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segunda-feira, 29 de julho de 2024

DIES IRAE, MODOS GREGORIANOS E MODERNIDADE (Seg.-f. musicais nº11)

https://www.youtube.com/watch?v=ValuAhHxmG8

Inspirada no Livro do Apocalipse, a Sequência do Dies Irae* faz parte do ofício de Requiem, a missa celebrada perante o corpo do falecido antes deste ser sepultado.


Dies Irae do Requiem de Verdi (Coro e Orquestra Coreanos)
https://www.youtube.com/watch?v=ZjfN7m9Ow8o

Em várias épocas da História da Música foi usado o tema do Dies Irae. Foi o caso de Mozart, Liszt, Berlioz e incontáveis outros. Em suas composições, foi utilizado como tema em sonatas ou sinfonias, além da Sequência ser parte integrante do Requiem. Os compositores - ao comporem missas de Requiem - respeitaram, geralmente, a tradição católica.
Pode-se argumentar que toda a música ocidental se baseia no Canto Gregoriano, em última análise: Isto não é falso, em termos de desenvolvimento histórico. Mas, a polifonia medieval e renascentista, a música sacra e profana barroca, clássica, romântica, etc. nem sempre mostram a origem sacra da sua inspiração, que está efetivamente presente em muitas composições.
Por outro lado, os modos gregorianos (8 modos, inicialmente) foram deturpados a partir do Renascimento, sendo transformados em 12 modos, para assim forçadamente os fazer corresponder aos modos gregos antigos ou melhor, ao que se julgava serem os modos gregos, na antiguidade.
Após isto, os modos acabaram por ser reduzidos somente a dois, o modo Maior, e o modo menor. Costuma designar-se por 'modulação' a transposição de um tom para outro, mantendo as relações entre notas: não se pode considerar uma verdadeira modulação, pois se manterá o mesmo modo e o mesmo relacionamento entre as notas. Elas serão mais agudas, ou mais graves na escala, porém sem quaisquer diferenças nas relações entre elas. As mudanças de tom tornaram-se frequentes nas composições, desde o fim do Renascimento ao Romantismo: Elas são meras transposições, afinal. O paradigma tonal dominou toda a música, erudita ou popular, até aos finais do século XIX.
Foi por essa altura (segunda metade do séc. XIX) que a música litúrgica (gregoriana) experimentou um renovo. O Renascimento Gregoriano foi iniciado em França, na Abadia de Solesmes. Esta restauração do Canto Litúrgico, levou a que muitos músicos eruditos (entre outros, Ravel, Debussy, Stravinsky e compositores mais recentes), se inspirassem nos modos gregorianos e compusessem peças com estruturas modais, pentatónicas ou outras, em vez das tonais clássicas.
Paradoxalmente, o retorno ao passado, o conhecimento e o rigor interpretativo do canto litúrgico gregoriano, contribuiu para despoletar a revolução na música dos finais do século XIX, inícios do século XX.
Foi assim que a música erudita contemporânea se pôde emancipar da "ditadura tonal".
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* Sequência Dies Irae
(parte da Missa de Requiem) -------------------------------------- 1- Dies iræ! Dies illa Solvet sæclum in favilla: Teste David cum Sibylla! 2.- Quantus tremor est futurus, Quando iudex est venturus, Cuncta stricte discussurus! 3.- Tuba mirum spargens sonum Per sepulchra regionum, Coget omnes ante thronum. 4.- Mors stupebit, et natura, Cum resurget creatura, Iudicanti responsura. 5.- Liber scriptus proferetur, In quo totum continetur, Unde mundus iudicetur. 6.- Iudex ergo cum sedebit, Quidquid latet, apparebit: Nil inultum remanebit. 7.- O tu, Deus maiestatis, alme candor Trinitatis nos coniunge cum beatis. Amen.


 

sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

[Göbekli Tepe] PRIMEIRO VIERAM OS TEMPLOS E SÓ DEPOIS AS CIDADES?

PORQUE COMEÇÁMOS COM ATIVIDADES AGRÍCOLAS? 

(Ativar as legendas automáticas em inglês, para melhor compreensão)

«O LABOR DO HISTORIADOR»

15 de Janeiro, 2023

Porque razão os humanos, após milhares de anos de existência nómada de caça e recoleta, decidiram sedentarizar e começaram a cultivar a terra? Esta é talvez uma das mais importantes questões, à qual os arqueólogos têm tentado responder, desde há um século e meio, até hoje. Quanto ao desenvolvimento da agricultura e a Revolução Neolítica, trata-se ainda de outro mistério. 
No Sul-este da Turquia encontra-se um local arqueológico monumental, o famoso e misterioso Göbekli Tepe. Tanto quanto se sabe, o local de Göbekli Tepe, construído após o golpe de frio do Dryas Recente ter acabado, há 11 700 anos, poderá bem dar-nos uma ajuda na resposta às questões. 
O que, por seu turno, origina outra pergunta: O que foi o Dryas Recente e o que é que o causou? Terá sido a drenagem do Lago Agassiz, na América do Norte? Ou a erupção do vulcão de Laacher See, na Alemanha? Ou ainda, teria sido causado por um asteroide ou cometa? 
Esta última teoria, conhecida como «Hipótese do Impacto do Dryas Recente»,  baseia-se na alteração drástica do clima global no fim da Idade Glaciar. Existem muitos detratores e muitos apoiantes desta teoria, desde os mais credenciados cientistas, até opiniões como a de que o impacto varreu uma civilização da Idade Glaciar, defendida por Graham Hancock e por outros na  recente série da Netflix, «Ancient Apocalypse» .

sábado, 27 de fevereiro de 2021

PARA ALÉM DO COLAPSO, A MUDANÇA TECTÓNICA

                              


         Desde o momento em que o sistema financeiro e económico entrou em roda livre, o colapso perfilava-se no horizonte.

Creio que, agora mesmo, estamos a vê-lo acontecer; ao dizer isto, eu não creio estar a ser um «profeta do Apocalipse».

Na minha vida, porém, já assisti A VÁRIAS MUDANÇAS DE PARADIGMAS e não das menores: 

- O abandono do sistema de Bretton Woods, com a retirada por Nixon, em 1971, da convertibilidade do dólar em ouro. 

- A introdução do petro-dólar, em 1973, negociada por Kissinger com o rei da Arábia Saudita e vigente até aos dias de hoje.

- A financeirização da economia nos países capitalistas afluentes, convertendo-os em economias de serviços, materialmente dependentes de países asiáticos (China, Indonésia, Paquistão, Vietname, Coreia do Sul, etc...) cujas economias se industrializaram e se tornaram grandes exportadoras.

- O colapso final e a desagregação da União Soviética e das suas repúblicas; seguida pela tentativa dos «conselheiros», provenientes de Wall Street, em colocar sob tutela o imenso território Euroasiático. 

- A ascensão e a consolidação de Putin e a restauração do poderio económico e militar da Rússia.

- O imenso sucesso da China com a adopção do capitalismo mais dinâmico de todo o planeta, embora conservando o férreo controlo do PCCh.

- O colapso do sistema financeiro baseado na dívida, em 2008, sendo as falências de Lehmann Brothers e de outros bancos, apenas epifenómenos. 

- O deitar pela borda fora das regras que balizavam a acção dos bancos centrais ocidentais, levando à criação monetária na origem da espiral inflacionista dos activos «em papel».

- A queda dos bancos centrais e governos ocidentais na sua própria armadilha, amarrados à política de insuflar as bolhas especulativas, para evitar um colapso imediato.

- Ao agirem assim, sacrificaram as moedas, ao ponto de estarem em risco de destruição, de perda total do seu valor. Porém, a sua substituição por uma moeda digital, emitida pelos bancos centrais, ou pelo FMI, não resolverá os problemas de fundo.

- Muito antes do «COVID», em Setembro de 2019, o sistema já dera sinais claros de disfunção terminal, com a FED a ter de intervir para sustentar o mercado «repo» (empréstimos inter-bancários, para superar limitações temporárias de liquidez).

- Enquanto a economia do Ocidente está de rastos, paralisada devido aos confinamentos/«lockdowns», a pretexto de e não causados verdadeiramente pela pandemia, assiste-se à predação do grande capital sobre o médio e pequeno capital. Os lucros dos grandes conglomerados aumentaram vertiginosamente: Ocupam os nichos de mercado deixados vazios por pequenas e médias empresas, que estão falidas.

-  O sistema mundial está a evoluir para um «duopólio»: o Bloco Atlântico e o Bloco Eurasiático. As consequências desta partição binária mundial são globais e de longo prazo. 

- Até o sistema mundial - com os aspectos geoestratégico, financeiro, produtivo, comercial - atingir novo equilíbrio, mesmo que somente meta-estável, o Mundo vai sofrer uma série de convulsões, crises e revoltas. Suas vítimas principais vão ser os povos: sobretudo, povos do Terceiro Mundo, os que menos têm; os que menos usufruíram da sociedade de consumo.

- Nos países afluentes - com o empobrecimento das classes médias - progridem as correntes fascizantes, capazes de tomar o poder eleitoralmente, ou - pelo menos - de exercer pressão sobre os partidos de direita e de centro «clássicos», que adoptam políticas xenófobas e muitos outros pontos do programa da extrema-direita, sem o reconhecerem abertamente.

- Apesar de tudo o que descrevi acima, o colapso em curso não deverá ser visto como um Apocalipse, o Dia do Juízo Final, a catástrofe global, o fim da civilização, ou da própria espécie humana. 

- Não! Todas estas mudanças são mais semelhantes a fenómenos geológicos: serão análogas aos movimentos tectónicos, com as configurações dos continentes a mudarem e em que novas oportunidades se abrem, ao mesmo tempo que se encerram episódios da História da Terra e das espécies.