quarta-feira, 30 de junho de 2021

[Craig Murray] EXPOSTA A FALSIDADE DA FABRICAÇÃO DO FBI CONTRA ASSANGE

Este meu artigo é essencialmente o resumo da notícia (ver acima) de 29-06-2021 por Craig Murray, ex-diplomata britânico, que tem seguido assiduamente as sessões do julgamento de extradição de Julian Assange e tem feito um ótimo trabalho de informação, que a imprensa não faz

Graças a Murray, ficamos a saber que a fabricação urdida pelo FBI de associar (falsamente) Assange com «hacking» de bancos e das contas de cidadãos particulares, foi desmoronada pela confissão de  Sigi Thordarson, um islandês, personagem muito pouco recomendável: Foi condenado por abuso de rapazes menores, assim como por ter-se imiscuído na rede de Wikileaks e ter-lhe roubado 50 mil dólares. Foi julgado e condenado por estes crimes, na Islândia. Thordarson revelou recentemente, a um órgão de imprensa, que tinha feito um acordo com o FBI para acusar, falsamente, Assange de estar na origem de «hacking» contra contas bancárias de particulares, sem qualquer relação com as atividades de denúncia do complexo militar-industrial, das agências de espionagem, enfim, como se estivesse envolvido em cibercrimes e sem qualquer laivo de altruísmo, ou de querer desmascarar os poderes. 

 O pedido de adição das pseudo-provas, trazidas pelo FBI ao processo, foi aceite pelo tribunal. Mas esta adição extemporânea foi contestada na altura pela defesa, à qual - aliás - não foi concedido tempo mínimo necessário para investigar e construir uma resposta a essas novas alegações. 

O extraordinário, é aquilo que deveria - normalmente - ter ocorrido e não aconteceu. 

Agora, que o pedófilo condenado, Thordarson, veio confessar ao magazine islandês que as acusações tinham sido fabricadas de acordo com o FBI, em troca desta agência não avançar com um processo contra ele, o normal seria o tribunal considerar que o procedimento usado tinha anulado toda a base da acusação, por falsas alegações. Decorreria daí que Assange tinha de ser libertado. 

A má fé da juíza e do tribunal são por demais evidentes, pois recusou reabrir o processo, como tinha sido pedido pela defesa. Há cinco meses que dura a situação de indefinição, continuando Assange preso, apesar de não haver qualquer contestação da parte das autoridades dos EUA. A juíza encarregue do julgamento continua a pretender que ignora as declarações de Thordarson, que toda a gente conhece e que invalidam o processo. 

Todas as peripécias deste processo, o mais torcido, o mais parcial, que se possa imaginar, têm tido o efeito paradoxal de desmascarar a brutalidade, falsidade e hipocrisia dos perseguidores de Assange, assim como a negação dos princípios de respeito pelos Direitos Humanos, de Justiça e de Estado de Direito, pretensamente atributos do Estado e instituições britânicas. 

PS1: Veja a manifestação em solidariedade com Julian Assange, aquando do seu 50º aniversário: 

https://www.youtube.com/watch?v=YuPSUjSvN0E


PS2: Um artigo de opinião por Alex Lo, que todos os políticos, todos os jornalistas, todos os cidadãos, deveriam compreender a fundo: 

https://www.scmp.com/comment/opinion/article/3140962/example-must-be-made-julian-assange


PS3: Uma análise do comportamento do tribunal britânico que não encontrará de certeza na media corporativa: 

https://www.wsws.org/en/articles/2021/07/12/assa-j12.html?pk_campaign=newsletter&pk_kwd=wsws

domingo, 27 de junho de 2021

AINDA NÃO SABE, MAS A SUA NOTA DE 20 € EM BREVE, VALERÁ APENAS 2


                                             (... e a moeda de 2€, valerá 20 cêntimos, claro!)


Comentário de Manuel Banet:
Neste vídeo - muito pedagógico e falado em francês - Charles Sannat expõe a característica fundamental das divisas «fiat», que apenas estão baseadas na palavra do governo: daí o termo latino «fiat», que quer dizer confiança; a palavra «fiador» tem a mesma raiz.
Como dizia Voltaire, toda e qualquer moeda em papel tende a reverter ao seu valor intrínseco, que é zero.
No seu tempo (século XVIII), o comércio era feito em parte com notas de crédito, o que permitia que comerciantes e negociantes não tivessem de transportar consigo grandes quantidades de moedas de ouro.
No século XIX, o ouro continuou a ser o dinheiro verdadeiro e as notas de banco, um substituto do ouro: Uma pessoa podia ir ao banco trocar o dinheiro-papel por quantidade equivalente em ouro. A taxa de conversão era fixa, o que tinha como efeito não haver especulação monetária: todas as moedas - sendo representação de uma dada quantidade de ouro - estavam deste modo numa relação constante entre elas.
A fase atual, em que as divisas estão em oscilação permanente, umas em relação às outras, foi iniciada com a retirada do dólar US da convertibilidade em ouro, por Nixon, em 15 de Agosto 1971.
Agora, quase 50 anos depois dessa data, está-se a chegar ao fim de um ciclo. Pode ser que este sistema dure ainda algum tempo. Mas, as entidades que decidem ao nível monetário (Bancos Centrais, BIS, FMI...), já estão plenamente convencidas e já anunciaram publicamente medidas para substituir este sistema.
Porém, as fórmulas apresentadas não incluem (ainda?) repor o ouro no centro do sistema mundial financeiro e monetário. Mas, as cripto-moedas centralizadas (dos Estados), a digitalização total das trocas comerciais (desaparecimento do papel-moeda, das notas de banco, de circulação) e outras medidas anunciadas, não irão -por si só - dar estabilidade ao sistema. Estas reformas não são as que poderiam incutir uma renovada confiança nas moedas emitidas pelos Estados.
Uma moeda tem de ser confiável, enquanto meio de pagamento, unidade de contabilidade e repositório de valor.
O dinheiro digital não trará confiança aos atores económicos: poderá ser inflacionado a uma velocidade ainda maior que o dinheiro «em papel» atual.
Ora, estamos a assistir à deliberada destruição do valor das principais moedas ocidentais, o dólar, a libra, o euro, o yen. Isso está a ocorrer pela impressão monetária descomunal, que faz subir os balanços dos bancos centrais respetivos a valores astronómicos. Mas, muitos dos ativos adquiridos nas operações de «quantitive easing», são de valor muito questionável. Não são mais do que dívidas, na grande maioria.
Isto significa que o aumento de dinheiro posto em circulação não tem uma verdadeira contrapartida num aumento de produção. Por outras palavras, os próprios bancos centrais estão a levar a cabo operações de contrafação. Neste caso, serão os consumidores que irão «pagar», pois o excesso de dinheiro para adquirir bens, cuja produção não aumenta (ou até diminuí), desencadeia a subida acentuada da inflação.
Por definição, todos os episódios de inflação são transitórios, mas nesses períodos inflacionários, são os mais poderosos capitalistas que enriquecem, à custa da falência dos mais pequenos, do desemprego de massa, do empobrecimento acelerado da grande maioria da população.

Se a memória não me falha, Henry Ford dizia que «Se o homem da rua suspeitasse de como o dinheiro é realmente criado e como entra em circulação, haveria uma revolução no dia imediato». Por sua vez, Lenine dizia que «Não existe maneira mais eficaz de enfraquecer o capitalismo, do que socavar o valor da moeda».

Estamos numa época estranha, em que as forças de destruição superam as de criação. Em que cientistas, políticos e filósofos têm diante dos olhos o que se está a passar - a destruição das condições de subsistência dos mais fracos - mas não fazem grande coisa para mudar a situação.
Há um certo fatalismo na sua visão, porque estão fixados numa ideologia travestida de ciência, a economia que se ensina hoje nos cursos superiores, um pouco por todo o lado: Afinal, trata-se de pseudo-ciência com o seu deus, o mercado. Pensa as relações dos humanos entre si, e destes com a Natureza, como se fossem regidas por «leis» do mercado. São apenas enunciados ideológicos, que servem como justificação às políticas neo-liberais. Enunciam teorias usando modelos matemáticos, o que lhes dá a aparência de ciência. Porém, esquecem que a ciência tem como base a observação e a descrição rigorosa dos factos, não dos modelos.

O SILÊNCIO FÉRTIL

Ele tem espessura, tem vibração. É um momento eterno de escuta interior.

Outros sons podem ouvir-se à distância, mas o cerne do meu ser está recolhido no silêncio. Depois, é como uma ave que levanta voo.

Estamos prontos para agir, para fazer qualquer coisa, mesmo que isso seja um percurso imaginado nos neurónios do cérebro. Fazer e pensar são a mesma coisa; quando penso estou a agir, não existe praticamente nenhuma diferença: O cérebro, este é que decide - consciente ou inconscientemente - o que é, o como, o quando, o quanto, a ação deverá ser.

O movimento interno do cérebro é real, se eu pensar que estou numa corrida; e isto, de forma bastante parecida com uma corrida de verdade. É estranho, mas faz todo o sentido. Se não houver representação de um ato, como é que ele pode ser desencadeado e sustentado no tempo?

Por isso, eu me refugio no silêncio, algumas vezes. Não preciso de estar em postura de lótus, ou noutra qualquer. Estou atento ao que se passa dentro de mim, simplesmente. Estou ouvindo o meu ser. Não preciso de pensar, nem de reprimir qualquer pensamento que me ocorra.

Em muitas ocasiões estes momentos são frutuosos, pois me dão o compasso. A música do pensamento precisa do compasso, da batida, de marcação do ritmo.

Os meus sentimentos e pensamentos, todos eles, desprendem-se das camadas mais profundas e sobem à consciência, como uma bolha de gás que se desprende do fundo de um charco e sobe à superfície.

Não é necessário eu estar constantemente à escuta de mim próprio, felizmente. Só em certos momentos: Quando preciso de me recentrar. Quando preciso de retomar uma postura de serenidade atenta, que me permite encarar as situações, sejam elas quais forem.

Estar no «aqui e agora». O silêncio tem de se fazer, para darmos início a um discurso ou a um canto. Mas, também para realizar qualquer outra coisa que precisa de ser feita com concentração.

Isto, que acabo de escrever é um pálido reflexo da realidade: o discurso não é uma boa forma para se chegar ao silêncio interior.

Mas, é verdade que o silêncio é a boa forma de se iniciar um discurso - exterior ou interior - verbal ou não verbal, diálogo comigo próprio ou com os outros.

Também a palavra escrita precisa de respiração. Também ela precisa de fazer pausas, para o conteúdo sobressair, para ser inteligível ao leitor. E este, do mesmo modo, tem de fazer um silêncio interior, para poder captar o sentido do que está lendo.

A nossa «não-civilização» está permanentemente poluída com ruído. As pessoas estão imersas num ruído que lhes enche o «ouvido interior». É uma forma de poluição muito séria, pois nunca, ou quase é reconhecida como tal. Mas, os seus efeitos são devastadores.

A mente precisa de silêncio, para poder centrar-se numa tarefa, seja ela a leitura de um livro, seja uma atividade dita «manual», pois não existe atividade manual ou física que não seja sensual, mental e espiritual, ao mesmo tempo. O facto de não o reconhecermos, é uma forma de bloqueio, que nos impede de focalizar as nossas energias.

Fazer algo de modo aplicado, concentrado, é um exercício espiritual. Pensar, é uma atividade física. Não existe pensamento sem despesa energética, com todas as ligações que se estabelecem ou se quebram, entre neurónios ou dentro deles, ou com outras células do corpo. São trocas de energia e de informação. Qualquer troca de energia é bioquímica, é uma transformação molecular, é «material».

Gosto de comunicar com os outros, mas isto torna-se - por vezes - complicado, porque há uma dificuldade maior, hoje em dia, das pessoas se entenderem. Creio que o problema reside na ausência de treino para ouvir o outro: Algo que deveria ser exercitado, desde pequenino, de uma forma natural, não formal.

No silêncio do meu estúdio, escrevo as reflexões que eu acho pertinentes. Depois, com uma série de leituras do meu escrito, faço correções que vão desde os aspetos formais, até modificações substanciais, retirando ou acrescentando conteúdo. Posso tentar um «diálogo interior» na rua, ou em qualquer outro lugar, mas não consigo mais do que faíscas, laivos de ideias: Ideias não completadas, como esquissos, que precisam de ser trabalhados para se tornarem obra, ou parte dela.

A coisa mais preciosa na vida, talvez seja a nossa capacidade de comunicar, de forma significativa com os outros e connosco próprios, também: É uma arte que tem de ser aprendida e praticada.

Nós temos de estar atentos ao(s) outro(s), às suas reações, quando falamos. Temos de estar atentos ao nosso ser íntimo, quando pensamos, quando nós falamos connosco próprios: Isto é o que se chama meditação, em filosofia, seja ela oriental ou ocidental.

Se algum guru te disser que meditação, é fazer o vazio, está - simplesmente - a iludir-te. Ele pode estar - ele próprio - iludido, pode não ser com má intenção da sua parte. Mas o facto permanece; há uma confusão.

O silêncio é necessário para se dar a emergência da palavra exterior (discurso) ou interior (meditação). O silêncio não é o vazio, pois é vibrante, é denso, é chão de criatividade. É propiciar as condições para ouvir e ser ouvido por outros; ou para nos ouvirmos a nós próprios. Sem o silêncio interior, não há reflexão, não há pensamento filosófico possível.

Nova espécie humana fóssil descoberta no Norte da China


«Ji Qiang, um professor de paleontologia da Universidade GEO de Hebei e um dos coautores da comunicação, referiu que soube pela primeira vez do crânio por um agricultor, em 2018.
O crânio, foi guardado pelo avô deste agricultor, que o tinha achado durante a ocupação japonesa, debaixo de uma ponte sobre o rio Songhua, em Harbin, em 1933. No entanto, o avô morreu sem ter podido indicar o local preciso onde ele encontrara o crânio, de acordo com os jornais.
Ji convenceu a família a doar o espécimen ao museu de geociência da Universidade e começou a investigar o achado juntamente com seu colega da universidade, Ni Xijun e com Chris Stringer, do Museu de História Natural de Londres.»
 [ Citação do início de notícia do SCMP]

Assim começa a história tão improvável duma descoberta, com imprevisíveis implicações no entendimento da evolução humana.
Este espécimen, segundo os autores chineses, representaria uma nova espécie do género Homo, que o batizaram de Homo longi. É chamado Homem-dragão, devido ao rio «long» (= dragão), perto do local onde foi achado.

 Homo longi está representado à direita. À sua esquerda,
                                         espécies precursoras, segundo os autores chineses

Os seus descobridores pensam que seja um representante tardio duma linhagem que se desenvolveu autonomamente na Ásia, a partir do Homo erectus.   
Outros discordam, vendo-o antes como representante dum ramo que poderá ter origem no Levante (ver descoberta muito recente em Israel).
Outros ainda, têm esperança que este crânio seja de Homo denisovans. Além do achado inicial na gruta de Denisova na Sibéria, do qual se extraiu e sequenciou o ADN, foi encontrada uma mandíbula no Tibete, identificada por sequenciação de proteínas como sendo da mesma espécie, H. denisovans.
 
Estima-se que H. longi viveu há cerca de 146 mil anos, através de datação pelo método do urânio,  a partir do sedimento que aderia às cavidades nasais. Não existe uma datação mais segura pois, dadas as circunstâncias do achado, não foi possível conhecer e estudar o local onde foi desenterrado. 

                       Na imagem: reconstituição artística 
do «dragon man»
                                                               

Existem outros restos fósseis muito antigos do género Homo, oriundos doutras zonas da China que são difíceis de classificar. Talvez sejam fósseis da mesma espécie, ou de espécies próximas de H. longi. São interrogações que somente o estudo comparado desses fósseis poderá esclarecer. 
De qualquer maneira, pode-se ter a certeza que esta descoberta vai ser um ponto de inflexão importante: Irá obrigar a rever etapas do surgimento da espécie humana moderna e do seu relacionamento com espécies humanas extintas. 
Com efeito, hoje não restam dúvidas de que as espécies humanas fósseis tinham uma sofisticação semelhante à nossa:
- Sabemos que houve cruzamentos entre estas e a nossa espécie. 
- Por outro lado, os vestígios de indústria lítica, as ornamentações (como conchas e pigmentos, presentes em locais de neandertais), os vestígios de fogueiras, indicam um grau tecnológico semelhante. 
- Quanto às capacidades cranianas, elas são iguais ou superiores às modernas, implicando massa cerebral igual ou superior à da nossa espécie.
Tudo isto testemunha que houve espécies diferentes da nossa, com capacidades intelectuais idênticas ou semelhantes às dos H. sapiens
Este conjunto de evidências obriga-nos a reequacionar o emergir da humanidade: houve convergência de vários ramos, não sucessivas etapas numa linhagem única.

PS1 (20-08-2021): Foi recentemente construída uma árvore filogenética do género Homo, no Pleistoceno. Ela tem em conta a nova espécie H. longi e as suas relações às outras espécies contemporâneas.


sábado, 26 de junho de 2021

[Kim Iversen] McAfee foi «suicidado» ???




                                                     [~24 min. até ~38 min.]

[Comentário de Manuel Banet] O fundador da famosa empresa especializada em anti-vírus informáticos, entrou em pleno (alguns anos atrás) no investimento em cripto-moedas. 
A causa para ele ter sido indiciado, seria uma história de evasão ao fisco. Foi essa a causa imediata da sua prisão em Espanha, segundo parece, assim como do pedido de extradição para os EUA. 
Mas, aquilo que transparece também, por outro lado, é que McAfee tinha uma grande ligação à CIA. Teve ACESSO A CERTOS SEGREDOS DA AGÊNCIA. Mas já não era alguém do sistema. 
Martin Armstrong, que o conheceu pessoalmente, não deixa dúvidas : McAfee* tinha deixado de ter a confiança do «Deep State».
Caso tenha sido «suicidado», não seria o primeiro; vem-nos imediatamente à memória o caso de Jeffrey Epstein. 
Se ele fosse julgado, seria altamente incómodo, porque poderia expor uns podres, poderia desmascarar o poder.  
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(*)Veja e oiça o que McAfee diz sobre o « Deep State» no pequeno vídeo dentro do post de Martin Armstrong, AQUI

PS1: Veja o vídeo que foi publicado por RT (a 24 de Junho):


PS2: A viúva de McAfee também não acredita que tenha sido suicídio.

sexta-feira, 25 de junho de 2021

PSICOLOGIA E SOCIOLOGIA DO FUTEBOL

 

O campeonato europeu surge sempre como algo muito especial. Ainda mais especial nas circunstâncias presentes em que é realizado. Não é este o aspeto sobre o qual me irei debruçar neste escrito, mas sobre o fenómeno futebolístico na sua generalidade.

Coloco aqui algumas reflexões. Sei que são muito questionáveis, tingidas de subjetivismo. Porém, a minha intenção é chamar a atenção para o fenómeno do futebol, enquanto fio condutor para estudos de psicologia, sociologia, antropologia e história.

1- As sociedades «ocidentais», ou que se «ocidentalizaram», estão  quase totalmente descristianizadas, pelo menos no que respeita à Europa. A religião é algo exterior, na maioria dos europeus contemporâneos. Quando ainda é uma referência, é apenas uma das identidades que se justapõe a outras, como numa manta de retalhos.

 2- O humanos sempre foram seres essencialmente gregários. A tribo, o clã, a etnia, etc. são unidades ancestrais, cuja perpetuação ultrapassa regimes, ideologias, e até os recortes (muito arbitrários) das fronteiras nacionais.

3- Na ausência de fatores de coesão tradicionais, nomeadamente os ideológicos ou religiosos, que permitam consolidar a pertença dos indivíduos a um grupo (clã, tribo, etnia), a paixão futebolística é a única que permite confederar simbolicamente as massas. Esta paixão, às vezes, atinge uma intensidade tal, que degenera em violência entre bandos com identidades futebolísticas rivais.

4- Não será por acaso, que as elites investem literalmente biliões e mobilizam a parafernália toda da média, para manter o povo entretido. O espetáculo do futebol pode ser superficialmente assimilado ao circo romano  - «panum et circensis» - mas é realmente muito diferente. Graças a ele, as pessoas revestem-se duma identidade tribal mítica. Os gladiadores podiam suscitar entusiasmo nos romanos, mas não havia identificação mitificada, como a que se observa no futebol.

6- O sentimento de pertença, por muito simbólica que esta seja, não deixa de ser forte: As pessoas vivem o futebol dentro e fora dos estádios, na família, no círculo de amigos, na profissão. 

7- Os adeptos dum clube identificam-se com as derrotas e vitórias deste, como se se tratasse de desafios pessoais. Ao assistir a um jogo (presencialmente, ou pela TV) a adrenalina sobe ou desce, seguindo exatamente as diversas fases e peripécias do jogo. Esta vivência é como uma possessão, na medida em que o adepto acredita, ao nível do subconsciente, que um fluido energético transita entre ele e os seus ídolos, e que os une.

8- De todas as alienações que os contemporâneos experimentam, é - provavelmente - a idolatria futebolística que se assemelha mais ao fervor religioso de alguns séculos atrás. O fervor religioso já não existe. A religião dos contemporâneos limita-se a algo exterior, meramente social. 

9- A ritualização da guerra era uma forma das tribos rivais minimizarem o grau de destruição recíproca. O futebol é uma forma ritualizada de agressividade, de libertar os instintos guerreiros mas, também se destina a desviar ou neutralizar a agressividade das massas contra os seus opressores. Dá aos oprimidos uma ilusão de poder. Perpetua as divisões artificiais entre pessoas, em especial nos escalões de baixo da ordem social. Por isso, é acarinhado por dirigentes políticos e financiado por magnates, ao ponto destes se tornarem proprietários de clubes.  

10- O fenómeno do futebol é uma chave para elucidar múltiplos aspetos encobertos das sociedades contemporâneas: Os mecanismos sociológicos e psicológicos envolvidos no culto para-religioso, na adesão identitária ao clube e à nação, no controlo exercido pela oligarquia, são alguns temas que merecem ser estudados.

quinta-feira, 24 de junho de 2021

EVOLUÇÃO HUMANA ARBORESCENTE

Nos anos 70, em que estudei biologia na faculdade, a visão clássica da evolução humana era de um percurso linear, com a linhagem evolutiva que iria dar origem à nossa espécie, emergindo de um tronco comum ancestral. 

                  

         https://observador.pt/2015/09/10/descoberto-primo-misterioso-da-raca-humana-na-africa-do-sul/

Ao longo desse percurso evolutivo linear, as fronteiras entre as diferentes espécies do género Homo eram pouco nítidas, mas a possibilidade de ter havido uma sobreposição era descartada, como sendo resultante do muito pouco que sabíamos na altura. Este estado de coisas, podemos agora dizê-lo, era devido a uma influência ideológica na Ciência da Evolução. A linearidade mais era uma construção académica, do que um facto de observação. Mas, isso satisfazia a mente humana. Pelo menos da maioria, que gosta de imaginar processos lineares, gosta de fronteiras bem delineadas e de mecanismos que se coadunem com categorias estanques. Esta maneira de ver o humano, o seu evoluir, o ser biológico, foi completamente subvertida em menos de meio-século.

Não apenas as espécies de homininos não se revelaram conjuntos genéticos fechados, estanques, como sua progressão também não obedeceu a um modelo linear, mas arborescente.

                             Four ancient human skulls (H. erectus, H. heidelbergensis, H. neanderthalensis, H. sapiens) on a black background.

 

Figura: 

Quatro das sete espécies humanas que viveram em África e na Eurásia ao mesmo tempo há centenas de milhares de anos (H. erectusH. heidelbergensisH. neanderthalensis, H. sapiens) © The Trustees of the Natural History Museum, London

O nosso conhecimento sobre as espécies antepassadas de Homo sapiens e sobre os Homo sapiens mais antigos sofreu uma aceleração e uma transformação radical com a técnica de isolamento, purificação e sequenciação de genomas em ossadas quase completamente fossilizadas. 

                                             
Foi assim que se descobriu com espanto (cerca de 2010) uma nova espécie humana (contemporânea de H. sapiens e a H. neanderthalensis), Homo denisovans, presente na gruta de Denisova (daí o seu nome) na Sibéria. Talvez tão espantoso como isso, foi o facto dos cientistas terem chegado a essa conclusão, não pelos atributos anatómicos dos restos fossilizados, mas pela sequência do genoma extraído do osso de um dedo. 
Mais tarde, verificou-se que existia uma percentagem da ordem de 2-4% do ADN dessa espécie no genoma de populações contemporâneas, na Ásia do sudeste em particular. 

Mas, estas espécies humanas - Homo neanderthalensis e Homo denisovans - coexistiram, no tempo e no espaço com a nossa espécie (Homo sapiens). Houve fluxo de genes entre elas e temos a prova disso nos genomas atuais da humanidade contemporânea. 

Entretanto, ainda há muito por descobrir: «Sequências mistério» estão presentes em vastas populações africanas subsaarianas. Espera-se, um dia, obter ADN de um fóssil que corresponda às referidas «sequências mistério». 

Outra impressionante e recente descoberta foi a de Homo naledi, um hominino que viveu até há cerca de 300 mil anos, ou seja, contemporaneamente aos Homo sapiens mais antigos, que têm essa mesma idade. H. naledi contradiz muitas ideias-feitas: se não tivesse havido, no local da sua descoberta, um manancial de ossos fossilizados juntos e que permitem uma reconstituição particularmente precisa, teria sido possível imaginar que os ossos cranianos fossem atribuídos ao género Homo, enquanto os ossos não-cranianos seriam compatíveis com o género Australopithecus.

Descobriram-se, entretanto, duas outras espécies na zona do sudeste asiático, H. floresciensis na Ilha das Flores, hoje na Indonésia [ver reconstituição, abaixo]

                

... e H. luzonensis (na Ilha de Luzon, hoje nas Filipinas). Ambas as espécies apresentam características distantes do «tronco principal» do género Homo. Além disso, o isolamento originou formas de tamanho reduzido. Este fenómeno é típico de espécies insulares e foi observado em muitas outras espécies.  Os processos de especiação na linhagem humana não diferem, nos mecanismos e nos resultados, do que se tem observado noutras linhagens de vertebrados. 

Temos de reconhecer que as novas evidências mostram uma evolução radiante (ou seja, arbustiva e não linear) com períodos de intensa produção de novidades, seguidos de períodos em que espécies do mesmo género vão evoluindo em paralelo, porém, com esporádico entrecruzamento (introgressão) entre espécies próximas parentes. Com efeito, são conhecidos híbridos de Homo sapiens e H. neanderthalensis; de H. sapiens e H. denisovans; e de H. denisovans e H. neanderthalensis. 

A evolução humana, afinal, tal como noutros grupos de espécies animais, parece enquadrar-se melhor no modelo de «equilíbrios pontuados» de Niles Eldredge e  Stephen Jay Gould, ou seja, de longos períodos estacionários, pontuados por períodos de mudança acelerada, com a formação rápida de novas espécies.



Darwin fez descer o Homo sapiens do «pedestal», mas um mecanismo de autoilusão teimava em ver a evolução humana como um processo «gradual» e «singular», culminando na espécie única, que habita hoje o planeta. Porém, a evolução humana não se coaduna com um modelo gradual. Quanto ao facto - na atualidade - de apenas existir uma espécie do género Homo, não tem nada de extraordinário: há uma quantidade de outras espécies vivas, que são as únicas representantes atuais de géneros que já possuíram muitas outras espécies.

Nós, humanos de hoje, somos a espécie única, sobrevivente do género Homo, mas afinal como um «mosaico», como o resultado de várias espécies que conviveram e se entrecruzaram, no passado. Carregamos, no íntimo do nosso genoma, o testemunho dessas outras espécies extintas, com as quais nos cruzámos. Essas sequências genéticas fazem parte do património genético da nossa espécie. Foram salvaguardadas pela evolução, devido a terem valor adaptativo, como o gene conferindo a capacidade de viver a grandes altitudes (genes denisovanos em populações tibetanas), ou os genes da imunidade celular (genes neandertais presentes em europeus e asiáticos).

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PS1: Já depois de ter publicado este artigo, li a notícia da descoberta em Israel de uma nova espécie humana, anterior e contemporânea de neandertais. Esta notícia vai ser tema de um artigo neste blog, proximamente.

PS2: Um crânio em ótimo estado de conservação proveniente do norte da China foi revelado recentemente. Especula-se que poderá ser uma nova espécie do género Homo ou pertencer à espécie H. denisovans.

FREE AS A BIRD [The Beatles]

Esta homenagem em memória de John Lennon contou com os Beatles sobreviventes, na altura (Paul, Ringo e George) e com a voz de John, gravada numa cassete de demonstração.

É muito claro - para mim - que se trata duma canção testemunho, emblemática da ideologia* dos Beatles e de John Lennon. Se pensarmos na onda de entusiasmo que a sua música produziu e deu voz a uma juventude, protagonizando as causas da Paz, da libertação sexual, etc., não admira que Lennon e os Beatles tenham desencadeado amor e ódio. Mas apesar do ódio, o amor vence sempre.
Esta canção é uma demonstração disso.
Somos aves livres de voar, pelo espaço, pelas cidades e pelos campos, sobre as águas e os desertos. Quem nos quer aprisionar, na jaula da pobreza, do medo, ou da desigualdade, não sabe que as aves que somos, sempre encontramos maneira de voar pela janela fora, de sair das prisões onde nos querem encerrar. 
É este o simbolismo que encontro nesta canção. 

Escrevam-me dizendo qual a vossa impressão perante a audição, quais as reflexões de vos ocorrem, o que é para vocês a liberdade, etc.

Manuel Banet

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Free as a bird
It's the next best thing to be
Free as a bird
Home, home and dry
Like a homing bird I'll fly
As a bird on wings
Whatever happened to
The life that we once knew?
Can we really live without each other?
Where did we lose the touch
That seemed to mean so much?
It always made me feel so
Free as a bird
Like the next best thing to be
Free as a bird
Home, (home) home and dry
Like a homing bird I'll fly
As a bird on wings
Whatever happened to
The life that we once knew?
Always made me feel so free
Free as a bird
Is the next best thing to be
Free as a bird
Free as a bird
Free as a bird
Oo-oo-oo
Made for John Lennon
Fonte: Musixmatch
Compositores: Harrison George / Lennon John Winston / Mccartney Paul James / Starkey Richard

(*) Ver a letra de Mind Games:

Mind Games

We're playin' those mind games together
Pushin' the barriers, plantin' seeds
Playin' the mind guerrilla
Chantin' the mantra, peace on earth
We all been playin' those mind games forever
Some kinda druid dude liftin' the veil
Doin' the mind guerrilla
Some call it magic, the search for the grail
Love is the answer
And you know that for sure
Love is a flower
You gotta let it, you gotta let it grow
So keep on playin' those mind games together
Faith in the future, outta the now
You just can't beat on those mind guerrillas
Absolute elsewhere in the stones of your mind
Yeah, we're playin' those mind games forever
Projectin' our images in space and in time
Yes is the answer
And you know that for sure
Yes is surrender
You gotta let it,

quarta-feira, 23 de junho de 2021

UMA CONVERSA A TRÊS: COMO ACABAR COM A EPIDEMIA DE COVID...

O Dr. Bert Weinstein entrevistou dois eminentes colegas, Robert Malone (inventor da técnica do mRNA para vacinas) e Steve Kirsch.

Alguns dias antes de dar com este vídeo da conversa entre estes três cientistas, publiquei um artigo , com reflexões que se mantêm válidas e validadas pela conversa:

«O próprio modelo destas vacinas é uma aberração: com efeito, a proteína spike, cujo gene - sob forma de ADN ou de ARN - é fornecido nas vacinas, é uma toxina e um agente desencadeante de uma resposta imunitária exacerbadaAs pessoas morrem devido à multiplicação de coágulos em órgãos vitais (coração, cérebro...) e noutros(ovários, etc) Estes coágulos formam-se, como resposta do próprio sistema imunitário à proteína spike, presente à superfície das células humanas e sintetizada de acordo com as instruções contidas no ARNm injetado.  
Aquando da epidemia de SARS 1, em 2002-2003, houve uma tentativa de se obter uma vacina. A construção de tal vacina contra o SARS 1 falhou. Os ensaios pararam porque se constatou que animais de experiência morriam, em grande número, quando expostos ao próprio vírus, depois de terem sido vacinados. Os especialistas têm avisado para o risco disto ocorrer com a vacina contra o SARS-Cov-2, mas são silenciados nas redes sociais e na media corporativa. Seus avisos têm sido ignorados pelos poderes governamentais e pelas corporações farmacêuticas. »
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Para acabar com a epidemia de COVID:
A resposta é IVERMECTINA!

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Veja a entrevista com Joe Rogan; impressionante!