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sexta-feira, 3 de junho de 2022

O PIOR SINAL: «FOGOS-DE-ARTIFÍCIO» DAS AÇÕES NAS BOLSAS

                
                    Figura: um sem-abrigo, algures, numa urbe afluente.


Como muito bem diz Alasdair Mcleod, um surto inflacionário é sempre um fenómeno monetário. Ou seja, não são os preços que aumentam, na realidade, mas o poder aquisitivo do dinheiro que desce.

Esta distinção pode parecer especiosa, mas na verdade não o é. Porque os monetaristas e os keynesianos apresentam sempre o problema como de uma falta de oferta e/ou excesso de procura, nomeadamente dos bens correntes, o que não é quase nunca o caso, aliás. Ou, pelo menos, não é este o motor principal da crise inflacionária. O principal é sempre a falta de confiança nos ativos financeiros, a começar pela própria divisa (dinheiro «cash»), assim como nos instrumentos financeiros, contabilizados nessa (s) divisa(s).
Por que razão se experimenta (como agora) uma subida espetacular nas bolsas, ou em ativos não-financeiros, durante um processo inflacionário?
- Porque, o que se compra, na aquisição de ações, é não-financeiro, na verdade: é uma fatia de propriedade duma empresa. Se esta empresa tem viabilidade e dá lucro, o detentor das ações irá receber dividendos.
- Quando a economia entra em descalabro, em crises inflacionárias, como, por exemplo, na Alemanha em 1920-23, o que acontece? As pessoas com poder de compra e visão a longo prazo, investiram em ações das empresas que estavam muito sub-cotadas, nessa altura, e ficaram ricas. Outras, compraram quarteirões inteiros de prédios, nas zonas centrais das cidades, e também ficaram ricas.
- O Zimbabwé e a Venezuela são outros exemplos de países cujas divisas foram destruídas pela inflação. Numa fase da crise, muitos pequenos investidores  compravam ações nas bolsas respetivas desses países, pois era a única forma de se verem livres de Bolivares ou de Dólares do Zimbabwe, que - a cada dia que passava - perdiam valor.
Eles esperavam que algumas das empresas cotadas em bolsa resistissem e se valorizassem. Talvez assim pudessem recuperar parte dos investimentos feitos. Por isso, assistia-se à subida espetacular nas bolsas de Caracas ou de Harare, com ganhos muito maiores que nas bolsas dos grandes centros financeiros.
Em muitas outras ocasiões históricas, tanto nas bolsas de valores, como no imobiliário, a crise inflacionária tem sido assinalada por subidas exponenciais de certos ativos. É o que os economistas da Escola Austríaca (Von Mises, Hayek...) designaram de «crack-up boom».
Num contexto de instabilidade e de inflação crescente, os alimentos e matérias-primas industriais (metais industriais como o ferro, o cobre, o alumínio, etc.) aumentam brutalmente de preço. O mais notório é o petróleo, condicionando a subida dos restantes produtos. Os combustíveis são indispensáveis, não só para os transportes, como para processos industriais, aquecimento, fabrico de adubos, de plásticos, etc. Praticamente tudo, na nossa civilização, depende dos combustíveis fósseis. Mas, na verdade, quando o preço dos combustíveis aumenta, é o poder aquisitivo do dólar ou das outras divisas, que está a ser erodido.
A confiança da sociedade nas divisas, que se depreciam em relação às mercadorias, é cada vez mais baixa, na proporção inversa da inflação experimentada. As pessoas começam a querer desfazer-se do dinheiro, enquanto este guarda algum valor, pois sabem que no dia seguinte, apenas terá uma fração do mesmo.
Mas estas crises de confiança não são despoletadas por movimentos irracionais das multidões: Elas apercebem-se, de forma intuitiva - algumas de forma refletida - que o valor do dinheiro vai decrescendo.
O «método garantido» para sabotar o valor do dinheiro, é fazer uma impressão excessiva do mesmo. É coisa que os governos e bancos centrais têm feito em grande escala, principalmente após o colapso de 2008. Decidiram imprimir quantidades astronómicas de unidades monetárias e comprar com elas «papeis sem valor» (invendáveis), mas pelo seu valor «nominal». Estes, estavam na posse dos bancos. Foi assim que fizeram para resgatar os mesmos bancos. Infelizmente, estas operações continuaram durante doze anos, sempre com o pretexto de «salvar a economia». Agora, as economias ocidentais estão de rastos, em consequência das políticas dos bancos centrais e dos governos.
No capitalismo, a falência faz parte das ocorrências possíveis para as empresas: Quando isso ocorre, em geral, trata-se de empresas mal geridas, mal dimensionadas, ou que ficaram para trás na competição.
Se, pelo contrário, as empresas (incluindo os bancos comerciais) são protegidas da falência, então, não importa se cometem erros, se os investimentos são mal dimensionados, ou que haja perda de competitividade. Estas empresas têm sempre a "mão caridosa" do Estado ou do Banco Central, para vir em seu socorro.
Muitas grandes empresas e bancos ditos sistémicos, tornaram-se, de facto, parasitas da economia produtiva. São mastodontes ou «elefantes brancos» que acumulam perdas, nunca gerando lucro e sem capacidade para funcionar normalmente. Seria melhor, para a economia do país, elas fecharem as portas. Outras empresas, mais dinâmicas, com maior potencial, irão preencher as partes de mercado deixadas vagas. É esta a dinâmica do capitalismo «clássico». Digo isto, para sublinhar que aquilo a que assistimos nestes 12 anos, é muito diferente.
O efeito Cantillon explica isso. Trata-se do efeito obtido por alguns intervenientes no mercado, devido ao facto de estarem em «primeira fila» para receberem crédito. Se têm acesso fácil, a um juro baixo, terão vantagem competitiva, em relação aos outros, com maior dificuldade de acesso e que só consigam taxas de juro mais elevadas.
Imaginem uma grande empresa de tecnologia (Apple, Microsoft, etc.) e, em comparação, um pequeno negócio. Este último pode ser gerido com prudência, de forma inteligente, fornecendo produtos ou serviços de real utilidade para os consumidores. De qualquer maneira, terá muito maior dificuldade em obter crédito: Se o conseguir, será com juros bem mais elevados que aquelas grandes empresas. 
Mas, além disso, as grandes empresas, para manter artificialmente suas ações sempre elevadas, utilizam o crédito barato para a auto compra das suas ações. Os dirigentes executivos dessas empresas também ganham, pois obtêm bónus mais generosos, pelo facto das suas empresas «levitarem» nas bolsas. O efeito Cantillon, previsivelmente, vai enriquecer os que já são muito ricos e vai tornar a economia menos competitiva, pois impede que pequenas empresas com potencial consigam «descolar».
Tudo o que os bancos centrais fazem, resume-se a falsear a concorrência, adiando o inevitável. Quanto mais se continuar neste processo, mais o valor remanescente do dinheiro vai ser menor. Haverá uma espiral descendente, que destruirá o valor das divisas, mesmo as que parecem «muito sólidas».
A colocação artificial - em valores ridículos - dos juros de referência (obrigações soberanas, a juro negativo!) e a impressão monetária «non stop» em quantidades absurdas, pelos Bancos Centrais, não são apenas uma «arma apontada» às empresas produtivas: São uma arma apontada à cabeça da sociedade no seu todo, porque as dívidas que se acumulam, são, em grande parte, dívidas dos Estados, dívidas que são, já hoje, impossíveis de reduzir.
O mecanismo é simples de compreender: Se a quantidade de juros que os Estados têm de pagar for superior às possibilidades de o fazer, entram em insolvência. Se os mesmos juros fossem deixados variar de acordo com o mercado, atingiriam valores da ordem de 5 a 6 % ou mais. Devido às somas que seria necessário incluir nos orçamentos, estas taxas são incomportáveis para os Estados.
Na realidade, as «curas de austeridade», «congelando» ordenados de funcionários e pensões, quando a inflação é de dois dígitos, é o equivalente a faltar às suas obrigações. O valor nominal pago pelo Estado mantém-se, mas o valor aquisitivo do ordenado ou da pensão, desce a um ritmo brutal.
Os que detêm «dívida soberana» ou obrigações estatais, são as instituições financeiras, os bancos nacionais e estrangeiros. Estes vão receber, durante algum tempo, os juros respectivos. Estas instituições capitalistas são muito menos penalizadas que os assalariados: Poderão ter alguma dificuldade em vender as obrigações nos mercados. Mas os Estados, vão fazer os possíveis para continuar a «honrar» as suas dívidas, quando os seus detentores são capitalistas ou instituições. Têm muito menos preocupação em «honrar» as dívidas ou compromissos assumidos em relação aos cidadãos comuns. São sempre estes que pagam as crises.
Os dirigentes políticos sabem que esta dívida nunca será paga. Eles fingem que não o sabem e continuam a pedir (e obter) empréstimos. Deste modo, levam os seus países à bancarrota. São os causadores das maiores misérias aos seus próprios povos. A revolta e a revolução, são eles que as provocam, afinal!

segunda-feira, 11 de abril de 2022

A INFLAÇÃO VAI DEVORAR A CLASSE MÉDIA





A classe média europeia, da Europa ocidental sobretudo, habituou-se a viver num certo desafogo, a gastar uma fração dos seus rendimentos em consumo não essencial, ou sumptuário, etc. Ora, no contexto atual e com perspetiva de se perpetuar por longos anos, entra-se numa fase de contração, de recessão e estagnação, mas com inflação elevada, embora, talvez nunca se chegue a deslizar para o patamar da hiperinflação. Mas como se chegou a este ponto?

Antes de mais, há uma coincidência bastante rara de escassez na oferta e dum excesso de liquidez. Ou seja, a crise despoletada em Setembro de 2019 (portanto erroneamente atribuída ao «COVID») e os episódios subsequentes, em 2020/2o21 incluindo os lockdowns ou confinamentos, induziram em todo o Mundo, mas sobretudo nos países produtores e exportadores, como a China, uma escassez, quer dos bens acabados, quer de componentes (como os microchips): Isto foi-se repercutir nas cadeias de abastecimento de todo o Ocidente.

Quanto ao excesso de liquidez, ele resulta da política de impressão monetária, cujos protagonistas são governos e bancos centrais ocidentais. Seria fastidioso retraçar para os leitores os episódios chamados de QE (Quantitive Easing), designação eufemística para aquilo que é, de facto, impressão monetária. Limito-me a dizer - aqui - que a diluição do valor das unidades monetárias foi o causador principal do despoletar da inflação. Foi esta tal política deliberada de criação monetária pelos bancos centrais ocidentais, a que tem sido seguida desde a crise de 2008.

A guerra entre a Rússia e a Ucrânia e as sanções (guerra económica) impostas à Rússia pelo Ocidente, tiveram um efeito muito menos grave na economia russa, do que os poderes ocidentais esperavam. Mas, tiveram um efeito «boomerang» gravíssimo, sobretudo na economia dos países da U.E. Estes, que já estavam a recuperar dos dois anos de lockdown e de restrições de toda a ordem, com pretexto do COVID, viram-se (devido às decisões intempestivas dos seus governos) numa situação catastrófica. Desde a restrição severa de energia, de adubos, ao trigo de importação, a Europa ocidental está mergulhada num ciclo de escassez, numa espiral de subida de preços, de quebra de cadeias de abastecimento que afetam, não só consumos correntes da população, mas a própria capacidade produtiva das empresas. As roturas nas cadeias de abastecimento são apenas um aspeto da questão, pois existe em simultâneo, um brutal aumento de preços de matérias-primas industriais e agrícolas. Está-se, portanto, num ponto de extrema vulnerabilidade, em variadas vertentes da economia da Europa ocidental. Infelizmente, a perspetiva de que a guerra se venha a resolver e que se volte ao «normal», é completamente irrealista, no curto prazo. Vamos ter um cenário de prolongada guerra económica.

Ao CONTRÁRIO da Rússia e da China, que tomaram diversas medidas de precaução ANTES do rebentamento desta crise, a Europa da NATO comportou-se, durante este tempo todo, como se tivesse «o mundo a seus pés», como se fosse o centro de um vasto império colonial, abastecido em toda a espécie de produtos de que precisasse.

Nada foi feito, apesar de ter sido ela a tomar a iniciativa da onda de sanções que já estavam planeadas, mesmo antes da invasão da Ucrânia, a um dos seus parceiros comerciais mais importantes, a Rússia, tanto do ponto de vista da energia (carvão, petróleo, e gás natural), como dos cereais (1/4 das exportações de cereais mundiais são russas) e das matérias-primas estratégicas, de que a Rússia é grande exportadora mundial.

Coloco duas hipóteses para explicação desta política, aparentemente suicidária:

- ou os governantes são completamente estúpidos e incompetentes,

- ou então, este processo é intencional. Neste caso, teríamos uma tentativa de causar o caos, para poder melhor impor a Nova Ordem Mundial, com menor resistência social, face a um cenário de catástrofe.

Seria o VELHO PROCESSO DE «PROBLEMA-CHOQUE-SOLUÇÃO»: O problema, neste caso, é como levar cabo o «Great Reset». Haverá uma solução «necessária», a que convém às «elites». E, graças ao efeito de choque, ao colapso das economias e do caos decorrente, os potenciais opositores não estarão em condições de fazer uma resistência eficaz. Note-se que, neste cenário, é conveniente para as elites que o público acredite tratar-se da conjunção de fatores infelizes, completamente imprevisíveis e alheios à vontade dos dirigentes.
No contexto da dívida astronómica, que ocorre dum e outro lado do Atlântico (nos EUA e na UE) há duas soluções teóricas possíveis:
- Ou os governos põem um freio às despesas orçamentais crescentes e um freio à impressão monetária. Isso significa austeridade e colapso da bolsa. Esta hipótese, sendo impopular, é quase certo que os governos irão evitá-la.
A outra possibilidade, é ir imprimindo mais e mais divisas, aparentemente saldando as contas do Estado, mas socavando o valor das divisas, pelo que a inflação é despoletada e acelerada, até as divisas ficarem como papel sem valor, como no Zimbabué ou na Venezuela. Infelizmente, é quase certo que os governos vão optar por isso. Esta opção implica um empobrecimento geral. A economia entrará em colapso. 

sábado, 14 de agosto de 2021

POR QUE RAZÃO A IMPRESSÃO MONETÁRIA É O NEGÓCIO MAIS LUCRATIVO DO MUNDO

                           


Sim, leu bem! O negócio mais lucrativo do mundo...

Com efeito, todos os negócios à face da Terra têm custos. Seus resultados brutos têm de cobrir diversos custos. Um negócio tem de ser capaz de fornecer bens ou serviços, o que implica despesas, desde a compra de matérias-primas, às despesas com o pessoal.

O quadro abaixo compara o lucro da Reserva Federal (Banco Central dos EUA) com os lucros (cumulados) das grandes empresas dos EUA (Walmart, MacDonalds, Coca-Cola, Amazon, Netflix, Microsoft, Apple e outras):

Most Profitable.png

                                                (ampliar imagem para ler as palavras e números)

O lucro líquido de 322 biliões de dólares do ano de 2020, não é consequência da aberração do ano do COVID. A FED tinha obtido uma média de 350 biliões de dólares de lucros por ano, na última década, ANTES do Covid.

Porém, o negócio dos bancos centrais «ocidentais»*, como a FED, o ECB, o Bank of England, o Bank of Japan e outros, é extremamente simples: Eles produzem dinheiro (digital, na maior parte). Além disso, têm nos seus ativos papeis emitidos pelo governo, tais como obrigações do tesouro, obrigações de curto prazo, etc. que não dão rendimento quase nenhum, visto que possuem um juro muito baixo, quase nulo.

Como é que então fazem um lucro absurdo, enorme, com isso? 

Segundo David Stockman:

«O efeito mais direto da expansão não controlada dos ativos dum banco central, é a grande descida nos juros das obrigações, muito mais baixos do que seriam numa economia com mercado livre e com dinheiro convertível em ouro* (*«sound money»).

O mecanismo pelo qual a fraude financeira é levada a cabo, está claro como o dia. Quando a FED (ou outro banco central) compra dívida do Estado, a oferta de obrigações nos mercados diminui, os preços sobem e os juros caem. Ao agir assim, o banco central convida os atores económicos a pedirem emprestado sem inibições, pois ele falsificou - grave e deliberadamente - o custo de ser-se devedor.

Por fim, o facto do banco central despejar o dinheiro criado  a partir  de nada  na economia, conduz à inflação nos preços ao consumidor. Isto é porque os governos são estimulados a pedir emprestado, tanto quanto quiserem, inchando a bolha dos pagamentos.  Mas, isso é uma maldição para o orçamento  das famílias, pois estas não são compensadas por um aumento equivalente em bens e serviços.

Por outras palavras, o banco central troca crédito fiat/«em papel», por ativos financeiros reais, que o governo tinha previamente emitido, para efectuar o pagamento dos ordenados, de capital e da tecnologia.

A melhor maneira de compreender a maré alta de inflação de hoje e porque razão estamos em águas monetárias totalmente desconhecidas, é analisar as declarações e as folhas de ativos dos bancos centrais. Embora isso raramente seja feito, tal análise mostra claramente o que é a criação do dinheiro a partir de nada e por que razão a impressão monetária é uma operação insanamente lucrativa, quando se detém o monopólio legal.

Não há mistério! Os ativos, tal como os dum banco comercial, estão num portefólio e fornecem juros, por muito modestos que sejam. Mas, à diferença dos bancos comerciais, os custos associados ao funcionamento do banco central são muitíssimo  mais baixos, em comparação. »   ... quanto às despesas... não se esqueça que os bancos centrais imprimem o dinheiro que precisam para as pagar!



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* Estes bancos centrais, contrariamente ao que muita gente pensa, são entidades privadas nos países  "ocidentais". Muitos deles, incluem participação de grandes bancos, ditos sistémicos. O facto da sua presidência ser nomeada pelo governo, não cria dependência em relação a este, nem em relação ao Estado. Com efeito, os bancos centrais ocidentais conseguiram que uma legislação especial consagre sua independência, incluindo imunidade em processos, sejam do foro civil, ou criminal. 


segunda-feira, 8 de março de 2021

MERCADOS FINANCEIROS: O QUE NOS DIZEM, VERDADEIRAMENTE

                                


Na semana passada, assistiu-se a uma série de alterações, nos mercados de obrigações, a começar pelas «treasuries» (as obrigações a 10 anos, do Tesouro dos EUA), cujos juros subiram de 0.38 % em Março de 2020 a cerca 1.5 %. Até agora, pode-se dizer que seja um problema apenas das obrigações americanas, visto as obrigações japonesas a 10 anos terem um crescimento muito baixo dos juros e as obrigações alemãs - embora subam acentuadamente - ainda permanecem em terreno negativo (*). 


A importância do mercado obrigacionista, em particular das obrigações estatais, é que este fornece uma medida do custo do dinheiro (de emprestar dinheiro, de pedir um empréstimo, etc.). Os Estados, normalmente, são os actores institucionais mais confiáveis - salvo improvável bancarrota - pelo que as taxas de juro que oferecem, em relação aos empréstimos que contraem, são uma espécie de linha de base, que vai condicionar todo o mercado do crédito. 
Globalmente, o mercado das obrigações, ao nível mundial, é cerca de dez vezes maior que o mercado accionista. No entanto, nos noticiários de economia, as acções cotadas em bolsa são sempre apresentadas como o barómetro primário. 
Mas isto é redondamente falso, até porque muitas das subidas e descidas das bolsas são mera especulação. Nos últimos tempos são potenciadas por algoritmos, que compram e vendem centenas de vezes ao segundo, agindo assim em relação a toda a gama de acções, podendo surgir amplificações de movimentos para cima ou para baixo, inteiramente artificiais e que não correspondem a qualquer variação significativa da situação das empresas, cujas acções estão subindo ou descendo. 


No gráfico seguinte, vê-se claramente que se está a atingir um topo, no que toca às acções, nas bolsas do mundo inteiro.


                   


Estes movimentos, ditos de «compra de pânico», são - em geral - indicativos de que se está a atingir um topo. O mercado de acções tem sido accionado pela impressão monetária. Ela está a ser levada ao extremo pelos bancos centrais dos principais países ocidentais, a começar pela FED dos EUA mas, também, pelo ECB da Zona Euro; tudo em nome do «combate ao COVID», quando, na verdade, se trata de algo completamente diferente. 


De facto, na população dos países ocidentais, raros são os que possuem acções de qualquer espécie. De facto, as pessoas mais ricas - em geral - são as que possuem um portefólio significativo, com acções das bolsas mundiais. São essas pessoas que estão a ser subsidiadas, sob pretexto de «estimular a economia», com somas astronómicas, como o 1,9 trilião de dólares do recém-eleito Biden. Um comportamento semelhante passou-se e passa-se em todos os países ocidentais. 


A acumulação de dívida, mais cedo ou mais tarde, vai fazer ruir o próprio fundamento das economias. Se a dívida de um Estado equivale a 150% do PIB, isso quer dizer que toda a riqueza produzida durante um ano e meio, por esse país, teria de ser utilizada para saldar a dívida acumulada. 
Claro que nunca acontece assim, mas -pelo contrário - os Estados podem esperar saldar, a pouco e pouco, as suas dívidas, se os tempos melhorarem (uma visão muito optimista, no presente) e sobretudo, poderão reduzir a mesma, através da inflação, que faz com que o valor nominal da dívida a pagar seja o mesmo, porém o valor real em dívida desça, na mesma percentagem que a inflação: 
- Se a inflação atinge 20% ao ano, isso quer dizer que o valor do capital em dívida, ao fim do mesmo ano, vai ser 20% menos, em termos reais, embora seja nominalmente o mesmo.
A dívida dos Estados não é excepção: Se um Estado estiver a dever muito, uma inflação elevada torna mais fácil o pagamento das dívidas. Porém, nos mercados de obrigações, o que irá acontecer às dívidas/obrigações dos Estados? Os investidores vão exigir maior juro, para compensar a inflação observada, ou antecipada. Não apenas isso; verão com olhos críticos o sobre-endividamento dum Estado, exigindo portanto um juro maior para compensar o maior risco de «default», ou seja, da falha de pagamento da entidade devedora. 
Chega-se então ao ponto em que os Estados continuam a emitir dívida, mas são incapazes de o fazer sem sobrecarregar os orçamentos com excessivas verbas de juros da dívida pública. Não têm viabilidade, um Estado, uma economia, que entrem num tal processo. 
Embora o Estado possa - durante mais algum tempo - pagar as suas dívidas, os custos disso não serão sustentáveis: Não será capaz de efectuar os investimentos necessários para as suas infraestruturas; a economia perderá capacidade produtiva, de criação de riqueza, pela punção excessiva de dinheiro dos impostos para pagar os juros da dívida pública. Estas somas, se não tivessem de ser canalizadas para pagar juros, poderiam ser investidas, poderiam ser geradoras de riqueza. Entra-se numa espiral descendente. O cenário conduz à estagnação/inflação (a «estagflação»). Isto corresponde ao empobrecimento da sociedade e economia desse país. 

É neste ponto em que se encontram as economias da América do Norte e da Europa. Qualquer aumento dos juros da dívida pública, vai traduzir-se pelo agravamento da inflação, porque os agentes económicos vão ter em conta estes juros como referência, quando negoceiam, quando estabelecem os preços das mercadorias, etc. Vai haver aumento da inflação de preços ao consumidor. Por sua vez, uma inflação acrescida significa uma diminuição do poder de compra das pessoas, um empobrecimento geral e logo, a diminuição da actividade económica (no Ocidente, o PIB depende em ~ 70%, do consumo). O ciclo vicioso está plenamente instalado!
Mais vale as pessoas estarem resguardadas, neste período de destruição massiva das divisas. Note-se que o dinheiro pode «desaparecer» ou «deixar de valer» mas, a «riqueza» é outra coisa. Assim, os ricos podem estar a encher-se ainda mais, a ficar mais ricos, apesar do empobrecimento geral.
Na Alemanha de 1923, uns cem dólares USA eram suficientes para compra dum andar de luxo, em Berlim. Houve pessoas espertas que compraram, com marcos alemães, que valiam cada vez menos, imobiliário, empresas, terrenos, etc... tudo o que não era activo financeiro. À saída da crise, estavam imensamente ricas. Outras, conservaram acções, obrigações, ou «cash» e ficaram falidas, na miséria. 
Não digo que a situação se vá repetir. Porém, é de reflectir sobre ela, estudá-la. Porque o mecanismo do desencadear da inflação, através da impressão monetária, é o mesmo. 

Recorde-se a definição de loucura de Albert Einstein: «Esperar um efeito diferente duma acção repetidamente falhada, é um sinal de loucura». Se os dirigentes dos Estados mais poderosos «esperam» um desenlace diferente («desta vez vai ser diferente» dizem eles...), nós não temos de acreditar neles. Aliás, seria loucura ainda maior, acreditarmos em loucos ou aldrabões, que nos vêm «com falinhas mansas»!

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*NB: O valor de uma obrigação é tanto maior, quanto o juro é mais baixo, porque, nestas circunstâncias, se supõe que há muitos compradores para essa dívida. Sendo assim, o emissor da dívida pode oferecer um juro mais baixo e terá, no entanto, suficientes compradores da mesma. Inversamente, se os juros sobem, isso quer dizer que o emissor da dívida só consegue colocar a mesma caso ofereça um juro maior, só assim obterá investidores que lhe emprestem dinheiro, comprando as suas obrigações.

sexta-feira, 5 de março de 2021

ALGUNS NÚMEROS DO NAUFRÁGIO DA ECONOMIA MUNDIAL


[tradução de parte de artigo de Simon Black, «Sovereign Man», «28 Triliões de Razões Para Ter um Plano B» ] 

Na Segunda-feira, 1º de Março deste ano, há apenas alguns dias, a dívida pública dos EUA atravessou a marca dos 28 triliões de dólares, pela primeira vez na História.
Para irmos até ao cêntimo, aqui fica: a dívida pública atingiu a soma de $28 004 376 276 999.35.

Note que este valor não inclui os 1,9 triliões de dólares do «estímulo Covid», que o Tio Sam está em vias de aprovar, nem o resto dos gastos em défice, com os quais eles estão já a contar, para o ano fiscal corrente.
Pode, portanto, ver como a dívida irá rapidamente disparar para lá dos 30 triliões de dólares, «enquanto o diabo esfrega um olho».
É de notar que foram precisos mais de dois séculos, para os Estados Unidos chegarem ao seu primeiro trilião de dólares de dívida - um marco alcançado a 22 de Outubro de 1981.
Nesses dois séculos (74 984 dias, para ser exacto), os EUA combateram em duas Guerras Mundiais, tiveram a «Gripe Espanhola», atravessaram a Grande Depressão, confrontaram a União Soviética na Guerra Fria, combateram contra si próprios na Guerra Civil, puseram um homem na Lua, etc., antes da sua dívida pública ultrapassar 1 trilião de dólares.
O mais recente trilião de dívida foi acumulado em apenas 152 dias.
Pense nisto: quase 75 000 dias para o primeiro trilião, 152 dias para o último.
Ainda mais abismal: Foi apenas em Setembro de 2017, que a dívida nacional atravessou pela primeira vez o marco dos 20 triliões de dólares.
Então, quando a dívida alcançar fatalmente os 30 triliões, no decorrer dos próximos meses, isto quer dizer que cresceu de 10 triliões, em apenas quatro anos.
Aliás, não existe absolutamente nenhum sinal para o fim disto. O Departamento do Tesouro e a Reserva Federal estão ambos, fanaticamente, marchando a passo cadenciado: não há valor de dívida que seja excessivo, não existe impressão monetária que seja demais.
Eles acham perfeitamente lógico que o governo estrangule largas partes da economia, forneça incentivos financeiros às pessoas, para serem economicamente não-produtivas, mas depois, «remedeiam» com a impressão monetária e vão a fundo na dívida. 
Têm uma preocupação igual a zero em relação às consequências financeiras no longo prazo das suas decisões, como também, em relação aos impactos sociais e psicológicos das mesmas.


Se concorda com esta política, que tem sido a dos EUA e dos outros países ocidentais, de acumulação sem fim de dívida e de expansão da massa monetária, com total boa consciência, está também convencido(a) que nunca haverá consequências, até ao fim dos tempos: então, o melhor é ficar quieto(a).
....

[Esta parte seguinte é minha, de Manuel Banet]

Mas, se eu lhe disser que a destruição da economia e da moeda (não apenas os dólares, como qualquer divisa que possua na sua carteira, ou no banco), terá como consequência: a destruição das suas poupanças, das suas pensões, do seu poder de compra...

- Será que continua a olhar para isto, como se não lhe dissesse respeito, como se nada pudesse fazer, para si e para sua família, para seus amigos... para os cidadãos, em geral? As pessoas vão achar-se numa miséria tão negra, que muitas escolherão pôr termo à vida.

- Não; a sua passividade é o que lhes permite fazer o que estão a fazer. Não o conseguiriam, sem o seu consentimento. Eu sei que é tácito, mas ele é-o na mesma, e isso é que importa. 

Pense nisto e pense no que pode fazer: como pode organizar-se, a si próprio(a) e aos seus entes queridos. É sempre possível trabalhar em sinergia com outras pessoas, determinadas e confiáveis... 

Depois de ter reflectido e debatido, tente acertar numa estratégia de grupo. Procure congregar esforços, não para «salvar o navio», porque já é demasiado tarde, mas para saltar - com outros - para as «balsas salva-vidas» .... 

Esta é a gravidade do momento; não diz apenas respeito à economia americana ou europeia, mas à economia mundial.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

E ASSIM A OLIGARQUIA VENCEU POR «KO» A DEMOCRACIA

                     
A crise de 2007-2008 foi apenas o borbulhar de uma acumulação de capital fictício, de capital levantado a partir de operações com derivados, os tais produtos financeiros (contratos de futuros, etc) transpostos,  ou copiados dos mercados de matérias-primas (principalmente agrícolas, para assegurar um rendimento das colheitas, etc.). Afinal, foi a financiarização que permitiu que hipotecas «sub-prime» se vendessem «por atacado», nos diversos mercados mundiais, como se fossem investimentos seguros...

A resposta ao colapso, consistiu em injectar somas colossais nos bancos ditos sistémicos, para evitar que a queda do Lehman Brothers viesse a arrastar consigo a queda dos outros bancos e instituições financeiras. Foi uma medida de emergência, que o governo dos EUA e a FED decidiram no momento. Mas essa emergência foi prolongada por sucessivas compras de «activos tóxicos» aos ditos bancos, pela FED. Logo as economias mais desenvolvidas e respectivos bancos centrais - Banco central do  Japão, o ECB, o Bank of England, etc... - faziam o mesmo. A massa monetária foi-se multiplicando, sem que houvesse a recuperação económica vigorosa, como era desejada.

No intervalo de tempo de 2009 a 2018, os grandes grupos financeiros, os fundos de investimento, etc... foram comprando os activos financeiros - acções, obrigações, derivados - nos mercados, a tal ponto que a inflação nestes produtos se tornou muito notória: Por exemplo, subiam cotações bolsistas de empresas que não tinham lucro e estavam com uma montanha de dívidas. Os juros das obrigações soberanas de Portugal atingiram valores de mercado baixíssimos, semelhantes às dos EUA, depois de terem estado com juros acima dos 10% em 2012 - 2013, numa severa crise da dívida soberana. Esta fora causada por sobre-endividamento por parte do governo e seguida por especulação contra estes títulos da dívida. Mas o ECB passou a comprar a dívida de todos os países do euro, enchendo assim a sua folha de activos; os juros, tanto mais baixos quanto mais as cotações sobem nas obrigações, foram descendo. O efeito perverso, é que em países com desequilíbrio crónico da balança de pagamentos, pouco ou nenhum esforço se fez para equilibrar as suas contas.

Em Dezembro de 2018, as bolsas sofreram um «crach», completamente inesperado para muitos investidores. A razão deste foi a política da FED, de «re-normalizar» os juros, levada a cabo com subidas muito graduais, ao longo do ano anterior e outras anunciadas. Perante este crach, a FED teve logo de anunciar uma inversão da política. A partir deste ponto, era claro que o sistema financeiro e os bancos centrais que - de certo modo - tentavam regulá-lo, estavam metidos num ciclo infernal: 

- Se parassem a injecção permanente de dinheiro e deixassem de manter o custo dos empréstimos (os juros) em valores baixíssimos, desencadeavam uma crise financeira, que se poderia avolumar e transformar em depressão económica;

- Se continuassem com esta política de oferecer «dinheiro gratuito» aos grandes actores financeiros, estavam a desbaratar a confiança nas divisas fiat (dólar, euro, etc) e corriam o risco de que a inflação saísse do universo dos activos financeiros, para os produtos de consumo e se tornasse hiper-inflação.  Diga-se que os governos quase sempre preferem inflacionar a divisa, a fazer «default». Em ambos os casos falham as suas obrigações de pagamento, mas no primeiro caso não têm de o confessar. 

Assim se chega a Setembro de 2019, em que os bancos, nos EUA, começam a não emprestar uns aos outros, tal como aconteceu no desencadear da crise de 2008, nas operações de empréstimo de curta duração. O facto de não emprestarem facilmente traduziu-se na subida dos juros, que passaram para mais de 10%, quando o normal era da ordem de 2-3 % . A FED teve de injectar neste mercado «REPO» somas de biliões semanalmente. Esta intervenção foi anunciada como de curto prazo, um mês ou dois. Mas, apesar de haver dito que este expediente seria de curta duração, a FED continuou até ao fim do ano e para além deste, a injectar somas colossais, o que fez muitos observadores considerar que a FED estava discretamente a intensificar o «quantative easing» (impressão monetária, na realidade). 

Veio a crise dita do COVID, no primeiro trimestre de 2020. Antes disso, o grande capital mais por dentro das realidades financeiras, começou a vender activos, principalmente acções cotadas e aumentando os activos de baixo risco, como obrigações do Tesouro (treasuries), imobiliário, metais  (ouro e prata)... Nas bolsas, o que desencadeou pânico em Março, foi o facto de a FED não conseguir obter uma significativa baixa dos juros, apesar de ter injectado uma quantia elevada no mercado. Teve de voltar à carga poucos dias depois para conseguir estabilizar, um pouco, os mercados obrigacionistas. 

De então para cá, o sistema está em roda livre, pois os bancos centrais, em uníssono, puseram-se a verter grandes quantidades de divisas, sem qualquer suporte na economia real, criando ou ampliando bolhas para todos os activos financeiros existentes. Um mercado não financeiro, o imobiliário, continuará durante algum tempo artificialmente cotado, mas sua descida será muito rápida. Aliás, já começou: o sector comercial e o sector dos apartamentos de luxo estão ambos em colapso ou, pelo menos, estão paralisados. Quanto aos mercados do ouro e da prata, valores refúgio com especial apelo nos países da Ásia (China, Índia, etc.), têm subido acentuadamente (crescimento do preço do ouro de 25% num ano, quando cotado em dólares), apesar dos esquemas de supressão, envolvendo contratos de futuros - emitidos fraudulentamente mas impunemente - por grandes bancos, que agem por conta dos governos e bancos centrais ocidentais. 

Se, tudo o que os bancos centrais e governos encontram como «solução» mágica, são as divisas digitais centralmente emitidas, ou seja, uma digitalização total e forçada do dinheiro em circulação, nada de essencial será resolvido. A desconfiança do público não vai dissipar-se: muitas pessoas vão constatar que sua situação objectiva continua a piorar. Apenas os bancos serão beneficiários da captura e retenção de pequenas somas nos seus cofres, quando o público já não puder transaccionar em papel-moeda.

No entretanto, as pequenas e médias empresas de todo o mundo ocidental estão em grave risco. A crise de desemprego vai ser enorme, pois elas empregam cerca de 70% da força de trabalho por conta de outrem, em Portugal e noutros países europeus (os outros 30% são funcionários públicos e de grandes empresas).

Não haverá possibilidade de reabsorver esta massa enorme de trabalhadores. Por isso mesmo, a «elite» (oligarquia) tem apontado como «solução» o rendimento mínimo incondicional (RMI), ou seja, as pessoas, quer tenham ou não emprego, receberão uma soma - por ex.: 500 € - a qual lhes permitiria suprir as necessidades básicas. Mesmo antes que venha uma crise de hiperinflação, uma inflação mais elevada é suficiente para tornar essa «esmola social» completamente insuficiente para sustentar as pessoas. 

A classe dos ricos não tem nenhuma intenção de se desapossar dos seus excedentes. Ela está a congeminar a «solução» seguinte, apresentada por Klaus Schwab e os oligarcas que se reúnem no Fórum Económico Mundial de Davos (este ano tendo sido deslocado e adiado, para Singapura, em Junho...): 

- A sociedade de «participantes» ou «stakeholder society» mais não é do que uma espécie de feudalismo, adaptado ao século XXI. O grosso das pessoas não poderá senão alugar, não serão proprietárias de nada... Não serão proprietárias da sua habitação, apenas inquilinas, terão de arrendar veículos, instrumentos de trabalho, etc. Terão de constituir micro-empresas, onde trabalharão e farão trabalhar seus familiares, por vezes, com rendimento demasiado baixo, que o rendimento mínimo iria suprir.    

Mas, este «sonho molhado» da oligarquia que nos explora, só pode ser eficaz se houver colaboração activa dos agentes do Estado, os governos, as polícias, os tribunais, etc. Não se verá -pós-pandemia de COVID - um renovo da liberdade, nem da participação cidadã na vida política: pelo contrário, haverá sempre algum «vírus», ou «terrorista» para «justificar» estados de excepção, que se tornarão a norma, enquanto as constituições serão mantidas... isto é, mantidas penduradas nas paredes, para decoração!

O que é confrangedor observar é a entusiástica adesão a aspectos parciais deste plano macabro, plano esse que é completamente público, uma «conspiração a céu aberto», por parte de grupos tradicionalmente defensores dos direitos dos cidadãos, como os partidos de esquerda, os sindicatos, os intelectuais, os universitários, os artistas, os jornalistas... 

- Num primeiro momento, ficaram siderados com a resposta, vinda de cima, dos governos, à pandemia. Depois, ficaram tomados de psicose de pânico alguns; outros, perceberam confusamente que tinham dado o aval à maior tomada de poder deste século, ao maior golpe contra a liberdade. Mas não tinham receio em relação ao seu nível de vida pessoal, em relação às suas pessoas físicas e dos seus familiares, desde que ficassem quietinhos ...E assim, a oligarquia venceu por «KO» a democracia. 

Os que estão suficientemente longe do poder para compreender a gravidade do que se passa, estão a reagir, mas são demasiado destituídos de meios, face a cartéis bem organizados, instituídos e financiados. Muitas pessoas irão acordar, para o tarde, numa altura em que será difícil fazer algo, sem correr sérios riscos.


PS1 (08/01/2021): Depois de ter escrito este artigo, veio-me à notícia a estranha circunstância da «invasão» do Capitólio em Washington. 

Segundo a análise de Paul Craig Roberts, o Estado Profundo  tem feito uma luta incessante contra Trump, desde o momento da sua eleição há quatro anos, até agora. Também defende a tese de que o Establishment quer vingar-se de Trump e fazê-lo de um modo tal que este não possa vir a liderar um movimento/partido alternativo/populista. 

A obsessão censória de algumas figuras, querendo perseguir tudo o que seja «trumpista» com um zelo semelhante ao da Inquisição e do McCarthyism, mostram que já não existe laivo de democracia liberal nos EUA: Esta faliu, com os golpes sucessivos e mortíferos, vindos tanto do lado do Partido Republicano, como do Democrata. 

A época que se avizinha, no chamado Ocidente, é sombria...


  

  

segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

NA ECONOMIA, «BOM ANO» DE 2021?

 Bom ano de 2021? Charles Sannat considera que o ano que agora entrou pode nos «fazer ter saudades» do que saiu, por mais incrível que nos pareça agora. Ele tem argumentos muito sólidos que permitem dar crédito ou verosimilhança a tal situação. 
                                                                                                                       

Abaixo, tentarei fazer uma síntese do que Charles Sannat apresentou neste vídeo, juntando a minha avaliação própria.


Primeiro, a questão da «crise do COVID»: Quando temos um Bill Gates a vaticinar que a crise do coronavírus não vai desaparecer antes de 2022, dá um arrepio na espinha, pois ele e seus congéneres «previram» em 2019 o essencial do que se passou ao longo do ano 2020. 

Segundo, as empresas ficam totalmente dependentes de ajudas dos governos, não apenas nos EUA, como na UE e noutras economias desenvolvidas. Estas empresas não irão ter subsídios eternamente e, nalgum momento, os subsídios irão parar. Nessa altura, haverá uma aceleração do desemprego. Se os bancos centrais continuarem a imprimir divisas como no ano passado, vão desencadear uma crise de hiperinflação. Neste caso também, haverá destruição acelerada de empresas e de postos de trabalho. 

Nos gráficos abaixo, da Reserva Federal de St. Louis, pode-se ver o que se passa nos EUA. 

Nos países europeus*, tanto do Euro, como os outros, a situação é substancialmente a mesma: um crescimento vertiginoso da massa monetária, do endividamento estatal e, tudo isto, com um pano de fundo de séria depressão da economia.

  * Nota: No caso do ECB e outros bancos centrais, os gráficos revelam situações bastante semelhantes ao que se passa com a Reserva Federal Americana.

                                     https://fred.stlouisfed.org/series/MABMM301USM189S

          
Fig. 1: agregado da massa monetária M3, de 1960 até hoje (clicar na imagem para ampliar)


         
Fig.: dívida em relação ao PIB dos EUA, de 1966 até hoje (clicar na imagem para ampliar) 

Terceiro, a descolagem completa da finança em relação às realidades de economia produtiva vai acelerar. Os valores bolsistas já estão, em geral, completamente dissociados do valor real das empresas cotadas e das suas performances, em termos de produção e de lucro. 

O que se observa agora com a economia financeirizada dos países ocidentais, é aquilo que se observou nas crises económicas e financeiras, que levaram à bancarrota o Zimbabué e a Venezuela: uma fuga para a frente, com multiplicação da impressão monetária, conjugada com o desejo do público salvar as suas poupanças, consciente de que o valor das moedas estava a ser destruído. As pessoas aplicavam tudo o que tinham em acções das bolsas. Nesta fase, as bolsas da Venezuela e do Zimbabué obtiveram subidas espectaculares, mas o valor em termos reais dessas acções, descia mais depressa do que as subidas nominais.

No geral, mantenho o que afirmei na minha avaliação periódica OLHANDO O MUNDO DA MINHA JANELA - PARTE IX. Convido-vos a ler e discutir esta e outras análises, pois o colapso (termo usado também por Sannat) não está longe; está em cima das nossas cabeças e , por isso, temos de saber muito bem o que fazer nestas circunstâncias. 

Estão todos/todas convidados/as a escrever comentários sobre estes temas. A discussão é livre no meu blog; podem exprimir vossas opiniões sem censura, aqui!

  

sábado, 14 de setembro de 2019

HARLEY SCHLANGER: GLOBALISTAS E BANQUEIROS QUEREM DOMÍNIO HEGEMÓNICO


Enquanto, em Biarritz (França), o G7 mostrava a sua impotência, em Jackson Hole, nos EUA, banqueiros centrais desenhavam um plano para tomada de controlo, não só da emissão da massa monetária, mas também a utilização desta... controlo total.

quarta-feira, 27 de março de 2019

BANCOS CENTRAIS DESESTABILIZAM A ECONOMIA MUNDIAL

A reversão, pelos bancos centrais americano (a FED) e europeu (ECB), para uma política de impressão monetária, enquanto suspendem ou revertem os programas de venda de activos, que tinham comprado ao longo destes anos, conjuga-se com a manutenção de juros de referência próximos de zero. 

Esta reviravolta foi oficialmente anunciada pela FED, enquanto o ECB continua a manter taxas - de facto- negativas e retoma a impressão monetária, sob o nome de «TLTRO», para financiar os bancos.
Esta inversão brusca de tendência, pouco habitual no modo de proceder dos bancos centrais, é arriscada e tem um efeito desestabilizador na economia mundial. 
A desistência em regressar paulatinamente a taxas de juro «normais», mostra que os bancos centrais capitularam e compreendem que a economia ocidental, como um adito, já não consegue prescindir do crédito ultra-barato, do «estímulo» constante, para manter (e insuflar ainda mais) bolhas especulativas em variadíssimos domínios, desde as bolsas de valores, até ao imobiliário. 
As economias de vários países emergentes já estão muito afectadas, provavelmente serão as primeiras a entrar em colapso acelerado (veja-se o caso actual da Turquia). 
Quanto aos países no «coração» do sistema capitalista, estes irão experimentar - não somente uma inflação dos activos financeiros, como foi o caso do período dito de «recuperação», entre 2009 e 2018 - mas uma inflação imediata na economia real, que se vai traduzir muito depressa numa espiral de preços ao consumidor. 
Com efeito, de tanto suprimirem as taxas de juro, o grande público já chegou à conclusão de que mais vale acumular quaisquer bens correntes que possam escassear, como bens alimentares, de higiene, medicamentos, etc, do que manter poupanças num banco, a uma taxa negativa, ou inferior à inflação, num ambiente de subida acelerada dos preços.
A responsabilidade desta enorme instabilidade, com as perdas concomitantes na economia real e, sobretudo, do sofrimento da população, deve-se inteiramente às políticas neokeynesianas. 
Este culto neokeynesiano, considera loucamente que a saída para uma crise, causada por excesso de liquidez, é carregar o sistema com ainda mais liquidez. A falácia deste pensamento é tão óbvia, que pode ser desmontada por uma criança. Se a economia fosse beneficiada com mais impressão monetária, então as economias mais prósperas do planeta seriam as do Zimbabwe e Venezuela, pois ambas estão a sofrer de hiperinflação.

Somente sobreviverão os activos não financeiros, os que não possuem o risco de contrapartida: se alguém é detentor de obrigações, emitidas por uma empresa ou por um Estado, a entidade que a emitiu pode entrar em colapso e não honrar a dívida. Todos os outros instrumentos financeiros têm o mesmo problema. O próprio depósito de moeda não está seguro, ao contrário do que os Estados dizem, pois os depósitos podem ser predados para recapitalizar os bancos em perigo de falência. 
Mas, o mais provável, é haver uma perda catastrófica de activos com a hiperinflação. 
Mesmo que o capital em dívida seja nominalmente  devolvido, na realidade, resta apenas uma percentagem irrisória do seu valor inicial, pelo facto da inflação ter destruído o valor da unidade monetária. 
Em particular, os fundos de pensões, sejam eles públicos ou privados, estão em risco iminente de serem varridos na tempestade: os pensionistas continuam a receber a sua pensão nominal, mas o seu valor real (o seu poder de compra), esse, fica dividido por 5, por 10, ou por 20! 

Face a esta viragem, a única possibilidade de salvar o poder de compra das poupanças é convertê-las em bens materiais: as pessoas deverão constituir uma reserva na sua dispensa, para que possam aguentar a subida dos preços. 
Com efeito, a inflação acelera num ápice, sendo um fenómeno exponencial e não linear. Numa progressão exponencial, pode confundir-se, no seu início, com uma progressão linear (ou directamente proporcional); mas isso acontece apenas nos primeiros momentos. Quando começa a fase de aceleração, rapidamente atinge 10 vezes, depois 100 vezes, etc., os valores de partida.

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Gráfico: nos primeiros tempos, o crescimento exponencial (curvas a verde e azul)  é baixo, mas a partir de um certo ponto, inflecte e o crescimento acelera. A curva a vermelho representa o crescimento linear.


As pessoas com acesso a terra agrícola, deveriam já começar ou recomeçar a dedicar-se ao cultivo de géneros alimentares. Num contexto de crise, além destes permitirem, pelo menos, uma parte do sustento próprio, haverá sempre possibilidade de troca, duma parte da produção de alimentos, por outros bens essenciais. 
Também, neste contexto especialmente, deve-se estabelecer ou fortificar as relações de amizade, de boa vizinhança, com gestos concretos de solidariedade e de entreajuda, pois a coesão do tecido social onde estamos inseridos, será um factor decisivo para aguentar uma crise, especialmente se ela for de longa duração.