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As distorções mais graves constatam-se em determinadas narrativas favoráveis aos defensores do capitalismo e dos impérios coloniais, relativamente ao ascenso dos fascismos e como uma crise económica e financeira mundial, se foi transformar na IIª Guerra Mundial.
De facto, o que acontece hoje em dia, possui muitos paralelos com as relações conflituosas entre potências importantes à saída da 1ª Guerra Mundial (1918) e até ao desencadear da 2ª Guerra Mundial (1939). A existência de graves tensões resultantes das exigências, na negociação de paz de Versalhes, pelos aliados vencedores da 1ª Guerra Mundial, em relação à Alemanha vencida, foi originar uma grave crise de hiperinflação neste último país (de 1922-23), que deu alento a grupos de extrema-direita. Estes coalesceram no partido Nazi. As mudanças de políticas em relação à Alemanha, ao seu rearmamento, a tolerância em relação à Itália fascista de Mussolini, nomeadamente, à guerra na Abissínia e à guerra civil de Espanha (que logo se transformou em guerra internacional), foram fatores importantes na subida e consolidação de fascismos em vários países europeus, quer já tivessem alcançado o poder, quer fossem forças organizadas e prontas para levar a cabo golpes de Estado.
O que todos podemos constatar - para lá das divergências relativas à História - é que as crises económicas e financeiras, desencadeadas pelas políticas dos bancos centrais, dos governos, ou de ambos, levam de imediato a crises sociais, as quais vão gerar movimentos revolucionários, tanto de esquerda como de direita.
As instabilidades no tecido económico e social, não podem ser remediadas pelo tipo de medidas usadas pelos governos, sejam elas fiscais ou económico-financeiras. Os poderes - então - recorrem à repressão. Mas, a deriva autoritária dos governos não tem qualquer efeito benéfico na economia. O que é simples de perceber: Numa sociedade industrial, o escoamento e consumo das mercadorias é fundamental para o funcionamento de todo o sistema. Porém, a capacidade aquisitiva da classe trabalhadora e da classe média diminui acentuadamente, num contexto destes. O fracasso das políticas internas tem levado os governos a procurar «unir a nação» contra um inimigo externo. Leva, também, a que a casta militar e por trás dela, a indústria bélica, seja ouvida e que suas «soluções» seduzam a casta dirigente.
Se virmos o período entre o fim da 2ª Guerra Mundial e hoje, constatamos que nunca houve paz, propriamente dita. Houve sempre conflitos armados, quer causados pelo choque entre nações independentes, ou por nações que lutavam pela emancipação do jugo colonial de uma potência europeia, ou contra o neocolonialismo, principalmente dos EUA. Outra constatação, é de que a capacidade instalada e a produção de armas e material de guerra esteve sempre em crescendo. Os fundos atribuídos ao complexo militar nos orçamentos de Estado das grandes potências foram sempre aumentando.
Tudo o que sabem fazer os Estados, os seus governos e corpos legislativos, sob influência dos lobbies das grandes empresas e grupos económicos, é criar ou aumentar as despesas, aumentando o défice das contas públicas, criando problemas de insolvabilidade, que tentam remediar, criando mais dinheiro. É como se tentassem tapar um buraco no solo, cavando outro ainda maior.
Chega um ponto em que, ou forçam o «apertar do cinto» na população (as políticas de austeridade) e arriscam-se a desencadear uma revolta; ou continuam a gastar o que não têm, através da «impressão» de dinheiro eletrónico, fazendo disparar a hiperinflação. Teoricamente, existe outra solução: A de transformar a estrutura produtiva e de propriedade, o que se poderá designar como uma transformação socialista. Mas, os partidos de governo nos países europeus excluem esta hipótese, mesmo quando têm «socialista» no seu nome!
As crises no capitalismo estão inscritas no seu próprio «ADN». São motivadas pela impossibilidade do capital auto-moderar o seu apetite pelo lucro.
O mantra que ensinam nas escolas de economia do Ocidente é que a empresa que não tentasse maximizar os lucros, estaria condenada a prazo, pois as empresas concorrentes não teriam problemas em tomar posições nos mercados para obter esses mesmos lucros.
Os países são empurrados para a guerra pelos dirigentes políticos e por empresários que têm vantagens nisso (ou pensam que têm). A guerra é um meio cruel, brutal e eficaz de destruir o excesso de capital, sob forma de instalações produtivas, excesso esse associado aos excedentes de produção de mercadorias.
Por detrás de qualquer guerra perfilam-se interesses económicos: Eles são facilmente detectáveis, se descartarmos os argumentos da propaganda, de um lado ou do outro.
Os EUA empurraram a Ucrânia para a guerra, para poderem colocar em cheque a progressão dos BRICS. Esperavam quebrar a unidade dos BRICS, mas enganaram-se, pois não apenas esta se mantém, como se alargaram os membros e os candidatos. Por outro lado, o imperialismo americano estava muito preocupado com a indústria alemã, com a sua competitividade, em parte devida ao fornecimento de energia barata pela Rússia. Conseguiu o imperialismo, pelo menos no curto prazo, resolver o problema ... com a sabotagem dos gasodutos Nord Stream. Esta sabotagem precipitou a Alemanha na maior crise industrial do pós 2ª Guerra Mundial. Muitas fábricas, por causa do aumento do preço da energia, fecharam portas na Alemanha e foram instalar-se nos EUA. Gigantes como a Volkswagen estão em dificuldades ou à beira da falência, ao ponto de encararem o fecho de suas fábricas na Alemanha.
A guerra económica com a China destina-se a impedir que os aliados dos EUA estabeleçam laços com o maior produtor industrial do mundo (a China): Querem manter o mercado Ocidental cativo, para escoamento dos produtos dos EUA e dos seus comparsas. Para dominar, os EUA não hesitam em dividir o Mundo em dois nos planos político, económico, militar e civilizacional. Mas, tal ambição é desastrosa e - felizmente - já se começa a compreender, mesmo nas fileiras pró-capitalistas, que ela só pode trazer guerra e miséria.
«Estamos a trair a herança de milhares de homens e mulheres que se sacrificaram, entregando a nossa liberdade aos novos senhores, por um prato de lentilhas (transgénicas)»
A conversa entre a historiadora medievalista Marguerita Torres e o politólogo coronel Pedro Baños, é mais que interessante; é um raro momento de esclarecimento.
PS: Veja um exemplo de neo-feudalismo; Blackrock está a apoderar-se de imobiliário pelo Mundo:
A história que nos é ensinada nas escolas, desde há gerações, segue uma vulgata marxista, o mesmo é dizer, que é algo ideológico.
No cerne dos preconceitos que enformam as gerações de estudantes formados após o 25 de Abril de 74, sobressai o de «revolução». Nenhum conceito poderia ser ensinado de modo mais confuso e mais ideológico. Fala-se de revolução a torto e a direito, a propósito de golpes de Estado e outros derrubes mais ou menos violentos, em contradição com os sistemas políticos instituídos.
Mas, na verdade, não houve senão duas revoluções, no sentido marxista (sem ironia!): pois a teoria marxista acentua o facto de uma revolução implicar profundas modificações no modo de produção, por sua vez, transformando as relações sociais, em profundidade e de modo duradoiro. A partir da consolidação da nova ordem, muitos aspetos super estruturais das sociedades, ficam profundamente modificados.
Para se aderir a esta visão do que seja «a revolução», teremos necessariamente de excluir as «revoluções políticas», as mudanças políticas, mesmo que elas nos pareçam muito significativas. De facto, o que é apontado como revoluções não o foram, por certo; mas foram antes epifenómenos de algo que estava a agir em maior profundidade.
A «revolução francesa», por exemplo, foi o derrube de uma ordem monárquica mas, nem por isso foi a transformação radical da forma produtiva, nem sequer da dominância das classes. A transição da sociedade agrária para a sociedade industrial estava muito avançada quando, a 14 de Julho de 1798, um grupo de populares parisienses tomou a Bastilha. As relações de produção continuaram as mesmas, antes e depois da «revolução», não foi pelo facto de um certo número de cabeças rolarem, nem de propriedades, que antes pertenciam a aristocratas, passarem a pertencer a burgueses, que se modificou em profundidade a relação entre as classes e nem sequer ao nível do poder político. Note-se que os cargos políticos, já antes da chamada revolução, eram largamente ocupados por elementos da alta burguesia, os quais exerciam esses cargos no poder central e provincial do Estado, muitas vezes relacionados com funções legislativas e da justiça. Mesmo nos altos postos das forças armadas, um campo supostamente reservado à nobreza, as classes não nobres iam progressivamente tomando conta de mais e mais postos. Não devemos ficar iludidos pelo facto do monarca enobrecer um alto funcionário ou uma alta patente do exército: era uma forma, por um lado, de mostrar confiança nesse indivíduo e, por outro, demonstrar que, servindo o reino, se podia ascender aos cargos e privilégios mais elevados, independentemente da origem social. Napoleão, auto- coroando-se de imperador dos franceses, apenas acentuou essa tendência, que já vinha de longe, criando uma nova aristocracia, desde barões a príncipes.
Não se encontra, no domínio da política, nenhum aspeto de fundo que tenha modificado realmente a estrutura das relações sociais. Alguns burgueses tiveram oportunidade de enriquecer, tomando as propriedades das ordens religiosas. Note-se que, eles já pertenciam aos extratos elevados da burguesia, quando compraram (por bem pouco!) os bens das ordens religiosas, postos à venda pelo Estado «revolucionário».
Poderíamos facilmente mostrar que, ao longo do período napoleónico, contrariamente à mitologia, as classes populares (operários, artesãos, camponeses), não só ficaram subjugadas pelos mesmos ou por outros senhores, como se acentuou a proletarização brutal. Foram colocadas pessoas de ambos os sexos, de todas as idades e incluindo crianças, numa relação de dependência e precariedade, que se traduziu em miséria para as classes populares urbanas. As pessoas esquecem muitas vezes a enorme sangria que foram as guerras revolucionárias e napoleónicas: Durou cerca de 25 anos, em várias partes da Europa. Foi um rasto de destruição «a ferro e a fogo», desde Lisboa até Moscovo. Estas guerras forçaram comunidades rurais inteiras a migrarem para as cidades, visto que as suas explorações agrícolas tinham sido devastadas ou tinham perdido sua viabilidade económica.
Do ponto de vista estritamente político, após as guerras napoleónicas reconstituiu-se rapidamente a aliança entre a alta burguesia e a aristocracia. Os governos e monarquias constitucionais que se formaram em quase toda a Europa, são o resultado disso. De fora, ficaram apenas elementos mais radicais, como os republicanos, que continuaram a ser perseguidos: não houve «liberdade de imprensa», nem liberdade de qualquer espécie, durante largos períodos do século XIX, tanto nos países onde tinha havido forte apoio às ideias revolucionárias, como nos que não se deixaram seduzir por elas.
Na verdade, o fenómeno político, as revoluções liberais, anti autoritárias, anti monárquicas, que houve ao longo do século XIX, são sobretudo o epifenómeno duma profunda transformação na estrutura produtiva. A revolução industrial, que se tinha desenvolvido bem antes, desde o século XVIII, pelo menos, estava a transformar as relações entre classes em profundidade, mas de uma forma silenciosa, não em consequência de qualquer proclamação de princípios revolucionários. O que houve de revolucionário (sem aspas) ao nível da produção, foram, entre outros, a primeira mecanização, a utilização de máquinas a vapor e a concentração de trabalhadores em grandes manufaturas. Estes, eram frescamente saídos dos campos, onde seu trabalho deixou de ter viabilidade económica.
A concentração de proletários nos centros urbanos, por sua vez, obrigou à transformação das práticas agrícolas: a utilização de processos mecânicos, a generalização dos adubos, os tratamentos fitossanitários, a maior racionalidade no uso dos solos e das culturas, produziram aumentos significativos da produtividade agrícola. Assim se criaram os excedentes que permitiram alimentar a massa humana cada vez maior, nas cidades industriais, porém utilizando muito menos braços nas tarefas agrícolas.
Portanto, a revolução industrial é o grande motor das transformações. Estas, não se limitaram ao século XIX:
Obviamente, a «grande revolução russa» correspondeu à transformação do país essencialmente agrário, numa potência industrial moderna. Que esta transformação se tenha operado a partir de 1917 sob um governo despótico, totalitário, não impede que tal transformação tenha sido o principal aspeto estrutural da «revolução russa». Os bolcheviques, para efetivação da sua tomada de poder, souberam aproveitar as simpatias de partes do campesinato e do proletariado citadino, por determinadas ideias sociais, o socialismo, o comunismo e o anarquismo. Estes foram instrumentalizados, por vezes esmagados, para a transformação desejada pela «elite» soviética. Não esqueçamos a famosa fórmula de Lenine: «o comunismo consiste nos sovietes, mais a eletrificação do país».
É estranho, mas os que se dizem marxistas não conseguem fazer leituras objetivas dos fenómenos sociais e políticos, quando neles estão envolvidos partidos e correntes «comunistas». A mesma incompreensão dos fenómenos leva certos «revolucionários auto-proclamados » a fazerem uma leitura totalmente errada do maoismo e do processo de emancipação da China, da sua passagem de uma sociedade atrasada, com características feudais, para uma grande potência industrial e tecnológica.
Nós - porém - não estamos bloqueados por preconceitos ideológicos. Temos acesso a um manancial de factos registados, pelo menos desde o início do século XIX, até hoje: não precisamos de distorcer a realidade, ou de fabricar «narrativas convenientes», para convencer os outros de que temos razão, que estamos na linha justa, etc.
É necessário compreender que a revolução industrial continua, que ela não parou: não é como um comboio que parte dum ponto, para chegar à estação de destino final. A revolução industrial tem vários episódios, continua a modificar a infraestrutura produtiva, a transformar as relações sociais, a condicionar a vida das nações e dos indivíduos e (como epifenómeno) segrega ideologias, as quais são uma espécie de «secreção» que o tecido social produz, enquanto este vai sofrendo inúmeras micro transformações.
A outra grande revolução na história da humanidade, é a revolução agrária. Ela dura desde há cerca de 10 mil anos. No presente, também continua e as suas transformações estão interligadas com as transformações da revolução industrial. Talvez, um dia escreva sobre a revolução agrária. De qualquer maneira, está tão ligada com as primeiras civilizações, que seria necessário compulsar um número impressionante de dados, só para darmos conta da origem e do desenvolvimento desta revolução agrária. É como fazer a história da humanidade, excetuando o longo período paleolítico.
Não poderei pretender mais, neste pequeno texto, do que delinear as questões teóricas em relação com o conceito de revolução e expressar estranheza, perante a «cegueira voluntária» dos que se assumem como sábios, como sabendo em profundidade as coisas, mas que cometem as mais grosseiras falhas de lógica, de bom-senso, para já não falar de método científico. Não poderei convencer tais indivíduos de que estão errados. Estão numa esfera do tipo crença religiosa, dentro dos seus casulos mentais, sem nenhuma abertura para a realidade...
Assim constatei, em vários, ao longo da minha vida. Felizmente, existem espíritos mais abertos, que conseguiram aperceber-se das falsidades que lhes andaram a contar durante boa parte da sua vida.
Mas, aos outros, que não estejam vinculados às falsas religiões das ideologias, digo-lhes: - Vejam este escrito como chamada de atenção e um apelo ao vosso espírito crítico. Não é por algo ser crença de muita gente à vossa volta, que isso é «verdade», nem tão pouco, que seja a verdade a versão oficial, canónica da História, ensinada desde a escola primária, à universidade!
Eu não pretendo ser detentor da verdade. Apenas tento equacionar os dados do problema ... claro que posso também me enganar. Porém, espero que o meu comportamento desinibido desencadeie nalguns o desejo de inquirir estes assuntos por eles próprios.
Gadus morhua (o bacalhau)
Os portugueses sabem: O bacalhau tem, em terras lusas, o cognome de «fiel amigo». Este cognome não lhe é conferido em vão. Muitos tiveram e têm nutrição adequada em proteína e noutros nutrientes, graças ao peixe seco e conservado por salga que, depois de demolhado, pode ser cozinhado, literalmente, de mil e uma maneiras diferentes.
Seco, salgado e dependurado...
Quem é tradicionalista, em termos culinários, não dispensa o bacalhau cozido na ceia de Natal, acompanhado com couves e batatas cozidas. Condimentado com bom azeite, este prato honra a mesa da Consoada nos lares portugueses, desde tempos imemoriais. Mas, a verdade é que os portugueses consomem bacalhau em qualquer altura; é um prato tradicional e quotidiano, não apenas da época natalícia.
«Fiel amigo» depois de cozinhado...
O documentário abaixo fala da importância do bacalhau na história dos povos basco e viking, em particular. Os peixes em salga e o bacalhau também devem ter desempenhado um importante papel na alimentação das tripulações durante as viagens ultramarinas dos portugueses. Além de que, durante séculos, foi crucial na alimentação das classes populares. Estas, não tinham o poder económico para consumir carnes, ou peixes frescos. Graças ao bacalhau, muitos pobres não sofreram de insuficiência proteica e das doenças associadas.
A epopeia da pesca do bacalhau está relacionada, no documentário, com os mais diversos eventos políticos, guerras, comércio, tráfico de escravos, etc. É uma magnífica resenha histórica, que explica porque as zonas atlânticas ricas em bacalhau, no Canadá, ao largo da Terra Nova, foram tão cobiçadas. O documentário condensa, em 1 hora e 45 minutos, mais de nove séculos de História. No final, teremos de nos render à evidência: O bacalhau é o REI do ATLÂNTICO !
Este século, ainda tão jovem, já está bem cheio de acontecimentos - mas não de quaisquer!
- Acontecimentos suficientemente graves e irreversíveis para mudarem para sempre a(s) civilização/ões, que estamos acostumados a associar a determinadas zonas geográficas e a determinadas tradições: A História, a Arte, a Literatura e a Religião, são - entre outras - identificadoras de determinado complexo cultural ou civilização.
Embora saibamos que todas as civilizações são mortais, tal como os humanos, não sabemos que género de morte espera cada uma delas. Será uma morte por colapso catastrófico? Será um definhar progressivo, até ser englobada por outra, ascendente? Serão outras modalidades, demasiadas para enumerar aqui?
As religiões não podem ser estranhas à construção civilizacional pois, em qualquer civilização, mesmo nas que se proclamam oficialmente «ateias», acaba por haver fenómenos de tipo religioso.
Inversamente, em civilizações que se identificam, a si próprias, como cristãs, nota-se a dissolução progressiva dos laços da população com o elemento cristão.
Isto traduz-se - por exemplo - numa paganização do Natal, a época do ano em que tradicionalmente os cristãos de todas as confissões saudavam a vinda do Salvador. O mesmo, em relação à paganização da Páscoa, transformada em ocasião para dar ovos e coelhos de chocolate às crianças.
Esta paganização não se faz, no mundo cristão, sob forma de um qualquer ressuscitar das religiões pagãs que antecederam o aparecimento do Cristianismo nesses territórios. Faz-se com o abandono de tradições e, sobretudo, de assistência ao(s) culto(s). Muitos são aqueles que dizem professar o cristianismo e, no entanto, não observam quase nenhuma tradição, não vão à missa (ou culto) dominical, apenas frequentam igrejas, quando se trata de um casamento, batizado ou enterro.
O estádio último desta descristianização, verifiquei-o há poucos anos, na belíssima capital da República Checa. As igrejas do centro de Praga (magníficos monumentos barrocos, na sua maioria) estavam transformadas em locais de concertos (de música clássica em geral, mas não de música clássica sacra) e isto não era temporário. Tinham sido permanentemente transformadas em «salas de concerto históricas», pela muito pragmática razão de que o número de pessoas, na vizinhança, dispostas a frequentar essas igrejas era tão diminuto, que elas deixaram de ter sustentabilidade económica e, sobretudo, de centros vivos de cristianismo.
O principal «culpado» aqui, não é o Estado, diretamente - pelo menos - mas o processo de «gentrificação» dos centros históricos, que também afeta - de modo insidioso, mas brutal - Lisboa e muitas outras capitais da Europa.
Assim, o turismo, fonte preciosa de divisas e estimulador de atividade económica está a contribuir para matar os centros culturais. Isto passa-se em países como França, Espanha, Itália, Grécia e outros, muito turísticos. Todos sofrem de uma gentrificação dos locais mais emblemáticos. Estes centros mais investidos pelo turismo, são locais com maior significado monumental e histórico, os centros civilizacionais desses países.
A «verdadeira religião é o dinheiro», mas esta frase banal, não deixa de soar como grave sentença de morte, de civilizações que se construíram em torno de determinada espiritualidade.
Pode-se argumentar que a espiritualidade se mantém em indivíduos que não são religiosos. É verdade: No entanto, ao nível de um todo civilizacional, de uma sociedade inteira, isso nunca aconteceu. Basta ver-se o renovo do cristianismo ortodoxo, que já antes da queda da URSS, tinha um aumento sensível de adesão. É portanto, uma regra empírica, constatar-se que onde esmorece a tradição religiosa, com cultos e clero, também a religião «popular» recua. Verifica-se o inverso, quando há um renovo da(s) Igreja(s), este acompanha, em paralelo, a evolução da sociedade.
Tudo o que sei sobre as civilizações do passado, é que uma civilização em ascenso vai propulsionar, senão criar mesmo, um determinado movimento religioso. Por outro lado, a espiritualidade não desaparece quando, por motivos políticos e ideológicos (como no Estalinismo ou na Revolução Cultural Maoista), se combatem ativamente a difusão ou, mesmo, a existência de religiões.
Há uma necessidade profunda, que pode ultrapassar a explícita adesão a determinado credo religioso. Penso que a humanidade não pode viver com uma visão estreita, «materialista» da vida, da Natureza e do próprio ser humano. O materialismo de hoje, acantona-se numa forma estreita de propaganda antirreligiosa. Não me parece que haja uma oposição entre a espiritualidade de hoje e a aceitação e mesmo a procura ativa de saber científico. Acho mesmo que esta contradição é um subproduto de ideologias do século XIX (sobretudo, do cientismo e do ateísmo «militante»).
É verdade que as religiões, na sua vertente exterior, perante a sociedade concreta, não foram capazes, muitas vezes, de fazer atualizações que se impunham. Imagine-se alguém do clero, formado/a na perspetiva de que, aceitar a ideia de Evolução biológica e do Homem, era uma heresia intransponível e um passo para a mais total negação de Deus, ou seja, para o ateísmo. Este doutrinamento atravessou várias gerações. Portanto, não se pode ter a ilusão de que as formas de pensar morrem quando desaparecem os criadores ou primeiros cultores de determinada corrente.
Para ilustrar isso, basta-me evocar a estranha - para mim - forma de abordar a sociedade e todos os fenómenos através de um prisma marxista. O marxismo é um exemplo importante e típico de uma religião sem Deus. Mas tudo nele aponta para o fenómeno religioso, como forma de ver o Mundo e o Universo, como se fossem apenas inteligíveis através da «ciência marxista» (que, afinal, é apenas «cientismo»).
Seria muito estranho que, caso a «ciência do marxismo» fosse verdadeira, o mundo científico atual estivesse totalmente divorciado da filosofia / ideologia do marxismo: Note-se que não é uma teoria esotérica, muitos terão tido contacto com ela; muitos cientistas terão mesmo estado convencidos, durante uma etapa de suas vidas, de que se tratava de uma forma de pensar adequada à ciência. Mas, nada disto é verdadeiro, para a imensa maioria dos cientistas de hoje.
Ao fazerem ciência, não invocam « S. Marx ou S. Engels, ou S. Lenine», da mesma forma que não invocam os Santos cristãos, nem os Deuses pagãos. Têm, como pessoas cultas, conhecimento de correntes filosóficas e de religiões. Mas, na sua imensa maioria, nem escrevem sobre a relação da ciência que praticam, com a espiritualidade.
Noutras partes do globo, eventualmente, os fenómenos serão divergentes. Eu tenho de me limitar ao que conheço melhor. Não acredito que as diversas civilizações se tenham fundido numa só, ou que esta fusão esteja em curso. Tenho observado mesmo que diversas civilizações afirmam cada vez mais as suas idiossincrasias, para fazer face ao globalismo, largamente promovido por ocidentais.
Embora não seja uma ideologia cristã, o globalismo da nossa época, enquanto veículo de dominação ideológica, é propagado por pessoas, algumas das quais se afirmam como «cristãs» (não é senão uma capa, para elas, a meu ver).
Estou convicto de que as ideias profundas que os homens podem produzir hoje, estão radicadas na essência da humanidade, daí que não seja difícil encontrar ensinamentos de sabedoria, de espiritualidade e sensibilidade estética, em civilizações passadas, hoje consideradas «mortas». Porém, sua existência foi um passo, uma etapa, para o que a humanidade é, hoje.
Os aspetos espirituais, têm a sua evolução própria, de certa forma, análoga com a evolução biológica. Os traços da evolução biológica não pararam nos alvores da espécie humana, pois a evolução continua aos vários níveis (genético, anatómico, fisiológico, comportamental) nos humanos do século XXI.
A cultura e a religião, a pertença a um dado universo mental, a uma forma de compreender o Todo Universal, nada disso pode congelar, tudo se vai transformando. As formas de religião também evoluem; cabe aos contemporâneos atuar no sentido de não «deitar fora o bebé, com a água do banho», isto é, não se deixarem iludir com formas transitórias do fenómeno religioso, como se estas fossem a essência e razão de ser das religiões.
Sou tão incapaz de descrever as formas que as religiões irão adotar no futuro, como de antever como as sociedades serão organizadas. A minha aposta, porém, é que continuarão a existir valores e que podemos procurá-los em civilizações passadas. Não posso saber quais serão selecionados, da profusão de filosofias, de formas e conteúdos, de mitos, de relatos, etc.. Mas possuo a certeza íntima de que as civilizações futuras irão guardar alguns valores, adaptando-os à sua época.
Foto de ruínas do Convento do Carmo, Lisboa
Tenho acompanhado a crise e a guerra na Ucrânia por consulta regular de fontes credíveis, na circunstância de um claro viés a favor da Ucrânia e contra a Rússia, independentemente do que seus governos façam, por parte da media ocidental. Nisso, estão a descredibilizar-se, no longo prazo. Mas, no curto prazo, estão a participar ativamente na guerra de propaganda, ou guerra psicológica, lançada pelas forças da NATO, com especial virulência desde que Putin e a Rússia se afastaram da agenda neoliberal e adotaram posições de defesa da Rússia, do seu povo e dos seus recursos vitais.
Abaixo, transcrevo e traduzo uma parte do excelente artigo do excelente Blog «Moon of Alabama»:
https://www.moonofalabama.org/2022/09/historic-context-of-the-referenda-in-ukraine.html#more
[...]
" A divisão é consistente com as diferenças étnicas e linguísticas entre aquelas partes da Ucrânia.
Em 2014, após o violento golpe fascista em Kiev, uma das primeiras leis que foram implementadas pelo novo governo removia o russo enquanto língua de uso oficial. Em vez de ultrapassar as diferenças entre etnias do seu povo, isso apenas reforçou a divisão predominante na Ucrânia.
A promessa eleitoral do atual presidente Vladimir Zelenski, de fazer as pazes com os rebeldes pró-russos das regiões do Don, pondo em prática as decisões dos acordos de Minsk 2, foi recompensada com larga parte de votos do sul e do leste, para a sua eleição como presidente. No entanto, após ter sido ameaçado de morte por fascistas, Zelenski fez uma viragem de 180 graus e tem-se posicionado, desde então, como nacionalista ucraniano. Em consequência disso, perdeu todo o apoio popular das regiões do Leste e Sul da Ucrânia.
As regiões do Sul e Leste da Ucrânia de hoje, foram - durante séculos - parte do Império Russo. Foram somente adicionadas à República Socialista da Ucrânia no tempo de Lenine em 1922 e, no caso da Crimeia somente em 1954, por Nikita Khrushchev, ele próprio originário da região do Don.
É verosímil que ocorra uma elevada votação e um voto maioritário para adesão à Federação Russa, o que apenas irá corrigir um desarranjo histórico, criado por essas transferências ilógicas."
PS1: Graças a Paul Craig Roberts podemos ler na íntegra e em tradução em língua inglesa a comunicação feita pelo Presidente Putin há alguns dias quando anunciou os referendos e a mobilização parcial dos reservistas. Encontra-se no link : https://www.unz.com/proberts/putins-address-to-the-russian-people-september-21-2022/
Abaixo, transcrevi a parte final deste discurso, que causou tanta celeuma, devido à distorção intencional pela media ocidental. A censura é a prova cabal de que não existe democracia, seja qual for o significado exato que se dê à palavra «democracia». Se ela jamais existiu, deixou de existir.
Dear friends!
In its aggressive anti-Russian policy, the West has crossed every line. We constantly hear threats against our country, our people. Some irresponsible politicians in the West are talking about plans to organize the supply of long-range offensive weapons to Ukraine – systems that will allow strikes on Crimea and other regions of Russia.
Such terrorist strikes, including those using Western weapons, are already being carried out on border settlements in the Belgorod and Kursk regions. In real time, using modern systems, aircraft, ships, satellites, strategic drones, NATO carries out reconnaissance throughout the south of Russia.
Washington, London and Brussels are directly pushing Kiev to transfer military operations to our territory. Without hiding their intention any longer, they say that Russia must be defeated at all costs on the battlefield leading to the loss of all Russian sovereignty, the complete plundering of our country, and the destruction of Russian political, economic, and cultural existence.
Nuclear blackmail is also used. We are talking not only about the Western-encouraged shelling of the Zaporizhzhya nuclear power plant, which threatens an atomic catastrophe, but also about the statements of some high-ranking representatives of the leading NATO states about the possibility and admissibility of using weapons of mass destruction against Russia – nuclear weapons.
For those who allow themselves such statements regarding Russia, I would like to remind you that our country also has various means of destruction, and in some components – more modern than those of NATO countries. And when the territorial integrity of our country is threatened, we certainly will use all the means at our disposal to protect Russia and our people. It’s not a bluff.
Russian citizens can be sure that the territorial integrity of our Motherland, our independence and freedom will be ensured, I stress this again, by all the means available to us. And those who try to blackmail us with nuclear weapons should know that the same can happen to them.
It is in our historical tradition, in the fate of our people, to stop those who are striving for world domination, who threaten to dismember and enslave our Motherland, our Fatherland. We will do it now, and so it will be.
I believe in your support.
Depende de que História estamos a falar!
A pseudo- ciência histórica, essa sim, costuma ser imposta pelos vencedores do momento. Mas, se pensarmos na História da antiguidade, os arqueólogos ou historiadores que se debruçam sobre essa antiguidade, não terão simpatia, nem antipatia em relação aos vencedores das épocas que estudam: os Assírios, a Babilónia, o Império Romano, etc.
Eu considero que a História do Povo dos EUA, de autoria de Howard Zinn é um bom contra exemplo, de que a História não é necessariamente feita pelos «vencedores». Outro exemplo que acho oportuno invocar, neste momento de histeria bélica, é o congresso anarquista de Amsterdão em 1907, do qual saíram resoluções importantes para a paz e que vieram - infelizmente - a ser ainda mais justificadas pela 1ª Guerra Mundial. A forma estereotipada como a maioria das pessoas «aprendem» a História da 1ª Guerra Mundial, ignora muitos factos e documentos, essenciais para a compreensão da época.
As propagandas políticas, seja em tempos de «paz» seja em tempos de guerra, podem vir disfarçadas de «discurso de História» mas, são apenas projeções do poder dominante. Assim, elas têm tendência a assumir-se como «a verdade», ou «a ciência» ou «a história».
Porém, múltiplos avanços científicos dos últimos cem anos têm contrariado este dogmatismo. Têm posto em relevo que os fenómenos, incluindo os sociais, podem e devem ser interpretados de várias maneiras, que podem existir consensos, resultantes de um determinado estado da pesquisa, e que a verdade nunca está definitivamente estabelecida.
Não se poderá arredar a ideologia da História, completamente, mas pode-se impedir que ela se transforme em «guia» que vai enformar tudo, desde as teorias mais gerais, até ao pormenor de quais são os factos relevantes e como devem ser tratados e incorporados.
O que nos dizem as teorias e metodologias científicas contemporâneas, das ciências físicas, às biológicas e às ciências humanas (economia, sociologia, antropologia, psicologia...) é que existe uma parcela irredutível de aleatório, uma componente fundamental de entropia, uma tendência para o caos. A ciência contemporânea vê o determinismo, não como componente essencial da ciência mas, pelo contrário, como efeito de medições «grosseiras». Quando se desce aos níveis microscópico, molecular, atómico ou sub-atómico, os fenómenos são de natureza estocástica, a indeterminação, a incerteza, predominam. Esta indeterminação é essencial, não se pode eliminar a incerteza quântica.
Nada disto fazia parte do universo mental de Marx, Engels ou outros marxistas. Aliás, eles estavam de acordo com o seu tempo, pois os académicos, os cientistas seus contemporâneos, estavam também imbuídos desse cientismo, do qual fazia parte integrante o «credo determinista», ao ponto de que muitos recusaram as teorias de Einstein, nas duas primeiras décadas do século XX, incluindo os mais ilustres, convencidos de que a física Newtoniana era a teoria física definitiva.
Quem clama que algo «está provado cientificamente» não sabe rigorosamente nada do método científico. Este nunca prova nada, apenas emite hipóteses, que se podem aceitar como teorias, enquanto conseguirem superar experiências desenhadas para pô-las à prova.
Entre os ignorantes, existe um recurso «encantatório» a fórmulas vazias, que eles não percebem sequer. Muitas pessoas pensam que «Marx tinha razão», porque julgam encontrar uma confirmação das teorias marxistas nesta ou naquela fase do capitalismo, o qual se desenvolve ou se transforma através de crises. Na incapacidade de compreender as verdadeiras forças em jogo, deitam mãos a uma pseudo- ciência (uma ideologia), com um papel de ritual de conformidade. Deixam, portanto, o terreno da ciência para o da mera ideologia.
Aliás, Marx elaborou a sua teoria de modo a encontrar uma base «científica» para fundamentar as suas convicções comunistas. Nos dias de hoje, as pessoas vêm isso como sendo filosofia ou ideologia. Marx dedicou-se a recolher - a posteriori - tudo o que pudesse «confirmar» as suas convicções. É um extremo de comportamento indutivo, mas que o próprio Marx considerava legítimo, no combate de ideias.
A escola contribui a deformar a ideia que as pessoas têm da História. Esta História escolar confunde-se com grandes batalhas, sucessões de reis, conquistas, etc., sendo essencial, para se fazer testes ou exames, ter-se memorizado a cronologia dos acontecimentos, considerados «marcantes». Assim, a instituição-escola, desde as idades mais tenras, vai subtilmente instilando uma reverência pelo poder, pelo herói, pelo guerreiro, vistos como os grandes atores, os protagonistas da História. O povo, as pessoas anónimas são apenas figurantes. As sociedades são «moldadas», segundo tal visão convencional, por seres de exceção, na chefia do Estado ou da Igreja. Tanto uns como outros, são dispensadores das generosas «benesses», pelas quais florescem artes e ciências.
Assim se «ensina» História, nos vários níveis, incluindo o universitário. Há muitos, quer estejam ou não nas instituições académicas, que se esmeram em manter e propalar esta visão, do tipo «romance histórico». A História assim apresentada tem muito pouco interesse para a vida real. Não admira que muitos jovens percam rapidamente interesse por essa História.
Porém, a História, se for centrada no passado imediato, ou seja, o passado vivenciado ou testemunhado pela pessoa que se debruça sobre ela, tem outro significado. Está intimamente associada às peripécias de sua vida, se cavar um pouco, e se indagar sobre as necessárias relações entre sua vida individual e a vida coletiva, social. Esta maneira de fazer História - no quotidiano - pode ser parte da reflexão individual. Mas pode e deve ser invocada, também, no contexto de discussões e debates, quer sejam em contexto formal ou informal. Será mais frutuoso abordar assim a História, pode ser um prazer e ajuda-nos a estar centrados na nossa vida, porque nós ficamos com a noção clara dos acontecimentos e dos contextos com os quais nossos antepassados foram confrontados.
Esta visão da História é «invertida» em relação ao tempo cronológico, pois se passa do quase-presente, para o passado próximo, acompanhando a genealogia de nossa família, com histórias pessoais da tradição familiar ou documentos. Procedendo do mesmo modo, será também mais fácil abordar o estudo da evolução das técnicas de produção industrial, ou agrícola.
Este método proporciona um conjunto de situações, que podem ajudar ao «apoderamento» dos indivíduos. Nesta prospeção do passado, a partir do presente, podem as pessoas realmente apropriar-se do passado. O que proponho aqui, já é feito a vários níveis, mas ainda de modo demasiado pontual e tardiamente na vida (não se começa, em geral, senão na idade adulta).
Esta outra História não é feita «pelos vencedores»: Fazem-na os «filhos» dos protagonistas verdadeiros, elementos do povo, aqueles que constroem a sociedade e a transformam. Seria uma História contada pelos que a fizeram, ou que a estão a fazer. Esta visão pedagógica permitiria aos indivíduos reapropriarem-se da sua vida. Iria dar-lhes um sentido mais profundo, mostraria em seu contexto as relações sociais, familiares, profissionais, etc.
Praticar História assim, seria uma reapropriação do Mundo, do real, da sociedade, pelas pessoas comuns. Tem todo o sentido, mas será difícil implantá-la, pois vai contra o privilégio, o elitismo, a adoração pelo poder.
A histeria social desencadeia-se de modo semiautomático quando estão reunidas certas condições: A imaturidade, em indivíduos de ambos os sexos, na idade adulta, que foram condicionados a achar que tudo lhes é devido, sem terem de contribuir, de uma ou outra forma, para a sociedade. A ausência de referentes positivos, no que toca ao comportamento. Os referentes, são somente pessoas que enriqueceram ou que se tornaram muito populares. Junte-se a isto, uma infantilização deliberada e constante da cidadania, conjugada com o falsear do debate na média, através de técnicas de manipulação. Os elementos referidos acima, estão na base de 90% das formas de manipulação social das emoções.
As poucas pessoas que escaparam a essa "lobotomia social", seja qual for seu substrato ideológico, serão incapazes de ter uma influência regeneradora no seio da sociedade: Algumas adotarão um quixotismo que os impele a brigar dentro ou fora dos partidos tradicionais. Estas pessoas estão destinadas ou a serem relegadas para a marginalidade cívica, pelo chamado "assassinato de caráter ", ou - como alternativa - servirão como "idiotas úteis" de partidos.
Estamos a anos-luz dos regimes delineados nas constituições, dos vários países da Europa, embora tal não pareça: Pode-se ver tal degradação em países fortes ou fracos economicamente, grandes ou pequenos, com população culta ou inculta, homogénea ou plurinacional. Todos estamos perante o mesmo fenómeno, porque a difusão da falsa informação predomina, porque quem está no controlo os meios de informação não precisa de suprimir fisicamente os seus opositores, como nos regimes totalitários do passado. Basta que as suas vozes estejam sujeitas a blackout. Se isso não chegar, usam a difamação maciça nas redes sociais. Alternativamente, podem comprar vozes dissidentes, de maneira que aparentem continuar a sê-lo, mas sem causar real prejuízo.
O desfigurar dos sistemas de democracia liberal efetua-se por dentro. Seus sabotadores estão no seu centro. Conscientemente, ou não, fazem o papel de seus piores inimigos. Ao serem corruptos, ou transigirem com a corrupção, ao manterem-se graças ao clientelismo, ao comportarem-se como se fossem "monarcas de Direito Divino", em vez de assumir o papel de mandatários, etc.
Quando toda a política se degrada em politiquice, as pessoas íntegras, nos diversos quadrantes, afastam-se por si próprias, ou são arredadas. Os medíocres, os arrivistas, os oportunistas, os sociopatas têm então sua oportunidade de ouro, os seus momentos de glória.
Não se pode saber a forma exata da política no futuro. As classificações como fascismo, comunismo, democracia, nacionalismo, etc. não ajudam grande coisa. Sei que estamos num momento de viragem. Já o sentira há muito tempo, já o tenho exprimido várias vezes neste blogue. Porém, agora oprime-me pensar que as mais negras distopias são verosímeis.
Tudo o que há de mais abjeto vem à superfície, nestes tempos. A abjeção resulta do facto de que as pessoas estão completamente destituídas de valores, duma forma ou outra de moral. Devemos antes falar de ética, pois a moral invoca necessariamente conformidade com a sociedade. Ora, muitos - pensemos em Sócrates ou Jesus, e tantos outros no passado - foram considerados contrários à moral do seu tempo, ou à maneira de pensar dominante.
Perguntareis: Quem és tu para te fazeres difusor de sabedoria, duma visão profética, de soluções para os males que afligem a sociedade?
É uma pergunta legítima. «Eu sei que não sei» e que estamos, quase todos, num mesmo grau de ignorância. Mas, no meu entender, o estudar os fenómenos do passado, adotando um pluralismo deliberado, ou seja, não nos autolimitando a uma corrente de opinião, seja ela qual for, parece-me o melhor para não cairmos nas ilusões, nos cantos das sereias das ideologias.
O pior inimigo da nossa clarividência, do rigor do nosso pensar, somos nós próprios: Seria bom que as pessoas se debruçassem sobre o que dizem os mais eminentes intelectuais (que os há, sempre) do campo contrário ao nosso.
Acredito que os profetas da Bíblia e os outros, foram pessoas clarividentes, que tinham uma inteligência aguda do que se estava a passar nas suas sociedades e conseguiram chamar a atenção do seu povo.
Diz-se que não há bons profetas no seu próprio país; que os santos e os profetas são sempre de fora: Esta ideia tem por base um certo desprezo das pessoas, por tudo o que lhes seja demasiado familiar, não conseguindo distinguir valor, talento ou génio, em pessoas que estejam próximas. Será porque se desencadeia um mecanismo de inveja, a maior parte das vezes inconsciente e, portanto, mais forte?
Tudo o que vem do estrangeiro tem um certo fascínio, sobretudo se trouxer consigo a auréola do «sucesso». Isto passa-se a todos os níveis em Portugal, um país muito «aberto» ao exterior, mas muito pouco atento aos valores que brotam no seu seio. Mas, o contrário disto não é ter um comportamento xenófobo. Devia-se adotar uma avaliação crítica de uma produção, seja qual for a sua origem. Não faz sentido, nas letras, nas artes, nas ciências, haver «preferência nacional». Mas, também não faz sentido manterem os valores de um povo, de uma nação, injustamente ignorados, enaltecendo toda a bugiganga e fancaria que venha com o selo do estrangeiro.
Explicando:
As potências ocidentais tinham como objetivo derrotar Hitler, mas uma vez esse objetivo alcançado continuaram a sua cruzada contra a União Soviética. Isso significou que pós-II Guerra mundial, criminosos de guerra nazis puderam escapar à captura e aos tribunais, quer se fazendo passar por cidadãos inocentes, sem qualquer colaboração com o nazismo, quer - com falsos passaportes e falsas identidades - emigrando para a América do Sul (principalmente Argentina e Brasil), também para Espanha e Portugal.
Quanto aos criminosos de guerra ucranianos, muitos deles foram membros das legiões sob as ordens das SS, estes fugiram -sobretudo- para os EUA e o Canadá, onde encontraram bom acolhimento das autoridades destes países, que os recrutavam como peritos em língua russa, dedicados à propaganda antissoviética.
Foram erigidos em «heróis» da luta anticomunista, alguns sendo utilizados como espiões e como peritos tradutores pela CIA: Foram instrumentalizados de todas as maneiras possíveis.
Noutros países da NATO existe uma grande cobardia, uma aceitação da liderança anglo-americana, como se isto fosse algo «natural». As altas esferas militares não estão ao serviço das suas pátrias e povos. Estão ao serviço dos lóbis do armamento, tal como ambiciosos políticos que fazem carreira mostrando-se «duros», dando aos eleitores desinformados a ilusão de «serem homens e mulheres de carácter».
A desnazificação completa teria que ser obra dos povos dos países da NATO: Era necessário que vissem a realidade por detrás da propaganda, o risco imenso a que estão a ser expostos, pelos traidores ao mais alto nível. Era preciso que os isolassem, os prendessem e os julgassem. Isto é improvável, hoje em dia, pois só uma verdadeira revolução poderia criar condições para tal acontecer. Não estamos numa situação revolucionária. Estamos numa era de profunda regressão.
Os nazis encapotados, os militaristas vão perder. Pois são levados pela sua «húbris» a hostilizar até os amigos e aliados. A sua loucura faz com que subestimem o adversário. Portanto, é fatal que vão falhar. Mas, a questão é que eles podem - apesar disso - causar imenso sofrimento, um conflito em grande escala.
Tenho a convicção de que, quanto mais cedo os expusermos como cobardes que fazem o mal, mas não sofrem as suas consequências, melhor. Eles falham, mas - entretanto - deixam um rasto de sangue, de destruição e as sementes de novos conflitos.
Falharam miseravelmente seus golpes recentes, tanto no Cazaquistão, como na Bielorrússia. Mesmo na Ucrânia, eles não conseguiram aquilo que prometiam. Pois um «Estado falido», completamente arruinado, embora antes tivesse um nível de vida médio pelos padrões europeus, não se pode considerar um sucesso. Mas, talvez quisessem isso mesmo: uma fonte de desestabilização permanente às fronteiras da Rússia, com prolongamentos para o seu interior, visto que existem tantas ligações pessoais, familiares e culturais entre russos e ucranianos.
O «nazismo dos livros de História», não existe no presente, nem poderia existir. Porém, pessoas imbuídas de mentalidade nazi (ou fascista) existem muitas. São assustadores os indícios de que as pessoas comuns (e mesmo académicos, cientistas e intelectuais) não perceberam absolutamente nada do que foi/é o nazismo/fascismo. Por isso, não reconhecem o perigo. Existem - porém - numerosos estudos e livros, que demonstram o que eu apresento acima, de forma muito abreviada.
Podem começar vossas pesquisas usando certas palavras: «Operação Gládio», «Stepan Bandera», «Operação Paper Clip», «Vaticano e Criminosos de Guerra», «Rede Simon Wiesenthal» e muitos outras...