A DECADÊNCIA DOS IMPÉRIOS PODE DURAR CENTENAS DE ANOS ... MAS O SEU COLAPSO É SÚBITO.
A retórica de Orlov está bem construída nas suas premissas, porém as conclusões pecam por incoerentes com seu objectivo de explicar uma transição para o mundo pós-hegemonia dos EUA.
De facto, ele próprio é um dos fornecedores de argumento mais sólido contra a possibilidade de se «projectar» uma estratégia com viabilidade para tal fim.
Não foi Orlov que dissecou com acuidade e senso crítico o processo de corrupção interna que levou à queda do Império soviético?
- Seria lógico aplicar a teoria do caos nesta situação da queda dos impérios; não existe uma «lei natural» que nos diga como, ou aquilo que desencadeia o colapso dum império.
É da ordem do contingente, é como uma porta com os gonzos enferrujados... que pode ser aberta por um empurrão mais forte, ou a queda acidental de um tronco de árvore, ou um inverno mais chuvoso, cuja humidade acaba por desfazer por completo o metal enferrujado, etc... Ninguém sabe - antecipadamente - a causa imediata de tal acontecimento futuro; porém, sabendo-se as circunstâncias e tendo um conhecimento sobre os mecanismos físicos e químicos que operam e o ambiente no entorno dessa tal porta, podemos fazer predições sensatas sobre ela. Do mesmo modo, podemos fazer predições sensatas sobre a queda dos impérios.
Curiosamente, Orlov parece não ter em conta que a condição histórica mais comum para a decadência e queda de um império, é a ascensão de outro; a vontade de uma nova potência exercer, ela própria, um domínio hegemónico.
Não digo que a China tenha esta ambição - pelo menos, por enquanto - mas se um mundo multipolar se tornar um facto dentro de algum tempo, o que muitos analistas têm defendido, ele será essencialmente instável. Só haverá solução, dentro do capitalismo global actual, com a ascensão de um novo império.
Praticamente, os analistas (mesmo de esquerda) não arriscam ver o fim do capitalismo, enquanto sistema de domínio mundial, tendo o imperialismo como suporte de poder, essencial para o sistema.
Porém, as condições de funcionamento do capitalismo deterioram-se, a capacidade de arrancar lucro é cada vez menor, esse lucro é sempre feito à custa de um maior sofrimento das populações e do ambiente.
Em suma, é um capitalismo depredatório numa escala global, que pretende sempre mais e mais crescimento, o que não é compatível com um mundo finito e cujo funcionamento saudável depende de subtis equilíbrios ecológicos, os quais estão a ser gravemente postos em causa.
Não podemos predizer exactamente como este capitalismo mundializado irá acabar, mas temos a convicção profunda de que é inviável no longo prazo.
Assim, a era da História em que o domínio mundial de um império é sucedido pelo domínio de um novo império, vai necessariamente acabar, conjuntamente com o capitalismo globalizado e depredador.
Pode ser que não deixe de existir capitalismo, num ou noutro ponto do globo ou até disseminado por todo o globo, mas já não como forma dominante de produção de mercadorias e serviços. Analogamente, o sistema feudal não se eclipsou totalmente do mapa com o triunfo das burguesias no século XIX. Na verdade, muitos aspectos do feudalismo foram incorporados de forma subordinada, na nova ordem.
Não se saber as circunstâncias concretas de queda de um sistema, não implica que se ignore as leis da física e de todas as outras ciências, que determinam as condições de existência e de evolução de um sistema.
Num sistema, quase infinitamente complexo, como a sociedade humana, a entropia exerce-se. Se a entropia pode ser exportada para o exterior ou para as margens durante algum tempo, não o será eternamente.
Os seus efeitos já não serão sensíveis somente nas periferias do sistema; irão cada vez mais surgir, no próprio âmago do sistema, o que irá gerar mais e mais entropia, até haver uma ruptura.
Os impérios, tal como as civilizações, são mortais... Só não sabemos - nem podemos saber - qual a causa imediata da morte futura do império dominante.