domingo, 10 de novembro de 2024
domingo, 6 de outubro de 2024
De 26 de Setembro a 6 de Outubro, tanta coisa mudou!
Talvez, os "DEZ DIAS QUE ABALARAM O MUNDO"* das nossas vidas.
Eu estive doente e tive de assistir a minha esposa, também ela doente. Por isso, não escrevi, nesta semana, novos artigos para meus leitores do blog. Mas, agora que estou melhor, consegui apenas publicar dois vídeos esclarecedores:
O 1º, é uma entrevista de Glen Greenwald ao Prof. Jeffrey Sachs.
Para se perceber como chegámos a este ponto, é preciso ter uma noção de todo o desenvolvimento que conduziu ao estado presente. A entrevista é intitulada «A Guerra Ucraniana Foi uma Jogada Estouvada» e faz todo o sentido, porque, como o Prof. Sachs recorda, os EUA e a OTAN, durante anos, tudo fizeram para que se chegasse a este estado. Mas, não só a provocação à guerra foi estouvada, como foi de incrível irresponsabilidade, a sucessão de recusas, a cada vez que a Rússia vinha propor conversações para novo acordo de paz e segurança no continente Europeu.
o 2º, é Andy Schectman, um comerciante e especialista de mercados de metais preciosos, que não tem dúvidas sobre a leviandade dos dirigentes políticos, banqueiros centrais e da classe dos oligarcas ocidentais.
Todos eles estavam absolutamente seguros, até há bem pouco tempo, que o dólar era inexpugnável como moeda de reserva e como moeda de intercâmbio comercial em todo o mundo. As forças que se opunham ao dólar tinham, no entanto, excelentes economistas e estrategas, não deixando passar as oportunidades de fortalecer a construção dos BRICS e das trocas entre eles, prescindindo do dólar, assim como do desenhar de uma moeda não vinculada a um país, mas a um pacote de matérias primas, onde o ouro entrava com uma cota de 40%.
Esta moeda internacional que, estou quase certo, vai ser proclamada na próxima Cimeira dos BRICS de Kazan, terá um respaldo muito maior do que o dólar (moeda dita «fiat»), que apenas tem como respaldo a «palavra» , as «promessas» do governo dos EUA.
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*O título do livro de John Reed, de reportagem sobre os dez dias de 1917, que antecederam e imediatamente sucederam à tomada do Palácio de Inverno pelos bolcheviques em 25 de Outubro (do calendário ortodoxo). John Reed, o jornalista e revolucionário, cidadão dos EUA, a quem foi concedida a honra de ser enterrado na Praça Vermelha.
quinta-feira, 26 de setembro de 2024
segunda-feira, 23 de setembro de 2024
O DISCURSO DO ÓDIO E A MONTANHA MÁGICA
sábado, 7 de setembro de 2024
A REALIDADE DA CRISE GLOBAL CAPITALISTA
As distorções mais graves constatam-se em determinadas narrativas favoráveis aos defensores do capitalismo e dos impérios coloniais, relativamente ao ascenso dos fascismos e como uma crise económica e financeira mundial, se foi transformar na IIª Guerra Mundial.
De facto, o que acontece hoje em dia, possui muitos paralelos com as relações conflituosas entre potências importantes à saída da 1ª Guerra Mundial (1918) e até ao desencadear da 2ª Guerra Mundial (1939). A existência de graves tensões resultantes das exigências, na negociação de paz de Versalhes, pelos aliados vencedores da 1ª Guerra Mundial, em relação à Alemanha vencida, foi originar uma grave crise de hiperinflação neste último país (de 1922-23), que deu alento a grupos de extrema-direita. Estes coalesceram no partido Nazi. As mudanças de políticas em relação à Alemanha, ao seu rearmamento, a tolerância em relação à Itália fascista de Mussolini, nomeadamente, à guerra na Abissínia e à guerra civil de Espanha (que logo se transformou em guerra internacional), foram fatores importantes na subida e consolidação de fascismos em vários países europeus, quer já tivessem alcançado o poder, quer fossem forças organizadas e prontas para levar a cabo golpes de Estado.
O que todos podemos constatar - para lá das divergências relativas à História - é que as crises económicas e financeiras, desencadeadas pelas políticas dos bancos centrais, dos governos, ou de ambos, levam de imediato a crises sociais, as quais vão gerar movimentos revolucionários, tanto de esquerda como de direita.
As instabilidades no tecido económico e social, não podem ser remediadas pelo tipo de medidas usadas pelos governos, sejam elas fiscais ou económico-financeiras. Os poderes - então - recorrem à repressão. Mas, a deriva autoritária dos governos não tem qualquer efeito benéfico na economia. O que é simples de perceber: Numa sociedade industrial, o escoamento e consumo das mercadorias é fundamental para o funcionamento de todo o sistema. Porém, a capacidade aquisitiva da classe trabalhadora e da classe média diminui acentuadamente, num contexto destes. O fracasso das políticas internas tem levado os governos a procurar «unir a nação» contra um inimigo externo. Leva, também, a que a casta militar e por trás dela, a indústria bélica, seja ouvida e que suas «soluções» seduzam a casta dirigente.
Se virmos o período entre o fim da 2ª Guerra Mundial e hoje, constatamos que nunca houve paz, propriamente dita. Houve sempre conflitos armados, quer causados pelo choque entre nações independentes, ou por nações que lutavam pela emancipação do jugo colonial de uma potência europeia, ou contra o neocolonialismo, principalmente dos EUA. Outra constatação, é de que a capacidade instalada e a produção de armas e material de guerra esteve sempre em crescendo. Os fundos atribuídos ao complexo militar nos orçamentos de Estado das grandes potências foram sempre aumentando.
Tudo o que sabem fazer os Estados, os seus governos e corpos legislativos, sob influência dos lobbies das grandes empresas e grupos económicos, é criar ou aumentar as despesas, aumentando o défice das contas públicas, criando problemas de insolvabilidade, que tentam remediar, criando mais dinheiro. É como se tentassem tapar um buraco no solo, cavando outro ainda maior.
Chega um ponto em que, ou forçam o «apertar do cinto» na população (as políticas de austeridade) e arriscam-se a desencadear uma revolta; ou continuam a gastar o que não têm, através da «impressão» de dinheiro eletrónico, fazendo disparar a hiperinflação. Teoricamente, existe outra solução: A de transformar a estrutura produtiva e de propriedade, o que se poderá designar como uma transformação socialista. Mas, os partidos de governo nos países europeus excluem esta hipótese, mesmo quando têm «socialista» no seu nome!
As crises no capitalismo estão inscritas no seu próprio «ADN». São motivadas pela impossibilidade do capital auto-moderar o seu apetite pelo lucro.
O mantra que ensinam nas escolas de economia do Ocidente é que a empresa que não tentasse maximizar os lucros, estaria condenada a prazo, pois as empresas concorrentes não teriam problemas em tomar posições nos mercados para obter esses mesmos lucros.
Os países são empurrados para a guerra pelos dirigentes políticos e por empresários que têm vantagens nisso (ou pensam que têm). A guerra é um meio cruel, brutal e eficaz de destruir o excesso de capital, sob forma de instalações produtivas, excesso esse associado aos excedentes de produção de mercadorias.
Por detrás de qualquer guerra perfilam-se interesses económicos: Eles são facilmente detectáveis, se descartarmos os argumentos da propaganda, de um lado ou do outro.
Os EUA empurraram a Ucrânia para a guerra, para poderem colocar em cheque a progressão dos BRICS. Esperavam quebrar a unidade dos BRICS, mas enganaram-se, pois não apenas esta se mantém, como se alargaram os membros e os candidatos. Por outro lado, o imperialismo americano estava muito preocupado com a indústria alemã, com a sua competitividade, em parte devida ao fornecimento de energia barata pela Rússia. Conseguiu o imperialismo, pelo menos no curto prazo, resolver o problema ... com a sabotagem dos gasodutos Nord Stream. Esta sabotagem precipitou a Alemanha na maior crise industrial do pós 2ª Guerra Mundial. Muitas fábricas, por causa do aumento do preço da energia, fecharam portas na Alemanha e foram instalar-se nos EUA. Gigantes como a Volkswagen estão em dificuldades ou à beira da falência, ao ponto de encararem o fecho de suas fábricas na Alemanha.
A guerra económica com a China destina-se a impedir que os aliados dos EUA estabeleçam laços com o maior produtor industrial do mundo (a China): Querem manter o mercado Ocidental cativo, para escoamento dos produtos dos EUA e dos seus comparsas. Para dominar, os EUA não hesitam em dividir o Mundo em dois nos planos político, económico, militar e civilizacional. Mas, tal ambição é desastrosa e - felizmente - já se começa a compreender, mesmo nas fileiras pró-capitalistas, que ela só pode trazer guerra e miséria.
quarta-feira, 28 de agosto de 2024
CRÓNICA (Nº30) DA IIIª GUERRA MUNDIAL: ENQUANTO NA TEMPORADA ESTIVAL ...
Nós todos estamos habituados a cumprir ciclos anuais. A altura do Verão é ocasião de férias, de turismo, para relaxar, para repousar. Os dirigentes sabem isso muito bem, pelo que costumam fazer passar legislação que afeta negativamente* as nossas vidas, durante o remanso de Agosto, pois assim terão uma oposição popular muito mais fraca, pelo menos no imediato.
Lembro que a famosa «suspensão» da convertibilidade do dólar US em ouro, feita por Nixon e que deitou por terra os acordos de Bretton Woods, teve lugar a 15 de Agosto de 1971. Mas, não foi caso único, longe disso.
Hoje em dia, as fronteiras entre a guerra física (com as suas mortes e destruições) e a guerra económica (com o seu cortejo de sanções, de embargos, de restrições ao comércio normal entre países), essas fronteiras são meramente teóricas. Pois os movimentos das tropas são antecedidos, ou acompanhados por movimentos nas praças financeiras, nos centros de poder e não têm nada que ver com as famosas «leis do mercado», antes pelo contrário.
Quero aqui exemplificar com as taxas proibitivas de 100% , sobre a importação de carros EV chineses, nos EUA e medidas análogas dos seus vassalos europeus. Estas medidas têm sempre «justificações» absurdas e retóricas que acompanham os decretos ou leis em causa. Mas, realisticamente, aquilo que se passa é o erguer de barreiras ao comércio, é uma guerra económica, sob os mais diversos pretextos, mas sobretudo pelo motivo que não nos dizem: é uma forma extrema de proteger a produção do país em causa, de concorrentes exteriores.
Assim, nas chamadas «democracias liberais», mesmo não havendo um estado de guerra formal e declarado com a China, vão se multiplicando os gestos hostis, sob os mais variados pretextos. Cabe aqui perguntar: Quais são os países realmente liberais, no sentido clássico de comércio livre?
- Serão os países que proíbem a exportação de «microchips» para a China, que põem tarifas proibitivas na importação de certas mercadorias chinesas? Serão os que - depois de terem convidado a China a ingressar na Organização Mundial do Comércio (OMC), na viragem do século - lhe fecham as portas do comércio, «matando» de uma assentada essa mesma OMC, organização considerada da maior importância na ordem globalista ( e liberal) mundial?
- OU serão os países que desenvolvem uma rede de vias de comunicação internacionais (New Silk Roads), em cooperação uns com os outros, intensificando laços comerciais, com investimento maciço em infraestruturas (estradas, caminhos-de-ferro, portos, aeroportos) ; serão os países (como a China), que acolhem capitais e indústrias de outras paragens, permitindo que aí se desenvolvam, que produzam para exportação; e que aceitam que os investidores estrangeiros recolham e exportem os lucros dos seus investimentos?
As barreiras protecionistas são uma confissão de derrota dos países que se autoproclamam de «liberais». Nem sequer são protetoras para a sua população, pois as classes mais modestas começaram a viver melhor, nestas últimas duas décadas, graças a exportações da China para os mercados ocidentais. Na verdade, os dirigentes ocidentais não se podem escudar no pretexto de que estão a proteger a sua indústria nacional.
Primeiro, porque duas ou três décadas antes, incentivaram a transferência das indústrias (as mais dinâmicas e rentáveis) para países de mão-de-obra barata, sabendo eles muito bem que estavam condenando as classes operárias dos seus países ao desemprego e à precariedade crónica (os empregos «de merda»). Aliás, esse era um dos objetivos deles; podiam subjugar um segmento, dos mais combativos e reivindicativos, da população: o operariado industrial.
Segundo, porque o movimento para o Leste da Ásia da indústria de ponta, não podia ser revertido de uma penada. As fábricas e outras infraestruturas materiais, poderiam ser reerguidas, embora à custa de investimentos intensivos de capital; porém, a formação das pessoas envolvidas na produção, os operários e os engenheiros, é assunto muito mais complicado; demora tempo a formar e mesmo a recrutar, pois é difícil criar apetência para este tipo de empregos... Por outro lado, haveria necessidade dessas tais indústrias pagarem cinco a dez vezes, nos países ocidentais, os salários que pagavam aos seus operários asiáticos, onde se situam as referidas indústrias.
Para confirmação disso, apresento dois factos:
1º Apesar das tarifas de 100%, os carros EV chineses estão a ter uma aceitação muito grande nos mercados, em todo o Ocidente. Os chineses conseguem fabricar carros a um preço imbatível, comparados com EV de marcas ocidentais. Não tarda que sejam encontradas estratégias para rodear as tarifas brutais: Os comerciantes de automóveis sabem que o grande público, ávido de se reconverter aos EVs, não tem posses, na sua imensa maioria, para comprar os carros de gama alta, que têm sido lançados no mercado nos últimos anos.
2º A Alemanha é, politicamente, o país da UE mais alinhado com Washington. Porém, houve uma recente visita de Estado à China, de dirigentes do governo alemão, que trouxeram na sua comitiva muitos empresários. Eles estavam ansiosos em continuar, ou em implantar, as suas indústrias na China.
Aliás, recorde-se que muitas empresas alemãs foram para a América, devido ao aumento dos preços da energia (devido à sabotagem dos gasodutos Nord Stream pelos americanos). A potência industrial maior da Europa, a Alemanha, está entre a espada e parede: Não tem coragem de se autonomizar em relação aos EUA, como gostaria, mas - por outro lado - tem que manter o nível de vida dos alemães, um dos mais altos na Europa (junto com o dos escandinavos), porque estes já estão a entrar em revolta. As medidas autoritárias tomadas pelo governo, durante o COVID e depois, são realmente aplicáveis em quaisquer situações: Agora, têm servido para reprimir os movimentos populares pró-palestinianos e contra o genocídio perpetrado pelos sionistas, amanhã quem sabe para que serão utilizadas?
A guerra foi desencadeada em 2001, pelos EUA e seus vassalos. Foi começada no Médio Oriente Alargado, após o «11 de Setembro» e cujo saldo são milhões de mortos e países em ruínas. Ela foi continuada nas fronteiras da Rússia, com o alargamento sistemático da OTAN aos ex-países aliados da URSS no pacto de Varsóvia, e depois envolvendo ex-repúblicas soviéticas. Este alargamento ocorreu, contra a promessa solene dos ocidentais, em não alargar um centímetro a OTAN, se os soviéticos aceitassem uma reunificação pacífica das duas Alemanhas.
Decidiram provocar a Rússia, depois, até ao ponto de seus dirigentes sentirem que tinham de pôr um termo a esta situação. A invasão russa da Ucrânia foi deliberadamente provocada, por mais que os atlantistas repitam que foi uma «invasão não provocada».
A paz, mesmo após a guerra ter começado, é melhor do que a continuação da guerra. Isto é o que pensam pessoas humanistas, civilizadas. Mas, para os falcões da OTAN, é melhor a sangria do povo ucraniano, para «enfraquecer» a Rússia, dizem eles, como se tal monstruosidade fosse aceitável. Ela foi constantemente levada a cabo - pela preparação do golpe de Estado de Maidan, fomentado pela UE e EUA - na Ucrânia, em 2014. Quanto à guerra, esta começou em 2014. Mas eles, os ocidentais, nada fizeram para a prevenir ou acabar. Durou 8 anos, a guerra civil entre o poder golpista, dos ultranacionalistas banderitas e as regiões do leste da Ucrânia, de maioria russófona. Uma enésima vez, os ocidentais traíram o seu compromisso, ao nada fazerem para implementar os acordos de Minsk (em que participaram como garantes).
Agora, estão os mesmos falcões atlantistas a criar uma situação de guerra com a China, sob pretextos idiotas.
Mas, na verdade, são eles - políticos no poder, no Ocidente - que, face ao descalabro de suas economias, ao colapso do dólar como moeda de reserva mundial, à diminuição do nível de vida das populações, querem acabar com a globalização que eles próprios promoveram. Numa primeira fase, quando ela só lhes trazia vantagens, foram seus arautos. Agora, vendo as vantagens comparativas dos países dos BRICS querem, a todo o custo, reverter a globalização.
Mas a globalização não é um «cenário de teatro» que se pode desmontar, uma vez que a peça teatral acabou. Um aspeto fundamental da globalização é que, no domínio da tecnologia e das boas práticas industriais e comerciais, uma vez aprendidas, não se desaprendem.
Mesmo erguendo nova «cortina de ferro», para se isolarem dos supostos inimigos, os atlantistas do Ocidente não conseguem mais do que isolarem-se a si próprios do resto do Mundo.
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* Muita legislação tem títulos «bonitos» e «ecológicos», mas realmente são leis anti-ecológicas e anti-agricultura.
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PS1: Veja o que tem a dizer da China um ex-deputado norueguês, que visitou dezenas de vezes a China, desde os anos 80. https://www.youtube.com/watch?v=P9nA3hX6tG0
domingo, 25 de agosto de 2024
OS PODERES ENLOUQUECIDOS*
A crise do imperialismo é relativamente fácil de se compreender. Chegou aos seus limites: A destruição que provoca é como «serrar o ramo onde está sentado». Tornou-se depredador, numa escala insustentável: Tanto em termos de capacidade de regeneração dos ecossistemas naturais, como de alimentação das populações (abandono da agricultura de autossubsistência, pela agricultura industrial virada para exportação); até mesmo as novas tecnologias são reorientadas, com o objetivo de reforçar os dispositivos de vigilância das oligarquias no poder. A produtividade, num sistema onde o lucro fácil da especulação tem rédea livre, não pode deixar de ficar afetada gravemente. Necessariamente, desce a produtividade real, ou seja, a relativa aos produtos e serviços, que são úteis à sociedade.
Tudo isso sabemos, embora haja uma esquerda que insiste em conceitos marxistas completamente caducos, que podem ter parecido adequados numa altura em que o capitalismo (no séc. XIX) era sobretudo industrial, por oposição ao capitalismo do século XXI, financeiro e digital.
Com efeito, a crise da esquerda é paralela à crise do capitalismo. Ela não conseguiu integrar, de forma harmoniosa, os interesses dos trabalhadores e da humanidade, com os da natureza, nem tem sabido como combater as novas formas de exploração. Muitas pessoas são encaminhadas para falsas conceções teóricas pois os que controlam os aparelhos partidários, se fossilizaram nesta ou naquela versão do marxismo.
Por outro lado, tal esquerda ficou «órfã», porque durante anos e decénios, se limitou a arvorar o «socialismo real» como modelo. Pelo menos, agora, um número significativo de pessoas, à esquerda, já percebe que o «socialismo real» não existe; ou que nunca chegou a existir, na verdade.
Por muito tristes que sejam as experiências passadas de «socialismo real» em vários países, não se deve fazer tábua-rasa delas; é importante examiná-las criticamente. Pois, «quem não estuda a História, está condenado a repeti-la». Seria a coisa mais estúpida e trágica, repetir os erros de pessoas, partidos e governos, que se intitularam socialistas ou comunistas! Será que as pessoas de esquerda não conseguem descolar das etiquetas, dos slogans, das narrativas heroicas, e usarem as suas faculdades de pensamento?
Sei que existem dentro das fileiras da esquerda pessoas sinceras e inteligentes, que compreendem as tragédias que foram - em numerosos casos - os desempenhos das esquerdas no poder. Provavelmente, muitos têm receio de ir até ao fim do raciocínio, ou de o formular de um modo límpido:
- Serei eu melhor para fazer tal coisa? Não, por certo: Pela simples razão de que não sou historiador, nem politólogo; não me considero competente para fazer uma «nova síntese». E não teria qualquer efeito prático, mesmo que a fizesse, e que ela fosse bem feita. Pois, essa nova síntese só teria impacto, se fosse conhecida e discutida. Porém, sabemos como a dinâmica política é tributária da publicidade; se não fores muito conhecido, ninguém te vai ouvir/ler.
Penso, no entanto, que do ponto de vista filosófico, é necessário nos libertarmos dos conceitos dicotómicos que têm moldado o discurso da política, assim como a forma como costumamos pensar a moral e muitos outros assuntos.
Um primeiro passo, será nos centrarmos no código de conduta interior, a nossa ética pessoal, uma ética não egocêntrica, mas realista. Uma ética em que nos sentimos ligados, através de laço espiritual, ao Universo e tentamos descortinar, no livro da Natureza, o sentido da nossa caminhada.
Se a sociedade não está capaz de nos compreender, não vamos gesticular para tentar agradar-lhe. Não vamos tentar ganhar adeptos. Mais frutuoso - em qualquer situação - é agirmos de acordo com o nosso código interior. Isto acabará por dar seus frutos, junto das pessoas que nos são próximas.
É pelos atos, não pelas palavras, que as mentes se podem abrir. Não devemos ter ilusões de poder. É ilusório crermos que somos capazes de mudar as sociedades, individualmente. No entanto, as sociedades mudam e as vontades e consciências têm um peso neste processo.
sábado, 8 de junho de 2024
PORQUE É QUE O COMPLEXO MILITAR INDUSTRIAL NOS ESTÁ MATANDO A TODOS
Quando uma bomba explode, rasga a carne, quebra os ossos, rebenta com caixas cranianas, faz mortes e pessoas estropiadas, diminuídas para toda a vida. Mas também há alguém que aproveita, que lucra com isso, que fica rico.
Mas o mal não se limita às vítimas diretas das bombas. Cada dólar* gasto com bombas (e material militar em geral) é um dólar que foi subtraído a programas com efeitos imediatos na dinamização da economia, na educação, no sistema de saúde, na investigação médica, etc. Todos ficamos mais pobres. O Estado de que somos cidadãos, em vez de arcar com despesas que - por sua vez - vão gerar mais produtividade e bem-estar social, vai «enterrar» essas somas em instrumentos de destruição.
A indústria armamentista é a mais poluidora que se possa imaginar. Além dos consumos de energia fóssil, para construção e operação das suas máquinas, é preciso termos presente que a mineração de metais raros e outros, para as ligas metálicas especiais, é muito depredadora do ambiente.
As bombas e outro armamento só podem ter dois fins, ou são utlizados, causando um tremendo custo humano e destruição ambiental (mil vezes pior na emissão de poeiras e de gases com efeito de estufa que quaisquer outras indústrias). Se não forem utilizadas estas munições e armamento, ficarão armazenados, o que tem os seus custos próprios . No final, acabarão por ser descartados, sem que os materiais sejam reciclados, as carcaças inúteis serão enterradas, causando contaminação permanente dos solos e subsolos, algo não visível pelo cidadão comum.
Nós ouvimos muitas vezes críticas dirigidas aos Estados, por irem em socorro de empresas em maus lençóis, ou em risco de falência. Pois a indústria armamentista não apenas tem um excelente cliente único (as forças armadas do Estado), como este cliente não regateia preços e costuma fazer encomendas abundantes, além de apoiar (e pagar) investigação aplicada com fins bélicos e de isentar de impostos essas indústrias benfeitoras da humanidade.
Note-se que, em termos de PIB, este pode ser inflado pelo aumento de produção de armamento. Porém, isso não significa que o país em causa esteja a nadar em prosperidade, nem que essa produção seja, de algum modo, impulsionadora de maior bem estar, de mais recursos para desenvolver outras indústrias, ou para o desenvolvimento dos países para onde os armamentos são exportados.
A utilização bárbara para fazer a guerra, não só se traduz num sofrimento humano infinito, sobretudo afetando a população civil, também causa a destruição em larga escala do equipamento, infraestrutura produtiva e vias de comunicação dos países em contenda. Isto significa incontáveis biliões de dólares investidos, que se transformam em ruínas e que - no melhor dos casos - irão ser de novo gastos, durante largos anos, para reconstruírem essas infraestruturas civis: Muitas vezes, os países ficam totalmente de rastos e não têm capitais próprios para fazer tal coisa. Caem no ciclo de dependência, de pedir empréstimos a países ricos, ou a instituições internacionais por estes controladas.
Podeis perguntar: «Mas se afinal é um mau negócio para o Estado, os cidadãos e todas as atividades que não sejam as próprias fábricas de armamento, como é possível que esta indústria floresça e tenha sempre investimentos abundantes sob forma de capitais públicos ou privados?» A resposta é simples e complexa, ao mesmo tempo:
- os industriais têm os políticos no bolso, através de doações milionárias que fazem para as campanhas eleitorais dos políticos, sem as quais estes não têm qualquer hipótese de serem eleitos, nem mesmo de ficar entre os mais votados.
- A máquina de suborno é apenas um pormenor (importante), mas é o sistema inteiro do capitalismo decadente que está afinal em causa. O capitalismo passou há muito a era construtiva. Precisa de capital e de mais capital, para alimentar a especulação financeira. O grande e o pequeno especulador sabem perfeitamente que um investimento nas indústrias de armamento tem um retorno assegurado: é uma garantia que não é dada por nenhum outro investimento no setor industrial; por exemplo, vemos grandes construtores automóveis ficar em maus lençóis e mesmo irem à falência, o mesmo se passa com grandes empreendimentos imobiliários, ou turísticos, ou cadeias de restaurantes ou qualquer outro setor civil. Tal não acontece na indústria militar; note-se que empresas de aeronáutica civil estão associadas com empresas de aviação militar. De facto, são os mesmos grandes acionistas que controlam os dois ramos industriais, embora nominalmente apareçam como distintos (exemplo: a Boeing).
Conclusão: A própria sociedade civil está refém dos grandes construtores de material bélico; eles conseguem fazer inflectir as elites políticas com muita facilidade, para que estas adotem as políticas que mais os favoreçam. Os políticos sabem isso, mas não vão revelar a «galinha dos ovos de ouro» ao público, era o equivalente a matar a dita galinha. A media, o jornalismo de massas, também não revela, apenas sublinha o «avanço tecnológico», a «eficácia» de novos sistemas de armamentos, faz publicidade grátis ou mediante subornos, criando no público a ideia (falsa) de que forças armadas assim equipadas poderão vencer quaisquer inimigos em combate. Neste contexto, não nos deve admirar que surjam constantes focos bélicos, em várias partes do Mundo. Só ainda não começaram com guerras diretas entre grandes potências, ainda que as guerras por interpostos («proxi wars») não tenham cessado, desde o fim da II. Guerra Mundial, até hoje!
O mercado da morte, da morte industrial, é o produto desta sociedade: Todas as pessoas que ingenuamente se preocupam com a habitabilidade do planeta, daqui a 20 , 30, 40 ou 50 anos, deviam refletir, sem dúvida. O efeito das indústrias de armamento traduz-se por:
- Causar enorme mortandade e destruição nas sociedades (sendo civis as principais vítimas, em geral)
- Causar destruição de capital produtivo, fábricas e instituições diversas (hospitais, escolas, centros de investigação, etc.).
- Distorção do próprio funcionamento das instituições dos países, através da corrupção dos que exercem cargos políticos
- Desvio de enormes somas, que poderiam ser investidas de forma produtiva. Cada dólar investido em armamento, é um dólar perdido para o investimento produtivo em indústrias civis, etc.
- Aumento dos riscos de guerra generalizada e portanto, da destruição da vida no planeta, pois o fomentar de guerras parciais ou locais, é o método eficaz para se gerar uma situação internacional de grandes tensões, desembocando numa guerra nuclear entre as grandes potências.
- A destruição dos ecossistemas, dos habitats naturais, extinção de espécies, poluição marítima, aérea e dos solos, não esquecendo a sempre possível poluição de longo termo, gravíssima, causada pela explosão de engenhos nucleares.
Eu renunciei a encadear estas consequências acima em ordem crescente de gravidade, pois há uma relação intrincada de causas e consequências. Isto só reforça a ideia de extrema perigosidade e parasitagem sobre a sociedade do complexo militar-industrial.
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* O orçamento de «defesa» dos países da OTAN perfaz, anualmente, dezenas de milhares de milhões de dólares (mais de 10 000 000 000 $). Os EUA são, de longe, o país que mais gasta em armamento.
quinta-feira, 30 de maio de 2024
MARTIN ARMSTRONG: CRONOLOGIA DA 3ª GUERRA MUNDIAL E DA FALÊNCIA DOS EUA
Eu encontro muitos pontos de contacto com ele, embora eu esteja numa posição ideológica completamente diferente da dele. É que ele diz as coisas como elas são; não faz cálculos sobre se agrada a fulano, ou sicrano.
O que ele diz essencialmente, é que os grandes poderes políticos, económicos e financeiros estão a empurrar para a guerra, porque estimam que não têm outra saída. Precisam da guerra para se manterem no poder e para manterem o controlo sobre os países e os povos.
Não admira que seja uma voz completamente banida pelo mainstream, embora tenha cada vez mais seguidores que descobrem, com surpresa, a profunda lógica que subjaz à sua previsão dos acontecimentos.
Oiçam a entrevista, ela tem muito conteúdo. É pena que não esteja ativa a legendagem em inglês. Garanto-vos, porém, que vale a pena!
terça-feira, 28 de maio de 2024
CRÓNICA (Nº 27) DA III GUERRA MUNDIAL: Quebra das referências e imposição de ordem totalitária
Tenho acompanhado, com angústia, a evolução da minha sociedade, deitando também uma olhadela ao que vejo pelo mundo fora, através dos media (tanto «mainstream», como «alternativos).
Não gostei nada, mas mesmo nada, da estupidez da campanha de massas para fazer as pessoas temerem uma infeção banal, por coronavírus, como se fosse o fim do mundo. Esta foi uma campanha de medo, de coerção (com máscaras - sem efeitos de proteção demonstrados - para servir de símbolo da servidão). Pior, verificou-se a perseguição de sumidades médicas e científicas que realizaram terapêuticas com ivermectina ou hidroxi-cloroquina. Foram brutalmente difamados por «jornalistas» ao serviço dos globalistas. Isto tinha uma (má) razão de ser: O facto da tão desejada, pelas multinacionais farmacêuticas, autorização especial de colocação no mercado das vacinas que tinham fabricado. Ela só era possível, caso não existisse já um medicamento eficaz para combater a epidemia. Daí a criminalização do uso daqueles dois fármacos, para obterem a autorização de «urgência» e a colocação no mercado das "vacinas" mortíferas.
Mas, o cenário não se ficou por aqui: A clique globalista conseguira fazer passar despercebido um crash do sistema através dos «lockdown» (confinamentos). Estes serviram para a operação de colapso programado de grande parte das empresas, sobretudo, as que tinham intervenção na economia real, como fornecedoras de bens e serviços. Em contraste, foram favorecidos o grande capital financeiro (bancos sistémicos, fundos especulativos) e as grandes empresas tecnológicas (Microsoft, Apple, Facebook, Google, etc.), as quais tiveram um boom, graças aos confinamentos e à «nova economia», instalada ou reforçada por ocasião dos «lockdown», em muitos sectores de serviços.
Porém, uma tomada de controlo parcial da economia nunca seria considerada suficiente para os poderosos deste mundo. Eles estavam cientes da necessidade da falência completa do sistema, seguida pela «Nova Ordem», à maneira deles. Isto só poderia ser disfarçado com uma «boa guerrinha», das que causam imensos mortos, feridos e destruição. A sua preferência era ser longe das sedes de Wall Street, do Pentágono, da City de Londres e da OTAN, em Bruxelas.
Durante todo o ano de 2021, na Ucrânia, a guerra não declarada, mas guerra de extermínio da população civil russófona, teve rédea larga. Os ocidentais estavam a armar e treinar o exército da Ucrânia, ao nível de serem considerados tão eficazes como os da OTAN (os ucranianos foram persuadidos que iriam abrir-lhes as portas da OTAN e da UE...). No Ocidente «não viam» o sofrimento nestes anos todos (8 anos de guerra civil), apesar de um número estimado de vítimas civis de 15 000, nas populações do Donbass.
Finalmente, a Rússia invadiu a Ucrânia com uma força militar destinada a proteger os russos étnicos, habitantes das duas repúblicas separatistas do Donbass. O governo de Moscovo sentia-se obrigado a vir em auxílio a estes russos, para evitar um banho de sangue (o «dever de proteger», reconhecido pela ONU). Mas, logo foram desencadeadas sanções e mais sanções (longamente planeadas), com ataques histéricos de políticos americanos e europeus ocidentais, assim como da media ao serviço dos grandes interesses.
Claro que a manobra de isolar a Rússia lhes saiu furada. A situação era tal, que a Rússia se tinha longamente preparado para as sanções. Por um lado, a sua economia era muito mais saudável do que os ocidentais imaginavam e por outro, não existiu isolamento da Rússia, devido à recusa do «Sul Global» e dos BRICS em se alinhar numa guerra económica contra a Rússia.
Os ocidentais mostraram que estavam fora da realidade e que, de facto, estavam a proporcionar a criação doutro bloco rival (e maior) da OTAN e amigos. Ou talvez não, talvez estivessem cientes das realidades e - no entanto - convencidos de que a globalização à sua maneira e gosto, era impossível de ser alcançada. Terão decidido acabar com ela, criando uma situação de guerra mista ou híbrida, para «segurar» os países Ocidentais e seus Estados-clientes, ao nível mundial.
Mas, a rutura Ocidente/Sul Global, como estamos a assistir em relação a Israel/Palestina, não podia ser pior. Pior para os povos sujeitos à brutalidade de massacres sobre civis, perante a indiferença dos países aliados de Israel, o que afinal não é senão disfarce para a aprovação discreta dos desmandos que o exército de Israel tem cometido: O genocídio da população de Gaza, indefesa, sob nossos olhos, 24 h por 24, 7 dias da semana, mês após mês, durante 7 meses.
Quais as motivações dos poderes ocidentais em apoiar Israel, de modo incondicional, nesta matança cruel e indisfarçável?
- Eles mostram assim que se um povo, uma nação, se rebelar contra a ordem mundial que eles instituíram, será tratado sem contemplações, nem direitos humanos, nem leis da guerra, nem haverá a mínima consideração em relação às decisões da ONU e das instâncias jurídicas internacionais.
- Mostram aos seus próprios povos que eles não são protegidos por quaisquer garantias, direitos e liberdades. Que serão reprimidos à bastonada e com prisões as manifestações contra o genocídio, dos estudantes e de todos os que têm conservado sua consciência humana. As cliques políticas dão rédea livre à perseguição contra quaisquer dissidências, passando «leis» inconstitucionais, que instauram o Estado totalitário. Daqui para a frente, irão servir-se dessas leis entretanto criadas, para esmagar qualquer resistência cívica e pacífica dos seus próprios cidadãos.
Não sei a causa exata do que acontece com a generalidade das pessoas e com o seu comportamento, mas parece-me que estão amedrontadas e sobretudo equivocadas acerca do que se está a passar. Nos países ocidentais, as campanhas, primeiro psicológicas e em seguida militares, só podem ser entendidas pela lógica de uma tomada de poder totalitária, com a «capa» habitual de que o fazem para proteger a democracia liberal que, entretanto, eles desfiguram, não restando sequer a aparência de uma ordem democrática.
Existem forças políticas, media alternativos e personalidades, que dizem mais ou menos o que eu digo, acima. O problema, é o efeito maciço sobre os povos da propaganda mediática, conjugada com a brutalidade do poder e sobretudo, a ausência de uma forte oposição institucional (estão quase todos dentro mesmo saco). Por isso, os próximos decénios não vão ser fáceis: Será uma era de guerras «eternas» e com a separação do Mundo em dois.
A globalização será coisa de passado: Haverá circuitos separados para o comércio, tal como o intercâmbio científico, artístico e intelectual, em geral. Será bem pior de a «Guerra fria nª1» e também será diferente. Porque não será uma «guerra fria», mas uma «guerra híbrida» e constante, sem acalmias, sem períodos de negociações intensas entre os dois blocos, será uma espiral descendente em direção à barbárie e ao militarismo, dentro e fora de fronteiras.
sábado, 25 de maio de 2024
PARA QUE ESTÃO A SER SACRIFICADOS MUITOS MILHARES DE SOLDADOS UCRANIANOS?
sexta-feira, 12 de abril de 2024
O CANÁRIO NA MINA DE CARVÃO*
O CANÁRIO NA MINA DE CARVÃO*
Nas últimas semanas, tanto o ouro como a prata, têm subido de forma parabólica, sem cessar. Esta subida é correlacionável com uma situação muito anómala do mercado. Em particular, os acontecimentos geopolíticos indicam aos investidores (apenas 0.5% dos investidores têm ouro nos seus portefólios!) que estamos a passar pelo período mais conturbado, não só do século XXI, como das nossas vidas.
A instabilidade geopolítica foi potenciada por dois acontecimentos:
- O ataque terrorista contra um concerto na periferia de Moscovo, que fez 144 mortos e grande número de feridos, cuja responsabilidade o governo russo atribui aos serviços ucranianos, inspirados por Washington e Londres. Em consequência deste ataque, houve um potenciar e alargar de ações ofensivas russas em toda a Ucrânia.
O segundo evento é o ataque às instalações consulares iranianas, pelos israelitas. Este ataque causou sete mortos diretos, dos quais um general iraniano.
Ao atacar representações diplomáticas, que são salvaguardadas pela convenção de Viena, estejam onde estiverem e sejam de que país for, o governo de Israel indicou que não hesitaria em transgredir todas as regras e convenções internacionais, como aliás o tem feito abundantemente no genocídio que leva a cabo em Gaza, desde o 7 de Outubro passado.
Todo o mundo está a aguardar quando e como será a resposta iraniana a este crime. As representações diplomáticas são consideradas território do país; portanto, o ataque de Damasco pelos israelitas é uma agressão ao território do Irão. É uma agressão brutal, sem dúvida, motivada pelo desespero de terem de retirar de Gaza onde -apesar da chacina causada na população civil - não conseguiram erradicar o Hamas (o seu objetivo declarado).
As pessoas mais bem informadas, assim como grandes empórios financeiros e os bancos centrais, já há muito tempo que começaram a acumular ouro (e prata) para enfrentar a enorme crise económico-financeira-monetária que está agora a começar a desenrolar-se, mas que desde 2008 era visível, aquando do quase-colapso do sistema global do capitalismo e das catadupas de dinheiro oferecido aos grandes bancos sistémicos e aos grandes fundos de investimento.
Como de costume, os últimos a despertar são os pequenos, convencidos de que estão a fazer fortuna na bolsa quando, na verdade, o valor nominal das ações deixou de ter significado, face à perda acelerada de valor (em termos reais de poder aquisitivo) das principais divisas nas quais essas ações estão cotadas.
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* No passado, os mineiros costumavam levar, para dentro das minas, canários engaiolados; se estes morressem, então isso devia-se a concentração elevada de metano, pois os canários eram mais sensíveis. Então, havia que evacuar a mina, antes que ocorresse uma explosão. Ficou a expressão para designar o sinal que antecede a catástrofe em termos financeiros.
segunda-feira, 4 de março de 2024
CRÓNICA (Nº24) DA IIIª GUERRA MUNDIAL - Alargamento dos perigos
Nos últimos tempos, no cenário da Ucrânia, a rutura da frente do lado ucraniano, após a queda de Avdiivka veio expor a total incompetência da liderança política e militar da ditadura que governa a Ucrânia. Com efeito, foi devido ao facto de muitas das defesas fortificadas que deviam estar presentes na linha da frente não existirem, que a perda da vila estratégica de Avdiivka se transformou numa retirada desordenada, em pânico. Muitas dessas defesas só existiam no papel; a isso se resumia a aplicação das ajudas ocidentais. As somas colossais que a OTAN tem vertido no caldeirão ucraniano, têm servido sobretudo para enriquecer ainda mais os muito ricos oligarcas que controlam o poder político, sendo este também possuidor de uma insaciável ganância como se pode verificar pelas mansões luxuosas, da Riviera até Miami, compradas por Zelensky. A imprensa ocidental parece estar a «descobrir» isso e muito mais, como as bases secretas da CIA, em território ucraniano, que desde 2014 espiam o território russo. Nada destas coisas é ao acaso. Estão a preparar a opinião pública para a derrota inevitável, que eles - no entanto - quiseram ocultar, depois de terem feito uma guerra de propaganda demente, enaltecendo as capacidades das forças militares ucranianas e diminuindo de forma grotesca as capacidades do lado russo.
Mas, infelizmente, perante uma opinião pública, em larga percentagem," lobotomizada" (castração mental), os sucessos e insucessos da guerra russo-ucraniana irão logo sumir-se no buraco negro de sua não-memória.
Entretanto, na faixa de Gaza e nos restantes Territórios Ocupados, o morticínio dos inocentes, das mulheres e crianças, assim como de não combatentes, prossegue perante a hipócrita atitude dos países ocidentais, em primeiro lugar dos EUA. Seu presidente, embora fale em mitigar os sofrimentos das populações civis, vai fornecendo as bombas e outro material a Israel. No Conselho de Segurança da ONU, os EUA vão chumbando as resoluções (penso que já vai na 4ª, que chumbam) de cessar-fogo, nesta guerra cruel de Israel contra a população de Gaza.
Nos países da Europa, os tais que eram «civilizados», os dirigentes multiplicam os sinais inquietantes de deriva militarista e autoritária: Macron, organiza uma cimeira, no fim da qual e sem dizer cavaco aos participantes, aventa a hipótese de serem colocadas tropas dos países da OTAN no teatro de guerra da Ucrânia, para evitar a derrota total do regime corrupto e fascista de Zelensky. Todos os participantes - numa reviravolta de ópera-bufa - apressaram-se a negar que tenham jamais concordado com tal hipótese.
Porém, dias depois, os serviços secretos russos gravaram e transcreveram uma conversa entre dois generais alemães, em que estes debatem a hipótese de bombardear (eles, alemães, diretamente) a ponte da Crimeia, ou - em alternativa - localidades em território russo, que nem sequer são internacionalmente disputadas. O chanceler Scholz veio confirmar a autenticidade do diálogo interceptado. Porém, a grande preocupação dele não era o seu conteúdo, mas o facto duma tal falha de segurança ter sido possível. Entretanto, é quase certo que os ucranianos já possuam os mísseis alemães Taurus, de longo alcance.
Tudo está a postos, do lado ocidental, para que a guerra russo-ucraniana se estenda às potências europeias da OTAN, já não apenas em fornecimento de material de guerra, o que já se tem feito desde o princípio do conflito, como também agora com tropas especiais no terreno, com competência para manipular armamento sofisticado, que exigiria muito tempo de treino aos militares ucranianos. Esperemos que esses engenhos de morte de longo alcance não estejam disponíveis a tempo de adiar o final desta cruenta guerra.
Os ucranianos, a partir de certo ponto, vão ficar incapazes de colocar no terreno, tropas - em quantidade e qualidade - mínimas para defender as suas posições. Nessa ocasião, não poderão continuar e terão de pedir negociações de paz. Alguns analistas calculam que este desfecho ocorra, o mais tardar, em Agosto deste ano.
Quanto à campanha genocida de Israel, apoiada pelos EUA e países vassalos, será um massacre e uma crueldade sádica completamente inúteis, no que toca aos interesses dos sionistas e vai (indiretamente) colocar em risco Israel, enquanto Estado-nação.
Para avaliar a monstruosidade desta campanha genocida, leia ESTE artigo , de Mike Whitney.
No que toca ao campo imperialista, globalmente, será uma viragem que vai isolar os EUA e países alinhados com eles.
Os BRICS estão cada vez mais sólidos: em termos de prestígio e de simpatia dos muitos países do Sul Global - coisa de que o público ocidental não se apercebe, devido a ocultação e deturpação nos media. Mas, também estão os BRICS em vésperas de lançar o seu novo sistema de moeda internacional, destinado a enterrar definitivamente o dólar.
Entretanto, as entidades financeiras internacionais (FMI, Banco Mundial e o BIS), estão moribundas: Não só estão incapazes de lançar a tão propalada divisa digital emitida pelo banco central (CBCD), como já não conseguem capturar os países fracos. Estes sabem que podem obter empréstimos, em condições muito mais favoráveis, junto do banco dos BRICS e/ou diretamente, em países poderosos (sobretudo, a China).
Alguns têm esperança de que a OTAN se afunde, se desfaça, uma vez que se perceba a sua inútil e antiquada maquinaria militar e a sua ainda mais antiquada doutrina estratégica (na continuidade da 1ª Guerra Fria). Parece-me que o sucesso do campo «multipolar» ultrapassa em muito o domínio militar, pois se verifica ao nível da tecnologia (civil ou militar), da produtividade e inovação, do comércio mundial, da economia (crescimento real do PIB dos seus diversos países) e da diplomacia (cimeiras dos BRICS e da OSX, cada vez mais participadas).
Os estados-maiores do campo imperialista estão - de certeza - bem informados sobre isso. Não podem fazer nada de significativo em relação a muitos dos aspetos acima indicados. Apenas podem desencadear e acirrar guerras regionais. Não o fazem como etapa para uma guerra nuclear, mas estão a tornar cada vez maior a probabilidade desse «armagedão».
Com efeito, os melhores especialistas consideram que uma guerra nuclear tem muitas probabilidades de se desencadear por engano, por deteção errada de um ataque nuclear pelo outro campo, sendo demasiado pouco o tempo para deliberar se tal é um ataque efetivo ou apenas um artefacto.
Estamos assim, neste século tão sofisticado, à mercê de uma falha nos sistemas automáticos de deteção de mísseis balísticos.