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segunda-feira, 16 de maio de 2022

FIM DA HEGEMONIA DO DÓLAR ?




Este programa de George Galloway é o que - ultimamente - posso encontrar de melhor e mais honesto em termos de pensamento plural, anti-capitalista, anti-imperialista. Os seus intervenientes são pessoas cultas e defensoras de uma alternativa socialista, no sentido lato do termo.

 Será o Dólar a chave para a hegemonia US? 
- Mas, na realidade, a questão traduz-se em avaliar com cuidado, sobre a natureza da hegemonia US. Com efeito, não se pensa na hegemonia do dólar nas operações financeiras apenas mas, sobretudo, na facilidade com que os EUA podem decretar sanções contra países e regimes que  não sejam do seu agrado. 

Esta discussão inclui o Dr. Francisco Rodriguez (perito em economia política, Middlesex Univ.), Shabbir Razvi (analista económico e político), Prof. Michael Hudson (através de link vídeo a partir de Missouri, USA), Clive Menzies (investigador em economia política) e Prof. Steve Keen (australiano, via ligação vídeo de Bangkok).

 

terça-feira, 7 de setembro de 2021

DESTRUIÇÃO SISTEMÁTICA DAS POUPANÇAS, SALÁRIOS E PENSÕES

Quando as pessoas ouvem falar do «Great Reset» ou «Grande Reiniciação», pensam, geralmente, como algo que acontecerá no futuro. Além disso, a média dá notícias, como se incidisse «apenas» sobre os grandes acordos monetários, um «Bretton Woods II», algo que se passaria longe da economia do dia-a-dia, da nossa vida. Mas, na verdade, isto é um truque dos poderosos, com a conivência da média económica.

Vou tentar explicar claramente por que razão...
(a) o «Great Reset» está em curso e em fase adiantada
(b) isso tem tudo a ver com nossas vidas pessoais (pensões, ordenados, poupanças, contas bancárias)
(c) o completar do plano - com a total digitalização das divisas - equivale à nossa transformação em servos da gleba face aos senhores feudais globalistas.

Mas comecemos pelo princípio: O sistema de Bretton Woods, o sistema monetário instaurado em 1944, assumia-se ancorado ao padrão-ouro, mas esse ouro só podia ser remido de um banco central para outro banco central. O dólar US funcionava como moeda de reserva, tendo uma paridade fixa (35 dólares /onça de ouro troy) e todas as restantes divisas iriam ter indiretamente ligação ao ouro, através da cotação ao dólar.

Em 1971, há meio século, Nixon fez uma mudança, instigado pelos seus conselheiros, vendo a dívida dos EUA aumentar, pelo lançamento, alguns anos antes, de ambiciosos programas sociais pela administração Johnson e pela intensificação da guerra do Vietnam, a qual absorvia, além de muitos americanos jovens (criação do serviço militar obrigatório), quantidades enormes de dólares para alimentar a máquina de guerra. Por outro lado, os parceiros dos EUA estavam cada vez mais suspeitosos da sua solvabilidade e da cobertura em ouro do dólar. Eles tinham adotado a prudente estratégia de pedir que os dólares em excesso nos cofres dos seus bancos centrais fossem remidos em ouro. Isso aconteceu, nomeadamente, com a França e com a Grã-Bretanha. A declaração de Nixon, a 15 de Agosto de 1971, decretando a não convertibilidade «provisória» do dólar em ouro, foi de facto, um incumprimento contratual («default») pelo Estado que tinha sido o principal arquiteto (e beneficiário) do sistema instaurado em Bretton Woods.

O resultado deste estado de coisas arrasta-se até hoje, em que não apenas o dólar, como todas as divisas, em todo o mundo, são mantidas numa «paridade flutuante». As cotações são baseadas na «confiança» nos respetivos governos. É o significado do nome latino «fiat». Em bom português, as divisas têm como fundamento o sopro do vento, o ar.

O sistema passou - em 1971 - a ser baseado, exclusivamente, no crédito. Se um determinado governo e, por extensão, o respetivo banco central, «merecem confiança» dos investidores, estes não terão problemas em emprestar-lhes dinheiro (comprando obrigações, ou bilhetes do tesouro). As obrigações do tesouro desse país deveriam teoricamente dar um juro suficiente para atrair os investidores. O juro remunera o tempo em que o título (a obrigação, ou outro instrumento de crédito), está em dívida, para compensar o investidor que emprestou o dinheiro. Porém, se houver desconfiança quanto à solvabilidade daquele Estado, ou sua vontade em restituir o dinheiro emprestado, os juros subirão na proporção dessa desconfiança.

O sistema monetário baseado no crédito tem como pilar fundamental os bancos centrais, que emitem divisas (notas de banco ou equivalente eletrónico), para cobrir as emissões de dívida dos respetivos Estados. Se não houvesse a participação dos bancos centrais nos leilões da dívida dos Estados, esta teria - com certeza - um juro mais alto. Há cerca de dez anos, os leilões de dívida dos «PIIGS» passaram a ser cobertos regularmente pelo Banco Central Europeu, de tal maneira que aqueles têm conseguido colocar a dívida apesar dos juros ridículos, iguais ou mais baixos que as emissões de dívida dos EUA ou doutros Estados, muito mais sólidos que os países do Sul da UE (que essa perceção de solidez seja certa ou errada, não está em discussão, aqui).

A distorção permanente do valor do dinheiro (1), ou seja dos juros da dívida, tem consequências. Note-se que todo o dinheiro é «fiat»: Neste sistema, o dinheiro, não é mais do que dívida.

Uma grave consequência disto, é a perda de poder aquisitivo das pensões. Com efeito, o sistema de pensões está baseado no princípio de se dar na fase ativa profissional, para se reaver através de uma pensão, uma quantia fixa, recebida quando, por idade ou por deficiência, já não se pode trabalhar.

Ora, as pensões são atacadas de duas maneiras: uma, pela perda do poder de compra do dinheiro. Se os objetivos de inflação de 2% anuais do BCE ou da FED fossem cumpridos (2), as pessoas reformadas perderiam em 10 anos, pelo menos 20% ou mais, em poder de compra da sua pensão, o que não é nada trivial. Estas pensões quase nunca são aumentadas e quando o são, os aumentos são tardios e insuficientes para cobrir a perda de poder de compra.
Outra forma de ataque, deve-se ao facto dos fundos de pensões terem dificuldade em obter a rentabilidade mínima para se (auto)sustentarem no longo prazo, devido à descida radical dos juros. Esta descida incita os fundos de pensões a aumentarem, cada vez mais, a proporção de investimentos especulativos (bolsa, etc.), arriscando no casino financeiro as garantias de pagamento das pensões.
Quanto aos salários: Em teoria, os trabalhadores podem, mediante lutas reivindicativas, conquistar melhorias salariais. Isto, porém, não existe hoje, em múltiplas situações, porque as pessoas são sujeitas a emprego precário, a repressão das atividades sindicais é uma realidade e devido a outras circunstâncias, os salários reais (em termos do seu poder de compra) têm diminuído.

Mas, todo o dinheiro é crédito. Quando as pessoas pedem um crédito ao banco, para compra de uma casa, por exemplo, este dinheiro é escriturário: ou seja, o banco inscreve determinada soma na conta bancária do cliente e este fica a dever-lhe prestações mensais mais os juros, durante o tempo do contrato. O dinheiro não existia antes, não foi retirado da conta doutros clientes, ou dum fundo pertencendo ao banco. Foi criado «ex-nihilo». Aliás, a maior parte do dinheiro em circulação é gerado desta forma.
O dinheiro que os devedores do banco pedem emprestado, deve considerar-se uma ficção, em última análise. Mas, TAL NÃO É O CASO do dinheiro gerado pelas atividades económicas dos mesmos clientes. Foram estas atividades que permitiram que eles tivessem um excedente (sobre a satisfação de suas necessidades imediatas) e, com ele, pagassem as prestações. Digo que não é o caso, pois esse dinheiro foi gerado em retribuição de trabalho (e mesmo se foi de rendimentos, indiretamente resulta do trabalho de alguém).
Portanto, o dinheiro real (resultante da atividade económica) serviu para extinguir a dívida contraída junto do banco, mas essa dívida constituiu-se com CAPITAL FICTÍCIO.
Aliás, a prova disso é que quando a dívida se extingue, esse dinheiro também se extingue. No fundo, o que o banco esteve a fazer, foi trazer para o horizonte temporal do presente, a soma necessária ao cliente para obter determinado bem material (uma casa, neste exemplo), sendo essa soma paga num intervalo de tempo, com a taxa de juro calculada, tendo em conta a desvalorização do dinheiro nesse intervalo de tempo, mais a remuneração (lucro) do banco.

Visto que tudo funciona com base no crédito, os juros de referência dos bancos centrais tornam-se ainda mais importantes, pois servem para determinar os restantes juros. São também importantes para avaliar a rentabilidade do capital investido.
Ora, a mais ostensiva falsificação do valor do dinheiro «fiat», começa com as catadupas que foram vertidas a partir de 2008 no sistema financeiro, sobretudo nos bancos ditos 'sistémicos', para estes não colapsarem, mas sem qualquer contrapartida. Estes bancos não investiram na economia, não emprestaram para realizar investimentos produtivos, o que teria um efeito multiplicador. Preferiram manter o dinheiro em contas, que eles detêm nos próprios bancos centrais (contas onde guardam os excessos de reservas), recebendo um juro minúsculo, mas seguro. Alternativamente, emprestaram a grandes empresas tecnológicas (Google, IBM, Apple, etc., etc.) e outros gigantes que, por seu turno, usaram este crédito muito barato para auto-compra das ações. Desta forma, aumentam a cotação bolsista das suas próprias empresas e arrastam os especuladores a comprar essas ações.

Na base da bolha enorme, que se observa em todas as grandes bolsas mundiais, estão - sem dúvida - os bancos centrais e sua deliberada estratégia. A teoria (falaciosa) deles, é de que isso dá aos indivíduos uma perceção subjetiva duma economia a funcionar bem, o que os iria encorajar a investir e a consumir.
Esta conversa já não nos deveria enganar, pois:
- Primeiro, muitas pessoas ignoram completamente, ou veem de longe o mercado de ações;
- Segundo, os investidores normais não têm acesso a créditos com juros de favor, que as grandes empresas obtêm para jogar na bolsa. Para o comum dos mortais, as taxas de juro, de empréstimos para estes ou outros fins, estão longe de ser próximas de zero;
- Terceiro, as pessoas (já) não têm capital disponível para investir em bolsa, pelo menos de um modo significativo, pois os salários perderam muito do seu poder de compra, nestes últimos 30 anos. Por esse motivo, aliás, cada vez mais compram a crédito bens de consumo, estudos, ou férias, que dantes pagavam a pronto, ou com as pequenas poupanças que faziam.

A destruição do valor das divisas fiat, é uma estratégia deliberada dos governos e bancos centrais, para minorar a enorme dívida que se acumulou:
Primeiro, houve a crise de 2008, depois a continuidade da economia deficitária, mas convenientemente ocultada e, finalmente, a chamada «crise do COVID», que veio mesmo no tempo exato, ocultar a disfunção no coração do sistema, nomeadamente, o financiamento interbancário (o «Repo market»).
A partir de Março de 2020, os bancos centrais têm vindo a acelerar a impressão monetária, a um ritmo tal, que será impossível qualquer «atenuação». Basta pensar no que aconteceu em dezembro de 2018, após alguns meses de redução (apenas redução!) dessa impressão monetária. A FED teve de inverter completamente a sua política, sob pena duma crise, financeira e monetária, rebentar com efeitos brutais na economia real.
Foi exatamente o que se passou em Março de 2020, mas numa escala ainda maior. O discurso sobre futura redução do caudal («tapering») é para adormecer os incautos e para satisfazer os governos, que também precisam de adormecer seus eleitores.
De facto, os bancos centrais preparam-se para a destruição final do dinheiro «fiat». Estão ativamente a preparar o lançamento de «criptomoedas», centralizadas, por eles produzidas e controladas. Nessa altura, a digitalização do dinheiro será completa. Não será possível comprar um objeto ou serviço, com dinheiro-papel. O dinheiro-papel poderá ficar como objeto de coleção, tal como certas emissões de selos de correio, somente compradas por filatelistas, ou moedas em ouro ou prata, para os numismatas colecionarem.

Interessa à oligarquia e aos governos que as pessoas guardem o dinheiro inteiramente à mercê deles, nas suas contas eletrónicas. Elas não poderão fazer sair esse dinheiro, senão gastando-o. Mas, qualquer gasto terá a «impressão digital» indelével, pelo que tudo o que fizermos estará totalmente sob escrutínio das grandes corporações e dos Estados.

Além disso, podem estes sistemas de dinheiro 100% digital, aumentar a eficácia da coleta de impostos (sobretudo dos nossos, não os dos muito ricos). Não havendo possibilidade de fuga aos impostos, haverá uma punção periódica, calculada em função dos parâmetros do teu rendimento e do teu consumo.
Por fim, os bancos comerciais poderão cobrar taxas sobre os depósitos. Estaremos sujeitos à sua chantagem permanente. Note-se que as pessoas não terão opção: Hoje em dia, podes pagar em dinheiro físico qualquer coisa. Isso não é ilegal, nem sequer é suspeito. De futuro, as possibilidades de fazeres o que entenderes com o teu dinheiro ficarão limitadas. E, não se trata de atividades ilícitas, mas de atividades do dia-a-dia. De futuro, mesmo pequenas despesas deixarão de estar fora do escrutínio dos sistemas de Inteligência Artificial e dos que detêm o controlo sobre os mesmos.

Estamos perante perigos reais para a nossa autodeterminação, privacidade, possibilidades de escolha, para a liberdade dos indivíduos. Além disso, ninguém pode saber em que mãos esses tais sistemas podem ir parar, no futuro. Os sistemas de pagamento digitais centralizados têm demasiados inconvenientes para as pessoas comuns, mas são imensamente úteis para a oligarquia que tudo domina.

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(1) «Os juros negativos são uma aberração. São uma tomada de reféns. Se toda a gente pudesse obter empréstimos com juros negativos, o Euro seria imediatamente destruído.» (da newsletter de Guy de la Fortelle «L'Investisseur Sans Costume»)

(2) Ver inflação real, calculada por John Williams, Shadowstats.com

domingo, 22 de agosto de 2021

ASSIM VAI O IMPÉRIO


Uma ténue esperança desponta... Esperemos que não seja um efeito superficial, uma ilusão efémera.

Com efeito, a máquina de guerra implacável do império foi - de novo - revelada, na sua obscena exibição de força, naquilo que é, na verdade: um conjunto de mercenários, não só os que se podem designar propriamente como tal, como também as forças oficiais do aparato bélico do império.
Os generais foram derrotados pela enésima vez, mas também os estrategas de gabinete do Pentágono e da Casa Branca, ou os lóbis e «think tanks» que os manipulavam. Eles todos mostraram, uma vez mais, a inanidade do seu pensamento estratégico.


A política do caos, que foi a marca imperial durante dois decénios, pós 11 de Setembro de 2001, foi uma máquina de destruição, mas também corroeu as estruturas que garantiam a estabilidade do «Ocidente», assim como a confiança dos países na esfera de influência mais alargada da potência hegemónica.

No plano monetário também, está-se claramente a chegar ao fim de um ciclo. Agora, o dólar US como moeda de reserva mundial, já é visto como estando perto do fim.
Não se pode ignorar que os maiores atores do sistema monetário ocidental estão a procurar freneticamente uma saída para a enorme crise: O perigo real de colapso do sistema monetário e da montanha de uns 300 triliões de US dólares de dívida, que se acumularam sobretudo nas economias dos EUA e da Europa.


Estão em curso tentativas de lançar moedas digitais, pelos bancos centrais do Ocidente. Elas serão apenas variações das moedas «fiat» atuais, caso não estejam garantidas por algo de sólido, nomeadamente, o ouro.
A este contexto financeiro-monetário, soma-se ou potencia-se o desesperado esforço para descolar as economias ocidentais, financeirizadas, da dependência em relação às economias produtivas do Extremo-Oriente, em particular, da China.
Mas, esta tentativa é fútil. Ela irá provocar um maior empobrecimento nas economias europeias e norte-americanas, já muito depauperadas. Não se pode imaginar, senão no domínio da ficção, que as economias, esvaziadas durante os últimos decénios da sua componente industrial, poderão rapidamente readquirir sua capacidade industrial perdida.

As potências que vão moldar o futuro, goste-se ou não, são a China e a Rússia, com uma constelação de outros Estados, possuindo maior ou menor poderio económico e geoestratégico. Todos eles, estão a agregar-se em várias plataformas, com vista a potenciar mutuamente suas vantagens numa ordem multipolar, sem ter que prestar vassalagem a um «dono e senhor», como é o caso dos países sujeitos ao império, sejam eles fortes ou fracos.
Veja-se o estatuto real da Alemanha: Por maior que seja esta potência, do ponto de vista económico, ela continua a prestar vassalagem à potência hegemónica americana que, sob cobertura da NATO, ocupa o Centro e Oeste da Europa, há mais de 70 anos.


Não se deve, porém, desprezar o poderio dos EUA: Continuam a dispor dum poder temível, pois têm uma capacidade nuclear maior que qualquer outra potência e forças armadas hipertrofiadas. Possuem bases militares - cerca de 800, segundo estimativas prudentes - nos cinco continentes. 
Além disso, reservam-se o privilégio de acumular, sem contrapartida de qualquer espécie, uma dívida astronómica, tendo défices estatais e comerciais durante décadas a fio, graças ao controlo do sistema monetário internacional e da emissão de papel-moeda. 
Os EUA, graças ao seu poderio militar-económico, obtêm a submissão dos governos e políticos corruptos nos países-vassalos.

Mas, a política do caos chegou ao seu fim, no Afeganistão:
Assim como a experiência amarga do Vietname serviu de lição aos jovens americanos que deixaram de ver seu governo como essencialmente benéfico para eles e para os seus «aliados», também a experiência afegã está a mostrar aos americanos e ao mundo que o império tem pés de barro, que os políticos estão sempre a mentir e apenas querem dar a ilusão de que controlam as situações.


No entanto, estes políticos são completamente impotentes para inverter, ou somente travar, as tempestades que eles próprios desencadeiam e lhes vêm parar à porta. Uma economia em involução, nos EUA e nos países da sua órbita, vai desencadear múltiplos fenómenos políticos e sociais.

A crise do «COVID» tem-se revelado como a tentativa de controlar os cidadãos e os Estados, de forma a evitar poderosos movimentos de massas, decorrentes da situação de depressão económica, que se abateu sobre o Ocidente e que poderá arrastar-se durante várias décadas. Esta crise começou em 2008, mas tem sido camuflada pelas medidas cosméticas dos governos e bancos centrais. 


Os poderes precisam, neste contexto, de reforçar os mecanismos do controlo e repressivos. Mas, esta viragem autoritária, totalitária, quer se chame «Great Reset» ou outra coisa, tem uma grande limitação: A impossibilidade de obterem o consentimento dos cidadãos.
Nas democracias liberais, o consenso da cidadania era fundamental para o funcionamento - sem sobressaltos - da economia, até à burocracia de Estado e aos partidos políticos.
Com a coerção e patente violação das liberdades fundamentais, os poderes poderão obter a submissão pelo medo, mas não a adesão voluntária às suas políticas, usurpadoras dos legítimos direitos dos cidadãos. As pessoas comuns vão sofrer perdas, a todos os níveis: económico, de segurança e das liberdades.
Enquanto muitos no Ocidente sofrem as consequências da viragem autoritária, incluindo as campanhas de terror psicológico ao estilo da guerra-fria, o que se passa nos países do «eixo Euro-Asiático»? No sistema multipolar Euro-Asiático em construção, um número considerável de povos sairá da pobreza, terá capacidade de gerar a sua produção e desenvolvimento. Estas nações estarão, cada vez mais, «no centro». 
Pelo contrário, as democracias ocidentais decadentes, incluindo a potência hegemónica que as controla, estão em vias de «terceiro-mundialização».


É impossível prever precisamente como as coisas se vão passar, mas - de uma ou outra forma - a cidadania irá reagir: A dissociação entre governantes e governados origina, necessariamente, uma instabilidade. A casta política e a oligarquia que a sustenta, nunca irão devolver 'de mão-beijada' o poder retirado aos seus súbditos.

Neste contexto, as pessoas devem preparar-se, o melhor  possível:
Há dois conceitos que se deveriam pôr em prática, tanto ao nível individual, como das famílias e comunidades: os conceitos de resiliência e de autonomia, os quais estão ligados.
Prometo escrever sobre esta questão, sob um ângulo prático: «como enfrentar agora um mundo em completa transformação, aos níveis dos indivíduos, das famílias e das relações sociais».

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PS1: Inicia-se nova era pós- invasão americana do Afeganistão. O estado de espírito dos imperialistas parece ser o que vingança, de querer castigar o povo afegão por ter feito sofrer a humilhante derrota ao poderoso exército e ao complexo militar industrial: https://www.moonofalabama.org/2021/09/why-us-plans-for-revenge-in-afghanistan-may-not-succeed.html#more

domingo, 27 de junho de 2021

AINDA NÃO SABE, MAS A SUA NOTA DE 20 € EM BREVE, VALERÁ APENAS 2


                                             (... e a moeda de 2€, valerá 20 cêntimos, claro!)


Comentário de Manuel Banet:
Neste vídeo - muito pedagógico e falado em francês - Charles Sannat expõe a característica fundamental das divisas «fiat», que apenas estão baseadas na palavra do governo: daí o termo latino «fiat», que quer dizer confiança; a palavra «fiador» tem a mesma raiz.
Como dizia Voltaire, toda e qualquer moeda em papel tende a reverter ao seu valor intrínseco, que é zero.
No seu tempo (século XVIII), o comércio era feito em parte com notas de crédito, o que permitia que comerciantes e negociantes não tivessem de transportar consigo grandes quantidades de moedas de ouro.
No século XIX, o ouro continuou a ser o dinheiro verdadeiro e as notas de banco, um substituto do ouro: Uma pessoa podia ir ao banco trocar o dinheiro-papel por quantidade equivalente em ouro. A taxa de conversão era fixa, o que tinha como efeito não haver especulação monetária: todas as moedas - sendo representação de uma dada quantidade de ouro - estavam deste modo numa relação constante entre elas.
A fase atual, em que as divisas estão em oscilação permanente, umas em relação às outras, foi iniciada com a retirada do dólar US da convertibilidade em ouro, por Nixon, em 15 de Agosto 1971.
Agora, quase 50 anos depois dessa data, está-se a chegar ao fim de um ciclo. Pode ser que este sistema dure ainda algum tempo. Mas, as entidades que decidem ao nível monetário (Bancos Centrais, BIS, FMI...), já estão plenamente convencidas e já anunciaram publicamente medidas para substituir este sistema.
Porém, as fórmulas apresentadas não incluem (ainda?) repor o ouro no centro do sistema mundial financeiro e monetário. Mas, as cripto-moedas centralizadas (dos Estados), a digitalização total das trocas comerciais (desaparecimento do papel-moeda, das notas de banco, de circulação) e outras medidas anunciadas, não irão -por si só - dar estabilidade ao sistema. Estas reformas não são as que poderiam incutir uma renovada confiança nas moedas emitidas pelos Estados.
Uma moeda tem de ser confiável, enquanto meio de pagamento, unidade de contabilidade e repositório de valor.
O dinheiro digital não trará confiança aos atores económicos: poderá ser inflacionado a uma velocidade ainda maior que o dinheiro «em papel» atual.
Ora, estamos a assistir à deliberada destruição do valor das principais moedas ocidentais, o dólar, a libra, o euro, o yen. Isso está a ocorrer pela impressão monetária descomunal, que faz subir os balanços dos bancos centrais respetivos a valores astronómicos. Mas, muitos dos ativos adquiridos nas operações de «quantitive easing», são de valor muito questionável. Não são mais do que dívidas, na grande maioria.
Isto significa que o aumento de dinheiro posto em circulação não tem uma verdadeira contrapartida num aumento de produção. Por outras palavras, os próprios bancos centrais estão a levar a cabo operações de contrafação. Neste caso, serão os consumidores que irão «pagar», pois o excesso de dinheiro para adquirir bens, cuja produção não aumenta (ou até diminuí), desencadeia a subida acentuada da inflação.
Por definição, todos os episódios de inflação são transitórios, mas nesses períodos inflacionários, são os mais poderosos capitalistas que enriquecem, à custa da falência dos mais pequenos, do desemprego de massa, do empobrecimento acelerado da grande maioria da população.

Se a memória não me falha, Henry Ford dizia que «Se o homem da rua suspeitasse de como o dinheiro é realmente criado e como entra em circulação, haveria uma revolução no dia imediato». Por sua vez, Lenine dizia que «Não existe maneira mais eficaz de enfraquecer o capitalismo, do que socavar o valor da moeda».

Estamos numa época estranha, em que as forças de destruição superam as de criação. Em que cientistas, políticos e filósofos têm diante dos olhos o que se está a passar - a destruição das condições de subsistência dos mais fracos - mas não fazem grande coisa para mudar a situação.
Há um certo fatalismo na sua visão, porque estão fixados numa ideologia travestida de ciência, a economia que se ensina hoje nos cursos superiores, um pouco por todo o lado: Afinal, trata-se de pseudo-ciência com o seu deus, o mercado. Pensa as relações dos humanos entre si, e destes com a Natureza, como se fossem regidas por «leis» do mercado. São apenas enunciados ideológicos, que servem como justificação às políticas neo-liberais. Enunciam teorias usando modelos matemáticos, o que lhes dá a aparência de ciência. Porém, esquecem que a ciência tem como base a observação e a descrição rigorosa dos factos, não dos modelos.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

PREVISÕES DE SAXO BANK PARA 2020

                             


Estas «Outrageous Predictions» do Saxo Bank são, afinal de contas, um somatório de acontecimentos julgados improváveis mas não impossíveis de acontecer. Caso algum deles se concretizar, deverá ser muito perturbador dos mercados e da economia. 


A previsão nº10, da China lançar uma moeda de reserva que afaste a dependência do sistema monetário internacional do dólar (como se vê na imagem junta) não me parece nada improvável. 

Os bancos centrais da China e da Rússia, nomeadamente, já ensaiam soluções de cripto-moedas controladas pelos bancos respectivos.

Por outro lado, ergueram uma réplica do FMI e do Banco Mundial, o Asian Infrastructure Investment Bank, um banco que tem sido vector essencial no desenvolvimento das Novas Rotas da Seda.

A quantidade de ouro detida pela China não é, de facto, conhecida. Muitos analistas consideram que seja muito maior que a quantidade oficialmente indicada. 

A China lançou recentemente e pretende ver alargada a utilização de seus instrumentos próprios de dívida, a curto e médio prazo, análogos aos bilhetes do tesouro e às obrigações do tesouro dos EUA. 
Serão análogos, só com uma pequena diferença: são remíveis em ouro físico, na bolsa de Xangai. 

Veremos, ao longo de 2020, quais as previsões «extravagantes» do Saxo bank, que se afigurem acertadas...