quinta-feira, 28 de setembro de 2023
LEÇONS DE TÉNÈBRES de FRANÇOIS COUPERIN & outras obras barrocas
quarta-feira, 17 de maio de 2023
CONCERTOS BRANDEBURGUESES, J. S. BACH
Durante a minha infância e adolescência tive a sorte de ser colocado em contacto com múltiplos exemplos de arte dos sons, em edições contendo pequenos discos de 45 rotações, dentro dos quais eram traçados os principais aspetos da música, da vida e da personalidade de diversos compositores.
Recordo que, no caso do álbum da vida e obra de Bach, os concertos brandeburgueses ocupavam um lugar de destaque. Esta foi uma escolha com inteira justiça, pois estas joias do barroco musical têm inesgotáveis belezas; umas patentes, outras mais subtis.
O pequeno auditor pode ficar entusiasmado com a riqueza e diversidade das orquestrações; o jovem, mais maduro, pode compreender a subtileza e adequação do caráter da peça ao conjunto de instrumentos selecionado; o auditor de meia idade pode refletir sobre as formas musicais que apresentam uma grande diversidade, ao ponto de serem como um «reportório» da arte contrapontística de Bach e da sua inesgotável criatividade nas partes solistas.
Se se ouvir frequentemente e com atenção estes concertos, pode-se ficar como que impregnado do saber dos processos que ele usou como compositor de música instrumental profana. Este Bach, aliás, não está de modo nenhum dissociado do Bach das Cantatas sacras. O que nos parece evidente, hoje em dia, não o foi durante séculos: O compositor de música sacra tinha de obedecer a regras que não se aplicavam, ou que eram muito mais elásticas na aplicação, quando tinha que compor e executar música profana.
Mas, Bach não contrariou a grande tradição musical europeia: Integrou as diversas escolas e correntes de várias nações, tendo composto ao gosto e seguindo os traços característicos de cada uma delas. Isto é o equivalente musical dum autor literário, não somente conseguir falar e escrever em várias línguas, como ser capaz de compor - com talento - romances, poemas, etc. noutros idiomas que não o seu, com excelente qualidade.
Admiro muitos outros compositores, antigos ou contemporâneos. Mas, continuo, depois destes anos todos, a ficar estarrecido perante a elegância, a flexibilidade e a erudição do grande Mestre João Sebastião.
Bach moldava a matéria musical como Deus molda o Universo. Por isso, o sopro divino transparece claramente em peças de Bach que não têm relação explícita com o sagrado.
segunda-feira, 20 de março de 2023
J. S. BACH : CAPRICCIO SOPRA LA LONTANANZA DE SU FRATELLO DILLETISSIMO
Uma obra de juventude, provavelmente composta em Arnstadt, por volta do tempo em que seu irmão Johann Jacob entrou ao serviço do Rei Carlos XII da Suécia, em 1704.
terça-feira, 29 de novembro de 2022
Kanji Daito interpreta Louis Couperin, «Pasacalle em sol menor»
A Pasacalle (em francês Passacaille) é uma dança lenta, de origem hispânica, provavelmente importada do Novo Mundo e baseada num baixo obstinado, ou seja, que repete sempre a mesma fórmula. Esta base permite que a estrutura seja organizada em variações sucessivas, em torno do tema.
A Passacaille, como outras danças sobre basso ostinato (Chaconne, Pavane) seria o tipo de peça onde o compositor/interprete podia exibir seus dotes de improvisação criativa sobre um tema. O que ouvimos agora, é a codificação escrita duma prática de improvisação.
A improvisação praticada tanto por organistas, como por cravistas ou alaudistas, permeou todo o barroco e foi somente suplantada aquando do triunfo do romantismo. Na época romântica, a personalidade do compositor "passou de simples artesão, a artista." O compositor passou a ser considerado um herói, um «génio», sendo, portanto, imprescindível o intérprete reproduzir, com a maior fidelidade, as mais subtis e etéreas impressões dos seus estados de alma.
Nada disso fazia parte do espírito barroco. Neste, a forma podia ser muito simples, mesmo austera. Porém, supunha-se que o intérprete desse mostras de criatividade e bom gosto, ao nível da ornamentação. Nesta época era legítimo serem usados variados instrumentos para uma mesma peça. Todos os grandes compositores da época se copiavam uns aos outros; o conceito de plágio era totalmente estranho ao espírito barroco. Não havendo «copyright», a música era destinada a ser copiada de mil e uma maneiras; quanto mais, melhor!
Kanji Daito*, ao cravo, capta a essência da música barroca francesa. A sua perfeita interpretação está igualmente penetrada de uma subtil nostalgia, que tem como contraponto a sempre renovada construção sobre o tema do basso ostinato.
segunda-feira, 10 de outubro de 2022
BACH/VIVALDI: CONCERTO PARA 4 CRAVOS, TRANSCRITO DE CONCERTO PARA 4 VIOLINOS
sábado, 8 de outubro de 2022
FRANCISCO CORREA DE ARAÚXO E A MÚSICA IBÉRICA NO SÉCULO XVII
A ideia de que a Península Ibérica não trouxe nenhum compositor notável, antes do século XIX, é totalmente falsa e fabricada. Na verdade, avaliando por aquilo que se salvou dos desastres naturais ou provocados por humanos, põe-se em evidência uma arte dos sons requintada, com tradições e escolas diversificadas, sinal de maturidade e sofisticação.
A Península Ibérica, na música para órgão (e outros instrumentos de tecla, como o cravo e clavicórdio) pode mesmo reivindicar uma grande precocidade, em relação a outras escolas europeias. Pode dizer-se que - desde cedo - a Península Ibérica esteve aberta e teve conhecimento da música que se fazia na Europa. A tradição ibérica recebeu influências e ela própria influenciou as escolas europeias, nomeadamente, da Itália, da França, dos Países Baixos, da Inglaterra.
Gosto especialmente de Francisco Correa de Araúxo. Em Portugal, um eminente musicólogo muito fez para dar a conhecer a obra de Araúxo, o Prof. Macário Santiago Kastner.
O mestre organista de Sevilha deixou uma obra monumental que é um repositório dos processos de composição que eram aplicados, no seu tempo, à música para órgão.
O órgão ibérico tem a particularidade de apresentar com frequência um teclado «partido», ou seja, a metade mais grave tem um conjunto de registos, e a metade mais aguda, outro conjunto. Assim, é possível fazer vozes solistas, graves ou agudas, sem ter as dimensões bem maiores em tubaria e com vários teclados, que já nessa época (séc. XVII) caracterizavam os órgãos das catedrais e igrejas importantes do Norte da Europa. O «tiento de medio-registro», tornou-se, com as "Batalhas" e os "tientos de Falsas" ( = com cromatismos e dissonâncias), uma forma quase exclusiva da literatura para órgão ibérica.
Claro que a música de Araúxo, embora de excecional qualidade, estava inserida na grande tradição coral polifónica, tanto em Portugal como em Espanha. Muitos outros, seus antecessores e contemporâneos, participaram no florescimento da música para tecla (sobretudo órgão). Os séculos XVI e XVII, são ricos em grandes compositores para órgão, tanto em terras de Portugal (António Carreira, Manuel Rodrigues Coelho, Pedro de Araújo...), como de Espanha (António de Cabezón, Sebastián Aguiler de Heredia, Pablo Bruna, Juan Cabanilles...).
A música ibérica no século XVIII foi demasiado «seguidora» das modas de além Pirinéus, sobretudo de França e de Itália. Embora alguns traços ibéricos típicos se conservem, a música italiana tornou-se a referência: Os monarcas e as cortes de ambos os países importavam músicos italianos (Domenico Scarlatti, é o mais famoso); as óperas eram ao gosto italiano. Assim, a grande tradição ibérica de música para órgão não teve o desenvolvimento, ou a continuidade da tradição, que o século anterior prometia.
De qualquer maneira, o legado da música de órgão ibérica, foi redescoberto no século XX. Atualmente, organistas profissionais de todo o mundo incluem nos seus discos e programas de recitais para órgão os compositores ibéricos dos séculos XVI e XVII. Entre eles, destaca-se (justamente) Francisco Correa de Araúxo.
terça-feira, 6 de setembro de 2022
Prelúdio e fuga Nº. 6, BWV 875 do 2º LIVRO do «CRAVO BEM TEMPERADO»
As peças dos 2 livros do «Cravo Bem Temperado» de J.S. Bach, são bem conhecidas: Não faltam integrais de ambas as recolhas, de entre as quais se podem escolher interpretes e instrumentos ao gosto de cada um.
Porém, uma das caraterísticas fundamentais destas COLETÂNEAS PEDAGÓGICAS é serem exercícios de estilo, de «bom gosto», mais do que meros exercícios de aperfeiçoamento da execução.
Praticamente todas as peças exigem muita destreza e controlo do executante, num ou noutro aspeto. Porém, não são certamente concebidas para exercitar a velocidade. Ora, alguns interpretes caem no erro de executar certas peças, no máximo da velocidade de que são capazes. Com isso, lamentavelmente, desnaturam a musicalidade dos prelúdios e fugas!
É portanto crítico encontrar o andamento adequado para as referidas peças, de modo que possa sobressair sua beleza própria. É importante também o temperamento , quer enquanto sinónimo de afinação do instrumento, quer no sentido metafórico, ou seja do caráter.
A escolha que fiz de interpretações abaixo podem não ser das mais célebres, mas são as que me pareceram mais apropriadas para exprimir o espírito da peça, quer interpretada ao cravo, quer ao piano.
A partitura da fuga, pode ser visualizada AQUI.
sábado, 6 de agosto de 2022
J. S. BACH: SONATA Nº2 (DÓ MENOR) EM TRIO, PARA ÓRGÃO
terça-feira, 26 de julho de 2022
J. S. Bach: Allemande da Suite francesa Nº 4 em Mi bemol maior
quarta-feira, 13 de abril de 2022
HAENDEL: ORATÓRIO JUDAS MACABEU (HWV 63) «MOURN YE AFFLICTED CHILDREN»
Mourn ye afflicted Children
Judas Macabeu foi um general judeu que se opôs aos exércitos invasores Selêucidas. É uma história bíblica, que tem muito mais de militar do que espiritual. Haendel compôs este oratório, num momento em que o rei de Inglaterra George II, da dinastia de Hannover, via o seu trono posto em risco pela rebelião Jacobita (escoceses).
Mas, independentemente das circunstâncias históricas, creio que este é o oratório mais notável de todos os grandes momentos de música de inspiração religiosa que Haendel produziu, na minha modesta opinião.
quarta-feira, 6 de abril de 2022
Keiko Omura interpreta Suite N.7 de Haendel para cravo
quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022
George Frederic Haendel: PASSACAGLIA da suite em sol menor HWV 432
Haendel é tão essencial ao barroco, como Bach.
A sua personalidade é totalmente diferente da do Mestre de Leipzig, embora os dois usem -afinal- os mesmos processos de composição e as mesmas técnicas de execução.
Mas, não é justo acentuar o contraste até à caricatura. Se Bach, por vezes, pode parecer pesado ou enfático, isso deve-se ao facto de retomar com frequência certas fórmulas. Mas o processo é muito banal, na época: Os compositores barrocos copiavam-se a si próprios e uns aos outros, profusamente. Não havia «copyright»; era um conceito não existente, sequer, na época. O artista que escrevesse uma passagem inspirada numa peça de outro, estava a homenagear esse mestre ou colega. Não era visto como «roubo», a utilização de certa melodia. Enfim, o «progresso » neste campo não existe. Porque a música, como todas as outras artes, se mercantilizou: E isso, queiram ou não, resulta em empobrecimento.
Em milhares e milhares de páginas musicais, nem sempre a inspiração genial de um Haendel pode estar patente. Ele copiou-se a si próprio e copiou outros, tal como o fizeram Bach e muitos contemporâneos. Ele e seus colegas tinham de satisfazer encomendas para festas nos palácios, para as cerimónias religiosas e para os teatros e óperas. Haverá algo de surpreendente, se uma ária de ópera era adaptada para integrar uma obra de caráter sacro, ou vice-versa?
Há quem -erroneamente - considere a produção de Haendel, fútil ou superficial. Mas, a meu ver, ele corresponde à melhor versão daquilo que chamo o «espírito otimista das Luzes», e que perpassa também em obras doutros músicos do barroco tardio: Telemann, Rameau e Domenico Scarlatti.
Ideologicamente, é a época de Newton e Leibniz, a do triunfo de nova visão do Universo. O homem sente-se confiante perante os mistérios do Cosmos. Note-se que a origem divina do mesmo não está em causa. No entanto, ao contrário de épocas anteriores, não hesita em considerar que o Cosmos é inteligível: Se existem mistérios, é porque o espírito humano é demasiado imperfeito para compreender as leis da Natureza, dadas por Deus na Criação.
Musicalmente, Bach e Haendel são ambos complexos e multifacetados: em muitas páginas musicais, podemos encontrar um Bach galante e um Haendel místico. O que implica, afinal, não nos deixarmos encerrar em «visões-clichés»!
Sou particularmente sensível às questões de tempo, de andamento. Através da escolha criteriosa do tempo, o interprete pode comunicar de forma adequada o espírito da música. Note-se que, na época de Haendel, a execução direta e ao vivo era a única forma de fazer ouvir uma peça de música.
Gosto particularmente desta Passacaglia, muito bela na sua simplicidade. Pode servir pedagogicamente, para ilustrar a forma «tema com variações».
terça-feira, 1 de fevereiro de 2022
J. J. FROBERGER: «Tombeau faict à Paris sur la mort de Monsieur Blancheroche»
sábado, 22 de janeiro de 2022
[Bach e o Número] PASSACAGLIA EM DÓ MENOR
sexta-feira, 24 de dezembro de 2021
[J. S. BACH] SINFONIA DO ORATÓRIO DE NATAL
Bach: Weihnachtsoratorium, Sinfonia - Sir John Eliot Gardiner
terça-feira, 21 de dezembro de 2021
sexta-feira, 5 de novembro de 2021
[Sonya Yoncheva] «Io t'abraccio»* de G.F. HAENDEL
quarta-feira, 18 de agosto de 2021
J. S. BACH: CANTATA «WACHET AUF...» - BWV 140
terça-feira, 22 de junho de 2021
[Wagner, Vivaldi] NAVIO-FANTASMA - TEMPESTADE
O sobrenatural como símbolo pode ser libertador, não enquanto mito que subjugue a mente, ou que esteja conectado com uma visão fatalista.
Percebi que o que há de delicioso nas histórias de fantasmas, é que elas nos dão um calafrio no momento mas, ao mesmo tempo sabemos que é ficção, pois estamos em segurança, lendo ou vendo ou ouvindo essa «estória de dar arrepios».
Certamente o fantasma invoca a morte. Mas, se temos medo da morte, não é do simples facto de um dia desaparecermos. Pelo menos, não duvidamos que desaparecemos enquanto ser material, algo que sabemos inevitável, a partir do momento que crescemos. A morte suscita medo, pelo seu lado desconhecido.
Este aspeto, o desconhecido, manifesta-se no que está para além do mundo corriqueiro, do dia-a-dia vulgar. A narrativa de terror precisa, não apenas do perigo mortal, mas também de algo insólito, estranho, sobrenatural.
O fantasma é uma criatura do outro mundo que vem visitar-nos neste mundo.
O fantasma...um ser real, ou uma alucinação, um efeito de ótica ou ainda, uma fantasia da nossa mente?
As histórias de navios-fantasmas, que continuam a vogar pelos oceanos, durante decénios, sem tripulação lá dentro, pois morreu até ao último homem, misteriosamente, tragicamente, são narrativas romanceadas de situações que ocorreram na realidade.
Não é difícil um navio continuar a flutuar durante algum tempo, sem ninguém para cuidar dele. Que isso tenha acontecido variadíssimas vezes durante a história da navegação, não nos pode surpreender. O que é mais da ordem do fantástico, são as lendas em que o navio surge durante as tempestades, periodicamente, do nada, do nevoeiro, como um monstro oceânico imponente.
Simbolicamente, o «navio-fantástico-fantasma» resume os medos (fobias) que podem nos habitar, pessoal e socialmente: O medo da morte, dos «mortos-vivos», dos fantasmas que poderão estar dentro do navio fantasma, o medo da natureza indiferente, do destino severo, vingativo, o castigo da não-sepultura, pela transgressão das leis dos homens ou -sobretudo- dos Deuses.
Muitas histórias de navios-fantasma relacionam-se com epidemias misteriosas que dizimaram toda a tripulação. Neste século de histeria pandémica, é provável que estas antigas histórias sejam evocadas, recicladas e atualizadas.
A famosa ópera «Die fliegende Hollaender/ The Flying Dutchman» de Wagner retoma o mito do navio-fantasma.
Abaixo, a abertura da ópera:
Mas, na época barroca, já existia um subgénero de música descritiva, a «tempestade no mar», abaixo exemplificada no concerto para flauta de Vivaldi. Note-se, que ele não foi o único na sua época, a utilizar o tema da tempestade marítima! Aliás, Vivaldi também escreveu outro famoso concerto para flauta «La Notte» RV 439 onde um dos movimentos se intitula «Fantasmi», fantasmas.