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domingo, 23 de outubro de 2022

FUTURO DAS RELAÇÕES COM A CHINA

             Apresentação dos sete elementos da comissão permanente do CC do PCCh

Tento, abaixo, fazer o ponto sobre a visão que tenho em relação à China, ao partido comunista chinês, às relações da China com o Ocidente, da minha forma de apreender a realidade geopolítica.

 A proibição de empresas americanas exportarem «chips» para a China, assim como de pessoal que trabalha na China em empresas de alta tecnologia de escolher entre continuar a ter nacionalidade americana e demitir-se desses empregos, ou guardar o emprego e ver-se destituído de sua nacionalidade americana, é um golpe violento, mas pode fazer «boomerang» como outras sanções fizeram no passado. 

Penso que numa guerra económica total como os EUA estão a fazer à China, o mais provável de poderá resultar destas medidas, é a aceleração do fabrico de «chips» made in China. Não nos devemos espantar que estes sejam cópia de «chips» americanos, usando tecnologia com patente americana, mas sem o reconhecer. A China tem desenvolvido suas indústrias, infringindo os direitos de patentes, durante mais de 40 anos! Agora, com uma guerra, vai fazê-lo ainda mais e não se importará muito em perder o mercado americano, pois vai compensar com o alargamento dos mercados nos BRICS e nações parceiras das Novas Rotas da Seda. 

Por outro lado, os americanos podem não conseguir substituir importações vindas da China, quer porque estão - de momento - incapazes de fabricar essas mercadorias eles próprios, quer porque os potenciais fornecedores alternativos já têm sua capacidade produtiva saturada. A medida brutal dos EUA em relação à China, poderá transformar-se num «tiro pela culatra».

O 20º Congresso do PCCh traduz-se numa reforçada centralização do poder em torno dos órgãos executivos e do secretário-geral, Xi Jinpin. Este desfecho já estava, desde há longa data, inscrito no rumo do gigante asiático. Por muito complexo e perigoso que seja o contexto internacional, não vislumbro um enfraquecimento do poder do PCCh, no curto prazo. 

Há muitas vozes que se especializaram, na Internet e no Youtube, em profetizar a catástrofe, a partir deste ou daquele aspeto da política ou da economia chinesas. Não me parece que estes discursos sejam credíveis, estão imbuídos de objetivos propagandísticos. Mas, se o público que ouve, vê e lê tais notícias catastróficas tivesse espírito crítico, veria que elas se repetem. Se tivessem alguma ponta de verdade, então já teria havido uma revolução, um colapso da economia, um terramoto político, social e civilizacional. Mas, nada disso aconteceu, embora aconteçam muitas coisas que merecem a nossa atenção. 

Isto mostra, sobretudo, como o público no Ocidente é manipulado por campanhas destinadas  a denegrir a imagem da RP da China. Esta deformação mediática é baseada nas técnicas de condicionamento, manipulação (gaslighting) e reforço dos preconceitos de muitas pessoas: O racismo anti-asiático e, particularmente anti-chinês, está bem vivo. Ele é mantido e estimulado, ao nível das pessoas mais incultas, por campanhas que vão reforçar os estereótipos e o medo, como formas de fazerem passar mensagens racistas, xenófobas, anti-socialismo e pró-capitalismo.

Face a esta realidade, a única maneira de se compreender os fenómenos complexos é de usar a técnica da «caixa preta»: O que entra (input) e o que sai (output), pode ser avaliado (com algum esforço, é certo) pelos observadores atentos. O que se passa dentro do sistema, é de tal maneira distorcido pela propaganda - quer seja a favor ou contra - que não se pode avaliar nada corretamente: Se o tentarmos, apenas caímos na armadilha de narrativas ideológicas, mesmo (e sobretudo) quando disfarçadas de «factos» objetivos.

Esta análise do input e do output, não tem que fazer hipóteses sobre mecanismos internos. Pelo contrário, a melhor maneira de abordar a questão é de NÃO FAZER HIPÓTESES  sobre o funcionamento interno. Também assim se consegue evitar o nosso viés (favorável ou desfavorável). 

Assim, será possível ver a realidade da China no Mundo de hoje. Num processo de reflexão política amadurecida, deveria ser esta a preocupação primeira. Não faz sentido julgar a política e a geoestratégia num quadro moralista ou partindo dos valores que nós defendemos. Deve-se olhar como um processo que é inteligível, mas dentro da lógica do realismo politico, da lógica de relações de poder. Pode-se gostar ou não deste poder, mas a realidade é esta. 

Portanto, se queremos saber como é o mundo que nos cerca, quais as forças que o moldam, qual a dinâmica por detrás ou debaixo da fachada, então temos de pôr de parte os aspetos afetivos, ideológicos, culturais, que nos enformam. 

A um outro nível, já não de análise, mas de escolha política, de determinação para a ação, aí sim, podemos (e é lógico) fazer entrar o nosso sentimento ou nossa preferência por este ou aquele partido, ou corrente ideológica.

A atualidade, em grande plano, é a da separação da placa tectónica Euroasiática, da placa tectónica Europeia ocidental, sendo esta última capturada pela placa tectónica Norte-americana. O mundo está a mudar de configuração e, tal como as placas tectónicas da geologia, estas macromudanças da política e da economia são devidas a forças tão profundas e fortes, que apenas podemos constatar os seus efeitos. Seria fútil pretender mudar-lhes o rumo.


terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

NÃO HÁ COBERTURA DOS DISCURSOS DE PUTIN E XI JIN PIN EM DAVOS

 


No Ocidente, continuam os órgãos de comunicação social a  fazer o papel dos poderes, que preferem o black-out informativo, a realmente entrarem a contestar ou criticar aquilo com que não concordam. É evidente pelo conteúdo do discurso de Putin no fórum de Davos (em versão virtual), que este será um marco importante, que irá determinar não apenas a posição oficial russa, como também será um claro desafio aos partidários do imperialismo, neo-liberais, globalistas e toda a casta militarista altantista. 

Mas, eles preferem que os servos dos países ocidentais não tenham senão uma forma abreviada e muito edulcorada, das palavras fortes do presidente da Federação Russa. 

Mas, isto mostra somente a ausência de argumentos, mostra a ausência de razão, por parte dos atlantistas, não mostra absolutamente mais nada.   

Não teria conhecimento do importante discurso de Putin, se não fosse Pepe Escobar*, um jornalista brasileiro noticiando sobre as novas rotas da seda a partir da Tailândia, com largos anos como repórter no extremo-oriente. 

Goste-se ou não do presidente da Federação Russa, goste-se ou não das teses que defende, é absolutamente confrangedor verificar que estamos metidos numa redoma informativa (no Ocidente) e que não podemos confiar nos órgãos da media corporativa, pois eles se submetem sem limites ao mandamento do seu dono, o grande capital monopolista que os controla.

*O artigo em causa (clicar para aceder): XI and Putin Make the Case for Win-Win vs. Zero-Sum


PS1: Oiça o podcast do South China Morning Post sobre o discurso de Xi Jin Pin em Davos:

https://www.scmp.com/podcasts/china-geopolitics/3119767/xi-jinping-davos-and-global-reaction-analysing-china-eu

domingo, 27 de dezembro de 2020

OLHANDO O MUNDO DA MINHA JANELA - PARTE IX


Relendo o escrito sob o mesmo título, o oitavo da série, publicado a 24 de Setembro deste ano, constata-se, pelo desenrolar dos acontecimentos, que eu não me enganei. 
Mas, isto não é nenhum mistério, não possuo poderes de divinação. Simplesmente, os factos estavam lá, diante de meus olhos, bem visíveis, nessa altura. Não é necessário ter-se uma bola de cristal! Basta não termos a vista embaciada por uma ideologia ou pela propaganda insidiosa, para correctamente vermos o presente.

«As previsões são muito difíceis de se fazer... sobretudo em relação ao futuro», como dizia alguém, um humorista-filósofo. 
Portanto, vou me cingir ao presente. 

O maior golpe de Estado de toda a história parece estar a desenrolar-se a preceito para seus planejadores e executantes. Mas, quem são eles? 

- São os mesmos para quem esta crise manufacturada, do COVID, representa um acréscimo considerável nos lucros. Apple, Google, Facebook, Netflix, Amazon, Microsoft, Tesla... são as grandes vencedoras deste jogo. As suas acções atingiram novos cumes, os índices da bolsa de Nova Iorque seriam negativos sem a sua participação. Além disso, esmagam qualquer hipótese de concorrência e obtêm contratos sumarentos com os governos (principalmente os dos EUA).

- Os outros vencedores são os grandes da indústria farmacêutica, na qual estão investidos multi- bilionários como os Bill Gates ou os Rockefeller. No caso das farmacêuticas, conseguem colocar as suas vacinas não testadas (Moderna, Pfizer, Astra-Zeneca...) ou os seus medicamentos de duvidosa eficácia (ex.: Remdesivir da Gilead), sem verdadeira supervisão dos organismos teoricamente independentes, presentes nos diversos Estados. Estes deveriam, em nome da Saúde Pública, controlar se os referidos medicamentos e vacinas se conformam ou não com as exigências necessárias para serem licenciados. Desde já, se pode afirmar claramente que não, nenhuma vacina está em condições de passar o teste para aprovação. Afinal, tal aprovação é obtida com o pretexto de uma «urgência», que não é mais que pressão exercida sobre políticos e agências que - teoricamente - deveriam ser independentes dos interesses das grandes farmacêuticas. Ainda por cima, os fabricantes de vacinas obtiveram «um passe livre», ou seja, estão isentos de quaisquer responsabilidades sobre acidentes decorrentes do uso de suas vacinas, não podem tais casos ser julgados em tribunal. As vítimas terão de recorrer aos Estados, sendo portanto eles - ou seja, nós todos, contribuintes - a pagar pelo que foi incompetência, ou desleixe, ou mão criminosa dos fabricantes... 

- No plano dos Estados e dos governos, a crise do COVID foi «um maná». Não de dinheiro, porém, pois ficaram numa situação de falência manifesta: os chamados estímulos à economia, são apenas impressão monetária, cujo benefício é para os muito ricos, apenas, indo inflacionar as bolhas de activos financeiros, com prejuízo para a economia real. 
Foi um maná, porque lhes permitiu por em prática técnicas de controlo de massas, que se atribuíam tradicionalmente aos regimes totalitários, em particular ao da China Popular. 
A introdução de tais técnicas foi «pacífica», raros foram os que apontaram os aspectos das mesmas, claramente violadores da legalidade, da constitucionalidade e da protecção dos direitos humanos. Porém, assiste-se à introdução de toda a espécie de controlo, por uma «polícia sanitária», associada à saturação «das ondas» com propaganda, já nem sequer disfarçada, ao ponto de ser impossível ouvir, ver ou ler, na media «mainstream», algo que contradiga a narrativa dominante. Em duas palavras, a democracia morreu.

- Os magnates e políticos que se reúnem entre eles, no Clube de Bilderberg ou no Fórum Mundial de Davos, parecem levar a cabo o seu jogo sem grande oposição. As oposições estão neutralizadas pelo medo, pela cooptação, ou pela influência de organizações ditas independentes, as NGO /ONGs - organizações não-governamentais - que fazem o jogo dos muito poderosos, financiadas pelas suas fundações (como NED - National Endowment for Democracy dos EUA, ou a Fundação para «uma Sociedade Aberta» de Georg Soros).

- Sabia-se, desde o princípio, a quem beneficiavam os tumultos levados a cabo por «Black Lives Matter» e «Antifa», sabia-se mesmo quem eram os seus financiadores. A existência de uma atmosfera de golpe de Estado, de revolta latente, contra o regime Trump, tinha de se revestir do aspecto duma revolta popular, mas as forças que estavam por detrás do palco, as que manobravam os manifestantes, não deixavam dúvidas sobre quais as causas profundas. O resultado eleitoral obtido por Joe Biden, depois do núcleo duro do partido democrata ter afastado os outros candidatos à presidência, que tinham algum laivo de esquerda, como Bernie Sanders ou Elizabeth Warren, foi o mais inexpressivo que dar se pode. Os apoiantes de Trump dizem que a eleição lhe foi roubada. Pode ser que tenham razão, mas... numa eleição, «não são os votantes que contam, são os que contam os votos*».

- No domínio geo-estratégico, a máquina de guerra dos EUA, só ou conjuntamente com seus aliados, reforçou ou intensificou a ocupação do Afeganistão, da Síria, do Iraque. As esquadras dos EUA sulcam os mares da China, bloqueiam o acesso de navios mercantes aos portos da Venezuela. Com apoio da vassalagem - NATO, etc -  intensificam manobras e provocações às fronteiras de países «inimigos» Rússia e China. Viveram-se em 2020 momentos só comparáveis às fases mais tensas da chamada Guerra Fria. 
De facto, esta nunca deixou de existir: Há um «partido», sempre presente dentro de ambos os partidos do poder nos EUA - Democrata e Republicano - que tem sido dominante: o «partido» que defende os interesses do complexo militar-industrial e advoga uma constante pressão, ou seja, provocações constantes, contra os inimigos, «com vista a que estes não se atrevam a tomar acções ofensivas», falando a linguagem deles.

- Temos agora situações de total inversão dos papeis: Os supostos anti-democráticos regimes de Putin e de Xi Jin Pin, avançam com soluções de paz, de redução da escalada militar, do armamento estratégico; os «democráticos» líderes do Ocidente, fazem o oposto e incentivam a subversão, «revoluções coloridas», às fronteiras ou dentro dos territórios adversários.

- Temos os líderes dos países dos BRICS, supostamente anti-liberais, a proporem maior abertura comercial, um entendimento básico para manter o livre comércio. Enquanto os líderes do «Ocidente», supostamente herdeiros da tradição liberal (tanto liberalismo político, como económico),  não param de erguer barreiras, de impor sanções (ilegais) e discriminar ou excluir empresas, sendo o caso da Huawei, apenas o mais visível. 

- Finalmente, no plano da economia mundial, os países ditos emergentes, são os que realmente já emergiram, pois tiveram uma recuperação rápida da sua produção, após a crise do COVID, como se verifica pelo crescimento da China e da Coreia do Sul. Enquanto europeus e norte-americanos, supostamente «desenvolvidos», estão a afundar-se a grande velocidade. 
É legítimo estranhar que, para esse afundamento do Ocidente, estejam a contribuir afinal os que detêm as rédeas da economia e do poder político. Porém, os oligarcas e seus mandatários políticos não são idiotas nem suicidas. Eles sabem que as economias dos seus países estão metidas num beco sem saída.
O montante das dívidas, sejam elas dos Estados, empresas ou famílias, atingiu e ultrapassou os níveis de solvência, ou seja, os níveis de endividamento em que as dívidas são pagáveis pelos devedores. Tal já não é o caso. Em vez disso, há uma fuga para a frente, uma impressão monetária desenfreada, que impulsiona bolhas especulativas, como nunca. 
O resultado disto será, com certeza, muito duro para «os de baixo» e, mesmo, para os «do meio». 

- O chamado Great Reset resume-se ao seguinte: 
Um plano destinado a eliminar as dívidas acumuladas, sem que a oligarquia perca muito, ou até, nalguns casos, consiga ganhar, pela ampliação do seu mercado, por exemplo. 
Por contraste, sabendo-se que os 99%, o pouco que possuem irão perder, os oligarcas e os governos ao seu serviço preparam o terreno: reforçam polícias, dotando-as de meios, torcem e retorcem as legislações, para que a repressão sobre os desapossados possa ocorrer, (se possível) com um semblante de legalidade. Para tal, também lhes interessa ter uma media totalmente escrava, ou seja, propalando um fluxo contínuo de «informação» que é, na realidade, condicionamento psicológico das massas. 

- Não acredito que as pessoas sejam estúpidas; podem estar desinformadas. Mas, muitas estão a acordar para a distopia em curso e compreendem que eles (os poderosos) só querem manter a passividade das multidões para continuar no poder. 
Acredito que este jogo dos poderosos é muito arriscado, pois não podem evitar que muitas pessoas e povos se revoltem, face às injustiças e ao agravamento da exploração e miséria, que eles estão a provocar, neste momento. 
Inclusive, acredito que haja pessoas, nos organismos de repressão do Estado, que percebem como estão a ser usadas contra suas próprias famílias, pelos globalistas /fascizantes. 

Esta ínfima oligarquia, agrupada em clubes, fórums, ONG's, fundações, empresas de «high tech» e de armamento e em diversos departamentos estatais, tem o intuito de se apropriar todos os recursos do planeta, mas só pode fazê-lo pela astúcia, pela corrupção de elementos políticos eleitos das nações. 

Ela tem uma agenda muito clara**, que conduzirá, caso a cidadania deixe, a um controlo das massas mais eficaz que as ditaduras totalitárias do passado. 

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*Uma afirmação correntemente atribuída a Stalin, mas nada permite afirmar que ele jamais a tenha proferido. A ideia é que o controlo do processo pós-eleitoral é determinante do resultado, ou seja, as eleições são falsificadas. Isso é que é determinante para o seu resultado...

**Quem tenha dúvidas sobre a veracidade da agenda da oligarquia mundial, veja o excelente documentário, saído a 15 de Janeiro de 2021, The New Normal.
 

sexta-feira, 27 de março de 2020

OLHANDO O MUNDO DA MINHA JANELA (PARTE VI)

   Robots humanoides, nanobots dentales y la odontología del siglo ...
Tinha prometido a mim próprio que faria - com uma periodicidade trimestral - um balanço do que se tem passado de mais relevante no mundo, do meu ponto de vista, como não podia deixar de ser. Daí o nome da série: Olhando o Mundo da Minha Janela (ver partes IIIIIIIV  e V).

Porém, apesar de ter deixado um aviso muito sério de perigo de colapso (em Dezembro de 2019), confesso que não esperava que as coisas acontecessem tão depressa e - sobretudo - da maneira como ocorreram. Mas, no essencial, mantenho tudo o que afirmei; conservo o mesmo ponto de vista dos vários escritos. Se estes pecam, é por defeito, não por excesso.

Hoje irei tentar fazer um balanço provisório daquilo que se passou desde fins de Dezembro de 2019, sem querer fazer uma crónica dos factos. Primeiro, seria uma tarefa acima das minhas fracas capacidades, especialmente nestes tempos conturbados. Segundo, estou convencido de que tal exercício é mesmo impossível, agora. É trabalho futuro para os historiadores, que poderão extrair, de um manancial de dados, factos significativos e terão um recuo suficiente para analisar o que realmente se passou.

«Do mal, o menos» dizem, «não houve uma guerra mundial, por enquanto»...
- Bem, eu discordo desta maneira de ver o problema pois, contrariamente ao que o comum das pessoas pensa, uma guerra não declarada existe desde há cerca de trinta anos, quando uma das super-potências - a URSS e os acólitos que formavam o Pacto de Varsóvia se desmoronou. Ficaram então, o gigante americano e seus acólitos da NATO e das outras alianças regionais tuteladas pelos EUA, com as mãos livres para fazerem o que muito bem lhes apetecia.
Mas, sobretudo após o 11 de Setembro de 2001, a pretexto da «Guerra contra o Terrorismo», tem sido feita uma guerra sem quartel contra os povos, especialmente, os que não se enquadram dentro da Nova Ordem Mundial globalista. 

Agora foram mais longe: aproveitam uma catástrofe (a pandemia do coronavírus) para deitar abaixo o que resta do modo de vida ocidental, com as suas garantias e liberdades e uma certa autonomia no plano económico. É certo que a pandemia não é coisa inócua «de per se», mas o efeito das medidas tomadas pelos governos vai no sentido de exacerbar o prejuízo da pandemia, nas sociedades e  nas economias. 
Uma pessoa que esteja alerta e não afogada no mar de propaganda dos media, deverá imediatamente perguntar... porquê?

- A resposta, tenho tentado dá-la nas páginas do meu blog. Também a tenho discutido com quem me acompanha, com quem lê os meus artigos e  com todas as pessoas que vierem por bem. Porque o assunto é de suprema importância para todos nós, não é algo que aconteça «lá longe», entra portas  adentro das nossas vidas. Compreender, é o primeiro passo para agir com cabeça.

O coronavírus, como tenho dito, é um  pretexto para efectuar o «reset» ou reestruturação de todos os mercados e do sistema monetário mundial. 
Os países que não estão alinhados com o «Ocidente» (os EUA e seus vassalos), nomeadamente, a Rússia e a China (e outros), compreenderam muito bem, desde há lustres e, por isso, têm vindo a acumular muito ouro nas suas reservas dos bancos centrais. 
Os que possuem trunfos, como o ouro e matérias-primas estratégicas, estarão em melhor posição para defender os seus interesses, perante a reestruturação financeira mundial. Esta, se for deixada ao critério dos super ricos (donos dos bancos sistémicos e das grandes multinacionais), irá escravizar-nos ainda mais do que já estamos, hoje.

A dificuldade maior é os povos fazerem com que sejam respeitados os seus interesses fundamentais, o seu modo de vida, os seus valores, a sua cultura, pelas castas políticas que têm o comando dos Estados. Estas incluem não só governos, como o conjunto dos agentes políticos e administrativos duma nação.
Porque, se o problema fosse apenas a substituição do modo de pagamento com moeda-papel, por moeda electrónica, tal problema quase não se punha, visto que as pessoas já estão muito familiarizadas com pagamentos sob forma digital: cartões de débito ou crédito, porta-moedas electrónicos, etc., fazem parte do quotidiano. 
Mas, o problema não é dessa ordem. Os media ao serviço do poder irão tentar enganar as pessoas, dizendo que a reestruturação financeira em curso será apenas um assunto «técnico». Mas não é.

Então, qual é, afinal, o propósito da oligarquia mundial?

- é, primariamente, uma questão de poder, de controle, de extrair cada vez maior rendimento de uma população de súbditos, não de cidadãos.

- os meios usados, para manutenção desse poder, desse controle, têm sido muitos, desde a guerra «híbrida» contra os países que não se submetem, até à constante «guerra interna» feita de «psi-op», o condicionamento maciço das suas próprias populações pelo medo. 

E quais as resistências a esta oligarquia?

- Em paralelo com o avanço do neo-liberalismo e do pensamento único, observa-se a desagregação das resistências, enfraquecidas pelo fraccionamento identitário, que segrega grupos de oprimidos, põe uns contra os outros, hipertrofiando diferenças, exacerbando os interesses particulares, e inviabilizando assim uma frente unida contra os poderosos das oligarquias, nacionais e internacionais.

- Se houvesse consciência disso, ancorada no seio dos povos, os líderes políticos das oposições não poderiam senão estar em consonância com tal consciência e agir da melhor maneira possível em defesa dos povos. 
Mas isto é uma impossibilidade pois, justamente, o sistema de domínio mundial baseia-se largamente na dominação mental, muito mais até do que na força bruta, embora não hesitem em recorrer à repressão e ao banho de sangue, se necessário. 

- Neste contexto, a ascensão dum líder carismático ou dum partido dito «revolucionário» ao poder, será uma forma de enganar, não de defender as pessoas. 
Aliás, assim aconteceu na ascensão de Mussolini e de Hitler ao poder: muitas pessoas, que inicialmente os viram com simpatia, estavam convencidas de que os partidos fascista e nazi eram revolucionários, no sentido emancipatório do termo!   

- A questão que se coloca para nós, seres humanos de 2020, é saber se queremos ser ovelhas e ir para o matadouro, de olhos vendados (pela propaganda dos governos e dos media) ou se nos auto-organizamos fora da esfera do poder, de forma livre e autónoma, no respeito das pessoas e dos seus direitos naturais. 

Resta saber se estamos suficientemente lúcidos para escolher o que é fundamental: se é o aspecto humano, se é a ganância do poder com o seu cortejo de violências.
Depende de nós, em cada momento, seguirmos a consciência própria, baseada nas nossas convicções profundas, nos princípios da nossa religião ou, caso sejamos ateus, da nossa ética. 
... Ou então, se nos deixamos dominar pelo medo, que traz o ódio contra um suposto «inimigo» e fazemos o jogo dos muito poderosos. Estes  tentam, agora mesmo e por todos os meios, conservar o controlo.

NB1: Ler artigo seguinte de  John Whitehead 
«Suspending the Constitution: Police State Uses Crises to Expand Its Lockdown Powers»

NB2: Ler artigo seguinte de Caitlin Johnstone
The US Is Using Germ Warfare On Sanctioned Nations

NB3: Absolutamente indispensável ver a entrevista de Lynette Zang a Gerald Celente


NB4: UMA CURTA ENTREVISTA DE NICOLAS TALEB 


segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

OLHANDO O MUNDO DA MINHA JANELA (PARTE V)

Olhando o mundo da minha janela:   partes IIIIIIIV                                     
                  

As «eternas» previsões para o próximo ano, são quase sempre um exercício de futilidade, que apenas pretende reforçar preconceitos, isto é, a «visão» daquele que as emite. 
Vou fugir ao ritual associado à proximidade da passagem do ano, tanto quanto possível. A minha preocupação essencial é de manter a lucidez e o espírito positivo.

Oiço, vejo e leio imensos avisos sobre a crise vindoura, monstruosa, capaz de arrasar a economia mundial, portanto também as sociedades e a civilização. 
Estamos a presenciar uma moda de cataclismos, depois de mergulhados numa moda de contentamento seráfico, beatífico, perante o crescimento «imparável» das cotações bolsistas, em todo o mundo. 
O mundo, pelo menos o dos negócios e da finança, é constantemente agitado por notícias, falsas ou exageradas, e pseudo-análises devidas a pseudo-peritos. 
A repetição constante destas previsões e alertas evocam-me, irresistivelmente, a história do menino da aldeia que, de vez em quando, se punha a gritar: vêm aí os lobos!

Neste site, ao longo do corrente ano de 2019, temos tentado fazer uma selecção criteriosa, ponderando as notícias, não tanto pela sua origem, mas sobretudo, pela sua credibilidade. 
É muito importante, neste aspecto, o critério da coerência. 
Consideremos um quadro duma paisagem: Se essa tela pretende representar a realidade de uma paisagem natural, obviamente não será coerente a presença dum animal tropical - um macaco, um tucano, ou um crocodilo - numa paisagem boreal (próxima do Ártico), nem de um abeto ou dum urso polar, por exemplo, numa paisagem tropical. Analogamente, a descrição dos factos económicos e das relações de poder internacionais, deve possuir coerência  com os factos históricos e outros, para ter alguma verosimilhança.

Assim, quando se nos depara um fim de era, tem ele de possuir alguns traços que também se observaram no passado, noutros períodos históricos  equivalentes. 
Sem dúvida, existem alguns sinais alarmantes:

- As guerras incessantes, a impossibilidade da super-potência dominante as ganhar (sacrificando dinheiro, material bélico e, sobretudo, pessoas), para manter sua presença em locais remotos, cuja relevância para a «segurança nacional» dessa superpotência, é tudo menos inquestionável.

- Um fluxo ininterrupto de dinheiro sem contrapartida («fiat»), derramado nos grandes bancos sistémicos, pelos bancos centrais ocidentais, supostamente para «estimular» a economia, mas que apenas estimulam a especulação e as bolhas, em todas as categorias de activos (acções, obrigações, imobiliário, derivados...). 
Por outro lado, os bancos sistémicos apresentam-se insolventes, na prática. A FED e outros bancos centrais ocidentais, estão desesperadamente a tentar conter a derrocada.  

- A crescente perseguição do que não é «politicamente correcto», dos «dadores de alerta»; a marginalização - por uma media ao serviço de grandes grupos financeiros - de todas as correntes de opinião, sejam quais forem os seus posicionamentos, que estejam fora do que eles, jornalistas do «mainstream» e seus patrões, consideram aceitável. 

- Ainda por cima, a agudização da campanha histérica sobre as alterações climáticas, com os interesses corporativos mais notórios a lançarem-se na «nova economia», «sustentável» (que afinal não o é), dos «amigos do ambiente» (à custa da desgraça dos povos do Sul, dos pobres); a aliança entre os principais bancos mundiais, os governos, a ONU e as organizações do mundialismo (OMC; FMI; etc...), para impor uma taxa carbono global. 

- Por fim, a perda da privacidade: Uma realidade - não já uma mera possibilidade - as pessoas serem escrutinadas, durante 24 horas todos os dias do ano sem sequer suspeitarem, ao ponto de se tornarem ultrapassadas as distopias imaginadas por Aldous Huxley, George Orwell, e outros.    

Desenha-se assim um quadro geral, que pode significar, a termo, uma involução, ou seja, uma ruptura com regressão nos padrões de vida e de civilização. Tem uma probabilidade não tão baixa como isso, pois existem elementos para se considerar que essa involução já está em curso
Todos estes problemas e disfunções existem; vê-los como sinais de fim de uma época, talvez seja - ao fim e ao cabo - bastante acertado.

Pois mais vale prevenir com um ano de antecedência, um colapso anunciado, do que o tentarmos remediar, um segundo depois dele ter acontecido. Tomo a sério, embora não com alarmismo, os sinais de tempestade. Para aumentar a nossa resiliência, para estarmos aptos a enfrentar os tempos difíceis que se anunciam, temos de saber como escapar da Matrix.


terça-feira, 9 de abril de 2019

NO JOGO DE «GO», A CHINA TEM 5000 ANOS DE AVANÇO




É muito interessante ver como este comentador de um canal de televisão russa apresenta a estratégia de Xi Jin Pin. 
No entanto, os críticos do presidente do Partido Comunista da China responsabilizam-no pelo lançamento do sistema de controlo social interno.
Este sistema, ainda em fase experimental, de pontuação positiva ou negativa, consoante se tenha feito «boas» ou «más» acções, está destinado a generalizar-se.
Nos centros principais, há sistemas de vigilância, com câmaras nas ruas e em todos os recintos públicos, usando algoritmos de reconhecimento facial. Alguém que cometa algo «errado», sua imagem é logo captada por uma câmara de CCTV e identificado.
Além disso, com a digitalização quase total da economia, nos grandes centros (Pequim, Xangai, Cantão...), os cidadãos com um baixo «score» social são facilmente excluídos de usufruto duma série de serviços. Pode ser-lhes recusada a compra dum bilhete de comboio ou de avião, por exemplo. É um sistema que parece ter ido buscar várias ideias à distopia orwelliana. 
A China não poderá estar sempre com sua economia em crescimento galopante; poderá haver crise, marasmo, desemprego e agitação social. Sabendo isso perfeitamente, as autoridades tentam desenvolver um sistema de controlo do comportamento das massas, antes que se possa originar uma situação revolucionária. 

Xi Jin Pin é acusado de ser o responsável pela repressão das comunidades uigures e outras tradicionais islâmicas, com campos de «reeducação» para islamitas radicais,  mas onde uma parcela considerável desta etnia estaria confinada. É muito difícil fazer um juízo correcto à distância. Sem dúvida, faz parte da estratégia dos EUA, de insuflar a djihad nestas partes da China, para sabotar o processo da «Nova Rota da Seda»Acredito que haja uma corrente terrorista no movimento nacional dos uigures, mas também não me admira que exista uma grande brutalidade das autoridades policiais e administrativas, em relação aos civis uigures. 
Além disso, haveria uma política do PC Chinês de endurecimento em relação às religiões, quer sejam muçulmana, católica, ou budista. 
Todos os aspectos negativos podem ter sido exagerados ou hipertrofiados, por uma imprensa hostil, desejosa de confrontação com a China. Porém, não acredito que uma grande potência em ascensão seja completamente inócua. Será tentada a controlar as minorias dentro de fronteiras e, posteriormente, outros povos sob sua esfera de influência.

 Pelo menos, nesta fase, o poder na China nega ter qualquer desejo de hegemonia. É certo que a procura de hegemonia é um jogo que todos falharam, no passado. 
Talvez o jogo estratégico de longo prazo do poder na China, seja o de extrair o melhor dum mundo multipolar, evitando imiscuir-se nos assuntos internos das outras nações.     

quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

GEOPOLÍTICA E HISTÓRIA

Hoje, decidi escrever algo sobre geopolítica, mas tomando um certo recuo em relação à actualidade:

É que os políticos e governos ocidentais que se «distinguem» por tentar reactivar a era de Guerra Fria, agora entre blocos sensivelmente diferentes dos do tempo da Guerra Fria nº1, são aqueles que se dizem defensores da «globalização».
Enquanto os seus «inimigos», ou seja, sobretudo a Rússia e a China, são defensores de um «mundo multipolar». Porém, o que estes últimos estão fazendo é - afinal - a globalização verdadeira, ou seja, a generalização de trocas comerciais, a intensificação dos fluxos de pessoas e mercadorias através de novas redes de transporte (as «novas rotas da seda»), a generalização de relações iguais e mutuamente vantajosas entre Nações soberanas... Ao fim e ao cabo, não seria mais apropriado serem estes designados por globalistas? ...Enquanto os primeiros, do «eixo Atlântico» (os EUA e os seus aliados-vassalos), os anti-globalistas??

Talvez o mais apropriado fosse designar estes últimos de «hiper-imperialistas», ou seja, os que querem um mundo unipolar, uma hegemonia mundial. Querem que todo o mundo esteja sujeito a um único super-poder - os EUA, a tal «nação indispensável» - com os seus acólitos, onde se contam, em particular, as ex-potências coloniais europeias do século XIX. O papel destes ex-impérios coloniais tem sido o de «correia de transmissão», do hiper-imperialismo para o mundo «em desenvolvimento» (respectivas ex-colónias de África, nomeadamente).

Os políticos fazem uso das palavras e conceitos que elas encerram para enganar as pessoas de bem. As que acreditam que, quando eles dizem... «vamos defender a liberdade contra a tirania», é isso mesmo que têm intenção de fazer. Na realidade - é sempre o contrário!
Em política, o lema das pessoas deveria ser «non credo», ou seja, apenas nos interessam factos observáveis e verificáveis... Além disso, devemos desconfiar das interpretações desses factos, dadas por uns e por outros: 
-«Como se chegou a tal situação? Quais os factores em jogo? Qual é a verdadeira estratégia de uns e de outros? » Estas e outras perguntas devem ser colocadas em relação a quaisquer episódios que ocorram no «jogo de xadrez» mundial do poder. Porém, é frequente não haver uma resposta clara e inequívoca a tais perguntas 

Estou convicto que a verdade sobre o que se passa agora só poderá ser conhecida após um tempo longo, um mínimo de 50 anos, quando os arquivos estiverem abertos para investigadores fazerem a história de um dado período. 
Ninguém, hoje em dia, sabe a verdade, quer em termos globais, quer no pormenor: mesmo os diversos actores políticos - não apenas o grande público - estão imersos num «nevoeiro de desinformação». 
Não é nada tranquilizador pensar nisto. Por muito prudentes que tais políticos sejam, poderão - com uma alta probabilidade - tomar decisões erróneas e contrárias aos interesses das suas respectivas populações, no meio de tal nevoeiro.

sábado, 5 de janeiro de 2019

JOGOS DE GUERRA SÃO JOGOS PERIGOSOS...

«As condições de concorrência e rivalidades entre potências imperiais e o atiçar de nacionalismos diversos»... seria uma frase conveniente para começar a descrever os antecedentes da Primeira Guerra Mundial, assim como para estes tempos conturbados.
Com efeito, uma super-potência, os EUA, triunfante de uma guerra-fria (por vezes, quente) com a super-potência rival, encontra-se confrontada com a emergência de potências que não aceitam mais um estatuto subordinado (a China e a Rússia). Estas têm sabido obter uma série de cooperações «win-win». Muitos dos países envolvidos são os que têm desejo de se tornarem independentes dos laços neo-coloniais, sob os quais são explorados, desde as suas independências das metrópoles...
Este tecido de acordos vai marginalizar o papel dos EUA e dos seus aliados, numa parte substancial do comércio mundial, de igual modo fazendo perder ao dólar o papel de reserva obrigatória (nomeadamente, sob forma de obrigações do Tesouro Americano) em bancos centrais e comerciais em todo o mundo e como divisa predominante no comércio mundial. 
A hegemonia militar também está posta em causa, com a demonstrada (na Síria, principalmente) capacidade superior do armamento russo e a tecnologia chinesa que permite colocar em questão a superioridade da Navy dos EUA (foi notada a declaração de uma alta patente chinesa, dizendo que seria perfeitamente possível afundar porta-aviões americanos com mísseis chineses, frase que não deixou de soar como ameaça).

A questão que se coloca é da «armadilha de Tucidides». Este filósofo e historiador grego do século Vº A.C. dizia que uma potência dominante, mas em decadência, podia ser empurrada para a guerra por potências menores, mas em ascensão, por a primeira ter ainda esperança de assim vencer, antes que estas rivais se tornassem demasiado fortes. Alguns estrategas e pensadores geopolíticos pensam que esta «armadilha de Tucidides» se poderá colocar na actualidade.
Outras questões são agitadas, como a famosa visão geoestratégica de Mackinder, sobre a centralidade do espaço do Continente Euro-asiático, cujo controlo seria vital para a potência hegemónica (na altura, era a Grã-Bretanha). 
Na verdade, a guerra já está desencadeada em múltiplas frentes: Há guerra económica , com embargos, sanções, etc.; financeira, com bloqueios de transferências de capitais e com medidas para tornear o bloqueio de pagamentos; comercial, com tarifas de importação; de propaganda, com media agressiva e demagogos excitados ... 
Não será muito difícil imaginar que um «tiro num equivalente do Arquiduque, num qualquer lugar a fazer de Sarajevo» possa desencadear uma cadeia de actos que conduzam à chamada guerra «cinética» (ou seja, com tiros) entre grandes potências.  

Neste contexto, importa afirmar alguns factos: 
- A guerra, hoje em dia, não é uma questão de conquista, de alargar o «espaço vital» duma nação (ou império). 
- Não é também uma questão de aniquilação dum adversário, pois o que restar de suas defesas, depois de um primeiro ataque nuclear é suficiente para causar um dano devastador no inimigo. É um facto que os geo-estrategas de salão ou de gabinete deveriam compreender, mas não «conseguem»; infelizmente, são eles que têm influência decisiva nos governantes e presidentes. 
Estou convencido que os militares de alta patente, mas próximos do «terreno», têm uma maior noção das realidades. Os que lhes são subordinados, os oficiais de patentes mais baixas, os sargentos e os soldados, deveriam ser críticos e mostrar-lhes que não estão dispostos a fazerem de alvo, para satisfazer os sonhos megalómanos e as ambições de «políticos-militares». 
Todas as noções do que seja uma guerra, que vigoram no sub-consciente de grande número de pessoas, incluindo dos «geo-estrategas de gabinete», estão  moldadas pelos vídeo-jogos e pela evocação de cenários passados, reais, mas que não são transponíveis. 
É sabido que os generais treinam e preparam as suas divisões para combater situações análogas às da última guerra passada. Mas a guerra seguinte não se parece com a anterior. Eles ficam desarmados, em termos conceptuais pelo menos, quando as realidades do novo conflito lhes caem em cima.

A questão - de facto - mais grave nisto tudo, é que o desenvolvimento pacífico dos povos tornaria possível a abundância ou pelo menos, a ausência de escassez e de miséria, mas os governos têm feito do armamento e das forças armadas a sua prioridade. Ambos são gastos inúteis, no melhor dos casos (o de não haver utilização dos mesmos) ou, no pior, causadores de destruições massivas de vidas e bens materiais, destruições  brutais e irreversíveis em termos ambientais, também. 
Perante isto, as pessoas e as forças que desejam a paz e que lutam pela paz são demasiado pouco contundentes, são demasiado tímidas, porventura talvez tenham receio de serem difamadas, julgadas «traidoras», etc. 
Mas isto é exactamente o que os «obreiros da paz» podem esperar de governos e políticos, apostados em levar os povos até à beira do precipício: 
Os políticos fazem carreira mostrando ódio face a um adversário, real ou imaginário. Os grandes interesses do complexo militar- securitário - industrial estão por detrás, fornecendo financiamento, incluindo os media (largamente sob seu controlo) e também toda uma série de «think-tanks», ou clubes de intelectuais muito distintos, que argumentam academicamente a favor da tal guerra, como se fosse um jogo intelectual. Para eles, é isso mesmo; para milhões de humanos... será outra coisa, bem mais sangrenta!  
Eles não nos dizem aquilo que é evidente: «se preparas a guerra, esta torna-se mais provável de acontecer (até mesmo por acidente...)». 
Preparar a paz significa retirar aos políticos corruptos a base sobre a qual eles contam: muito do seu poder se desvanecerá, se as pessoas tiverem uma visão crítica: isto é, estarem atentas ao que eles fazem e não fixarem sua atenção no que eles dizem. 
Significa isso também desmontar as teias de mentiras, as operações de propaganda que estão na base das nossas «democracias», em que de facto, o povo escolhe «chefes» por algum tempo, mas esta escolha é fictícia porque estes são, na verdade, lacaios dos interesses económicos que - discretamente - os financiam e, portanto, são os que detêm o poder real.
Não se pode construir futuro de paz com os parasitas que vivem das guerras...

sábado, 28 de julho de 2018

WILLIAM ENGDAHL: INSTRUMENTALIZAÇÃO DAS ONGS PELO COMPLEXO MILITAR/SECURITÁRIO


F. William Engdahl desmascara, no seu último livro «Manifest Destiny», o papel da comunicação social, as organizações não governamentais, como as armas para impor a agenda de Washington, em particular, desde os anos oitenta. 
A entrevista é muito esclarecedora, mas o livro -sobretudo - deve ser muito rico em dados, que nenhuma pessoa seriamente interessada em relações internacionais e geopolítica pode ignorar.
A fonte desta rede de «soft power» é a grande finança (Soros sendo apenas um exemplo) e o complexo militar securitário, embebido na sociedade dos EUA, de tal maneira que praticamente não existe nenhuma instituição que não esteja dependente ou beneficiária dos seus fundos. 

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

ESTATUTO NEO-COLONIAL DE PORTUGAL

                                   
                                     

estatuto de neocolónia * de Portugal é o verdadeiro impedimento a uma arrancada para o desenvolvimento, deste retângulo à beira Oceano plantado.

Tenho defendido, ao longo dos anos, esta visão e tenho dito a quem me quer ouvir que, se não se tivesse deixado enredar na malha das dependências neocoloniais, Portugal seria hoje uma espécie de «Suíça» do Atlântico.

Enquanto ponto de partida e de chegada natural para todo o comércio transatlântico, esse lugar é-lhe devido. 

Em termos estratégicos, controla a passagem do Atlântico Norte e Atlântico Sul e a rota atlântica em direção ao Mediterrâneo; Portugal foi e é ainda elemento geoestratégico de primeira importância.

A cobardia e a venalidade dos dirigentes deste país, ao longo das épocas históricas, é que tem feito com que o potencial enorme deste território e a coragem e tenacidade de suas gentes sejam desprezados e espoliados. 

Sem as circunstâncias especialíssimas do espaço português e da natureza flexível e determinada do seu povo, não seria possível os parasitas prosperarem, ao longo dos séculos. 

A forma de manter submissa uma pessoa é de a convencer de que ela é uma «coitadinha»,  que precisa da nossa «ajuda». Em relação a uma nação, não é muito diferente. 

É precisamente o que têm feito os gatos gordos da UE e dos EUA. Aproveitam-se dos gatinhos gordos de cá (que miam em consonância perfeita com os seus chefes), os espertos que por cá pululam, para continuarem o seu jogo, sem oposição à altura.

A forma de oposição do tipo frente de libertação anti-colonial, tipicamente uma estrutura inter-classista, parece-me ser a única viável, face ao nosso estado de neocolonialismo inconfessado, tanto devido às circunstâncias históricas, como à situação de hoje, em Portugal.

Porém, essa frente, só tem possibilidade de prosperar, caso os seus membros ponham acima dos seus interesses de grupo, o interesse nacional. Guardo esperança de que apareça um conjunto coeso e dinâmico de mulheres e de homens assim, cedo ou tarde, neste país.   

O chamado pai da democracia, Mário Soares, em múltiplas ocasiões, falou sobre a importância da tolerância para a democracia. Quando falava disso, quase ninguém compreendia o que ele tinha em mente. Poucos compreendiam que ele falava das inúmeras discussões, terrivelmente desgastantes, que qualquer democrata português teria de aguentar com outros, que, embora dizendo-se democratas, o que procuravam, antes de mais, era dominar. 

Também eu experimentei, algumas vezes, tais esgotantes debates, sem fruto nem proveito, que por aí ocorrem. Em resultado disso, sou um «anti-político» num certo sentido, embora seja um observador atento da política. 

Para os meus amigos /amigas (quer estejam envolvidos/as em projectos políticos ou não), apenas digo o seguinte: vejam o que as pessoas fazem, não apenas o que dizem ou proclamam. 

Enfim, vejam se alguém é sério e coerente com o que afirma, não pela análise discursiva, mas pela análise da coerência entre a prática, no mundo real, e as ideias que proclama.

Está claro, para mim, que além dos fatores económicos, existem fatores de cultura, civilizacionais, que justificam o estado em que se encontra qualquer país, qualquer agregado humano.

Por exemplo, no caso da China, o confucianismo domina nas mentes e permanece como pano de fundo cultural. 
No confucianismo, existe uma opção clara pela ordem, pela estabilidade, pelo respeito para com os ancestrais e para com os progenitores.  Este respeito e consideração são igualmente dados à família alargada, ao grupo étnico, à nação. 

Pelo contrário, em Portugal, reina um individualismo exacerbado, não existe solidariedade familiar verdadeira, muito menos existe verdadeira solidariedade de classe, ou de cultura, ou de nação. 

Quando digo que não existe, não nego que tudo isso, de facto, possa existir numa fração, numa parte da cidadania deste país; mas eu faço a «soma vetorial» das vontades e das ações, para compreender para onde vai a barca... 

A barca de Portugal é uma jangada, prestes a desconjuntar-se, sem leme nem liderança, onde se encontram formigas, ignorantes de que estão no meio do alto mar e que têm de se juntar e fazer causa comum, para salvamento da jangada. 

Mas as pessoas não são «formigas». 
Elas podem perceber o que é real e superar o que eu chamo de «complexo neocolonial». 
 Sobretudo, podem exercer ações eficazes para que não sejam escravizadas (mentalmente, como primeira etapa para a escravidão completa), para proveito dos senhores de terras longínquas, sejam da China ou do Ocidente, do Norte ou do Sul. 

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*Nota: tenho escrito sobre este assunto desde os «Cadernos Luta Social», no tempo em que Sócrates era primeiro-ministro: a minha análise mantém-se válida, na atualidade.