14. GRITO DOS OPRIMIDOS DA TERRA
Quase todos se designam como ambientalistas
Está na moda; mas, quantos estão genuinamente
A lutar pelo ambiente, o que inclui os humanos?
Onde estão os ambientalistas quando se trata
De manifestar contra a guerra
Exigindo paz imediata, salvando vidas
E salvando a ecosfera, impactada
Pelo desastre ecológico das guerras?
Que protesto contra a hipocrisia
Dos dirigentes que falam contra
Mas enviam armas e munições
A um dos lados, para eternizar
O bom negócio para a indústria
Dos armamentos?
Não lhes importa o ambiente
Nem tão pouco as pessoas
São ecologistas da treta
Que se indignam apenas
Com um dos lados e calam
Críticas a quem lhes paga!
A Terra, essa, não tem
Quem a defenda
Apenas a regeneração
Natural, no longo prazo
Se os homens entretanto
Não tiverem conseguido
Tudo destruir!
13. O POETA TRANQUILO
Escrevia como se respira
Muitas vezes o vi sentado
Naquela mesa de café
Olhando o vazio
Logo de seguida
Mergulhava num caderno
Onde rabiscava
Misteriosos signos
Depois, sorvia o café
E ia dar um passeio
Ou recolhia-se em casa
Se o tempo fosse agreste
Não sei o seu nome
Para mim, é «o poeta tranquilo»
12. ANTEVISÃO
Um tiro no escuro...
E o que restou desse tiro?
Estalido, ruído, tremor, temor?
Quando se alumiou a cena, o que ficou?
- Pois uma estranha peça de caça
Carcaça que estava congelada
E logo se desembaraçou do gelo
Mas sem miolos, feitos em papa
Ergueu-se à custa dos músculos
E quis esmagar tudo e todos
Mas, acabará em desaire
Inconsciente do que faz!
Deixá-lo! Já basta de bestas
Esta vai dar muitos socos
No vazio, coices nas paredes
Urrando ferozes ameaças
Mas, nós ficamos a olhar
Sem intervir, certos que ela
Desmiolada vai esgotar
As forças sem proveito
E que assim seja:
Que esmurre o vazio
Pois acabará por soçobrar
Ante seu próprio peso!
Deixá-lo! Já basta de bestas
Que nos atormentam
É tempo de regressar
À paz, à vida, sem mais dor
11. PALAVRAS OBSCURAS
Serão palavras obscuras,
As que eu tenho para te mostrar:
Amei a luz e o calor
Não vi o cortejo
De invejosos atrás de mim
Ofereci meu coração
E afeto, mas a quem
Não sabia dar de volta
Agora estou às voltas
Com o meu passado
Arrependimento?
Só de ter sido ingénuo
Pois amor não é pecado!
Neste mundo onde vivemos
Hipocrisia, cobiça e outros
Sentimentos venenosos
Involucraram-se
Nas massas cerebrais
Dos contemporâneos
Ao ponto de não saberem
Distinguir a realidade
Das suas narrativas
Auto justificadoras.
Tenho pouca esperança
D'amanhãs que desencantam
Dedico-me a estudar e mergulhar
Na Natureza, ela me ensina
Meu otimismo está na fonte
D'onde a glória cósmica
Emana; nas sociedades
Contemporâneas
Em vão procurei
A fonte de Vida
Procurei longamenteNo meio das trevas
Não tenhais ilusões
Procurai o bem e o justo
No interior de vós próprios
Não em discursos elogiosos
Mas no saber de si próprio
Só assim podereis
Velejar na travessia
Do oceano turbulento.
10. VENDAVAL DE ABRIL
Onde estão os dias da minha juventude
Em que dançávamos embevecidos pelos sons
Que nos pareciam dizer o que nos ia no coração
Em que as raparigas eram atraentes e prudentes
Para nos darem esperança de namoro somente
As infinitas discussões politicas, as ilusões
Podeis rir ou desprezar; eu tenho boas recordações
São minhas, são vossas, rapazes e moças desses anos
Não importa que sejais avós, que estejais na reforma
Este período da nossa história coletiva foi
Entre exaltações, ilusões e trambolhões
O tempo único de florescimento
O desabrochar de mil canções
Que nos encheram corações e almas
De esperança
Não será isso o mais importante?
- Aquilo que nos faz viver,
Nos transporta além do nosso ego
- Aquilo que vence a estupidez
A mesquinhez e a cupidez?
Serei sempre adolescente
Na alma, não por passadismo
Mas por escolha, depois de ter
Visto a miséria em que se transformou
Boa parte dos adultos de hoje:
O seu "ideal" é encaixar no sistema!
Perdoo tudo, menos a covardia
O não ter coragem de fazer
O que seja preciso, para repor
A justiça e dignidade no seu entorno
Podem ter muita "competência", etc. mas
Onde está a vossa decência?
Se quiserdes, podeis viver "com a espinha direita"
É vossa escolha...
Digo-vos ser bem pior
Viver rastejando e espezinhado.
- Tudo o resto é bem pouco, indigno
E fracassado, não tenham ilusões:
O "vencer na vida" que eles apregoam
É vencer no concurso
Para escravo abjeto dos Senhores
Se é este o vosso objetivo, lamento,
Mas não terei qualquer palavra de apreço
Pela vossa entrega ao serviço das bestas
Do momento; só poderei lamentar.
Os outros que me seguem
Sabem que eu não lhes tento vender
Esta ou aquela ideologia
Apenas que sejam livres, humanos,
Dando e recebendo amor
O amor verdadeiro que não
Se vende nem compra
Que pode ter ou não ter
Uma componente física.
Tem de ser genuíno.
9. AS AÇÕES TÊM CONSEQUÊNCIAS
Há sempre um depois, isso tens de aceitar
quer gostes ou não, tuas ações têm consequências
Assim, quando te lamentas de que não «esperavas»
estás a enganar-te pois já sabias que nada é garantido
O que pode uma mente e uma vontade em face
do destino? Pode muito ... mas não lamentar-se
Na tua postura reside o problema; tomas-te
por outro, imaginas um personagem que não és tu
Mas vem o dia, um certo dia em que o teu sonho
se desmorona; podes tentar construir nova ilusão
ou varreres os escombros e construir algo novo
ou estás sempre a reproduzir os mesmos erros
ou tomas o leme e pões o teu ser noutra rota
A escolha é tua, mesmo que não te agrade escolher
sabes, no fundo, que podes sempre escolher
Embora fazer as escolhas no tempo certo seja o ideal
as oportunidades são mais que as marés
sobretudo para reerguer a tua vida e navegar
As escórias que nos dificultam o caminho
são fáceis de eliminar, só guardar o que tem valor
Os sentimentos e atitudes vitais e comuns
que permitem potenciar a vida em comum
A vida social, a transação não comercial
entre pessoas chama-se amor
Mas está-se numa época muito contrária
a este simples elemento da vida humana
Só podemos viver a vida em plenitude,
ultrapassando as imposições exteriores
que nós interiorizamos e são muitas!
Reconhecer quais são essas, examiná-las
rejeitando as que nos amesquinham,
aproveitando as que sejam de disciplina
pessoal saudável, selecionando
aquilo que há de bom e suspendendo
o nosso julgamento do que não sabemos
ao certo, ou com grau de certeza suficiente
sabendo que, se esperarmos, saberemos.
Poderemos deslindar e avaliar o valor
de ações, de juízos, de teorias, etc.
mas, não é possível avançar sem grande trabalho
sobre si próprio. Talvez esse seja o significado
profundo do mito de Sísifo. Ele rolava sempre
a pedra para o cume da montanha
Não foram os Deuses que o condenaram
a fazer isso e a repeti-lo incansavelmente
Era a lei da vida; de se procurar acumular
energia potencial,
que se dissipa, inevitavelmente,
rolando pela encosta abaixo.
Porém, nada nos pode demover de fazê-lo
ainda assim; porque se trata da lei da vida
e nós queremos estar vivos. Se perdemos
esta vontade de rolar a pedra encosta acima
então só nos resta nos deitarmos e morrer.
E o dia depois de morrermos, como seremos?
Não haverá energia para «rolar a pedra»
por isso precisa a natureza de fabricar
novos seres vivos, substituindo
os que se foram.
Mas os que se foram deixaram uma obra
ela existe, em torno de nós
e chama-se sociedade, civilização, cultura
Então, este é o verdadeiro potencial,
transcendendo várias gerações.
Por isso, devemos opor a nossa energia às forças de destruição
de anulação do potencial, construído pelas gerações presentes
e passadas; quem quer destruir tudo, são tresloucados
não se constrói, destruindo!
Sim, é preciso escavar para construir um edifício,
mas não se faz senão deslocar terra e rocha de um sítio para o outro!
A destruição que eu falo é bem pior,
traiçoeiras bombas que eliminam vidas, que as ceifam
a destruição de incontáveis gerações humanas
quer sejam edifícios, quer sejam vidas e todo seu potencial
As destruições que se tem diante dos olhos não são sentidas
verdadeiramente pelos que não estejam debaixo das bombas
A solidariedade real, escasseia: a indiferença e egoísmo
face ao sofrimento alheio é uma destruição do que existe
de humano em nós. Colocam-se as imagens de violência,
nos écrans das televisões e dos computadores, estão a ser
veiculadas ao nível subliminar como «espetáculo»,
mesmo os corpos mutilados e as cenas de desespero
perante as câmaras, não são vistas como algo que nos diga respeito,
no mais íntimo. É precisamente neste aspeto, além do imediato
que a guerra (todas as guerras) tem um efeito global destruidor:
Se a humanidade das pessoas desaparece, fica embotada, elas estão
transformadas em robots «de carne e osso», não são seres humanos,
pois deixaram de ter empatia, a capacidade de se colocar na pele do outro.
Tanto para os criminosos como para as suas vítimas, existe o depois:
Depois de feito o abjeto e criminoso ato, ele não será nunca apagado
seja qual for a sentença de tribunais humanos
O espírito universal não será condicionado por isso.
As consequências são incalculáveis para nós, humanos.
8. O VEREDICTO
Cada dia que passa,
7. VIVER É SOFRER
Mas a maior parte das pessoas
Está tão ocupada com a simples sobrevivência
Que não tem possibilidade de filosofar
A vida é sofrimento, sente-se de vários modos:
Com o corpo e com a mente
Em várias circunstâncias
A ausência de sofrimento é assimilado
Ao bem-estar, ao prazer
Mas tal não é assim;
Seria antes o sofrimento
A reinar sobre nós
Como tortura sobre o corpo
E o espírito.
Os sofrimentos materiais e morais
São menos intensos, não desaparecem
Mas podem ser esquecidos
Por instantes.
É nessas ocasiões que nos iludimos
E acreditamos que somos «felizes».
Além disto, quero dizer-vos
Que a ideia de que existem afortunados
Que não sofrem, ou sofrem pouco,
Porque são ricos, poderosos, inteligentes ...
É falsa. Não existe correlação entre o poder
E evitar o sofrimento.
Quem aguenta o sofrimento
e não fica tão traumatizado
Como os outros, tem maior resistência
Ou resiliência, a capacidade de enfrentar
As coisas duras da vida.
Não procuro sofrer. O sofrimento
Não me trouxe paz, trouxe-me
Um início de sabedoria
A vontade de evitar sofrimentos
Inúteis, em mim e nos outros.
Sei que soa a demasiado pouco
Mas, este evitar ou menorizar
Da dor e do sofrimento
É ensinamento de séculos e séculos
Da filosofia e da educação moral
Ouvi o Anjo da Morte;
falou-me ao ouvido
Serena, amistosa, disse-me estas palavras:
" Não temas, homem, esta passagem
Ela parece difícil e terrível
Porque os humanos
A descrevem como algo horrendo
No entanto, a vida (essa sim)
Pode ser horrível e bela
A morte é passagem, somente
Ela não te faz sentir nada
Tu deixas de sentir
Nem sentes, nem guardas consciência
Como poderias sofrer
Chega um momento de passagem
Para o Além
Não te posso dizer nada sobre o Além
Nem o que lá irás encontrar
Só te digo que as imagens
De todas as Religiões
São infantis, são projeções
Serena pois e prepara- te
Para esta jornada;
- Nada do que seja teu
Vai quedar-se tal qual
Teu corpo, teus pertences
Pessoais, teus bens, tua obra
Tudo vai cambiar e a marca
Da tua personalidade
Vai esbater-se, até mesmo
Nos entes queridos;
É assim e não vale a pena lamentar
A lei da vida inclui a morte:
Descansa sobre a sabedoria
Destas palavras."
Assim me falou ela.
E como anjo belo
Alevantou-se,
Retomando o caminho
Das nuvens.
5. NA ROCHA DO TEMPO
Na rocha do tempo contemplo o meu passado
Meço os meus passos pelo ritmo da asa
Que no céu bate até chegar ao destino
Sem o preconceito do homem civilizado
Mas com a certeza da vida e do querer
Na rocha do tempo estou realmente sozinho
Mas o sol também, e tal como o vemos
Ele não se ressente disso e continua
Imperturbável a iluminar o firmamento
Sempre, quer faça chuva ou nevoeiro
Na rocha do tempo me abrigo
Sei que sou transitório e isso
Isso afinal não me assusta
Quando estou contemplando
O tempo, o tempo que não tem prazo
4. SÓ O AMOR
NÃO HÁ NADA QUE POSSA FAZER-ME ESQUECER
O QUE VIVI CONTIGO
SEM TI, O MUNDO SERIA CHATICE
SEM TI, SÓ PODERIA SOBREVIVER
MAS ESTAREI CONTIGO SEMPRE
DE AGORA EM DIANTE
NEM A MORTE NOS PODE SEPARAR
ASSIM PROCLAMO AOS QUATRO VENTOS
E QUEM NÃO AMA, NÃO SABE
SÓ O AMOR NOS DÁ SABEDORIA
O VERDADEIRO AMOR
NÃO NOS PODE EXTRAVIAR
É LUZ QUE ALUMIA OS TÚNEIS
DO PASSADO, PRESENTE E FUTURO
E SERÁ ETERNO OU NÃO SERÁ
POIS ELE TRANSCENDE A FINITUDE DO CORPO
ELEVA-SE AO ESPÍRITO ETERNO, UNIVERSAL
O TEU AMOR É QUE ME LIGA AO UNIVERSO
O TEU E O DE MAIS NINGUÉM!
3. ODOR IRRESISTÍVEL!
Um odor que tresanda
Mistura de suor, sujidade, sangue, lixívia
E tanto mais forte, quanto as pessoas
Fingem não se aperceber de nada
De pouco serve perfume, desodorizante, ou loção
É fedor que se escapa de certos corpos
Por mais que disfarcem
De nada serve toda a técnica de ocultação
Atravessa os salões, insinua-se nos carros
Existem variantes, é certo
Mas, a camuflagem odorífera neles todos
Não disfarça a nota de fundo, o típico
Agridoce de cadáver no início do apodrecimento
Será fortuito encontro, numa mesa de anatomia,
De pedaços de corpo humano e de animal
Será essa a nutrição de requintes perversos
Mas nem todas as pessoas são assim
É preciso ter o estômago bem resistente
Esse odor que tresanda, mas encanta
Que ninguém repara, mas todos sentem
Que intoxica, mas que se respira
Material ou imaterial; em metal, papel
Ou digital, é disso que estou a falar:
O odor do dinheiro
( 02- 14 ANNUS HORRIBILIS 2024)
2. SUSSURRANDO
Ao teu ouvido
Amor
Estas palavras
Ofereço
São ínfimo som
Só tu ouves
Mais ninguém
Não partilho segredos
Dos nossos enredos
Sacode os medos
Ouve a melodia
Da canção nossa
A letra sabemos
De cor, la la la
di di ri di
Em exclusivo
Até ao fim
Só nós sabemos
Essa letra e guardamos
Seu significado
Tu e eu
Até que o Mundo acabe
(Murtal, 12 de Janeiro 2024)
1. PARA QUE CONSTE
Hoje, tempo de recordação. Hoje, tempo de ouvir os sons que me consolam na solidão. Hoje, só permito que beleza enforme o meu olhar. Para que conste, não estou a escrever senão pelo prazer de um improviso. Pelo prazer de levantar voo no dorso dum ganso de um conto de infância.
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