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terça-feira, 5 de novembro de 2024

ESTAMOS NUMA SITUAÇÃO MUNDIAL INÉDITA; O QUE DEVEMOS SABER.

A hipótese do ouro, junto com outros metais e matérias primas associados, participar numa divisa sintética, destinada ao comércio entre os BRICS foi excluída, por enquanto.

Porém, a visão de que o ouro é realmente dinheiro, pois conserva o seu valor, mantém-se e reforça-se. A capacidade duma certa quantidade de ouro ser trocada por mercadorias, sejam alqueires de trigo ou barris de petróleo, etc. mantém-se e reforça-se. 


SIGNIFICADO DA ACUMULAÇÃO DE OURO EM BANCOS CENTRAIS

Portanto, indiretamente, os países que possuírem muito ouro nos seus bancos centrais estão mais precavidos aquando de crises financeiras, que os que têm exclusivamente ou sobretudo, uma ou várias divisas de reserva (o dólar, o yen, a libra, o euro, o yuan...). 

Entretanto, grandes quantidades de ouro vão sendo compradas pelos bancos centrais no mundo inteiro. Este movimento não é exclusivo de países dos BRICS, que olham com desconfiança o dólar, visto que este tem servido para fazer chantagem, permitindo que as sanções (ilegais, todas elas, face à lei internacional) decretadas pelos EUA acabam por ser adotadas por países terceiros, sob pena de retaliações e multas.  Muitos bancos centrais de países do Ocidente, ou de aliados do Ocidente, têm comprado muito ouro, ultimamente.

Evidentemente, o reino do dólar está a chegar ao fim. A sua ascensão a moeda de reserva mundial deu-se no rescaldo da IIª Guerra Mundial, em que os EUA eram a única potência que tinha ficado intacta, na sua estrutura e na sua capacidade industrial. Todas as potências europeias beligerantes estavam de rastos, quer fossem do campo dos vencedores, quer fossem dos vencidos. 


HAVERÁ NECESSIDADE DE DIVISA MUNDIAL DE RESERVA?

Na realidade, com o desenvolvimento da digitalização do dinheiro, as trocas entre países podem muito facilmente ser feitas usando as respetivas divisas nacionais. Isto não coloca problema a nível de trocas comerciais ou financeiras de grande volume. Também a nível de retalho, ou para viajantes ou turistas, não deveria ser problema trocar em divisas do país visitado, as divisas que transportasse o visitante. 

A necessidade de «inventar» um «repositório de valor», universalmente reconhecido (é este o papel de uma divisa de reserva mundial - o dólar), não existe na verdade. Aliás, o ouro preenche muito bem essa função, caso se considere que tem de haver algo que funcione como uma reserva de valor no mundo financeiro e que seja um ativo tangível, com valor reconhecido em todos os cantos do Globo. O desenvolvimento das tecnologias informáticas e de telecomunicações veio tornar supérflua a existência de uma moeda de reserva mundial. Aliás, está claro para todos que as divisas que usamos no dia-a-dia já estão largamente digitalizadas. O papel moeda é ainda usado, mesmo nas economias mais desenvolvidas, mas em percentagem cada vez mais modesta nas atividades comerciais. Não há razão prática nenhuma para forçar a digitalização a 100% das nossas economias. Esta tentativa mascara o desejo do controlo totalitário sobre os cidadãos: Uma divisa assim, torna toda a troca envolvendo esta divisa digital completamente transparente para o banco central respetivo. Este poderá monitorizar as transações, manipular as pessoas a consumirem mais disto e menos daquilo ou mesmo, interditar certas pessoas de usarem a divisa digital.


O RESULTADO DA CRISE SERÁ IMPREVISÍVEL & IRREVERSÍVEL

Nesta época de transição para um mundo muito mais incerto, com guerras acesas que poderão alastrar, com crises económicas e financeiras que atingem o coração do sistema capitalista internacional, temos de saber como nos comportar, em relação às poupanças e aos investimentos. 

O mundo capitalista está na véspera de um colapso muito maior do que o de 2008, pois desta vez, nem os governos, nem os bancos centrais, poderão salvar da bancarrota inúmeras empresas. Os próprios Estados estão sobre endividados num ponto jamais visto no passado. A guerras híbridas multiplicam-se, sendo as armas económicas e  financeiras parte importante da panóplia: sanções económicas, bloqueios, tarifas alfandegárias, embargos, exclusões. Nisto, os cidadãos dos países são envolvidos contra a sua vontade: somos os danos colaterais das guerras económicas, assim como os mortos e feridos civis, o são de conflitos bélicos com mísseis e canhões.

Não dou conselhos de investimento ou outros, mas penso que há duas coisas que temos de saber:

- Triar a informação, separando-a da propaganda. Saber analisar os factos, tentando ver como se movem os grandes atores; não como eles falam, mas como agem.

- Garantir a satisfação das necessidades imediatas, mas tendo em conta a possibilidade de cenários catastróficos. Portanto, dar preferência à resiliência sobre os ganhos, por mais apetecíveis que pareçam. 

O futuro coletivo depende de haver suficientes indivíduos que consigam superar a grande crise e reconstruir aquilo que foi destruído. 

Por isso, estou interessado em salvaguardar a minha família e eu próprio, mas também, que o mesmo aconteça a muitas pessoas da classe trabalhadora e da classe média. 

 

terça-feira, 29 de outubro de 2024

SAIRMOS DAS ILUSÕES E ESTARMOS PREPARADOS

 

                                     https://www.youtube.com/watch?v=5x76O5lJcj0&t=2391s
(Entrevista com Yves Cochet,  ex-ministro da ecologia num governo da França)


COMENTÁRIO por Manuel Banet :
Os processos caóticos de crescimento das urbes em todo o mundo, fizeram com que a maioria da humanidade se acumule hoje em mega cidades. Estas, não apenas atraíram populações rurais que viviam nesses países, deixando extensões enormes de terras semicultivadas ou abandonadas, como também concentraram recursos económicos e consumindo cada vez mais matérias-primas, num ciclo de reforço positivo (ou «ciclo vicioso»). É muito visível que as fronteiras citadinas não cessam de se alargar, abrangendo vilas situadas em zonas periféricas, que se transformam em subúrbios da mega-urbe. 
A mega urbe como forma de organização do espaço, obriga a que crescentes quantidades de matérias-primas, sobretudo alimentares, sejam importadas e consumidas a  milhares de quilómetros dos locais onde são produzidas. Quanto aos países produtores e exportadores destes alimentos e matérias-primas, são - em regra - países com grandes carências económicas e humanas. Estão metidos noutro ciclo vicioso, complementar do ciclo vicioso do consumo nas grandes urbes. Como países frágeis economicamente, têm sido mantidos assim pelo neocolonialismo e pela «economia de mercado», por uma série de processos que implicam a troca desigual e o bloqueio do desenvolvimento autóctone. Entendo por «autóctone», o que é originado dentro destas sociedades e capaz de as emancipar da dependência externa.
Por outro lado, as tecnologias informática, cibernética, da Internet e outras, atingiram um desenvolvimento tal, que a vida em zonas rurais, outrora desprezada pelas classes ricas e médias nos países avançados tecnologicamente, se torna muito atrativa agora, enquanto a qualidade de vida nas grandes cidades se degrada. Se houver núcleos urbanos novos, ou antigos, mas rejuvenescidos, os entornos vão tornar-se produtores de bens agrícolas, artesanais e outros, se lhes for dada a oportunidade de escoar seus produtos e se não forem esmagados pelos hipermercados. 
Estas transformações não implicam uma revolução, implicam a planificação inteligente de espaços urbanos e rurais, a flexibilidade nos serviços de apoio, a visão clara e a determinação em criar condições favoráveis às pequenas e médias explorações agrícolas, às empresas da indústria transformadora e às redes locais de comércio e serviços, como as escolas, os centros de saúde, a construção e manutenção de estradas e caminhos-de-ferro, etc.
Este tipo de sociedade não é uma utopia, pelo contrário, é muito realista. Em várias zonas da Europa existiu e, nalgumas províncias, ainda subsiste. A geografia destas zonas inclui aglomerados urbanos de média dimensão, 10 a 50 mil habitantes, uma distribuição espalhada das aldeias e explorações agrícolas bem dimensionadas. 
Penso que o maior obstáculo para a concretização duma tal sociedade, mais equilibrada, reside na visão estreita e a curto-prazo, de políticos e de empresários.

O problema que se coloca, não é, portanto, o de procurar novas soluções técnicas; estas já existem e podem ser melhoradas no futuro próximo. O mais importante é a transformação das mentalidades. Urge sairmos da cultura de acumulação, típica do capitalismo, para uma cultura de autonomia funcional. Esta última não poderá ser implementada por uma elite ou oligarquia, que saberia o que é melhor para o povo, o qual apenas se poderia conformar com as ordens que emanam do alto.  
A cultura da autonomia funcional implica a transição dos atributos e das prerrogativas das instâncias centrais para as locais, sempre que isso seja possível e desejável. O objetivo desta transição seria de que nada continuaria a ser do domínio central, quando pudesse ser do domínio local, ou regional. 

Claro que tal processo é muito complicado. Aquilo que eu delineei acima é apenas a visão esquemática duma organização autenticamente sustentável. A minha ênfase é deliberadamente na organização social e política, em detrimento da insistência na mudança dos comportamentos individuais dos cidadãos. Considero que esta ênfase, não apenas está mais de acordo com o conceito de justiça social, mas também que aponta o caminho mais realista. Como implementá-lo, é a grande e decisiva questão. 
Mas, qualquer grande caminhada tem de começar com um primeiro passo...

sábado, 7 de setembro de 2024

A REALIDADE DA CRISE GLOBAL CAPITALISTA


Para muitas pessoas, a «verdade histórica» são os lugares-comuns e as narrativas adequadas a colocar os EUA e o Ocidente, em geral, no centro dessa História, ainda por cima, como «atores bem intencionados» da mesma. Eu vejo que isto acontece também na Europa, fortemente influenciada pelos EUA; existe o mito de que aquilo que acontece nos EUA, vai influenciar o resto do Globo. Primeiro, porque é um país imenso, um país-continente. Depois, porque foi, durante muito tempo, líder mundial na produção industrial; continua a ser o maior na riqueza acumulada, se vista dum prisma financeiro.

As distorções mais graves constatam-se em determinadas narrativas favoráveis aos defensores do capitalismo e dos impérios coloniais, relativamente ao ascenso dos fascismos e como uma crise económica e financeira mundial, se foi transformar na IIª Guerra Mundial. 

De facto, o que acontece hoje em dia, possui muitos paralelos com as relações conflituosas entre potências importantes à saída da 1ª Guerra Mundial (1918) e até ao desencadear da 2ª Guerra Mundial (1939). A existência de graves tensões resultantes das exigências, na negociação de paz de Versalhes, pelos aliados vencedores da 1ª Guerra Mundial, em relação à Alemanha vencida, foi originar uma grave crise de hiperinflação neste último país (de 1922-23), que deu alento a grupos de extrema-direita. Estes coalesceram no partido Nazi. As mudanças de políticas em relação à Alemanha, ao seu rearmamento, a tolerância em relação à Itália fascista de Mussolini, nomeadamente, à guerra na Abissínia e à guerra civil de Espanha (que logo se transformou em guerra internacional), foram fatores importantes na subida e consolidação de fascismos em vários países europeus, quer já tivessem alcançado o poder, quer fossem forças organizadas e prontas para levar a cabo golpes de Estado.   

O que todos podemos constatar - para  lá das divergências relativas à História - é que as crises económicas e financeiras, desencadeadas pelas políticas dos bancos centrais, dos governos, ou de ambos, levam de imediato a crises sociais, as quais vão gerar movimentos revolucionários, tanto de esquerda como de direita. 

As instabilidades no tecido económico e social, não podem ser remediadas pelo tipo de medidas usadas pelos governos, sejam elas fiscais ou económico-financeiras. Os poderes - então - recorrem à repressão. Mas, a deriva autoritária dos governos não tem qualquer efeito benéfico na economia. O que é simples de perceber: Numa sociedade industrial, o escoamento e consumo das mercadorias é fundamental para o funcionamento de todo o sistema. Porém, a capacidade aquisitiva da classe trabalhadora e da classe média diminui acentuadamente, num contexto destes. O fracasso das políticas internas tem levado os governos a procurar «unir a nação» contra um inimigo externo. Leva, também, a que a casta militar e por trás  dela, a indústria bélica, seja ouvida e que suas «soluções» seduzam a casta dirigente. 

Se virmos o período entre o fim da 2ª Guerra Mundial e hoje, constatamos que nunca houve paz, propriamente dita. Houve sempre conflitos armados, quer causados pelo choque entre nações independentes, ou por nações que lutavam pela emancipação do jugo colonial de uma potência europeia, ou contra o neocolonialismo, principalmente dos EUA. Outra constatação, é de que a capacidade instalada e a produção de armas e material de guerra esteve sempre em crescendo. Os fundos atribuídos ao complexo militar nos orçamentos de Estado das grandes potências foram sempre aumentando. 

Tudo o que sabem fazer os Estados, os seus governos e corpos legislativos, sob influência dos lobbies das grandes empresas e grupos económicos, é criar ou aumentar as despesas, aumentando o défice das contas públicas, criando problemas de insolvabilidade, que tentam remediar, criando mais dinheiro. É como se tentassem tapar um buraco no solo, cavando outro ainda maior. 

Chega um ponto em que, ou forçam o «apertar do cinto» na população (as políticas de austeridade) e arriscam-se a desencadear uma revolta; ou continuam a gastar o que não têm, através da «impressão» de dinheiro eletrónico, fazendo disparar a hiperinflação. Teoricamente, existe outra solução: A de transformar a estrutura produtiva e de propriedade, o que se poderá designar como uma transformação socialista. Mas, os partidos de governo nos países europeus excluem esta hipótese, mesmo quando têm «socialista» no seu nome!

As crises no capitalismo estão inscritas no seu próprio «ADN». São motivadas pela impossibilidade do capital auto-moderar o seu apetite pelo lucro. 

O mantra que ensinam nas escolas de economia do Ocidente é que a empresa que não tentasse maximizar os lucros, estaria condenada a prazo, pois as empresas concorrentes não teriam problemas em tomar posições nos mercados para obter esses mesmos lucros.

Os países são empurrados para a guerra pelos dirigentes políticos e por empresários que têm vantagens nisso (ou pensam que têm). A guerra é um meio cruel, brutal e eficaz de destruir o excesso de capital, sob forma de instalações produtivas, excesso esse associado aos excedentes de produção de mercadorias. 

Por detrás de qualquer guerra perfilam-se interesses económicos: Eles são facilmente detectáveis, se descartarmos os argumentos da propaganda, de um lado ou do outro.  

Os EUA empurraram a Ucrânia para a guerra, para poderem colocar em cheque a progressão dos BRICS. Esperavam quebrar a unidade dos BRICS, mas enganaram-se, pois não apenas esta se mantém, como se alargaram os membros e os candidatos. Por outro lado, o imperialismo americano estava muito preocupado com a indústria alemã, com a sua competitividade, em parte devida ao fornecimento de energia barata pela Rússia. Conseguiu o imperialismo, pelo menos no curto prazo, resolver o problema ... com a sabotagem dos gasodutos Nord Stream. Esta sabotagem precipitou a Alemanha na maior crise industrial do pós 2ª Guerra Mundial. Muitas fábricas, por causa do aumento do preço da energia, fecharam portas na Alemanha e foram instalar-se nos EUA. Gigantes como a Volkswagen estão em dificuldades ou à beira da falência, ao  ponto de encararem o fecho de suas fábricas na Alemanha.  

A guerra económica com a China destina-se a impedir que os aliados dos EUA estabeleçam laços com o maior produtor industrial do mundo (a China): Querem manter o mercado Ocidental cativo, para escoamento dos produtos dos EUA e dos seus comparsas. Para dominar, os EUA não hesitam em dividir o Mundo em dois nos planos político, económico, militar e civilizacional. Mas, tal ambição é desastrosa e - felizmente - já se começa a compreender, mesmo nas fileiras pró-capitalistas, que ela só pode trazer guerra e miséria. 

quinta-feira, 4 de julho de 2024

ISRAEL: O COLAPSO ISRAELENSE É A CONSEQUÊNCIA DO GENOCÍDIO

Apesar do muro de silêncio e desinformação dos «nossos» media, pode-se compreender muito pela audição dos três vídeos abaixo: 

O colapso da sociedade israelita e a perda da sua autonomia económica são os factos mais salientes. 

A guerra, num Estado com fraco efetivo populacional, não pode ser sustentada numa escala temporal demasiado dilatada: A fragilidade das forças armadas de Israel, a resistência palestiniana e os movimentos de emigração de população israelita (para Chipre, Grécia, Alemanha, etc.), mostram isso. O objetivo decidido em 07 de Outubro 2023, pelo governo Netanyahu, era irrealista (além de criminoso), à partida.

Depois, a guerra de extermínio mostra que não existe real superioridade dos israelenses face ao Hamas e à resistência palestiniana. Este horror deixa um peso moral, uma mancha indelével, que os países, amigos ou hostis, não deixam de registar: As forças armadas agem  sem princípios, sem qualquer preocupação em prevenir ou condenar crimes de guerra. Este ato genocida é uma vingança sem qualquer objetivo militar, nem real estratégia, que põe Israel ao nível do pior «Estado-pária».

Por fim, é impossível Israel pretender ser, num futuro próximo ou longínquo, o Estado placa-giratória entre os mundos Europeu Ocidental e Árabe (Os «acordos de Abraão»). Esta ambição ficou completamente arredada, mesmo em relação a monarquias árabes ditas «moderadas», como a saudita, a jordana ou a marroquina.  









PS1: Numa louca corrida para a autodestruição, as forças armadas do Estado de Israel preparam-se para invadir o Líbano, de novo: A experiência passada não lhes ensinou nada. Esperam que os EUA entrem também nesta aventura para contrariar o avanço do seu inimigo Irão. Porém, se tal acontecer, irá desencadear o jogo das alianças, com a entrada direta de potências maiores, de um lado e de outro: Será o deflagrar da guerra mundial generalizada. 

sábado, 8 de junho de 2024

PORQUE É QUE O COMPLEXO MILITAR INDUSTRIAL NOS ESTÁ MATANDO A TODOS

 Quando uma bomba explode, rasga a carne, quebra os ossos, rebenta com caixas cranianas, faz mortes e pessoas estropiadas, diminuídas para toda a vida. Mas também há alguém que aproveita, que lucra com isso, que fica rico.

Mas o mal não se limita às vítimas diretas das bombas. Cada dólar* gasto com bombas (e material militar em geral) é um dólar que foi subtraído a programas com efeitos imediatos na dinamização da economia, na educação, no sistema de saúde, na investigação médica, etc. Todos ficamos mais pobres. O Estado de que somos cidadãos, em vez de arcar com despesas que - por sua vez - vão gerar mais produtividade e bem-estar social, vai «enterrar» essas somas em instrumentos de destruição. 

A indústria armamentista é a mais poluidora que se possa imaginar. Além dos consumos de energia fóssil, para construção e operação das suas máquinas, é preciso termos presente que a mineração de metais raros e outros, para as ligas metálicas especiais, é muito depredadora do ambiente. 

As bombas e outro armamento só podem ter dois fins, ou são utlizados, causando um tremendo custo humano e destruição ambiental (mil vezes pior na emissão de poeiras e de gases com efeito de estufa que quaisquer outras indústrias). Se não forem utilizadas estas munições e armamento, ficarão armazenados, o que tem os seus custos próprios . No final, acabarão por ser descartados, sem que os materiais sejam reciclados, as carcaças inúteis serão enterradas, causando contaminação  permanente dos solos e subsolos, algo não visível pelo cidadão comum.

Nós ouvimos muitas vezes críticas dirigidas aos Estados, por irem em socorro de empresas em maus lençóis, ou em risco de falência. Pois a indústria armamentista não apenas tem um excelente cliente único (as forças armadas do Estado), como este cliente não regateia preços e costuma fazer encomendas abundantes, além de apoiar (e pagar) investigação aplicada com fins bélicos e de isentar de impostos essas indústrias benfeitoras da humanidade.

 Note-se que, em termos de PIB, este pode ser inflado pelo aumento de produção de armamento. Porém, isso não significa que o país em causa esteja a nadar em prosperidade, nem que essa produção seja, de algum modo, impulsionadora de maior bem estar, de mais recursos para desenvolver outras indústrias, ou para o desenvolvimento dos países para onde os armamentos são exportados.

A utilização bárbara para fazer a guerra, não só se traduz num sofrimento humano infinito, sobretudo afetando a população civil, também causa a destruição em larga escala do equipamento, infraestrutura produtiva e vias de comunicação dos países em contenda. Isto significa incontáveis biliões de dólares investidos, que se transformam em ruínas e que - no melhor dos casos - irão ser de novo gastos, durante largos anos, para reconstruírem essas infraestruturas civis: Muitas vezes, os países ficam totalmente de rastos e não têm capitais próprios para fazer tal coisa. Caem no ciclo de dependência, de pedir empréstimos a países ricos, ou a instituições internacionais por estes controladas.

Podeis perguntar: «Mas se afinal é um mau negócio para o Estado, os cidadãos e todas as atividades que não sejam as próprias fábricas de armamento, como é possível que esta indústria floresça e tenha sempre investimentos abundantes sob forma de capitais públicos ou privados?» A resposta é simples e complexa, ao mesmo tempo: 

- os industriais têm os políticos no bolso, através de doações milionárias que fazem para as campanhas eleitorais dos políticos, sem as quais estes não têm qualquer hipótese de serem eleitos, nem mesmo de ficar entre os mais votados.

- A máquina de suborno é apenas um pormenor (importante), mas é o sistema inteiro do capitalismo decadente que está afinal em causa. O capitalismo passou há muito a era construtiva. Precisa de capital e de mais capital, para alimentar a especulação financeira. O grande e o pequeno especulador sabem perfeitamente que um investimento nas indústrias de armamento tem um retorno assegurado: é uma garantia que não é dada por nenhum outro investimento no setor industrial; por exemplo, vemos grandes construtores automóveis ficar em maus lençóis e mesmo irem à falência, o mesmo se passa com grandes empreendimentos imobiliários,  ou turísticos, ou cadeias de restaurantes ou qualquer outro setor civil. Tal não acontece na indústria militar; note-se que empresas de aeronáutica civil estão associadas com empresas de aviação militar. De facto, são os mesmos grandes acionistas que controlam os dois ramos industriais, embora nominalmente apareçam como distintos (exemplo: a Boeing).

Conclusão: A própria sociedade civil está refém dos grandes construtores de material bélico; eles conseguem fazer inflectir as elites políticas com muita facilidade, para que estas adotem as políticas que mais os favoreçam. Os políticos sabem isso, mas não vão revelar a «galinha dos ovos de ouro» ao público, era o equivalente a matar a dita galinha. A media, o jornalismo de massas, também não revela, apenas sublinha o «avanço tecnológico», a «eficácia» de novos sistemas de armamentos, faz publicidade grátis ou mediante subornos, criando no público a ideia (falsa) de que forças armadas assim equipadas poderão vencer quaisquer inimigos em combate. Neste contexto, não nos deve admirar que surjam constantes focos bélicos, em várias partes do Mundo. Só ainda não começaram com guerras diretas entre grandes potências, ainda que as guerras por interpostos («proxi wars») não tenham cessado, desde o fim da II. Guerra Mundial, até hoje! 

O mercado da morte, da morte industrial, é o produto desta sociedade: Todas as pessoas que ingenuamente se preocupam com a habitabilidade do planeta, daqui a 20 , 30, 40 ou 50 anos, deviam refletir, sem dúvida. O efeito das indústrias de armamento traduz-se por:

- Causar enorme mortandade e destruição nas sociedades (sendo civis as principais vítimas, em geral)

- Causar destruição de capital produtivo, fábricas e instituições diversas (hospitais, escolas, centros de investigação, etc.). 

- Distorção do próprio funcionamento das instituições dos países, através da corrupção dos que exercem cargos políticos

- Desvio de enormes somas, que poderiam ser investidas de forma produtiva. Cada dólar investido em armamento, é um dólar perdido para o investimento produtivo em indústrias civis,  etc.

- Aumento dos riscos de guerra generalizada e portanto, da destruição da vida no planeta, pois o fomentar de  guerras parciais ou locais, é o método eficaz para se gerar uma situação internacional de grandes tensões, desembocando numa guerra nuclear entre as grandes potências. 

- A destruição dos ecossistemas, dos habitats naturais, extinção de espécies, poluição marítima, aérea e dos solos, não esquecendo a sempre possível poluição de longo termo, gravíssima, causada pela explosão de engenhos nucleares.  

Eu renunciei a encadear estas consequências acima em ordem crescente de gravidade, pois há uma relação intrincada de causas e consequências. Isto só reforça a ideia de extrema perigosidade e parasitagem sobre a sociedade do complexo militar-industrial.

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* O orçamento de «defesa» dos países da OTAN perfaz, anualmente, dezenas de milhares de milhões de dólares (mais de 10 000 000 000 $). Os EUA são, de longe, o país que mais gasta em armamento.

domingo, 2 de junho de 2024

ASCENÇÃO ECONÓMICA DA CHINA E OS DESENVOLVIMENTOS DOS BRICS


 O professor Warwick Powell é entrevistado por Lena Petrova.

Se tivesse de escolher a entrevista mais esclarecedora sobre a China e o seu papel na nova arquitetura internacional durante estes últimos tempos, esta seria provavelmente entrevista acima, a escolhida. 

quinta-feira, 30 de maio de 2024

MARTIN ARMSTRONG: CRONOLOGIA DA 3ª GUERRA MUNDIAL E DA FALÊNCIA DOS EUA


 Martin Armstrong não é daqueles gurus que agradam aos globalistas, aos seguidores do pensamento económico convencional, ou da geopolítica na ótica do poder. 

Eu encontro muitos pontos de contacto com ele, embora eu esteja numa posição ideológica completamente diferente da dele. É que ele diz as coisas como elas são; não faz cálculos sobre se agrada a fulano, ou sicrano.

O que ele diz essencialmente, é que os grandes poderes políticos, económicos e financeiros estão a empurrar para a guerra, porque estimam que não têm outra saída. Precisam da guerra para se manterem no poder e para manterem o controlo  sobre os países e os povos. 

Não admira que seja uma voz completamente banida pelo mainstream, embora tenha cada vez mais seguidores que descobrem, com surpresa, a profunda lógica que subjaz à sua previsão dos acontecimentos. 

Oiçam a entrevista, ela tem muito conteúdo. É pena que não esteja ativa a legendagem em inglês. Garanto-vos, porém, que vale a pena!

domingo, 3 de dezembro de 2023

SE ESTAMOS A VIVER NUMA ÉPOCA EXCECIONAL...

 Se estamos a viver numa época excecional, então devemos cuidadosamente rever todos os conceitos aos quais estávamos mais ligados. Devemos analisá-los criticamente, à luz das realidades emergentes e ver quais os que podem ser resgatados, quais devem ser reformulados e quais os que devem ser «deitados para o caixote de lixo».

Quando reflito sobre isto, a minha mente é imediatamente atraída pela palavra «contenção». Com efeito, as circunstâncias gerais, em cada sociedade e cada vida privada, tornaram-se de tal maneira voláteis, que nós devemos nos interrogar sobre a nossa «grelha de leitura» da realidade. 

Com efeito, os parâmetros que considerámos para avaliar a realidade  social, aqueles sobre os quais nos baseámos no passado, até mesmo no passado mais recente, ou se tornaram obviamente caducos, ou têm de ser reformulados, no todo ou em parte. 

As pessoas que não façam esse exercício, irão sofrer, nas condições de instabilidade e perturbação profunda que agora se estão a revelar. Elas irão  ser arrastadas/induzidas a tomar posições sobre as quais não tinham refletido previamente. 

Assim, em todos os aspetos da vida,  deve-se ser particularmente cuidadoso, não tomar os desejos pela realidade, não pronunciar juízos definitivos, sobre aquilo que parece ser, no momento. 

Dito isto, é verdade que as escolhas que fizermos poderão ser decisivas para nós, pessoalmente e socialmente. O que vi acontecer com muitos, é que tentam «encaixar» as inéditas situações, no molde envelhecido das suas ideologias. Seria este um caso para evocar a parábola bíblica do «vinho novo, em odres velhos».

As novas situações não têm «resposta» em escritos de filósofos, políticos ou economistas, que pensaram e escreveram em contextos totalmente diversos da atualidade. A única coisa de que podemos ter a certeza, é que não existem, em sociologia, economia, ou história, teorias preditivas verdadeiras, genuínas. As que são formuladas, correspondem apenas à visão do Mundo e ao desejo dos seus autores. Ora, esta visão do Mundo, mesmo que fosse muito adequada quando a escreveram, não poderia ter em conta toda a panóplia de descobertas e de ideias que se desenvolveram, entretanto. 

Num período de crise, como dizia corretamente Lenine, há semanas que são tão densas em acontecimentos, que parece que passaram anos. Esses acontecimentos são imprevisíveis no seu desenrolar. Mesmo que sejam previsíveis no seu desencadear. Por exemplo: uma guerra, pode ser previsível, ao se analisar as posições e movimentos das diversas potências. Mas, ninguém pode prever que uma tal guerra futura se desenrole desta ou daquela maneira. Que dure apenas uma semana, ou dez anos. Que dê a vitória inequívoca a um dos lados, ou que se arraste e esgote o lado mais forte. Que o lado mais forte inicialmente, mesmo que vença militarmente, acabe por experimentar o princípio da sua derrocada.

As situações de imprevisibilidade nos mercados são ainda mais patentes. Os que «pilotam» os bancos centrais, munidos de poderosos instrumentos para agir sobre mercados financeiros e a economia geral, não têm o poder que se lhes empresta. São o aprendiz do conto do «Aprendiz -feiticeiro». As economias vivem sujeitas ao caos completo, onde sábias e prudentes decisões são impossíveis de tomar. Os dirigentes efetuam meros «passes de mágica», de tal modo que o vulgo acredita que eles detêm enorme poder. 

A atitude mais inteligente - neste contexto- é de garantir aquilo que nós, pessoalmente, a nossa família, a nossa comunidade, possuímos enquanto meios de preservar a vida. Manter e aumentar a nossa capacidade de aguentar nos tempos mais difíceis das nossas vidas, deveria ser a preocupação primeira.  As «sereias» que apelam para investimentos sumptuários, especulativos, que causam um desequilíbrio, ou que diminuem os ganhos e as hipóteses de ganho, são de rejeitar. Por contraste, as iniciativas para preservação do adquirido e para o aumento da nossa autonomia (exemplos: produção própria de alimentos, geração de energia, etc.) tornam-se vitais, neste contexto. Também importa uma atitude mais racional com a saúde: a boa condição física é ainda mais importante, nas circunstâncias em que colapsam as estruturas e os meios de saúde.

A nossa energia deve estar centrada nos pontos acima, sendo também muito importante não olharmos de forma acrítica para as informações que nos chegam aos ouvidos ou aos olhos. Neste contexto, a informação da mídia é mais enviesada do que nas situações anteriores. Estamos perante ondas sucessivas de condicionamento de massas, primeiro com a histeria do «COVID», depois com a violação sistemática da nossa integridade, a imposição de «vacina», a perseguição da dissidência e a instalação duma censura férrea, além de uma vigilância total. Esta fase antecedeu e preparou as pessoas para aceitarem - perante as guerras da Ucrânia e de Gaza - no meio de campanhas de histeria sucessivas, a transformação do enquadramento legal.  A «legalidade democrática» foi varrida de uma penada, para se reprimir "legalmente"  dissidências e glorificar o bárbaro esmagamento de populações civis, incluindo a ressurreição do conceito, medievo e nazi, de  «culpa coletiva».

Com o medo instilado, pretende-se que as pessoas deixem de pensar, apenas reagindo, apenas seguindo os instintos de gregarismo e de xenofobia. Muitas, adotaram um comportamento de simulação, ou ocultaram a sua posição verdadeira, por medo de serem excluídas, de serem apontadas a dedo. 

O cenário está completamente montado e, aliás, a peça de teatro já começou a desenrolar-se diante dos nossos olhos. Mas, como não compreendemos o enredo desta peça, nem queremos fazer um esforço para o compreender, somos incapazes de protagonismo, de sermos proactivos. 

Se algo de verdadeiro existe nas palavras acima, creio que devemos refletir como agir para modificar este estado de coisas. Para agir maduramente, não devemos ocultar a realidade a nós próprios, nem cair na armadilha da propaganda, de uns ou de outros. Precisamos ser capazes de nos distanciar sem trair as nossas convicções. Não devemos tomar a nossa ilusão, o nosso desejo, pela realidade. Sobretudo, devemos guardar abertura a cada momento; não desenvolver sentimentos de ódio, em relação aos que estejam no polo diametralmente oposto. Sermos adultos, propriamente, quer dizer que somos capazes de analisar e não descartar outros pontos de vista, que nos pareçam - à primeira vista - errados, ou equivocados; por vezes, nós é que estávamos equivocados e os outros  tinham - afinal - razão. 

De nenhum modo, uma atitude sectária se justifica, neste contexto: A atitude inteligente é realizar alianças, o mais amplas possíveis, aos vários níveis. 



sábado, 28 de outubro de 2023

«LEIS DO MERCADO»? EU DIGO-VOS O QUE SÃO.

 A hipocrisia dos intitulados políticos e economistas ocidentais, faz com que as pessoas vivam na doce ilusão de que as coisas estão a melhorar, globalmente. Há alguns «recuos», mas a exploração dos trabalhadores não é aquilo que era noutros tempos. A sério?!?


Em boa lógica, as pessoas - quase todas - vivem em estado de denegação. Pois a intensificação da exploração do trabalho e a depredação dos recursos ambientais, abrangem cada vez mais zonas do globo, são cada vez mais impiedosas para os povos indígenas e para o próprio sustento do ecossistema Terra. Esta é a verdadeira face da globalização.

Por exemplo, a quantidade enorme de gadgets que as pessoas adquirem, nas partes do mundo mais afluentes, têm  um tempo «de vida útil» muito curto. Cada vez mais curto (pensem nos computadores, nos smartphones, etc.) . Nestes gadgets de «high-tech» estão inseridos componentes minerais que são extraídos de inúmeros locais, mas quase todos eles situados no Terceiro Mundo. As chamadas «terras raras» são um bom exemplo. Na realidade, não são assim tão raras, pois o elemento mais raro deste grupo é mais abundante na crosta terrestre, que o ouro. Só que o ouro é explorado quando se encontra em veios, mas tal não acontece com as «terras raras». Para se concentrar o suficiente de um dado elemento pertencente a este grupo, é preciso extrair toneladas e toneladas de terra e de rocha, formando imensas escombreiras. O solo fica estéril durante muitos anos. O processo de concentração e refinação destes «metais raros» também é muito poluidor, criando-se enormes lagos envenenados contendo os subprodutos tóxicos destes processos. 


A China é o principal produtor de «Terras Raras»; porém não é por possuir concentrações favoráveis desses elementos, visto que eles estão mais ou menos dispersos - em concentrações semelhantes - por toda a crosta terrestre. Aquilo que é diferente, é que na China as «regulamentações ambientais» estão quase ausentes. Igualmente, as condições salariais e de higiene são deploráveis, mas as autoridades chinesas têm tudo sob controlo. As pessoas sensíveis aos direitos humanos e à ecologia (a maior parte, vivendo no conforto híper tecnológico) não se inquietam muito também com as zonas do interior da China e seus habitantes. 

O mesmo, ou pior, se passa com a exploração na República Democrática do Congo dos minérios estratégicos para a indústria eletrónica e componentes obrigatórias em qualquer bugiganga digital que utilizamos. A depredação da floresta tropical-equatorial e a transformação de crianças em escravos das minas, não é dos séculos passados, é de agora!

Sem esquecer  a louca corrida para explorar todo e qualquer depósito de Lítio (incluindo na Serra da Estrela, um Parque Natural de primeira importância no centro-norte de Portugal), para alimentar a indústria automóvel EV, para consumo (e paz de espírito) dos cidadãos dos países ocidentais: Estes são ricos, ecologistas, preocupados com questões sociais, mas só dentro do perímetro das suas sociedades e das paisagens abrangidas pela sua visão estreita!  

Então, a questão do mercado resume-se aos termos seguintes:

- Os mercados hoje são internacionais, globalizados, numa escala sem precedentes.

- O que é consumido pelos países afluentes (Norte América, Europa Ocidental, Austrália) em termos agrícolas mas, sobretudo, industriais vem - na sua grande maioria- de países do Terceiro Mundo

- As razões principais disto são: a enorme discrepância salarial, da ordem de dez vezes menos nos países pobres em relação aos ricos. A total ausência ou o não cumprimento de normas de proteção do ambiente e depredação constante dos recursos.

- Além disso, as multinacionais que exploram os recursos minerais nesses países, têm capacidade para corromper e/ou vergar a vontade dos governos locais. Estes, preferem fechar os olhos, a terem uma perda de rendimentos sob forma de «royalties» e também perderem muitos postos de trabalho, caso as multinacionais saiam. 

- Portanto, os mercados de matérias-primas e do trabalho não são de todo «livres», pelo menos no sentido comum do termo. Seria um mercado livre, se um comprador e um vendedor (quer em termos individuais, quer coletivos) têm ambos uma certa capacidade de negociação e o preço (quer de mercadorias, quer da mão-de-obra) é o resultante dessa negociação. 

- Os recursos da minoria da população mundial que beneficia desta situação, são fruto da superexploração do trabalho no Terceiro Mundo;  da completa rapina e destruição de recursos naturais dessas partes do Globo.

Uma análise económica honesta dos custos globais, deveria ter em conta os factos evidentes que eu mencionei acima. Mas, a narrativa dos economistas contemporâneos é quase toda uma enorme falácia, para adormecer as consciências. Digo isto, porque sei que eles sabem: os economistas ocidentais sabem perfeitamente os factos acima apontados.

Não há leis do mercado, no sentido de «Leis da Física», ou de outra ciência exata, ou natural. A «lei» do mercado é somente a imposição violenta da exploração.



sábado, 21 de outubro de 2023

O DÓLAR PODERÁ SOBREVIVER; MAS O SISTEMA QUE O SUSTENTA ESTÁ CONDENADO


As pessoas estão condicionadas a pensar em termos de divisas-fiat*. Pensam que o dólar «sobe», em relação a outras divisas. Não compreendem que há uma descida geral do valor das divisas.

Porém, esta é que seria a maneira correta de avaliar e compreender a inflação. Se o preço de mercadorias sobe, isso significa que aumentam as unidades monetárias para comprar as mesmas quantidades desses bens. Portanto, cada unidade monetária - sejam dólares, euros, libras, etc. - perdeu parte do seu valor, perdeu capacidade aquisitiva.

A quantidade de dólares em circulação, no mundo inteiro, é enorme: Muitos deles, são criados fora do sistema americano: São resultantes de empréstimos em dólares, efetuados nos mercados internacionais, entre terceiros, não-americanos. Em todo o mundo, os bancos, quer os comerciais, quer os centrais, têm reservas de dólares-cash. Uma parte desses dólares, está sob forma de obrigações do tesouro dos EUA, as «Treasuries». Estas, recebem um pequeno juro; o que é melhor do que ficarem grandes somas de dólares à ordem, sem qualquer juro.

Nos últimos tempos, a de-dolarização manifesta-se por um excedente de venda de «Treasuries» sobre a sua compra, nos mercados internacionais. Este desfazer das obrigações do tesouro dos EUA pode ter causas diversas: Pode um país precisar de cobrir os seus défices comerciais, usando dólares em reserva. Pode precisar de pagar juros de dívidas contraídas em dólares, ou fazer pagamentos a diversas entidades. A não aquisição - pelos particulares ou por Estados terceiros - das Treasuries postas à venda no mercado internacional, obriga a que o Tesouro americano ou o Banco Central (a Fed) as adquiram. É um facto que - devido ao estatuto de divisa de reserva mundial - os EUA podem fabricar novos dólares (sob forma digital, muito maioritariamente) para cobrir as despesas enormes do orçamento americano e também comprar Treasuries e pagar o juro das mesmas.

Porém, este jogo não poderá continuar indefinidamente. Ele é limitado, pelo menos, por dois fatores: A confiança dos compradores/detentores de dólares e de Treasuries, por um lado; por outro, chega um ponto em que são necessárias somas incomportáveis do Orçamento Federal para pagar os juros das Treasuries e a própria dívida. Não há real opção da Fed deixar de comprar Treasuries. Ela faz isso para sustentar o seu valor que, no caso contrário, desceria a pique, enquanto os juros correspondentes subiriam às nuvens.

O dólar perdeu cerca de 97% do seu valor, desde que a Reserva Federal foi criada, em 1913. Outras divisas perderam ainda mais, algumas deixaram de existir; muitas vezes, seu valor foi completamente tragado por inflação galopante. O dólar é apenas uma divisa que conserva ainda algum valor, mas somente em termos relativos às outras divisas. Estas, têm um comportamento ainda pior que o dólar.

Os défices monstros dos EUA, em termos comerciais e do orçamento de Estado, desencadeiam produções astronómicas de dólares. Ultimamente, foi atribuída a soma de cem biliões de dólares (40 biliões de $ para Israel e 60 biliões de $ para a Ucrânia ), em excesso dos 33 triliões da dívida pública dos EUA. Até agora, os dirigentes dos EUA têm acumulado dívida de forma totalmente impune. Porém, estas políticas de hiper endividamento irão brevemente tornar-se hiper inflacionárias: É que as pessoas, os Estados e as empresas deixam de ter confiança na divisa dólar e, por extensão, nos veículos financeiros denominados em dólares.

O ouro e a prata atingiram, esta semana, novos máximos e, provavelmente, irão subir muito mais. Mas, quando pensamos assim, estamos a pensar no preço dos metais preciosos em termos de divisas. Na verdade, os metais não "sobem" nem "descem", não pesam mais, nem menos, não mudam de estado da matéria, nem de propriedades físicas. Deveríamos - pelo contrário! - cotar as divisas em termos de ouro, ou de prata. Um grama de ouro custa 63,7 € hoje; o mesmo grama, há 5 anos, custava 39,8 € . Na verdade, não foi o ouro que subiu, foi o euro (ou qualquer outra divisa) que desceu, que perdeu capacidade aquisitiva. Os metais preciosos são apenas um indicador, entre outros, da perda de valor das divisas fiat.

Um sistema assim, não pode continuar por muito mais tempo. A taxa verdadeira de inflação é muito mais alta que as percentagens divulgadas nos media e nas estatísticas oficiais.

É nestas ocasiões, que costumam surgir as guerras. As guerras têm sempre causas económicas (embora também tenham outras, claro). Uma das situações económicas mais comuns, é os dirigentes estarem a braços com uma grande crise e não saberem o que fazer, para ocultar sua responsabilidade nela. Então, lançam os seus países para a guerra, o que «soluciona» as dificuldades, desviando a atenção do povo para a(s) ameaça(s) externa(s). Muita gente não vê que a miséria do seu país resulta das políticas do governo.

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*Divisas-fiat são divisas que só estão sustentadas pela crença do público na palavra das autoridades, do governo.


PS1 (28/10/23): Jim Rickards faz uma avaliação interessante da situação da economia dos EUA e mundial. 

https://www.youtube.com/watch?v=WF0arRcGNrg

quinta-feira, 10 de agosto de 2023

TODOS OS IMPÉRIOS TÊM UM FIM. PODERIO DOS EUA PERTO DO COLAPSO

Aconselho-vos a leitura dos artigos de Martin Armstrong e de Matthew Piepenburg:

- https://www.armstrongeconomics.com/world-news/civil-unrest/just-us-the-rising-tide-of-civil-unrest/

https://goldswitzerland.com/keeping-your-head-amidst-debt-blind-madness/

- Armstrong mostra como o sistema de justiça americano, ao contrário do estipulado na constituição, está permanentemente a produzir julgamentos monstruosos, nomeadamente porque o indiciado é fortemente pressionado a aceitar dar-se como culpado, em troca de uma sentença mais leve, mesmo quando ele está inocente, porque para poder provar sua inocência é preciso ter-se um grande poder económico, para se contratar um escritório de advogados com peso. Mesmo neste caso, não está garantido que a inocência do indiciado seja reconhecida, dado que a máquina da justiça está praticamente nas mãos do partido democrata e de seus homens de mão.

Matthew Piepenburg mostra como a política financeira e fiscal dos EUA têm sido um completo disparate, indo contrariar não apenas todas as escolas de economia, como o próprio bom senso. O facto da dívida ser cada vez mais pesada e ingerível, não parece incomodar quem controla as finanças do país: Tanto Powell, como Janet Yellen são demasiado cultos para «se enganarem» desta maneira. Eles apenas estão a fazer um exercício de ilusionismo junto do público. Porém, o presente agravamento da situação financeira e monetária, não pode conduzir a outro desfeche, senão à catástrofe. 

Ambos os artigo são dignos de uma leitura atenta. Mas, eu resumi o seu conteúdo para o que vem a seguir.

A denegação é um sintoma de psicose, de persistência no erro: Como dizia Einstein, um sinal de loucura é fazer-se sempre a mesma coisa, obtendo um mesmo resultado, mas repetindo na esperança de que seja diferente.

A população americana não é responsável inteiramente pelo que seus políticos andam a fazer, pois ela é doutrinada desde a infância sem ter - salvo exceções - possibilidade (ou curiosidade) de se confrontar com outras leituras das realidades política e económica. 

A media reforça constantemente as inanidades que passam por «reflexão» política e económica, tornando tudo o que se passa opaco à maioria. O seu domínio da narrativa equivale a um totalitarismo «brando», mas que cumpre a sua função de aceitação do status quo pelas massas. Estas nunca questionam o seu fundamento.

Quanto ao exercício do controlo internacional manu militari,  também conseguiram «naturalizar» isso.  Muitos americanos estão realmente convencidos da sua «excepcionalidade» e da «missão» do seu país em manter uma «ordem internacional baseada em regras».

As coisas funcionaram muito bem, com vantagem para os EUA, durante longo tempo. O dólar - desde 1944 - tem sido a moeda de reserva hegemónica (exorbitante privilégio, Giscard D'Estaign dixit). A instrumentalização do dólar foi possível graças ao poder militar: A capacidade de invadir, bombardear, subverter regimes que tivessem a veleidade de resistir à «versão americana da democracia». Este facto esteve e está diante dos olhos dos povos e de seus dirigentes. Sem esta superioridade militar esmagadora, não seria possível manter o modo de chantagem permanente a numerosos regimes, incluindo neutrais e mesmo aliados de Washington. Porém, o Mundo está a assistir a uma perda acelerada da eficiência militar, comprovada pelos fiascos das guerras do Afeganistão, Síria e até da Ucrânia. Os EUA já não são a potência com superioridade militar inquestionável que foram, até há bem pouco tempo. Com orçamentos muito mais baixos de despesas militares, tanto a Rússia como a China, têm mostrado a superioridade dos seus armamentos sofisticados. Vários países do Terceiro Mundo (Turquia, Arábia Saudita, e muitos outros) até há bem pouco tempo clientes exclusivos dos EUA, estão a fazer fortes jogadas para se aproximarem dos BRICS, têm adquirido sistemas de mísseis avançados aos russos e têm «de-dolarizado» a grande velocidade. Estas mudanças são muito significativas, estão realmente a acontecer diante dos nossos olhos e os dirigentes ocidentais sabem-no bem. Eles também sabem o que isso significa, mas vão continuar a fazer de conta, para iludir os cidadãos de seus próprios países.

Dizer que o colapso é inevitável, que o colapso fará com que o dólar não mantenha o poderio monetário e financeiro dos EUA, como também afetará todos os planos, não é mais do que uma constatação banal, hoje em dia. Mas, note-se que a mesma afirmação, há muito pouco tempo, suscitava um coro de críticas e sátiras, apodando quem se atrevesse a afirmá-lo de epítetos nada bonitos. Agora, os que, orgulhosos, «enchiam o peito» para proclamar a solidez do Império, estão calados ou estão a esgrimir com a realidade, num estilo realmente patético.

Foto aérea do Pentágono, símbolo do poderio militar dos EUA, retirado do artigo de Caitlin Johnstone

Espero que as pessoas que me lerem percebam que eu não estou a escrever isto com triunfalismo. Qualquer império acaba: Tem uma ascensão, até um zénite e depois um ocaso.  A minha preocupação é o grau de violência que acarreta a queda de um império. Não vale a pena retraçar o destino dos impérios, desde a antiguidade, neste curto artigo. Mas, podeis consultar obras que descrevem os acontecimentos históricos da decadência e queda de vários impérios. 

Na era nuclear, tanto nos países detentores de armas nucleares, como nos outros, é importante que  se erga uma consciência verdadeiramente cidadã e global: Isto será o maior dissuasor face aos responsáveis políticos e militares desses países, para que eles não subam a tensão com seus adversários e não se sintam «justificados» em utilizar armas nucleares.


domingo, 23 de julho de 2023

EUGÉNIO ROSA: Realidades da inflação e fantasias de Mário Centeno (governador do Banco de Portugal)

Copiado de artigo de Eugénio Rosa, no blog «A Viagem dos Argonautas» 

MARIO CENTENO, QUE GANHA 33,6% MAIS DO QUE O PRESIDENTE DO “Fed” DOS E:U:A.(Reserva Federal, o banco central dos Estados Unidos da América : Centeno 17476€/mês, Powell 13082€/mês, considerando 14 meses) NA ENTREVISTA DADA À RTP 3 REVELOU UMA GRANDE PROBREZA INTELECTUAL, IGNORÂNCIA ECONÓMICA E ENORME INSENSIBILIDADE SOCIAL

Eugénio Rosa, edr2@netcabo.pt, 13/7/2023

                















terça-feira, 30 de maio de 2023

CRÓNICA ( Nº14) DA IIIª GUERRA MUNDIAL: A PONTE DOIRADA

      Trabalhadores completam uma ponte, simbolizando as novas rotas da seda em Pequim

Pepe Escobar:

 https://sputnikglobe.com/20230526/pepe-escobar-eurasian-heartland-rises-to-challenge-the-west-1110600622.html


Quem assimilou a «Arte da Guerra» de Sun Tzu, sabe que a melhor maneira de vencer é não ter que dar combate. Traduzindo e explicitando em pormenor: tornar evidente aos olhos dos adversários, que encetar combate equivale a ser destruído, derrotado, esmagado sem apelo. 

Também é necessário retirar aos chefes da potência adversária todo o desejo e possibilidade prática de, num gesto de desespero, se lançarem numa luta suicida. É fútil esgrimir com força superior, formada por uma coligação de forças bem equipadas, bem treinadas, bem resolutas, que não se deixam dividir por intrigas. 



Em complemento VEJA O VÍDEO SEGUINTE, QUE RESUME MUITOS ASPETOS DA COMPETIÇÃO ENTRE OS EUA E A CHINA:


... E o testemunho de um jornalista que esteve perto da frente de combate de Bakhmut...


 PS1: Há aqui um fator de autoderrota. No futebol, chama-se «golo na própria baliza», mas não é apenas «um golo»; são muitos. 
Todas as pessoas que observam a geoestratégia mundial concordam que tudo aponta para o descalabro do Império. 
É como uma doença escondida que se desenvolve durante anos,  sem sintomas significativos. Mas, quando começa a ser sintomática, é uma devastação na Administração do Estado, nas Forças Armadas, na economia, na liderança política. Leia:

quinta-feira, 11 de maio de 2023

UMA CERTA FORMA DE ROUBO: OS BANQUEIROS AMERICANOS ATACAM NOVAMENTE

 Por Dr. Binoy Kampmark



Parece 2008 de novo, em tudoA má gestão económica e financeira caracterizam-se por um brilho escaldante, devorador. Os banqueiros culpados e desastrados voltaram com sua costumeira incompetência venal. No roteiro costumeiro, buscam habitualmente que o erário público se encarregue de socializar suas perdas. Ao longo do caminho, eles evitarão as merecidas sentenças de prisão, ficarão quietos e voltarão para repetir os seus pecados.

Uma série de grandes navios do setor bancário já caiu no esquecimento, vendeu e fez notas de rodapé no folclore financeiro. O Silicon Valley Bank, o Signature Bank e, mais recentemente, o First Republic Bank, criaram suas próprias lápides. Esses três grandes detinham, no total, US$ 532 milhares de milhões. Quando ajustado pela inflação, supera o total de US$ 526 milhares de milhões dos 25 bancos que faliram em 2008.

O First Republic Bank era particularmente execrável em suas práticas, oferecendo hipotecas não garantidas a taxas fixas por vastas somas de dinheiro. Quando os calafrios começaram a correr pela espinha dos depositantes no primeiro trimestre deste ano, foram feitos saques sangrentos totalizando US$ 102 milhares de milhões.

A revisão do US Federal Reserve sobre o colapso do SVB abordou uma série de questões específicas das ações do banco, ao mesmo tempo em que ofereceu um «mea culpa» não apenas por suas próprias falhas, mas também pelas do Federal Deposit Insurance Corporate e do Consumer Financial Protection Bureau. Afinal, o que estes supervisores, supostamente de olhos de águia, os mordomos encarregados de supervisionar o sistema, estavam fazendo durante todo esse tempo?

Como o Reserve descobriu, houve uma falha evidente por parte do conselho de administração e da administração em administrar os riscos do SVB. Há também uma admissão do Federal Reserve de que eles “não avaliaram totalmente a extensão das vulnerabilidades à medida que o Silicon Valley Bank crescia em tamanho e complexidade”. Mesmo quando estas foram identificadas, medidas insuficientes foram tomadas para garantir que os defeitos fossem corrigidos “com rapidez suficiente”.

Acontece que o SVB era uma espécie de modelo típico do mau comportamento. Foi citado por não cumprir uma série de requisitos: a Lei de Sigilo Bancário, medições de Perdas de Crédito Atuais Esperadas, proteção rigorosa de dados, ter uma estrutura de auditoria interna suficiente e a Regra Volcker. O objetivo desta última é impedir que os bancos se envolvam nos empreendimentos mais arriscados: títulos e derivativos. Para o banqueiro, as lições existem para serem desaprendidas.

O mais revelador de tudo foi o grande «gremlin» do setor bancário: a desregulamentação. Durante o governo Trump, uma série de verificações e controles foram revertidos, principalmente em relação aos bancos menores de classificação média. Lei Dodd-Frank de Reforma de Wall Street e Proteção ao Consumidor de 2010, que estabeleceu US$ 50 milhares de milhões ou mais, como a linha que exigia maior regulamentação sobre capital e fusões, recebeu uma punição especial. Lei de Crescimento Económico, Alívio Regulatório e Proteção ao Consumidor  de 2018 elevou o limite de ativos para US$ 250 milhares de milhões. Aqueles que estavam abaixo, puderam envolver-se em condutas ainda mais perdulárias.

Como o Conselho constatou, a “abordagem de adaptação em resposta à Lei Económica, de Crescimento, Auxílio Regulatório e Proteção ao Consumidor e a mudança na postura da política de supervisão, impediram a supervisão eficaz, reduzindo os padrões, aumentando a complexidade e promovendo uma abordagem de supervisão menos assertiva .”

O vice-presidente de supervisão do Federal Reserve, Michael Barr, chegou a uma série de conclusões que se assemelham muito àquelas alcançadas após a crise financeira de 2008. “[Nós] devemos fortalecer a supervisão e regulamentação do Federal Reserve com base no que aprendemos.” A revisão do SVB representou “o primeiro passo nesse processo – uma autoavaliação que analisa com firmeza as condições que levaram à falência do banco, incluindo o papel da supervisão e regulamentação do Federal Reserve”.

Essas são boas admissões, mas todas parecem ter chegado um pouco tarde. O sistema bancário dos EUA está oscilando, especialmente aqueles no degrau intermediário. E eles tendem a ter banqueiros tão atrevidos como o ex-CEO do Silicon Valley Bank, Greg Becker, que testemunhará perante o Comité Bancário do Senado em 16 de maio.

Becker, não deve ser esquecido, ficou entusiasmado com os ajustes de política do governo Trump, realizando seus próprios esforços em 2015 para convencer o Comitê de Bancos, Habitação e Assuntos Urbanos do Senado a reduzir os padrões de segurança. Em sua declaração ao comité, Becker afirmou que o SVB “não apresentava riscos sistémicos” e era adequadamente policiado por um número adequado de “profissionais de risco altamente qualificados” e “um Comité de Risco autónomo e independente de nosso Conselho de Administração”. Havia também uma “variedade de diferentes testes de estresse projetados para medir e prever os riscos associados” ao “negócio em diferentes cenários económicos”. Os proverbiais porcos tentaram, nesta ocasião, voar.

Os membros do Congresso também não estão de acordo quanto ao que causou a podridão. Os republicanos, de maneira característica, recusam-se a aceitar a desregulamentação como culpada, preferindo se concentrar em flagrantes erros humanos e má administração. O deputado Andy Barr, de Kentucky, apresenta outra tese: que uma onda de fundos e gastos excessivos do governo, alimentando a inflação, juntamente com baixas taxas de juros, foram os fatores causais. Democratas como a senadora Elizabeth Warren, de Massachusetts, e a deputada  Katie Porter, da Califórnia, destacaram o retrocesso das regulamentações como o problema, exigindo uma forte correção legislativa.

O «Oráculo de Omaha», Warren Buffet, sugere que os diretores bancários dos EUA devem colocar suas cabeças no metafórico blocoNo mínimo, eles “deveriam sofrer” alguma forma de punição, embora não esteja totalmente claro que forma isso assumiria. Não obrigá-los a fazer isso “ensina a lição de que se você administrar um banco e estragar tudo, você ainda é uma pessoa rica, o mundo continua … Essa não é uma boa lição para ensinar às pessoas que detêm o comportamento da economia em suas mãos”.

Charlie Munger, que também atua como vice-presidente da Berkshire Hathaway, empresa de investimentos de Buffet, não discorda“Não acho que ter um bando de banqueiros, todos tentando ficar ricos, leve a coisas boas. Acho que os banqueiros deveriam ser mais como engenheiros, evitando problemas em vez de tentar enriquecer… É uma contradição de valores.”

Tal contradição continua a existir, alimentada por uma conspiração tácita entre o setor bancário e funcionários do governo que consideram a regulamentação imprópria para o espírito bucaneiro. Uma certa forma de roubo deve sempre ser encorajada e pode até ser subsidiada também.

*Nota: Original em https://www.globalresearch.ca/certain-form-thieving-us-banksters-strike-again/5818904

O Dr. Binoy Kampmark foi bolsista da Commonwealth no Selwyn College, Cambridge. Atualmente leciona na RMIT University. Ele é um colaborador regular da Global Research e Asia-Pacific Research.             bkampmark@gmail.com