O Irão agiu com medida e prudência para não desencadear o alastramento da guerra no Médio-Oriente, na sua retaliação, face ao crime de guerra israelita de bombardear instalações consulares iranianas em Damasco. Mas, ao mesmo tempo, deixou uma mensagem muito clara aos sionistas e a todos os inimigos que se atrevam a agredi-lo: - O Irão tem meios para causar muito mais danos do que causou agora. Somente danificou pistas de duas bases militares aéreas israelitas, mas tem capacidade técnica para atingir outros alvos, muito mais importantes, em Israel. Não foi uma vingança, efetuarem este ataque de aviso; os iranianos colocam-se num plano de superioridade militar e moral, face aos israelitas. https://www.moonofalabama.org/2024/04/iranian-missiles-hit-israel.html#more
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sábado, 23 de março de 2024

LOUCURA CRIMINOSA DOS LÍDERES DA OTAN

[ CRÓNICA (Nº25) DA IIIª GUERRA MUNDIAL]

A IIIª Guerra Mundial é total: É na frente de batalha propriamente dita, como também nas frentes económica, financeira, social, cultural, ideológica...
Passam-se sempre coisas importantes. Mesmo aquelas que não são noticiadas, pela media - de direita, centro e esquerda - dos países ocidentais. Porém, aqui e agora, em vez de descrever esses factos não noticiados, desejo apresentar-vos um quadro geral da situação, como eu a vejo:
A loucura apoderou-se dos líderes políticos e as altas patentes militares. Eles, manipulando os seus eleitores, querem fazer uma guerra total à Rússia. Querem convencer-nos de que é vital para nossa sociedade, nação, civilização. Nada mais falso!
Eles estão a jogar com a nossa sobrevivência, não metafórica, mas na realidade. E eles fazem isso, porque estão ébrios de poder e sentem que outro bloco (os BRICS e associados), os está a ultrapassar, em muitos planos, desde o económico, à tecnologia, à capacidade militar.
Porque a Rússia não é mais manipulável, essa é razão profunda do descontrolo dos pigmeus políticos nas chancelarias do Ocidente e a causa da fúria de quererem agravar a guerra na Ucrânia, para a transformar em guerra pan-europeia e depois mundial, sem qualquer desejo (da parte deles) duma solução diplomática.
Querem, em suma, precipitar a Terceira Guerra Mundial no plano mais global, e já não apenas como guerra híbrida. Esta, tem sido mundial, num certo sentido, mas não se assumia como tal.
Esta é a traição gravíssima que estes dirigentes atlantistas estão a fazer aos seus respetivos povos. Nos discursos, afirmam agir em defesa de ideais que escrupulosamente espezinham, na prática. Eles querem precipitar o mundo para a catástrofe global.
A loucura dos neocons nos EUA contaminou as elites dirigentes da União Europeia. Estas só podem agir, devido à fraqueza da oposição, ou á ausência de oposição com força e coerência suficientes, incapaz de defender os que estão por baixo, as classes pobres e médias.
A marcha a passos largos para a transformação das democracias liberais em Estados autoritários/totalitários está diante de nossos olhos.


Há quase um século, Hannah Arendt descreveu os totalitarismos ascendentes do século XX, quer o de Hitler, quer o de Estaline. A sua obra é ímpar para a filosofia política. É verdade que não se pode sobrepor a sequência de acontecimentos de entre guerras do Século XX, com a presente caminhada para a tomada de poder dos totalitários do WEF, da UE, da OTAN, e por detrás, de poderosos interesses que manipulam os governos ocidentais. Mas, muitos traços salientes do que Hannah Arendt descreve, encontram-se nas situações de hoje: «A História não se repete, mas rima» como dizia Mark Twain. Os acontecimentos são superficialmente diferentes; as circunstâncias concretas nunca se repetem exatamente. No entanto, há analogias profundas entre estas duas épocas de ascensão do autoritarismo, em suas diversas formas.
Era necessário alguém (ou uma equipa) fazer uma nova síntese sobre as «Origens do Totalitarismo» (título do famoso ensaio de Hannah Arendt), no final do século XX e no primeiro quarto do século XXI.
Mesmo que tal livro fosse escrito e editado, muitas pessoas já não leem. O número de analfabetos funcionais tem-se multiplicado, incluindo nos países afluentes do Ocidente. Juntamente com a ignorância, vem a arrogância e a hostilidade a qualquer pensamento «não conforme». Está quase feita a cama para os novos regimes totalitários.
Em regime totalitário, não apenas se torna perigoso os indivíduos exprimirem seu pensamento, se este não estiver de acordo com a doutrina oficial, como os cidadãos são coagidos a mostrar adesão a estes regimes, aos seus valores, às suas orientações, etc. Quem hesita, ou se mostra pouco entusiasta do regime, fica sujeito a ser denunciado «anonimamente», pelos colegas ou familiares. A partir desse ponto, tal pessoa fica automaticamente discriminada, no mínimo, quando não presa, julgada por traição e executada.
Provavelmente, as pessoas que leram Hannah Arendt, recordam o seu aviso: A difusão do pensamento crítico e de informações não-controladas, desempenha um papel essencial, na fase de transição para uma plena ditadura totalitária. Efetivamente, quando deixa de haver oposição visível (mesmo que fraca), a violência do regime totalitário, recém-instalado, aumenta. Torna-se menos seletiva, tanto atinge elementos de oposição, como pessoas sem atividade contra o regime. Assim, instalam um ambiente permanente de terror: Verificou-se isso, tanto no regime de Hitler como no de Estaline. Note-se que esta violência acrescida ocorreu na altura em que os respetivos regimes já se tinham consolidado.
Os poderes, dos países do Ocidente, ainda não atingiram o grau de totalitário, apesar de um certo número de políticos se prestar a ajudar a que isso venha a acontecer.

Eu sei que um certo número de pessoas pensam basicamente o mesmo que eu. Não devem ter receio de exprimir e difundir o seu ponto de vista. Se querem liberdade de palavra, de opinião, têm de exercê-la. Não há outra maneira. Não como difusores de propaganda, mas como seres pensantes e que, não só conhecem seus direitos, como nunca renunciam a exercê-los.

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PS1: Na noite passada (depois de ter publicado este artigo) recebemos a notícia dum horrível atentado terrorista nos arredores de Moscovo, executado por um comando tajik (ex-república soviética da Ásia Central). Não tenho dúvidas de que este comando foi enquadrado por serviços secretos do «Ocidente», uma operação destas é complexa e implica uma complexa organização in loco. Não me restam dúvidas de quem organizou este mesmo atentado.
Um ex-operacional da CIA disse-o poucas horas depois do sucedido:
Se a Embaixada dos EUA sabia que se preparava qualquer coisa e, a 7 de Março, deu conhecimento aos serviços de segurança russos, fê-lo de modo vago, como que para ter a desculpa de que não tinha nada a ver com isso. O propósito estratégico segundo Larry Johnson e outros, seria causar uma vaga de indignação no povo russo, para o governo de Putin se precipitar numa retaliação, também ela terrível e cega, dando pretexto a que a OTAN faça (finalmente) aquilo que quer: Entrar na guerra da Ucrânia abertamente e já não em pequena escala e de forma encoberta. Até agora, os únicos «boots on the ground» da OTAN, eram «voluntários» que, na véspera, antes de combater na Ucrânia, faziam parte das tropas especiais de vários países da OTAN .
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PS2: Atribuição do atentado terrorista ao Estado Islâmico - Khorasan (ou seja da região do Paquistão e Afeganistão).
Esta atribuição, de que a agência Reuters se fez eco poucos momentos após o atentado, resulta de um falso comunicado, ou de alguém que se fez passar pelo «Estado Islâmico».
Apesar dos terroristas serem do Tajiquistão, república ex-soviética de maioria muçulmana, não tinham perfil de jihadistas. O seu modo de proceder não se enquadrava com o comportamento repetidamente observado de atentados terroristas realizados por jihadistas. Isso transpareceu pouco tempo depois do atentado de Moscovo. 
Estes terroristas eram apenas mercenários, agentes pagos. Com efeito, os jihadistas podem cometer atos terroristas, mas possuem motivação religiosa,  enquanto fanáticos devotos do Islão. O Alcorão proíbe explicitamente maltratar ou matar civis não combatentes, em especial, mulheres, mesmo que estes civis sejam «infiéis». Esta proibição ainda tem maior peso na altura do Ramadão (os muçulmanos estão agora a celebrar o Ramadão). Por outro lado, autênticos jihadistas não hesitariam em sacrificar-se, enfrentando e combatendo as forças policiais, pois seriam bem-aventurados (segundo a crença das seitas do islamismo radical), ao morrerem combatendo pelo Islão.
De facto, como diz o coronel Baños, este comando  terrorista é formado por mercenários. Eles tentaram escapar em direção da fronteira ucraniana, em vez de enfrentar a polícia e combater até à morte. 
Os serviços de segurança russos conseguiram capturá-los com vida, durante a fuga. Ao todo, prenderam 11, incluindo os 4 agentes diretos do massacre e 7 cúmplices. 
As informações obtidas apontam para a Ucrânia. Os serviços secretos ucranianos têm um longo historial de incursões terroristas, em que assassinam civis russos. Budanov, do serviço secreto militar ucraniano, poderá ser um responsável direto desta operação terrorista. Os russos têm meios para esclarecer quem e como planeou, coordenou e supervisionou este ato terrorista. 
Lembremos que Victoria Nulan, em Janeiro passado, visitou Kiev. Antes de partir, prometeu «surpresas desagradáveis», a Putin. Portanto, estava ao corrente dos atentados planificados e deu o seu aval aos mesmos. Depois, para encobrir o seu papel, demitiu-se; «pediu a reforma», como ela disse.


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Para conhecimento de factos sobre as várias frentes da Guerra Mundial em curso (não apenas a guerra Rússia-OTAN, na Ucrânia), pode consultar a série CRÓNICA DA IIIª GUERRA MUNDIAL.
O penúltimo número (Nº23) da série:

quarta-feira, 13 de março de 2024

IMPRESSIONANTE! O HARAQUIRI* DA ALEMANHA

Tudo isto para agradar ao seu senhor feudal, os EUA. 

Veja:

Como é que os EUA destruíram a economia alemã


Talvez não fosse um haraquiri genuíno, pois este implicava a livre vontade do suicida.  
Foi então um «suicídio ordenado» aos governantes alemães, pelo seu suserano dos EUA.
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*No Japão medieval, o haraquiri, ou suicídio ritual, era praticado pelos samurai vassalos dum senhor da guerra, quando consideravam que estivesse em causa a mínima dúvida da sua total fidelidade ao senhor feudal. 

sexta-feira, 8 de março de 2024

Thierry Meyssan: «Vivemos, talvez, os últimos dias do fascismo judeu»

 

À distância de alguns dias, a explicação da demissão brusca de Victoria Nuland é-nos dada por Thierry Meyssan na seguinte entrevista:

 https://www.youtube.com/watch?v=f3Rq15HzaHU

Um dos mais lúcidos comentadores sobre o Médio-Oriente, tendo uma vasta experiência na zona, publica um boletim e mantém um site, indispensáveis para se compreender a geoestratégia de hoje e a evolução histórica nos últimos cem anos. 

A maior parte dos artigos, escritos em francês, estão traduzidos para português (e para outras línguas).

quinta-feira, 7 de março de 2024

AS RATAS SÃO AS PRIMEIRAS A ABANDONAR O NAVIO QUE ESTÁ A AFUNDAR-SE

 

  Victoria  Nuland distribuindo bolinhos e sandes aos manifestantes na pr. Maidan em Kiev, no Inverno de 2013

https://johnhelmer.net/nothing-in-nulands-life-became-her-like-the-leaving-of-it/#more-89522 


Analisando a súbita renúncia de Victoria Nuland ao cargo de Secretária Suplente para o Estrangeiro, compreende -se que ela não foi motivada pelas razões apresentadas em vários órgãos de imprensa corporativa. Segundo eles, tratava-se da sua deceção em continuar a ser preterida a favor de A. Blinken, no papel de Secretário de Estado (o equivalente nos EUA a ministro dos negócios estrangeiros na Europa). Mas, esta foi uma escolha de Biden, devida a uma longa amizade. Portanto, não é suscetível de haver mudança no final do mandato presidencial. 
Não, se Nuland se conformou com esta situação desde o princípio do governo de Biden, por que razão iria ela agora renunciar a um cargo que lhe permitia levar a sua política (como representante dos «neocons») ao âmago de várias questões políticas e estratégicas? 
Pensa John Helmer, no seu brilhante artigo, que se trata dela não querer estar associada à derrocada do regime de Kiev, que ela ajudou a instalar. Igualmente relevante, deve ser a sua russofobia patológica: assim não será forçada a negociar com a Rússia. Esta parece ser a tendência, agora, que a oligarquia imperial está a tentar fazer uma viragem na sua postura, que lhe permita limitar os estragos duma presidência desastrosa, como nunca antes, na História dos EUA. 
Além disso, tornou-se claro, até para os mais encarniçados inimigos de Trump, que este irá ganhar as eleições e que não haverá lugares para os neoconservadores. Ora, Victoria Nuland é, sem dúvida, a chefe de fila dos neocons.



Se a sua saída corresponde ao proverbial abandono pelas ratazanas do navio que se afunda, então devemos em breve assistir à corrida para a saída, às demissões no governo e administração, da parte de personagens de maior ou menor relevo na Administração Biden. 
Veremos...

terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

ASSANGE E APOIANTES LUTAM PARA EVITAR EXTRADIÇÃO PARA OS EUA


                                           Filmagem em direto no exterior do tribunal onde está a decorrer o julgamento de extradição de Julian Assange

Chris Hedges explica a importância deste recurso final de Assange, junto do tribunal britânico:

terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

DMITRY ORLOV: «A OTAN JÁ PERDEU O JOGO»


 Dmitry Orlov já tem sido citado neste blog. É cidadão americano de origem russa, cujos pais emigraram para os EUA, quando Dmitry tinha cerca de 6 anos. A partir de um certo ponto, considerou que já não se sentia bem na sociedade americana, tendo emigrado para a Rússia e tornando-se cidadão russo. Mas, independentemente do percurso pessoal, Orlov tem mostrado uma visão acutilante, tanto da sociedade russa em  crise aguda, durante a presidência de Yeltsin, como da sociedade americana nos anos mais recentes. Ele tem uma grande agudeza na análise dos acontecimentos e das grandes fraturas ocorrendo neste momento. Não significa que tenhamos que endossar as suas análises, mas temos vantagem em refletir sobre os seus pontos de vista, por mais audaciosos que sejam; eles não são destituídos de fundamento na realidade e de lógica. 

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

NIKOLA TESLA, O GÉNIO EXTRAVAGANTE


 Nikola  Tesla tem ultimamente sido reconhecido no seu justo valor, como inventor da corrente alterna, que permitiu distribuir a eletricidade a grandes distâncias. Foi também o primeiro a transmitir sinais de rádio sem fio , embora Marconi tenha sido creditado durante muito tempo por esta descoberta. O lado extravagante e as pesquisas esotéricas, nomeadamente em relação às pirâmides egípcias, não são mais, a meu ver, que a consequência da mente sempre  aberta, querendo penetrar os mistérios do Cosmos.

quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

REFLEXÃO GEOESTRATÉGICA

Numa época de grande perturbação, como a que estamos vivendo, o facto de eu me atrever a fazer uma síntese, é - sem dúvida- um empreendimento temerário, da minha parte. Temerário, mas não impossível. Pois os meios fornecidos pela Internet e não controlados pelos poderes, multiplicam a capacidade de qualquer um. Temos acesso a muitas informações no que toca aos vários aspetos da cena internacional - economia, militares, diplomacia, etc.

Porém, a maior parte das pessoas não desenvolveu uma visão de conjunto, esta foi antes tornada opaca, pela enorme quantidade de «lixo informativo» que satura os diversos canais de informação.

           
             Navio de carga alvejado no Mar Vermelho

O meu propósito, aqui, é descrever com a maior franqueza o que tenho vindo a observar neste domínio da geoestratégia, ao longo dos últimos decénios. Deliberadamente, irei coibir-me de fazer prognósticos, sejam quais forem; o leitor que tire as suas conclusões. Eu irei, apenas, fazer o diagnóstico do que tem ocorrido no Mundo desde a implosão da URSS.

Com efeito, este é um marco muito importante para se compreender o que vem a seguir, embora a História contemporânea, o século XX, incluindo as duas Grandes Guerras Mundiais e todas as outras situações de guerra ou de conflito, que ocorreram quer entre as duas guerras mundiais, quer após a 2ª guerra mundial, sejam de primeiríssima importância para se compreender o mundo de hoje.

O marco da implosão da URSS é importante porque significou o desaparecimento de um Mundo dominado por duas superpotências. Mas, contrariamente à esperança ingénua de muitos (eu incluído), não houve paz verdadeira, na Europa e no Mundo: lembro as guerras desencadeadas pelo imperialismo triunfante contra o Iraque e a guerra civil que levou ao desmembramento da Jugoslávia, com os préstimos de uma Alemanha reunificada e força dominante da União Europeia.

Mas, no plano económico, a oligarquia do Mundo afluente deu passos de grande significado (e imprudência), nomeadamente, naquilo que chamam de «globalização». Este nome ocultou, na verdade, o propósito de domínio. Este termo de globalização escondia a ideologia subjacente: o neoliberalismo. Na Europa, principalmente, assistiu-se ao «enrolar» do cenário anterior, ou seja, o Estado Social-Democrático, ou Estado de Bem-Estar. Tratava-se de uma transitória repartição, menos assimétrica da riqueza na população, resultante dos superavits das economias, em crescimento rápido depois a IIª Guerra Mundial, permitindo assim manter satisfeitas as classes não-burguesas (assalariados, pequenos funcionários, campesinato) num consenso fabricado, afastando-as da atração exercida pelo socialismo, considerado por muitos ser a inevitável alternativa aos regimes capitalistas então vigentes. O processo de privatização das empresas estatais foi acompanhado pelo desmantelamento dos direitos sociais, conquistas de decénios de lutas populares. Mas este processo teve também como consequência que os grandes capitalistas já não tinham que enfrentar-se com governos que pretendessem obrigá-los a cumprir os objetivos gerais das sociedades, nas quais suas empresas operavam. Foi também possível essa transição graças ao arregimentar da casta política. Tratou-se de torná-la cativa através da corrupção ou, nos casos de tendências não-capitalistas, a marginalização, confinamento a um ghetto político. Além disso, datam dessa altura as discretas manobras visando ressuscitar a extrema-direita, pela primeira vez, desde o final da IIª Guerra Mundial, em muitos países europeus. Esta extrema-direita, aparecendo à luz do dia e concorrendo a eleições, cativou uma parte do eleitorado descontente. Grande parte do que refiro acima, decorreu durante a década de 1990; pelo menos, o desenrolar em grande escala da nova estratégia da oligarquia e os seus primeiros resultados práticos.

Uma primeira contradição que surgiu e foi-se acentuando: a desindustrialização do mundo capitalista mais afluente, realizada pela transferência de fábricas para zonas de não-respeito das regras do mercado laboral (ausência ou repressão dos sindicatos) e uma total indiferença à preservação do ambiente (indústrias depredadoras de recursos, poluição em grande escala ...). Os grandes capitalistas reconstituíam assim a capacidade de extraírem lucro, graças ao custo muito menor dos salários, à ausência de regulamentação, ou seu incumprimento, quer ao nível dos direitos laborais, quer da proteção do ambiente. Esses países tinham governos desejosos desses investimentos estrangeiros. Primeiro, foram as «maquiladoras» (perto da fronteira do México com os EUA), depois fábricas em países totalmente submetidos aos EUA, como o Haiti, as Filipinas, etc. Logo depois, ainda nos anos 80, a China «comunista» proporcionou uma força de trabalho disciplinada e diligente que permitiu a deslocalização das indústrias de eletrónica e de computadores, dos EUA e dos países mais avançados da UE (Reino Unido, Alemanha, França), para a China.

Entretanto, na ex-URSS, a Rússia estava sofrendo um processo de saque e desmantelamento, pelos oligarcas locais e por capitalistas abutres ocidentais. Quanto aos outros países, que antes faziam parte da URSS, reinavam oligarquias desejosas de vender os recursos nacionais (principalmente minerais) aos capitalistas do Ocidente; alguns desses governos eram formados por velhos burocratas do Partido Comunista que se reconverteram à pressa em vassalos do capitalismo globalizado, mantendo-se no poder através dos métodos autoritários de sempre. O desmantelamento da própria Rússia, era o desejo estratégico da tendência neoconservadora (chamada neocons) nos EUA, que se tinha entrincheirado nos postos chave dos ministérios e fazia parte de influentes «think-tanks». Este grupo, autêntico Estado dentro do Estado, considerava que a vitória na Guerra-Fria não estava completa. Para completá-la, era indispensável desmantelar a Rússia («balcanizar»), o maior país mundial, em termos de área, riquíssimo em recursos e escassamente povoado. Eles conseguiram influenciar a política de sucessivos presidentes dos EUA, desde Clinton, Bush Júnior, Obama, Trump, até Biden. A política externa foi sempre ditada pelos neocons, quer os presidentes fossem republicanos, quer democratas.


Esta situação, perigosa para a paz mundial e, em particular, para a paz europeia, teve o seu culminar com a guerra da Ucrânia. A estratégia, essencialmente a mesma durante mais de dois decénios, deve-se aos mais agressivos políticos e militares, que consideravam que os dirigentes dos EUA e da OTAN não tinham que honrar os compromissos assumidos com Gorbatchov, aquando do processo que levou à reunificação pacífica da Alemanha, em que os soviéticos se comprometeram a retirar suas tropas da Alemanha de Leste (DDR), a troco de não se efetuar o alargamento da OTAN, a países do ex-Pacto de Varsóvia. Este compromisso, assumido por Bush Sénior e - coletivamente - pelos líderes da OTAN, foi repetidamente negado ter existido, embora haja provas concludentes de que foi efetivamente assumido e por escrito .



Mas, os poderosos continuavam a fazer o que lhes apetecia, negando-se a qualquer diálogo sério com a Rússia. Note-se que esta, embora enfraquecida, continuava a ser a segunda maior potência mundial no armamento nuclear. As coisas só começaram a mudar, com a subida ao poder de Vladimir Putin, promovido por Ieltsin, nos seus últimos momentos de lucidez, depois de ter visto em que se transformara a Rússia.

A subida de Putin não se deveu a um golpe de Estado: foi uma evolução dentro dos marcos constitucionais e políticos da Rússia, na transição do milénio. Por mais que demonizem Putin, os propagandistas ocidentais não poderão ocultar o facto de que ele e seu governo propuseram que a Rússia se integrasse na OTAN. Esta proposta foi varrida com um revés de mão, como aconteceu a muitas outras iniciativas de «mão estendida» do governo da Rússia.

A última tentativa de diálogo sério entre gente adulta, tentada pela diplomacia russa, ocorreu no final do ano de 2021. Tratava-se de uma proposta de conversações ao mais alto nível, nos países europeus que - coletivamente - se reuniriam e encontrariam um modus vivendi, assegurando um sistema coletivo de segurança.

Nessa altura, os dirigentes da Europa e dos Estados Unidos já estavam, com o governo vassalo de Zelensky, a preparar o assalto final às repúblicas dissidentes do Don (República Popular de Lugansk e República Popular de Donetsk). Estas tinham-se separado do regime de Kiev, após o golpe de Maidan de 2014, porque não aceitavam serem oprimidas por Kiev, que queria impor-lhes a anulação do seu estatuto (constitucional) de regiões maioritariamente russófonas. Nesta situação, as repúblicas organizaram a sua autodefesa, contra as divisões e milícias (neonazis) de Kiev, apoiadas pelos países da OTAN: Durante 8 anos, foram treinadas, armadas e equipadas pelos ocidentais. Cerca de 14 mil mortes civis, durante esses oito anos (do início da guerra civil ucraniana, até à invasão russa) resultaram do constante bombardeamento, pelo exército do regime de Kiev, de centros de cidades e de outros locais com civis, nas duas repúblicas. Deve-se sublinhar, que Putin hesitou muito até vir em auxílio a este povo russo martirizado. Em Janeiro de 2022, os serviços de espionagem russos sabiam que a ofensiva de Kiev estava iminente. A opinião pública russa nunca lhe iria perdoar, se ele não fizesse nada, perante a ofensiva contra as repúblicas do Donbas: cerca de 70 mil tropas ucranianas de elite, bem treinadas e equipadas, preparavam-se para invadir estes territórios. Poucos dias antes da invasão da Ucrânia pela Federação Russa (24 de Fevereiro de 2022), as repúblicas dissidentes estavam a ser bombardeadas com maior intensidade, num crescendo que prenunciava a invasão iminente pelo exército ucraniano.

Dos desenvolvimentos e peripécias desta guerra, outros terão escrito com bastante rigor e pormenor. Eu contento-me em dizer que foi uma guerra cruel e inútil, que deixará marcas indeléveis nos povos da região, mas também implicará uma divisão duradoira entre europeus ocidentais e orientais.

Hoje, já se pode afirmar - sem parcialidade - que se está perante a derrota do exército ucraniano, após cerca de dois anos de guerra, uma guerra desejada e incentivada pela OTAN. Isto significa cerca de um milhão de baixas de militares ucranianos, além das baixas de civis e da destruição causada pela guerra. Do lado russo, não tenho dados precisos pois, desde o princípio, as fontes oficiais russas não fornecem números. O que dizem as fontes jornalísticas ocidentais tem sido - quase sempre - um exagero, elas são um mero instrumento de propaganda anti- russa.

Em definitivo, a guerra russo-ucraniana é um acontecimento trágico, também para os povos europeus ocidentais: ficaram sujeitos a uma oligarquia militarista e fascistoide, ela própria obedecendo aos imperialistas americanos. Estes, acentuaram o tratamento dos países europeus sob «proteção» da OTAN, como vassalos aos quais se pode mandar fazer tudo o que decida Washington DC.

No futuro, não haverá paz no continente europeu. Pelo menos, rapidamente, pois não se vislumbra tal vontade. Os russos não se sentem inclinados a negociar um acordo: têm experiência de que os dirigentes europeus e norte-americanos não cumprem os compromissos assumidos. Entre muitos factos graves, os dirigentes dos EUA deixaram caducar, não renovaram ou denunciaram os acordos relacionados com armas nucleares (com grande significado no continente europeu), negociados na década de 70 e nas duas décadas seguintes.

Por outro lado, não se pode esperar do lado ocidental uma viragem no sentido da distensão: os militaristas dominam a OTAN. Os governos na Europa ocidental são submissos aos EUA, cada vez mais imperiais. O mais recente caso, é significativo. A decisão americana unilateral de interromper* o envio de gás LNG aos países europeus, o qual era vendido por preço bem alto, aliás. O seu comportamento é mais uma facada nas costas da Europa, depois de terem promovido a destruição no Mar Báltico, dos gasodutos Nordstream I e II, que abasteciam de gás russo a Alemanha e outros países europeus. Os que governam os EUA, não são «amigos» da Europa.

Duvido que a destruição física da população de Gaza, com a complacência e ajuda material do «Ocidente», seja grande trunfo para exibir como prova do respeito pelos direitos humanos e da simples decência, aos olhos dos países do Sul Global (ver PS1).

O ponto a que se chegou, mostra que o momento unipolar da geopolítica mundial está a chegar ao fim. Isto ocorre mais depressa do que praticamente todos os observadores imaginaram.

Não apenas as bases dos EUA em território hostil, sírio ou iraquiano, estão à mercê de ataques por milícias, desejosas de expulsar os americanos. Também as frotas dos EUA e de dois ou três aliados, estacionadas à entrada do Mar Vermelho são «sitting ducks» (alvos fáceis). O mesmo, em relação aos porta-aviões americanos no Mediterrâneo, ao largo de Israel e do Líbano. As forças do Hezbollah têm mísseis com alcance (e com precisão) mais do que suficiente para atingir e afundar esses porta-aviões.

                                  Sitting Duck, em https://johnhelmer.net/

Então, para que se põem os EUA a fazer estas provocações? - Sem dúvida, querem mostrar que não se deixam intimidar e que continuarão a dar o seu apoio ao governo genocida de Netanyahu. Mas, tanto no Iémen como no Líbano, está fora de questão fazerem desembarques com marines, para conquistar posições dos Houthis, ou do Hezbollah. O espetáculo que dão é dum «gigante com os pés de argila». O Irão e todo o Eixo da Resistência (forças governamentais e milícias no Iraque, Síria, Líbano, Iémen e Palestina) aprenderam as táticas que resultam, nesta guerra assimétrica: estão agora a pôr isso em prática. Estão a flagelar o inimigo através de ataques simultâneos e causando baixas, mas não chegam ao ponto de provocar um ataque americano em larga escala, que só seria desencadeado em caso extremo, devido ao risco de fiasco. Esta tensão permanente obriga os americanos a verter cada vez mais reforços, a aumentar os ataques pela aviação e por mísseis; porém, sem vantagem decisiva, sem vitória. No final, terão de recuar, após terem perdido soldados, material de guerra valioso e prestígio.

Não sei o que o amanhã trará, por isso não faço conjeturas. Não me admira que, nos próximos tempos, a instabilidade aumente. Poderá haver novos focos de violência e de guerra.

A chamada «globalização» foi um enorme fiasco. Agora, o Globo está dividido: Dum lado, os herdeiros das potências coloniais e neocoloniais, o Ocidente; do outro, o Sul Global, com a locomotiva da aliança tríplice Rússia - China - Irão, em coordenação com os restantes Estados dos BRICS alargados. Ao todo, estes já perfazem a maioria da população mundial e cerca de metade do PIB mundial.

Murtal/ Parede, 31 de Janeiro de 2024




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* Parece inacreditável, mas esta medida, que prejudica os aliados/vassalos dos EUA, terá que ver com questões internas dos EUA, nomeadamente a «revolta» do governador do Texas e/ou com a luta contra «alterações climáticas». Veja:

PS1: A sentença do TIJ - que obrigava o Estado de Israel a tomar conta das situações humanitárias - foi sabotada pelo mesmo Estado de Israel, com o pretexto de que a UNRW era capa para ativistas do Hamas. Em consequência, os ocidentais decidiram de imediato suspender a sua contribuição financeira, no momento em que esta é absolutamente indispensável aos cerca de 1,7 milhão de refugiados. Se esta medida parece retaliação contra a população de Gaza, é porque é isso mesmo, de facto: 


PS2: Leia a notícia abaixo que confirma e reforça a nossa primeira informação sobre a «suspensão» do envio de LNG dos EUA para a Europa: https://www.zerohedge.com/geopolitical/russian-media-thrilled-bidens-lng-gift-putin

PS3: Como afirmei anteriormente ( ver AQUI) não há dúvida de que se está num momento em que a classe dominante, em desespero, vai fazendo erros atrás de erros, cada qual mais grave: https://www.moonofalabama.org/2024/02/screw-the-facts-europe-commits-itself-to-further-escalation.html#more

segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

CRÓNICA (Nº23) DA III GUERRA MUNDIAL: Quando os Erros se Sucedem

    Localização do ataque à base americana «Tower 22» ver artigo em Zero Hedge

Em certos momentos, a classe no poder fica demasiado desorientada. É nestas ocasiões - que se podem verificar em diversas épocas históricas - que os poderes dirigentes são levados a fazer erro sobre erro. As tomadas de decisão desastrosas conduzem a um agravamento da situação, o que leva a que tomem medidas mais e mais brutais, mais e mais desesperadas, para assegurar o domínio sobre os adversários.
Nós estamos a verificar agora, no caso das guerras declaradas e não declaradas dos EUA e seus aliados,  uma sucessão catastrófica de erros, que apenas resultam no enfraquecimento da posição global destes, em relação às nações que ainda ontem eram aliadas do Império, ou que não o sendo, tentavam evitar o confronto direto, para não sofrer o peso esmagador das sanções, da subversão e da guerra, pela potência hegemónica.
Uma característica sobressai dos fracassos, quer de israelitas (nomeadamente, no 7 de Outubro passado), quer dos EUA e vassalos da OTAN: A excessiva confiança nos sistemas automatizados de controlo, deteção e riposta, quer no cenário de Gaza, quer no cenário da base americana (ilegal) «Tower 22» na fronteira jordano-síria. O ataque com drones a esta última base, por milícias xiitas baseadas no Iraque, foi bem sucedido porque as defesas aéreas automáticas que defendiam a base não funcionaram. Já em Outubro os militantes palestinianos conseguiram inativar os sistemas de monitorização e desencadear um ataque para fora do perímetro de Gaza, fortemente vigiado. Neste caso, também os sistemas automáticos de resposta não funcionaram. Nos subsequentes ataques com mísseis, quer no lado do Sul (HAMAS), quer do Norte (HEZBOLLAH), a chamada «Cúpula de Ferro» (iron dome), o sistema israelita de deteção e contra-ataque com misseis teleguiados que - supostamente - iria neutralizar os mísseis e drones que se aproximassem, também não funcionou com a eficácia que lhe era creditada. Os americanos decidiram punir o Iémen, em retaliação dos ataques dos Houthis contra navios da frota de guerra dos EUA, estacionados na entrada do Mar Vermelho. Este ataque não causou danos significativos ao dispositivo de mísseis dos Houthis: Menos de 24 h depois do ataque americano, eram disparados pelos Huthis salvas de mísseis em direção a navios de carga e de guerra americanos e aliados.
No Tribunal Internacional de Justiça (um órgão da ONU) Israel foi condenado em termos nada ambíguos como autor de massivas e flagrantes violações dos direitos humanos e das convenções internacionais de proteção dos civis, em tempo de guerra (convenções de Genebra). Mas, não só Israel, também o governo americano, desprezaram esta sentença, mostrando - mais uma vez - o que os imperialistas entendem por «respeito pela ordem internacional baseada em regras»: Não se trata da obediência ao direito internacional, mas sim da submissão aos interesses dos EUA.  A organização de apoio aos refugiados UNRWA, um organismo da ONU, foi-lhe seguidamente interrompido o financiamento, sob pretexto de que alguns (poucos) trabalhadores* deste organismo, em Gaza teriam alegadamente (sob tortura) confessado terem laços com o Hamas. Que este gesto dos poderes ocidentais apareça como vingança torna-se patente, pelo «timing» em que se ocorreu essa interrupção do financiamento: dias após a sentença do TIJ, mas semanas após terem sido conhecidas as alegadas ligações.
Veja-se, desde 2001, o percurso catastrófico das guerras no Médio-Oriente (Afeganistão, Iraque, Líbano, Síria Israel/Palestina), da guerra na Ucrânia, das provocações ao largo de Taiwan (legalmente e internacionalmente reconhecido como território chinês, não esqueçamos) e a intensificação da agressividade da potência que pretende ser hegemónica. Apesar deste crescendo, a sua posição estratégica global só diminuiu. 

                               Bases americanas na Ásia Ocidental

A guerra económica, com sanções, embargos, boicotes, tarifas punitivas, arresto de ativos financeiros e - mesmo - o confisco puro e simples destes, foi brutal, deitou abaixo muitas relações construtivas que se tinham tecido no pós-Guerra Fria. Isto conduziu à derrota do Ocidente, em termos da economia produtiva e  - claramente - a favor dos «inimigos», a Rússia, a China e outros. Ou seja, os EUA e restantes membros da OTAN, essencialmente, perderam em termos económicos, com as sanções e outras formas de guerra económica, que tomaram a iniciativa de desencadear. 
Há quem diga que os BRICS não precisam de tomar uma iniciativa agressiva contra a OTAN, basta se auto-desenvolverem, estreitarem laços de cooperação com projetos comuns entre eles e com outros, que queiram participar. Os tresloucados dirigentes ocidentais vão continuar a dar tiros nos pés, a se autopunirem, num jogo macabro e inútil, pois eles não podem já ditar as leis na arena internacional. Já estão completamente desmascarados; ninguém os vê como defensores da legalidade internacional. Agora, a verdade sobressai em todos os planos e ao nível global: São os EUA e os seus aliados (OTAN, Israel e alguns outros países aliados), quem estão - em permanência - fora da legalidade internacional; que não acatam resoluções da ONU, nem os veredictos de tribunais internacionais, quando lhes são desfavoráveis; são eles que multiplicam as ações de provocação, com o perigo destas induzirem o alargamento dos conflitos até ao nível global.
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NB:
* «That a dozen or less of the 30,000 UNRWA worker were probably involved in the October 7 events was known for weeks» Citado em MoA



                             DESENHO HUMORÍSTICO DE JOHN HELMER


Dois excelentes e detalhados artigos relativos às situações que enunciei acima, por John Helmer, e «Moon of Alabama»:


Este meu artigo acima, vem atualizar o ensaio em duas partes «As Quatro Fragilidades do Império»:
 



domingo, 21 de janeiro de 2024

O SÉCULO DA DERROTA DO OCIDENTE

 Como qualquer poder imperial que tenha tido no passado uma expansão, o poder dos EUA, que é designado eufemisticamente por «Ocidente», está agora em declínio acelerado. Não será como a implosão da URSS, um colapso súbito, será antes um progressivo desmembrar das estruturas internas e internacionais que mantinham o sistema coeso. Esta progressiva perda de prestígio e de influência, são característicos de um Império em decadência. Esta, pode durar varias dezenas, ou mesmo, centenas de anos, nalguns casos. Mas, qualquer que seja o ritmo a que se produzem os fenómenos, eles são caracterizados por um abastardar dos valores. Contrariamente ao que uma mente imbuída de materialismo mecanicista poderia imaginar, aquilo que começa a enfraquecer, não são as estruturas materiais: as bolsas ocidentais podem continuar durante algum tempo a alimentar a ilusão de riqueza, as forças armadas do Império não deixam de ter um potencial de ataque e de destruição considerável, as sociedades  - elas próprias - não deixam de funcionar, por vezes com disfunções graves mas, no conjunto, mantendo uma aparência de normalidade. 

Não; aquilo que enfraquece de forma irreversível, é o aspeto moral ou ético; é o recuo do respeito pela legalidade; é a ausência de freio moral, sobretudo das classes dirigentes, o que se repercute em todos os níveis da sociedade;  é o abastardar das formas de representação da vontade popular; é a transformação de sociedades «liberais», em sociedades policiais, não se distinguindo o comportamento das suas polícias e dos seus tribunais, dos órgãos dos Estados que, no presente ou no passado, são classificados como «totalitários»; sobretudo, trata-se -da parte dos poderes- de impor a violenta opressão sobre os não-privilegiados, através da guerra, que serve às mil maravilhas para projetar os lucros dos consórcios militar-industriais-financeiros-tecnológicos, assim como de pretexto para a vigilância generalizada dos cidadãos; é a ocasião, sonhada pela oligarquia, para fazer passar leis que visam claramente criminalizar as dissidências.  

Quem não está plenamente a  compreender o que se passa agora, ainda está  tempo de o fazer.




Numa entrevista muito esclarecedora, Jacques Baud, antigo membro dos serviços de segurança da Suíça, foi entrevistado em TV Libertés. Nesta, ele descreve o conjunto de erros que o «Ocidente», ou seja, os poderes nos referidos países ocidentais, cometeram na avaliação da situação da Ucrânia, da Rússia e deles próprios. Seguiu-se uma dinâmica nada saudável de persistência no erro: como se o facto de se ser teimoso, pudesse magicamente reverter o erro, pudesse originar uma estratégia bem sucedida. 

O segundo elemento, é o livro de Emmanuel Todd, um conhecido geógrafo, demógrafo, analista das sociedades francesa e europeia, que escreve um livro que já é um marco inevitável no debate político e geopolítico, não apenas na sociedade francesa, como internacionalmente. Não tive ainda ocasião de o ler, mas compreendo, através daquilo que nos diz Pepe Escobar (e outros), que estamos perante o diagnóstico inapelável da decadência do Ocidente. Esta decadência é espelhada através da derrota militar, estratégica, moral e ideológica, do chamado «Ocidente» que, no espaço curto do século XXI, perdeu todo o potencial de simpatia e de possibilidade de encetar uma era de paz e de cooperação com outros poderes económicos e militares. Os governos americanos sucessivos, efetivamente controlados pelos neoconservadores - figuras pouco conhecidas, mas com muita influência na condução das políticas da Casa Branca - deixaram-se enredar na dialética duma nova guerra fria, que eles não poderão «vencer». 

Aliás, a Guerra Fria nº1, não foi o triunfo do poderio americano, antes pelo contrário, pois se tratou de uma implosão - portanto, a partir de dentro - da URSS e do sistema do Pacto de Varsóvia, porque os próprios dirigentes destes Estados compreenderam que o sistema de governança ao qual presidiam, não era sustentável, que estava condenado a ficar cada vez mais para trás na competição tecnológica com os EUA e o Ocidente, portanto, também na inovação nos sistemas bélicos, estreitamente associados às inovações tecnológicas nos campos da informática, da robótica, das tecnologias informação, ou seja, na ciência e tecnologia em geral.

Agora, o comportamento do Ocidente, prevejo, será de tentar cativar os Estados e respetivos povos, que estavam na sua orla e que tentavam não cair na dependência, de uns ou de outros. Nestes casos, prevejo que tentem a técnica da «cenoura ou do pau»: a cenoura de acordos bilaterais, o pau das sanções económicas, seguidas da força militar bruta, caso necessário.   Nos países vassalos dos EUA, pelo contrário, vai haver uma  desaparição da democracia, mesmo da democracia truncada, que existiu desde a segunda metade do século passado. Os povos não serão fáceis de vergar, porque têm um nível geral de educação que torna a propaganda terrorista dos media corporativos menos eficaz. Não se pode enganar um povo permanentemente, com mentiras sucessivas que logo se revelam como tais; uma tal circunstância não pode durar pois que, uma vez que o povo compreende como foi manipulado, é praticamente «imune» às novas campanhas de manipulação de massas. Quando o engano não já funciona, então entra o medo, ou seja, a repressão a quente, já não a supressão seletiva das vozes dissidentes, mas campanhas violentas, ao estilo dos piores regimes totalitários que a humanidade conheceu.

 Finalmente, aquilo que sobressai do panorama atual é que a civilização judaico-cristã, tal como existiu desde a queda do Império Romano até hoje, está ferida de morte. Ela não pode sobreviver aos «mil ferimentos» que são constantemente produzidos, não apenas pelos seus inimigos, como - sobretudo - pela ausência de  discernimento de altos dirigentes dos Estados, quer sejam governos ou Estados-Maiores das forças armadas. A somar a isto, dá-se uma recente e violenta negação dos valores de defesa dos direitos humanos, da liberdade, da democracia, apregoados pelos governos, embora não fossem cumpridos. As situações tornaram-se tão conspícuas que, nem mesmo uma espessa camada de propaganda, pode ocultar a verdade de que à pequena elite, só lhes interessa o poder. Esta elite, para o manter, não hesita em sacrificar centenas de milhares de vidas inocentes e em destruir a hipótese das vítimas sobreviventes poderem ter uma pátria, onde levassem uma vida decente: isto tanto se aplica à Palestina como à Ucrânia.

Não creio que esta fase, de «Guerra Fria 2.0», possa durar: Ela será instável, pois não haverá «equilíbrio do terror», como no tempo da URSS. Haverá sim, um conjunto de ações de destabilização de parte a parte que, ou se resolverão pelo desmantelamento do presente sistema geopolítico, ou talvez ocorra uma fragmentação que inviabilize a tomada de poder por qualquer entidade estatal ou supra-estatal, ao nível mundial. Dada a existência de atores sociopatas na cena mundial, dado o facto deles estarem nas mãos de poderosos lóbis, não se pode excluir, em alternativa, o cenário seguinte: Uma fuga para a frente duma psicopática e aventureira «elite» ao comando de algum Estado, que desencadeie uma guerra nuclear. Isto não está fora dos possíveis. 

sábado, 13 de janeiro de 2024

HAVERÁ ESPAÇO PARA O AMOR???

 O ódio desencadeia o ódio. Verifica-se uma espiral de violência e de irracionalidade que estamos todos testemunhando, neste momento exato. A História sempre foi acompanhada por um rasto sanguinolento, mas agora está absolutamente diante dos olhos de todos. Quem se conforta com pseudo justificações como "do outro lado, fazem igual ou pior", não pode ter a nossa indulgência porque os pecados de uns não podem absolver os dos outros. Agora, como outrora, os violentos querem fazer com que a humanidade de certos povos seja desprezada pelos outros, através de toda a espécie de narrativas de ódio, como um bombardeaeemento psicológico que oculta os bombardeamentos cobardes de bombas, despejadas a todo o momento sobre civis indefesos. 

A civilização judaico - cristã morreu, não tem hipótese de dar nada de relevante para a humanidade presente e futura. Os seus representantes e apologistas máximos,  não apenas trucidam aqueles que deviam proteger, como recobrem os seus crimes duma capa de mentiras e reforçam os preconceitos racistas. 

É difícil descer-se mais baixo. Durante muitos anos, os políticos dirigentes dos países ocidentais revestiram-se de discursos sobre os direitos humanos e os princípios morais elevados. A sua prática, muitas vezes,  contradizia os seus dizeres. Mas, agora, a contradição tornou-se tão óbvia, que muitas pessoas, mesmo as que partilham os valores fundamentais do «Ocidente», estão escandalizadas. Não existe qualquer desculpa, deixaram completamente cair a máscara. De nada serve tentarem afivelar de novo a máscara de civilizados . Os crimes de massa, que perpetraram ou apoiaram oficialmente, não são suscetíveis de perdão. 

Agora mesmo lançam mais uma guerra de agressão (contra o Iémen e simultaneamente contra o Irão), fazendo a vontade ao governo sionista. Este, tem controlo efetivo sobre a política americana e esta - por sua vez - comanda os governos e forças armadas dos países da OTAN. Vários países europeus estão assim - voluntariamente ou não - feitos coniventes dos crimes de Estado de Israel e com a participação e cobertura americana. 

Não tenho ilusões sobre a cobardia e corrupção das classes no poder da Europa: escolhem seguir os cavernícolas neocons dos EUA,  em vez de defenderem os interesses básicos, existenciais, dos seus próprios povos. 

Não resta nada da civilização ocidental, que se baseava sobre os valores do humanismo. Estes foram destruídos, com tudo o que se tem passado, nomeadamente, desde a infame guerra contra a Jugoslávia (um enorme crime de guerra da OTAN) seguido por guerras neocoloniais no Afeganistão, no Iraque, na Líbia e na Síria. A invasão da Rússia à Ucrânia foi um erro daquela, mas Americanos e outros países da OTAN (Alemanha, França, Reino Unido...) têm   responsabilidades, por inviabilizar conversações diplomáticas em Dezembro de 2021. Pior ainda, obrigaram o regime de Kiev a renegar acordos que  estavam prestes a serem assinados em Abril de 2022, causa próxima deste infeliz país ser sacrificado no «altar» de vergar a Rússia. O plano para os neocons obterem finalmente o «grande prémio»: a derrota e o desmembrar da Rússia. 

E o cúmulo foi a aprovação entusiástica do ataque criminoso pelos israelitas do povo indefeso de Gaza. Com isto, ficou definitivamente enterrada a orgulhosa «civilização ocidental». Pode continuar a ter vitórias, mas serão vitórias de Pirro, ou seja, das que trazem ainda pior que uma derrota. Com efeito, todo o resto do mundo, e é a maioria, olha com horror as práticas bárbaras dos governos e exércitos «ocidentais» e percebe perfeitamente que eles não têm qualquer consideração por nações que se coloquem num caminho de independência, de desenvolvimento autónomo. 

Espero que muitos de vós saibam repudiar a deriva criminosa dos vossos governos. Só nessa medida, poderá haver um sentido de compaixão quando se abaterem sobre as nossas sociedades as profundas misérias em que nos meteram as élites corruptas que nos desgovernam. 


PS1: como os meus leitores habituais já sabem, eu tenho descrito a situação geopolítica como de guerra mundial, a qual se estende por todo o espectro, desde as guerras locais por procuração, às sanções económicas e ao reconfigurar dos sistemas monetários.  No texto acima, quis enfatizar a insanidade das políticas levadas a cabo pelos dirigentes ocidentais e os seus desastrosos resultados, no contexto da guerra mundial em curso.

domingo, 24 de dezembro de 2023

A ORIGEM DO AFLUXO DE REFUGIADOS

 


As catástrofes que se abatem - ora num país, ora noutro - no Sul Global não são fatalidades. Claramente, são causadas pelas intervenções dos poderes imperiais, ou diretamente, ou através de vassalos. Este estado de caos nos países mais frágeis é exatamente o que a classe oligárquica globalista procura. 

- Não só através de guerras, golpes de Estado, guerrilhas (manipuladas pelos imperialistas) mas, também por arma de destruição massiva terrível e muito mortífera: A fomeEstas populações não têm outro meio de sobrevivência, senão a ajuda das agências internacionais: A Cruz Vermelha, os organismos da ONU para os refugiados, e outras organizações humanitárias. 

O povo tem de deixar de «dar o benefício da dúvida» aos genocidas e aos cúmplices destes, que se apoderaram das rédeas do poder - há algum tempo - em países do Ocidente. Eles estão no poder para fazer a política que lhes é ditada pelos seus verdadeiros donos: Os multimilionários têm o futuro dos políticos na mão; distribuem - ou não - benesses, consoante os políticos façam - ou não - o que lhes é ditado. 

Não admira que a dissociação entre o público desses países e seus dirigentes, seja enorme. O que a cidadania deseja, apesar das campanhas de lavagem ao cérebro pelo jornalismo prostituto, é a paz, a ajuda às vítimas, o alívio dos que sofrem. Está preocupada com o influxo de milhões de refugiados das guerras, das fomes, das destruições, mas percebe cada vez mais nitidamente, que ele é  provocado pelos próprios dirigentes dos países ocidentais. Uma nítida maioria de jovens, dos 18-24 anos e dos 25-30 anos, respondendo a inquéritos nos EUA e na Alemanha, deseja que seja atribuído o estatuto de Estado à Palestina e que Israel não tem legitimidade para o que está a fazer em Gaza.

  Espero que a cidadania dos países - em especial, os ocidentais - tome plena consciência e compreenda cada vez melhor a natureza criminosa dos que a governam. 


quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

OTAN VAI DIRIGIR A OPERAÇÃO NO MAR VERMELHO CONTRA OS HUTHIS

 Veja o vídeo de entrevista a Thierry Meyssan, pelo «Courrier des Stratèges»:

                                           [TEM LEGENDAS AUTOMÁTICAS EM FRANCÊS]

Consulte o artigo de John Helmer «RUNNING THE RED GAUNTLET» sobre a guerra em alastramento no Mar Vermelho (estreito de Bab el-Mandeb)
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PS1 (22/12/2023): A instabilidade parece acentuar-se com a entrada em cena de navios de guerra  iranianos, chineses, russos e indianos; face a uma anunciada força naval liderada por americanos e OTAN:

PS2 (23/12/2023): Uma hipócrita resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas foi aprovada. Israel poderá continuar negar o auxílio humanitário  à população palestiniana de Gaza, com a consequência de fome devastadora e epidemias:  https://www.youtube.com/watch?v=IT0yW6kS3Uo

PS3 (23/12/2023): Espetacular fracasso dos EUA em juntar os seus países aliados, da OTAN e outros, na missão no Mar Vermelho. Vejam esta notícia, abaixo. Na realidade, isto é uma autêntica bofetada no poder hegemónico:

PS24/12/2023: A brilhante iniciativa estratégica dos houthis, no estreito que controla o Mar Vermelho, vem mostrar aos EUA, que os aliados da OTAN (França, Itália, sobretudo Espanha...) não estão disponíveis para se queimarem, para defender Israel. Sobretudo, não estão interessados em entrar em conflito com o Irão. Isto quer dizer que o panorama internacional mudou - qualitativamente - com o alargamento dos BRICS. Será o início do fim da OTAN.
https://johnhelmer.net/honey-trap-for-israelis-and-americans-in-the-red-sea/#more-89104