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terça-feira, 30 de janeiro de 2024

SCOTT RITTER SOBRE EUA-ISRAEL E A GUERRA NO MÉDIO ORIENTE


 Danny Haiphong recebe Scott Ritter: Desenrola-se uma troca absolutamente esclarecedora sobre os termos em que a guerra no Médio Oriente é levada a cabo, quer por israelitas, americanos , países da OTAN, quer pelos Houthis do Iémen, pelo Hezbollah do Líbano, as milícias do Hamas, que põem em cheque as tropas de Israel em Gaza e todo o eixo de Resistência, que está coordenadamente a levar a cabo uma guerra em múltiplas frentes, face ao poder enfraquecido dos EUA. Não é tomar os desejos pela realidade, é antes a realidade que se impõe, desfazendo as sucessivas narrativas enviesadas da media mainstream ocidental. Os americanos e os sionistas seus aliados estão a receber um castigo que se designa por «morte por mil feridas»: cada ferida não é mortal por si, mas o sangramento no total é tão grande que acabam por morrer. É isto que se está a passar, mas os loucos neocons e sionistas não têm a mínima ideia de como combater numa guerra destas. Como diz Scott Ritter, eles só são capazes de fazer coisas estúpidas e causarem a morte (inútil) dos seus soldados.

segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

CRÓNICA (Nº23) DA III GUERRA MUNDIAL: Quando os Erros se Sucedem

    Localização do ataque à base americana «Tower 22» ver artigo em Zero Hedge

Em certos momentos, a classe no poder fica demasiado desorientada. É nestas ocasiões - que se podem verificar em diversas épocas históricas - que os poderes dirigentes são levados a fazer erro sobre erro. As tomadas de decisão desastrosas conduzem a um agravamento da situação, o que leva a que tomem medidas mais e mais brutais, mais e mais desesperadas, para assegurar o domínio sobre os adversários.
Nós estamos a verificar agora, no caso das guerras declaradas e não declaradas dos EUA e seus aliados,  uma sucessão catastrófica de erros, que apenas resultam no enfraquecimento da posição global destes, em relação às nações que ainda ontem eram aliadas do Império, ou que não o sendo, tentavam evitar o confronto direto, para não sofrer o peso esmagador das sanções, da subversão e da guerra, pela potência hegemónica.
Uma característica sobressai dos fracassos, quer de israelitas (nomeadamente, no 7 de Outubro passado), quer dos EUA e vassalos da OTAN: A excessiva confiança nos sistemas automatizados de controlo, deteção e riposta, quer no cenário de Gaza, quer no cenário da base americana (ilegal) «Tower 22» na fronteira jordano-síria. O ataque com drones a esta última base, por milícias xiitas baseadas no Iraque, foi bem sucedido porque as defesas aéreas automáticas que defendiam a base não funcionaram. Já em Outubro os militantes palestinianos conseguiram inativar os sistemas de monitorização e desencadear um ataque para fora do perímetro de Gaza, fortemente vigiado. Neste caso, também os sistemas automáticos de resposta não funcionaram. Nos subsequentes ataques com mísseis, quer no lado do Sul (HAMAS), quer do Norte (HEZBOLLAH), a chamada «Cúpula de Ferro» (iron dome), o sistema israelita de deteção e contra-ataque com misseis teleguiados que - supostamente - iria neutralizar os mísseis e drones que se aproximassem, também não funcionou com a eficácia que lhe era creditada. Os americanos decidiram punir o Iémen, em retaliação dos ataques dos Houthis contra navios da frota de guerra dos EUA, estacionados na entrada do Mar Vermelho. Este ataque não causou danos significativos ao dispositivo de mísseis dos Houthis: Menos de 24 h depois do ataque americano, eram disparados pelos Huthis salvas de mísseis em direção a navios de carga e de guerra americanos e aliados.
No Tribunal Internacional de Justiça (um órgão da ONU) Israel foi condenado em termos nada ambíguos como autor de massivas e flagrantes violações dos direitos humanos e das convenções internacionais de proteção dos civis, em tempo de guerra (convenções de Genebra). Mas, não só Israel, também o governo americano, desprezaram esta sentença, mostrando - mais uma vez - o que os imperialistas entendem por «respeito pela ordem internacional baseada em regras»: Não se trata da obediência ao direito internacional, mas sim da submissão aos interesses dos EUA.  A organização de apoio aos refugiados UNRWA, um organismo da ONU, foi-lhe seguidamente interrompido o financiamento, sob pretexto de que alguns (poucos) trabalhadores* deste organismo, em Gaza teriam alegadamente (sob tortura) confessado terem laços com o Hamas. Que este gesto dos poderes ocidentais apareça como vingança torna-se patente, pelo «timing» em que se ocorreu essa interrupção do financiamento: dias após a sentença do TIJ, mas semanas após terem sido conhecidas as alegadas ligações.
Veja-se, desde 2001, o percurso catastrófico das guerras no Médio-Oriente (Afeganistão, Iraque, Líbano, Síria Israel/Palestina), da guerra na Ucrânia, das provocações ao largo de Taiwan (legalmente e internacionalmente reconhecido como território chinês, não esqueçamos) e a intensificação da agressividade da potência que pretende ser hegemónica. Apesar deste crescendo, a sua posição estratégica global só diminuiu. 

                               Bases americanas na Ásia Ocidental

A guerra económica, com sanções, embargos, boicotes, tarifas punitivas, arresto de ativos financeiros e - mesmo - o confisco puro e simples destes, foi brutal, deitou abaixo muitas relações construtivas que se tinham tecido no pós-Guerra Fria. Isto conduziu à derrota do Ocidente, em termos da economia produtiva e  - claramente - a favor dos «inimigos», a Rússia, a China e outros. Ou seja, os EUA e restantes membros da OTAN, essencialmente, perderam em termos económicos, com as sanções e outras formas de guerra económica, que tomaram a iniciativa de desencadear. 
Há quem diga que os BRICS não precisam de tomar uma iniciativa agressiva contra a OTAN, basta se auto-desenvolverem, estreitarem laços de cooperação com projetos comuns entre eles e com outros, que queiram participar. Os tresloucados dirigentes ocidentais vão continuar a dar tiros nos pés, a se autopunirem, num jogo macabro e inútil, pois eles não podem já ditar as leis na arena internacional. Já estão completamente desmascarados; ninguém os vê como defensores da legalidade internacional. Agora, a verdade sobressai em todos os planos e ao nível global: São os EUA e os seus aliados (OTAN, Israel e alguns outros países aliados), quem estão - em permanência - fora da legalidade internacional; que não acatam resoluções da ONU, nem os veredictos de tribunais internacionais, quando lhes são desfavoráveis; são eles que multiplicam as ações de provocação, com o perigo destas induzirem o alargamento dos conflitos até ao nível global.
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NB:
* «That a dozen or less of the 30,000 UNRWA worker were probably involved in the October 7 events was known for weeks» Citado em MoA



                             DESENHO HUMORÍSTICO DE JOHN HELMER


Dois excelentes e detalhados artigos relativos às situações que enunciei acima, por John Helmer, e «Moon of Alabama»:


Este meu artigo acima, vem atualizar o ensaio em duas partes «As Quatro Fragilidades do Império»:
 



quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

OTAN VAI DIRIGIR A OPERAÇÃO NO MAR VERMELHO CONTRA OS HUTHIS

 Veja o vídeo de entrevista a Thierry Meyssan, pelo «Courrier des Stratèges»:

                                           [TEM LEGENDAS AUTOMÁTICAS EM FRANCÊS]

Consulte o artigo de John Helmer «RUNNING THE RED GAUNTLET» sobre a guerra em alastramento no Mar Vermelho (estreito de Bab el-Mandeb)
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PS1 (22/12/2023): A instabilidade parece acentuar-se com a entrada em cena de navios de guerra  iranianos, chineses, russos e indianos; face a uma anunciada força naval liderada por americanos e OTAN:

PS2 (23/12/2023): Uma hipócrita resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas foi aprovada. Israel poderá continuar negar o auxílio humanitário  à população palestiniana de Gaza, com a consequência de fome devastadora e epidemias:  https://www.youtube.com/watch?v=IT0yW6kS3Uo

PS3 (23/12/2023): Espetacular fracasso dos EUA em juntar os seus países aliados, da OTAN e outros, na missão no Mar Vermelho. Vejam esta notícia, abaixo. Na realidade, isto é uma autêntica bofetada no poder hegemónico:

PS24/12/2023: A brilhante iniciativa estratégica dos houthis, no estreito que controla o Mar Vermelho, vem mostrar aos EUA, que os aliados da OTAN (França, Itália, sobretudo Espanha...) não estão disponíveis para se queimarem, para defender Israel. Sobretudo, não estão interessados em entrar em conflito com o Irão. Isto quer dizer que o panorama internacional mudou - qualitativamente - com o alargamento dos BRICS. Será o início do fim da OTAN.
https://johnhelmer.net/honey-trap-for-israelis-and-americans-in-the-red-sea/#more-89104

quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

Transferência forçada de habitantes de Gaza é um crime contra a humanidade

Recopiado de : https://consortiumnews.com/2023/12/13/forcible-transfer-of-gazans-is-a-crime-against-humanity/

O tendencioso procurador-chefe do Tribunal Penal Internacional condena o Hamas mas ignora os crimes atrozes de Israel, escreve Marjorie Cohn.

Tribunal Penal Internacional, Haia, na Holanda, 2017. (jbdodane, Flickr, CC BY-NC 2.0)

Por  Marjorie Cohn
http://throuth.out/

Desde os ataques de 7 de Outubro perpetrados pelo Hamas, que mataram 1.200 pessoas em Israel, as forças de ocupação israelitas mataram mais de 17.000 palestinianos, mais de 7.000 dos quais crianças, e feriram mais de 46.000.

Perto de 1,9 milhões de pessoas – cerca de 85 por cento da população de Gaza – foram forçadas a fugir das suas casas e a espremer-se em cerca de um terço da Faixa de Gaza.

A grande maioria das pessoas em Gaza foi deslocada e está à beira da fome.

Em 13 de Outubro, em antecipação à sua invasão terrestre em Gaza, Israel ordenou que 1,1 milhões de palestinianos no norte de Gaza evacuassem para o sul no prazo de 24 horas. Embora esse fosse um prazo impossível de cumprir, metade da população de Gaza foi transferida à força em resposta à ordem de evacuação. Depois, as forças israelitas bombardearam o norte, atingindo casas e hospitais. Grande parte da área foi reduzida a escombros.

“É inconcebível que mais de metade da população de Gaza possa atravessar uma zona de guerra activa, sem consequências humanitárias devastadoras, especialmente enquanto privada de fornecimentos essenciais e serviços básicos”, afirmou Paula Gaviria Betancur, relatora especial para os direitos humanos das pessoas deslocadas internamente. em 13 de outubro.

Israel ordenou que os moradores de Gaza no sul evacuassem em 3 de dezembro. Mas não há para onde ir. As passagens da fronteira israelita estão fechadas e a passagem de Rafah, a partir do Egipto, está fortemente restringida. Muitas pessoas dormem nas ruas e nas calçadas. “Imagens de Gaza em [dez. 3] mostrou nuvens de fumaça escura subindo acima de uma paisagem coberta de escombros e crianças ensanguentadas chorando em enfermarias de hospitais cobertas de poeira”, de acordo com uma reportagem do New York Times . “Os enlutados estavam ao lado de fileiras de corpos envoltos em lençóis brancos.”

“De acordo com o direito humanitário internacional, o local para onde se evacuam as pessoas deve, por lei, ter recursos suficientes para a sua sobrevivência – instalações médicas, alimentos e água”, disse o porta-voz do Fundo das Nações Unidas para a Infância, James Elder, numa entrevista ao Times . “Esse não é absolutamente o caso. São esses pedaços de terreno árido, são ruas ou esquinas ou qualquer espaço de um bairro, prédios semiconstruídos. O que têm em comum é não ter água, não ter instalações, não ter abrigo contra o frio e a chuva e, particularmente, não ter saneamento.”

O coordenador de ajuda de emergência da ONU, Martin Griffiths, disse que a campanha militar israelense criou condições “apocalípticas” e encerrou operações humanitárias significativas. “Esta é uma situação apocalíptica agora, porque estes são os restos de uma nação que está sendo empurrada para um bolsão no sul”, observou Griffiths.

Crime contra a humanidade, crime de guerra e genocídio

O Estatuto de Roma para o Tribunal Penal Internacional (TPI) enumera a transferência forçada de população como um crime contra a humanidade “quando cometida como parte de um ataque generalizado ou sistemático dirigido contra qualquer população civil, com conhecimento do ataque”. As forças israelitas montaram um ataque generalizado e sistemático contra os civis em Gaza.


A transferência forçada ao abrigo do Estatuto de Roma “significa a deslocação forçada das pessoas afetadas por expulsão ou outros atos coercivos da área onde estão legalmente presentes, sem motivos permitidos pelo direito internacional”. Não há qualquer justificação legal ou moral para Israel deslocar à força 85 por cento da população de Gaza.

O Estatuto de Roma também classifica a “transferência de toda ou parte da população do território ocupado para dentro ou para fora deste território” como crime de guerra.

Além disso, a transferência forçada pode constituir o crime de genocídio nos termos do Estatuto de Roma. Consistente com a Convenção do Genocídio , o Estatuto de Roma classifica “Infligir deliberadamente ao grupo condições de vida calculadas para provocar a sua destruição física, no todo ou em parte” como genocídio quando feito com intenção genocida.

Numerosas declarações de responsáveis ​​israelitas demonstraram a sua intenção de cometer genocídio através da limpeza étnica de toda ou parte da população de Gaza. Eles prometeram “eliminar tudo em Gaza” e transformá-la numa “cidade de tendas”.

Além disso, as transferências forçadas “de pessoas protegidas do território ocupado para o território da Potência Ocupante ou para o de qualquer outro país, ocupado ou não, são proibidas, independentemente do seu motivo” pela Quarta Convenção de Genebra Relativa à Protecção de Pessoas Civis. Pessoas em tempos de guerra .

O Estatuto de Roma também considera o crime de extermínio um crime contra a humanidade “quando cometido como parte de um ataque generalizado ou sistemático dirigido contra qualquer população civil, com conhecimento do ataque”. O extermínio, de acordo com o estatuto, “inclui a imposição intencional de condições de vida… a privação do acesso a alimentos e medicamentos, calculada para provocar a destruição de parte de uma população”. Em 9 de Outubro, o governo israelita escalou o seu cerco de 16 anos a Gaza para um “cerco completo”, massacrando civis e cortando-lhes alimentos, água, combustível e electricidade.

Nakba 2.0

Em 1948, Israel levou a cabo a Nakba (ou “catástrofe”), uma violenta campanha de limpeza étnica de 750.000 palestinianos das suas terras, a fim de criar o Estado de Israel. Atrocidades em massa e dezenas de massacres mataram cerca de 15 mil palestinos. A Nakba causou o deslocamento forçado de 85% da população palestina.

Israel está a repetir a Nakba de há 75 anos. “Estamos agora a implementar a Nakba de Gaza”, declarou Avi Dichter, membro do gabinete de segurança israelita e Ministro da Agricultura, no dia 11 de Novembro . “Gaza Nakba 2023. É assim que tudo vai acabar.”

A Nakba de hoje já ultrapassou a limpeza étnica da Palestina em 1948, com 85 por cento dos habitantes de Gaza deslocados e mais de 17 mil palestinianos já mortos. Israel não dá sinais de acabar com o seu ataque ao povo palestiniano e esses números aumentam todos os dias.

O preconceito flagrante do chefe do TPI sobre Israel

O procurador-chefe do TPI, Karim Khan, em Bruxelas com os ministros das Relações Exteriores da UE, que incluiu a investigação de crimes de guerra na Ucrânia, 11 de abril de 2022. (Raoul Somers/Departamento de Estado holandês, CC BY-SA 2.0, Wikimedia Commons)

O TPI não conseguiu investigar de forma significativa os líderes israelitas pelos seus crimes ao abrigo do Estatuto de Roma.

Em 2021, a então Procuradora-Geral do TPI, Fatou Bensouda, anunciou a abertura de uma investigação formal sobre crimes de guerra cometidos na Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental, e na Faixa de Gaza, durante e desde a “Operação Margem Protetora”, o ataque de Israel a Gaza em 2014. que matou 2.251 palestinos.

Depois de realizar um exame preliminar de cinco anos, Bensouda encontrou uma base razoável para acreditar que as autoridades israelitas tinham cometido os crimes de guerra de assassinato intencional, causando deliberadamente ferimentos graves, uso desproporcional da força e transferência de israelitas para o território palestiniano.

Bensouda determinou que havia também uma base razoável para investigar possíveis crimes de guerra cometidos por palestinianos, incluindo ataques intencionais contra civis, utilização de civis como escudos humanos, homicídios dolosos e tortura.

Mas, apesar da investigação de sete anos sobre “a situação na Palestina”, o TPI não fez nenhum progresso significativo no sentido de responsabilizar criminalmente os líderes israelitas.

Há também um flagrante duplo padrão no tratamento que o TPI dá às situações na Ucrânia e na Palestina. Em Março, um ano após a invasão da Ucrânia pela Rússia, o actual Procurador-Geral do TPI, Karim Khan, anunciou que a câmara de pré-julgamento tinha emitido um mandado de prisão para o Presidente russo, Vladimir Putin, por crimes de guerra na Ucrânia.

Khan, segundo a partir da direita, com, a partir da esquerda: o Comissário Europeu para a Justiça inglês, Didier Reynders, o Ministro das Relações Exteriores da Holanda, Woke Hoekstra, e a Procuradora-Geral da Ucrânia, Iryna Venediktova, em uma conferência de imprensa em Haia, Holanda, em 22 de julho de 2022. (Ministerie van Buitenlandse Zaken – Wikimedia Commons, CC BY-SA 2.0)

Craig Mokhiber é um antigo advogado internacional de direitos humanos que renunciou ao cargo de diretor do Escritório de Nova York do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos devido ao fracasso da ONU em abordar o que ele chamou de “caso clássico de genocídio” que ocorre em Gaza. Ele caracterizou a diferença entre o tratamento dado pelo TPI à Palestina e à Ucrânia como “uma inconsistência impressionante”.

Em 3 de dezembro, Khan visitou Israel e Ramallah, na Cisjordânia ocupada. Ele emitiu uma declaração condenando o Hamas pela sua “violação flagrante dos princípios fundamentais da humanidade através da captura e manutenção continuada de crianças”. Ele também lamentou “o aumento significativo de incidentes de ataques de colonos israelenses contra civis palestinos na Cisjordânia”.

Mas Khan não criticou o governo israelita pelo seu genocídio, crimes de guerra e crimes contra a humanidade em Gaza, incluindo a morte de milhares de palestinianos, o bombardeamento de infra-estruturas civis e a transferência forçada (actualmente 85 por cento) da população de Gaza.

Khan fez uma declaração modesta de que a resposta de Israel aos ataques do Hamas é

“sujeito a parâmetros legais claros que regem os conflitos armados. O conflito em áreas densamente povoadas onde os combatentes são alegadamente incorporados ilegalmente na população civil é inerentemente complexo, mas o direito humanitário internacional ainda deve ser aplicado e os militares israelitas conhecem a lei que deve ser aplicada.”

No dia 6 de Dezembro, juntei-me a dezenas de académicos e profissionais do direito, das relações internacionais e da política na assinatura de uma carta aberta à Assembleia dos Estados Partes do TPI, instando-os a investigar a “falta de imparcialidade e não discriminação” de Khan.

Escrevemos que a declaração de Khan “demonstrou a aplicação seletiva do direito penal internacional e uma interpretação extralegal dos seus princípios”. Khan, observamos,

“parece já ter concluído que crimes internacionais foram cometidos por grupos armados palestinianos, minando assim as regras fundamentais , incluindo a presunção de inocência e as normas relevantes.”

Na nossa carta, salientámos que Khan usou o adjectivo “inocente” para descrever civis israelitas, mas não usou o mesmo adjectivo para se referir aos palestinianos, e não fez qualquer referência ao “risco de genocídio em Gaza”.

Apelamos à Assembleia dos Estados Partes para “garantir que o Procurador desembolse recursos com base nas necessidades de investigação, em oposição à priorização por motivação política, e instámo-lo a acelerar a sua investigação sobre a situação na Palestina”.

Chefe da ONU invoca 'ferramenta mais poderosa' 

O Secretário-Geral da ONU, António Guterres, em 8 de dezembro, numa reunião do Conselho de Segurança depois de ter invocado o Artigo 99 da Carta da ONU. (Foto ONU/Loey Felipe)

Em 6 de dezembro, o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, enviou uma carta ao Conselho de Segurança instando-o a declarar um cessar-fogo humanitário para que “os meios de sobrevivência possam ser restaurados e a assistência humanitária possa ser prestada de forma segura e oportuna em toda a Faixa de Gaza”. Faixa." Ele disse: “Não podemos esperar” e condenou o “terrível sofrimento humano, a destruição física e o trauma colectivo em Israel e nos territórios palestinianos ocupados”.

[Relacionado:  Craig Murray: Ativando a Convenção do Genocídio e  Invocando a Convenção do Genocídio contra Israel e  Craig Murray: Parando o Genocídio ]

Guterres invocou o raramente utilizado Artigo 99 da Carta da ONU , que diz que o secretário-geral “pode chamar a atenção do Conselho de Segurança para qualquer assunto que, na sua opinião, possa ameaçar a manutenção da paz e da segurança internacionais”.

“A situação está a deteriorar-se rapidamente para uma catástrofe com implicações potencialmente irreversíveis para os palestinianos como um todo e para a paz e segurança na região”, escreveu Guterres. “Tal resultado deve ser evitado a todo custo.”

[Ver Honra da ONU, Vergonha dos EUA em Gaza ]

Em 8 de dezembro, o Conselho de Segurança reuniu-se em resposta ao apelo de Guterres. Guterres informou o conselho, 

“Não há proteção eficaz dos civis. A população de Gaza está a ser instruída a mover-se como bolas de fliperama humanas – ricocheteando entre zonas cada vez mais pequenas do sul, sem qualquer dos elementos básicos para a sobrevivência. Mas nenhum lugar em Gaza é seguro.”

Guterres disse: “Exorto o Conselho a não poupar esforços para pressionar por um cessar-fogo humanitário imediato, pela proteção dos civis e pela entrega urgente de ajuda vital”.

Os Estados Unidos vetaram uma resolução do Conselho de Segurança que teria exigido um cessar-fogo humanitário imediato, a protecção dos civis palestinianos e israelitas e a libertação imediata e incondicional de todos os reféns.

Mais uma vez, os EUA forneceram a Israel cobertura política e diplomática para os seus crimes de guerra, genocídio e crimes contra a humanidade.

[Veja o que os EUA erraram de forma mais crucial no veto da ONU ]

Marjorie Cohn  é professora emérita da Escola de Direito Thomas Jefferson, ex -presidente do National Lawyers Guild e membro dos conselhos consultivos nacionais da  Assange Defense  e Veterans For Peace, e do escritório da Associação Internacional de Advogados Democratas. Seus livros incluem  Drones e Targeted Killing: Legal, Moral and Geopolitical Issues . Ela é co-apresentadora da rádio “ Law and Disorder ”.

Este artigo é da  Truthout e reimpresso com permissão.