terça-feira, 31 de julho de 2018

RICARDO ROBLES: AO QUE TU CHEGASTE!

 A ganância é uma paixão humana, mas as pessoas com a postura pública de Ricardo Robles, não podem desculpar-se nisso, pois têm responsabilidade perante os seus eleitores e perante as muitas centenas de milhares de pessoas que têm sido desalojadas ou obrigadas a migrar para a periferia porque o negócio da locação turística e a especulação imobiliária tomaram conta da capital.
Robles não tinha o direito de fazer o que fez, não por ser ilegal, mas sim porque está em contradição flagrante com o programa e ideias defendidas pelo seu partido, o BE, para a Câmara de Lisboa. 
A direita pode usar o pretexto para atirar farpas e enlamear não apenas o  ex-vereador bloquista, não apenas o BE na sua direcção, como até fazer processos de intenção ao PCP que, neste caso, não tem absolutamente nada que ser envolvido. 
Mas com raiva e mesquinhez, certos plumitivos atiram-se, como «gato a bofe», maneira de dizer... a tudo o que «cheire a comunismo» e a «esquerda».

A tragédia do regime em deliquescência transcende em muito a figura deste vereador, lutando enquanto vereador por algo que ele próprio sabotava nos seus negócios privados. 
Poderia parecer o guião duma novela política, se não fosse a exacta realidade. Mas as figuras que circulam nos corredores alcatifados do poder, independentemente da sua ideologia, acabam por perder o senso comum, acabam por pensar que tudo lhes é permitido. Infelizmente, Robles não é o primeiro nem será -provavelmente - o último apanhado a fazer o contrário do que defende.

A democracia não pode ser um jogo verbal, em que as pessoas envolvidas não têm que dar «o corpo ao manifesto». Não podem fazer como cidadãos privados, o que condenam em termos públicos. 
Mas como isto está constantemente a acontecer, em maior ou menor escala, o sistema político acaba por ficar podre até à medula, corrompido de forma irreversível. 
A democracia não pode ser este regime partidocrático, em que uma «classe» se considera acima da lei, acima da própria moral. Lamento, mas não encontro, nem na esquerda, nem na direita, nem no centro... diferenças substanciais. 

O desafio para a cidadania é fazer uma democracia de participação, em que as pessoas eleitas o são, não porque foram escolhidas no interior de um colégio eleitoral interno aos partidos (no melhor dos casos), mas como MANDATÁRIOS, cujo desempenho do mandato é periodicamente posto à avaliação dos eleitores, não de  quatro em quatro anos, mas sim em reuniões presenciais e/ ou virtuais no mínimo, uma vez por trimestre. 
Este modelo de democracia funciona em pequena escala, há muito tempo, mas também foi ensaiado em escala muito maior, na grande cidade ou em províncias inteiras, envolvendo dezenas ou centenas de milhares de pessoas.
Mas o povo está apático, está descrente da democracia, sob qualquer forma. 
Irá, com certeza, acolher, mais dia menos dia, o próximo ditador... como sendo um salvador da pátria! 

- Os Ricardos Robles e companhia, que enxameiam a democracia pós 25 de Abril, podem-se orgulhar de terem participado na «inevitável ascensão» do novo Salazar!!!

segunda-feira, 30 de julho de 2018

BRICMONT DESCONSTROI O DISCURSO DE ONFRAY SOBRE ANTI-SIONISMO


Vídeo de Onfray que é criticado por Bricmont encontra-se  aqui:

https://www.youtube.com/watch?v=P4yoO0esUkA


É para mim um choque ter ouvido o vídeo acima, sobre o qual Jean Bricmont, muito conhecido filósofo belga, exerce uma crítica,  que considero correcta, quer pela sua lógica, quer pela ética.
Realmente, não se pode ter «ídolos», sobretudo nesta época de conexões globais, em que os mais intransigentes defensores de conceitos e valores totalmente respeitáveis, como o caso de Michel Onfray, se transformam - de repente - em mercenários ao serviço de grupos de interesses (lobbies), dos mais dúbios. 
É o caso do poderoso «CRIF» em França, uma associação que supostamente defende os judeus contra crimes anti-semitas, mas que -sem dúvida- tem sido apologista do Estado de Israel, ainda por cima, assimilando qualquer crítica a Israel, a anti-semitismo. 
Este «estado de terrorismo mental», instaurado por organizações como o CRIF, tem mantido  a imprensa e os intelectuais calados,  perante os repetidos crimes do governo de Israel, das suas forças armadas, contra o povo palestiniano. 
É realmente uma forma de censura, de censura tanto mais intolerável que ela se vai imiscuir nas vidas académicas, nas carreiras jornalísticas, na própria vida política, cerceando o debate, cerceando a liberdade de opinião. 
A maneira como uma certa «esquerda bem-pensante» equaciona esta questão da liberdade de opinião é absurda, a meu ver. 
Se eu tiver em frente de mim alguém que defende argumentos anti-semitas (anti-judaicos), eu irei contrapor aos seus argumentos, os meus conhecimentos e a minha lógica. 
Não preciso, nem devo, impedir outrem de exprimir o seu ponto de vista, por mais contrário que eu seja ao mesmo. Se o meu interlocutor usar estratagemas, recorrer a falsificações, etc, eu tenho o dever de desmontar isso tudo, exactamente como o fez Bricmont, em relação ao discurso de Onfray, sobre o conflito israelo-palestiniano. 
Se alguém censura (elimina a voz) o outro, sob pretexto de que este difunde ideias «erradas», está a cair na negação do outro e isto é o ponto de partida do totalitarismo, quaisquer que sejam as etiquetas afixadas.
Digo, como Voltaire... «estou pronto a bater-me para que, aquele que tem as ideias mais contrárias às minhas, as possa exprimir livremente.» 

domingo, 29 de julho de 2018

O CULTO DO EGO: «GENERATION SELF»

Laureen Greenfield discute com Chris Hedges o culto do indivíduo, o hedonismo, em torno do filme realizado por ela.
Uma cultura que se difundiu pelo mundo.


sábado, 28 de julho de 2018

WILLIAM ENGDAHL: INSTRUMENTALIZAÇÃO DAS ONGS PELO COMPLEXO MILITAR/SECURITÁRIO


F. William Engdahl desmascara, no seu último livro «Manifest Destiny», o papel da comunicação social, as organizações não governamentais, como as armas para impor a agenda de Washington, em particular, desde os anos oitenta. 
A entrevista é muito esclarecedora, mas o livro -sobretudo - deve ser muito rico em dados, que nenhuma pessoa seriamente interessada em relações internacionais e geopolítica pode ignorar.
A fonte desta rede de «soft power» é a grande finança (Soros sendo apenas um exemplo) e o complexo militar securitário, embebido na sociedade dos EUA, de tal maneira que praticamente não existe nenhuma instituição que não esteja dependente ou beneficiária dos seus fundos. 

sexta-feira, 27 de julho de 2018

MIKIS THEODORAKIS DIRIGE «ZORBA»

37 depois, a célebre música do filme "Zorba" é gravada com o próprio autor, Mikis Theodorakis, a dirigir uma orquestra com participação do famoso solista de «bouzouki», Kostas Papadopoulos.
O som original de Zorba fica assim consignado em suporte adequado, com as melhores condições técnicas e os melhores músicos!



TOTENTANZ - LISZT intérprete VALENTINA LISITSA



          Uma gravação da grande intérprete do reportório clássico e romântico, Valentina Lisitsa

A dança macabra ou dos mortos (Totentanz) é um tema bem conhecido da iconografia medieval.

              File:Historisches Museum Basel Totentanz 25102013 A.jpg
As damas, os nobres, os plebeus, os clérigos, os camponeses, os comerciantes, até mesmo os reis, os imperadores e os papas, são todos eles arrastados numa dança frenética, com esqueletos dançantes.
Nas épocas em que a morte fazia grandes colheitas, devido às guerras, as epidemias, às fomes, estas danças macabras lembravam a todos que quaisquer que fossem sua riqueza e estatuto social, podiam ser requisitados pela Morte em qualquer momento, para participar na dança...

Liszt utiliza, entre outros, o tema do «Dies Irae»  da missa de Requiem. A sua composição obviamente descritiva é também uma peça arrojada, mesmo para ouvidos do século XXI. 
A intérprete Valentina Lisitza demonstra um grande controlo e subtileza, numa peça muito difícil tecnicamente. 

Gosto de ouvir com atenção este «monumento da música».

quinta-feira, 26 de julho de 2018

OS «FAANG» PARTEM OS DENTES; RETRACÇÃO DOS MERCADOS ACCIONISTAS

«FAANG» é um acrónimo para designar as 5 companhias - FACEBOOK, AMAZON, APPLE, NETFLIX e GOOGLE - que têm feito subir os mercados de maneira vertiginosa, por vezes, sendo estas cotações mirabolantes mantidas graças a dois factores: Por um lado, a constante impressão monetária pelos bancos centrais, que se traduz por um juro praticamente de zero para grandes actores (os grandes bancos e grandes empresas multinacionais). Por outro, os dirigentes destas grandes corporações têm, constantemente, feito as mesmas comprar grandes quantidades dos seus próprios títulos, uma prática completamente falseadora das cotações e que esteve proibida até ao princípio deste século...
Agora a perda de cerca de 25 % (19% durante o período da manhã) de Facebook, significa que cerca de 120 milhares de milhões de dólares foram-se, desapareceram, à velocidade dum click! Esta perda num único título pode ter sido a maior perda diária em toda a história das bolsas. 
Quanto aos restantes, é uma questão de tempo, talvez mesmo muito pouco...  O caso mais absurdo é da Netflix, a qual tem perdido dinheiro, ano após ano e, no entanto, a sua cotação bolsista tem subido constantemente. Esta situação implica que haja um «esquema de Ponzi», pois a empresa que tenha essa prática de auto-compra das suas acções está a desviar o dinheiro disponível para investimento, que poderia utilizar para melhorar, inovar, expandir o seu negócio. Em vez disso, as empresas queimam dinheiro, ao fazerem auto-compras das acções, que apenas servem para aumentar os bónus dos seus gestores de topo. 
Quando as pessoas se aperceberem do artificialismo de tudo isto, vão vender, em pânico, sem que se possa prever o limite da quebra. Durante meses, os índices bolsistas (incluindo o mais importante, o Dow), flutuaram ou subiram, apenas graças a estas FAANG. Isto significa que a quebra destas será o descalabro de toda a construção artificial que se tem mantido graças ao dinheiro gratuito (para os grandes, apenas!) promovida pelos bancos centrais. 
...E por falar em bancos centrais, um dos maiores detentores de acções da facebook (exterior à empresa) não é outro senão o Banco Nacional Suíço (o Banco Central suíço). 
Nada, em princípio, deveria justificar a compra de activos como acções (títulos de propriedade de empresas) por entidades que, mesmo não sendo públicas, têm um papel estatutário de reguladores dos mercados, de supervisionarem todas as actividades bancárias e financeiras de um país. 
A característica mais certa de uma bolha, seja ela qual for, é que acaba por rebentar. Estamos a assistir ao princípio disso. 
                              
As valorizações têm estado completamente fora da realidade, com 20 ou 30 vezes acima da avaliação do valor real das empresas. As cotações terão que descer para valores abaixo do valor real dessas mesmas empresas, para se tornarem de novo interessantes enquanto investimento.
Com o «quantitative tightening» nos EUA, ou seja a venda de activos da «Fed» (A Reserva Federal, o Banco Central dos EUA), assim como uma subida progressiva dos juros para níveis mais próximos da normalidade histórica, já não vai ser possível as FAANG (e outras empresas cotadas) continuarem o seu jogo de auto-compra. 
A única incógnita é até que ponto este «crash» nas bolsas irá contagiar a economia real, não apenas as actividades financeiras, especulativas...

quarta-feira, 25 de julho de 2018

OBRAS DE BACH E BUXTEHUDE NO CRAVO COM DOIS TECLADOS E PEDALEIRA



A articulação clara é uma das qualidades desta interpretação, embora o órgão fosse o instrumento «natural» para esta peça. 
No entanto, no Séc. XVIII justificava-se que compositores (entre eles, Bach) possuíssem em casa um clavicórdio, ou um cravo, com pedaleira. 
Assim, poderiam compor e estudar o reportório de orgão, sem necessidade de praticarem no órgão da igreja, cuja afinação era morosa e sobretudo exigia a presença de um auxiliar para dar ao fole. 
Gosto particularmente desta interpretação da Passacaille de Bach, pelo seu rigor. 

Outra gravação no cravo com pedaleira, por Lionel Rogg, a dos prelúdios e fugas de Buxtehude, é digna de ser ouvida e apreciada. 

É particularmente instrutivo ouvir a passacaille de Buxtehude (2ª faixa) e compará-la com a passacaille de Bach.



BANIR OS PRODUTOS ISRAELITAS, UM PASSO PARA APOIAR A SOLUÇÃO DO PROBLEMA DA PALESTINA

Este membro do partido socialista norueguês explica a importância de boicotar os produtos de Israel


segunda-feira, 23 de julho de 2018

Efeméride: VITÓRIA LIBERAL de 24 de Julho de 1833

A efeméride do 24 de Julho de 1833

As tropas liberais subiram pelo Alentejo acima até Lisboa, enquanto uma esquadra inglesa se aproximava da capital. O governo de D. Miguel, absolutista, estava completamente isolado da população, as suas tropas também mostravam falta de entusiasmo para enfrentarem os liberais.
O governo e o alto comando militar escolheu sair de Lisboa, levando as tropas que a guarneciam, permitindo assim que as tropas liberais entrassem na capital sem disparar um tiro. Foram entusiasticamente acolhidas pela população, a qual mais do que sentimentos pró-liberais estava sobretudo farta de ser humilhada pelos partidários de D. Miguel, que se queriam vingar sobre o povo, de ter havido uma revolução francesa e das ideias e formas de governo daí resultantes já não se coadunarem mais com a ideia de monarquia de inspiração divina. 
A entrada em Lisboa foi pacífica, mas a guerra civil que durou 4 anos, foi dura e deixou muitas marcas, quer na sociedade civil, quer na infraestrutura deste país.



                            

                     Duque da Terceira, comandante das forças de D. Pedro

domingo, 22 de julho de 2018

DIDERICH BUXTEHUDE E O «STYLUS FANTASTICUS»

                                             PRELÚDIO E FUGA EM FÁ# MENOR

A liberdade simulando o improviso é característica desta peça, composta de tal modo que variados temas são expostos em sucessivos momentos. Seria portanto mais exacto falar-se de um políptico musical, cada secção com sonoridades e discursos bem contrastantes. 

No Norte da Europa dos finais do séc. XVII princípios do séc. XVIII, Buxtehude é um grande mestre, mas não está só. Encontram-se perto dele grandes organistas e compositores, tais como Lübeck, N. Bruhns e outros, filiados na grande escola do holandês Sweelinck, que deixou uma profusão de discípulos, tanto nos Países Baixos, como na Alemanha do Norte.  
Na Península Ibérica (Manuel Rodrigues Coelho, Pedro Araújo, Francisco Corrêa de Axaúxo, Joan Cabanilles, etc), na mesma época, o Tento e a Fantasia desempenham o mesmo papel de peças brilhantes e cheias de contrastes. Na Itália (Frescobaldi, Pasquini etc), as peças com esse carácter, costumam designar-se por Fantasia ou Toccata. 
Note-se que existe muito em comum na escrita organística dessa época, porém podem claramente distinguir-se diversas escolas. A factura dos órgãos era completamente distinta nas várias zonas europeias: soavam diferentes, o órgão ibérico, o itálico, o francês, o da Alemanha do Sul ou ainda o da Europa do Norte (incluindo Holanda, Norte da Alemanha e países escandinavos). 
A composição para órgão, além da organaria, reflectia o gosto e temperamento da sociedade e a tradição musical de cada região.

sábado, 21 de julho de 2018

DMITRI ORLOV: «A 3ª GUERRA MUNDIAL, FINALMENTE ACABOU!»

Dmitri Orlov é um dos meus autores preferidos, pela acuidade das suas análises e pelo seu sentido do humor. Ele nasceu na Rússia soviética  e emigrou para os EUA com os pais, em criança. É um cidadão dos EUA, porém muito crítico do «establishment» do seu país. 
As suas raízes russas permitiram-lhe fazer uma avaliação objectiva do desmoronar do regime soviético, seguida por uma década de saque pelas multinacionais e pelos novos oligarcas e, por fim, o «golpe de rins» protagonizado pela ascensão de Vladimir Putin à presidência e ao retomar do controlo sobre a economia e as riquezas do país. 
A profundidade da análise sociológica e política de Orlov foi aplicada também aos EUA e ao «Ocidente», tendo ele chegado à conclusão de que - perante a catástrofe - os ocidentais estarão muito pior preparados, material e psicologicamente, que os russos da década de 90.

                


Nesta peça humorística, Dmitri Orlov explica o absurdo de uma máquina de guerra, a NATO, que não tem objecto verdadeiro contra o qual se confrontar. Se não existe em face um bloco desejoso e capaz de confrontá-la, a sua «razão de ser» não é mais que se auto-perpetuar e acabará por se auto-destruir, por devorar os recursos escassos das suas economias. 
O argumento parece puxado ao absurdo, mas não é, na verdade. Sabemos que um motivo poderoso da derrocada da URSS foi, na década anterior à sua dissolução, além do Afeganistão, o demasiado grande esforço soviético para tentar acompanhar os progressos tecnológicos da «Guerra das Estrelas» lançada por Reagan. A URSS, em consequência, começou a ter múltiplos problemas, devido ao investimento demasiado escasso noutros sectores da economia. 

Hoje em dia, o contraste com o império soviético em decadência não poderia ser maior, estando a Rússia capaz de enfrentar as sanções, uma forma de guerra económica, com tranquilidade. Mais, estas vêm proporcionando-lhe o impulso benéfico para potenciar sectores até então estagnados, nomeadamente a agricultura e para aumentar a sua independência dos circuitos financeiros ocidentais, diversificando para fora do dólar como moeda de reserva. Ao mesmo tempo, estabeleceu uma superioridade tecnológica no armamento face à NATO, demonstrada na sua intervenção na Síria. 
Muitos países do Médio Oriente tornaram-se clientes do armamento sofisticado russo, por exemplo os mísseis SS-300, encomendados pela Arábia Saudita e pela Turquia...

Acredito que as contradições internas entre aliados da NATO, como sejam os interesses industriais alemães, franceses e outros irão acabar esta absurda «Guerra Fria bis» com a Rússia. Nos EUA, a «sede do Império», a política de Trump tem sido de retirada para dentro de fronteiras, tanto no aspecto militar, retirada dos cenários onde estivaram envolvidos nas duas décadas do presente século, como no aspecto económico, com a denúncia ou afundamento dos tratados globalistas (TPP, TTIP, NAFTA), e uma ameaça de saída da OMC...
É bem possível que a conjugação destas dinâmicas  leve ao fim da NATO. 


quinta-feira, 19 de julho de 2018

GUERRAS COMERCIAIS, PODE NÃO SER BONITO... MAS TEM UMA LÓGICA!

Sim; com efeito, um país como os EUA, que nos habituou a ser (ou a apresentar-se como) o campeão do livre-comércio, está agora envolvido numa guerra comercial declarada, seja em relação ao gigante chinês, seja em relação ao seu parceiro estratégico, a UE. 
As tarifas têm um efeito inibidor quer das importações, quer das  exportações, porque as referidas tarifas sendo impostas unilateralmente, recebem no geral uma resposta simétrica. Os produtos americanos exportados para a China, são poucos e pouco diferenciados, mas no caso da soja (os EUA são o segundo fornecedor da China, a seguir ao Brasil) as tarifas - por sua vez impostas pelas autoridades  chinesas - já se fazem sentir.
No caso da UE, já estão preparadas medidas, caso sejam colocadas tarifas sobre os seus automóveis, exportados para os EUA, ou outros bens. 
Nenhuma componente do comércio mundial fica incólume face a esta guerra tarifária imposta pela administração Trump. Mas, o que é que isto significa, quer no curto prazo, quer no médio e longo? 
No curto prazo, é evidente que a população dos EUA vai pagar mais caro uma boa parte dos produtos, visto que consome muitos produtos oriundos dos mercados chinês e europeu. 
A inflação irá acelerar, sem que isso signifique maior capacidade aquisitiva das  pessoas; as estatísticas não deixam dúvidas de que os salários estagnaram. 
Nos países europeus, haverá muitas dificuldades naqueles sectores em que parte significativa da produção é exportada para os EUA. O desemprego pode crescer de novo, sem que tenha sido reabsorvido totalmente, após a crise europeia da dívida de 2011-2012. 
No médio prazo, haverá uma reorientação dos mercados. 
A China irá tentar obter cada vez mais produtos fora a esfera dos EUA e do dólar. Irá basear, ainda mais, a sua economia em acordos bilaterais, com múltiplos outros países, evitando usar o dólar. Por exemplo, as compras de petróleo à Rússia, usando o Yuan ou Rublo, o mesmo se passando em relação ao petróleo do Irão. 
Estas trocas serão modelo para outras, em que se vai generalizar, como pagamento, a nota de crédito em Yuan.
Quanto ao efeito na economia americana, sem dúvida que se assiste a uma repatriação de capitais, vindos um pouco de todo o lado, com relocalização de grandes corporações, nos EUA. 
Mas a estrutura produtiva não se improvisa e os conselheiros de Trump, com certeza sabem que a reindustrialização vai durar anos ou mesmo decénios a reverter ao nível de auto-suficiência industrial que os EUA possuíram no período das décadas de 1940-1970. 

Assim, esta mudança de ambiente internacional irá causar uma contracção do PIB mundial, uma sensível redução das trocas comerciais, um congelamento do investimento estrangeiro. Nada disto afinal será favorável aos EUA, ou a seus aliados, no seu conjunto. 
Perante tal paradoxo aparente, existe uma explicação muito clara, mas poucas pessoas têm conseguido fazer a leitura correcta: Existe uma vontade, por parte de Trump, em deitar abaixo a economia dos próprios EUA. Pode parecer estranho que ele esteja apostado nisso, porém a lógica é a de criar uma situação em que o governo dos EUA tem de novo o controlo dos mecanismos económicos e financeiros, os quais têm estado demasiado nas mãos da FED, de Wall Street, assim como da OMC, FMI, e outras organizações globalistas. 
A lógica é contrária à globalização, que tem sido o «mantra» no Ocidente ao longo de praticamente meio-século. Trump e os que o apoiam, é nacionalista, tem mostrado isso em discursos e actos, de forma suficientemente explícita para não se guardar qualquer dúvida a tal respeito. 
Os sectores económicos que o apoiam têm interesses divergentes das grandes multinacionais. O seu ataque está a criar as condições da crise vindoura. Mas é precisamente o que eles querem e precisam: Uma crise, cujo desenrolar esteja basicamente sob seu controlo, uma «demolição controlada do edifício». 
Só assim poderão ter o controlo sobre o que virá depois.

Quem subestima Trump e seu governo, está a auto-iludir-se: quer na direita, quer na esquerda, as opiniões emitidas mostram que as pessoas não compreenderam a lógica subjacente.
O que acho mais estranho é que haja essa atitude de denegação, apesar de Trump e seus defensores mostrarem, desde o princípio, as suas intenções. Talvez as pessoas não tenham acreditado, pois estão habituadas a que, no mundo da política, os líderes não façam aquilo que prometeram? 
Creio que só assim se pode compreender o ódio de morte contra Trump e a corrente que representa por parte do establishment político e mediático, ou seja, os «guardiões» do status-quo. As guerras para provar uma fantasiosa «ingerência» russa nas eleições são o meio que esta oligarquia ameaçada tem tido para tentar travar a onda Trump. Mas creio que está a perder pé e não conseguirá o seu intento, que era obter o seu «impeachment».
As pessoas deviam acordar para a realidade e perceberem que a imagem de Trump, que lhes andam a vender, só contribui para obscurecer o seu entendimento do que determina verdadeiramente as estratégias da maior super-potência.

quarta-feira, 18 de julho de 2018

O REALISMO NÃO-INGÉNUO

A relação das pessoas com o mundo, que estas percepcionam, é normalmente assumida como simples, não problemática. 
O realismo ingénuo consiste em tomarmos o resultado dos nossos sentidos como uma descrição bastante fiel da realidade.
Porém, a informação objectiva não existe, pois o que nós percepcionamos quando vemos, ouvimos, cheiramos, etc. é sempre um complexo de «inputs», a vários níveis: 
- o próprio objecto e as ondas luminosas, acústicas, de moléculas olfactivas, etc. que dele emanam; 
- a captação pelos respectivos sentidos e o modo como estes descodificam o sinal  e o  traduzem em linguagem neuronal; 
- por fim, a percepção cerebral e a elaboração de uma «imagem mental», a qual se vai necessariamente compatibilizar com as memórias armazenadas, ou seja, uma total reconstrução da informação contida no input nervoso.  

O realismo não ingénuo admite portanto como evidente que a noção de que existe uma realidade exterior ao nosso ser, não obriga a que tenhamos de saber, através dos sentidos ou até de instrumentos (que afinal são extensões dos sentidos), qual é a natureza dos objectos que nos são dados a conhecer.
Por isso, a elaboração de um complexo de expectativas e desejos interfere sempre com a nossa percepção da realidade externa. Aqui, a chave do entendimento reside na noção de «percepção»: 
- o facto de que não seja uma simples transposição da realidade, mas antes uma elaboração mental, onde existe um input do exterior, mas onde predominam forma mental e  enquadramento subjectivo.
Todos nós tivemos experiências de miragens ou ilusões, assim como o equivalente ao nível dos sentidos auditivo, etc. Pois estas experiências correspondem a «imagens construídas» ou o equivalente, nos outros sentidos. Assim, sabemos em casos extremos, verificados, da não conformidade com o modelo mais habitual da realidade. Sabemos que os órgãos dos sentidos e os centros cerebrais que os controlam e elaboram sobre os mesmos, são capazes de construir «imagens» convincentes do real.  
No caso do sonho, também, somos tomados pelo convincente «realismo» daquilo que sonhamos, porque a elaboração das imagens passa-se no cérebro e não na retina ou nos impulsos nervosos que conduzem as mensagens ao cérebro. Caso contrário, só poderíamos sonhar «imagens» geradas e transmitidas, nesse momento, pelos órgãos dos sentidos respectivos.
A elaboração da realidade, cujos contornos possam ser apreendidos por várias pessoas ao mesmo tempo, não é coincidente. Isto mostra que não existe olhar «objectivo». 
Várias pessoas descrevem -com toda a sinceridade -  aquilo que vêem, ouvem, etc. e as descrições, normalmente, não são coincidentes, por vezes mesmo profundamente contraditórias entre si. A realidade não pode ser «matéria de consenso entre pares», entre testemunhas do mesmo fenómeno. 
O que origina as ondas (sejam electromagnéticas, sejam doutro tipo) existe, ou pode existir, como entidade independente do(s) observador(es). Porém, a interacção das ondas referidas com as «máquinas de captação do sinal» (sejam elas órgãos dos sentidos, sejam máquinas colocadas para detectar o referido sinal) não existe - obviamente - na ausência de detectores. 
A questão, debatida longamente durante séculos, se a realidade é ou não exterior ao observador, se persiste quando o observador não está, ou se manifesta na ausência de um ser que capte a informação emitida pelo objecto, parece-me obsoleta, num certo sentido. Parece-me permanecer como formulação defeituosa do modo como descrevemos o percurso da informação, desde os referidos objectos até à mente: 
Se a captação do sinal é que é - no final de contas - a «sensação», necessariamente ela supõe a presença do ser capaz de realizar tal captação. 
Afinal de contas, será impossível uma captação «objectiva», pois o sinal, mesmo quando captado por máquinas, não é mais do que uma tradução, seguida de interpretação. Haverá sempre perda de informação de um suporte (ou tipo de vibração), na passagem para outro. Além disso, no outro extremo existe sempre alguém, aquele que obtém e interpreta os dados registados pela máquina. 

A análise do problema leva-me a formular a hipótese que se pode referir como «Realismo Não-Ingénuo». Assumo que estejamos - afinal de contas - a teorizar, explicita ou implicitamente, o seguinte:
- Temos uma teoria sobre a emissão de energia dos corpos, sobre as ondas, de vária natureza, intensidade e comprimento que atravessam o espaço
- Temos uma teoria sobre a captação das mesmas ondas pelos órgãos dos sentidos, o mesmo é dizer descrição fisiológica dos órgãos e fenómenos da sensação.  
- Temos uma teoria sobre a maneira como o nosso cérebro,  o nosso «eu», constrói uma informação, partindo da impulsão do exterior, mas que não é só isso. Por outras palavras, não é o mero impulso nervoso que conduz o sinal da referida informação, vinda de fora, é muito mais que isso.

Nada mal! ... Se o leitor tiver estas referidas teorias bem arrumadas, ao efectuar a sua abordagem sobre os fenómenos da mente e da interacção desta com o «mundo», com «a realidade». São imensamente complexas e dinâmicas, as áreas da ciência cujos resultados participam na elaboração das referidas teorias.

Pessoalmente, prefiro dizer que não possuo teorias nenhumas sobre os referidos aspectos da questão. 
Quanto muito, vou captando algumas «dicas», aqui e ali, em artigos científicos, que eventualmente permitirão que especialistas elaborem teorias novas, ou melhorem as existentes. 
Fico contente, pois assim o meu pensamento é enriquecido por tais contributos.   

terça-feira, 17 de julho de 2018

CESÁRIA ÉVORA - «SODADE»


DOCUMENTÁRIO SOBRE A FLOTILHA DA LIBERDADE DE GAZA


                       A verdade: perdida no mar  Projecção e debate com o Realizador
http://www.fabricadealternativas.pt/events/a-verdade-perdida-no-mar-projeccao-e-debate-com-o-realizador/


Projecção e debate com Rifat Audeah, realizador e sobrevivente do Mavi Marmara.

Hora: 19:00 horas, 
Quinta dia 19 de Julho de 2018

R. Margarida Palla 19A, 1495-143 Algés

19:00 - 23:00
                           A Verdade: perdida no mar                                                 
  • Sinopse:Em 2010, um grupo de activistas e cidadãos preocupados de dezenas de países reuniram-se e trabalharam contra algumas das mais fortes potências do mundo para aliviar o sofrimento de outros seres humanos do outro lado do mundo. As chances pareciam intransponíveis.
  • Eles uniram-se para lançar a Flotilha da Liberdade, um comboio de navios civis humanitários com o objectivo de destacar o sofrimento dos palestinianos na Faixa de Gaza bloqueada ilegalmente, quebrar  o bloqueio e aliviar a situação do povo de lá. Israel atacou a Flotilha à noite no Mar Mediterrâneo, matando dez activistas e ferindo e aprisionando centenas de participantes internacionais.
  • Este evento histórico transformou-se numa batalha pelos corações e mentes do mundo.
  • Filmado a bordo da Flotilha da Liberdade, narrado por um de seus sobreviventes e acompanhando a cobertura dos média que se seguiu, “A Verdade: Perdida no Mar” revela como a marinha israelense atacou os navios civis em águas internacionais e como os activistas mortos e seus camaradas que defendiam suas embarcações foram tratados no rescaldo.
  • O filme conta a história dos preparativos e lançamento da flotilha, com cidadãos preocupados de todo o mundo unindo-se numa viagem de mudança de vida para aliviar o sofrimento de estranhos num mundo à parte. O documentário mostra o ataque israeliano à flotilha, com as duas imagens que foram transmitidas e outras que foram contrabandeadas dos navios, e analisa as alegações dos porta-vozes israelenses. Essas alegações são justapostas com a história e as declarações dos sobreviventes antes, durante e depois do ataque, incluindo algumas imagens nunca antes vistas a bordo das embarcações antes do ataque.
  • “A Verdade: Perdida no Mar” revela o grande contraste entre o que realmente aconteceu e como foi divulgado nos meios de comunicação tradicionais e online, resultando na perpetuação da impunidade pelos crimes cometidos.                                                                             
  • Após o debate há jantar com marcação prévia obrigatória para fabricadealternativas@gmail.com

domingo, 15 de julho de 2018

FRONTEIRA BRASIL - VENEZUELA: A VAGA DE REFUGIADOS CRESCE


O colapso total da economia venezuelana não deixa a muitas famílias outra opção, senão fugir do país, muitas vezes a pé, em condições dramáticas.

sábado, 14 de julho de 2018

NÃO EXISTE MEDO MAIOR PARA OS GLOBALISTAS DO QUE A PERSPECTIVA DE PAZ

Basta ter escutado a ladaínha da media ao serviço dos grandes interesses globalistas, a propósito da caminhada de pacificação entre os EUA e a Coreia do Norte para se perceber que, de facto, o que eles mais temem é a paz. 
A paz tem muitos inconvenientes para os aspirantes a gestores da nova ordem mundial, do governo global, supostamente a mais benigna supervisão (para não dizer ditadura) dos assuntos internacionais pela benévola,  indispensável e democrática entidade...
De facto, o Presidente Trump, não sendo um subversivo da ordem mundial, representa um conjunto de interesses contrários - nos EUA - a uma ordem mundial globalista, que foi muito fielmente servida por Obama e Hillary Clinton. 
O que se tem vindo a revelar como um golpe de teatro de que ele é especialista, foi a sua atitude ameaçadora aos parceiros da NATO, dizendo aos outros países ou pagam mais ou então... Por um lado, por outro, desenvolvendo toda uma série de acordos discretos sobre a retirada das tropas estrangeiras na Síria, principalmente o arranjo de que as forças anti-Assad iriam ser abandonadas em troca da garantia dos russos de que conseguiam convencer o seu aliado sírio a dispensar o auxílio do Irão. Este, por seu turno já afirmou publicamente que no momento em que o governo sírio manifestar o desejo de ver partir os «conselheiros» iranianos estes assim o farão sem demora. Se tal vier a concretizar-se, o exército israelita permitiria reocupação pelo exército sírio da zona adjacente do território sírio dos montes Golã, ocupado por Israel desde a guerra de 1967. 
Esta será, sem dúvida, uma das questões cujos pormenores serão debatidos na cimeira de Helsinquia. 
Outro dos assuntos tem a ver com a instável e insustentável situação da Ucrânia. O regime não tem capacidade de se auto-sustentar. Tem violado consistentemente os acordos de Minsk, deitando sempre as culpas para os «russos» e as repúblicas separatistas do leste. O Ocidente todo está farto e saturado desta situação. Do lado alemão já houve um levantar da ponta do véu, adiantando que os países ocidentais poderiam levantar as sanções contra a Rússia, se houvesse um acordo geral sobre a Ucrânia, no qual haveria o reconhecimento da reentrada da Crimeia na Federação Russa (da qual foi arbitrariamente separada, e oferecida à Ucrânia, então uma das repúblicas soviéticas, durante o consulado de Krutchov- um ucraniano - em 1954). Penso que a contrapartida seria a aceitação pela Rússia do estacionamento de tropas da NATO na Ucrânia ocidental, até se chegar a uma solução negociada dos territórios separatistas do Leste (Lugansk e Donetsk). 
A resolução de grandes questões estratégicas e de segurança, envolvem muito mais pontos, havendo interesse de um e outro lado em trazer para casa resultados tangíveis, mais do que belas palavras e fotos conjuntas dos dois presidentes a apertarem as mãos. 
Porventura, os mais significativos passos poderão ser a consequência do restabelecimento dos canais de diálogo permanente entre as duas potências, cuja ausência tem afectado negativamente as relações Russo-Americanas. 
Veja-se, a este propósito, a esclarecedora entrevista dada pelo ministro dos negócios estrangeiros Lavrov, a Larry King, de RT:



quinta-feira, 12 de julho de 2018

EVOLUÇÃO HUMANA: «OUT OF AFRICA»... OU «OUT OF ASIA»?

                                    


As escavações no planalto central da China, em Shangchen, têm revelado instrumentos de pedra como o da foto acima, cujas datações indicam idades de mais de dois milhões de anos. 
Os 96 objectos até agora encontrados, junto com fragmentos de ossos de antílope, porco e veado, mostram que os homininos - membros do género homo que antecedem o aparecimento da nossa espécie - já ocupavam a China, mais de 250 mil anos antes do que anteriormente se pensava. 
Com efeito, os restos de homininos mais antigos, até agora encontrados na China e Indonésia, tinham cerca de um milhão e 500 mil a um milhão e 700 mil anos. 

                            Lantian Man hominin

Ao fazer-se recuar a presença de homininos na Ásia para uma data não inferior a 2 milhões e cem mil anos atrás, está-se perante uma data de saída de África muito recuada. 
Os primeiros homininos surgiram há 2 milhões e 800 mil anos na Etiópia. Os mais antigos restos de Homo erectus, até agora encontrados fora do continente africano, em Dmanisi na Geórgia, são mais recentes que dois milhões de anos. 
Isto implica que a presença de Homo erectus (ou seus antecessores) no continente asiático, se deve considerar muito precoce. De tal maneira, que se vê reforçada a hipótese de homininos terem evoluído na Ásia durante um período longo e depois, terem regressado ao continente africano. 
A favor desta tese, pode alegar-se o muito grande intervalo de tempo durante o qual a espécie Homo erectus esteve nas várias partes da Ásia. Isso trouxe diferenças morfológicas, «raças» identificáveis pela variação anatómica de fósseis, assim como adaptações ecológicas importantes. Dmanisi trouxe a revelação (através dum número de indivíduos sem precedentes, no que toca a restos fósseis desta época), da enorme variabilidade intra-grupo. 
Agora, vemos que os homininos na Ásia tinham já uma grande capacidade de adaptação a várias condições geográficas, como provam as  descobertas de Shangchen, a qual está situada mais ou menos no mesmo paralelo que Kabul. Isto significa que no Inverno a temperatura é muito baixa, o que implica uma capacidade de fabricar abrigos e roupas quentes. 
A paleoantropologia está permanentemente em mutação, ao ponto de aquilo que ontem era considerado fantasista, a recolonização de África por homininos que se tinham diferenciado ao longo de milénios na Ásia, tem hoje um alto grau de verosimilhança. 


quarta-feira, 11 de julho de 2018

JÁ SAIU O NÚMERO DE VERÃO 2018, DOS «CADERNOS SELVAGENS»

Mais um número dos «Cadernos Selvagens», o órgão da Fábrica de Alternativas. 
Haverá uma sessão de apresentação na próxima Sexta-f. 13 de Julho (o que prova que não somos supersticiosos!).
Venham ouvir e partilhar com vários autores deste número dos «Cadernos», em Algés, na sede da Fábrica de Alternativas às 19h, na próxima Sexta-f. (R. Margarida Palla 19A, 1495-143 Algés).
Depois do jantar, irá falar-se sobre a situação da Flotilha pela liberdade de Gaza, que temos apoiado.

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SUITES PARA CRAVO DE HAENDEL, NO CRAVO E NO PIANO

                          
Oiça-se em primeiro lugar uma interpretação magistral de Scott Ross. Para mim, é uma referência imprescindível. As gravações das mesmas peças, por Kenneth Gilbert, continuam ser outra referência fundamental, embora mais antiga.

Em baixo, a versão ao piano por Gavrilov, da belíssima suite em Sol menor, que termina com uma Passacaille muito célebre

                        

Se interpretadas com inteligência e sensibilidade, as versões ao piano de peças para cravo, podem ser extremamente agradáveis. Temos, porém consciência de que estamos a ouvir uma adaptação, uma transcrição, pois as exigências interpretativas no piano obrigam a escolhas diversas das do cravo. 
Além do mais, o cravo não permite uma variação de volume instantânea, possível no fraseado ao piano. Por outro lado, o piano tem basicamente a mesma sonoridade, enquanto os diferentes registos e os dois teclados (comuns nos cravos a partir do século XVIII) permitem variação do timbre entre peças e dentro de uma mesma peça, no cravo.

A musicalidade e o gosto é que decidem: Gavrilov é um dos grandes a adaptar com perfeito gosto este reportório. 
Também Grigori Solokov ou Alexandre Tharaud, entre outros, têm incluído peças de reportório do cravo nos seus recitais e discos.

terça-feira, 10 de julho de 2018

«SE QUERES A PAZ...PREPARA A GUERRA» (?)

Inquietante, esta reportagem de James Corbett. Ele está radicado no Japão e tem seguido a par e passo as movimentações das grandes potências no Extremo-Oriente.

                                         

A ameaça de uma guerra a quente entre a China e os EUA já era evidenciada no documentário do grande jornalista John Pilger, «A guerra anunciada com a China», divulgado neste blog, em Dezembro de 2016.

Agora esta ameaça torna-se mais perigosa, com a guerra comercial com a China, iniciada por Trump, enquanto paralelamente ameaça o Irão. 
O presidente Rouhani terá dito que o estreito de Ormuz é «para todo o petróleo circular... ou para nenhum». 

Será que, perante uma colossal dívida, certos elementos da administração dos EUA, estão a fazer tudo para desencadear uma guerra? 
Como não poderão evitar um colapso económico, esperam desviar as atenções com uma guerra. 
Além disso, tentarão convencer o povo americano que a situação é causada pelos seus inimigos.

segunda-feira, 9 de julho de 2018

CONTAS PÚBLICAS NOS EUA - A CATÁSTROFE APROXIMA-SE

Comento algumas tabelas e gráficos, abaixo, que ilustram o artigo de Egon Von Greyerz

A tabela abaixo faz o historial dos balanços entre as colectas de impostos e os défices federais, desde 1981. Note-se o comportamento exponencial dos défices, enquanto as receitas têm um crescimento linear modesto, no melhor dos casos. 

                 

A dívida federal vai-se acumulando de maneira insustentável. Tenha-se em conta o facto de que a dívida tem sido colmatada com empréstimos obrigacionistas, as «treasuries», sendo que estas obrigações soberanas recebem juros, os quais são inscritos no orçamento federal. Em pouco tempo, o montante dos juros será superior às receitas dos impostos. 


Von Greyerz vê como provável que a dívida atinja o valor de 40 triliões de dólares, em 2025. 

Costuma-se apontar as mazelas europeias, mas a imposição dos programas de austeridade da União Europeia e a política do Banco Central Europeu estão a anular os défices, estão a conseguir controlar as contas públicas (apesar da Grécia, de Espanha, de Itália) 
... Por contraste, o défice dos EUA vai-se acentuando, sendo notória, no gráfico seguinte, a divergência entre os EUA e a UE.

                                                                      








Claro, existe o Deutsche Bank, um banco privado alemão, com uma internacionalização tal que faz dele o maior banco europeu e um dos maiores bancos mundiais: tudo indica que, ao mínimo abanão no sistema, o DB irá dar um grande trambolhão. 
Abaixo, a evolução do valor das acções do DB, em sobreposição com  a evolução do Lehman.


Não existe nenhum pedaço «saudável» na economia de casino ocidental... O colapso do DB será ressentido em todo o mundo como o de um «novo Lehman Brothers», com efeitos em todo o sistema financeiro mundial.                      

É impossível fazer o «bail in» ou «bail out» («resgate interno» ou «resgate externo») de um monstro deste tamanho. Tem activos com dimensão equivalente a 50% do PIB alemão e uma carteira de derivados de 14 vezes o mesmo PIB!


sábado, 7 de julho de 2018

AFINAL DE CONTAS... A ENERGIA É QUE CONTA!

No calor do Verão, espero que encontrem prazer em ler 2 excelentes artigos: 
- e o outro «As tarifas são ponto de partida para cinquenta anos de guerra comercial com a China», ambos publicados no Asian Times, de autoria de Pepe Escobar.


Ambos os artigos têm muita informação significativa, recorrem a fontes sérias, mas sobretudo, dão-nos uma perspectiva de como realmente, independentemente da retórica e da propaganda, se vão desenhando novas alianças e desfazendo antigas, dadas como certas... 
É o caso da Rússia e Arábia Saudita no primeiro caso  e no segundo, a dissolução da «solidariedade entre aliados», europeus e não só, nada felizes com as sanções contra o Irão, tendo já mostrado que não estão pelos ajustes.
Antes, a Alemanha também tinha manifestado que não estava disposta a aceitar que o Nord-Stream, o fornecimento de gás russo ao norte a Alemanha, por um gasoduto subaquático no Báltico,  fosse  boicotado, com a tentativa pelos EUA em fazer gorar este investimento fundamental para a indústria germânica.       
Muito significativo é o «não» turco em aderir às sanções contra o Irão; este fornece 50% do petróleo consumido na Turquia. 
Basta ter em conta esta situação, para se perceber muitos factos diplomáticos, económicos e militares ocorridos nos últimos tempos, na região.  
O caso da Coreia do Sul e do Japão, em relação às sanções contra o Irão, também é significativo. Vão pedir a suspensão das sanções para o seu comércio alegando a necessidade estratégica do abastecimento do petróleo iraniano aos seus países.
 Não esqueçamos que os EUA ameaçaram impedir quaisquer actividades no território dos EUA, às firmas que participassem em negócios com o Irão.  

Finalmente, percebemos que o «fracking» é um enorme fiasco, tecnológico e económico, além de obviamente um crime ambiental. 

               OECD, Russian oil graphic

Quanto às tarifas comerciais; o presidente dos EUA parece pouco preocupado com uma capacidade produtiva interna muito pouco sólida. 

No mundo de hoje, o lema «América First»     só pode fazer sentido em paralelo com uma abertura e capacidade diplomática de encontrar parcerias e não fazer mais inimigos e «torcer o braço» a súbditos. 
A Rússia de Putin e a China de Xi-Jin-Pin sabem fazer isso: estes dirigentes põem claramente em primeiro lugar o interesse dos seus respectivos países... A arrogância imperial americana é que ainda não o compreendeu, verdadeiramente.
Ou pelo menos, se ao nível do «entourage» mais próximo do Presidente, alguns terão esse entendimento, parece que não será o caso dos que ainda dominam as duas facções democrata-republicana do partido «único» no Senado e Congresso, assim como o «Estado Profundo», ou seja, as entidades cinzentas, mas com poder dentro da CIA, o Dep. de Estado, o Pentágono e outros locais de poder do Estado. 
                          
As guerras físicas começam, muitas vezes, com guerras económicas. O arsenal económico - as sanções, os bloqueios, os boycotts - pode ser tão ou mais letal, que balas e bombas. 
No caso da guerra comercial dos EUA contra a China, creio que se trata de um enorme erro, de um erro derivado da hubris, a auto-confiança excessiva que se apodera dos vencedores e os faz cometer erros fatais. 
Quem depende de quem? Os EUA não têm possibilidade de ir comprar noutros mercados muitos dos produtos manufacturados na China. Não têm possibilidade técnica, nem económica, de suprir as suas necessidades em produtos manufacturados, senão num prazo de anos pois houve uma grande desindustrialização nos EUA  nos últimos 30 anos, sendo impossível restabelecer esta base senão em anos...4, 5 ou até 10 anos, no mínimo! 
Mesmo a «menina dos olhos» dos globalistas, a indústria do armamento, precisa de importar da China «terras raras» para ligas metálicas especiais, para aviões de combate, mísseis, etc. 
Ora a China é um dos poucos fornecedores mundiais de «terras raras» (esses elementos necessários em quantidades muito pequenas, mas insubstituíveis), tal como a Rússia e a Coreia do Norte...

Esta guerra das tarifas, não irá -de certeza- traduzir-se num dobrar da cerviz da China; portanto estamos a assistir, neste Verão, à  viragem para um novo ciclo geoestratégico, que poderá durar muitos anos. As coisas podem apresentar-se de múltiplas maneiras, mas para o poderio dos EUA, o desfecho é inelutável. Esse desfecho é a perda de seu papel hegemónico, a perda de influência no Mundo. 
Os governos - até agora - aliados dos EUA estão inquietos e querem dissociar-se do rumo que as coisas estão a tomar.