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segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

A LENTA AGONIA DO EURO*


O vídeo acima analisa a economia da Zona Euro e deixa pouca esperança de ser evitada a crise final. 

 A fraqueza do Euro está patente quando a sua taxa de câmbio em relação ao Dólar vai diminuindo, ao ponto de se estar perto de atingir a paridade Dólar/Euro. Mas será que esta indicação é a mais relevante? 

- De facto, todas as moedas fiducitárias, em particular as do Ocidente, têm vindo a perder poder de compra a uma velocidade estonteante. A forma mais correta de avaliar a perda de valor, será em relação ao ouro. O metal amarelo é, de facto, o «metal monetário» que sempre foi reconhecido como portador de um valor estável, servindo como instrumento de troca,  dinheiro, desde há mais de 5000 anos.**

Se nos reportarmos ao valor das moedas fiat mais utilizadas nas trocas comerciais dos mercados internacionais do Ocidente (Dólar, Euro, Yen, Libra...), verificamos que o valor de todas elas, em relação à onça de ouro, tem diminuído exponencialmente nos últimos 5 anos, com uma aceleração da descida nos últimos seis meses. Em relação ao Dólar, para se comprar um quilograma de ouro, há 5 anos, eram necessários 50.000 Dólares US. Hoje, a mesma quantidade de ouro, apenas pode ser adquirida por 85.000 Dólares US.  Quanto ao Euro, no início de Dez. de 2019, custava 45.000 Euros um quilograma de ouro; agora, custa 81.000 Euros. 

Esta relação entre o ouro e as moedas fiat é importante, pois - na verdade - é como uma linha-base para se medir a inflação. Porque o valor de todas as outras mercadorias sobe no médio prazo, acima das percentagens de aumento do ouro. Por outras palavras se, no espaço temporal de 5 anos, o ouro aumentou (em moedas fiat) de 60% ou um pouco mais, podemos ter a certeza de que os items de consumo corrente, no mesmo intervalo de tempo, aumentaram acima dessa percentagem. Com efeito, o custo da alimentação, avaliada em termos de preços médios nos países do Euro, subiu mais de 100%, mais do dobro em apenas 5 anos. 

A população europeia, geralmente, ficou mais pobre, pois os seus rendimentos (em salários, pensões, ou outras fontes) foram crescendo nominalmente a um ritmo muito menor que os preços dos bens e serviços básicos. Só a oligarquia,  já muito rica, viu as suas fortunas aumentar realmente, ou seja, em termos de capacidade aquisitiva. 

O valor duma moeda, mesmo se medido da forma mais rigorosa possível, nunca está numa relação linear estricta com a política económica de uma nação e, neste caso, do conjunto de nações que adoptaram o Euro. Do mesmo modo, os juros dos bonds emitidos pelos vários países do Euro (dívida soberana) não reflectem, desde a crise do Euro em 2012, a avaliação dos mercados em relação à solidez das respectivas economias. Esta dissociação deveu-se à política «excecional» do BCE, que aliás se prolonga até agora, em comprar a dívida emitida pelos Estados mais fracos da Zona Euro, falseando assim o valor de mercado dos bonds emitidos. Os compradores de tais bonds tinham a garantia de que estes eram sustentados pelo BCE, sendo portanto avaliados como investimentos semelhantes em risco à  compra de bonds das melhores economias europeias, como a Alemanha e outros Estados do Norte da Europa: Mas, com a vantagem dos juros serem um pouco mais elevados,que destes últimos. 

Nestas condições, os Estados mais endividados, em vez de reduzir de modo significativo seu endividamento, continuaram a pedir emprestado, ano após ano, mais do que as quantias que liquidavam da sua dívida soberana, aumentando assim o seu endividamento. Todos os Estados do Sul da Euro Zona (incluindo a França e a Itália) estão hoje numa posição de dívida em percentagem do PIB, equivalente aos casos da Grécia, de Portugal e doutros, no ano de 2012.   

Mesmo na ausência de políticas erradas por parte dos Estados participantes do Euro, o Sistema Monetário Europeu acumula desequilíbrios de modo estrutural, ou seja, devido a um défice da capacidade produtiva e de exportação nos países do Sul, enquanto o oposto acontece em relação aos países do Norte. Não pode ser de outro modo, num sistema que funciona largamente como mercado interno, «A Eurolândia». Onde existir um défice, tem de haver, do outro lado, um superávit: Se a balança comercial de certos países do Euro é cronicamente deficitária (os chamados «PIGS»), isso significa que outros países  do Euro têm um superávit crónico: Este caso é o das economias mais vigorosas, a Alemanha, a Holanda e países Escandinavos.  Isto porque a grande maioria das trocas comerciais ocorre dentro do espaço Euro. 

O Euro não pode ser assimilado sequer à divisa dum Estado soberano, porque se assim fosse, esse Estado poderia subir ou baixar a taxa de câmbio em relação às divisas estrangeiras e aumentar ou diminuir os juros das obrigações soberanas. Tal não acontece no sistema do Euro. Assim, o crónico défice das contas externas só pode ser mantido com uma política de austeridade,  castigando sobretudo os produtores, os que produzem a riqueza. 

Ao longo de décadas, o défice das contas públicas e do comércio externo nos países mais endividados, implicou o défice de investimento em  infrestruturas, em educação e em inovação, tudo o que garante, no longo prazo, que um país progrida economicamente. Só lhes resta então vender «as jóias da coroa», ou seja, as empresas e recursos nacionais que dão lucro, ou que possuam capacidade de gerar lucro. 

Estamos em Portugal e noutros países europeus, neste estádio. A situação é análoga à dos países do «Terceiro Mundo», com dívidas excessivas aos bancos e entidades financeiras internacionais e que se foram agravando, ficando aqueles países cada vez mais atolados no ciclo da dependência.   

Por outro lado, os EUA, a potência tutelar da Europa através da OTAN, accentua o seu peso, forçando os países europeus a alinhar na guerra da Ucrânia por eles provocada metodicamente - e que estava perdida, à partida - contra a Rússia, o principal fornecedor de energia aos países europeus mais industrializados e o grande importador de géneros alimentares dos países meridionais. 

Este conflito foi a «receita perfeita» para o Império, pois os súbditos europeus ficavam cada vez mais dependentes, não apenas em termos militares, como em aspetos essenciais da economia, como o abastecimento energético. O aprofundamento da crise económica na U.E. foi devido, em grande parte, ao seu envolvimento na aventura belicista contra a Rússia. O corolário foi a fuga de indústrias europeias para o outro lado do Atlântico, nos EUA, para beneficiar das condições mais favoráveis, em termos de impostos, de custos da energia e outras vantagens competitivas. 

Claro que os investidores internacionais estão conscientes do ponto em que a economia europeia se encontra e do desfecho mais provável: Haverá aumento dos juros da dívida soberana dos Estados europeus, assinalando a falta de confiança na sua economia, com a concomitante espiral descendente: Inflação, perda de competitividade, desemprego, recessão e contração da economia...

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*Devido ao "colete de forças" da Comissão Europeia, o mais provável será o definhar da Zona Euro, acompanhada pela crise política dentro dos Estados dominantes. A saída de países individuais do Euro vai ser contrariada, de todas as maneiras possíveis, por Bruxelas.

** Da newsletter de Buillon Vault, veja no gráfico abaixo, que descreve a evolução do retorno sobre investimento para uma série de classes de ativos; o ouro supera qualquer outro ativo no intervalo de tempo representado (de 1999 - até hoje):

O ouro cresceu 820% em Dólares US...

 

...770% em Euros...

 

...e bem acima de 1 000% em Libras esterlinas.


Relacionado:

PLANO DRAGHI: SUPER ESTADO EUROPEU








sexta-feira, 25 de outubro de 2024

UNIÃO EUROPEIA MANIPULOU REFERENDO NA MOLDÁVIA

 



Já notaram que os políticos ocidentais acusam sistematicamente Putin, de manipular processos eleitorais no Ocidente? Porém, eles próprios fazem uma descarada manipulação e ingerência nos assuntos internos de certos países, que querem atrair para sua órbita !

quarta-feira, 11 de setembro de 2024

DRAGHI PROPÕE A «MUTUALIZAÇÃO DA DÍVIDA DA U.E.»


 Este discurso de Mário Draghi mostra que estamos submetidos a uma burocracia, um poder feudal, uma clique de corrompidos que nos vêm apresentar os males por eles provocados, para logo imporem às nações e respetivas cidadanias da UE a "receita" que os isenta a eles e nos carrega a nós com um fardo ainda mais pesado: Mais impostos e uma inflação galopante.

É como o bombeiro pirómano: Provoca o incêndio. Depois, vai participar no combate às chamas, com os outros bombeiros, como se ele fosse totalmente inocente!

Isto pode bem ser o princípio do fim da UE.!

O circo montado, com o solene discurso de Draghi, supostamente um «sábio» que «não teria» mais ambições políticas, destina-se a avalizar as medidas de estrangulamento do que resta de autonomia das nações que compõem a manta de retalhos da UE. A partilha das dívidas significa que os políticos de cada país ainda menos se mostrarão cuidadosos em relação às despesas excessivas. Será uma corrida para ver quem gasta mais, para agradar ao eleitor. Este, se no imediato poderá ter algumas «prendas» dos governantes, estas serão envenenadas, porque trarão um excesso de inflação, desencadeada justamente pelos próprios governantes. Pois a inflação é sinónimo de excesso de dinheiro em relação ao conjunto de mercadorias disponíveis para compra nos mercados. Esta «mutualização» da dívida pública dos países da U.E. vai ser o último prego no caixão, que irá liquidar de vez a capacidade produtiva da U.E.: «Viva a U.E., a nova neocolónia Americano-Chinesa!» (dirão eles, os eurocratas)

                              

quinta-feira, 13 de outubro de 2022

QUE TAL UMA CRISE BANCÁRIA, A SOMAR À CRISE ENERGÉTICA?

                                             

 Os bancos dos países ocidentais, sobretudo da UE, do Japão e Reino Unido, têm estado super alavancados, isto quer dizer que a soma de tudo aquilo que têm emprestado ultrapassa, nalguns casos de perto de  30 vezes, as somas em cash e outros ativos que possuem e que eles têm como garantia. O principal elemento desta alavancagem monstruosa é o mercado dos derivados. É um mercado muito pouco regulado, que não entra nas contabilidades dos bancos, pelo que as quantidades em jogo e o risco associado são apenas estimativas. No entanto, estas apontam para uma potencial quebra em «castelo de cartas», visto que a subida dos juros das obrigações e a contração do crédito, tanto ao público, como interbancário, vai desencadear uma série de ativações (automáticas) das cláusulas de segurança nos referidos contratos de derivados. Tipicamente, um determinado contrato está baseado sobre índices ou valores de ativos. Estes estão fora do controlo das entidades que emitem e compram esses mesmos derivados. Assim, quando são feitos os contratos, há cláusulas de salvaguarda, para o caso em que haja um desvio demasiado grande de certos parâmetros, em relação aos mesmos aquando da assinatura dos contratos. É o caso recente dos aumentos de juros grandes e bruscos, tanto nas obrigações soberanas (emitidas pelos Estados), como as obrigações de empresa. Ninguém sabe qual o comportamento no curto prazo dessa «nebulosa» dos derivados, que mobiliza muitos triliões. Porém, a instabilidade e o receio imperam. Isto explica, em parte, a dificuldade presente do Crédit Suisse em se recapitalizar. Mais uma vez, entra o mesmo cenário que na Grande Recessão de 2008. Lembremos que foi a ausência de empréstimos interbancários, que poderiam resolver défices de liquidez temporários, que despoletou a crise. Os «pacotes de créditos hipotecários» foram os catalisadores, mas a consequência imediata disso foi que nenhum banco confiava na solvabilidade do seu vizinho; todos se retraíam de emprestar dinheiro, mesmo nos prazos mais curtos. O cenário repetiu-se em Setembro de 2019, seguido pela avalancha de QE (impressão monetária) da FED, até ao tsunami em Março 2020, supostamente por causa do COVID. 

Na realidade, a enormidade das dívidas acumuladas e a alavancagem de muitos bancos - incluindo bancos ditos sistémicos - faz com que já não haja «potência de fogo» de nenhum banco central, ou mesmo do FMI, para diferir (não digo eliminar) a derrocada. 

Situação das contas de diversos bancos. Para análise detalhada, ler Artigo* de Alasdair Macleod 

Creio que os bancos centrais - mais uma vez-  enganaram-se a si próprios. Seguiram estúpidas teorias monetaristas, entre elas o neokeynesianismo e  -mais recentemente - a famosa MMT. Essencialmente, ambas teorias advogam que os Estados podem manter-se em défice permanente, que o aumento da moeda em circulação é percebido pelos mercados como crescimento, como confiança no investimento, etc. A ideia é que esta «crença» dos mercados acaba por despoletar o crescimento, tem um efeito «estimulador» da economia. Tenho imensa dificuldade em compreender como tantas pessoas adultas, muitas delas com doutoramentos, conseguem autoiludir-se a este ponto: 

- De facto, se há um aumento da massa monetária em circulação, ele vai traduzir-se num enfraquecimento dessa moeda e isso vai despoletar a inflação. Esta pode ser diferida, assim como a água numa represa de uma barragem hidroelétrica pode ser retida durante algum tempo, até um certo nível. Mas, a partir de certo volume, têm de se abrir as comportas, que permitem que a água escoe, que a inflação deixe de estar confinada aos ativos financeiros e se alargue ao consumo geral (é aquilo que estamos a ver agora). No caso da barragem, se isso não for feito, a pressão constante da água sobre as paredes e o transbordar de água por cima do parapeito causarão inundação a jusante, ou pior ainda, uma rutura na própria barragem, seguida de inundação brusca. 

A analogia com o sistema monetário mundial é muito forte. Existe, como sabemos, ligação forte entre todos os bancos centrais, que também estão conectados ao sistema bancário e financeiro de cada país e internacional. No caso presente, uma crise séria, causando a falência dum «banco sistémico», como o Crédit Suisse ou o Deutsche Bank (ou outro grande banco internacional equivalente), irá despoletar uma série de fenómenos de vendas de pânico, de falências e «default» (= falhas de pagamento) em cascata. Mas, agora, não haverá já dinheiro do jogo «Monopoly» que possa salvar (temporariamente) a situação como em 2008. Ou então,  bem podem eles produzir divisas-fiat, nas quantidades que quiserem. Mas, o público e as empresas não quererão mais esse dinheiro «Monopoly». 

Também não servirá de grande coisa «afundar o vizinho» para se manterem à tona, como os americanos têm feito - desde há muitos anos - aos europeus. Agora, agiram de forma espetacular, com o atentado terrorista dos gasodutos NordStream. A cidadania mais esclarecida, mais consciente, já está a mobilizar-se. Em França, Alemanha, Rép. Checa, Itália, etc, há grandes manifestações. 

A U. E. está enredada nas suas contradições, entre servir os respetivos povos e suas economias nacionais, ou sujeitar-se ao «diktat» americano. Estes, através da OTAN (sobretudo), estão sempre a «torcer o braço» aos europeus para estes fazerem as «guerras dos americanos» contra os seus competidores. 

Não sei se, na U.E., chegarão a um ponto de rutura ou não, mas sei que não será o fim do mundo. As crises vão e veem. Causam muito desemprego, miséria, agitação social, além de que muitos valiosos ativos mudam de mãos. Mesmo que seja o fim do capitalismo, também não é o fim do mundo. Só temos que ter muito cuidado com a histeria de certos atores políticos que - conscientemente ou não - têm estado a aproximar a humanidade do holocausto nuclear. Isso sim, seria o fim de tudo.

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*)  https://www.goldmoney.com/research/banking-crisis-the-great-unwind

sábado, 27 de junho de 2020

GEORGE SOROS - A FARSA DA FILANTROPIA


Este breve inquérito de Tele Sur pode ajudar a compreender os meandros do globalismo e da «galáxia» George Soros. 
Entre as ONGs por ele financiadas inclui-se a Open Society Foundation, Human Rights Watch, Black Lives Matter e muitas outras. 
- Como construiu ele o seu império financeiro? 
- Onde e como aplica os muitos biliões de que dispõe? 
- Porque razão os multimilionários usam frequentemente a capa da filantropia?

sexta-feira, 12 de junho de 2020

[Manlio Dinucci] NÃO HÁ SOBERANIA ECONÓMICA SE NÃO EXISTIR SOBERANIA POLÍTICA


                             
                      Conte e Profumo com o novo Falco Xplorer, o maior drone que a empresa Leonardo construiu


Actualmente, discute-se quanto e que financiamento a Itália receberá da União Europeia e sob que condições. Chegam mensagens tranquilizadoras de Bruxelas. Mas como tais financiamentos serão concedidos em grande parte, sob a forma de empréstimos, vários economistas alertam que existe o perigo de forte endividamento e de uma perda posterior de soberania económica. Assim sendo, a atenção política-mediática concentra-se nas relações entre a Itália e a União Europeia. 

Tema importante, que não pode ser separado das relações entre a Itália e os Estados Unidos, que ninguém discute no Parlamento e nos meios de comunicação mediática. Assim, continuam a ignorar-se as implicações do plano de “assistência” à Itália, lançado pelo Presidente Trump em 10 de Abril (il manifesto, 14 de Abril de 2020). 

No entanto, o Embaixador dos EUA em Itália, Lewis Eisenberg, define-o como “a maior ajuda financeira que os Estados Unidos já deram a um país da Europa Ocidental desde 1948, desde a época do Plano Marshall”. Em apoio às actividades de saúde anti-Covid, “dezenas de milhões de dólares já foram e irão para a Cruz Vermelha e algumas organizações não-governamentais” (não perfeitamente identificadas). Além disso, o plano prevê uma série de intervenções para “apoiar a recuperação da economia italiana”.

Para este fim, o Presidente Trump ordenou aos Secretários do Tesouro e do Comércio, ao Presidente do Banco de Exportação e Importação, ao Administrador da Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional, ao Director da Corporação Internacional de Financiamento ao Desenvolvimento dos Estados Unidos (agência governamental que financia projectos de desenvolvimento privado) para usarem os seus instrumentos para “as empresas italianas”. Não está dito que empresas são e quais serão financiadas por este plano, nem a que condições estão vinculados estes empréstimos.

O Embaixador Eisenberg fala, em geral, das óptimas relações entre os Estados Unidos e Itália, demonstradas por “importantes indicadores económicos e estratégicos”, incluindo “um dos maiores acordos militares com a empresa Fincantieri”, que ganhou um contrato em Maio passado de cerca de 6 biliões de dólares para a construção de dez fragatas multifuncionais da Marinha dos EUA. O grupo italiano, 70% controlado pelo Ministério da Economia e Finanças, possui três estaleiros nos EUA, onde também estão em construção quatro navios de guerra semelhantes para a Arábia Saudita.

Outro indicador económico e estratégico importante é a integração crescente da Leonardo, a maior indústria militar italiana, no complexo industrial militar dos EUA, sobretudo através da Lockheed Martin, a maior indústria militar dos EUA. A Leonardo, da qual o Ministério da Economia e Finanças é o principal accionista, fornece aos EUA produtos e serviços para as forças armadas e para as agências de serviços secretos e administra em Itália, as instalações fabris de Cameri, dos caças F-35 da Lockheed Martin.

São estes e outros interesses poderosos - especialmente os dos grandes grupos financeiros - que ligam a Itália aos Estados Unidos. Não só a política externa e militar da Itália, mas também a política económica, subordinada à estratégia dos Estados Unidos, baseada num confronto político, económico e militar cada vez mais agudo com a Rússia e com a China. O plano de Washington é claro: explorar a crise e as fracturas na União Europeia para fortalecer a influência dos EUA em Itália.

As consequências são evidentes. Embora, por exemplo, seja do nosso interesse nacional suspender as sanções a Moscovo, a fim de relançar as exportações italianas para a Rússia para restaurar o oxigénio, especialmente às pequenas e médias empresas, tal alternativa foi impossibilitada pela dependência das escolhas de Washington e de Bruxelas.

Ao mesmo tempo, estão em perigo os acordos da Itália com a China no âmbito da Nova Rota da Seda, que não são bem aceites por Washington. A falta de soberania política real impede estas e outras escolhas económicas de importância vital para sair da crise. Mas, no ‘talk show’ político, não se fala de toda esta conjuntura.

Manlio Dinucci


il manifesto, 9 de Maio de 2020



Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos
Email: luisavasconcellos2012@gmail.com

domingo, 18 de agosto de 2019

A CRISE VIRÁ DO LADO DA DÍVIDA SOBERANA, DOS TÍTULOS DA DÍVIDA PÚBLICA


                        Resultado de imagem para treasure bond coupon

Sabe-se que o grave problema que afecta o sistema económico e financeiro ocidental é a enormidade da dívida. Dívida dos Estados, dívida das empresas e dívida das famílias... tudo somado, a quantidade de dívida é muito maior do que a existente nas vésperas do colapso de Lehman Brothers!

O processo de um Estado se ver livre da dívida pública é somente um, na prática. Embora, em teoria, um governo pudesse decretar insolvência, reconhecendo estar falido e portanto não pagar aos seus credores, isso é demasiado penoso e politicamente suicida. Portanto, os governos irão fazer aquilo que sempre fizeram, ou seja, inflacionam a sua moeda nacional (no caso do Euro, será antes a moeda comum de uma série de Estados da União Europeia).

Um dos casos mais graves de acentuado crescimento da dívida pública, sem fim à vista e com tendência para se agravar, é o dos EUA. Obama conseguiu o «glorioso feito» de duplicar, durante os seus dois mandatos, a dívida pública acumulada antes dele, desde o início da existência dos EUA.
Nada menos fiável do que os EUA. Se decidirem que algum país está com exigências excessivas, podem simplesmente obliterá-lo do mapa... veja-se o caso da Líbia! 
Mesmo os aliados não estão a salvo de serem «esfolados»: como clausula secreta dos acordos que instituíam o sistema do petro-dólar (em 1973), os sauditas foram obrigados a fornecer muitos biliões em treasuries, que provinham do petróleo, para os seus protectores de Washington disporem dessas somas colossais. Não estão nominalmente na posse do Tesouro, mas é como se estivessem: as tais treasuries servem como «fundo de estabilização» do Tesouro. Quando os mercados variam bruscamente ou quando algo vai num sentido desfavorável aos interesses de Washington, esse fundo gigantesco intervém, discretamente. Os especialistas dos mercados conhecem bem as intervenções do referido fundo.    
É basicamente o medo, a impressionante máquina militar, que impõe «respeito» pelo dólar US, com o qual os EUA compram tudo o que precisam, dando em troca... esses papéis verdes impressos! 

A China foi acumulando, em resultado do seu comércio com os EUA e outras partes do mundo, a gigantesca soma de 1,3 triliões de dólares, que estão sob forma de obrigações do Tesouro dos EUA («treasuries»).
Há quem diga que esta constitui uma arma poderosa da China, que poderá despejar no mercado fazendo baixar subitamente o valor dos referidos treasuries. Mas, isso é falso. Não só não é possível eles desfazerem-se de tal soma bruscamente, como teria um efeito oposto ao desejado. Ainda por cima, poderia desencadear uma guerra, por os EUA se sentirem acossados naquilo que é fundamental para eles, a sustentabilidade da sua dívida...

Os russos, há algum tempo, desfizeram-se de quase todas as suas treasuries. Mas eles tinham muito menos, do que a China tem. O que eles fizeram foi genial: Eles deram os treasuries como aval a vários bancos europeus, para garantia de empréstimos aos mesmos bancos. Depois, fizeram default sobre as dívidas a esses bancos e estes tomaram posse das treasuries, dadas como aval. Assim, não colocaram no mercado essas treasuries e obrigaram a outra parte a aceitá-los. Não me parece que se possa repetir isso.

Os Chineses fizeram a Belt and Road: é - além de outras coisas - um processo lento de se desfazerem de treasuries. Com esses dólares, eles financiam grandes obras, portos, aeroportos, caminhos de ferro, etc. nos países mais diversos, com os quais têm acordos. Ficam aliviados do excedente em dólares e tornam-se credores de vários países, sendo possível que recebam em pagamento géneros (matérias-primas), ou notas de crédito denominadas em Yuan.

Segundo uns analistas, os americanos têm de comprar a si próprios (a FED compra ao Tesouro, o qual emite dívida) cerca de 70% da dívida emitida e têm de fazer malabarismos, usando derivados (credit default swaps), para criar a ilusão de procura de treasuries e assim sustentar seu preço. 
Também conseguem procura porque têm uma taxa ligeiramente acima de zero, enquanto muitas das obrigações europeias (como os bunds alemães) estão com juros negativos, ou seja, o emprestador tem - ao fim de x anos - a soma investida, MENOS uma determinada soma y, correspondente ao juro negativo. 

A dívida excessiva a nível mundial não poderá ser aliviada por uma espécie de «jubileu», pois haverá países que ficam a perder imenso com isso por comparação com outros que até incluem os mais ricos, pois estes têm tido um comportamento irresponsável de acumulação de dívida, sem contrapartida em criação de riqueza. Quando uma pessoa ou uma empresa ou um Estado se endividam pode ser uma coisa boa e sensata ou o contrário: se for para investir em algo que por sua vez irá gerar rendimento, irá produzir algo (bens ou serviços), irá traduzir-se por um acréscimo de rendimento (ao nível dos Estados, maior receita de imposto), então é provável que tal investimento seja sensato e produtivo. Mas um empréstimo gasto em despesa não reprodutível, que não vai gerar capital que o pague no médio/longo prazo, é somente um peso suplementar que incide sobre as economias, sobretudo das gerações futuras. 

Num contexto de sobre-endividamento, a inflação é desejada por bancos centrais e por governos, porque vai «comer» parte da dívida acumulada, ou seja, é como um «default» suave, a uma taxa de uns pouco por cento ao ano, que o público não compreende e atribui à ganância dos comerciantes ou às reivindicações excessivas dos assalariados, etc... mas, não aos verdadeiros culpados.

Perante um aumento descontrolado da dívida, a tentação é desvalorização correspondente do dinheiro, o que tem sido feito, de forma sistemática, sem que as pessoas percebam o que se está a passar: se a inflação registada nas estatísticas ao longo de um ano, for de 2%, por hipótese mas - na verdade -  sendo esta de 4 ou 5 %, como se tem verificado, é muito difícil alguém contrariar o discurso oficial. Seria preciso um instrumento independente, de recolha e tratamento estatístico, algo como um Instituto de Estatística alternativo, ou algo parecido, com credibilidade igual ou superior aos institutos do Estado. 

Portanto, a aceleração da impressão monetária, ou seja,  «Quantitive Easing» e as taxas de juro próximas de zero ou negativas  anunciadas pelos bancos centrais ocidentais, irão apenas contribuir para manter durante algum tempo (quanto?) as bolhas das bolsas de acções, das obrigações, do imobiliário... em que se tem vivido. 
Mas, chegará o momento em que as pessoas compreenderão que estão a ser aldrabadas, que números crescentes não representam aumento de valor, não correspondem a nada de sólido. 

A perda de confiança numa divisa, nas divisas «em papel», é um processo muito rápido: compreende-se que os bancos centrais dos países do Oriente se previnam disso, comprando todo o ouro que podem nos mercados. Alguns financeiros, gerindo fundos bilionários, também compreendem o que se está a passar e também estão a aconselhar os seus clientes a fazer o mesmo.

A subida dos metais preciosos, em especial do ouro (e isto é notável) faz-se, apesar da existência confirmada de conluio entre bancos centrais ocidentais e grandes bancos, emissores de contratos de futuros (um tipo de derivado) sobre o ouro e a prata. Eles despejam no mercado, em momentos especiais, quantidades abismais de contratos. É assim que o preço do ouro e da prata têm sido reprimidos, ao ponto de, em paridade do poder de compra, a prata nunca ter estado tão barata! Se estes contratos correspondessem - de facto - a ouro físico, seria necessária várias vezes a produção anual minerada. Evidentemente, trata-se duma fraude, mas fraude consentida pelas entidades ditas supervisoras dos mercados e pelos bancos centrais.
O sistema de emissão de dinheiro ilimitado e controlado pelas entidades globais, é inviável: dentro de um prazo (não determinável exactamente, pois dependerá da duração e profundidade da crise vindoura), terá de haver uma profunda reforma do sistema monetário.  
Mas, entretanto, é bem provável que haja guerras, revoluções, fomes, transferências de riqueza, fenómenos que se verificaram no passado, em associação com as crises económicas mais graves.