sábado, 26 de agosto de 2023
Tempos Conturbados (refletindo sobre intervenções do professor Jeffrey Sachs)
sexta-feira, 4 de agosto de 2023
REPÚBLICA DOS POETAS Nº5: FERNANDO PESSOA
XXI - Se eu pudesse trincar a terra toda
XXI
Se eu pudesse trincar a terra toda
E sentir-lhe um paladar,
E se a terra fosse uma coisa para trincar
Seria mais feliz um momento...
Mas eu nem sempre quero ser feliz.
É preciso ser de vez em quando infeliz
Para se poder ser natural...
Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se.
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
Naturalmente, como quem não estranha
Que haja montanhas e planícies
E que haja rochedos e erva...
O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade ou na infelicidade,
Sentir como quem olha,
Pensar como quem anda,
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que fica...
Assim é e assim seja...
“O Guardador de Rebanhos”. Poemas de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa. (Nota explicativa e notas de João Gaspar Simões e Luís de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1946.
- 45.-------------
1) Abaixo, algumas publicações do blog onde são referidas obras de Fernando Pessoa:
https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2022/11/fernando-pessoa-poemas-de-albeerto.html
https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2021/06/lautreamont-arthur-rimbaud-fernando.html
https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2021/06/dois-poemas-de-fernando-pessoa.html
https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2017/01/cafe-literario-com-fernando-pessoa-e.html
https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2017/01/fernando-pessoa-entrevista-fab.html
https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2016/08/segue-o-teu-destino-ricardo-reis.html
https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2016/08/a-espantosa-realidade-das-cousas.html
https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2016/08/mario-viegas-diz-tabacaria-de-alvaro-de.html
PS1: Veja/oiça «Liberdade» poema de Fernando Pessoa, declamado por João Villaret que sabe tão bem insinuar a conotação de ironia...
sexta-feira, 7 de julho de 2023
O IMPÉRIO DAS LUZES - RENÉ MAGRITTE
terça-feira, 15 de novembro de 2022
FERNANDO PESSOA (POEMAS DE ALBERTO CAEIRO): «O mistério das coisas, onde está ele?»
Onde está ele que não aparece
Pelo menos a mostrar-nos que é mistério?
Que sabe o rio e que sabe a árvore
E eu, que não sou mais do que eles, que sei disso?
Sempre que olho para as coisas e penso no que os homens pensam delas,
Rio como um regato que soa fresco numa pedra.
Porque o único sentido oculto das coisas
É elas não terem sentido oculto nenhum,
É mais estranho do que todas as estranhezas
E do que os sonhos de todos os poetas
E os pensamentos de todos os filósofos,
Que as coisas sejam realmente o que parecem ser
E não haja nada que compreender.
Sim, eis o que os meus sentidos aprenderam sozinhos: —
As coisas não têm significação: têm existência.
As coisas são o único sentido oculto das coisas.
“O Guardador de Rebanhos”. In Poemas de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa. (Nota explicativa e notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1946 (10ª ed. 1993).
- 63.“O Guardador de Rebanhos”. 1ª publ. in Athena, nº 4. Lisboa: Jan. 1925.
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Natura naturans
Fernando Pessoa/Alberto Caeiro define em poucas palavras a filosofia de Espinoza, a existência do Mundo, da Natureza, em si e para si. Para Espinoza, a Natureza identifica-se com Deus. «Deus sive Natura».
«Deus» e «Natureza» são nomes, designações daquilo que é ação: Não uma coisa, não um objeto, nem mesmo o «objeto maior», que é o próprio Universo.
Pois, para nós, que identificamos o Universo com a sua própria génese, teremos de incluir a existência de uma «força», uma «consciência», o que também podemos designar como Deus.
Mas não podemos definir Sua existência, como coisa, como um ser: Porém, a humanidade apreende e vive essa relação com o Cosmos de forma pessoalizada. Por isso, o «Pai nosso que estais no Céu...» e todas as representações humanizadas em todas as religiões.
Para a tradição filosófica do Cristianismo, no entanto, não existe uma definição total de Deus. Visto que Ele está acima de qualquer tentativa de conceptualização, não se pode definir.
É assim que eu interpreto o poema transcrito; um dos poemas mais belos e mais filosóficos de Fernando Pessoa. Ele não foi apenas poeta, mas igualmente um pensador, que abriu caminhos a muitos trabalhos filosóficos posteriores.
PS1: Fernando Pessoa (ortónimo) escreve na revista «A Águia» uma apreciação crítica do seu heterónimo Alberto Caeiro: Eis alguns parágrafos de prosa do poeta:
«O que o sr. Alberto Caeiro faz é uma abstracção concreta. Veste de concreto uma tendência abstracta, que, naturalmente não de propósito, não deixa atingir o seu máximo de abstracção, mas que fica, bem reparando, nem abstracta nem concreta. E o materialismo abstracto foi tornado, por conseguinte, num materialismo extremamente relativo.
No sr. Alberto Caeiro toda a inspiração, longe de ser dos sentidos, é da inteligência. Ele, propriamente, não é um poeta. É um metafísico à grega, escrevendo em verso teorizações puramente metafísicas.
Repito que o admiro, que o admiro extraordinariamente. Mas não apraz à minha análise chamar-lhe um poeta abstractamente materialista. É um filósofo abstractamente materialista aureolado de alma em um poeta abstractamente místico. Creio no Deus em que o sr. Caeiro não crê que existe como afirmação do sr. Caeiro e como verdade pura.
Assim como para materialista o acho espiritualista em extremo, e como para poeta o acho filósofo em excesso, para espontâneo acho-o consciente de mais. Sei o que é pensar auto-objecções [...] ao ler O Guardador de Rebanhos pois reparei como o Poeta aqui e ali, nesta ou naquela altura dos seus versos, vai sub-repticiamente ou não, respondendo às objecções possíveis. »
sexta-feira, 18 de junho de 2021
[Lautréamont, Arthur Rimbaud, Fernando Pessoa] LES POÈTES-PHILOSOPHES
(**) AUTOPSICOGRAFIA
(**) AUTO-PSYCHOGRAPHIE
Le poète est un simulateur
Il simule tant et si bien
Qu'il simule sentir la douleur
La douleur qu'il ressent vraiment.
Et ceux qui lisent ce qu'il écrit
Dans la douleur la sentent aussi
Non les deux qu'il n'a pas senti,
Juste celle qu'ils n'ont pas eut.
Et ainsi, dans les rails de la roue
Il tourne, à nous creuser la raison,
Ce train, jouet en laiton,
Que l'on nomme le coeur.
[Traduction de Manuel Banet ]
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(*) Discussion sur les aspects philosophiques dans l'oeuvre de Rimbaud:
terça-feira, 15 de junho de 2021
terça-feira, 16 de janeiro de 2018
ANTÓNIO FRAGOSO (e a grande pandemia de gripe 1918)
sexta-feira, 20 de janeiro de 2017
CAFÉ LITERÁRIO COM FERNANDO PESSOA E OUTROS CONVIDADOS
domingo, 15 de janeiro de 2017
FERNANDO PESSOA, ENTREVISTA. Fáb. Alternativas, dia 18J às 21:00
Temos vindo a preparar no grupo redatorial dos Cadernos Selvagens o lançamento dum «Café literário» a ocorrer uma vez por mês, em princípio, numa 4ªfeira à noite.
Para começar, achámos apropriado convidar o nosso amigo e mestre Fernando Pessoa, com (alguns dos) seus heterónimos.
Contaremos com a presença de Fernando Pessoa, o próprio, de Álvaro de Campos, de Alberto Caeiro, de Ricardo Reis e também de Thomas Crosse (tradutor da obra de Alberto Caeiro para inglês).
Contamos também com a tua presença, como é óbvio! Não faltes!
quinta-feira, 29 de dezembro de 2016
NÃO ESCOLHO EFEMÉRIDES POR FASTIO...
- O corpo complexo esvai-se de raiva quando o fogo retira o canto
- O segredo não se resolve na poça em torno do menino deitado... Sabe-se lá se dormindo ou sonhando, pois seus olhos vazios azuis fitam o azul.
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segunda-feira, 28 de novembro de 2016
AFINAL, O QUE É POESIA?
quinta-feira, 13 de outubro de 2016
FILOSOFIA NATURAL?
A filosofia sempre me fascinou. Embora não me considere um filósofo, tenho alguma formação e, sobretudo, tenho-me interrogado sobre os processos cognitivos, sobre os afetos também, quer como biólogo, como professor ou como pessoa que interage e troca com os outros, seus semelhantes.
Mas é verdade que precisamos de filosofia como de «pão para o pensamento». Sem ela, será realmente impossível aprofundar as coisas importantes da vida - a própria vida, o amor, a amizade, o poder, a justiça, o espírito...
Muitas vezes encontro mais poesia nos textos ou imagens que não têm a pretensão de ser «poéticos». O mesmo se passa em relação á filosofia.
Por exemplo, Alvaro de Campos, Ricardo Reis e Alberto Caeiro, junto com Fernando Pessoa, formam um quarteto de poesia filosófica, onde nos podemos sempre nutrir, onde nos podemos refrescar e curar das banalidades que invadem o nosso universo mediatizado.
A filosofia natural é praticada, estudada e aprofundada em múltiplas sociedades, épocas e civilizações. Porém, não é reconhecida sempre como tal. Por exemplo, a corrente conhecida por Taoismo é mais uma filosofia do que uma religião; tem como pontos centrais um estar dentro dos processos naturais, aceitar o mundo tal como ele é, não desprezar as energias que moldam o Universo, mas fazer tudo em obediência com esse Todo.
A Filosofia Natural do Ocidente surgida, em grande parte, no seio das correntes materialistas dos séculos XVI-XVIII, mas também das correntes espirituais, deu-nos muita abertura para pensar o Mundo em moldes não estáticos, em dar o primado da experiência na busca da verdade, por fim reconhecendo na Natureza uma Mestra, que se deve seguir, por Ela nos dar as melhores soluções para os nossos problemas.
A Filosofia Naturalista opõe-se ao racionalismo puro e duro, que deriva tudo de proposições matemáticas, chegando ao ponto de demonstrações da existência de Deus e outros absurdos. Não que seja absurdo postular a existência de Deus, entendamo-nos. Considero absurdo uma DEMONSTRAÇÃO dessa existência.
No século XXI multiplicam-se os sinais de um renovo da Filosofia Natural, colocando a tónica numa filosofia como base e guia para a sabedoria. A vocação da filosofia está mais do lado da sabedoria do que do conhecimento científico, embora seja indispensável uma reflexão filosófica no âmago da pesquisa científica e uma reflexão sobre os resultados dessa pesquisa.
A Filosofia Natural pode e deve estar em harmonia com os conhecimentos científicos, não os repudia, não os pretende «superar».
Ela apenas tenta compreender a Natureza por dentro, na esperança de encontrar aí um guia para como conduzir a vida do próprio ser pensante.
Pragmaticamente, pode ir buscar inspiração à Natureza para soluções tecnológicas que são aplicadas neste ou naquele domínio prático.
Mas a filosofia da natureza vai muito além dessa «cópia» do natural, vai tentar estar em harmonia com a Natureza, vai tentar inserir-se harmoniosamente nos ciclos naturais.
O culto da Divina Natureza é, por vezes, algo limitado a Ela própria, como não existindo nada para além Dela (versão materialista) ou por vezes, é encarado como a expressão duma Divindade Cósmica, duma manifestação ou expressão da Divindade, mesmo como corporização do Divino.
Em ambos os casos, tem-se uma atitude de respeito para com o Mundo Natural e que, quanto mais não seja, se torna essencial para salvaguarda da vida e da saúde do nosso Planeta.
Sabemos como é frágil o ecossistema global, como o ser humano tem inflingido terríveis golpes nos equilíbrios naturais, mas ainda sem afetar de forma irreversível a possibilidade da recuperação da saúde do Planeta e dos Humanos que nele habitam.
A Filosofia da Natureza, em todas as suas variantes, constitui um caminho sensato, pois se revela indispensável à sobrevivência de todos nós.