suas empresas. «Matavam de uma cajadada, dois coelhos»: Obtinham enormes lucros com estas deslocalizações e conseguiam controlar a classe trabalhadora dos próprios países, sujeitando-a à precariedade, ao desemprego, à diminuição do seu nível de vida.  Na realidade, estavam a serrar o ramo sobre o qual se sentavam; numa sociedade capitalista o mercado (dos bens materiais e dos serviços) é que dita o lucro: Se não houver escoamento para a mercadoria, os seus fabricantes podem ter acumulado muita mais-valia (potencial) no processo de produção, isso não produz qualquer lucro líquido, pois no final, eles só podem concretizar a operação pela venda dos tais produtos acabados. Se não há compradores, ou porque o produto proposto não lhes interessa ou porque estão debilitados economicamente e não podem gastar dinheiro em coisas não essenciais, os capitalistas irão, com certeza, para a falência. E assim foi. 

Os produtos elaborados no «Oriente» eram muito mais baratos e mais satisfatórios. Portanto, tinham colocação garantida tanto nos povos do oriente, como do ocidente. A desindustrialização foi um desastre para o capitalismo ocidental, promovido pelo mesmo e resultou num maior crescimento da capacidade produtiva e do poderio económico das economias orientais. 

Outra das belas operações dos ocidentais foi a sua obsessiva venda de ouro, quer estivesse guardado em cofres-fortes de bancos comerciais, ou nos bancos centrais dos diversos Estados. 

Os países recetores foram aqueles com excedentes comerciais crónicos. Foram acumulando ouro, tanto quanto podiam, sabendo que o preço a que lhes era vendido, era um preço de saldo. 

O ouro está agora em mãos fortes. Ele foi cedido  por mãos fracas. Infelizmente, não  apenas as mãos eram fracas, também as cabeças: Com efeito, acreditaram numa espécie de ladainha que «justificava» as vendas massivas do ouro como ele sendo «a pet rock» («uma rocha de estimação»). 

Mas o ouro é dinheiro verdadeiro, há mais de 5000 anos, que não sobe nem desce, pelo contrário são as divisas fiat que sobem e descem constantemente. Se assim não fosse, não haveria nenhuma lógica para os bancos centrais de todo o Mundo acumularem este metal especial. 

Agora, vê-se que quem possui o ouro, possui o poder. O mais extraordinário, é que a classe possidente no Ocidente se convenceu das suas próprias falácias, acreditou na sua própria propaganda. 

Nunca se viu um grau tão grande de autoderrota. Não tenho pena das classes possidentes ocidentais, tenho compaixão pelas pessoas trabalhadoras, exploradas, enganadas, espoliadas dentro desse tal «jardim do Paraíso» do Ocidente (como diz Josep Borrell). 

Afinal eles, trabalhadores dos países ocidentais, devem sentir-se ainda mais infelizes, perante os milhões de pessoas que deixaram de ser pobres e que ascenderam ao nível de «classe média» no Oriente, enquanto elas, no Ocidente, desciam para o inferno da pobreza.

Não vale a pena, sequer, esgrimir argumentos com os falsos «especialistas» ou «economistas da treta», que enxameiam os nossos media corporativos: Se uma pessoa quer olhar os factos por si mesmos, sem se distrair pelas argumentações sofísticas, tem de concordar comigo: 

- Nos finais do século XX e nos princípios deste século, a classe dominante dos nossos países ocidentais, possuída de vertigem do poder e da sua invencibilidade, provocou a sua própria queda.

quinta-feira, 18 de abril de 2024

HOMENAGEM A LIANE AUGUSTIN [Playlist]



https://www.youtube.com/playlist?list=PLUv1WgIwP9INT1m0wCAIvNzPd0PP1Re8b

Uma criança de seis anos passeia em Viena de Áustria, em 1960, pela mão do Pai e da Mãe. Estes, fazem-lhe visitar magníficos palácios, museus, salas de concerto e o famoso teatro de marionetas, onde ouve e vê pela primeira vez a ópera de Mozart «A Flauta Mágica».  Nesta idade, não se tem recordações nítidas do que se viu, ouviu ou testemunhou. Mas fica o encantamento. E ficaram os discos - comprados e trazidos para Lisboa, pelos pais -  de Liane Augustin e do seu trio do Bohème Bar.



Hoje em dia, reconheço a qualidade excecional de Liane, que tanto se adapta perfeitamente a interpretar canções vienenses, como grandes nomes da canção francesa, ou da ópera dos Três Vinténs, de Brecht/Weil, da qual se tem uma excelente gravação com partes selecionadas. 

O fascínio pela artista Liane Augustin é perfeitamente natural, pois representa uma tradição de continuidade, desde antes da IIª Guerra, até às primeiras décadas do pós-guerra, daquilo que existe de melhor, tanto na canção de «cabaret», como na canção francesa ou das tradições musicais anglo-saxónica, italiana, além da alemã.

Esta qualidade é difícil, por vezes, de apreciar, dada a técnica pouco sofisticada de gravação, em discos mono, sem captação diferenciada da voz em relação ao acompanhamento instrumental. Isto e o estado de conservação dos discos de vinil, que serviram para as regravações no YouTube, podem afastar um público mais exigente da qualidade técnica. Mas, eu proponho que «afinemos» o ouvido, tentando captar a autenticidade da voz e do acompanhamento instrumental, nestas gravações.  

LISTA DE CANÇÕES INTERPRETADAS POR LIANE AUGUSTIN







HISTÓRIA DA SUBIDA AO PODER DOS XIITAS NO IRÃO (e relações «secretas» com Israel)

 


Este vídeo também esclarece obre a possibilidade das hostilidades entre Israel e o Irão serem o ponto de partida para uma 3ª Guerra Mundial. 

quarta-feira, 17 de abril de 2024

COMO SITUAR O CONCEITO DE «REVOLUÇÃO», NA HISTÓRIA?

 A história que nos é ensinada nas escolas, desde há gerações, segue uma vulgata marxista, o mesmo é dizer, que é algo ideológico.

No cerne dos preconceitos que enformam as gerações de estudantes formados após o 25 de Abril de 74, sobressai o de «revolução». Nenhum conceito poderia ser ensinado de modo mais confuso e mais ideológico. Fala-se de revolução a torto e a direito, a propósito de golpes de Estado e outros derrubes mais ou menos violentos, em contradição com os sistemas políticos instituídos.

Mas, na verdade, não houve senão duas revoluções, no sentido marxista (sem ironia!): pois a teoria marxista acentua o facto de uma revolução implicar profundas modificações no modo de produção, por sua vez, transformando as relações sociais, em profundidade e de modo duradoiro. A partir da consolidação da nova ordem, muitos aspetos super estruturais das sociedades, ficam profundamente modificados.

Para se aderir a esta visão do que seja «a revolução», teremos necessariamente de excluir as «revoluções políticas», as mudanças políticas, mesmo que elas nos pareçam muito significativas. De facto, o que é apontado como revoluções não o foram, por certo; mas foram antes epifenómenos de algo que estava a agir em maior profundidade.

A «revolução francesa», por exemplo, foi o derrube de uma ordem monárquica mas, nem por isso foi a transformação radical da forma produtiva, nem sequer da dominância das classes. A transição da sociedade agrária para a sociedade industrial estava muito avançada quando, a 14 de Julho de 1798, um grupo de populares parisienses tomou a Bastilha. As relações de produção continuaram as mesmas, antes e depois da «revolução», não foi pelo facto de um certo número de cabeças rolarem, nem de propriedades, que antes pertenciam a aristocratas, passarem a pertencer a burgueses, que se modificou em profundidade a relação entre as classes e nem sequer ao nível do poder político. Note-se que os cargos políticos, já antes da chamada revolução, eram largamente ocupados por elementos da alta burguesia, os quais exerciam esses cargos no poder central e provincial do Estado, muitas vezes relacionados com funções legislativas e da justiça. Mesmo nos altos postos das forças armadas, um campo supostamente reservado à nobreza, as classes não nobres iam progressivamente tomando conta de mais e mais postos. Não devemos ficar iludidos pelo facto do monarca enobrecer um alto funcionário ou uma alta patente do exército: era uma forma, por um lado, de mostrar confiança nesse indivíduo e, por  outro, demonstrar que, servindo o reino, se podia ascender aos cargos e privilégios mais elevados, independentemente da origem social. Napoleão, auto- coroando-se de imperador dos franceses, apenas acentuou essa tendência, que já vinha de longe, criando uma nova  aristocracia, desde barões a príncipes.

Não se encontra, no domínio  da política, nenhum aspeto de fundo que tenha modificado realmente a estrutura das relações sociais. Alguns burgueses tiveram oportunidade de enriquecer, tomando as propriedades das ordens religiosas. Note-se que, eles já pertenciam aos extratos elevados da burguesia, quando compraram (por bem pouco!) os bens das ordens religiosas, postos à venda pelo Estado «revolucionário». 

Poderíamos facilmente mostrar que, ao longo do período napoleónico, contrariamente à mitologia, as classes populares (operários, artesãos, camponeses), não só ficaram subjugadas pelos mesmos ou por outros senhores, como se acentuou a proletarização brutal. Foram colocadas pessoas de ambos os sexos, de todas as idades e incluindo crianças, numa relação de dependência e precariedade, que se traduziu em miséria para as classes populares urbanas. As pessoas esquecem muitas vezes a enorme sangria que foram as guerras revolucionárias e napoleónicas: Durou cerca de 25 anos, em várias partes da Europa. Foi um rasto de destruição «a ferro e a fogo», desde Lisboa  até Moscovo. Estas guerras forçaram comunidades rurais inteiras a migrarem para as cidades, visto que as suas explorações agrícolas tinham sido devastadas ou tinham perdido sua viabilidade económica. 

Do ponto de vista estritamente político, após as guerras napoleónicas reconstituiu-se rapidamente a aliança entre a alta burguesia e a aristocracia. Os governos e monarquias constitucionais que se formaram em quase toda a Europa, são o resultado disso. De fora, ficaram apenas elementos mais radicais, como os republicanos, que continuaram a ser perseguidos: não houve «liberdade de imprensa», nem liberdade de qualquer espécie, durante largos períodos do século XIX, tanto nos países onde tinha havido forte apoio às ideias revolucionárias, como nos que não se deixaram seduzir por elas.  

Na verdade, o fenómeno político, as revoluções liberais, anti autoritárias, anti monárquicas, que houve ao longo do século XIX, são sobretudo o epifenómeno duma profunda transformação na estrutura produtiva. A revolução industrial, que se tinha desenvolvido bem antes, desde o século XVIII, pelo menos, estava a transformar as relações entre classes em profundidade, mas de uma forma silenciosa, não em consequência de qualquer proclamação de princípios revolucionários. O que houve de revolucionário (sem aspas) ao nível da produção, foram, entre outros, a primeira mecanização, a utilização de máquinas a vapor e a concentração de trabalhadores em grandes manufaturas. Estes, eram frescamente saídos dos campos, onde seu trabalho deixou de ter viabilidade económica. 

A concentração de proletários nos centros urbanos, por sua vez, obrigou à transformação das práticas agrícolas: a utilização de processos mecânicos, a generalização dos adubos, os tratamentos fitossanitários, a maior racionalidade no uso dos solos e das culturas, produziram aumentos significativos da produtividade agrícola. Assim se criaram os excedentes que permitiram alimentar a massa humana cada vez maior, nas cidades industriais, porém utilizando muito menos braços nas tarefas agrícolas.  

Portanto, a revolução industrial é o grande motor das transformações. Estas, não se limitaram ao século XIX:

Obviamente, a «grande revolução russa» correspondeu à transformação do país essencialmente agrário, numa potência industrial moderna. Que esta transformação se tenha operado a partir de 1917 sob um governo despótico, totalitário, não impede que tal transformação tenha sido o principal aspeto estrutural da «revolução russa». Os bolcheviques, para efetivação da sua tomada de poder, souberam aproveitar as simpatias de partes do campesinato e do proletariado citadino, por determinadas ideias sociais, o socialismo, o comunismo e o anarquismo. Estes foram instrumentalizados, por vezes esmagados, para a transformação desejada pela «elite» soviética. Não esqueçamos a famosa fórmula de Lenine: «o comunismo consiste nos sovietes, mais a eletrificação do país».

É estranho, mas os que se dizem marxistas não conseguem fazer leituras objetivas dos fenómenos sociais e políticos, quando neles estão envolvidos partidos e correntes «comunistas». A mesma incompreensão dos fenómenos leva certos «revolucionários auto-proclamados » a fazerem uma leitura totalmente errada do  maoismo e do processo de emancipação da China, da sua passagem de uma sociedade atrasada, com características feudais, para uma grande potência industrial e tecnológica. 

Nós - porém - não estamos bloqueados por preconceitos ideológicos. Temos acesso  a um manancial de factos registados, pelo menos desde o início do século XIX, até hoje: não precisamos de distorcer a realidade, ou de fabricar «narrativas convenientes», para convencer os outros de que temos razão, que estamos na linha justa, etc. 

É necessário compreender que a revolução industrial continua, que ela não parou: não é como um comboio que parte dum ponto, para chegar à estação de destino final. A revolução industrial tem vários episódios, continua a modificar a infraestrutura produtiva, a transformar as relações sociais, a condicionar a vida das nações e dos indivíduos e (como epifenómeno) segrega ideologias, as quais são uma espécie de «secreção» que o tecido social produz, enquanto este vai sofrendo inúmeras micro transformações.

A outra grande revolução na história da humanidade, é a revolução agrária. Ela dura desde há cerca de 10 mil anos. No presente, também continua e as suas transformações estão interligadas com as transformações da revolução industrial. Talvez, um dia escreva sobre a revolução agrária. De qualquer maneira, está tão ligada com as primeiras civilizações, que seria necessário compulsar um número impressionante de dados, só para darmos conta da origem e do desenvolvimento desta revolução agrária. É como fazer a história da humanidade, excetuando o longo período paleolítico.

Não poderei pretender mais, neste pequeno texto, do que delinear as questões teóricas em relação com o conceito de revolução e expressar estranheza, perante a «cegueira voluntária» dos que se assumem como sábios, como sabendo em profundidade as coisas, mas que cometem as mais grosseiras falhas de lógica, de bom-senso, para já não falar de método científico. Não poderei convencer tais  indivíduos de que estão errados. Estão numa esfera do tipo crença religiosa, dentro dos seus casulos mentais, sem nenhuma abertura para a realidade... 

Assim constatei, em vários, ao longo da minha vida. Felizmente, existem espíritos mais abertos, que conseguiram aperceber-se das falsidades que lhes andaram a contar durante boa parte da sua vida. 

Mas, aos outros, que não estejam vinculados às falsas religiões das ideologias, digo-lhes: - Vejam este escrito como chamada de atenção e um apelo ao vosso espírito crítico. Não é por algo ser crença de muita gente à vossa volta, que isso é «verdade», nem tão pouco, que seja a verdade a versão oficial, canónica da História, ensinada desde a escola primária, à universidade! 

Eu não pretendo ser detentor da verdade. Apenas tento equacionar os dados do problema ... claro que posso também me enganar. Porém, espero que o meu comportamento desinibido desencadeie nalguns o desejo de inquirir estes assuntos por eles próprios.

OPUS VOL.III, 13. O POETA TRANQUILO



Escrevia como se respira

Muitas vezes o vi sentado

Naquela mesa de café

Olhando o vazio

Logo de seguida

Mergulhava num caderno

Onde rabiscava 

Misteriosos signos

Depois, sorvia o café

E ia dar um passeio

Ou recolhia-se em casa

Se o tempo fosse agreste

Não sei o seu nome

Para mim, é «o poeta tranquilo»


terça-feira, 16 de abril de 2024

CRÓNICA (Nº26) DA IIIª GUERRA MUNDIAL... Desejada pelos neocons, entrou num novo patamar


Num certo sentido, a guerra mundial continua o seu curso. Ela não cessou desde que a URSS implodiu. Manifestou-se de forma ostensiva com o ataque - não motivado - das forças da OTAN, para esmagarem a ex-Jugoslávia, o país que não se conformava ao «diktat» neoliberal. A falsa bandeira - o tal 2º «Pearl Harbour», desejado pelos neocons no poder - do 11 de Setembro, foi pretexto para uma série de guerras de agressão, nas quais os EUA arrastaram os seus Estados-vassalos. Mas, apesar da força avassaladora e da (dita) «superioridade moral» ocidental («With God on our side»), foram escorraçados do Afeganistão e do Iraque; e falharam o derrube, através de proxies (Alquaida, Al Nousra e ISIS, criações do tipo «Frankenstein», do Império), do regime sírio.

Na faixa de Gaza falharam o objetivo declarado pelo estado sionista de Israel, seu governo e sua chefia militar: destruir por completo o Hamas. Não só não o conseguiram, como ficaram muito mais isolados na cena internacional, para não falar da eliminação do sonho, iniciado no consulado de Trump, dos «acordos de paz de Abraão» (com participação da Arábia Saudita e de outros atores vassalos dos EUA). Perante o falhanço, entraram em guerra direta com o Irão, com o objetivo de forçar a intervenção dos EUA, ao lado de Israel, para esmagar definitivamente o Irão. Também neste caso, falharam. O ataque criminoso ao consulado iraniano de Damasco será devidamente vingado pelo Irão, mas não o foi, por enquanto: O que o Irão fez, em vez de cair na ratoeira armada pelos sionistas, foi «mostrar os dentes»*. Fizeram a demonstração de que um futuro ataque maciço com drones e mísseis cruzeiro, não poderia ser eficazmente travado pelas defesas antiaéreas sionistas, nem mesmo com ajuda dos seus aliados.
Se a mensagem não foi claramente compreendida, se se efetivar uma «retaliação» israelita ao ataque do Irão, desta vez haverá nova onda de mísseis, mas já não previamente avisada e com alvos muito mais estratégicos incluindo, por exemplo, centrais elétricas e redes de distribuição de energia elétrica. Sem um fornecimento regular de eletricidade, a sociedade de Israel, sofisticada e demasiado segura de si própria, será confrontada com a realidade; será o desmoronamento dos mitos em que tem sido mantida pela extrema-direita no poder.

 

Creio que as grandes potências tutelando um e outro lado (China e Rússia, por um lado e EUA por outro), não deixarão que as hostilidades possam escalar até ao ponto em que o governo sionista seja tentado a pôr em prática o seu «plano Sansão»: A destruição completa de Israel, conjuntamente com seus inimigos, através da explosão de bombas nucleares (são mais de uma centena, guardadas na base de Dimona).

A atitude dos EUA tem sido muito ambígua; tem fingido que desaprova (fez isso em relação ao genocídio em Gaza, repetiu com o ataque ao consulado iraniano em Damasco), mas não faz rigorosamente nada para impedir que o governo de Israel continue na mesma senda. Porém, seria muito fácil; bastaria ameaçar com o corte do fornecimento de armas e munições ao seu aliado enlouquecido.
Mas não, a chefia dos EUA é do mesmo quilate que a de Israel. O governo dos EUA está dominado pelos neocons, ou seja, os que defendem a hegemonia («full spectrum dominance») dos EUA, a manutenção do seu poderio, das suas bases e das forças aliadas, o que inclui Israel, façam estes o que fizerem.
Espero que a realidade obrigue o bando de criminosos no poder em Washington, a manter-se sóbrio e perceber que não pode vencer esta partida pela força das armas: O melhor dos casos (para ele), seria conseguir o prolongamento do status quo mundial, utilizando diplomacia, não a força bruta.

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*O Irão agiu com medida e prudência para não desencadear o alastramento da guerra no Médio-Oriente, na sua retaliação, face ao crime de guerra israelita de bombardear instalações consulares iranianas em Damasco. Mas, ao mesmo tempo, deixou uma mensagem muito clara aos sionistas e a todos os inimigos que se atrevam a agredi-lo: - O Irão tem meios para causar muito mais danos do que causou agora. Somente danificou pistas de duas bases militares aéreas israelitas, mas tem capacidade técnica para atingir outros alvos, muito mais importantes, em Israel. Não foi uma vingança, efetuarem este ataque de aviso; os iranianos colocam-se num plano de superioridade militar e moral, face aos israelitas. https://www.moonofalabama.org/2024/04/iranian-missiles-hit-israel.html#more

segunda-feira, 15 de abril de 2024

CAUSA PRINCIPAL DO ATRASO ESTRUTURAL DE PORTUGAL

Quais as consequências do alheamento do público em relação ao setor da investigação pública e privada nacionais?

É difícil destrinçar as causas e consequências do atraso secular de Portugal no campo dos saberes e da infraestrutura industrial.

Mas, há interesse dalguns em manter o público arredado. Na base, trata-se por parte dessa «elite», de criar um sentimento de perplexidade no auditor/leitor: «Se isto é tão complicado, com certeza é muito profundo. De tal maneira que eu não consigo penetrar...» A pessoa ingénua é colocada na postura da criança que perante um discurso dos adultos, está desprovida de instrumentos conceptuais, para avaliar o seu conteúdo concreto. Porém, o conteúdo concreto, para quem se dê ao trabalho de esmiuçá-lo, pode ser de uma completa banalidade, quando não de imbecilidade, que apenas as catadupas de termos rebuscados, ocultam. 

Quando estes discursos rebuscados são produzidos, normalmente em congressos, ou outras reuniões entre pares, as pessoas estão numa de duas posturas: ou estão coniventes, porque fazem exatamente o mesmo e - portanto - não vão levantar problemas. Vão coibir-se de fazer críticas demasiado acerbas, pois elas também têm «telhados de vidro». Ou, não percebem realmente que se trata de «pechisbeque», em vez de algo com valor, estão neste caso pessoas que se deixam enganar, entontecidas pelas «luzes da ribalta» e não se atrevem a questionar o «discurso de poder», para não fazer «má figura». É literalmente aquilo a que se resume a maior parte das comunicações de filósofos, economistas, cientistas sociais, etc. que enxameiam a academia.

 Mas, as coisas não se ficam por aqui: O grande - exponencial - crescimento de publicações nas ciências ditas «duras» (física, química, biologia), também é um caso de fancaria, em numerosos casos. Não se trata de publicação de novos avanços, nem enquanto descobertas, nem de algo original, muitas vezes são reproduções de resultados já existentes, ou resultados de duvidosa legitimidade. O prestígio de um cientista individual mede-se pelo número de publicações que este pode apensar ao seu currículo, não à relevância das mesmas para o seu ramo de ciência. 

Como as atividades dos laboratórios de investigação - sejam de instituições públicas ou privadas - estão na dependência de grandes empórios,  como a poderosa indústria farmacêutica em relação às ciências da vida e da saúde, o que sai deles é apenas o que esteja dentro dos parâmetros, dos interesses e das conveniências desses mesmos grandes grupos. O fenómeno é transversal. O resultado, é que se instalou uma relação inversa entre o número de pessoal altamente qualificado na atividade de investigação, e a qualidade intrínseca da investigação realizada, já para não falar da sua relevância social.

Todos, seja a nível de pessoas individuais, seja a nível de instituições, têm de justificar avultados investimentos, com as tais publicações, com os relatórios, com as comunicações a congressos, etc. Que tal seja o produto natural da investigação científica, não nos surpreende: Desde há muitos decénios que é assim. Mas, o que choca é  ausência de mecanismos de controlo, de real avaliação da qualidade da investigação. Chegou-se a um ponto em que a fraude é coletivamente encoberta, para conseguir-se uma aparência de respeitabilidade, na dita investigação. 

O resultado concreto, é que o discurso vai sendo cada vez mais esotérico, mas não traz nada de novo, em conteúdo. A ciência que se faz, seja em termos de ciências humanas ou de ciências físicas e naturais, é de qualidade intrínseca cada vez mais fraca. Sobretudo, confrontando a qualidade média de publicações académicas de há 30, 40 ou 50 anos atrás, com a qualidade média dos artigos produzidos hoje. Esta degradação da qualidade intrínseca é também notória noutros países, que eram considerados «locomotivas» da investigação científica, como o Reino Unido e a França, por exemplo.

A divulgação científica atingiu um nível tal que é impossível descer mais baixo: Vimos isso, a propósito do episódio da «pandemia do COVID», com o nível deplorável das intervenções mediáticas, completamente falseadas e a reboque da propaganda governamental. Mas, para haver tal monstruosa operação de propaganda, que atingiu o grau de terrorismo psicológico de massas em muitos casos, foi importante a colaboração ativa de alguns, que se apresentaram como especialistas disto ou daquilo, enquanto difamavam e silenciavam os poucos especialistas que tentavam colocar a discussão em termos honestos, no debate científico. Este episódio, cuja importância não pode ser menosprezada, teve - pelo menos - a vantagem de abrir os olhos a muitos, que tinham uma visão ingénua da ciência e da integridade dos cientistas, principalmente dos que desempenhavam funções de poder e de prestígio.  

O dispositivo académico está totalmente dependente dos poderes: Seja da indústria, seja dos políticos com importantes cargos no Estado, eleitos ou não. Este dispositivo académico tem cada vez maior necessidade do financiamento destas entidades, visto que as somas atribuídas para investigação, projetos específicos, bolsas, etc., são cada vez mais de exclusiva decisão dos poderes políticos e/ou industriais. Ora, como é bem conhecido, «quem paga é quem manda». O resultado disso, não é apenas uma diminuição da qualidade intrínseca dos resultados da investigação. É também o desperdício de verbas cada vez maiores e de recursos técnicos e humanos, para ir ao encontro de agendas nada transparentes, no mínimo. Não haveria problema que uma parte da investigação fosse financiada pela indústria, se resultante de contratos estabelecidos, de forma transparente, entre instituições. Mas, o problema surge com as inúmeras influências exercidas desde os planos pessoais de certos investigadores, até às influências exercidas através dos ministros e outros em cargos de poder.

Nos países dependentes, como Portugal, é frequente pessoas serem doutoradas no estrangeiro e virem exercer cargos de responsabilidade no país, onde tentam continuar projetos em que estavam envolvidas, nos países onde fizeram o doutoramento: Neste país (Portugal) não existe verdadeiro programa conferindo prioridades e canais de financiamento privilegiados, para certas áreas científicas. Assim, o  trabalho destes investigadores, por muito meritório que seja, acaba por ter como principais beneficiários outros países, outros projetos científicos, aqueles onde foram originados. 

No conjunto, a classe política tem estado «à vontade» em relação à ciência, seja ela feita em laboratórios do Estado, ou em departamentos de Universidades: É um domínio em que tem podido exercer a sua influência, para comprar e deixar-se comprar, pelos grandes interesses. Que estes dominem o país, do ponto de vista económico e financeiro, não nos pode surpreender. Daí decorre a ausência de controlo e fiscalização dos recursos que estão destinados pelo Orçamento de Estado às entidades universitárias e de investigação: É impossível que sejam encaminhados para áreas realmente prioritárias, se os critérios não são os do interesse nacional, numa perspetiva ampla, diferenciada dos interesses particulares, sejam de grandes empórios, ou até pessoais, de «bonzos» instalados nas instituições em causa.

As pessoas, em geral, não fazem ideia de quanto dinheiro é mal aplicado na investigação, mas ainda menos têm noção da riqueza que deixa de ser produzida, em virtude da forma peculiar, irracional e por vezes criminosa, como este setor é gerido. Só um país do terceiro mundo (ou do quarto?) esbanja desta maneira seus recursos financeiros destinados á investigação, os seus recursos de «massa cinzenta» também. Embora isto seja somente um aspeto da dependência face aos países  mais poderosos, é sintomático. A possibilidade de arranque para o desenvolvimento autónomo fica posto em cheque pela política corrompida, neste setor tão crítico.


domingo, 14 de abril de 2024

OPUS. VOL. III 12. ANTEVISÃO

 

Um tiro no escuro...

E o que restou desse tiro?

Estalido, ruído, tremor, temor?

Quando se alumiou a cena, o que ficou?


- Pois uma estranha peça de caça

Carcaça que estava congelada  

E logo se desembaraçou do gelo

Mas sem miolos, feitos em papa


Ergueu-se à custa dos músculos

E quis esmagar tudo e todos

Mas, acabará em desaire 

Inconsciente do que faz!


Deixá-lo! Já basta de bestas

Esta vai dar muitos socos

No vazio, coices nas paredes

Urrando ferozes ameaças


Mas, nós ficamos a olhar

Sem intervir, certos que ela

Desmiolada vai esgotar

As forças sem proveito


E que assim seja:

Que esmurre o vazio

Pois acabará por soçobrar 

Ante seu próprio peso!


Deixá-lo! Já basta de bestas

Que nos atormentam

É tempo de regressar

À paz, à vida, sem mais dor



 

sábado, 13 de abril de 2024

EMBAIXADOR CRAIG MURRAY: O OCIDENTE ESTÁ A DESTRUIR A LEI INTERNACIONAL


A cumplicidade do «Ocidente» com crimes de guerra e crimes contra a humanidade, perpetrados pelo exército de Israel, não apenas agrava a situação humanitária no terreno, como confere um sentimento de «impunidade» ao governo de Netanyahu. Mas também mostra que o Direito Humanitário é apenas usado como argumento, quando isso convém ao Ocidente. Ou seja, não têm - os governos - qualquer intenção de cumprir e fazer cumprir leis, que eles próprios dizem defender. São dias muito sombrios, os presentes. 

PS1: a retaliação iraniana ao ataque de Israel, assassinando funcionários  militares de alta patente que estavam no interior do edifício consular do Irão em Damasco, foi sóbria e manteve -se dentro dos limites das leis da guerra. Com efeito, atacaram alvos militares. O ataque de Israel destinava -se causar um reação impulsiva do governo iraniano, além de desrespeitar a Convenção de Viena e as leis da guerra. O objetivo, da parte do governo de Netanyahu, era também o de arrastar os EUA e OTAN, para a armadilha de uma guerra alargada na região. Netanyahu sabe que só se mantém fora da prisão, porque preside a um gabinete de guerra. Logo que deixar de o ser, nada evitará a sua prisão por corrupção.

 

Trio para Violino, Violoncelo e Piano de Schubert

 Uma peça que eu me habituei a relacionar com o destino e ... com a força de enfrentá-lo, também! 


(gravação ao vivo, obra integral)

Sabemos que Kubrick aproveitou o tema do Andante con moto, em sequência inesquecível do filme «Barry Lyndon», mas a obra merece ser apreciada na íntegra.

sexta-feira, 12 de abril de 2024

O CANÁRIO NA MINA DE CARVÃO*

                                                 O CANÁRIO NA MINA DE CARVÃO*



               Gráfico retirado do site https://www.goldmoney.com/research

Nas últimas semanas, tanto o ouro como a prata, têm subido de forma parabólica, sem cessar. Esta subida é correlacionável com uma situação muito anómala do mercado. Em particular, os acontecimentos geopolíticos indicam aos investidores (apenas 0.5% dos investidores têm ouro nos seus portefólios!) que estamos a passar pelo período mais conturbado, não só do século XXI, como das nossas vidas.

A instabilidade geopolítica foi potenciada por dois acontecimentos:

- O ataque terrorista contra um concerto na periferia de Moscovo, que fez 144 mortos e grande número de feridos, cuja responsabilidade o governo russo atribui aos serviços ucranianos, inspirados por Washington e Londres. Em consequência deste ataque, houve um potenciar e alargar de ações ofensivas russas em toda a Ucrânia.

O segundo evento é o ataque às instalações consulares iranianas, pelos israelitas. Este ataque causou sete mortos diretos, dos quais um general iraniano. 

Ao atacar representações diplomáticas, que são salvaguardadas pela convenção de Viena, estejam onde estiverem e sejam de que país for, o governo de Israel indicou que não hesitaria em transgredir todas as regras e convenções internacionais, como aliás o tem feito abundantemente no genocídio que leva a cabo em Gaza, desde o 7 de Outubro passado. 

Todo o mundo está a aguardar quando e como será a resposta iraniana a este crime. As representações diplomáticas são consideradas território do país; portanto, o ataque de Damasco pelos israelitas é uma agressão ao território do Irão. É uma agressão brutal, sem dúvida, motivada pelo desespero de terem de retirar de Gaza onde -apesar da chacina causada na população civil - não conseguiram erradicar o Hamas (o seu objetivo declarado).  

As pessoas mais bem informadas, assim como grandes empórios financeiros e os bancos centrais, já há muito tempo que começaram a acumular ouro (e prata) para enfrentar a enorme crise económico-financeira-monetária que está agora a começar a desenrolar-se, mas que desde 2008 era visível, aquando do quase-colapso do sistema global do capitalismo e das catadupas de dinheiro oferecido aos grandes bancos sistémicos e aos grandes fundos de investimento. 

Como de costume, os últimos a despertar são os pequenos, convencidos de que estão a  fazer fortuna na bolsa quando, na verdade, o valor nominal das ações deixou de ter significado, face à perda acelerada de valor (em termos reais de poder aquisitivo) das principais divisas nas quais essas ações estão cotadas. 

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* No passado, os mineiros costumavam levar, para dentro das minas, canários engaiolados; se estes morressem, então isso devia-se a concentração elevada de metano, pois os canários eram mais sensíveis.  Então, havia que evacuar a mina, antes que ocorresse uma explosão. Ficou a expressão para designar o sinal que antecede a catástrofe em termos financeiros.

quinta-feira, 11 de abril de 2024

OPUS. VOL. III 11. PALAVRAS OBSCURAS



 Serão palavras obscuras,

As que eu tenho para te mostrar:


Amei a luz e o calor

Não vi o cortejo

De invejosos atrás de mim

Ofereci meu coração

E afeto, mas a quem

Não sabia dar de volta


Agora estou às voltas

Com o meu passado

Arrependimento?

Só de ter sido ingénuo

Pois amor não é pecado!


Neste mundo onde vivemos

Hipocrisia, cobiça e outros

Sentimentos venenosos

Involucraram-se

Nas massas cerebrais

Dos contemporâneos


Ao ponto de não saberem

Distinguir a realidade

Das suas narrativas 

Auto justificadoras.


Tenho pouca esperança

D'amanhãs que desencantam

Dedico-me a estudar e mergulhar

Na Natureza, ela me ensina


Meu otimismo está na fonte

D'onde a glória cósmica

Emana; nas sociedades

Contemporâneas

Em vão procurei

A fonte de Vida

Procurei longamente

No meio das trevas


Não tenhais ilusões

Procurai o bem e o justo

No interior de vós próprios

Não em discursos elogiosos

Mas no saber de si próprio


Só assim podereis 

Velejar na travessia

Do oceano turbulento.







terça-feira, 9 de abril de 2024

PLAYLIST: CHARLES AZNAVOUR - 20/20


 Procurei selecionar as canções que mais me agradam e que são do agrado geral. Mas também atendi aos fatores diversidade, criatividade, qualidade de interpretação. 
Este cantor/autor francês, de origem arménia, é o mais conhecido e cantado da sua geração. Faleceu em Outubro de 2018. Este ano, comemora-se o centenário do seu nascimento (a 22 de maio 1924 ).

 Aznavour, não só foi o autor da letra e música das canções - mais de duas centenas - como também foi um cantor excecional, com grande expressividade e nitidez na dicção.

Digam-me se concordam que os 20 sucessos de Aznavour desta playlist pertencem às suas vinte melhores composições/interpretações !

domingo, 7 de abril de 2024

OPUS. VOL. III 10. VENDAVAL DE ABRIL

 


Onde estão os dias da minha juventude

Em que dançávamos embevecidos pelos sons

Que nos pareciam dizer o que nos ia no coração

Em que as raparigas eram atraentes e prudentes

Para nos darem esperança de namoro somente

As infinitas discussões politicas, as ilusões 

Podeis rir ou desprezar; eu tenho boas recordações

São minhas, são vossas, rapazes e moças desses anos

Não importa que sejais avós, que estejais na reforma

Este período da nossa história coletiva foi

Entre exaltações, ilusões e trambolhões

O tempo único de florescimento

O desabrochar de mil canções

Que nos encheram corações e almas

De esperança

Não será isso o mais importante?

- Aquilo que nos faz viver,

Nos transporta além do nosso ego

- Aquilo que vence a estupidez

A mesquinhez e a cupidez?

Serei sempre adolescente

Na alma, não por passadismo

Mas por escolha, depois de ter

Visto a miséria em que se transformou

 Boa parte dos adultos de hoje:

O seu "ideal" é encaixar no sistema!


Perdoo tudo, menos a covardia 

O não ter coragem de fazer

O que seja preciso, para repor 

A justiça e dignidade no seu entorno

Podem ter muita "competência", etc. mas

 Onde está a vossa decência?

Se quiserdes, podeis viver "com a espinha direita"

É vossa escolha... 

Digo-vos ser bem pior

Viver rastejando e espezinhado. 


- Tudo o resto é bem pouco, indigno

E fracassado, não tenham ilusões:

O "vencer na vida" que eles apregoam

É vencer no concurso

Para escravo abjeto dos Senhores

Se é este  o vosso objetivo, lamento,

Mas não terei qualquer palavra de apreço

Pela vossa entrega ao serviço das bestas

Do momento;  só poderei lamentar.


Os outros que me seguem

Sabem que eu não lhes tento vender

Esta ou aquela ideologia

Apenas que sejam livres, humanos,

Dando e recebendo  amor

O amor verdadeiro que não 

Se vende nem compra

Que pode ter ou não ter

Uma componente física. 

Tem de ser genuíno.


sexta-feira, 5 de abril de 2024

O ESPELHO DE NARCISO

MITOLOGIAS (XIII*)

 

Narciso era um jovem muito belo, mas que vivia sob  um decreto do destino, revelado à nascença, a sua mãe: Ele viveria muito tempo, se nunca visse a sua própria imagem. Mas, num dia de grande calor, o jovem Narciso debruçou-se para beber água de uma fonte. Aí, viu o reflexo do seu rosto e ficou siderado pela sua própria beleza. Tanto se enamorou de sua própria imagem, que tal obsessão o levou a definhar e a morrer.

Esta história da mitologia grega, como todas as outras, é uma forma simbólica de descrever traços de personalidade, por vezes nefastos, dos humanos.   

                                           Jehan Georges Vibert: Narcisse

Cada um fará a leitura que mais lhe pareça adequada à sua visão: Sem dúvida, que a história indica algo profundo da alma humana. Por outras palavras,  não se trata de uma história «moralizadora».

Note-se a relação da história de Narciso, com a de Psyché (a jovem mulher tão bela, que fazia inveja a Afrodite) e Eros (o Amor, filho de Psyché). O reflexo, aqui, é devolvido a Psyché pelo amor heterossexual ou seja, apenas este pode funcionar como o real «espelho» da alma; não o próprio, não o autoerotismo, mas o confronto com o não-próprio, com o amor de outrem. 


                                   Psyché e Cupido, por Canova

Nos dois mitos, o sujeito - quer seja Narciso, ou Psyché - está perante si próprio/a, está a ver a imagem de seu corpo, de sua alma (eidolon ; «ídolo»). Quando Psyché observa a sua perfeição ao espelho, dá-se aí oportunidade para o enamoramento narcísico. Mas, Eros vem durante a noite: Eles fazem amor em sonho, satisfazendo-se o desejo de Psyché, de amar e ser amada. 

No caso de Narciso, porém, o percurso de vida é descendente; o auto-amor conduz à auto-destruição. Segundo uma versão do mito, Narciso tanto se enamorou da imagem, que acabou por mergulhar no lago que a reflectia e afogar-se, no vão desejo de se unir a ela. 

Quando observo os meus contemporâneos, especialmente as pessoas que se transportam para todo o lado com smartphones e que os utilizam - entre outras funções - como câmara fotográfica portátil, não posso deixar de me surpreender pela frequente realização de selfies, ou seja, de imagens de si próprios. Estes selfies podem também ser com outrem, ou até em grupo, sem dúvida. Porém, o mais frequente é tratar-se de autorretratos singulares, em geral, com alguma paisagem ou monumento por detrás, como para imortalizar o momento. Trata-se de uma glorificação do ego, sem dúvida. Que estas pessoas afinal sejam narcisistas, isso não se pode inferir pelo simples gesto de fazer um «selfie». Mas, simbolicamente, creio que o gesto dá a imagem do tempo em que vivemos; a exaltação do ego, o amor de si próprio, o egoísmo e hedonismo glorificados.

Seria injusto inferir que todas as pessoas que tiram selfies, sejam necessariamente egolátricas. Porém, é expectável que se observe tal comportamento, se alguém for egolátrico, narcisista. Não nos podemos admirar que ele/ela se comporte desta maneira, que se mire e remire ao «espelho» do smartphone e queira "eternizar" sua imagem, associando-a à paisagem magnífica, ou a um monumento célebre.  

Lembro-me duma publicidade a uma marca de leite (há mais de uma dezena de anos, creio). Uma jovem mulher, de corpo esbelto e cara sorridente, afirmava: «Se eu não gostar de mim própria, quem gostará?» (ou algo semelhante, se a memória não me falha). 

Lembro também, há alguns anos, do aparecimento e propagação de uma daquelas frases-feitas: «de que é preciso cultivar a auto-estima».  Francamente, a auto-estima é cultivada  até à exaustão, até à desmesura de muitos se sentirem legitimados a pisar os direitos dos seus vizinhos, ou colegas, ou familiares, sob pretexto de levarem a cabo seu «projeto pessoal». Vi, com preocupação, tal «auto-estima» ser apresentada como algo de positivo, algo que se deveria cultivar nas crianças e adolescentes. 

Tal mentalidade conjuga-se com a tendência hedónica: «O ter aquilo que se deseja, de imediato, sejam quais forem as consequências; apenas atender ao prazer do momento.» 

Narcisismo e hedonismo são chaves para entender esta sociedade. Um comportamento é tanto mais interiorizado, quanto menos conscientes as pessoas estejam dele.

Não podemos viver sem espelhos no sentido próprio e figurado. Porém, os «espelhos» de Narciso ou de Psyché, são deformantes: Não revelam os segredos do corpo e do espírito, a quem olha sua imagem neles refletida. O «selfie» é somente uma imagem superficial.

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*Consulte aqui os números anteriores desta série