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segunda-feira, 9 de junho de 2025

ALASDAIR MACLEOD: O PLANO DA CHINA ENVOLVENDO OURO, PARA A ERA PÓS-DÓLAR

Alasdair Macleod descreve, com rara clareza, a realidade dos fracassos de Trump no domínio económico e financeiro. 
Anteriormente ao 2º mandato de Trump, o confisco de divisas e de ouro do Banco Central da Rússia, que estavam em contas de bancos ocidentais, no início da invasão da Ucrânia, assim como uma série de «multas» a bancos ocidentais, por terem supostamente transgredido as sanções dos EUA ao Irão e a outros países, mostraram ao mundo que o dólar estava a ser «militarizado»
Esta constatação foi o catalizador para muitos países procurarem alternativas viáveis à utilização do dólar enquanto divisa de reserva e do comércio internacional. 
A imensa quantidade de dólares em «paraísos fiscais» em grandes depósitos inativos, desde as Ilhas Caimão, o Luxemburgo, até à City de Londres, mascara a descida do dólar.
Mas a subida brusca dos juros nas obrigações US soberanas, foi um despertar: Tornou os intervenientes no mercado financeiro conscientes da modificação radical do ciclo mundial do crédito: 
- A dívida dos EUA, atualmente de 37 triliões de dólares e sempre a subir, é o fator principal da subida dos juros. Esta subida torna cada vez menos interessante* conservar «treasuries» e/ou comprar as novas «treasuries» emitidas para cobrir o pagamento de mais de um trilião de juros (no corrente ano). A chamada armadilha do dólar (dollar trap) é um ciclo descendente auto-reforçado. Este processo liquida a confiança no sistema mundial centrado no dólar. O despejar das treasuries em grandes quantidades (de um total da ordem de biliões), pela China e pelo Japão, respectivamente, segundo e primeiro detentores de obrigações do tesouro US, assinalam o fim de uma era.
Para não ser arrastada pela inevitável (auto)destruição do dólar, a China tem de recorrer ao ouro, como âncora do seu sistema monetário. Caso contrário, o Yuan será arrastado na queda do dólar.



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* Uma obrigação é avaliada como valendo MAIS, quanto mais BAIXO for o seu juro; inversamente, valendo MENOS quanto mais ELEVADO for o seu juro 

quinta-feira, 1 de maio de 2025

NA TRANSIÇÃO PARA O NOVO SISTEMA MONETÁRIO





Enquanto muitas batalhas têm lugar nos mais diversos pontos do globo, seja no sentido físico do termo, seja no sentido figurado, com as guerras comerciais, económicas, mediáticas, tecnológicas, de propaganda e diplomáticas, a batalha discreta - mas decisiva - para moldar o futuro próximo, é aquela pela definição do novo sistema monetário internacional.

Neste contexto, a perigosa e radical separação entre a China e os EUA, do ponto de vista comercial, terá como epílogo a separação correlativa do domínio do dólar e do yuan. Com efeito, ao nível dos grandes negócios, envolvendo grandes montantes, tem sido o dólar a divisa mais utilizada. Porém, com a «guerra tarifária», desencadeada por Trump, as empresas e Estados estão cada vez mais reticentes em usar o dólar, o qual tem sido instrumentalizado, usado como arma de chantagem pelo governo dos EUA, contra quaisquer entitades (estatais ou privadas) que não se conformem com a vontade imperial.

Por exemplo, bancos franceses e suíços foram sancionados por intermediarem trocas com o Irão, algo perfeitamente legal face à legislação dos países-sede destes bancos. Porém, sofreram multas avultadas, decretadas por tribunais americanos, devido a irem contra as sanções (ilegais, aliás) que o governo dos EUA tinha lançado contra o Irão.

No campo dos BRICS, o Yuan (ou Renminbi) será cada vez mais usado, em paralelo com divisas doutros membros dos BRICS ou de membros associados. Neste campo, a utilização de bonds (obrigações) em Yuan será cada vez mais favorecida, tanto mais que estes bonds são trocáveis pelo seu equivalente em ouro na bolsa de Xangai.

Esta propriedade irá permitir que países exportadores de petróleo, como a Rússia, os Emiratos Árabes, a Arábia Saudita, etc. conservem obrigações em Yuan, pois estas são muito líquidas. Qualquer outra entidade estará interessada em receber como forma de pagamento, estes títulos remíveis em ouro.

No novo paradigma de trocas internacionais, as partes poderão efetuar pagamentos e acertos como entenderem: Seja com divisas dos respectivos países, ou com divisas de países terceiros, ou até com a troca direta (barter, em inglês) de matérias-primas ou metais preciosos.

Por exemplo, nos contratos de venda do petróleo angolano, este poderá ser pago em Dólares, em Yuan ou em troca de mercadorias que Angola importa da China. As trocas comerciais, Sul-Sul serão muito agilizadas. Já não será obrigatório usar dólares e passar por intermediário, num dos grandes bancos americanos. Isto envolvia a possibilidade de interferência, que podia ir até ao congelamento e ao confisco de avultadas quantias, pelos EUA.

O sistema de pagamentos internacional dos BRICS, o M-BRIDGE, já foi testado e funcionou perfeitamente entre países árabes e a China. Trará muito maior rapidez e segurança que o sistema SWIFT. Este último, confere o controlo dos EUA sobre as transações internacionais e implica operações entre bancos intermediários nos pagamentos, podendo durar vários dias entre o envio e o recebimento das quantias (além dos custos). Enquanto o M-BRIDGE pode efetuar - graças ao sistema «blockchain» - a mesma operação em segundos, com baixos custos e com inteira transparência. Há quem diga que o motivo próximo para Trump ter desencadeado a «guerra tarifária», terá sido o facto da China e seus parceiros comerciais terem lançado, com sucesso, o sistema M-BRIDGE, concorrente do sistema SWIFT.

A multplicação de trocas sem ter o dólar como intermediário, vai tornar as sanções americanas contra certos países que não se curvam ao seu diktat, praticamente inoperantes. Assim, a arma preferida dos EUA no domínio económico e financeiro, as sanções, perde a sua eficácia. Com efeito, até agora, muitos países e empresas neutros e que pretendiam ter relações comerciais com países aos quais os EUA decidiram impor sanções, também estavam sujeitos a sanções secundárias, caso não parassem o intercâmbio comercial com os países sancionados. Esta pressão tinha eficácia, porque o dólar era obrigatoriamente intermediário nas operações comerciais e financeiras, sobretudo nas de grande volume.

Hoje em dia, rompeu-se o tabú: Os sauditas assinaram um acordo com os chineses, segundo o qual o petróleo será transaccionável em Yuan, por acordo entre as partes (e não somente em dólares). A venda de produtos petrolíferos em dólares, exclusivamente, em troca a «proteção» dos EUA à monarquia saudita (e por extensão, a quaisquer países da OPEC), foi o pilar que manteve o «petrodólar» durante meio-século:

- Qualquer país precisava de dólares para ter acesso aos combustíveis nos mercados mundiais, ou a outras matérias-primas. Esta situação está a modificar-se muito depressa, não apenas pelo enorme volume de combusíveis comprados pela China às monarquias árabes do Golfo, como também ao Irão e à Rússia. As trocas com estes dois últimos países não envolvem o dólar e têm tendência a crescer.

No ano 2000, cerca de 70% das trocas internacionais eram saldadas em dólares, enquanto hoje (25 anos depois), apenas 56% o são. Este processo de regressão do dólar foi recentemente acelerado pela desastrosa política da administração Trump, de erguer barreiras alfandegárias aos produtos dos seus parceiros comerciais. Mas Trump foi obrigado a recuar, face às reacções, que ele não esperava, tanto de amigos como de inimigos: A UE e o Japão tiveram reações muito negativas face à imposição de tarifas, além da China e do Sul Global.

Será necessário reformar os acordos internacionais, para cimentar de novo a confiança no comércio internacional. É certo que tal processo irá levar algum tempo, mas será inevitável, pois nem os mais fiéis aliados dos EUA ficam satisfeitos com um mercado mundial fraccionado. A mundialização das trocas comerciais e financeiras, a chamada «globalização», não é reverstível de uma penada. Os britânicos, por exemplo, querem manter boas relações com a China; a guerra de sanções é contrária aos interesses industriais e financeiros britânicos.

Não podemos pressupor o que trará a nova arquitetura financeira mundial, mas podemos conjecturar que não haverá obrigação de comerciar numa determinada divisa, podendo os pagamentos internacionais ser mais rápidos, através dos sistemas digitais, incluindo «blockchain». Estes, têm a vantagem da transparência, tornando a fraude impossível. Também a especulação com as divisas será, senão impossível, muito menor em volume.

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quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

OURO REGRESSA AO CENTRO DO SISTEMA FINANCEIRO

 A China é detentora duma quantidade de ouro difícil de apurar. No entanto, aquilo que se sabe é que o ouro em mãos do Estado, é mais do que o ouro oficialmente contabilizado no People's Bank of China, o banco central chinês. Por outro lado, nos últimos decénios, o povo foi encorajado a comprar ouro. A quantidade de ouro acumulado por este muito poupado povo (a poupança, por agregado familiar, é cerca de 40% do seu rendimento) é também quase impossível de avaliar.


                             Imagem: Loja de venda de ouro a retalho, em Pequim

O que se sabe, é que o ouro importado doutras paragens, principalmente através da Bolsa de metais preciosos de Xangai, faz desta, a praça mais importante mundialmente, no que diz respeito a trocas reais, ao metal físico. No mercado londrino (LBMA) ou no americano (COMEX), a quantidade de ouro realmente transacionada, é uma pequena percentagem dos contratos de futuros que são comprados e vendidos, ou seja, do «ouro-papel». É com estes contratos, que a finança e os Estados fazem uma permanente manipulação do ouro, um metal precioso muito «político»: é o único metal que continua a ser reconhecido como monetário (= como dinheiro real) pelos bancos centrais do mundo inteiro.
Ora, a China quer enriquecer o seu povo: É previsível que isto vá significar a oportunidade de adquirir mais ouro com os seus yuan. O yuan irá tornar-se assim como um «substituto» do ouro. O que Pequim tem de fazer (ao contrário dos padrões monetários/ouro, do passado) é não fixar/ indexar o preço do ouro em yuan. Se não indexarem a sua moeda ao ouro, continuará a haver, no entanto, uma forte correlação (1) com o ouro, mas não será algo fixo, rígido.
Penso que é este o caminho que as autoridades monetárias e financeiras chinesas estão a tomar há algum tempo: Lembremos que vem do tempo de Deng, o slogan «Enriquecer é Virtuoso». Desde o início do século XXI, que a posse de ouro na China, por cidadãos privados não só foi autorizada, como foi encorajada. Todo o ouro minerado na China, lá fica. A China é o 2º produtor mundial de ouro, atrás da Rússia. Não há exportação de ouro chinês. O enorme volume de importação vem, sobretudo, do Ocidente. As empresas de fundição e refinaria de ouro, na Suíça (com 70% da refinação mundial de metais preciosos), têm estado ocupadas - a tempo inteiro - em converter barras «LBMA» (que obedecem às especificações ocidentais) em barras de quilograma, que obedecem às especificações da China.
Como não podia deixar de acontecer, os media económicos e comentaristas ao serviço dos interesses financeiros ocidentais, querem que seus leitores continuem a «engolir» a treta de que o ouro é um mau investimento, de que sua posse não traz dividendos, apenas despesas associadas, etc. Mas - de facto - mesmo os bancos centrais ocidentais têm estado a adquirir ouro, desde há uns cinco anos (venderam muito ouro, no início do século XXI, quando seu preço em dólares era cerca de 1/5 de agora!). Os multimilionários também o compram, embora não queiram publicidade sobre isso. A sua preocupação é desfazerem-se dos ativos financeiros e adquirir imobiliário ou metais preciosos.
Não tenho dúvidas de que a era do dólar-rei acabou. A única coisa que mantém os países ocidentais dentro da esfera do dólar, é o medo. Porque os americanos têm defendido o dólar com invasões e guerras: no caso do Iraque, está provado que a verdadeira razão da guerra que levou à captura de Saddam Hussein e sua execução, num simulacro de julgamento, foi este ter decidido que o petróleo iraquiano seria vendido doravante em euros. Quanto à guerra e ocupação que levaram á trágica morte de Muamar Kadafi e a destruição da Líbia - foi o país africano mais próspero - foram decididas pelos EUA e seus aliados, porque Kadafi propôs a construção do «dinar pan-africano», moeda única, que seria usada pelos países africanos e na qual venderiam suas matérias-primas, em substituição dos dólares, euros, etc. Agora, não se atrevem a fazer o mesmo com a Rússia, a China, nem sequer com a Arábia Saudita. 
Todos os países (mesmo os aliados dos EUA) temem, com razão, as manipulações que os americanos fazem com a sua moeda, seu controlo da rede de transferências - a rede SWIFT - e todos os processos de transferências que passam por bancos americanos: Quaisquer países que façam transações em dólares, podem potencialmente sofrer sanções, por parte dos EUA. Os países do Golfo e a Arábia Saudita estão a fazer as pazes com seu inimigo, o Irão e pediram a intermediação dos russos para esta aproximação, porque perceberam que o petrodólar morreu e que só poderão ter espaço de manobra, se saírem da esfera americana. 
Os que ficam na esfera do dólar americano, são os que não podem fazer doutro modo, nomeadamente, os países europeus ocidentais. Eles tornaram-se, desde o fim da 2ª Guerra Mundial, neocolónias de facto dos EUA.

Em todo o Ocidente, os indivíduos continuam a ser canalizados para investir em ativos de natureza financeira. Estes, dentro de pouco tempo, ficarão denominados em moedas digitais : e-dólares, e-euros, e-libras, e-yens. Quando isso acontecer, as cotações do ouro e da prata serão muito mais elevadas, do que no presente. Nessa altura, quem for detentor de certa quantidade destes metais, terá capacidade de adquirir valiosos bens imobiliários, terrenos agrícolas e outros bens não-financeiros. 
Os bens tangíveis, globalmente, irão manter, ou aumentar, em valor real, enquanto os instrumentos financeiros (contas a prazo, obrigações, derivados, criptomoedas, etc.), sofrerão enormes perdas. (2)
A ruína dos pequenos investidores faz parte do «golpe» dos muito ricos. Estes, preveniram-se e compraram, com os lucros obtidos na especulação bolsista, toda a espécie de bens não financeiros, dos metais preciosos, às terras agrícolas, ao imobiliário e mesmo, obras de arte e objetos de coleção. 
Os pequenos e médios investidores podem evitar ser erradicados da face da Terra, se tiverem o bom-senso de fazer o mesmo (mudar de ativos financeiros, para ativos tangíveis) - e quanto mais depressa, melhor. As pessoas que ficam nos mercados financeiros, à espera de «melhores dias», irão perder o máximo. A conversão de ativos financeiros em ouro ou prata, metais reconhecidos universalmente como tendo valor (e cotação), pode corresponder à diferença entre conservar o essencial e a perda completa do património.

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(1) No mercado de ouro de Xangai, as compras e vendas do metal precioso são obrigatoriamente em yuan.
(2) A conversão do dinheiro usual, em digital é um aspeto central do «Great Reset». O valor nominal das unidades pode ser o mesmo, mas o valor real não será idêntico. Ou seja, 1 dólar, 1 euro,1 yen,  etc... de hoje (18-01-2023), serão mais valiosos do que 1 e-dólar,1 e-euro, 1 e-yen,  da digitalização integral da economia. Haverá uma brutal transferência de riqueza, que a grande maioria não compreenderá, nem terá consciência, no imediato.

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PS1: O GRÁFICO ABAIXO  DÁ-NOS UMA IDEIA DA VALORIZAÇÃO DO OURO NO ANO DE 2022, EM TERMOS DE «DIVISAS FIAT». OUTRA MANEIRA DE VER, É CONSIDERAR QUANTO CADA DIVISA SE DESVALORIZOU, EM RELAÇÃO AO OURO.(retirado de AQUI)