Muitas pessoas aceitam a situação de massacres de populações indefesas em Gaza e noutras paragens, porque foram condicionadas durante muito tempo a verem certos povos como "inimigos". Porém, as pessoas de qualquer povo estão sobretudo preocupadas com os seus afazeres quotidianos e , salvo tenham sido também sujeitas a campanhas de ódio pelos seus governos, não nutrem antagonismo por outro povo. Na verdade, os inimigos são as elites governantes e as detentoras das maiores riquezas de qualquer país. São elas que instigam os sentimentos de ódio através da média que controlam.
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quinta-feira, 17 de março de 2022

NÃO HÁ NADA MAIS REVOLUCIONÁRIO QUE A VERDADE


 
O meu pensamento, as minhas palavras neste blog, podem dar a sensação de que tenho  elevado grau de apetência pela política e pela economia, em geral. Nada mais longe da realidade, porém. O meu interesse por ambos assuntos, é norteado por algo, que não tem a ver com o «gosto», mas com a «necessidade». Por outro lado, procuro não interferir, neste campo, com os outros: Não desejo persuadi-los, nem convencê-los, nem tão-pouco opinar sobre suas opções políticas. Que estúpido seria eu, de me colocar como mentor político - ou «anti-político» - dos outros! Dito isto, considero ter razões para acompanhar a política e a economia; essas razões não são difíceis de perceber. Explico-me:

- Se te cai em cima algo imprevisível - algo que não poderias imaginar, ou cuja probabilidade era ínfima - não tenho dúvidas de que tiveste pouca sorte. Mereces a minha simpatia, porque dessa desgraça, pouco ou nada podias antever. 

- Mas, se o que te cai em cima da cabeça é consequência de uma cadeia de acontecimentos previsíveis, rastreáveis? Estavas completamente distraído, estavas indiferente, julgavas que não te podia acontecer nada, que as coisas más só ocorrem aos outros... Não digo que merecesses o mal, mas que foste imprevidente, foste leviano/a, não soubeste prevenir-te. Tanto a tua pessoa, como a tua família ficaram carenciadas da segurança essencial, também no plano material, para que a vida não seja um rol de desgraças. 

É somente - ao fim e ao cabo - a motivação da auto-proteção (e da minha família) que me impele a interessar-me pela política e pela economia. 

Se ninguém é apolítico - e isto é uma verdade insofismável - reduzir tudo à política, é como reduzir a visão do Mundo a «preto e branco». Mesmo que se incluam todos os tons de cinzento, a visão do Mundo fica, ainda assim, drasticamente diminuída. Algo essencial - as cores - não é captado. 

Nas minhas finanças pessoais, sigo alguns princípios. Se não se deve fazer do «amor ao dinheiro» o objetivo central da vida - pois isso equivaleria a nos tornarmos escravos do dinheiro - também devemos perceber que é razoável gerir nosso património com prudência, da forma adequada para maximizar a segurança de nós próprios e de nossa família e de minimizar a probabilidade de cairmos numa situação penosa, como ficar em dívida, na dependência em relação aos outros, sejam estes particulares, instituições, ou o Estado. Não jogar nunca no «casino»!

Tenho uma atitude geral semelhante em relação à saúde. Prevenção é melhor que remédio. Isto significa que evito fragilizar o meu ser biológico por comportamentos inadequados. Eu sei que o meu corpo é bastante frágil. Não vou torná-lo ainda mais frágil. Proponho - não imponho - o mesmo padrão de prevenção aos outros, à família, em particular. Não sou dos que tem uma relação narcísica ao corpo, mas também não sou dos que vêem o corpo só como «coisa onde a alma habita». Não; o meu ser é corpo e espírito, unidos. Quando morrer separam-se. 

Se nós todos temos medo de morrer, se isso está ancorado profundamente no nosso inconsciente, por que razão há tantas pessoas que agem de modo suicidário? Neste texto, não irei desenvolver a questão. Basta-me dizer que não podemos viver plenamente, sem amar os outros (amor e altruísmo são a mesma coisa, no meu vocabulário) e que para amarmos os outros, temos de nos amar a nós próprios. Basta pensar nas enormes angústias, que dá aos familiares e amigos, aquele que não cuida da sua vida, que a destroí, que esbanja e dissipa tudo, que está sempre metido em complicações. Essa pessoa, não apenas é infeliz, mas está a impossibilitar, ou dificultar, que outras sejam felizes. A responsabilidade por nós próprios, pelo modo como conduzimos a nossa vida, é uma questão de ética, além de ser uma atitude natural e inteligente.

Se eu desejasse o poder, saberia como me insinuar em determinados círculos, como representar meu papel para ser aceite pelos outros, para ter uma carreira política. Para mim, teria sido muito fácil, se eu tivesse desejado isso. Mas, qualquer coisa me impeliu a não entrar em jogos de poder: Compreendi que tal não era para mim. Não por falta de compreensão, ou falta de capacidade em representar no teatro político. O espetáculo tinha algo de repelente, não via nele qualquer elevação. Com efeito, subir a escada para, do alto desta, mandar nos outros, subjugá-los, iludi-los? Para negar pelas ações, as minhas promessas e declarações de fé? Isso pareceu-me algo tão abjeto, apenas sociopatas conseguiriam desempenhar-se bem nesse papel. Pois via que aqueles outros, motivados por sentimentos nobres, eram instrumentalizados pelos cínicos, pelos sociopatas

O sistema político real é homólogo à versão mais simplista, distorcida, ideologizada do darwinismo social. Pelo contrário, o darwinismo de Darwin, dá muita ênfase à cooperação dentro da mesma espécie. Por exemplo, na mesma espécie há uma competição mitigada, ou seja, existem mecanismos pelos quais o vencedor fica inibido de liquidar o vencido, o que tem um coeficiente positivo de sobrevivência para o grupo e para a população. Não culpemos Darwin, nem os cientistas honestos, da monstruosidade que construíram os apologistas do «neo-liberalismo», ou capitalismo desabrido e impiedoso, escondendo-se por detrás do nome do prestigiado cientista!

Eu tenho uma paixão - que dura a vida inteira - pela biologia, em particular, pelos mecanismos da evolução biológica, mas isso não significa que vá transpor as realidades de um plano, para outro. Vejo, com preocupação, que a biologização do discurso, é uma atualização da deturpação e travestimento do pensamento de Darwin. Isso ocorreu desde os finais do século XIX, até hoje.  Quando veem à baila expressões, como «seleção natural», ou «está no seu ADN», estas não têm qualquer valor genuíno. São expressões de ignorantes, que tentam convencer outros ignorantes. Usam termos sem critério, nem adequação. Os cientistas verdadeiros não são compreendidos nesta sociedade; não são sequer escutados, no meio da algazarra mediática que nos cerca, como na crise do COVID.

A política é sempre totalitária, na sua essência. Isto significa que os políticos se apropriam da totalidade dos domínios da vida: Apropriam-se dos vários ramos da ciência; de tudo o que é produtivo, na sociedade; das nossas mentes, das nossas vontades. O meu repúdio da política tem a ver com isso. Não é devido a indiferença em relação ao que se passa na sociedade; não se pode confundir com egoísmo disfarçado. 

Revolta-me que o povo, em geral, seja despojado do direito natural de «gerir a polis», o significado etimológico de política. Como é que os políticos fazem isto? Eu tento compreender como é que as pessoas se tornam «servas voluntárias», como é que aceitam ser remetidas a uma situação de irresponsabilidade, de infantilização. Compreender estes fenómenos, é do domínio da psicologia social. Mas, de facto, todos deveríamos nos debruçar sobre o assunto. Acredito que as pessoas que me lêem, se preocupam com isso. 

Parafraseando Orwell:

« Não há nada mais revolucionário que a verdade.»

                                                        «Alegoria da Verdade» por Edouard Debat-Ponsan. 

                  Ele ofereceu este quadro a Emile Zola, em apoio ao seu combate em defesa de Dreyfus.

domingo, 30 de janeiro de 2022

HUMILDE PLANTA PÕE EM CAUSA A VALIDADE DA GENÉTICA MENDELIANA?

Sim, é realmente uma planta muito comum, pode encontrar-se em vários habitats. Coloniza os bordos dos caminhos e das estradas. Chama-se Arabidopsis thaliana e tornou-se célebre há umas décadas atrás, quando foi escolhida pelo projeto de sequenciação completa de genomas, para representar as plantas superiores. É a «Drosophila» do Reino Vegetal. Foi o terceiro organismo eucariota a ter seu genoma totalmente sequenciado.




A publicação do estudo na revista científica Nature (*) é de molde a revolucionar o nosso entendimento dos mecanismos de seleção natural e portanto da própria evolução das espécies, pelo menos ao nível mais «baixo», da transmissão dos genes (e suas mutações) à descendência. 
Os investigadores do estudo em causa começaram por obter em laboratório uma série de mutantes em várias regiões cromossómicas. Esses mutantes não apresentavam qualquer desvio em relação ao que seria de esperar, para um modelo de mutação ao acaso. Estas mutações ao acaso, são um dos pilares da teoria da seleção/mutação, neodarwiniana. Mas, para sua surpresa, investigando bases de dados genéticas contendo milhares de mutações e suas localizações precisas, descobriram que certos genes e ADN na sua proximidade, possuíam como que uma proteção às mutações, pois que a frequência de mutações nestes locais  era bastante menor que noutras zonas cromossómicas, aparentemente, com as mesmas caraterísticas estruturais. Verificaram que as zonas protegidas de mutações eram aquelas que, em caso de mutação, tinham alta probabilidade de ter graves efeitos para a planta afetada, ou mesmo de serem letais. 
Esta proteção era obtida com a presença de determinadas proteínas nucleares, situadas sobre ou perto dos genes que era necessário proteger. Claro que este mecanismo não significa que as proteínas em causa tenham «vontade» de proteger as sequências genéticas referidas. A proteção é essencialmente resultante da afinidade preferencial de certos domínios das proteínas por determinadas sequências do ADN. 


A descoberta coloca, entretanto, um patamar suplementar na complexidade dos genomas. 
A investigação da expressão dos genes e a epigenética, têm-se desenvolvido muito nos últimos trinta anos, dando conta da subtileza e complexidade da regulação do genoma. A epigenética tem revelado, em várias espécies (incluindo a espécie humana), novos mecanismos hereditários, mas que não passam pelo ADN, que transmitem determinadas caraterísticas de uma geração para outra. 
A presente descoberta, quase de certeza, poderá vir a ser observada noutros eucariotas**. Ao nível do genoma, os animais, incluindo os mamíferos e a nossa espécie, diferem pouco nos mecanismos de transmissão e regulação dos genes. Há poucas diferenças até na regulação fina dos genes, por mais diversas que sejam a fisiologia e anatomia.   
Se as observações deste estudo vierem a confirmar-se, não só noutras espécies de Plantas, como no Reino Animal, a Genética Mendeliana, tal como a aprendemos na escola, tem de ser posta de lado, como aproximação demasiado grosseira dos subtis mecanismos da transmissão hereditária. Mas, este abandono implicará também a «machadada final» na teoria neodarwinista, que já estava seriamente abalada por descobertas anteriores. As mutações não seriam inteiramente ao acaso, havendo várias possibilidades de regulação interna, as quais «não são visíveis» perante a seleção natural.

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(*) Mutation bias reflects natural selection in Arabidopsis thaliana https://www.nature.com/articles/s41586-021-04269-6

(**) Os eucariotas são todos os organismos possuindo células com núcleo, contendo os cromossomas, separado por uma membrana: são os Protistas, os Fungos, as Plantas e os Animais.