O OURO DOS BANCOS CENTRAIS

O ouro que está à guarda dos bancos centrais, na Europa, pertence ao respectivo povo. Não pertence ao governo, não pertence ao Banco Central Europeu (BCE), nem à Comissão de Bruxelas. É preciso reafirmá-lo neste momento, pois os governos querem usá-lo na guerra contra a Rússia. Uma guerra que não conta com o apoio da maioria do povo europeu. Os governos procuram a guerra para não ter de prestar contas da sua gestão catastrófica das economias. A guerra serve para disfarçar a bancarrota; esta pode facilmente (e falsamente) ser atribuída à guerra.
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quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

O MEDO E COMO O COMBATER






A configuração das relações de força internacionais, a agressividade crescente da media, que atiça os conflitos em vez de os tentar explicar, a preocupação permanente com a sobrevivência de muitos milhões, que os leva a viver numa prisão de trabalhos forçados, esgotando-se e não conseguindo satisfazer as necessidades elementares, o crescimento de toda a espécie de patologias do foro psíquico... Todos os fenómenos acima são sinais dum desequilíbrio fundamental que atingiu a humanidade.

Mas que fenómeno? Que desequilíbrio?

- Penso que - para além de factores materiais, objetivos, jogam factores da área afetiva-cognitiva.

Estes últimos factores costumam ser desprezados, em geral, talvez por os indivíduos do século XXI estarem fortemente condicionados a pensar em termos materialistas. Não no sentido filosófico de materialista, mas no sentido de apenas ter interesse pelos aspetos materiais da vida, aquilo que se chama de «materialismo vulgar». No entanto, este tipo de materialismo tanto ocorre em pessoas ateias, como em pessoas aderindo a uma crença religiosa.

Mas é justamente nesta área afetiva/cognitiva, que se dão grande parte dos traumas, embora não imediatamente visíveis. É nestes domínios que as pessoas se tornam incapazes de conduzir a sua vida, de conservar o sentido do real, de se relacionar humanamente com os outros humanos.

As pessoas que estão sujeitas a enorme pressão (e são cada vez mais), são muitas vezes incapazes de compreender o que se passa com elas e com o seu entorno. Se o fossem, na mesma teriam dificuldades e teriam de lutar, mas isso não as faria bascular para um desequilíbrio crónico, para um refúgio fora da realidade, para um regresso a aspectos da psique infantil. Todos estes mecanismos são resultantes duma incapacidade continuada em fazer face à realidade .

Por isso, são destruidores os traumatismos de guerra, ou de períodos prolongados de violência: Porque sobre tal violência, as pessoas não têm hipótese de agir. São situações em que a sobrevivência parece dever-se ao acaso e as acções que se tomarem, tanto podem ser efetivas na salavaguarda individual, como conduzir ao contrário, ou seja, à morte.

Um caso particular de guerra, é a guerra económica lançada pelas «elites» do capital e do Estado sobre os mais frágeis, os destituídos, os que dependem do salário para sobreviver e sustentar a família. Este terrorismo económico, prolonga-se no tempo e no espaço, para que as pessoas não vejam que ele é uma estratégia deliberada da classe possidente. Porém, é nas sociedades ocidentais, ditas democráticas, que a modalidade «guerra económica» mais se tem feito sentir. As garantias de emprego, de salário, de pensão de reforma, e outras, consideradas desde os anos 60 (há 60 anos, pelo menos!) como «naturais», foram paulatinamente retiradas ou abastardas, pelos senhores do capital e do Estado, de forma que isso não suscitasse demasiada indignação, usando todas as manhas, desde jogar com a inflação monetária, às sucessivas modificações das leis. Este expoliar fraccionado conduz a que as pessoas sejam defraudadas daquilo que lhes tinha sido prometido, porém sem que elas tenham realmente compreendido como foram defraudadas.

A insegurança na satisfação das necessidades básicas vai conduzir as pessoas a uma série de mecanismos de «auto-defesa» que são apenas ilusões, ou mecanismos simbólicos. Assim, interioriza-se a angústia, o medo constante mas indefinível, de impossibilidade de se manter as condições mínimas económicas e um nível básico de satisfação das necessidades.

O bombardear pela publicidade comercial e, sobretudo, por órgãos da media transformados em máquinas de condicionamento de massas (ou de lavagem ao cérebro), faz com que a maior parte das pessoas sinta os medos sem a mínima capacidade de análise crítica e muito menos de distanciamento. O efeito, é que estas pessoas vão reagir automaticamente a certos estímulos, a palavras ou imagens, de forma condicionada, desencadeando respostas reflexas, que podem parecer genuínas, mas que foram incutidas.

As pessoas condicionadas não aceitam a realidade. Esta foi substituída por uma grelha de leitura codificada pelo seu entorno e reforçada pela média corporativa, de tal forma que rejeitam liminarmente tudo o que saia fora do «molde» interior. É como se todos fôssemos ensinados que «2+2= 5» e alguém nos viesse dizer que não, que não é 5, mas 4. Tal indivíduo seria visto como louco, extravagante ou até subversivo ... pondo em causa a «normalidade».

A coação psicológica é muito mais importante que a coação física. Embora esta seja dura e brutal, sabemos de onde parte e quem a exerce, mas a coação psicológica é muito mais subtil: As pessoas que amamos, inclusive, podem ser veículo dessa coação, pensando que o fazem para o nosso bem, para nossa proteção...

A figura tutelar da «autoridade», reproduzindo a imagem interior que tivemos na fase precoce da nossa vida, em relação a pai e mãe, vai imiscuir-se de forma subreptícia: Através de símbolos, de gestos, de palavras que ativam esse condicionamento da infância e desencadeiam uma reacção automática de submissão. É portanto compreensível que muitas pessoas se projetem como «filhos» e «filhas» de pais e mães simbólicos, que são afinal os poderosos.

A emancipação em relação a estes esquemas de poder é possível, mas a grande maioria não irá fazê-lo. Na prática, é necessário ter-se um projeto de libertação individual e de autonomia, que poucas pessoas adoptam. Por outro lado, na sociedade fragmentada e atomizada contemporânea, certas pessoas podem ter um tal projeto. Porém, ele só se poderá concretizar se houver convergência de vários indivíduos para a construção conjunta de projetos explicitamente destinados a instaurar uma prática social diferente. Existem, mas são minoritários. Creio que será difícil desenvolver uma dinâmica que os transforme em prática corrente.

Aquilo que é possível fazer (e pude verificar, em várias circunstâncias), é criar espaços conjuntos, onde haja troca de bens e serviços, ao mesmo tempo que se desenvolvem capacidades de interação, de auxílio mútuo, de audição atenta do outro e de debate de ideias sem censura, mas com autodisciplina, onde ninguém se sinta coagido ou inibido.

Um projeto para singrar não tem necessariamente de ser do agrado da maioria, nem deve implicar que a maioria se possa nele participar. Os núcleos que dinamizarem estes projetos grupais, devem ter flexibilidade e uma grande clareza de objetivos: 
- Queremos desenvolver um projeto assim, para quê? E como ? E em que área(s)? E para que fim (fins)? ... etc.




sábado, 25 de outubro de 2025

MEARSHEIMER: PAZ SABOTADA PELOS GOVERNOS OCIDENTAIS

 


O Prof. Mearsheimer apresenta aqui um discurso notável: o seu realismo mostra como os dirigentes ocidentais falharam por ausência de estratégia. Um discurso que desmonta as retóricas e ações inconsequentes.

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Comentário de Manuel Banet:

Os políticos europeus, que dirigem os governos do Reino Unido, Alemanha e França, são tão medíocres e falhos de visão em questões internacionais, como ao nível interno. 
Durante decénios, o poder «liberal-democrático» habituou-se a governar à custa de slogans, de efeitos pirotécnicos, de «campanhas morais», etc... Sem dúvida, esqueceram as suas funções, os seus deveres principais como governantes. Mas, sobretudo, nunca estiveram confrontados com situações dramáticas, para eles próprios e para seus regimes. Na Europa (e no Mundo), vivem-se agora momentos trágicos e decisivos para o futuro, não apenas  do continente, como da humanidade.
Porém, os partidos de poder, que mais têm empurrado para a guerra, são liderados por medíocres. Por pessoas que, em situações trágicas e de grande perigo, não fazem senão perorar frases-feitas, de retórica vazia, como as que produziram durante toda a sua carreira. Isto é o que se pode esperar deles. Nem, ao menos, estão imbuídos duma qualquer visão histórica. Eles navegam ao sabor das conveniências. E as conveniências, digamos francamente, é manterem-se a flutuar na esfera do poder (enquanto governo, ou oposição), evitando a ira popular. O que mais temem, é que venham a conhecimento público suas inúmeras manobras  protegendo os interesses de grandes financeiros e industriais, e assim comprando a sua protecção. Não vou aqui demonstrar, de novo, como a chamada «democracia liberal», cada vez tem menos de «democracia», ou de «liberal». Alás, basta ver o que se passa nos países tidos como «faróis da democracia», naquilo em que se transformaram.
O fracasso consiste não só na guerra Ucrânia-Rússia, em si mesma, como no bloqueio da sua resolução, por via dum acordo de paz que confira estabilidade e segurança a todos os países europeus, incluindo a Rússia.
Este fracasso é inteiramente devido à pusilanimidade de chefes de governo, de altos responsáveis da OTAN e de toda a pseudo-elite que tem produzido campanhas de ódio e de falsificação dos factos no terreno. 
Qualquer pessoa, independentemente das suas convicções, deveria desprezá-los, pois eles causaram as conversações resvalarem duas vezes para o impasse, daí resultando a continuação da guerra e seus muitos milhares de mortos (1ª vez em Istambul, em abril de 2022; 2ª em Budapest em out. de 2025). 

A propaganda de guerra pode enganar um certo número de pessoas, durante um dado tempo; porém, nunca poderá enganar todas as pessoas, durante todo o tempo.

quarta-feira, 1 de outubro de 2025

A «LÓGICA» DA GUERRA




A «lógica» da guerra não é muito complicada de se perceber. Mas, para tal, é necessário fazer tábua rasa dos argumentos sobre «quem fez isto, quem fez aquilo» e deixar de se atribuir responsabilidades, consoante as simpatias ou antipatias pessoais, ideológicas e outras.

Com efeito, a guerra é um encadeamento de atos preparados meticulosamente, determinados pelos poderes, que estão convencidos de que precisam dessa guerra para chegar aos seus fins. Só que estes fins nunca são claros, nem são enunciados de forma que permita ao comum dos mortais entender o que se passa. O processo atual da guerra está relacionado, como sempre, com uma disputa pela hegemonia. Antes, a hegemonia era relativa a um espaço limitado geograficamente. Mas, a partir da 1ª Guerra Mundial, de forma reeiterada com a 2ª Guerra Mundial e desde então, com a chamada «Guerra Fria», tratava-se de um jogo global, destinado a obter o controlo dos principais recursos do planeta, ou seja, alcançar  a hegemonia mundial. 

Nos dias de hoje, a hegemonia que esteve nas mãos dos EUA e seus aliados/vassalos da OTAN, durante algum tempo (desde 1991 até à primeira década do século XXI), tem sido posta em causa. Tal controlo tem escapado cada vez mais aos ocidentais. Antes, muitos deles possuíram colónias ou eram senhores de países neo-coloniais.

Tem-se registado a perda de influência no comércio mundial, dos países do «Ocidente» e o aumento de utilização de divisas próprias pelo Sul Global, neste comércio e destronando o dólar. No desenvolvimento industrial e na capacidade de inovar em domínios de ponta, os países formando o «coração» dos BRICS, têm mostrado o seu dinamismo. Este tem sido tal, que exercem uma atração sobre os múltiplos países do «Sul Global». Surge a esperança de um contexto internacional mais equilibrado. Um sem número de fatores mostram que o Sul Global e os BRICS são uma força económica e estratégica em ascenção e que o chamado Ocidente, está em decadência, em colapso mesmo, a julgar pelas revoltas que se multiplicam. 

Tipicamente, nos países cujos governos estão ameaçados, a oligarquia que os domina transforma as leis e dispositivos legais, reforça os instrumentos de repressão, de modo a que a cólera dos descontentes não se transforme em insurreição. Para guardarem as aparências, vão impor estas restrições com um pretexto, que é o mesmo, desde sempre: O inimigo externo, os agentes de subversão a soldo desse inimigo externo, a necessidade de mais despesas militares e de cortes nos orçamentos sociais, para fazer face à ameaça (que pode ser puro delírio) .

A UE, sob a batuta de Ursula Von der Leyen, está em estado de quase ruptura; certas oligarquias nacionais não estão dispostas a «ir para o fundo com o navio» e já começaram a criticar as medidas tomadas pela presidente (não eleita) da Comissão Europeia. 

As sondagens de opinião mostram que os povos não têm confiança nos seus líderes; sabem que têm sido utilizados como rebanho de ovelhas, sujeitos a lavagem ao cérebro, sobre «os maus dos russos, o terrível Putin, etc.» 

A guerra é a saída para a oligarquia eurocrática, porque assim poderá impor as restrições que quiser às liberdades e ao funcionamento das instituições nos seus países, poderá espremer ainda mais os trabalhadores e a classe média, para obter os fundos necessários para as forças armadas. Terá um meio muito prático para calar quem discorde destas medidas, acusando essas pessoas de serem agentes do inimigo, traidores que merecem a condenação à morte. Deste modo, será fácil intimidar os que, não estando de acordo com as políticas, não se sintam dispostos a desempenhar o papel de mártires. 

Nós todos podemos saber qual o momento em que uma dada guerra é desencadeada. Penso que todas as pessoas atentas concordam que as palavras de guerra estão em todas as bocas dos responsáveis políticos europeus.  Mas, ninguém pode prever quando uma guerra, seja ela qual for, irá terminar. 

As consequências mais terríveis duma guerra são para os pobres, para os trabalhadores, para as pessoas que não contribuíram para o estado de coisas presente. Por isso, é justo que a guerra - em si mesma- seja criminalizada: Os que a desencadeiam ficam nas suas poltronas, gabinetes, salas de imprensa, a fazer o papel de «chefes de guerra», como se fossem eles a lutar no campo de batalha. Entretanto, no verdadeiro campo de batalha (e fora dele, em «danos colaterais» envolvendo os não-combatentes), as pessoas são mortas, feridas, feitas em pedaços, mas pouco ou nada se fala delas; só para lhes dirigir palavras ocas de agradecimento, quando elas deram o que tinham de mais precioso, a própria vida. 

Não existe guerra justa, porque as guerras são fabricadas pelas oligarquias e destinam-se a ter os súbditos bem controlados. Os pretextos ideológicos, políticos, económicos, etc. são apenas pretextos. As somas gastas na guerra não servem para produzir mais riqueza, só servem para armas e munições e estas, ou ficam armazenadas, ou são utilizadas. Neste segundo caso, vão causar mais destruição de vidas e do que foi construído por gerações de trabalhadores pacíficos. Nenhum país pode melhorar sua economia com o chamado «Keynesianismo de guerra». É uma forma de levar as pessoas a acreditar que a guerra possa fazer sentido económico. Mas isto é uma enorme falácia!


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Relacionado:


PS1:

Veja o vídeo de 09 de Outubro de 2025 e repare como os factos relatados confirmam o que eu disse no artigo acima.


PS2: Leia o artigo abaixo, que nos dá a medida da evolução de um «Estado de Direito, democrático» para um «Estado de Excepção, totalitário»
https://www.rt.com/news/626425-eu-russia-war-scare/


PS3:

Prof. Jeffrey Sachs https://youtu.be/6-M2u6xMoGk?si=x8IwgUAjwbXc0-T3

segunda-feira, 7 de julho de 2025

AS GRANDES INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS PREPARAM-SE PARA O «RESET» MONETÁRIO


 Numa linguagem acessível, Clayton Morris explica qual o papel do ouro, que agora é comprado às centenas de toneladas pelas grandes empresas financeiras, os bancos sistémicos, os fundos de investimento e empresas globais, como a Blackrock. 
Trata-se - para eles - de tomar posição, para serem «emprestadores de último recurso», em relação a todos os outros (bancos, sociedades financeiras, etc.), aquando do colapso que se aproxima.

 

terça-feira, 24 de junho de 2025

O SEGUNDO CHOQUE PETROLÍFERO (PROF. WARWICK POWELL)

Por que razão a China está melhor posicionada que o Ocidente no caso de uma disrupção no estreito de Ormuz.

Jun 24

No teatro volátil da geopolítica energética, poucos pontos de estrangulamento assumem tanta importância como o Estreito de Ormuz. Diariamente, cerca de 20 milhões de barris de petróleo não refinado (crude) e cerca de 20% do fornecimento mundial de petróleo, passam pelo estreito entre o Irão e Omã. Não é uma mera artéria regional; é a aorta do sistema energético global.

Enquanto as tensões se espalham e agudizam no Golfo, os cenários que antes pareciam remotos estão agora visíveis. Entre estes, está o encerramento do Estreito de Ormuz, uma ação que poderia cortar um quinto do fornecimento global de «crude». O Presidente dos EUA, Donald Trump virou-se para os media sociais vociferando contra as subidas de preços, enquanto, apelava ao Departamento de Energia dos EUA, com o seu slogan: “DRILL, BABY DRILL!!! And I mean NOW!!!” No momento em que transparecem notícias de que o parlamento iraniano aprovou medidas para encerrar o estreito de Ormuz (somente carecendo da aprovação do líder supremo para surtir efeito), o vice-presidente dos EUA JD Vance interrogava-se em público porque o Irão faria isso, argumentando que a economia do Irão depende do movimento do petróleo via Estreito de Ormuz. Parece que o VP não concebeu uma possibilidade do Irão exercer um fecho discricionário, em que os seus próprios navios seriam livres para circular.

Em qualquer caso, enquanto os participantes nos mercados e os governos estão a avaliar os custos de tal risco se concretizar, poucos parecem ter a noção da escala da deslocação decorrente de tal acontecimento. Os primeiros efeitos teriam implicações para os preços da energia e para a inflação; e depois, temos os efeitos numa segunda fase, com reverberações através do sistema financeiro e do mercado de obrigações do Tesouro (as «treasuries») dos EUA.

[Leia a continuação do artigo do Prof. Powell, em inglês, abaixo]



Shockwave Round 1: A Disruption of Historic Proportions

At present, approximately 20 million barrels per day (mbpd) transit Hormuz. Of this, around 75% heads to Asia, with China alone accounting for an estimated 6 mbpd. Should the Strait be shut entirely - and should no exemption be granted to Chinese shipments - the global market would face a sudden and unprecedented loss of up to 20% of daily crude supply.

This dwarfs previous oil shocks. During the 1973 Arab oil embargo, a 4–5% cut quadrupled prices. The 1979 Iranian Revolution saw a similar loss drive prices up more than 150%. In 1990, during the Gulf War, a disruption of around 6% pushed Brent crude from $15 to over $40 in a matter of weeks.

A 20% supply disruption, even if partially offset by strategic reserves, would likely drive prices into the $200–250 per barrel range. These are levels unseen in nominal terms, and devastating in real terms for most economies.

Two Scenarios: China Exempted or Not

As talk of closures bubble away, there is speculation that shipments of oil to China may be exempted. A similar approach has been evident in the Red Sea, where the Yemen-based Houthis have mounted a two-year campaign of targeted disruption that has largely seen ‘friendly’ shipments left alone.

If Chinese-bound oil is allowed to flow, we would see a net global market loss of around 14 mbpd, about 14% of total supply. This scenario would still send prices soaring, likely toward $150–200 per barrel, triggering energy-driven inflation spikes and forcing central banks into a grim choice between combating inflation and sustaining fragile growth. Global inflation would spike 2-4 percentage points.

But if China is also cut off - and must re-enter the global spot market to cover its 6 mbpd loss - the dynamics shift further. China would become a marginal buyer of last resort, aggressively bidding for African, Russian or Latin American barrels. The scramble for non-Gulf crude would tighten markets, deepen the price shock, and intensify global competition. In this case, prices would likely breach the $200–250 level, albeit potentially briefly. Global inflation could head toward 4-6%.

China’s Relative Resilience

Yet, China is not the same oil-dependent economy it once was. Its energy system is evolving rapidly, giving it tools and buffers that the U.S., UK, and EU currently lack.

China’s oil use per unit of GDP has been falling for years, driven by rapid electrification of transport and industry. With EVs now making up over 40% of new car sales, and record renewable energy additions in 2024 (over 300 GW), crude oil is becoming a less central component of its energy and economic structure.

This is an energy structural change that many have noted, but few have commented on in terms of the transformation of energy sovereignty that this implies.

China’s crude oil imports peaked in 2020 at ~11.1 million bpd, and have flatlined or modestly declined since then. In 2023 imports were ~11.3 million bpd, and in 2024 they were ~11.04 million bpd (–1.9% year on year). Furthermore, China’s domestic refining capacity has surpassed 1 billion tonnes / year, while internal demand growth has slowed. China increasingly exports refined products rather than importing crude to meet domestic consumption. Domestic oil production has stabilised. Crude production has plateaued but remains significant (~4.3 million bpd), and shale and enhanced recovery technology have stabilised output in key basins (e.g., Daqing, Tarim and Bohai).

China holds an estimated 1.0–1.2 billion barrels in combined strategic and commercial reserves, equivalent to 90–100 days of imports. It also benefits from state-administered pricing mechanisms, which allow it to buffer domestic consumers from international volatility. In contrast to the markets in the West, China can temporarily shield households and critical industries from fuel inflation through administrative allocation and price controls.

China enters any oil shock from a position of ultra-low inflation, with CPI running under 1% in early 2025. This gives policymakers more room to absorb price pressures without unleashing second-round effects. Whereas Western governments rely on interest rates and subsidy schemes, China can deploy direct administrative levers: mandating priority fuel allocation, subsidising logistics chains and coordinating imports through state-owned enterprises. These tools enhance stability in a crisis and can quickly redirect domestic supply chains.

The West’s Structural Exposure

By contrast, the U.S., UK, and EU are structurally exposed. These economies face a difficult set of conditions, defined by the following features:

  • Tighter energy markets, with reduced reserves (notably, U.S. SPR levels are near 40-year lows). Other OECD nations (such as Japan, Korea and the EU) may contribute, but can’t cover 20 mbpd with total IEA coordinated releases historically maxing out at ~6–7 mbpd, leaving a gap of ~13–14 mbpd;

  • Higher inflation baselines, particularly the UK, where core inflation remains sticky though it is fair to say that post-pandemic public sensitivity to inflation in the EU and U.S. should not be underestimated;

  • Greater reliance on market-based energy pricing. This limits the ability to insulate consumers. Alternatively, the political system will confront increased demands for fiscal interventions that may impact other objectives or public policy priorities; and

  • More fragile political consensus on fuel subsidies or rationing should it come to that.

A sudden oil spike to $200+ / bbl would likely add 2–4 percentage points to headline inflation in these economies. Petrol/gasoline, diesel, heating oil, jet fuel costs would surge. In the U.S., gasoline could jump to $6–8 per gallon; and in Europe and the UK, diesel and petrol prices would rise €0.50-€1.00/litre or more.

There are likely to be flow-on effects as a result of energy cost spikes and supply chain disruptions, as recently confirmed in a research paper by IMF researchers. In that paper, they examined inflation in 21 leading countries concluding that “the international rise and fall of inflation since 2020 largely reflected the direct and pass-through effects of headline shocks”. These shocks “occurred largely on account of energy price changes, although food price changes and indicators of supply chain problems also played a role.”

For the U.S., where rates are already tight, this would stall or reverse easing cycles and raise the risk of recession. For Europe and the UK, it would compound already fragile growth conditions and resurrect the spectre of 1970s-style stagflation.

A Reconfigured Global Market

If the crisis endures beyond a few weeks, expect a reshuffling of oil market alliances and logistics. China may negotiate enhanced supply corridors with Russia, Central Asia and African producers. It could also seek to broker new security arrangements for energy flows through the Indian Ocean and overland. At the same time, China could aim to expand RMB-denominated trade in energy, further eroding the dollar’s dominance. In short, China could convert its relative stability into geopolitical leverage, positioning itself as a central broker in the new energy order. The Shanghai Oil and Gas Exchange may get more action than it expected to see in the short term.

While everyone loses in an oil shock, not everyone loses equally. China’s structural reforms over the past decade, its strategic buffers and administrative capacities give it a measure of insulation that the liberalised economies of the West currently lack. If the Strait of Hormuz closes - and global prices surge - the West may find itself not only economically exposed, but also strategically outflanked.

Demand destruction at $150+ / bbl could slow industrial consumption in OECD economies, further hampering industrial output. Indeed it is conceivable that any prolonged energy supply shock of the type discussed here could be the final nail in the coffin for many western European enterprises hanging on by their nails. This is a death spiral. On top of this, speculative flows would amplify price volatility with hedge funds and traders pushing pricing beyond “fundamentals.” Some in Europe see the writing on the wall; Hungarian PM Orban, for example, is calling on the EU to drop its planned ban of Russian oil by 2027. Slovakia is backing Hungary on this.

Meanwhile, emerging markets are likely to suffer from both rising oil import costs and global capital outflows, with some exposed to worsening food insecurity risks as fertiliser and logistics costs rise.

Shockwave Round 2

The second, and potentially more destabilising shockwave occasioned by a truncation of daily crude supply in the order or 20%, will fall in the heart of the global financial system: the U.S. Treasury market. What begins as an energy crisis could swiftly mutate into a full-spectrum financial crisis, with consequences for inflation, sovereign credibility and the long-term role of the U.S. dollar.

A Market Already Under Strain

The Treasury market is already under pressure. The U.S. is running structural deficits exceeding $1.5 trillion annually. Treasury issuance is at record highs, just to keep up with debt rollovers and net fiscal appropriations. Liquidity in off-the-run Treasury securities is thin, while the market relies increasingly on leveraged speculators (hedge funds using basis trades) to function.

Foreign buyers, once the bedrock of U.S. debt demand, are in retreat. China, Japan, and oil-rich Gulf states have all reduced holdings of Treasuries in recent years. The U.S. domestic market, via primary dealers and money market funds, now absorbs more of the burden, but it does so with shorter duration appetites and heightened risk sensitivity. I have explored these issues at length elsewhere.

Treasuries in the Crosshairs

A sudden spike in oil to $200+ / bbl injects immediate inflationary pressure into the U.S. economy. Gasoline prices could surge above $7 / gallon. Freight, food, plastics and fertilisers would all reflect the new cost base. Within weeks we could see headline CPI rising 2–4%, depending on pass-through intensity. Add to this the inflationary effects of tariffs and we have powerful forces at work reducing USD purchasing power. Market expectations (or hopes) for Fed rate cuts would vanish. Indeed, interest rate hikes might return to the table.

Real yields on Treasuries would need to rise to keep pace with inflation. But that means falling bond prices, and fast. The Treasury market, already crowded with supply, would then face waning demand, rising yields, and panic-driven volatility. In short: the conditions for a sell-off ripen. In a fragile market structure, this is not a distant risk. We’ve seen shadows of it before: in the March 2020 Treasury market dislocation, and the UK gilt crisis of 2022, where leveraged positions and margin calls cascaded into liquidity breakdowns.

In this scenario, the Federal Reserve becomes trapped. On the one hand, raising rates to tame oil-driven inflation could deepen bond losses, risking a full-blown market seizure. On the other hand, if the Fed intervenes with QE or yield curve control, it would be accused of monetising inflation, triggering a loss of confidence in the dollar itself. Either path further undermines the safe-haven status of Treasuries, long the foundation of global pricing benchmarks, collateral frameworks and central bank reserves.

China’s Asymmetric Advantage

Meanwhile, as noted, China may face high oil prices and energy volatility, but not only is its energy structure better equipped to cope with this, on the financial front, it is less exposed to Treasury market contagion. This is because its sovereign debt is domestically held, with minimal foreign influence, and China doesn’t rely on offshore capital markets to offset deficits. The People’s Bank of China can act with direct fiscal-monetary coordination, avoiding the incoherent two-handedness of Western policy.

A post-shock environment may accelerate China’s de-dollarisation strategy. The move to RMB-denominated oil deals with Russia, Iran and others would deepen. The attractiveness of yuan-settled trade for the Global South would rise, especially if the dollar becomes volatile. China’s role as a broker of new multipolar financial flows would expand, from energy payments to infrastructure and development finance. It is unsurprising that the head of the PBOC, Pan Gongsheng, has recently discussed the importance for global financial stability of expanding currency multipolarity.

A Crisis of Confidence in the Dollar

The first oil shock of the 21st century will not be confined to petrol (gas) stations. Its second-order effects - in bond markets, central banks and global capital flows - will be no less profound. For decades, the U.S. dollar and Treasuries were considered immune to domestic dysfunction, protected in effect by sheer global dependence. But that reliance has become a double-edged sword. In a crisis born of oil and spread through debt, the global financial system’s historic anchoring mechanisms will come under further strain. The rethinking will only accelerate.

And once again, while everyone will feel the pain, China is arguably best placed to absorb the shock, reshape the rules of engagement and emerge with enhanced leverage in a reconfigured global system. As history shows, oil shocks often rewire global power. The next one may do just that - only this time, China could emerge as the stabiliser. The West, in contrast, must prepare not only for an inflationary spike but for a crisis of confidence in its own financial core.

No wonder Trump and Vance were in a hurry to tone down the risk of the Strait of Hormuz being blocked, and to find pathways to de-escalating a conflict that could rapidly spiral out of control.

quarta-feira, 28 de maio de 2025

A FÍSICA DAS BOLHAS ESPECULATIVAS

 Desde já quero afirmar que há zero hipóteses da bolha do crédito não rebentar. A hipótese de ser desinflada suavemente, sem haver grandes cataclismos nos mercados e na economia mundial, é apenas um sonho que poderá servir para tranquilizar pessoas especuladoras e gananciosas, daquelas que costumam embarcar na narrativa mais fantasista, mas que satisfaz o seu insaciável  apetite por mais e mais lucro.

Então, qual é a física (e não a metafísica!) das bolhas especulativas?

- As bolhas não têm um substrato real, ou seja, são expansões de preços, de capitalizações bolsistas ou valorações nos mercados, que não têm por base um verdadeiro acréscimo de valor da coisa especulada. Quer sejam ações, títulos do tesouro, túlipas, quadros de artistas «na moda», objetos de coleção, ou outro veículo qualquer, quais são os fatores psicológicos* subjacentes? 


1º - A perceção de que um ativo está continua e persistentemente subindo de preço. Temos os exemplos das ações cotadas no NASDAQ, das cotações do Bitcoin e outras criptomoedas, etc.

2º - A perceção de que, devido à enorme procura de um certo item, este se torna mais e mais raro no mercado, quer isto seja verdade, quer não. Temos os exemplos do ouro e dos metais preciosos. No longo prazo, realmente, vai havendo menor quantidade de metal precioso, extraído das minas, ou por descobrir. Mas nos semi-condutores ou «chips» é diferente. Neste caso, há estrangulamentos causados por sanções e guerra comercial, mas ao nível da produção dos mesmos não há diminuição, apenas roturas nas cadeias de abastecimento.

3º - A perceção de que um pequeno investimento pode fazer a fortuna de qualquer um. Esta ilusão é muito difundida no público que se deixa seduzir pelas criptomoedas. Em geral, a procura  de ações já claramente sobrecotadas, o «panic buying», é motivada pelo receio de que «todos vão beneficiar e ficar mais ricos. Se eu perder a oportunidade, irei ficar para trás». 

4º - A perceção de que «desta vez será diferente». Claro que os episódios especulativos são únicos num certo aspecto, as circunstâncias particulares nunca se repetem. 

Porém, as diferentes fases do ciclo estão sempre presentes: 

1- A "descoberta". 2- a "subida exponencial". 3 - as "oscilações no topo". 4 - a "descida brusca e inesperada" atribuída ao acontecimento X,Y ou Z. 5 - o "ressaltar do ativo" dando oportunidade a novos investidores entrarem. 6- A descida fatal, acentuada e prolongada . Todos querem vender, mas só poderão fazê-lo com grandes perdas. 7- O «ressalto do gato morto», uma transitória inversão da trajetória descendente que faz com que alguns acreditem que ainda poderá haver uma "subida espectacular". 8 - O cancelar do sonho; quando o "mirífico veículo para enriquecer toda a gente" se torna  odiado e desprezado por todos.


No caso da expansão mundial do crédito (= da dívida) estamos na fase em que muitos investidores já estão com receio, já muitos desconfiam das manobras dos bancos centrais, mas em que poucos têm a lucidez de analizar o fenómeno no seu conjunto e compreender a natureza desta enorme bolha. Com efeito, a bolha do crédito impulsiona todas as outras (a bolha do imobiliário, a bolha das bolsas de valores, etc.) e perpetua-se devido a um erro de avaliação dos indivíduos e mesmo das nações. 

Um indivíduo fica iludido (num contexto de inflação) quando pensa: «tenho hoje mais notas de banco, do que na semana passada, portanto sou mais rico». 

Uma nação também é vítima da expansão sem limites do crédito, através de falsificação do cálculo do PIB. Este, em todos os países,  é manipulado: Minorizam sempre o grau de inflação para que o PIB, mecanicamente, apareça como positivo, quando na realidade, está em contração.

Porém, há quem jogue o seu jogo de enganar as massas, para daí tirar maior proveito próprio. Os bancos centrais e os governos estão mais avançados e mantêm o público na maior ignorância possível. Estão a forjar novos e implacáveis meios de nos escravizar,  mais ainda do que já estamos: Os famosos CBDC estão aí, tecnicamente prontos para funcionar, apenas esperando que a oligarquia mundial escolha o momento mais favorável para os Bancos Centrais, coordenadamente, lançarem as ditas divisas digitais. Ficam no vago, quanto aos detalhes técnicos, pois estes poderiam assustar (e com razão, aliás) o povo. Teremos a «surpresa» de ficarmos completamente dependentes, transparentes, e sujeitos aos governantes... A definição mesma da escravidão. Mas, sempre com a «garantia» dos governos, de que é para o bem dos cidadãos e, sobretudo que «será fácil» e que não terá grandes diferenças (dizem eles!) em relação ao dinheiro digital que já existe hoje.

A guerra também preenche o seu papel. 

Para submeter a cidadania a um novo regime de controlo absoluto das nossas finanças pessoais, através dos CBDCs, não há nada melhor que uma «situação excecional» para servir de alibi.

Qual o pretexto de que os governos se servem para suprimir as liberdades mais elementares e os direitos «inalienáveis» dos cidadãos? Quando há um estado de guerra, todas as liberdades e garantias são suspensas, por simples decreto governamental. O cidadão desaparece, o que conta é o sacrifício coletivo pela pátria... Os intervalos entre guerras são geralmente superiores a 50 anos, pelo que as pessoas da geração que viveu isso,  ou já morreram, ou têm a memória demasiado debilitada pela velhice; as jovens gerações não sabem nada dos sofrimentos dos seus avós e o que lhes «ensinam» na escola, são narrativas moralistas e que passam sob silêncio o papel dos grandes industriais e financeiros.

Como dizia Napoleão, «o dinheiro é o nervo da guerra». Os mais belicosos dirigentes, nos países da UE, pretendem reforçar os arsenais com empréstimos forçados, sem mandato dos respectivos povos, uma autêntica extorção dos cidadãos pelos Estados. Centenas de triliões de dólares serão gastos em armamentos. Estes triliões acabam sempre por ser cobrados, pelos impostos, às presentes e futuras gerações. Mas, nunca vão buscar esse dinheiro à fortunas das oligarquias, causadoras destas catástrofes. Porém, sabemos que elas as provocaram,  as amplificaram e delas beneficiaram. É normal:  São elas que traçaram o cenário; não se pode esperar que o façam de modo a que seja a sua própria classe a perder!

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*Nota: trata-se de aspectos psicológicos nos indivíduos e nas massas e suas repercussões no preço de mercado de um ativo.

quarta-feira, 30 de abril de 2025

NA ALEMANHA E HOLANDA OPOSIÇÃO À GUERRA DA OTAN NA UCRÂNIA + ENTREVISTA A PATRIK BAAB


 

Veja também a extraordinária entrevista que deu Patrik Baab, um veterano jornalista de guerra (que tem feito reportagem nos dois lados do conflito), a Glenn Diesen: «A Propaganda de Guerra Alemã na Guerra da Ucrânia»

                                        

https://youtu.be/9BAY87npgoE?si=BbMG8xPM17515dHZ



domingo, 20 de abril de 2025

O SÍMBOLO DA PÁSCOA



O renovo da Natureza está simbolizado na ressurreição do Corpo de Cristo e prefigurando o triunfo da vontade, da bondade e da justiça sobre as potestades (os poderes terrenos) deste mundo.

É assim que eu interpreto a Páscoa. É realmente triste verificar que, seja em relação direta com a minha interpretação ou com outras, igualmente pertinentes da religião cristã, muito poucos no mundo designado como «cristão» assumem deste modo a Páscoa.

A minha mágoa seria relativa e suportável, se se limitasse a isso; pois tenho verificado desde há longos anos o fenómeno da paganização das sociedades cristãs.

Porém, a indiferença dos que se dizem cristãos face às guerras e às guerras atuais, especialmente cruéis, deixa-me completamente desfeito. Não creio que a espécie humana tenha evoluído num sentido de adequação à Lei ou seja, aquela Lei Natural e Divina, que ensina aos animais ditos «não racionais», a compaixão, a proteção dos frágeis, a inibição de extermínio dos que são da mesma espécie... Mas, o ser humano contemporâneo mostrou-se destituído daqueles comportamentos e sentimentos espontâneos, presentes em múltiplas espécies. Posso estar a generalizar, talvez abusivamente, mas o comportamento da maioria das pessoas tem sido de indiferença, quando não de bárbara e vingativa insistência no «castigo coletivo», na «culpa de um povo». É como se, estes que assim pensam e agem, tivessem esquecido os Direitos Humanos, as Convenções de Genebra, o Estatuto dos prisioneiros de guerra, as obrigações dos beligerantes em relação às populações civis, etc.

Nota-se a indiferença para com os inocentes, as crianças, os civis, as mulheres, os socorristas e o pessoal de saúde...assim como para com populações civis bombardeadas, sofrendo atrocidades e a destruição de cidades inteiras, das infrestruturas, dos hospitais, etc...

É o comportamento que evidenciam muitas pessoas, felizmente com excepções cada vez mais numerosas. Mas, não posso ignorar que logo que «o verniz da civilização» desaparece, logo que as pessoas tenham um bocado de medo, exibem sentimentos de violência abjeta em relação a outros humanos. Será porque a semente do mal existe nelas. Algumas conseguem «domesticá-la», a tal semente do medo e do mal, e transformá-la: Estas exibem coragem e generosidade, mas são a minoria. A grande maioria deixa-se dominar pelos instintos mais baixos. Talvez por medo, vêm ao de cima comportamentos repugnantes da multidão desporvida de formação cívica e pervertida nos seus corações.

O padecimento de Cristo na cruz e no caminho do Calvário, afinal não retirou os pecados do Mundo. A Humanidade é imperfeita, pecadora mas dispõe daquela semente de divinidade que Deus nela colocou. Mas, esta semente é constantemente abafada, sacrificada, por aqueles mesmos com o coração cheio de ódio, ou de indiferença, que é a forma cobarde do ódio.

Esta atitude é encorajada pelos criminosos que controlam os governos e as forças repressivas em muitos países: Perseguem, difamam, expulsam, prendem e, nalguns casos, assassinam, os que tiveram a coragem de denunciar os crimes por eles - poderosos - cometidos.


Prevejo um crescendo de violência e de depravação moral, à medida que nos vamos enterrando em guerras cruéis, brutais, causadoras de milhões de mortes e de inválidos, espalhando a miséria e destruíndo tudo o que havia de elevado nas civilizações. Os países, os povos, são envolvidos neste torvelinho, quaisquer que sejam as suas posições nestes conflitos. Ninguém fica imune, nesta onda de violência suicidária.
Não acredito que a violência seja «parideira da História», nem de coisa nenhuma: É somente destruição indiscriminada, causando hecatombes humanas e precipitando a chegada da nova «Idade das Trevas».



O que desejo aos meus leitores nesta Páscoa, não é a paz dos satisfeitos, de barriga cheia, dos adormecidos, ou dos ébrios de seu narcisismo.

É, mesmo assim, uma Paz!

- A paz de estar em paz com o próximo, de não ver nele um inimigo, um estranho, um delinquente, etc., mas antes alguém que possui sua dignidade própria, que tem as suas vivências. O outro é alguém que tem os mesmos sentimentos que nós, que sofre e tem alegria como nós. Quem tem estes sentimentos humanos e cristãos profundos, que os traduza por gestos e comportamentos. Se não o fizer e não se esforçar por alcançar este padrão ético não pode dizer-se cristão.

segunda-feira, 31 de março de 2025

REFLEXÃO: OS PIORES INIMIGOS DOS EUROPEUS

Esqueçam todas as carradas de propaganda disfarçada de informação que vos têm feito engolir, às pazadas: a propaganda do medo é a dos poderes oligárquicos, que têm de vos instilar o medo do «outro», do inimigo, do «bárbaro», só assim as pessoas comuns ficarão preparadas para odiar aquilo que desconhecem, para entrar em sintonia com a histeria anti-qualquer coisa.

As campanhas de ódio servem para desviar as pessoas dos verdadeiros problemas, das questões prementes do seu quotidiano. Como irão ganhar o sustento, quando nem com dois ordenados têm o suficiente para suprir as necessidades básicas? Como se poderão precaver de situações como a doença, um acidente ou quaisquer acontecimentos não previstos, mas com graves consequências nas suas vidas?

- As pessoas procuram segurança e bem-estar para os seus, em primeiro lugar para as crianças, dando-lhes afeto, satisfazendo suas necessidades de alimento, agasalho e teto; também de uma educação de qualidade, que os forme para a vida, para serem agentes ativos do seu próprio futuro, com independência.

- Quais são os pais e mães que não desejam isso, que não anseiam por que isso não lhes falte? Estas preocupações são legítimas e humanas.

Os políticos estão muito longe de as satisfazer; na verdade, subiram ao poder com promessas vazias, que esqueceram, logo que foram eleitos. É com essas pessoas que os Estados são desencaminhados; assim, eles atribuem prioridades de financiamento para o rearmamento, para as guerras. Quer o digam quer não, é claro que se vai cortar na satisfação das necessidades reais do povo, nas despesas com a saúde pública, com a educação, nas pensões de reforma e nas proteções sociais; contra o desemprego, contra doença incapacitante, contra catástrofes (inundações, tremores de terra, incêndios), que podem afetar uma ou várias comunidades.

As guerras só servem os ricos; a falácia de que a indústria de guerra é geradora de riqueza cai pela base, se virmos que ela apenas enriquece os acionistas das empresas de armamento, mas empobrece duradoiramente as nações, os contribuintes, pois serão estes que terão de pagar as enormes despesas improdutivas.

Qualquer investimento numa área social ou em infraestruturas é susceptível de gerar, a prazo, mais riqueza do que aquela que foi gasta para realizar a obra. Mas, as despesas com armamento são improdutivas, na sua essência, pois se não forem utilizadas só «servem» para ficar armazenadas; mas se são utilizadas, ainda pior, pois causam grandes destruições: mortes, estropiados, devastação, miséria.

A deriva belicista dos poderes na União Europeia é consequência da oligarquia sentir que o chão lhes está a fugir debaixo dos pés; que não tem nada para justificar sua loucura, com a qual destruíram a Ucrânia, empurrando-a para uma guerra suicidária contra a Rússia*. Ato profundamente estúpido e criminoso, em si mesmo, ainda agravado pelo facto de que sabiam desde o início que o desenlace só podia ser a derrota militar ucraniana, face às forças bem maiores e melhor equipadas da Rússia.

E tudo isto, para quê? Para satisfazer a gula insaciável de multimilionários, que viam a sua fortuna na guerra e na hipotética derrota da Rússia, abrindo este imenso país à pilhagem dos seus recursos. Esta é que foi a verdadeira motivação, por detrás do insuflar da guerra às fronteiras da Rússia, usando todo o apoio logístico da OTAN, incluindo a participação no reconhecimento, em teleguiarem os mísseis para os alvos, no treino de tropas da Ucrânia durante longos anos antes de 2022, que se dedicaram à limpeza étnica nas Repúblicas do Don (14 mil mortes civis em 8 anos), que se tinham insurgido perante o Estado, oficialmente russófobo, resultante do golpe de Maidan. 
O objetivo estratégico era bem claro: Ficaria a OTAN às fronteiras da Rússia, o que significava a colocação de mísseis de longo alcance, a 4 minutos de atingirem Moscovo, inviabilizando assim qualquer defesa anti-míssil, do lado russo.

A criminalidade dos dirigentes não me oferece dúvidas, pois eles sabiam isto perfeitamente e estavam de acordo em jogar este jogo. Eles destruíram as vidas de centenas de milhares de ucranianos e de russos, além de também colocarem as nossas em risco direto. Eles devem ser julgados por tribunais adequados, que determinem para além de que qualquer dúvida, as suas responsabilidades nestes crimes.

A cidadania europeia adormecida, embalada, ignorante ou crente na propaganda mais descarada, tem as suas responsabilidades, também: Os apoiantes destes políticos criminosos, vejo-os como coniventes. O que teriam eles (esses meus concidadãos) a menos, em termos de capacidade cognitiva, de bom senso e de formação, que um grupo - infelizmente minoritário - de outros cidadãos, opositores à guerra?

Os piores inimigos dos europeus são os próprios europeus: Porque descreem nos valores que enformaram a sua civilização: O humanismo, o respeito mútuo, a promoção da paz e do entendimento entre os povos.

É confrangedor notar se proclamem «cristãos» muitos destes europeus, mas que espezinham os valores que derivam, numa larga medida, da moral cristã. É certo que houve períodos, ao longo dos séculos, de destruições e guerras, mas também se construiu, ao longo desse tempo, uma forma de relacionamento mais humana, mais respeitadora dos outros povos, que nos habituámos a considerar como formando o substrato comum da «civilização europeia». Infelizmente, isto é uma ilusão, um verniz que estala com a maior das facilidades.

Gandhi, numa entrevista, em que lhe perguntaram o que pensava sobre a «civilização europeia»: Ele respondeu, «Acho que é uma boa ideia»... [ou seja, algo que ainda está por acontecer!].
Antes, considerei que ele exagerava um pouco; agora penso que, afinal, a sua resposta era absolutamente objetiva: Nós não evoluimos nada; somos tão destituidos de civilização como nos séculos anteriores.

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* Atualmente, mesmo um órgão tão comprometido com o imperialismo como o New York Times, reconhece no artigo  “The Partnership: The Secret History of the War in Ukraine”, as responsabilidades dos EUA em empurrarem a Ucrânia para a guerra com a Rússia.

domingo, 23 de março de 2025

PROPAGANDA 21 (Nº26): DUAS GUERRAS, UM CÉREBRO, ZERO CONSISTÊNCIA

 


Análise de como a propaganda profunda age ao nível do sentimento das pessoas; o lado racional não é posto em causa; por isso as pessoas pensam que estão em controlo do que pensam e que não se deixam influenciar pela propaganda mas estão completamente erradas. Veja no vídeo acima a demonstração.


PS: Depois de ver o vídeo acima, não ficará surpreendido por uma notícia como a seguinte ...

Israel’s Hellish Attack on the Palestinians

The Genocide Continues 


... ser completamente obliterada dos noticiários mainstream!

sexta-feira, 21 de março de 2025

COMO É QUE SE «FAZ POLÍTICA» NOS DIAS DE HOJE?

 Não irei fazer-vos uma recitação do que eu julgaria ser a maneira «correta» de fazer política, por outras palavras, de uma casta (ou grupo, ou classe, ou camarilha) se dirigir ao povo, ao «bom povo», do alto da sua sabedoria, para o iluminar sobre os caminhos que (supostamente) os meus colegas de partido (ou de máfia, ou de seita, ou de religião) desejam que «passe» para os cérebros «lentos» dos meus concidadãos.

Certamente, este conceito de «fazer política» está muito atrasado no tempo: Só alguns «iluminados» (sejam eles moderados ou extremistas, revolucionários ou reaccionários, de esquerda ou de direita) se dedicam a fazê-la assim, exactamente como o fazem desde há mais de cinquenta anos e nunca desaprenderam! 

Não, creio que todos temos diante dos olhos (pelo menos dos olhos da mente) esses imensos cartazes publicitários, que enchem literalmente a paisagem, com as suas cores primárias e as caras sedutoras e sorridentes, acompanhando os slogans eleitorais. Estes, curiosamente, destacam-se por não veícular qualquer ideia, apenas banalidades, sentimentos, truísmos ou seja, o vazio. O vazio é a forma política que assumiu a propaganda visual dirigida às massas. Este vazio é acompanhado, na «media de massas» pelo reforço dos preconceitos, dos lugares-comuns, do «vêem; nós somos como vocês: Votem em nós, porque nós é que vos compreendemos», etc. 

Esta tática resulta, porque toda a formação do cidadão se transformou - desde há muito tempo - em mera «formatação»: 

- Não é mais do que uma constante e vigorosa lavagem ao cérebro. Lavam-te o cérebro a toda a hora, mas sobretudo quando, diante do écran do televisor ou na Internet, segues um pseudo «debate», onde apenas se afirmam as personalidades narcísicas seleccionadas como «adversários», numa justa verbal sobre qualquer coisa, sobre uma coisa qualquer. O tema é - em geral - algo susceptível de «agarrar» a audiência, de lhe dar um «frisson», de a fazer sentir-se inteligente, esclarecida, do lado do bem, etc...

A decisão de voto que te querem forçar a tomar é irrelevante, no melhor dos casos, apenas mais uma camada de servidão e de engano suplementar. A faculdade de «escolha», tida como o supra-sumo do que chamam «democracia», é como entre dois detergentes: um com embalagem castanha e o outro, ocre. Ou - se preferires - chocolate embalado em papel prateado ou dourado mas, nos 2 casos, com o mesmo gosto a mixórdia sintética.

E lá vamos nós cantando e rindo! Estamos na véspera do alargamento da IIIª Guerra Mundial que começou - como as duas outras - em solo europeu.  Só que, desta vez se aproxima dos 30 anos - de 1999 a 2025:

Esta IIIª Guerra Mundial começou, pelo menos, quando a aviação da OTAN/NATO, bombardeou a Sérvia (hospitais, escolas, embaixadas e edifícios civis, em Belgrado e noutras cidades) e não em resposta a qualquer ameaça que o regime sérvio da altura tivesse feito à OTAN, ou a seus membros. Tratava-se de «libertar» o Kosovo, a região sérvia agora controlada pelos EUA/OTAN que aí possuem uma mega base militar. Um território sob ocupação, onde o povo autóctone, sérvio e kosovar, sobrevive miseravelmente.

E lá vamos nós cantando e rindo... 

Para não estragar o coro angelical, continua-se dando porrada, prendendo e expulsando os pacifistas que se atrevem a defender o povo da Palestina, porque «todos os habitantes de Gaza são do Hamas» (palavras do ministro de defesa israelita e doutros responsáveis do governo). 

Mas, como dizem ao povo (ao bom povo!) que eles (pacifistas) são terroristas disfarçados, está tudo esclarecido: Qualquer manifestação de solidariedade, de compreensão, de simpatia humana para com eles, seria demonstração de cumplicidade com o horrendo crime de assustar as almas dos bons. Entenda-se: desde os cristãos sionistas, passando pelos valentes soldados do IDF orgulhosos dos seus crimes de guerra, aos torturadores dos campos onde sofrem milhares de «terroristas» civis, incluindo mulheres e crianças.

Este discurso já está a tornar-se demasiado «radical»! Para amenizá-lo, deixo a humorística nota final:

O povo da minha aldeia está confuso com a catadupa de insultos da propaganda anti-russa, na comunicação (anti)social, fazendo-se eco das vozes «politicamente esclarecidas»: Sempre confiou na grande utilidade e no pacifismo das mulas ruças*, com séculos de bons serviços enquanto auxiliares em todo o tipo de trabalhos, principalmente nos campos. 

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*Ruço: o tom de pelagem dos animais, entre o cinzento o castanho.


PS: Entretanto, em Portugal, tem-se uma amostra do panorama europeu de profunda crise de legitimidade das oligarquias e da sua total incompetência. Traduz-se numa nova ronda eleitoral, a 3ª em três anos, após dissolução  do governo e da maioria parlamentar...