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quinta-feira, 3 de abril de 2025

TRUMP PRECIPITA A CRISE DO CAPITALISMO DOS EUA

 A ideia de que as tarifas seriam a salvação para a América, possibilitando a sua reindustrialização, é daquelas ideias peregrinas que costumam entusiasmar um público já cativado, um público de crentes nas virtudes de um líder, de uma visão, de uma ideologia. 

Basta pensarmos que reindustrializar um país, envolve a sua profunda transformação em relação a muitos domínios, que  - à partida - não parecem estar correlacionados:

- A educação: esta terá de obedecer a padrões de qualidade, desde os primeiros anos de escolaridade, até à universidade. A deriva do ensino seguindo critérios ideológicos de uma certa «esquerda wooke», apenas afundou todo o sistema de ensino. Faço notar que os chineses tinham aprendido a lição, ao expurgarem seu sistema de ensino da ideologia do maoismo. Esta foi uma condição para progredirem em todos os domínios, incluindo científicos. Eles concluíram, nos anos 1980 no início da era de Deng, que para haver desenvolvimento industrial, era imperativo - ao nível académico -  colocar-se como prioridade a qualidade científica e técnica dos estudantes.

- Num mundo capitalista, são os fluxos de capitais que determinam a prevalência dum setor da economia sobre os outros. Neste caso, estamos a falar da atração exercida pelo lucro fácil no setor financeiro, muito mais atraente pelas suas margens de lucro, em relação ao investimento industrial. Como consequência do processo, muito capital foi para atividades financeiras. O capital industrial viu-se privado de grande parte do financiamento necessário, nos últimos 40 anos. Para se inverter esta tendência, seriam necessárias enérgicas medidas, limitando o investimento em ativos financeiros e forçando o investimento em projetos industriais. Dificilmente consigo imaginar - no curto prazo - tal viragem, num sistema de «capitalismo liberal». 

- A existência de tarifas terá sido protetora numa fase bem particular dos EUA. Na sua ascenção a potência industrial de primeira grandeza, o «gilded age», deu-se o crescimento vigoroso da indústria, por volta dos finais do século XIX, princípios do século XX. Mas, neste contexto, tratava-se de impor tarifas em produtos acabados, de importação. As matérias-primas, pelo contrário, tinham tarifas baixas. Também os produtos manufaturados de grande relevância para a indústria, como as máquinas industriais, as ferramentas, tudo o que fosse essencial para o desenvolvimento da capacidade industrial dos EUA, beneficiou de regimes de exceção, permitindo a sua importação. Estes equipamentos necessários eram provenientes, em maior parte, do Reino Unido, da Alemanha, da França e doutros países. Pelo contrário, hoje a Administração Trump não estabelece selectividade em relação às tarifas nas classes de produtos a importar. Existe apenas «punição», país a país, pela sua suposta não-conformidade ao domínio dos EUA na cena mundial. 

- A criação de ambiente favorável à produção industrial e sua (re)implantação nos EUA, implicaria o esforço direccionado para setores considerados prioritários. Implicaria um claro dirigismo da economia pelo Estado, ao contrário do que se verifica atualmente nos EUA e nos países de capitalismo financeirizado, onde os gigantes tecnológicos, não apenas ditam a política industrial, como a política global. A inversão disto, implicaria que o setor mais forte no capitalismo dos EUA, seria derrotado e colocado sob tutela do poder político. Só a ascenção dum Estado do tipo totalitário poderia realizar esta proeza. Não prevejo -por enquanto - uma mudança desta natureza, na política dos EUA. 

- A subida das tarifas, enquanto meio de proteger a produção de bens industriais americanos, não existe. Simplesmente, os EUA estão - desde há decénios - destituídos de capacidade industrial para fabricar a enorme maioria dos bens industriais importados. Ao contrário da política proteccionista num país que já produza esses bens industriais, a imposição de tarifas nos EUA irá somente desencadear o encarecimento geral e brutal dos bens industriais e de consumo. 

- Quanto às indústrias que subsistem nos EUA, estas estão dependentes de muitas componentes fabricadas no exterior, de instrumentação, etc., de produtos semi-transformados, como o aço, etc... Esta subida indiscriminada de tarifas vai ser um fator suplementar de estrangulamento para as indústrias que não deixaram os EUA. Considero provável que se acelerem as falências das pequenas e médias empresas, após algum tempo de vigência deste regime tarifário, cego e brutal.  

- A estrutura produtiva dos EUA já estava no limiar do descalabro, mesmo antes da entrada em vigor destas tarifas. Agora, mais rápida e mais violenta, virá a hecatombe industrial, e em paralelo com o brusco agravamento da inflação.


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PS1: Prof. Jeffrey Sachs sobre as tarifas:

🇺🇸JEFFREY SACHS:

"Tariffs are going to lower living standards.
They're going to wreck the US economy, and they're being put on for unbelievably bizarre and mistaken reasons that are completely fallacious.
Let me explain.
The United States runs a large deficit in its trade in goods and services — what's called the current account of the United States — and that deficit is about a trillion dollars.
Trump says, 'Oh, that's because other countries are ripping off the United States.'
I can't even begin to say how absurd that line is.
[The word is childish.]
Running a current account deficit means — and it means precisely — that the United States is spending more than it's producing. That's what leads to a deficit. You spend more than you produce.
And we spend more than we produce because we have very low savings in this country. We have an enormous budget deficit.
So the government is like the national credit card — it runs on credit.
It transfers money, pays for wars, pays for Israel’s wars, pays for military bases in 80 countries around the world, pays for that more than a trillion-dollar-a-year military establishment, and hundreds of billions more of associated spending on the military-industrial complex.
And it gives tax cuts for the richest Americans.
It allows for tax evasion by the richest Americans — and I mean evasion, because it doesn't do audits, and it guts enforcement of the tax laws.
So we hemorrhage deficits and have rising public debt.
And because of all that, the spending of our country is much larger than our national income.
It’s a trillion dollars more than national income.
It is exactly the imbalance of our imports of goods and services over our exports of goods and services.
All of this is to say that what Trump calls a 'ripoff' is just the absolute irresponsibility of the political class in Washington.
It's a corrupt, plutocratic gangsterism that gives away the taxes and tax cuts to the richest people and goes on war after war — on credit.
And that leads to these large deficits that Trump then blames on other countries.
Now he's going to correct these deficits, he thinks, by raising tariffs.
And of course, it's going to do nothing of the kind.
The deficits are going to continue because they come from the profligacy of Washington.
They don't come from the fact that other countries are ripping us off.
So he'll raise the tariffs. Americans will shift their spending, say, from an imported automobile to domestic automobiles. That's true. They'll pay higher prices for those domestic automobiles. And our auto industry will export less abroad.
So yes — there will be fewer imports and fewer exports, and the balance won’t budge.
And none of it's going to change the fiscal recklessness.
Because what's Trump’s highest aspiration? It is to continue tax cuts for the richest Americans, which is going to cost another $4 trillion over the next 10 years in the budget.
Because these tax cuts are supposed to end, but he says, 'No, no, no — these are taxes for my rich donors, so they're going to continue.'
So he's not going to solve the budget crisis.
He's not going to solve the trade deficit — because that comes from the budget crisis.
But what he's going to do is lower the living standards of our country and the world.
Because trade is beneficial in living standards — it's called gains from trade.
We buy more cheaply. We sell goods that we have a comparative advantage in. And both sides gain from trade.
Of course, we overdo it, because we overspend — but that’s a completely different thing.
No one’s ripping off the United States by these numbers.
I don’t know whether it's just rhetoric or ignorance or confusion, but it's unbelievably bad economic policy.
It will come to no good.
And incidentally, you mentioned rightly that tariffs are, of course, a tax. So who’s supposed to have authority over taxes?
[Congress.]
And Congress has nothing to say in this. This is a one-person show.
What did we become in this country? Even King George wouldn't levy taxes without the British Parliament in the 18th century.
So what happened to this country? Trump just says, 'Oh, it's an emergency,' and now we have one-person rule — and one-person rule on completely fallacious premises that don’t pass the first day of study of what a trade deficit is.
I taught that for more than 20 years at Harvard University — what is a trade deficit, how does it relate to the excess of spending over production, how does it relate to the excess of investment in a country over a low saving rate?
Well, none of this seems to register.
No one asks a question.
There isn’t a day of hearings.
There isn’t any analysis.
It’s a one-person show based on economic fallacies that are going to wreck our economy, wreck the world trading system.
And I can tell you — all over the world, because I am talking with leaders all over the world, and recently in Asia — the words to describe this, you can’t say in polite company."



domingo, 30 de março de 2025

COMO A RECÉM- ELEITA PRESIDENTE MEXICANA MANTEVE EM RESPEITO DONALD TRUMP

 

Claudia Sheinbaum mostrou grande maturidade e soube fazer valer os interesses vitais do México face ao vizinho poderoso no Norte. Não se sabe se a situação vai evoluir para uma melhoria das relações ou se vai haver guerra comercial, a partir de 2 de Abril. O que é certo é que não haverá «capitulação» do lado mexicano. Veja o vídeo abaixo: 




domingo, 5 de janeiro de 2025

Profª Keyu Jin: «TRUMP SOBE AS TARIFAS E A CHINA REDU-LAS A ZERO»

 


A Profª Keyu Jin descreve o enorme tiro no pé da promessa de Trump em subir brutalmente as tarifas de importação de comércio em relação à China, mas também em relação à U. E. e aos países que não se conformem com a ditadura do dólar. 
Como já tinha afirmado neste blog, é evidente que quem vai sofrer mais nesta guerra económica, é o povo americano, embora seja também um fator de instabilidade para outros povos. 
É devido à situação de controlo imperial dos EUA que esta ameaça aparenta ser credível. Mas, se examinarmos detalhadamente as suas implicações, vemos que tal subida de tarifas não tem sustentação. É certo que ela iria gravemente afetar a economia dos próprios dos EUA e dos seus vassalos europeus. Portanto, é - na minha opinião - um bluff. Mas senão, seria a medida mais estúpida que um presidente dos EUA poderia jamais tomar.
A China sempre teve uma política de longo prazo: 
Agora, decidiu diminuir, unilateralmente, para zero as tarifas alfandegárias dos países em desenvolvimento. Estes tinham sido sujeitos ao endividamento excessivo, em consequência das políticas neocoloniais dos EUA e de outros países Ocidentais. 

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quarta-feira, 28 de agosto de 2024

CRÓNICA (Nº31) DA IIIª GUERRA MUNDIAL: ENQUANTO NA TEMPORADA ESTIVAL ...

 Nós todos estamos habituados a cumprir ciclos anuais. A altura do Verão é ocasião de férias, de turismo, para relaxar, para repousar. Os dirigentes sabem isso muito bem, pelo que costumam  fazer passar legislação que afeta negativamente* as nossas vidas, durante o remanso de Agosto, pois assim terão uma oposição popular muito mais fraca, pelo menos no imediato. 

Lembro que a famosa «suspensão» da convertibilidade do dólar US em ouro, feita por Nixon e que deitou por terra os acordos de Bretton Woods, teve lugar a 15 de Agosto de 1971. Mas, não foi caso único, longe disso. 

Hoje em dia, as fronteiras entre a guerra física (com as suas mortes e destruições) e a guerra económica (com o seu cortejo de sanções, de embargos, de restrições ao comércio normal entre países), essas fronteiras são meramente teóricas. Pois os movimentos das tropas são antecedidos, ou acompanhados por movimentos nas praças financeiras, nos centros de poder e não têm nada que ver com as famosas «leis do mercado», antes pelo contrário.

Quero aqui exemplificar com as taxas proibitivas de 100% , sobre a importação de carros EV chineses, nos EUA e medidas análogas dos seus vassalos europeus. Estas medidas têm sempre «justificações» absurdas e retóricas que acompanham os decretos ou leis em causa. Mas, realisticamente, aquilo que se passa é o erguer de barreiras ao comércio, é uma guerra económica, sob os mais diversos pretextos, mas sobretudo pelo motivo que não nos dizem: é uma forma extrema de proteger a produção do país em causa, de concorrentes exteriores. 

Assim, nas chamadas «democracias liberais», mesmo não havendo um estado de guerra formal e declarado com a China, vão se multiplicando os gestos hostis, sob os mais variados pretextos. Cabe aqui perguntar: Quais são os países realmente liberais, no sentido clássico de comércio livre?  

- Serão os países que proíbem a exportação de «microchips» para a China, que põem tarifas proibitivas na  importação de certas mercadorias chinesas? Serão os que - depois de terem convidado a China a ingressar na Organização Mundial do Comércio (OMC), na viragem do século - lhe fecham as portas do comércio, «matando» de uma assentada essa mesma OMC, organização considerada da maior importância na ordem globalista ( e liberal) mundial?

- OU serão os países que desenvolvem uma rede de vias de comunicação internacionais (New Silk Roads), em cooperação uns com os outros, intensificando laços comerciais, com investimento maciço em infraestruturas (estradas, caminhos-de-ferro, portos, aeroportos) ; serão os países (como a China), que acolhem capitais e indústrias de outras paragens, permitindo que aí se desenvolvam, que produzam para exportação; e que  aceitam que os investidores estrangeiros recolham e exportem os lucros dos seus investimentos?

As barreiras protecionistas são uma confissão de derrota dos países que se autoproclamam de «liberais».  Nem sequer são protetoras para a sua população, pois as classes mais modestas começaram a viver melhor, nestas últimas duas décadas, graças a exportações da China para os mercados ocidentais. Na verdade, os dirigentes ocidentais não se podem escudar no pretexto de que estão a proteger a sua indústria nacional.

 Primeiro, porque duas ou três décadas antes, incentivaram a transferência das indústrias (as mais dinâmicas e rentáveis) para países de mão-de-obra barata, sabendo eles muito bem que estavam condenando as classes operárias dos seus países ao desemprego e à precariedade crónica (os empregos «de merda»). Aliás, esse era um dos objetivos deles; podiam subjugar um segmento, dos mais combativos e reivindicativos, da população: o operariado industrial.  

Segundo, porque o movimento para o Leste da Ásia da indústria de ponta, não podia ser revertido de uma penada. As fábricas e outras infraestruturas materiais, poderiam ser  reerguidas, embora à custa de investimentos intensivos de capital; porém, a formação das pessoas envolvidas na produção, os operários e os engenheiros, é assunto muito mais complicado; demora tempo a formar e mesmo a recrutar, pois é difícil criar apetência para este tipo de empregos... Por outro lado, haveria necessidade dessas tais indústrias pagarem cinco a dez vezes, nos países  ocidentais, os salários que pagavam aos seus operários asiáticos, onde se situam as referidas indústrias. 

Para confirmação disso, apresento dois factos: 

1º Apesar das tarifas de 100%, os carros EV chineses estão a ter uma aceitação muito grande nos mercados, em todo o Ocidente. Os chineses conseguem fabricar carros a um preço imbatível, comparados com EV de marcas ocidentais. Não tarda que sejam encontradas estratégias para rodear as tarifas brutais: Os comerciantes de automóveis sabem que o grande público, ávido de se reconverter aos EVs, não tem posses, na sua imensa maioria, para comprar os carros de gama alta, que têm sido lançados no mercado nos últimos anos.

2º A Alemanha é, politicamente, o país da UE mais alinhado com Washington. Porém, houve uma recente visita de Estado à China, de dirigentes do governo alemão, que trouxeram na sua comitiva muitos empresários. Eles estavam ansiosos em continuar, ou em implantar, as suas indústrias na China. 

Aliás, recorde-se que muitas empresas alemãs  foram para a América, devido ao aumento dos preços da energia (devido à sabotagem dos gasodutos Nord Stream pelos americanos). A potência industrial maior da Europa, a Alemanha, está entre a espada e  parede: Não tem coragem de se autonomizar em relação aos EUA, como gostaria, mas - por outro lado - tem que manter o nível de vida dos alemães, um dos mais altos na Europa (junto com o dos escandinavos), porque estes já estão a entrar em revolta. As medidas autoritárias tomadas pelo governo, durante o COVID e depois, são realmente aplicáveis em quaisquer situações: Agora, têm servido para reprimir os movimentos populares pró-palestinianos e contra o genocídio perpetrado pelos sionistas, amanhã quem sabe para que serão utilizadas?

A guerra foi desencadeada em 2001, pelos EUA e seus vassalos. Foi começada no Médio Oriente Alargado, após o «11 de Setembro» e cujo saldo são milhões de mortos e países em ruínas. Ela foi continuada nas fronteiras da Rússia, com o alargamento sistemático da OTAN aos ex-países aliados da URSS no pacto de Varsóvia,  e depois envolvendo ex-repúblicas soviéticas. Este alargamento ocorreu, contra a promessa solene dos ocidentais, em não alargar um centímetro a OTAN, se os soviéticos aceitassem uma reunificação pacífica das duas Alemanhas.

Decidiram provocar a Rússia, depois, até ao ponto de seus dirigentes sentirem que tinham de pôr um termo a esta situação. A invasão russa da Ucrânia foi deliberadamente provocada, por mais que  os atlantistas repitam que foi uma «invasão não provocada». 

A paz, mesmo após a guerra ter começado, é melhor do que a continuação da guerra. Isto é o que pensam pessoas humanistas, civilizadas. Mas, para os falcões da OTAN, é melhor a sangria do povo ucraniano, para «enfraquecer» a Rússia, dizem eles, como se tal monstruosidade fosse aceitável. Ela foi constantemente levada a cabo - pela preparação do golpe de Estado de Maidan, fomentado pela UE e EUA - na Ucrânia, em 2014. Quanto à guerra, esta começou em 2014. Mas eles, os ocidentais, nada fizeram para a prevenir ou acabar. Durou 8 anos, a guerra civil entre o poder golpista, dos ultranacionalistas banderitas e as regiões do leste da Ucrânia, de maioria russófona. Uma enésima vez, os ocidentais traíram o seu compromisso, ao nada fazerem para implementar os acordos de Minsk (em que participaram como garantes).

Agora, estão os mesmos falcões atlantistas a criar uma situação de guerra com a China, sob pretextos idiotas. 

Mas, na verdade, são eles - políticos no poder, no Ocidente - que, face ao descalabro de suas economias, ao colapso do dólar como moeda de reserva mundial, à diminuição do nível de vida das populações, querem acabar com a globalização que eles próprios promoveram. Numa primeira fase, quando ela só lhes trazia vantagens, foram seus arautos. Agora, vendo as vantagens comparativas dos países dos BRICS querem, a todo o custo, reverter a globalização. 

Mas a globalização não é um «cenário de teatro» que se pode desmontar, uma vez que a peça teatral acabou. Um aspeto fundamental da globalização é que, no domínio da tecnologia e das boas práticas industriais e comerciais, uma vez aprendidas, não se desaprendem. 

Mesmo erguendo nova «cortina de ferro», para se isolarem dos supostos inimigos, os atlantistas do Ocidente não conseguem mais do que isolarem-se a si próprios do resto do Mundo.

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* Muita legislação tem títulos  «bonitos» e «ecológicos», mas realmente são leis anti-ecológicas e anti-agricultura. 

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PS1: Veja o que tem a dizer da China um ex-deputado norueguês, que visitou dezenas de vezes a China, desde os anos 80. https://www.youtube.com/watch?v=P9nA3hX6tG0

sábado, 24 de agosto de 2019

CHINA RETALIA FACE ÀS TARIFAS DOS EUA - MAS AFIRMA QUE ÚNICO CAMINHO É COOPERAÇÃO


Trump anunciou a imposição de tarifas de 10% sobre uma série de bens chineses. 
A notícia do canal acima - a posição oficial de Pequim -apareceu pouco tempo depois do anúncio de Trump, o que mostra que não hesitam em responder, embora continuem a afirmar que para um futuro melhor, o único caminho é o do diálogo.
Esta situação está a piorar a economia dos países ocidentais e dos EUA, numa escala maior que o prejuízo causado à China. Com efeito, todos os índices económicos estão em descida: as bolsas de valores, a produção industrial, o consumo privado, o crédito... todos estão a apontar para uma crise muito próxima, incluindo a inversão das taxas de juro (os juros dos treasuries a 2 anos acima dos a 10 anos).
Há consenso de que haverá uma grande crise no ocidente e que será exacerbada pela guerra comercial com a China.

quinta-feira, 19 de julho de 2018

GUERRAS COMERCIAIS, PODE NÃO SER BONITO... MAS TEM UMA LÓGICA!

Sim; com efeito, um país como os EUA, que nos habituou a ser (ou a apresentar-se como) o campeão do livre-comércio, está agora envolvido numa guerra comercial declarada, seja em relação ao gigante chinês, seja em relação ao seu parceiro estratégico, a UE. 
As tarifas têm um efeito inibidor quer das importações, quer das  exportações, porque as referidas tarifas sendo impostas unilateralmente, recebem no geral uma resposta simétrica. Os produtos americanos exportados para a China, são poucos e pouco diferenciados, mas no caso da soja (os EUA são o segundo fornecedor da China, a seguir ao Brasil) as tarifas - por sua vez impostas pelas autoridades  chinesas - já se fazem sentir.
No caso da UE, já estão preparadas medidas, caso sejam colocadas tarifas sobre os seus automóveis, exportados para os EUA, ou outros bens. 
Nenhuma componente do comércio mundial fica incólume face a esta guerra tarifária imposta pela administração Trump. Mas, o que é que isto significa, quer no curto prazo, quer no médio e longo? 
No curto prazo, é evidente que a população dos EUA vai pagar mais caro uma boa parte dos produtos, visto que consome muitos produtos oriundos dos mercados chinês e europeu. 
A inflação irá acelerar, sem que isso signifique maior capacidade aquisitiva das  pessoas; as estatísticas não deixam dúvidas de que os salários estagnaram. 
Nos países europeus, haverá muitas dificuldades naqueles sectores em que parte significativa da produção é exportada para os EUA. O desemprego pode crescer de novo, sem que tenha sido reabsorvido totalmente, após a crise europeia da dívida de 2011-2012. 
No médio prazo, haverá uma reorientação dos mercados. 
A China irá tentar obter cada vez mais produtos fora a esfera dos EUA e do dólar. Irá basear, ainda mais, a sua economia em acordos bilaterais, com múltiplos outros países, evitando usar o dólar. Por exemplo, as compras de petróleo à Rússia, usando o Yuan ou Rublo, o mesmo se passando em relação ao petróleo do Irão. 
Estas trocas serão modelo para outras, em que se vai generalizar, como pagamento, a nota de crédito em Yuan.
Quanto ao efeito na economia americana, sem dúvida que se assiste a uma repatriação de capitais, vindos um pouco de todo o lado, com relocalização de grandes corporações, nos EUA. 
Mas a estrutura produtiva não se improvisa e os conselheiros de Trump, com certeza sabem que a reindustrialização vai durar anos ou mesmo decénios a reverter ao nível de auto-suficiência industrial que os EUA possuíram no período das décadas de 1940-1970. 

Assim, esta mudança de ambiente internacional irá causar uma contracção do PIB mundial, uma sensível redução das trocas comerciais, um congelamento do investimento estrangeiro. Nada disto afinal será favorável aos EUA, ou a seus aliados, no seu conjunto. 
Perante tal paradoxo aparente, existe uma explicação muito clara, mas poucas pessoas têm conseguido fazer a leitura correcta: Existe uma vontade, por parte de Trump, em deitar abaixo a economia dos próprios EUA. Pode parecer estranho que ele esteja apostado nisso, porém a lógica é a de criar uma situação em que o governo dos EUA tem de novo o controlo dos mecanismos económicos e financeiros, os quais têm estado demasiado nas mãos da FED, de Wall Street, assim como da OMC, FMI, e outras organizações globalistas. 
A lógica é contrária à globalização, que tem sido o «mantra» no Ocidente ao longo de praticamente meio-século. Trump e os que o apoiam, é nacionalista, tem mostrado isso em discursos e actos, de forma suficientemente explícita para não se guardar qualquer dúvida a tal respeito. 
Os sectores económicos que o apoiam têm interesses divergentes das grandes multinacionais. O seu ataque está a criar as condições da crise vindoura. Mas é precisamente o que eles querem e precisam: Uma crise, cujo desenrolar esteja basicamente sob seu controlo, uma «demolição controlada do edifício». 
Só assim poderão ter o controlo sobre o que virá depois.

Quem subestima Trump e seu governo, está a auto-iludir-se: quer na direita, quer na esquerda, as opiniões emitidas mostram que as pessoas não compreenderam a lógica subjacente.
O que acho mais estranho é que haja essa atitude de denegação, apesar de Trump e seus defensores mostrarem, desde o princípio, as suas intenções. Talvez as pessoas não tenham acreditado, pois estão habituadas a que, no mundo da política, os líderes não façam aquilo que prometeram? 
Creio que só assim se pode compreender o ódio de morte contra Trump e a corrente que representa por parte do establishment político e mediático, ou seja, os «guardiões» do status-quo. As guerras para provar uma fantasiosa «ingerência» russa nas eleições são o meio que esta oligarquia ameaçada tem tido para tentar travar a onda Trump. Mas creio que está a perder pé e não conseguirá o seu intento, que era obter o seu «impeachment».
As pessoas deviam acordar para a realidade e perceberem que a imagem de Trump, que lhes andam a vender, só contribui para obscurecer o seu entendimento do que determina verdadeiramente as estratégias da maior super-potência.

terça-feira, 10 de julho de 2018

«SE QUERES A PAZ...PREPARA A GUERRA» (?)

Inquietante, esta reportagem de James Corbett. Ele está radicado no Japão e tem seguido a par e passo as movimentações das grandes potências no Extremo-Oriente.

                                         

A ameaça de uma guerra a quente entre a China e os EUA já era evidenciada no documentário do grande jornalista John Pilger, «A guerra anunciada com a China», divulgado neste blog, em Dezembro de 2016.

Agora esta ameaça torna-se mais perigosa, com a guerra comercial com a China, iniciada por Trump, enquanto paralelamente ameaça o Irão. 
O presidente Rouhani terá dito que o estreito de Ormuz é «para todo o petróleo circular... ou para nenhum». 

Será que, perante uma colossal dívida, certos elementos da administração dos EUA, estão a fazer tudo para desencadear uma guerra? 
Como não poderão evitar um colapso económico, esperam desviar as atenções com uma guerra. 
Além disso, tentarão convencer o povo americano que a situação é causada pelos seus inimigos.

sábado, 7 de julho de 2018

AFINAL DE CONTAS... A ENERGIA É QUE CONTA!

No calor do Verão, espero que encontrem prazer em ler 2 excelentes artigos: 
- e o outro «As tarifas são ponto de partida para cinquenta anos de guerra comercial com a China», ambos publicados no Asian Times, de autoria de Pepe Escobar.


Ambos os artigos têm muita informação significativa, recorrem a fontes sérias, mas sobretudo, dão-nos uma perspectiva de como realmente, independentemente da retórica e da propaganda, se vão desenhando novas alianças e desfazendo antigas, dadas como certas... 
É o caso da Rússia e Arábia Saudita no primeiro caso  e no segundo, a dissolução da «solidariedade entre aliados», europeus e não só, nada felizes com as sanções contra o Irão, tendo já mostrado que não estão pelos ajustes.
Antes, a Alemanha também tinha manifestado que não estava disposta a aceitar que o Nord-Stream, o fornecimento de gás russo ao norte a Alemanha, por um gasoduto subaquático no Báltico,  fosse  boicotado, com a tentativa pelos EUA em fazer gorar este investimento fundamental para a indústria germânica.       
Muito significativo é o «não» turco em aderir às sanções contra o Irão; este fornece 50% do petróleo consumido na Turquia. 
Basta ter em conta esta situação, para se perceber muitos factos diplomáticos, económicos e militares ocorridos nos últimos tempos, na região.  
O caso da Coreia do Sul e do Japão, em relação às sanções contra o Irão, também é significativo. Vão pedir a suspensão das sanções para o seu comércio alegando a necessidade estratégica do abastecimento do petróleo iraniano aos seus países.
 Não esqueçamos que os EUA ameaçaram impedir quaisquer actividades no território dos EUA, às firmas que participassem em negócios com o Irão.  

Finalmente, percebemos que o «fracking» é um enorme fiasco, tecnológico e económico, além de obviamente um crime ambiental. 

               OECD, Russian oil graphic

Quanto às tarifas comerciais; o presidente dos EUA parece pouco preocupado com uma capacidade produtiva interna muito pouco sólida. 

No mundo de hoje, o lema «América First»     só pode fazer sentido em paralelo com uma abertura e capacidade diplomática de encontrar parcerias e não fazer mais inimigos e «torcer o braço» a súbditos. 
A Rússia de Putin e a China de Xi-Jin-Pin sabem fazer isso: estes dirigentes põem claramente em primeiro lugar o interesse dos seus respectivos países... A arrogância imperial americana é que ainda não o compreendeu, verdadeiramente.
Ou pelo menos, se ao nível do «entourage» mais próximo do Presidente, alguns terão esse entendimento, parece que não será o caso dos que ainda dominam as duas facções democrata-republicana do partido «único» no Senado e Congresso, assim como o «Estado Profundo», ou seja, as entidades cinzentas, mas com poder dentro da CIA, o Dep. de Estado, o Pentágono e outros locais de poder do Estado. 
                          
As guerras físicas começam, muitas vezes, com guerras económicas. O arsenal económico - as sanções, os bloqueios, os boycotts - pode ser tão ou mais letal, que balas e bombas. 
No caso da guerra comercial dos EUA contra a China, creio que se trata de um enorme erro, de um erro derivado da hubris, a auto-confiança excessiva que se apodera dos vencedores e os faz cometer erros fatais. 
Quem depende de quem? Os EUA não têm possibilidade de ir comprar noutros mercados muitos dos produtos manufacturados na China. Não têm possibilidade técnica, nem económica, de suprir as suas necessidades em produtos manufacturados, senão num prazo de anos pois houve uma grande desindustrialização nos EUA  nos últimos 30 anos, sendo impossível restabelecer esta base senão em anos...4, 5 ou até 10 anos, no mínimo! 
Mesmo a «menina dos olhos» dos globalistas, a indústria do armamento, precisa de importar da China «terras raras» para ligas metálicas especiais, para aviões de combate, mísseis, etc. 
Ora a China é um dos poucos fornecedores mundiais de «terras raras» (esses elementos necessários em quantidades muito pequenas, mas insubstituíveis), tal como a Rússia e a Coreia do Norte...

Esta guerra das tarifas, não irá -de certeza- traduzir-se num dobrar da cerviz da China; portanto estamos a assistir, neste Verão, à  viragem para um novo ciclo geoestratégico, que poderá durar muitos anos. As coisas podem apresentar-se de múltiplas maneiras, mas para o poderio dos EUA, o desfecho é inelutável. Esse desfecho é a perda de seu papel hegemónico, a perda de influência no Mundo. 
Os governos - até agora - aliados dos EUA estão inquietos e querem dissociar-se do rumo que as coisas estão a tomar.