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quarta-feira, 25 de setembro de 2019

AS PSEUDO-POLÉMICAS SOBRE O SALAZARISMO

                                       
                  [imagem: a «sopa do Sidónio» ou sopa dos pobres, nos anos 40 em Portugal]

A discussão sobre o fascismo (48 anos da nossa história!) não deve cingir-se a como foi mau, cruel, etc... foi! Isso é um facto, mas o problema de se voltar sempre À QUESTÃO DA BRUTALIDADE DO REGIME, é que a discussão mais importante para o presente e para o futuro não é feita. É iludida!
Os que se dizem patriotas ou nacionalistas e têm veneração saudosista pela época salazarista, têm uma enorme desinformação, pelo menos alguns terão. 
Por outro lado, as pessoas ditas anti-fascistas, são-no sobretudo com «as tripas». Muito bem, mas não chega, é preciso pensar este regime. 

Em primeiro lugar, Salazar não foi nacionalista, em nenhum sentido real do termo. Porque foi nacionalista, só no discurso. Ele queria agradar a um republicanismo de direita, nacionalista, que aceitou o regime, sem no entanto abraçar o seu «corporativismo».  O «nacionalismo»


de Salazar consistiu em obter concessões políticas, diplomáticas e outras da Grã-Bretanha (então o império dominante, não esqueçamos) para consolidar o seu regime, a troco de oferecer as empresas mais rentáveis (na altura) a Carris, os Telefones, etc... à exploração por empresas britânicas. 
Depois, com a IIª  Guerra mundial, inicialmente a sorte das armas parecendo estar do lado das potências do Eixo (Alemanha, Itália, Japão e outros) foi entregar o melhor que tinha aos alemães nazis, mantendo este país numa falsa neutralidade. 
Quando os ventos mudaram de novo, foi entregar as bases dos Açores aos ingleses e americanos... Assim, conseguiu que Portugal entrasse na OTAN (NATO) etc, etc... 
Reparem: todas estas reviravoltas e importantes concessões, foram de grande significado, na época, para os imperialismos dominantes. Salazar e toda a «elite» fascista, sabiam-no perfeitamente. 
Sabiam que estavam a oferecer os melhores «bocados» de Portugal, a troco da sua impunidade pessoal e do regime, que estivera completamente alinhado com o fascismo de Franco e também, desde sua ascensão ao poder, até pouco antes do final da Guerra, com os regimes fascista italiano e nazista alemão. 
Tudo isso foi feito em nome duma suposta «luta contra o comunismo», em defesa da democracia (sic!). A fantochada sangrenta continuou até ao 25 de Abril de 74.
Nas colónias, o sangue dos soldados portugueses foi derramado totalmente em vão e foi uma traição directa também a eles, pois os chefes sabiam a impossibilidade de ser ganha uma guerra destas, do lado português. 
Os portugueses estiveram em África como lacaios dos anglo-americanos e outros (franceses, belgas, etc) que exploraram o que havia de melhor no império colonial português africano (Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné, São Tomé e Príncipe), sem os custos associados, de seus respectivos países terem de «manter a ordem» e «combater os terroristas»... 
 Isto são factos, não são opiniões. Isso é que deveria ser realmente debatido, para desfazer o mito do fascismo e salazarismo, como expoentes de «nacionalismo»!

Que pena os anti-fascistas não verem que este ângulo de crítica é aquele que pode ter maior eficácia! É preciso conhecer (e debater) as questões económicas, políticas, geo-estratégicas, etc. subjacentes. 
As torturas da PIDE não se tornariam menos monstruosas; nem, tão-pouco, o atraso em que as populações foram mantidas. 
Mas, se o discurso polémico fosse centrado no interesse global do país, ao longo destas décadas, compreendia-se que o fascismo foi apenas uma capa para a oligarquia, que nunca houve nesta um autêntico sentido de defesa nacional. 
Ao ser confrontado com os dados concretos, desde a história económica à diplomática, passando pela história social... nenhum investigador sério poderá passar ao lado da óbvia questão: será que o regime instaurado por Salazar e seus defensores merece o adjectivo de «nacionalista»? 

sábado, 6 de abril de 2019

A NATO…É PRECISO ACABAR COM ELA!


Oh! Essa frase do chefe do estado maior português, «se não existisse NATO, tinha de ser criada agora» ou seja, para pessoas como ele, militares de alta patente terem sempre algo com que se entreter, com que fazer carreira… Desgraçado país de escravos que beijam os seus grilhões! Desgraçado país em que poderosos se esmeram em servir de bandeja, aos mais poderosos que eles, aquilo que é dos pobres, a sua própria vida, a vida dos pobres…claro! 
Esta é uma época em que os responsáveis pelas guerras morrem longe delas, no conforto da cama, em casa ou no hospital, enquanto os soldados são enviados para a chacina e os civis, os ditos «danos colaterais», contam-se às dezenas de milhares e morrem esquecidos de todos os que não são da sua família.

Nunca achámos gloriosa a guerra, porém, estes generais e almirantes da NATO são o exacto oposto do que as histórias romanceadas contam sobre os chefes guerreiros de tempos idos. O «chefe» de hoje, pode comandar uma divisão da NATO, mas tem exactamente a mesma mentalidade submissa que um lacaio, um «chefe de repartição»… nada mais são do que chefes de repartição em uniforme.
É por causa desses indivíduos e dos políticos, que se abaixam ainda mais, na sua procura de agradar a todo o transe, que as pessoas continuam, equivocadas, apoiando os partidos da guerra (pro-NATO) e mesmo a festejar a sua pertença ao império, que nos manteve durante setenta anos em servidão! 
Durante sua pertença à NATO, nunca Portugal foi independente! Os adoradores de Salazar, que se dizem nacionalistas, acaso saberão que a «esperteza saloia» do ditador de Santa Comba foi vender Portugal, com a sua posição estratégica, o seu volfrâmio, o seu urânio, etc. a quem melhor garantisse o seu trono: primeiro, aos alemães de Hitler, depois aos anglo-americanos???



Mas este povo está tão doutrinado por um falso patriotismo que, nem sequer em relação ao século XX, consegue retraçar – com um mínimo de verdade – a história de Portugal. Caso fosse consciente da verdadeira História, imediatamente  compreenderia o papel subordinado que foi dado a Portugal, a utilização do seu povo para combater as guerras dos outros, nas colónias, nesses longos anos de guerra inútil e inglória, para proveito dos mesmos anglo-americanos e outros, mantendo na metrópole o país sub-desenvolvido e à mercê da predação dos seus despojos, dos nacos apetitosos e rentáveis que sobravam. 
A NATO, se existe ainda, é preciso acabar com ela, quanto antes. É preciso acabar com esta aliança que nada tem de «santa», cuja finalidade é perpetuar a guerra, o estado permanente de guerra, em tudo contrária aos interesses dos povos, apenas satisfazendo um punhado de industriais do armamento e uma clique de parasitas militares e políticos, que vivem uma tranquila vida de privilégios e mordomias, enquanto enviam os soldados para os diversos «teatros de guerra» ou seja, para o inferno. 
Eles, que se refastelam nos estados-maiores e ministérios, nunca viram de perto um campo de batalha (ou se o viram, foi há muitas décadas…), não se inibem de  exigir mais e mais despesa, para comprar seus «brinquedos mortíferos». Eles sabem perfeitamente que as infraestruturas do país estão a cair de podre, sofrendo de sub-investimento crónico durante décadas, como as escolas públicas (as dos pobres, não os colégios para os ricos) ou os hospitais públicos (… não os privados, que são para os ricos).
Vão para o diabo vos carregue, militares de alta patente, servis criados do império, participando no poder, festejando o jugo da NATO, com cinismo. Sois traidores à pátria que juraste defender, pois sabeis perfeitamente que a vossa lealdade primeira é ao povo deste país e não aos senhores da guerra, que vos dão ordens, no seio da NATO.

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

RELAÇÃO AMBÍGUA DE PORTUGAL COM O SEU PRÓPRIO PASSADO

                          Portugal


A proclamação da república em 5 de Outubro de 1910 foi resultante de um golpe civil-militar que conseguiu derrotar militarmente as últimas forças fiéis ao monarca. D. Manuel II subiu ao trono em 1908, depois do regicídio que vitimou D. Carlos e seu irmão, o príncipe herdeiro, D. Luís Filipe.

                    Imagem relacionada

A história dos tempos conturbados da 1ª República e os que precederam a revolução republicana de 1910, está ainda largamente ignorada pelo grande público. 
Os republicanos dos finais do século XIX eram um grupo heterogéneo, tanto nas classes sociais, como nas ideologias. Havia alguns com uma concepção «social» da república, nomeadamente os que tinham militância ou afinidades com os movimentos operários, muito influenciados pelos ideais socialistas e anarquistas. 

               

Mas outros, eram membros da grande burguesia, industrial ou latifundiária, cujo fim era a implantação de um regime que favorecesse o desenvolvimento industrial do país. 
A grande massa porém, era constituída por funcionários públicos, por empregados do comércio e serviços, sobretudo na capital e nas grandes cidades, imbuídos de um republicanismo com colorações nacionalistas. 
Não esqueçamos que o Partido Republicano explorou a veia nacionalista aquando do episódio do «ultimato», da humilhação sofrida por Portugal face à aliada Grã-Bretanha («a pérfida Albion»). 
Muitos republicanos da viragem do século XIX para o século XX eram firmes defensores do colonialismo português. Muitos tinham uma visão paternalista da relação do povo colonizador com os povos colonizados. Um destacado exemplo disso foi Norton de Matos, escolhido pela oposição republicana como candidato presidencial em 1948, o qual tinha tido uma larga carreira como administrador colonial em Angola

É um erro projectar os valores dos finais do século XX na mentalidades do início deste mesmo século. A chamada «república democrática», foi tudo menos democrática, pelos padrões comuns hoje em dia. 
- A eleição parlamentar era censitária: Só quem fosse instruído e tivesse um mínimo de rendimento podia votar. Os deputados eram eleitos por círculos desenhados de acordo com as conveniências do poder. As mulheres, em geral, estavam arredadas dos cargos públicos. Muitas eleições tinham uma taxa de participação muito fraca. Eram frequentes as «chapeladas» (fraudes eleitorais).  
- Os operários eram reprimidos violentamente, durante as greves. Afonso Costa era admirado e louvado, em certos meios, por ter «quebrado a espinha» aos movimentos grevistas. As prisões enchiam-se de sindicalistas e outros militantes operários. 
- Havia uma polícia política em embrião, ligada ao aparelho do Partido Republicano. 
- A corrupção era potenciada pela instabilidade política e pela desorganização da economia. 
- O anti-clericalismo radical de certos políticos favoreceu a aliança entre os conservadores republicanos, os monárquicos e o clero. Esta aliança esteve na origem do peculiar fascismo clerical português. 

No golpe de 28 de Maio de 1926, que veio proporcionar a posterior ascensão de Salazar, participou uma facção republicana do exército. Talvez por isso Salazar nunca se tenha atrevido a restaurar o regime monárquico, como o fizera Franco, o outro ditador ibérico. 

Uma obra da república com verdadeiro mérito foi o esforço enorme, apesar das condições económicas, para alargar a alfabetização do povo, para propagar um ensino laico e de acordo com os métodos pedagógicos mais avançados para a época. 
Foi esta obra, a da educação pública, que Salazar se esmerou em anular, fechando as Escolas do Magistério Primário, centros de formação de professores primários, instaurados pelo regime republicano desde muito cedo, e entregando a instrução primária ao clero e «regentes escolares» com formação rudimentar, para educação das classes pobres.

Hoje em dia há uma larga ignorância das pessoas em relação ao seu passado, não tão longínquo. 
Tal como em relação à história do colonialismo, em relação à da Iª República, há imenso a fazer: sobre os antecedentes, o conturbado período de sua vigência, ou o seu derrube. 

O povo português ignora importantes períodos da sua história, particularmente os finais do século XIX e a primeira metade do século XX. Na forma como é ensinada no ensino básico e secundário, é reduzida a uma série de chavões e lugares-comuns, que mais ocultam a verdade do que realmente esclarecem sobre os factos. 

Um povo que ignora o seu passado não pode compreender o presente, pelo que está mais susceptível de ser enganado e arrastado para falsas soluções.   


terça-feira, 31 de julho de 2018

RICARDO ROBLES: AO QUE TU CHEGASTE!

 A ganância é uma paixão humana, mas as pessoas com a postura pública de Ricardo Robles, não podem desculpar-se nisso, pois têm responsabilidade perante os seus eleitores e perante as muitas centenas de milhares de pessoas que têm sido desalojadas ou obrigadas a migrar para a periferia porque o negócio da locação turística e a especulação imobiliária tomaram conta da capital.
Robles não tinha o direito de fazer o que fez, não por ser ilegal, mas sim porque está em contradição flagrante com o programa e ideias defendidas pelo seu partido, o BE, para a Câmara de Lisboa. 
A direita pode usar o pretexto para atirar farpas e enlamear não apenas o  ex-vereador bloquista, não apenas o BE na sua direcção, como até fazer processos de intenção ao PCP que, neste caso, não tem absolutamente nada que ser envolvido. 
Mas com raiva e mesquinhez, certos plumitivos atiram-se, como «gato a bofe», maneira de dizer... a tudo o que «cheire a comunismo» e a «esquerda».

A tragédia do regime em deliquescência transcende em muito a figura deste vereador, lutando enquanto vereador por algo que ele próprio sabotava nos seus negócios privados. 
Poderia parecer o guião duma novela política, se não fosse a exacta realidade. Mas as figuras que circulam nos corredores alcatifados do poder, independentemente da sua ideologia, acabam por perder o senso comum, acabam por pensar que tudo lhes é permitido. Infelizmente, Robles não é o primeiro nem será -provavelmente - o último apanhado a fazer o contrário do que defende.

A democracia não pode ser um jogo verbal, em que as pessoas envolvidas não têm que dar «o corpo ao manifesto». Não podem fazer como cidadãos privados, o que condenam em termos públicos. 
Mas como isto está constantemente a acontecer, em maior ou menor escala, o sistema político acaba por ficar podre até à medula, corrompido de forma irreversível. 
A democracia não pode ser este regime partidocrático, em que uma «classe» se considera acima da lei, acima da própria moral. Lamento, mas não encontro, nem na esquerda, nem na direita, nem no centro... diferenças substanciais. 

O desafio para a cidadania é fazer uma democracia de participação, em que as pessoas eleitas o são, não porque foram escolhidas no interior de um colégio eleitoral interno aos partidos (no melhor dos casos), mas como MANDATÁRIOS, cujo desempenho do mandato é periodicamente posto à avaliação dos eleitores, não de  quatro em quatro anos, mas sim em reuniões presenciais e/ ou virtuais no mínimo, uma vez por trimestre. 
Este modelo de democracia funciona em pequena escala, há muito tempo, mas também foi ensaiado em escala muito maior, na grande cidade ou em províncias inteiras, envolvendo dezenas ou centenas de milhares de pessoas.
Mas o povo está apático, está descrente da democracia, sob qualquer forma. 
Irá, com certeza, acolher, mais dia menos dia, o próximo ditador... como sendo um salvador da pátria! 

- Os Ricardos Robles e companhia, que enxameiam a democracia pós 25 de Abril, podem-se orgulhar de terem participado na «inevitável ascensão» do novo Salazar!!!

quinta-feira, 21 de junho de 2018

DESCOBRINDO A MÁ CONSCIÊNCIA DO PASSADO


                        


A forma como o regime de Salazar transformou a expansão marítima e a colonização em epopeia dos «descobrimentos», é realmente um panegírico político para justificar o imperialismo português, que existiu entre finais do século XV e Alcácer Quibir (1578), pois assim podia «unir» em torno da ditadura os colonialistas de «esquerda» (republicanos) e de «direita» (monárquicos) da época. 

Mas será isso um bom pretexto para se rejeitar o conhecimento deste período da história de Portugal? Será razão para não se ver, objectivamente, que os princípios e valores que norteavam as pessoas de há cinco ou seis séculos atrás, nada têm a ver com a mentalidade actual e com o modo como concebemos a democracia, os direitos humanos, a igualdade, o anti-racismo? 

As viagens portuguesas tinham como objectivo claro e explícito, não apenas o comércio, mas a conquista, o ganhar terras para o rei de Portugal. 
Os homens que capitaneavam as expedições possuíam motivos tudo menos nobres, na verdade: ambição política, ganância, redourar o seu brasão ... Porém, nada disto é justificativo da forma absurda como se coloca a questão, ao nível verbal, ao nível de terminologia... É absurdo termos má consciência colectiva por aquilo que fizeram os homens que iam nas caravelas ou, aliás, por todos os que pertencem à nossa História. 

É triste que pessoas supostamente bem informadas sobre as viagens dos portugueses e sobre a sua importância para o Renascimento e para o advento da era moderna, se ponham a fazer - simetricamente aos salazaristas e aos arautos políticos do passado - um «debate» que é apenas centrado nos horrores, violências, a escravatura, etc. que acompanharam ou seguiram de perto os «descobrimentos». 

Também é irrelevante que se fale de viagens, em vez de descobrimentos: toda a gente sabe que quase todas essas terras eram povoadas, que muitas tinham civilizações, em muitos aspectos superiores às dos «descobridores». É que o termo foi usado na perspectiva do homem europeu... terras por descobrir pela civilização cristã, europeia, ocidental. Igualmente, quando se falava de «dar a conhecer ao mundo», era dar a conhecer ao SEU mundo.  

Podia-se fazer, sem nacionalismo, sem paternalismos pós-coloniais e sem estúpidas culpabilizações colectivas, uma abordagem do fenómeno da expansão ultramarina de Portugal. 
É realmente uma porta adequada para se perceber o ascenso do primeiro globalismo,  do capitalismo mercantil, das primeiras empresas monopolistas, do envolvimento ou proteccionismo do Estado nesses empreendimentos. 
Mas, igualmente, constitui uma mudança radical na filosofia, pela mudança na forma de abordar o outro. 
Ou enquanto primeiro e óbvio triunfo da ciência e da tecnologia ocidentais: os exemplares de plantas, animais e minerais trazidos eram analisados e descritos em termos racionais; as próprias ciências da navegação e ciências associadas (geografia, astronomia, etc.) foram decisivas para as viagens.

Creio que a redução das questões relacionadas com a expansão portuguesa a meras guerras de capelinhas políticas e confrontos verbais estéreis mostra como a «elite» que escreve colunas de opinião nos jornais e fala nas tvs está completamente caduca. Dêem oportunidade a pessoas com cultura verdadeira, para que elas tenham acesso à palavra.
Não existe democracia, qualquer que seja o significado dado a esta expressão, num país onde um pequeno grupo (sempre o mesmo) tem acesso ilimitado aos meios de difusão contemporâneos do pensamento (os media), podendo constantemente despejar sobre o público todas as inanidades, todas as cretinices; no mesmo momento, quem tenha realmente conhecimento sobre os assuntos e com algo de interessante a dizer, fica irremediavelmente afastado.  

quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

IMACULADA CONCEIÇÃO - 8 DE DEZEMBRO - FERIADO NACIONAL

Para comemorar (à minha maneira) o dia 8 de dez...
Padroeira de Portugal e das Forças Armadas Portuguesas, 
e dia feriado instaurado por Salazar*


 AULA DE EDUCAÇÃO SEXUAL..com MONTY PYTHON,

   ( ESTAS REVISÕES NÃO FAZEM MAL A NINGUÉM)



                                           UMA INESQUECÍVEL LIÇÃO DE HUMOR
                                           
        Vale a pena explorar TODA A FILMOGRAFIA dos geniais MONTY PYTHON!

............
* Citando:

«Mesmo o feriado da Imaculada Conceição, que é formalizado em 1948, é celebrado durante anos como o Dia da Consagração de Portugal a Nossa Senhora.
"Não se celebrava o dogma. O salazarismo manteve sempre a separação entre Estado e Igreja, apesar da grande influência da Igreja. Os feriados eram sempre celebrações cívicas", afirma o historiador.
Em 1952, Salazar acaba com o 31 de Janeiro e o 3 de Maio e junta três festas católicas à Imaculada Conceição (8 de Dezembro), ao Natal e ao 1.º de Janeiro, assim nascendo o Corpo de Deus (móvel), o 15 de Agosto (Assunção de Maria) e o Dia de Todos os Santos (1 de Novembro).»

Texto completo em:
 http://www.penacovactual.pt/2012/09/os-feriados-em-portugal-tempos-de.html

sábado, 4 de fevereiro de 2017

HANNAH ARENDT E O TOTALITARISMO

                     

Tenho uma impagável dívida para com esta filósofa. É graças a ela que eu entendi verdadeiramente o que é o TOTALITARISMO e como se distingue de outros regimes ditatoriais.

O totalitarismo é um processo complexo de supressão de toda a sociedade civil, que é «fagocitada» até ser colocada inteiramente ao serviço do Estado. Não existe nada além do Estado. O Estado é tudo; nem as pessoas, nem as instituições mais ou menos democráticas subsistem. 
Não podem sobreviver, a não ser que se submetam completa e incondicionalmente aos desígnios do Estado. 
As corporações são incorporadas no Estado: o regime corporativo, caro aos fascistas Maurras, Mussolini, Franco e  Salazar, incorpora toda a actividade económica, associativa, patronal e laboral, numa máquina burocrática que abarca tudo.

 Nada se pode afirmar fora do Estado, o qual tem literalmente poder de vida e de morte em relação aos indivíduos e mesmo aos grupos sociais. 
Muitas vezes, no discurso de propaganda surgem - como instrumentos de unificação - as palavras «pátria» ou «nação»: estes conceitos são subsumidos como os fundadores míticos do Estado, mas na realidade, apenas estão dando cobertura ao detentor absoluto do poder.

Na obra «As origens do totalitarismo» Arendt descreve a transmutação do regime da República democrática de Weimar no III Reich hitleriano, assim como a violenta transformação da pátria dos Sovietes, numa ditadura impiedosa. Em ambos os casos, os instrumentos jurídicos que fundavam a legalidade não chegaram a ser erradicados; foram simplesmente ignorados. 
A «legalidade» passa a ser simplesmente a vontade, a palavra do «chefe supremo», seja ele Hitler ou Estaline.

Esta realidade não aparece de chofre, vai coalescendo, pé ante pé, mesmo quando existem episódios de uma grande brutalidade. Se tais episódios foram ostensivos nalguns casos, noutros foram ocultados das massas, que viviam dentro duma atmosfera saturada de propaganda. 
Note-se que os campos de concentração do regime nazi começaram por se encher de militantes anti-fascistas, operários, intelectuais, antes de serem utilizados em grande escala para o genocídio dos povos judeu, cigano e outros ...
Igualmente, os campos de concentração soviéticos começaram muito antes da era de Estaline. Logo na era de Lenine e  Trotsky, houve repressão política brutal e sanguinária, não apenas dos czaristas, dos sociais democratas opositores do novo regime, mas também de operários socialistas revolucionários e anarquistas porque recusavam que os sovietes fossem manietados e controlados pelo partido bolchevique.




Muitas pessoas chamam «Hitler» ou «Estaline» a este ou aquele dirigente político contemporâneo. Ao usarem tal designação insultuosa, estão porém a «banalizar» o mal absoluto que é o totalitarismo e a contribuir para confundir as jovens gerações.

O pior disto é que, se aparecer um líder que tenha - de facto - as características de algum novo Hilter, será muito mais difícil a generalidade das pessoas reconhecê-lo, pois vivem na ignorância da génese dos regimes totalitários no século passado!