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quarta-feira, 18 de julho de 2018

O REALISMO NÃO-INGÉNUO

A relação das pessoas com o mundo, que estas percepcionam, é normalmente assumida como simples, não problemática. 
O realismo ingénuo consiste em tomarmos o resultado dos nossos sentidos como uma descrição bastante fiel da realidade.
Porém, a informação objectiva não existe, pois o que nós percepcionamos quando vemos, ouvimos, cheiramos, etc. é sempre um complexo de «inputs», a vários níveis: 
- o próprio objecto e as ondas luminosas, acústicas, de moléculas olfactivas, etc. que dele emanam; 
- a captação pelos respectivos sentidos e o modo como estes descodificam o sinal  e o  traduzem em linguagem neuronal; 
- por fim, a percepção cerebral e a elaboração de uma «imagem mental», a qual se vai necessariamente compatibilizar com as memórias armazenadas, ou seja, uma total reconstrução da informação contida no input nervoso.  

O realismo não ingénuo admite portanto como evidente que a noção de que existe uma realidade exterior ao nosso ser, não obriga a que tenhamos de saber, através dos sentidos ou até de instrumentos (que afinal são extensões dos sentidos), qual é a natureza dos objectos que nos são dados a conhecer.
Por isso, a elaboração de um complexo de expectativas e desejos interfere sempre com a nossa percepção da realidade externa. Aqui, a chave do entendimento reside na noção de «percepção»: 
- o facto de que não seja uma simples transposição da realidade, mas antes uma elaboração mental, onde existe um input do exterior, mas onde predominam forma mental e  enquadramento subjectivo.
Todos nós tivemos experiências de miragens ou ilusões, assim como o equivalente ao nível dos sentidos auditivo, etc. Pois estas experiências correspondem a «imagens construídas» ou o equivalente, nos outros sentidos. Assim, sabemos em casos extremos, verificados, da não conformidade com o modelo mais habitual da realidade. Sabemos que os órgãos dos sentidos e os centros cerebrais que os controlam e elaboram sobre os mesmos, são capazes de construir «imagens» convincentes do real.  
No caso do sonho, também, somos tomados pelo convincente «realismo» daquilo que sonhamos, porque a elaboração das imagens passa-se no cérebro e não na retina ou nos impulsos nervosos que conduzem as mensagens ao cérebro. Caso contrário, só poderíamos sonhar «imagens» geradas e transmitidas, nesse momento, pelos órgãos dos sentidos respectivos.
A elaboração da realidade, cujos contornos possam ser apreendidos por várias pessoas ao mesmo tempo, não é coincidente. Isto mostra que não existe olhar «objectivo». 
Várias pessoas descrevem -com toda a sinceridade -  aquilo que vêem, ouvem, etc. e as descrições, normalmente, não são coincidentes, por vezes mesmo profundamente contraditórias entre si. A realidade não pode ser «matéria de consenso entre pares», entre testemunhas do mesmo fenómeno. 
O que origina as ondas (sejam electromagnéticas, sejam doutro tipo) existe, ou pode existir, como entidade independente do(s) observador(es). Porém, a interacção das ondas referidas com as «máquinas de captação do sinal» (sejam elas órgãos dos sentidos, sejam máquinas colocadas para detectar o referido sinal) não existe - obviamente - na ausência de detectores. 
A questão, debatida longamente durante séculos, se a realidade é ou não exterior ao observador, se persiste quando o observador não está, ou se manifesta na ausência de um ser que capte a informação emitida pelo objecto, parece-me obsoleta, num certo sentido. Parece-me permanecer como formulação defeituosa do modo como descrevemos o percurso da informação, desde os referidos objectos até à mente: 
Se a captação do sinal é que é - no final de contas - a «sensação», necessariamente ela supõe a presença do ser capaz de realizar tal captação. 
Afinal de contas, será impossível uma captação «objectiva», pois o sinal, mesmo quando captado por máquinas, não é mais do que uma tradução, seguida de interpretação. Haverá sempre perda de informação de um suporte (ou tipo de vibração), na passagem para outro. Além disso, no outro extremo existe sempre alguém, aquele que obtém e interpreta os dados registados pela máquina. 

A análise do problema leva-me a formular a hipótese que se pode referir como «Realismo Não-Ingénuo». Assumo que estejamos - afinal de contas - a teorizar, explicita ou implicitamente, o seguinte:
- Temos uma teoria sobre a emissão de energia dos corpos, sobre as ondas, de vária natureza, intensidade e comprimento que atravessam o espaço
- Temos uma teoria sobre a captação das mesmas ondas pelos órgãos dos sentidos, o mesmo é dizer descrição fisiológica dos órgãos e fenómenos da sensação.  
- Temos uma teoria sobre a maneira como o nosso cérebro,  o nosso «eu», constrói uma informação, partindo da impulsão do exterior, mas que não é só isso. Por outras palavras, não é o mero impulso nervoso que conduz o sinal da referida informação, vinda de fora, é muito mais que isso.

Nada mal! ... Se o leitor tiver estas referidas teorias bem arrumadas, ao efectuar a sua abordagem sobre os fenómenos da mente e da interacção desta com o «mundo», com «a realidade». São imensamente complexas e dinâmicas, as áreas da ciência cujos resultados participam na elaboração das referidas teorias.

Pessoalmente, prefiro dizer que não possuo teorias nenhumas sobre os referidos aspectos da questão. 
Quanto muito, vou captando algumas «dicas», aqui e ali, em artigos científicos, que eventualmente permitirão que especialistas elaborem teorias novas, ou melhorem as existentes. 
Fico contente, pois assim o meu pensamento é enriquecido por tais contributos.   

domingo, 26 de novembro de 2017

PLASTICIDADE CEREBRAL


Este documentário mostra como as propriedades de plasticidade do cérebro estavam sub-avaliadas pela ciência. 
Os primeiros passos desta nova visão da natureza e funcionamento do cérebro são revolucionários.
Se este conteúdo fosse profundamente compreendido pelas mais diversas pessoas, seria - não apenas uma mudança de paradigma nas ciências do cérebro, o que já está ocorrendo - uma mudança geral, na filosofia, na educação, em todos os domínios da vida humana.