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sábado, 21 de setembro de 2024

CRÓNICA (Nº31) DA IIIª GUERRA MUNDIAL: "TUDO O QUE POSSA CORRER MAL, CORRE MAL"


Sim, a «Lei de Murphy» aplica-se num mundo enlouquecido pela húbris, pela constante saturação de ideologias, pelo condicionamento das mentes (lavagem ao cérebro), resultando numa cidadania adormecida, constantemente procurando reforçar os seus confortos egoístas, não questionando, nem contestando os poderes instituídos.

Nos últimos dias, como nos assinala o Prof. Chossudovsky , na sua página de Substack, «Uma invasão pela OTAN do território Russo está em curso e o Mundo continua sem perceber que isto é a Guerra Mundial Nº3».

A provocação da invasão do território russo de Kursk, não é uma simples «bravata» das forças militares enfraquecidas de Kiev: Foi uma invasão longamente planeada e que tinha um objetivo estratégico claro: A tomada da central nuclear de Kursk e do paiol de armas na mesma província, para fazer chantagem com o governo russo.

Esta manobra falhou de forma previsível, com a consequência das elites do exército ucraniano, mais os mercenários de vários países (França, Reino Unido, EUA, e muitos outros) serem sacrificados. Mas, os poderes que manobram a OTAN não se deram por vencidos, pois lançaram um míssil, «disfarçado» no meio de uma invasão de mais de 50 drones, fazendo explodir armamento nuclear em Tver, a uma certa distância da fronteira com a Ucrânia, mas próximo da fronteira com a Estónia.

A OTAN decidira fazer deste minúsculo país de cerca de 1.800.000 habitantes, a ponta de lança de ataque à Rússia: O golpe é claro; tratava-se de fazer uma provocação grave a partir da Estónia, para que os russos se sentissem obrigados a contra-atacar (e mesmo invadir) a Estónia e neutralizarem o foco de desestabilização.
Nestas circunstâncias, os americanos poderiam clamar que um país da OTAN foi «agredido selvaticamente», «sem causa prévia», sendo portanto obrigatório pôr em marcha o célebre artigo nº5 do tratado da OTAN.

Os EUA detêm o controlo sobre a maioria dos governos europeus, corrompidos ou comprometidos com o Império, não com os seus eleitores: O Parlamento europeu, por maioria, votou uma resolução/declaração de guerra, mas estatutariamente não pode fazer isso. É um bluff, pois a União Europeia não tem mandato para se imiscuir nos assuntos de defesa; não tem qualquer poder estatutário de declarar guerra, seja em que circunstâncias for. O que aconteceu foi uma manobra para forçar a mão dos renitentes dentro da OTAN, para eles votarem favoravelmente medidas agressivas, que o Estado-Maior Imperial e certos vassalos já decidiram: Levar diretamente a OTAN, sem disfarce, a fazer a guerra dentro da Rússia. Estamos a ver agora as consequências disso.

O avivar das ações bélicas e terroristas de Israel, sobretudo no Líbanocontra o Hezbollah, mas também nos Territórios da Cisjordânia, foi precedido pelo voto da Assembleia Geral da ONU, por larga maioria, considerando ilegal a ocupação dos Territórios palestinianos (Margem Ocidental do Jordão, Faixa de Gaza e Jerusalém Oriental) e decretando que Israel deveria, no prazo de seis meses, retirar-se dos territórios ilegalmente ocupados desde a guerra de 1967.

Não há hipótese do imperialismo ganhar estas duas guerras «proxi», usando o regime de Kiev e o governo sionista de Israel. Por isso, estão a manobrar para impelir as nações europeias, num embate frontal e direto com as forças russas.

A perversidade desta manobra está à vista: Se isto se vier concretizar do modo como os imperialistas desejam, a Europa será destruída juntamente com a Rússia. Os EUA ficarão essencialmente intactos, como sucedeu na IIª Guerra mundial. Só que isto é falso e uma loucura completa dos «neocons», que governam realmente os EUA. Os russos já prometeram que, em caso de guerra nuclear, o território dos EUA será alvo prioritário dos mísseis supersónicos russos que não são intercetáveis; e estes podem perfeitamente realizar a tarefa.

Mas os belicistas nunca param: Já estão a planificar ativamente a próxima etapa: A guerra contra a China. Eles argumentam falsamente que o próprio governo chinês apontou o ano de 2027 como ano da resolução do problema de Taiwan. Esta data é falsa, mas é parte da estratégia de propaganda, para «justificar» a intensificação do cerco e das provocações contra a China. Leia a este propósito, o artigo de Caitlin Johnstone, na sua newsletter.

A intensificação da belicosidade dos EUA e da OTAN, contra os membros mais fortes dos BRICS, não tem só a ver com a proximidade da cimeira de Kasan. Eles gostariam que ela fosse um fiasco, mas não vai ser, porque seus atuais membros estão atentos a todos os pormenores e os candidatos a membros, querem realmente participar ativamente do bloco económico em expansão.


 
                   Foto da última cimeira dos BRICS, 2023


Entretanto, no Ocidente, perfila-se uma enorme crise económica e financeira, cujo paralelo com a do final dos anos 20 (1929) foi posto em destaque por Christine Lagarde, presidindo o Banco Central Europeu. No plano monetário, vai ser acelerada a introdução dos famosos CBDC (cripto-moedas emitidas pelos bancos centrais). Todas as medidas dos bancos centrais ocidentais que estão a ser agora implementadas, foram longamente preparadas e testadas, para estarem a postos quando ocorrer o desabar do dólar, uma inevitabilidade, a julgar pelos dizeres dos que sempre foram pró-capitalistas e pró-ocidentais, como Alasdair Mcleod.

As «elites» ocidentais, não querem largar o controlo do que se passa no mundo. Estiveram realmente ao comando, na época imediatamente a seguir à implosão da URSS, tendo sido intensificado o controlo direto e militar, com as guerras do Império desde os alvores do século XXI, até hoje. Mas, note-se, todas estas guerras foram perdidas, de uma forma ou de outra. A potência maior do Mundo, em termos militares, continua sendo os EUA, porém já não consegue impor sua vontade e não tem vocação para entrar em compromissos, em negociações, em diplomacia. Por isso, temos hoje o mundo que temos.

Como eu dizia, bem antes do início da guerra russo-ucraniana, o que está a acontecer é uma mudança tectónica, com duas placas, a Euro-Atlântica e a Euro-Asiática, a separarem-se. No processo, são trituradas as margens, ou seja, há guerras e golpes violentos nos territórios da antiga URSS, como é o caso da Ucrânia por um lado e - por outro - no Médio Oriente e Ásia Central, no flanco sul da Rússia, com Israel/EUA contra o Irão e aliados regionais deste.




segunda-feira, 2 de setembro de 2024

LYNETTE ZANG: «NÃO VAI HAVER ATERRAGEM SUAVE, ELES PRECISAM DUMA CRISE»

 


A entrevistadora de Lynette é Michelle Makory de Kitco NEWS. 

Lynette diz que os donos do sistema financeiro global precisam de uma crise para fazerem passar a transição para os CBDC (divisas digitais emitidas pelos bancos centrais).

Lynette está em posição de compreender as jogadas que estão a levar o Mundo para o caos. Eles precisam desse caos. Precisam também de fabricar falsas esperanças no público, para este se agarrar a «salva-vidas» irrisórios. Segundo ela, existe um «documento branco» publicado em 1996 pela NSA, onde são delineadas as características do futuro sistema monetário. Quem ler este documento, diz Lynette, verá que existem muitas coincidências com as cripto-divisas e com um mundo sem dinheiro físico (dinheiro-papel).

Faz notar que o artigo que lançou o Bitcoin, surgiu apenas meses depois do grande crash de 2008. Nessa altura, interessava fazer crer que a salvação eram símbolos imateriais, supostamente independentes de poderes políticos e bancários. Não lhes interessava, obviamente, que as pessoas se refugiassem no ouro e na prata, com a posse direta dos seus compradores; esta seria a melhor maneira de preservar o valor dos ativos.  

Lynette está convencida de que o momento em que foi lançado o Bitcoin não foi por acaso, mas antes «um Cavalo de Tróia», para o grande público aceitar o desaparecimento do dinheiro material, ficando apenas com o dinheiro digital. Este, afinal é muito controlável pelos bancos centrais e pelo poder político. Além disso, tem muitas vantagens, para os que controlam o jogo: O CBDC é programável, como o descreveu o diretor do BIS há uns cinco anos atrás. 

Não seria necessário ilegalizar a posse do Bitcoin ou doutras cripto-divisas. Bastaria limitar sua utilização às transações estritamente particulares.  Assim, os detentores de Bitcoin, etc. ficavam com cripto-divisas que já pouco valeriam, face às divisas digitais emitidas pelos bancos centrais. 

Para a aceitação generalizada das CBDC, é preciso uma valente crise para as pessoas, em pânico, aceitarem converter tudo o que têm em cripto-divisas, centralmente emitidas. 

Estas cripto-divisas têm a possibilidade efetiva de transportar o registo de qualquer ativo ou objeto de valor (tokenization). Depois, esses «valores digitalizados» serão transportáveis no teu «porta-moedas digital»: O título de propriedade do teu apartamento, ou o valor da roupa que vestes, ou outra coisa qualquer. Podes transacioná-los, dá-los em fiança num empréstimo, etc.

Esta manobra pode ser descodificada em três etapas:

- problema (como passar ao novo sistema monetário sem afetar os privilégios da oligarquia?) ---> 

---> crise (como gerir o caos para a demolição controlada do sistema existente?)

----> solução (os bancos centrais emitem as divisas digitais, todas as pessoas terão o seu porta-moedas digital, com o seu dinheiro digital. Este seria usado para guardar ativos financeiros, ou certidões de bens materiais, como imobiliário, objetos de valor, etc.).


É assim que a classe oligárquica no poder, opera. Fazendo com que as pessoas se submetam às suas «soluções» as quais, em regra, só beneficiam realmente aquela mesma classe. 

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NB: Existe neste blog "Manuel Banet, ele próprio", muita informação sobre estes assuntos: 

Por exemplo...

crónica nº15 da IIIª Guerra Mundial, publicada a 31 de Julho de 2023  

DESTRUIÇÃO SISTEMÁTICA DAS POUPANÇAS a 7 de Setembro de 2021

CRIPTOMANIA: INSUFLADA PELOS BANCOS CENTRAIS ? de 5 de Janeiro de 2018



domingo, 12 de maio de 2024

DIVISA DIGITAL DOS BRICS JÁ FOI ANUNCIADA; RESTA IMPLEMENTÁ-LA

 No domínio da guerra monetária, que se sobrepõe ou coalesce com a guerra financeira, de sanções económicas e de guerra híbrida, com focos de guerra aberta na Ucrânia e em Gaza, sobressai a crescente de-dolarização. 

Este processo carece de explicação para se compreender o significado de uma nova moeda, emitida e garantida pelos BRICS. Com efeito, a existência de uma divisa de um país (os EUA) como detentor da moeda de reserva mundial (o Dólar US) confere a este uma efetiva capacidade de tirar partido (abusivo) deste privilégio. No caso do dólar, o privilégio consistia em que todos os países, fossem eles ricos ou pobres, amigos ou não dos EUA, tinham de possuir em reserva dólares, pois as principais mercadorias, que se têm de negociar ao nível mundial, como combustíveis fósseis ou as matérias-primas estratégicas, são exclusivamente negociadas e transacionadas em dólares. Isto foi permitir que os EUA estivessem - décadas a fio - em défice, nas suas balanças comercial e do orçamento Federal, sem daí ocorrer uma catástrofe em termos de economia interna dos EUA e sem perder a possibilidade de efetuar toda a espécie de trocas comerciais internacionais. Esta situação simplesmente seria inacreditável, para um país - grande ou pequeno - que tivesse muitos anos seguidos de défice comercial e orçamental. Qualquer país, que não os EUA, iria entrar em colapso a breve prazo, pois os capitais internacionais, financeiros e outros, iriam  fugir de qualquer negócio com um país tecnicamente falido. É, porém, exatamente este o estado dos EUA, de bancarrota, com 34 triliões de dívida acumulada*, uma soma astronómica que nunca poderá ser paga no futuro. 

Ora, o dólar não apenas permitiu a situação constante de défice, ou seja, de dívida que se vai acumulando, perante credores internos ou exteriores à economia dos EUA, como foi utilizado pelo poder político como uma arma, como um instrumento de guerra, para efetuar sanções. Estas sanções são atos de guerra económica, sem qualquer legitimidade. Porém, como os EUA são ainda a potência dominante, podem impor a países terceiros que «cumpram com as sanções», ditadas por eles, americanos. Na ausência de cumprimento, eles podem provocar o estrangulamento económico, quando não uma guerra, contra esse país recalcitrante. Este estado de coisas impulsionou muitos países do Terceiro-Mundo a se aproximarem e a pedirem a adesão aos BRICS, pois nestes não existe exigência de conformidade com o poder mais forte, em termos do sistema económico ou político vigentes. Ou seja, um país, ao aderir aos BRICS, pode continuar a economia que tinha antes, o mesmo regime político, as mesmas instituições, sem que isso seja sujeito a interferência de outros membros, nomeadamente, dos mais fortes. 

Por outro lado, a criação de moeda que não seja pertença de nenhum país, como será a dos BRICS, terá como consequência que esta será sobretudo uma intermediária nas trocas, já não necessitando de complexas ponderações entre as divisas do país A e do país B, para determinada transação, ou mesmo, avaliações do valor direto das mercadorias, sendo trocadas sem intermediação de dinheiro, mas com ajustamentos efetuado em metais preciosos, para cobrir o diferencial entre as respetivas divisas desses países. Ambas as modalidades têm sido praticadas, com resultado satisfatório, por países que não desejam estar sujeitos à chantagem do dólar. Com efeito, a troca envolvendo dólares, vai implicar o escrutínio de um banco americano (nomeadamente dos bancos gigantes de Wall Street). Pode, por isso, o poder político dos EUA decretar sanções eficazes (até agora) contra um país (por exemplo, o Irão), pois as trocas, sendo feitas usando o dólar, passam por um processo de controlo e verificação duma empresa financeira americana, situada em solo americano e sob jurisdição americana. 

Agora, o tipo da divisa emitida pelos BRICS, ainda ninguém sabe qual será. Tem-se especulado que será um produto inteiramente digital, com as características de Divisa Digital Emitida por Banco(s) Central(ais); é muito provável que esta divisa seja adossada ao ouro,  a outros metais preciosos, a combustíveis,  e a outras matérias-primas.

A questão da convertibilidade direta em ouro, como existiu no passado, não se irá colocar, creio: Não me parece que os BRICS queiram fazer do ouro (novamente) a garantia de valor das trocas, mesmo que usando uma divisa em papel ou eletrónica, enquanto forma cómoda de substituir o ouro. 

Mas, o que é certo, é que esta nova divisa internacional irá satisfazer uma necessidade ao nível das grandes trocas entre os Estados ou entre organizações públicas ou privadas. Com efeito, as trocas usando o dólar como moeda de reserva estão sujeitas a imprevistos, tanto no domínio geopolítico, como económico: Quando um país faz um acordo em dólares num contrato de longo prazo e a sua divisa nacional se desvaloriza de maneira significativa, em relação ao mesmo dólar, esse contrato pode tornar-se muito desfavorável para este mesmo país. 

Agora, a estabilidade de longo prazo conferida pela nova moeda dos BRICS, irá com certeza minimizar as hipóteses de tal acontecer. Note-se que a flutuação de divisas, duma em relação às outras, não corresponde necessariamente a um melhor desempenho económico do país A, em relação ao país B: Pode muito bem haver contextos que provoquem a descida acentuada de uma divisa, como fatores económicos ou políticos, ou outras circunstâncias no contexto mundial, que escapam largamente ao controlo dos países em causa. 

A existência da nova divisa internacional, embora não assumindo oficialmente o papel de moeda de reserva, irá permitir maior estabilidade nos preços, nos contratos e nas trocas internacionais. Isto, em si mesmo, vai ser muito importante para o desenvolvimento global. Vai haver condições para que as trocas sejam mais favoráveis para os países pobres, que têm como quase único meio de obter divisas a exportação de matérias-primas. 

Não se pode deixar de falar do destino do dólar, neste contexto: O dólar será, provavelmente, mantido como divisa dos EUA e, nesta base, será utilizado e trocado de acordo com as necessidades do mercado: Como os EUA não vão deixar de ter uma dimensão considerável no domínio industrial, comercial e da inovação, não será de espantar que o dólar continue a ser usado numa fatia das trocas financeiras e comerciais internacionais. O que vai ser diferente, é que deixará de haver exclusividade: Já não haverá qualquer «obrigatoriedade» em comprar no mercado internacional, em dólares (a países, que não sejam os EUA) os combustíveis ou  os cereais, etc. 

A libra foi, durante cerca de século e meio (do início do século XIX, a meados do século XX), a moeda de reserva e comercial. Foi destronada pelo dólar, mas continuou a ter um papel nas trocas internacionais. 

A nova divisa dos BRICS não será a «panaceia», mas terá a virtude de permitir que as trocas se efetuem de modo mais equilibrado, que não haja nenhum país capaz de impor sua «lei», só pelo facto de ser emissor da moeda com o papel de reserva mundial. Também haverá maior dinamismo no comércio. Em particular, irá desaparecer a flutuação excessiva entre divisas, eliminando assim um risco que pode inviabilizar um negócio que se pensava ser rentável.


                              O conteúdo do vídeo acima, de Lena Petrova, é muito esclarecedor. 
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PS1: No vídeo seguinte, duas opções de criação de uma divisa dos BRICS são detalhadas:
https://www.youtube.com/watch?v=PF65jyA6qXc

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*A propriedade dessa dívida é a 80% propriedade do fundo de investimento da segurança social e outras entidades coletivas dos EUA.

quinta-feira, 21 de setembro de 2023

O «PIX» DO BRASIL: para as pessoas se adaptarem à sociedade sem cash

Do blog de Martin Armstrong:

«Provavelmente, nunca ouviu falar no sistema Pix, a não ser que viva no Brasil. O PIX é um «ecossistema de pagamento instantâneo», lançado em Novembro de 2020, pelo Banco Central do Brasil. Ele funciona principalmente através de códigos QR, que são usados para dar acesso a pagamentos nas contas correntes digitais. A pandemia ajudou a levar as pessoas a utilizar intensamente a banca digitalizada e agora o sistema ultrapassa a utilização dos cartões de crédito e de débito.

Cerca de 30% de todas as transações em 2022 fizeram-se através do sistema PIX. Porém, somente 20% foram efetuadas com cartões de crédito e 19% com cartões de débito. Três milhares de milhões de transações são feitas através do PIX, em cada mês e este número não cessa de crescer. "A adoção do PIX na sociedade foi muito intensa", comentou Carlos Eduardo Brandt, das operações com o PIX no Banco Central do Brasil. Dois terços da população do Brasil usa agora o PIX, visto que se aclimatou à vida de todos os dias. As transações em papel-moeda (cash) diminuíram de 25% desde 2020. No entanto, os brasileiros antes preferiam o cash e os trabalhadores das áreas rurais habitualmente recebiam os salários em notas de banco.

O Fundo Monetário Internacional vê com agrado o sucesso do PIX e tem estado a estudar o caso. O FMI publicou um estudo em Julho “Pix: Brazil’s Successful Instant Payment System.” (PIX: Bem sucedido sistema de pagamento instantâneo do Brasil). "As autoridades conseguem agora monitorizar os pagamentos mensais e relacionar a atividade económica em detalhe por localização geográfica, tipos de transações, tipos de empréstimos, e mesmo por grupo etário", faz notar o referido estudo. O FMI diz que a obrigatoriedade dos grandes bancos em participar foi um fator que contribuiu para a adoção do PIX.

Cada banco central tem estado a desenvolver a sua versão de «CBDC». O objetivo dos globalistas é de combinar estas divisas digitais numa base de dados centralizada. Embora o PIX não seja uma CBDC, serviu a finalidade de aclimatar os bancos, os comerciantes e o público à ideia duma sociedade sem cash.»

Veja vídeo promocional aqui:




domingo, 16 de julho de 2023

CRÓNICA ( Nº14 ) DA IIIª GUERRA MUNDIAL

                             


Temos de aceitar uma vez por todas que, apesar da guerra na Ucrânia ser uma carnificina como não houve muitas, o cenário principal desta Terceira Guerra Mundial joga-se em planos muito diferentes do mero confronto militar. É um confronto total: Nada mais óbvio, a meu ver, que a luta de uns (BRICS e associados) para arrancarem a hegemonia do dólar, por um lado. Por outro, os EUA e seus aliados, a fazerem tudo para guardar essa hegemonia, incluindo - mas não exclusivamente - através da guerra «cinética» ou dita convencional, fazendo pairar a ameaça de guerra nuclear.

 (Ver minhas crónicas anteriores: Crónica Nº13 da IIIª GUERRA MUNDIAL)

Li alguns artigos (ver links em baixo) e tentei resumir, neste escrito, o que aprendi com eles.



Alasdair Macleod chama-nos a atenção para o anúncio - feito pela Rússia - de que estaria para breve uma nova divisa, da responsabilidade dos BRICS, que seria apoiada no ouro. Os media ocidentais, tentaram - como de costume - ignorar ou minimizar a importância deste passo, anunciado para ser oficializado dentro de tempo muito breve, na cimeira dos BRICS de Johannesburg. Os BRICS,  entretanto, vão-se alargando, a sua estrutura está a fazer a junção com outras instituições da globalização «alternativa», a Organização de Cooperação de Xangai e a União Económica Euroasiática. Trata-se - nada menos - da maioria da Ásia (incluindo países do Médio-Oriente), além de países de África e América Latina. Ao todo, serão uns 61 países (se a minha contagem está certa), a formarem este novo bloco, em torno do núcleo inicial dos BRICS.

A segunda peça, é de autoria de Marcel Salikhov, o diretor do Centro de Peritagem Económica da Escola Superior de Economia de Moscovo, inicialmente publicada no Valdai Discussion ClubEste documento lê-se como sendo uma planificação estratégica para acabar com a hegemonia do dólar. O autor di-lo, sem esconder os objetivos, com a segurança de alguém que sabe ter apoio e colaboração dum conjunto de especialistas monetários de vários países. Estes países constituíram a «Grande Aliança Informal»  que se alargou e consolidou, perante a constatação de que os EUA e seus vassalos não hesitavam em deitar pela borda fora as «regras internacionais», como as do FMI e do Sistema Monetário Mundial (Por ex.: O estatuto especial dos bancos centrais e dos seus ativos), ou a utilização de sanções unilaterais como meio de chantagem política sobre regimes não afetos aos senhores hegemónicos (Aliás, indo contra o espírito e a letra dos tratados da ONU e da OMC).  

Quem quiser, pode compreender -pela leitura do artigo - quais os passos propostos para a derrota do dólar enquanto instrumento bélico, usado para subjugar os Estados, exercendo sobre eles uma chantagem permanente, com o abuso do seu estatuto de «moeda de reserva».

Finalmente, o artigo do jornal on-line britânico Off-Guardian, por Riley Waggaman, correspondente em Moscovo. O rublo digital nasceu oficialmente, tendo a Duma (o parlamento russo) votado a lei na Terça-feira passada (a 11 de Julho de 2023). Note-se - de passagem - o silêncio, a falsa indiferença da media corporativa

O que me parece importante fazer sobressair é que este lançamento do rublo digital não é desgarrado, mas coordenado com o lançamento sob forma digital duma divisa própria dos BRICS. A China, por sua vez, já possui instrumentos técnicos para lançar o Yuan digital em grande escala. Já o fez, a nível experimental, em várias províncias.

Quem está imbuído de conceitos keynesianos, ou deles derivados, tem tendência a desprezar o papel monetário do ouro. Porém, agora, o ouro surge «em todo o seu esplendor». Qualquer país que queira aderir ao «novo clube», quer use um nome novo, ou o nome tradicional da sua divisa própria, precisa de ter um certo grau* de cobertura em ouro nas suas reservas bancárias. Isto tem  a sua lógica: Os países podem fazer comércio entre si usando moedas nacionais respetivas; mas, as trocas deverão ser periodicamente ajustadas pois, por coincidência somente, o valor das exportações dum país, cobriria exatamente o valor das importações do outro. 

[* Não se trata de convertibilidade automática em ouro, dum padrão-ouro como existiu no séc. XIX, até à Iª Guerra Mundial (1914-1918): Nessa época, as notas de banco eram literalmente certificados de ouro. O seu possuidor tinha direito de as trocar pela quantidade correspondente em ouro ao balcão dum banco comercial.]

O resultado de os membros, e da própria organização dos BRICS alargada, terem a sua divisa comum e as divisas digitais dos vários países (rublo, yuan, ...) com o «backing» do ouro, é que esvaziam as moedas digitais  que os países ocidentais pretendem lançar como versões digitais das divisas «fiat». Estas últimas, não são garantidas por nada, a não ser pela «confiança» nos bancos centrais e nos governos que as emitem!


ARTIGOS EM QUE ME BASEEI:

https://www.goldmoney.com/research/the-bell-tolls-for-fiat

https://www.informationclearinghouse.info/57678.htm

https://off-guardian.org/2023/07/15/the-digital-ruble-its-finally-here/


PS1 : Nomi Prins, em entrevista ao KWN, reforça os aspetos da mudança tectónica, referida no meu artigo acima. Veja e leia:

https://kingworldnews.com/nomi-prins-just-warned-what-is-about-to-be-announced-will-shock-the-world/



quinta-feira, 23 de março de 2023

OS MUITO RICOS SABIAM -DE ANTEMÃO - DESTA CRISE



No rescaldo dos últimos acontecimentos desastrosos, podemos ver a FED continuando teimosamente a subir a taxa de juro diretora (de 0.25%).
Eles fazem-no, sabendo bem que na raiz do colapso de uma série de bancos de média dimensão (pelo menos, 4 bancos, só nos EUA) estava realmente a subida faseada a intervalos muito curtos, das taxas de juros, com a consequente descida do valor das obrigações do Tesouro, portanto fazendo com que o principal ativo de reserva destes bancos (e de quase todos os outros, inclusive noutros países) ficaria reduzido. Nalguns casos, foi o suficiente para eles ficarem em défice de cobertura e sem hipótese de obterem um reforço de reservas.
Não houve bailout para estes bancos. Muitos depositantes devem ter ficado a perder o dinheiro dos seus depósitos, nomeadamente, pequenas e médias empresas que possuíssem mais de 250.000 dólares depositados, o que não é muito, visto que uma empresa tem de pagar salários e fornecedores. Quanto ao despoletar da crise, note-se que esses bancos não fizeram nada de ilegal, nem sequer de incorreto face às regras bancárias.
Pelo contrário, na crise de 2008, muitos dos bancos e entidades (Bear Sterns, Lehman Brothers, AIG) que se afundaram e outras, que foram salvas pelo Governo dos EUA, tinham-se envolvido em empréstimos fraudulentos para a habitação e na venda de pacotes desses empréstimos, até para além dos EUA.

Agora foi a vez do Crédit Suisse, um banco há anos considerado dos mais fortes mundialmente. Houve uma clara intervenção estatal, que levou a um bail-in (ou seja, um resgate interno, à custa dos depositantes do banco) disfarçado. Os detentores de obrigações viram, de um momento para o outro, as suas obrigações do Crédit Suisse, que valiam (no total) 17 mil milhões de Francos Suíços na última cotação, serem levadas a zero: Não por ação dos mercados, mas porque era uma das condições impostas pela UBS para aceitar realizar a compra da sua ex-rival. Há base para uma ação contra o Estado, pois na ordem de prioridades de uma falência, os detentores de ações só devem ser indemnizados depois dos detentores de obrigações. Ora, a UBS «comprou» o Crédit Suisse, por uns meros 3 mil milhões de Francos Suíços, que terão servido para indemnizar os possuidores de ações. Os possuidores de obrigações ficaram sem nada.

Não existe paralelo histórico para esta crise bancária, que se alastra como mancha de óleo, em países do «coração» do capitalismo. Estamos ainda muito longe do seu final. Uma coisa é certa; os banqueiros centrais e os governos são impotentes para travar a crise em curso, são quadriliões de dólares de ativos em «papéis dos mais diversos tipos». Destes, os mais problemáticos são os derivados, cuja avaliação é difícil de se fazer: As operações de compra e venda fazem-se fora do balanço das instituições bancárias («over the counter», por cima do balcão, é a expressão consagrada).

O sistema não pode estar seguro, porque o capitalismo financeirizado se baseia em esquemas de Ponzi, quer sejam promovidos por empresas, bancos, «hedge funds», ou pelo próprio Estado, como na gestão das pensões.

Podemos ter a certeza de que os grandes capitalistas souberam transformar muitos dos seus ativos financeiros (ações, obrigações, contas a prazo, derivados...) em propriedade não-financeira:
- terras agrícolas: uma aquisição maciça de terras agrícolas por Bill Gates, fez dele o maior detentor individual de terras nos EUA.
- imobiliário: apesar de muito sujeito a especulação, é algo «sólido», seu valor nunca pode reverter  para zero.
- metais preciosos: o ouro, comprado nas praças do Ocidente excede em muito, as quantidades adquiridas pelos bancos centrais ocidentais, pelo que uma porção desse ouro deve estar em mãos privadas.
- obras de arte: verifica-se uma nítida inflação do mercado da arte, em especial, nos segmentos de topo do mercado, obras arrematadas em leilão por milhões. Elas são guardadas em cofres-fortes, durante anos, para depois serem vendidas com imenso lucro.

Quem vai sofrer são as pessoas comuns, cujo rendimento (salário, pensão ...) nunca é atualizado de acordo com a taxa de inflação. Ou seja, a imensa maioria fica realmente mais pobre. Os muito ricos não se importam, até gostam, pois um pobre sujeita-se a trabalhar em condições de grande precariedade, de forma desregulamentada, não se atrevendo nunca a reivindicar.

Há quem diga que muito do que se passa, ao nível dos mercados financeiros e dos principais bancos centrais ocidentais, é orquestrado, no sentido de que a população, castigada por tanta miséria, vai ter que «engolir» a mentira do dinheiro digital de bancos centrais (CBDC), como «panaceia» para a crise. A vantagem do dinheiro digitalizado a 100%, é que os poderosos poderão dirigir as nossas compras de bens e serviços, de acordo com aquilo que eles consideram ser «bom para a economia». Também torna impossível a verdadeira dissidência, pois os poderes podem, com toda a facilidade, «cancelar» a conta dos que eles consideram estar a incorrer no «crime de dissidência» e estes ficam sem meios de subsistência. Os poderes ocidentais, nisso, copiam o regime chinês, embora façam sempre propaganda contra a China.

domingo, 19 de março de 2023

TEMPESTADE DE CRASHES - EXPLICAÇÃO DO QUE SE ESTÁ A PASSAR

Conhecem com certeza a história de Pedro e o Lobo. O Pedro divertia-se a dar falsos alarmes, mas um dia o lobo veio mesmo à aldeia, só que nessa ocasião, ninguém queria acreditar nisso! Aqui, também se passa o mesmo, mas os «Pedros» são os que deram o alerta da situação disfuncional dos mercados e nas instituições financeiras, em particular, desde 2009.

O sistema financeiro e monetário mundial é controlado a partir da FED (Banco Central, uma instituição privada, embora o presidente seja escolhido pelo presidente dos EUA) e também do BIS (Bank of International Settlements) em Basileia (que é tão especial que a polícia suíça não pode lá entrar, mesmo com um mandato de captura).

O projeto de CBDC (Central Bank Digital Currencies) é oriundo e apadrinhado por aquelas duas instituições «mamutes» e por um terceiro «mamute», o FMI.

O processo de introduzir estas CBDC só tem interesse para os banqueiros centrais (em particular, os dos países ocidentais) se implicar a digitalização do dinheiro a 100%. O dinheiro-papel (ou em moedas) deixaria de ter validade.

Este processo talvez seja viável em países muito familiarizados com os cartões de crédito e débito. Nos países ricos (EUA, Suécia, Reino Unido,...) uma maioria das pessoas usa estes meios eletrónicos no quotidiano. A generalização dos pagamentos correntes através de cartão ou de app no smartphone, não seria muito problemática, à primeira vista.

Mas, vejamos o que aconteceu com a introdução do CBDC na Nigéria, país africano considerado rico pelo facto de ser um grande produtor de petróleo: Ver AQUI.

Neste país, houve uma situação caótica, em que as notas de banco eram «racionadas», onde mães, que tinham de alimentar as crianças, saltavam elas próprias as refeições, porque não havia acesso ao dinheiro no banco, não tinham suficiente para se abastecer de alimentos no mercado !

Se nos países desenvolvidos há problemas em instaurar os CBDC, é antes porque a cidadania já percebeu que o controlo do Estado central vai se tornar muito mais problemático do que a mera prevenção da fraude, da criminalidade e da fuga ao fisco.

Nestes países, apesar da propaganda, compreende-se que este processo não é a favor da liberdade, da autonomia e da privacidade dos cidadãos. A aceitação de tal medida tem de ser na sequência dum enorme caos, de uma crise profundíssima, só assim os governos e banqueiros centrais pensam conseguir a «adesão» ao «100% digital».

Note-se que as falências têm ocorrido numa série de bancos de depósito. Estes, são considerados «pequenos», em comparação com as 5 maiores instituições financeiras dos EUA: JP Morgan, Morgan Stanley, Freddie Mac, Bank of America, CITI Bank

Segundo Robert Kiyosaki, há a hipótese de tal cadeia de falências ter sido prevista e desejada. Houve um aumento brusco dos juros das obrigações e outros títulos de dívida, da parte da FED. Esta subida tem sido efetuada com o pretexto de domar a inflação. Mas, não é crível que a FED e o Tesouro dos EUA não tenham previsto que os bancos (justamente, os de depósito) que tinham como reserva principal «Treasuries» (obrigações soberanas dos EUA), não fossem muito impactados, alguns ficando mesmo insolventes. [Note-se que a subida dos juros nas obrigações, significa a diminuição do seu valor.]

Uma grande parte do dinheiro depositado nestes bancos, já voou para os 5 grandes bancos de negócios (ditos «Too Big to Fail») - sobretudo o dinheiro de clientes empresas/negócios, que tinham lá somas acima do limite de cobertura do FDIC. Esta instituição garante os depósitos até 250.000 dólares, mas não dispõe senão do necessário para cobrir 0 .05% do cash presente nos bancos dos EUA, que está dentro dos limite acima indicado.

Conclusão: Estão a fazer com que o mundo ocidental sofra uma enorme crise, porque temem que se forem introduzir o dinheiro digital (CBDC) «devagar, suavemente», aconteça uma rejeição semelhante à da Nigéria.

Agora, esta onda de choque provocada (Shock and Awe), vai ter implicações muito graves no continente europeu (e eles sabem-no). Note-se que a dimensão dos bancos deste lado do Atlântico é muito menor, só alguns bancos europeus fazem parte da tabela dos 100 maiores bancos.

Portanto, se a derrocada de bancos continuar com os pequenos ou médios bancos de depósitos na Europa, não será caso para surpresa. Além de estarem todos interconectados, é um facto que o ECB tem feito uma política muito parecida à da FED

Para os globalistas, não será um problema, pois faz parte dos seus planos: Eles querem que a Europa fique de rastos para aceitar qualquer boia de salvação lançada pelo FMI, Banco Mundial, BIS, etc.

Neste processo, compreende-se que a concorrência entre capitalistas, não é apenas de «Ocidentais» contra «Orientais». Desde há bastante tempo, os governos europeus e a Comissão Europeia, têm aceite o papel de vassalos, face aos interesses do «hegemon». Esta postura de subserviência constata-se em todas as organizações regionais e internacionais: Sem dúvida a OTAN , mas igualmente instituições globalistas como BIS, OMS, OCDE, etc.

Este jogo revela-se agora como duma «demolição controlada» do edifício monetário e financeiro «global». Destina-se a obter ainda maiores fatias de poder. Isso vai implicar obter a resignação e a anuência das populações, por medo.


ROBERT KYIOSAKI  COM ANDY SCHECTMAN : VEJA AQUI

VEJA ABAIXO Video SOBRE O CBDC:

ATUALIZAÇÃO 1: Durante o fim-de-semana foi negociada a compra, por 3 mil milhares de dólares, do Crédit Suisse pelo banco (Suiço) UBS, com apoio da BNS (Banco Central da Suiça) que fez um empréstimo de garantia de 100 mil milhares de dólares. Ver em: 

sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

MOEDAS DIGITAIS DE BANCOS CENTRAIS - ROUBAR AS PESSOAS INDEFESAS

Henry Ford terá dito uma vez: «Ainda bem que o povo da nação não percebe o nosso sistema bancário e monetário, porque se percebesse, creio que haveria uma revolução amanhã de manhã»                                                                                            

Por muito complicada que pareça a cena económica e monetária, ela torna-se clara e transparente, se nós nos ativermos aos factos, tendo em conta, também, o vetor principal de qualquer política: o controlo conferido e exercido pelo poder. Isto é tão válido na análise do que se passa na China, como nos EUA,  ou em qualquer  país, desde uma grande potência, até um pequeno país. No momento atual, aquilo que é o grande cavalo de batalha dos globalistas é a questão das «moedas digitais emitidas por bancos centrais», que eu irei, no seguimento do texto, descrever pela sigla inglesa «CBDC».

A introdução das CBDC tem sido várias vezes anunciada, pelo FMI, pelo BIS, pela FED (EUA) etc., mas de facto, ainda não entrou em vigor em nenhuma das grandes potências ocidentais, nem nos países que estão sob hegemonia americana. De facto, sabemos que a China está muito mais adiantada, neste processo, pois já ensaiou o modelo em algumas províncias, onde milhões de pessoas usaram, durante algum tempo, em exclusivo a moeda digital, ou seja, conectada a contas individuais, sediadas no banco central, que forneciam o «dinheiro/crédito», necessário para todo o tipo de transações. 

A não utilização do mesmo processo pelos poderes ocidentais, tem a ver mais com uma razão de ordem tática, do que devido a qualquer dificuldade técnica. Afinal de contas, os CBDC funcionam de modo muito semelhante aos cartões de crédito, os quais estão autorizados a debitar o montante duma despesa à conta bancária do detentor do cartão, para transmitirem essa soma à conta da entidade que forneceu a mercadoria ou serviço. Os CBDC não utilizam (necessariamente) o elemento fundamental das «verdadeiras» cripto-moedas, ou seja, o processo conhecido como «blockchain» [Para melhor esclarecimento sobre o que é a blockchain, ver AQUI].

No desenho das diversas cripto-moedas, a possibilidade de rastrear os movimentos duma soma, fica sob controlo de múltiplas instâncias. Isto torna impossível fazer uma fraude que não seja facilmente detetável, pois a origem e itinerário do dinheiro transacionado, estão - desde logo - completamente esclarecidos. Isto é um fator que aumenta muito a segurança das cripto-moedas, pois torna a fraude quase impossível.

Esta transparência desaparece num processo centralizado. Se bem entendi o desenho dos CBDC dos vários bancos centrais, haverá possibilidade de controlo e de rastrear os movimentos de dada quantia, mas somente pela entidade reguladora. Será impossível o comprador e o vendedor terem acesso a dados que permitem rastrear o itinerário da quantia de dinheiro envolvida, ao passar de uma conta para outra. 

Isto não é muito diferente, em termos qualitativos, do «dinheiro eletrónico», que é já usado na grande maioria das transações correntes nos países do Ocidente, desde a compra dum café, à duma casa; hoje em dia, o dinheiro circula sobretudo sob forma eletrónica ou digital. Mas, se um dos intervenientes numa transação pretender verificar o que se passa no trajeto duma dada soma, só o poderá fazer indiretamente, através do banco comercial onde possui a conta ou, em caso de suspeita de ação criminosa, através de ordem judicial, que irá obter a abertura da/s conta/s, para escrutinar os movimentos nelas registadas. 

A centralização do CBDC significa, no concreto, que cada conta associada está a ser monitorizada em permanência, para qualquer usuário. Um poderoso dispositivo de vigilância permanente fica assim instalado. Aquilo que os bancos centrais e os governos prometem e dizem é sempre tranquilizador, pois envolve a utilidade destes mecanismos, como potenciar o combate à criminalidade financeira, aos tráficos (de droga, de armas, etc.) e à evasão fiscal. Mas, aquilo que bem poucos sabem e que os poderes não querem que tu saibas, é que cada cidadão, em qualquer situação, tem sua vida devassada, bastando para isso retraçar suas despesas - pequenas ou grandes - que, afinal, traçam um melhor «retrato- robot» e mais completo, sobre quem é: O que faz, como emprega o seu dinheiro, com que frequência faz certas despesas, quais os locais que frequenta, quais as suas deslocações (internas ou ao estrangeiro).

As pessoas ingénuas dizem que não se preocupam muito com isso, «porque nada têm a esconder»: Muito bem, mas o problema surge com maior acuidade, em duas circunstâncias que, aliás, podem estar muito relacionadas: A) Tomada de poder ou deriva autoritária pelo governo: Neste caso, as pessoas adversárias do regime serão facilmente «desmonetizadas», suas contas em CBCD serão suspensas ou canceladas, como forma de punição e para os obrigar a conformarem-se com o poder instalado. Este procedimento não é inédito nas chamadas «democracias ocidentais». Veja-se o caso dos camionistas do Canadá e seus apoiantes: Tiveram as suas contas congeladas, entre outros atos de repressão coletiva e inconstitucional. B) Os governos e bancos centrais passam a ter mais uma forma de manipular o modo como o cidadão gere e gasta o seu «dinheiro digital»: Os mecanismos para desincentivar a compra de certas substâncias (por exemplo, bebidas alcoólicas) e para incentivar a compra de outras (por exemplo, produtos que os poderes desejam que as pessoas consumam em maior quantidade),  serão muito simples de efetivar neste sistema digital. Também é possível incentivar a poupança, ou o contrário: se houver caducidade do dinheiro digital presente nos seus porta-moedas eletrónicos, as pessoas irão apressar-se a gastar antes que caduque. Mas, se os poderes querem que as pessoas façam poupança, basta darem um juro (mesmo que pequeno) sobre as somas  que as pessoas possuem nos mesmos porta-moedas.

«De um tiro, matam dois coelhos»:

1) Assim, destroem praticamente o valor das cripto-moedas «independentes», ou seja, das não criadas por qualquer Estado. Podem fazer isto, sem necessitar de as ilegalizar. De facto, a grande maioria dos utilizadores atuais de cripto-moeda, limita-se a utilizá-la como veículo especulativo, para fazer crescer sua conta em dólares ou euros, ou em qualquer outra divisa, através dum vai-e-vem, comprando quando a cripto-moeda estiver baixa, para a revender com lucro, quando esta atingir um valor bem acima do preço de compra. Nada diferente, na essência, do que se faz com a compra/venda (trading) das ações ou doutros produtos financeiros. 

2) Podem os bancos centrais e governos realizar uma monitorização detalhada, permitindo ajustar o crédito às necessidades da economia, que estará inteiramente nas suas mãos.  Controlarão aquilo que os cidadãos são incentivados ou desincentivados a comprar. Isto pode ser feito, não só em relação a gastos de consumo corrente, como nos investimentos em contas-poupança, ações, obrigações, fundos, etc. 

Não é necessário recorrer a obras de ficção científica para se imaginar como tencionam moldar a sociedade de amanhã, de acordo com os interesses da aristocracia do dinheiro, um grupo restrito de pessoas que está ao comando de tudo e que, portanto, terá um poder ilimitado sobre todos e cada um de nós. 

Não me parece inteligente que as pessoas entreguem a sua liberdade a troco duma ilusória «segurança». 

É como o "racket" instituído por um gang mafioso, sobre o comércio duma cidade ou num setor da mesma: Cada comerciante entrega determinada soma («imposto» de proteção) ao grupo mafioso, a troco de não ser inquietado. Todos os que se recusam, veem o seu negócio ir pelos ares, à bomba ou por incêndio. Neste caso, a liberdade de fazermos o que entendermos com o fruto do nosso esforço, do nosso trabalho ou do que recebemos de outrem, está severamente posto em causa: Penso que isto é um perigo muito maior, do que o eventual benefício de tornar mais difícil a fuga ao fisco.

Aliás, a realidade é que essa fuga ao fisco e outras entorses graves à lei e ao bem-estar coletivo, já são correntes, por uma simples razão: Existe uma prática de fechar os olhos e não ser eficaz contra esses crimes e, sobretudo, não atuar sobre contas resultantes desses diversos crimes (corrupção, fuga ao fisco, tráficos diversos, desde tráfico de seres humanos a tráfico de substância ilícitas, etc.).
Os chamados «paraísos fiscais» apenas existem, porque os diversos Estados onde estão situados têm um comportamento muito indulgente, de conivência mesmo, em relação às instituições bancárias e fundos financeiros, onde estão alojadas tais contas. Por outro lado, os países onde ocorre evasão fiscal pouco têm feito, na prática, para reprimir essa criminalidade. Os países onde têm abrigo bancos e instituições financeiras receptoras, "vendem sua soberania" a essas mesmas instituições.
Alguém que tinha um montante elevado, transitoriamente, numa conta à ordem, duma dada instituição bancária, foi abordado por um funcionário da instituição, no sentido de abrir conta numa sucursal «offshore» do mesmo banco, para «gerir» esse capital.
Para perceber o grau de generalidade da história, investiguei um pouco a situação das fugas de capitais em Portugal. Fiquei a saber que todos os bancos (incluindo, o banco comercial propriedade do Estado português, a CGD) possuem sucursais em paraísos fiscais, onde contas de empresas e cidadãos abonados ficam fora de controlo do fisco português. Tudo isso é feito com pleno conhecimento e proveito, tanto da classe empresarial, como política.
Nada nos garante que - com políticos deste quilate - as coisas não se mantenham, ou se agravem, quanto à evasão fiscal e recetação de dinheiro «sujo», uma vez que sejam adotadas as CBCD. Um sistema controlado centralmente, é muito virtuoso ou muito corrompido, dependendo de quem o administra, isto é, de homens e mulheres em lugares estratégicos operacionais, de controlo e decisão.
A privacidade dos cidadãos é um bem precioso, do qual só se reconhece o valor, quando este se perde. É exatamente como com a liberdade: Só se aprecia plenamente o seu valor, quando se é privado dela. Porém, as pessoas são iludidas e o matraquear duma propaganda discreta, dá uma conotação positiva às divisas digitais controladas pelos bancos centrais. Assim, já não aparecem como séria ameaça à autonomia dos indivíduos e à sua liberdade, mas a sua introdução é tornada inócua ou sedutora através de mecanismos de publicidade e de incentivo...
A minha leitura do processo do «Great Reset» é de que se trata de um conjunto de manobras estratégicas da oligarquia globalista, para nos forçar a adotar universalmente estas CBDC. Dentro deste processo, torna-se evidente a lógica da perda constante de valor do «dinheiro-fiat», ou seja do dinheiro corrente que usamos, sejam dólares, euros, yens, libras, etc... Note-se que nos últimos três anos, a quantidade de dinheiro eletrónico «imprimido» foi tal que nenhuma hipótese haverá jamais deste ser absorvido em atividades produtivas. São portanto os bancos centrais e os governos ocidentais que estão deliberadamente a liquidar o valor das suas próprias divisas. Quando eles acharem que o valor destas desceu suficientemente baixo, irão introduzir CBCDs com grande pompa.
As pessoas serão incentivadas a «trocarem» o seu dinheiro-papel, que quase não valerá nada, por «valioso dinheiro digital», antes que se feche o prazo. Todas as pessoas irão, a correr, trocar o tal dinheiro «sujo e em papel», que está sempre a valer menos...
Quando isso ocorrer, o «RESET» estará completado no que toca aos aspetos financeiros e monetários. E, a partir daqui, o RESET político e institucional estará praticamente ganho. Pois, que força haverá para se opor eficazmente a um poder hegemónico sobre todos os aspetos da economia, desde os grandes bancos sistémicos, até às compras no dia-a-dia?

segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

OLHANDO O MUNDO DA MINHA JANELA, PARTE XVI

 Estamos no fim de um ano que nos marcou a todos. Eu aqui direi o que sinto, não pelo mero desejo de exibir sentimentos (até sou contrário a isso, neste tipo de escritos), mas antes, porque me parece que a sociedade -toda ela - sente o efeito de uma propaganda «non stop», primeiro, nos dois anos «Covid» e, agora, com a guerra da Rússia contra a OTAN, no território da Ucrânia. 

A guerra não parece estar pronta a chegar a um desenlace, os beligerantes, de um lado e do outro, parecem estar bem decididos a «ganhar» esta guerra. Mas, parece-me que estas guerras não podem ser ganhas. Nem sequer, no plano estrito militar. Ainda mais improvável que uns fiquem em posição económica e social muito mais favorável, que os outros. Os estragos destas guerras contemporâneas fazem-se sentir durante muitos anos. São, com certeza, situações que nunca chegam a termo, do ponto de vista daqueles cuja vida ou a vida de próximos ficou completamente destruída. Pode-se argumentar que populações oprimidas noutras regiões do Mundo têm estado a sofrer durante tanto ou mais tempo, o que as populações ucranianas - quer as russófonas quer as não-russófonas - estão agora a sofrer nestes últimos 8 anos, desde o golpe de Estado de 2014 de «Maidan». Embora isso seja verdade, os sofrimentos de uns não aliviam os sofrimentos de outros. 

Pessoalmente, o que me choca é a indiferença - e falta de pudor - de pessoas «corajosas» em fazer afirmações peremptórias, bem longe do teatro dos combates. Sinto uma certa náusea, quando penso na maneira estúpida como aquelas pessoas, aparentemente mais «informadas», se debruçam sobre a catástrofe dos outros e se apressam a fazer juízos definitivos. 

A involução civilizacional, que eu invoquei em vários textos meus, muito antes de rebentar esta guerra,  está agora à vista de todos. Aliás, esta involução começou muito antes de Fevereiro deste ano. Nem sei ao certo quando. 
Na realidade, o que importa é que vejo que as forças da paz, do bom-senso, da racionalidade, do humanismo e do coração generoso, estão em franca minoria, estão dispersas pelo vendaval de belicismo, que varre as sociedades a Oeste e a Leste, sem que se possa fazer muito mais - de momento - do que constatar o estrago desta onda de imbecilidade e bestialidade coletivas. 
Não temo em relação a mim próprio; estou relativamente bem protegido, ao nível pessoal, das tragédias da guerra e dos males correlativos que a acompanham. 
Porém, estou psicologicamente afetado, desencorajado pela cobardia, pela visão primária de uns e de outros, pela indiferença pelo sofrimento alheio: 
- Onde estão as forças pacifistas, que deveriam erguer-se e afirmar a razão, contra as razões de Estado, de uns e de outros? 
- Onde estão os intelectuais lúcidos, para desmontar a propaganda, mostrando como se aproveitam dos instintos mais elementares - o medo, o gregarismo, a sede de vingança, etc. -  das pessoas? 

Não me admira que a situação piore em termos de confrontos bélicos. Nem que rebentem outras guerras, ou que haja  um alargar da mesma, noutras frentes. 
O mundo está em colapso económico e financeiro e - por isso - as «elites» do poder e do dinheiro estão a servir-se de tudo o que podem, para desviar a atenção das pessoas. Usam agora a guerra, como há escassos dois anos usaram a pandemia do COVID, francamente amplificada e dramatizada. 
Agora, o sistema económico e financeiro está a ruir, em resultado da forma como foi gerido durante décadas. Vários economistas sérios têm dito que não pode haver outro desenlace. Porém, as «elites» não querem que as pessoas vejam, querem - pelo contrário - que todas as desgraças sejam imputadas à guerra e, anteriormente, à pandemia viral: Não querem que as pessoas se apercebam que houve uma estratégia no desencadear destas catástrofes, pelas grandes corporações e setor financeiro: Uma estratégia desenhada e executada para tirar o máximo dos Estados. Assim, essas tais corporações poderão remanejar em seu proveito os sistemas económicos e financeiros, desde as moedas digitais produzidas pelos bancos centrais, à completa destruição do Estado de Direito e do Estado-Providência. 

Se os deixarmos, somente ficará um sistema distópico, cujos elementos já têm sido ensaiados, neste ou naquele ponto do Globo. As massas, aflitas com a «austeridade», que têm de suportar, não conseguirão ver para além da sua sobrevivência imediata. É esse o cálculo da oligarquia que se pavoneia em Davos e noutros «palcos». É assim que os muito ricos e poderosos estão a jogar; têm a pretensão de serem eles a decidir como será o futuro. Esta é a aposta dos globalistas. 

Cabe às pessoas lúcidas e corajosas organizarem-se, para que os planos deles falhem e para que se construa uma sociedade mais justa e mais humana, em vez da sociedade do medo e das desigualdades abismais. 

                                                  Enterro na Ucrânia; foto de Maio de 2022