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domingo, 30 de junho de 2024

EFEITOS SOBRE O CLIMA DAS GUERRAS EM CURSO

 


https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0160412023003938 

A guerra, com os seus milhares de mortos e feridos quotidianos, suas destruições de infraestruturas é também responsável por severa poluição dos solos e atmosfera. 
Tanto na guerra Ucrânia-Rússia, como na guerra de Israel-Palestina, são lançadas quotidianamente bombas e mísseis, causando a formação de poeiras, que ficam em suspensão na alta atmosfera.  
A  guerra dura há dois anos e meio na Ucrânia e há nove meses em Gaza, com continuidade do lançamento para a atmosfera de poeiras, que interferem com a radiação solar incidente. 
As diminuições de temperaturas decorrentes já são visíveis e seus efeitos não irão parar subitamente, mesmo que as guerras cessem agora. 
Estas poeiras na alta atmosfera  desencadearam tempo frio e húmido no sul da Europa, como se tem observado nesta Primavera. 
Registou-se fenômeno semelhante , há cerca de doze anos, com a erupção de cinzas de um vulcão na Islândia, que forçou a paragem dos voos transatlânticos, durante alguns dias. 
Também no princípio do século XIX, em 1815, um vulcão da Indonésia explodiu e as cinzas projetadas para a alta atmosfera, espalharam-se pelo Globo causando "o ano sem Verão". 
Em Portugal, o clima do presente mês de Junho apresentou-se mais frio que o habitual, semelhante ao clima das Ilhas Britânicas. 
Estas anomalias climáticas não ficam confinadas às regiões europeias. Muitos países pobres, no limiar de sobrevivência, irão sofrer (ou já sofrem) as consequências deste arrefecimento, ao nível da sua agricultura: Não maturação de frutos, ausência de floração, apodrecimento dos cereais etc.
 A guerra é sempre uma catástrofe e nunca fica limitada aos países beligerantes. Quanto mais durar, mais extensos e profundos os dramas que origina.

sábado, 24 de fevereiro de 2024

SOBERANIA ALIMENTAR NA U.E.? UM CONTO PARA (NOS) ADORMECER

 


Considero o vídeo do «Canard Réfractaire» dos melhores, para dar conta do que os globalistas e os chefes da U.E. têm feito da agricultura europeia. Ele explica muito claramente quem tem interesse em liquidar as pequenas explorações agrícolas, que durante séculos foram a base da agricultura na Europa para que o sector alimentar seja entregue a grandes monopólios que vão abastecer-se no mercado mundial, onde os produtos sejam mais baratos. Mais uma vez, constata-se que o que move o capitalismo (pelo menos o contemporâneo) não é a concorrência, mas sim a procura de situações de monopólio.



sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

[Göbekli Tepe] PRIMEIRO VIERAM OS TEMPLOS E SÓ DEPOIS AS CIDADES?

PORQUE COMEÇÁMOS COM ATIVIDADES AGRÍCOLAS? 

(Ativar as legendas automáticas em inglês, para melhor compreensão)

«O LABOR DO HISTORIADOR»

15 de Janeiro, 2023

Porque razão os humanos, após milhares de anos de existência nómada de caça e recoleta, decidiram sedentarizar e começaram a cultivar a terra? Esta é talvez uma das mais importantes questões, à qual os arqueólogos têm tentado responder, desde há um século e meio, até hoje. Quanto ao desenvolvimento da agricultura e a Revolução Neolítica, trata-se ainda de outro mistério. 
No Sul-este da Turquia encontra-se um local arqueológico monumental, o famoso e misterioso Göbekli Tepe. Tanto quanto se sabe, o local de Göbekli Tepe, construído após o golpe de frio do Dryas Recente ter acabado, há 11 700 anos, poderá bem dar-nos uma ajuda na resposta às questões. 
O que, por seu turno, origina outra pergunta: O que foi o Dryas Recente e o que é que o causou? Terá sido a drenagem do Lago Agassiz, na América do Norte? Ou a erupção do vulcão de Laacher See, na Alemanha? Ou ainda, teria sido causado por um asteroide ou cometa? 
Esta última teoria, conhecida como «Hipótese do Impacto do Dryas Recente»,  baseia-se na alteração drástica do clima global no fim da Idade Glaciar. Existem muitos detratores e muitos apoiantes desta teoria, desde os mais credenciados cientistas, até opiniões como a de que o impacto varreu uma civilização da Idade Glaciar, defendida por Graham Hancock e por outros na  recente série da Netflix, «Ancient Apocalypse» .

segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

HOLANDA: MODELO DE ECOMODERNISMO E UTOPIA TECNOCRÁTICA? [por Colin Todhunter]




O capitalismo de desastre e as narrativas da crise são presentemente usadas para manipular o sentimento popular e empurrá-lo para uma série de políticas desagradáveis que - de outro modo - não teriam aceitação política suficiente.


Tais políticas são promovidas por opulentos interesses que decidiram fazer biliões graças ao que está sendo proposto. Eles procuram obter controlo total da alimentação e de como esta é produzida. A sua visão relaciona-se com uma agenda mais vasta, que pretende moldar como a humanidade vive, pensa e atua.

Ao longo de grande parte de 2022, as manifestações dos agricultores holandeses estiveram presentes nos cabeçalhos. Os planos para diminuir para metade a produção de azoto na Holanda pelo ano de 2030, originaram os protestos de massa. O governo fala de que é preciso abandonar a agricultura baseada na produção animal e suas emissões com impacto no clima. 

Esta «transição nos alimentos» está frequentemente associada com a promoção da agricultura de «precisão», da engenharia genética, de um menor número de agricultores e explorações agrícolas e dos alimentos sintéticos. Esta transição é promovida sob a bandeira de ser «amiga do clima» e entronca na narrativa da «emergência climática».

 Willem Engel, que defende a agricultura tradicional, considera que o governo holandês não  procura eliminar os agricultores da paisagem por razões ambientais. Trata-se antes do projeto da «Cidade dos Três Estados», uma megapolis com uma população de cerca de 45 milhões, estendendo-se por áreas da Bélgica e da Alemanha.

Engel sugere que a «crise do azoto» está a ser manipulada para levar a cabo políticas que irão resultar numa reconfiguração da paisagem do país. Ele faz notar que o principal emissor de azoto na Holanda não é a agricultura, mas a indústria. No entanto, a terra atualmente ocupada com explorações agrícolas é estrategicamente importante para industrias e para habitação.

O conceito de uma megapolis dos três Estados, baseia-se numa região «verde» urbana gigantesca, conectada por «tecnologias inteligentes» que podem competir de forma rentável com as metrópoles gigantes que existem na Ásia, em especial na China. 

O governo holandês anunciou recentemente planos para compra de até 3 000 explorações agrícolas num lance destinado a satisfazer os objetivos controversos de reduzir a emissão de substâncias azotadas dos adubos sintéticos. A ministra holandesa do azoto Christianne van der Wal diz que serão oferecidos aos agricultores mais de 100 % do valor das suas explorações. Mas existem planos para expropriações em 2023, caso as medidas voluntárias falharem.

O que vemos agora na Holanda, será o passo inicial para tentar fazer o público aceitar cultivos GM (Geneticamente Modificados), «alimentos» feitos em laboratório e 90 % da humanidade ser enlatada em megacidades?

E será só coincidência que a seguinte visião do futuro eco-modernista surja em holandês no site baseado na Holanda, RePlanet.nl?

Diz que por volta de 2100 haverá dez milhares de milhões de pessoas no planeta:

"Mais de 90 %  destas viverão e trabalharão na cidade, comparados com 50 % em 2000. Em volta da cidade há grandes quintas cheias de culturas geneticamente modificadas que dão um rendimento quatro vezes maior em relação ao do início do século 21. ”

Também assinala que - para além das terras cultivadas - começa  a natureza, que então ocupará a maior parte da superfície do nosso planeta. Enquanto em 2000, metade da superfície terrestre era usada pelos humanos, em 2100 será somente um quarto.  O resto será devolvido à natureza, à biodiversidade e as emissões de CO2 regressarão ao nível anterior a 1850, enquanto quase ninguém sofrerará de pobreza extrema.

Aqui está o plano: Expulsai dos agricultores das atividades agrícolas, tomai suas terras para urbanização e reservas naturais; viveremos felizes para sempre, alimentados por culturas geneticamente transformadas e alimentação sintética produzida em fermentadores gigantes. Nesta terra tecno maravilha, ninguém será pobre, todos serão alimentados.

É a visão tecnocrática, onde o domínio dos atuais conglomerados da indústria alimentar permanece intacto e fica mais solidamente enraizado. As políticas são reduzidas a decidir-se como melhor manipular o sistema, de modo a obter ganhos (lucros) otimizados.

Neste futuro, as plataformas digitais irão controlar tudo, serão o cérebro da economia. A plataformas de e-comércio estarão embebidas no sistema, quando a Inteligência Artificial (AI) e os algoritmos planearem e determinarem o que vai ser produzido e distribuído, e como vai ser.

Seremos reduzidos a pouco mais que o estatuto de servos, enquanto uma mão-cheia de megacorporações controla tudo. Conglomerados como a Bayer, Corteva, Syngenta, Cargill e outros, trabalharão com a Microsoft, Google e as grandes tecnológicas que irão gerir as culturas dirigidas por AI, sem agricultores; o comércio será dominado por gigantes do retalho, do género de Amazon e Walmart. Um cartel de donos dos dados, de fornecedores de elementos com copyright e megagrupos de retalhistas, estarão ao comando supremo da economia, regurgitando alimentos industriais tóxicos. 

E quanto a representantes eleitos (se é que ainda existam em tal visão distópica)? O seu papel será fortemente limitado enquanto vigilantes tecnocráticos destas plataformas.

Esta é a visão para onde nos quer conduzir a classe hegemónica do tipo da Gates Foundation, da Grande Agritec, da Grande Finança (digital), da Grande Farma e de «ambientalistas» do género do jornalista George Monbiot.

Ele dirão que é para o vosso bem. Para evitar a fome e carências e para garantir que a vida selvagem será protegida, que o planeta será «salvo», que pandemias devidas a zoonoses serão evitadas; qualquer cenário apocalíptico será impossível.

O sistema de produção alimentar atual está em crise. Mas, muitos dos seus problemas foram trazidos pelos mesmos interesses corporativos que estão por detrás do que foi delineado acima. Eles são responsáveis pelo regime alimentar fundamentalmente injusto, conduzido pelo Banco Mundial, Organização Mundial do Comércio e pelo Fundo Monetário Internacional, cujas políticas são implementadas em benefício daqueles interesses corporativos.

Estas corporações são responsáveis pela degradação do solo, pela contaminação devida ao escorrimento de fertilizantes nas redes hídricas, pelo deslocamento das populações rurais e pela tomada de suas terras, a sua fuga para urbes sobrepovoadas e a proletarização (ex- produtores independentes, reduzidos a trabalho assalariado ou desemprego), a redução massiva do número de aves e de insetos, a menor diversidade nas dietas, a crise de saúde pública, em espiral crescente, devido à utilização intensiva de produtos químicos na agricultura, etc.

Porém, apesar dos problemas enormes causados por este modelo de agricultura, é uma verdade inconveniente que a agricultura dos camponeses (com baixo consumo de energia) – não a agricultura industrializada – continua a alimentar a maioria do mundo embora o modo industrial seja o principal devorador de subsídios e recursos.

Os que promovem a visão eco-modernista estão a usar preocupações genuínas em relação ao ambiente, para avançar sua agenda. Mas onde começa, então, o ambientalismo genuíno?

Ele não começa com a democracia sendo comprada (ver artigo How big business gets control over our food) ou coerção estatal (veja WikiLeaks: US targets EU over GM crops) para obter culturas GM e a sua comercialização.

Não começa com agricultura «de precisão», onde a técnica de «correção genética» e outras do género, são análogas a usar um enorme cutelo e constitui vandalismo genómico (segundo o professor de Harvard, George Church).

Não começa nem acaba com culturas geneticamente modificadas, que falharam em satisfazer suas promessas e plantas quimicamente nutridas, que são usadas como «fonte de alimento» para fermentadores consumidores de energia, onde tal matéria é transformada m alimentos.

Nem começa nem acaba com o Banco Mundial/ FMI a usarem a dívida (veja artigo Modi’s Farm Produce Act Was Authored Thirty Years Ago)  para provocar  dependência, para deslocar populações, para juntar as pessoas em cidades sobrepovoadas e retirar a humanidade da sua tradicional conexão com a terra.

Muitos dos problemas acima mencionados poderiam ser ultrapassados no longo termo, dando prioridade à soberania alimentar e de sementes, à produção localizada, às economias locais e aos cultivos agroecológicos. Mas isto não é do interesse da Bayer, Microsoft, Cargill e outras porque nada disso se encaixa no seu modelo de negócio - pois, é mesmo uma séria ameaça para ele.

Em vez de forçar os agricultores a abandonar a sua atividade, o governo holandês deveria encorajá-los a cultivar diferentemente.

Mas isso requer uma outra mentalidade dos que descrevem a agricultura como um problema em ordem  fazer avançar a todo o vapor uma agenda baseada em contos de fada tecno utópicos sobre o futuro.

O sistema de produção alimentar baseado em modelo industrializado, de elevado input, químico-dependente e corporativo, que está viciado por interesses geopolíticos, esse é o problema real.

Hans Herren, Premiado com o Prémio da Alimentação do Mundo diz:

«Temos de arredar os interesses ocultos que bloqueiam a transformação com argumentos vazios de “o mundo precisa de mais alimentos” e conceber e implementar políticas que olhem para diante...Possuímos todas as evidências científicas e práticas de que as abordagens agroecológicas à produção alimentar e à segurança na nutrição funcionam com sucesso.”

Estas políticas iriam facilitar os sistemas produtores localizados, democráticos e o conceito de soberania alimentar, baseado em otimização da autossuficiência, em princípios agroecológicos e no direito à propriedade cultural dos produtos alimentares e que as comunidades possuam e tenham a gestão comum dos recursos, nomeadamente, da terra, água, solo e sementes.»

Porque, quando se discutem alimentos e agricultura, aqui é que o ambientalismo genuíno começa.

Colin Todhunter é especialista em alimentação e agricultura e é Investigador Associado do «Centre for Research on Globalization» em Montreal. Pode ler o seu minilivro "Food, Dependency and Dispossession: Cultivating Resistance", aqui.

domingo, 20 de setembro de 2020

ADN ANTIGO E A NOVA CIÊNCIA DO PASSADO HUMANO


                                    Uma magnífica lição pelo Prof. David Reich


[David Reich, Professor, Department of Genetics, Harvard Medical School; Investigator, Howard Hughes Medical Institute; Senior Associate Member, Broad Institute of Harvard and MIT]

Conferência importante pelo seu conteúdo. Os avanços recentes da ciência mostram com clareza que não existe nem nunca existiu nenhuma «raça pura», ou seja, que o conceito de «raça» é um conceito vazio de sentido em termos biológicos. Penso que isso deveria ser mais enfatizado nesta época em que são assoprados os ventos do ódio «racial». Realmente, a biologia diz-nos que somos todos um puzzle de traços genéticos de muitas origens. Devia ser consensual - não apenas entre biólogos mas toda a gente - que a aparência física superficial não traduz a profundidade da nossa herança genética.

quinta-feira, 30 de julho de 2020

EM DEFESA DA AGRICULTURA E ECONOMIA PRODUTIVA EM PORTUGAL

Histórias com História: UM PORTUGAL ESQUECIDO...
Uma casa agrícola ao abandono no Alentejo, foto retirada de


Portugal, tal como outros países da UE situados a Sul, teve durante decénios um crescimento da economia baseado num sector muito particular, o turismo. 
Com efeito, o turismo arrasta consigo quase todos os outros sectores que não lhe estão associados estritamente, desde as indústrias alimentares, à construção civil. 
Porém, como tinha repetidamente avisado, o turismo é um sector incerto por natureza, sujeito a factores imponderáveis, como veio agora confirmar-se com a existência de uma crise profunda. Não há muito a fazer nestas circunstâncias, a não ser encarar a situação de desastre com realismo, não tentando iludir a sua gravidade, porém colocando as coisas em termos positivos.

As pessoas não poderão ter emprego num sector em falência; não terão sequer a opção tradicional de emigrar. Como quando existia um período de recessão em Portugal, mas era necessária mão-de-obra no Norte da Europa. 
A crise está a gerar um número de desempregados maior do que nos piores momentos de marasmo económico, no nosso país... Com a agravante de que estão vedadas as saídas que poderiam fornecer emprego, quer noutros sectores urbanos e costeiros, quer para países mais ricos da União Europeia.  
Com efeito, sendo esta crise profunda e sistémica, não existirá sector onde não se verifique uma contracção da actividade e um congelamento do recrutamento de pessoal, ou a existência de muitos despedimentos. Será praticamente certa a existência de muitos mais, quando os actuais «lay-off» se traduzirem em despedimentos, por motivos económicos, ou por insolvência.

É perante um tal pano de fundo, nada brilhante, que a visão estratégica do país deve ter primazia. Os políticos e empresários não podem estar à espera de conseguir manter-se, apenas jogado com o medo e os anseios das pessoas. 
Com efeito, sabemos que nos últimos anos tem faltado um sentido de Estado nas castas dirigentes; não existe visão ampla e audácia. Apenas têm apostado no pequeno golpe, na demagogia, no ilusionismo das promessas eleitorais ou na «mão estendida» dos empresários ao Estado, apesar destes dizerem que o Estado é o seu «inimigo».
Nos tempos presentes, em que predomina essa pequenez, de par com o alheamento da generalidade das pessoas em relação à política (no sentido nobre do termo), torna-se crítico que olhemos para o que já existe, com potencial para nos encaminhar para novo ciclo de desenvolvimento. Não fazer as mudanças estratégicas que se impõem, é condenar este país ao subdesenvolvimento e dependência. 

Pode parecer insólito que eu enfatize o sector da agricultura biológica; porém, tenha-se em consideração o seguinte:

- O solo, o clima, o coberto vegetal e os ecossistemas em geral, são factores essenciais de produção, pois são condicionantes da agricultura possível num dado espaço geográfico. 
- Portugal tem bons solos, muitos deles não valorizados, nem em relação à qualidade, nem à quantidade de produção agrícola. É frequente verem-se áreas, onde existia agricultura, por vezes rica, completamente abandonadas, entregues ao mato ou a eucaliptais.
- Existe uma irregularidade dos níveis de precipitação, porém o aproveitamento inteligente dos recursos hídricos permitiria minorar essa situação. Sobretudo, deverá haver o bom-senso de plantar aquilo que esteja melhor adaptado às condições hídricas da região. 
- A agricultura poderia proporcionar empregos em quantidade. Alguns seriam muito apetecíveis em termos de remuneração, porque altamente qualificados. 
- As zonas rurais já não são «o fim do mundo»: pode-se usufruir, no campo, de muitos confortos a que os citadinos estão habituados.  O facto é que a agricultura hoje está mecanizada e a economia digital opera em contexto rural.
- A existência de solos não contaminados com resíduos de adubos químicos, insecticidas e herbicidas, é uma condição para se poder exercer agricultura biológica. Nos países do Norte, muitos terrenos agrícolas estão há demasiado tempo sujeitos a esse tipo de agricultura industrial. Isso traduz-se por uma impossibilidade prática de se fazer agricultura biológica nesses solos. 
- Esta é uma das razões, entre outras, que leva jovens dos países do Norte (Alemanha, Holanda, Bélgica, Suécia, Grã-Bretanha...) a implantarem, de Norte a Sul de Portugal, unidades agrícolas rentáveis.

Avaliando a situação, creio que se deveria dar também acesso à terra e à possibilidade de viver da agricultura, às jovens gerações portuguesas. Isso passa por instaurar linhas de crédito orientadas para uma agricultura renovável, inteligente, destinada aos mercados de exportação.
Com efeito, um jovem casal (com ou sem filhos), deveria conseguir empréstimos garantidos pelo Estado, ou bonificados, através de um mecanismo de financiamento. Isso seria a verdadeira alternativa à inactividade forçada ou a empregos precários, de utilidade duvidosa nalguns casos, sempre sujeitos a despedimento e desemprego... Sobretudo, sem um futuro decente pela incerteza permanente causadora de muitos males sociais, que todos nós sabemos.

As pessoas deveriam ter acesso a aconselhamento desburocratizado, a custo zero ou a muito baixo custo, para apoio técnico em relação aos seus projectos. Os organismos regionais de agricultura deveriam fazer o levantamento das áreas que, ou estão ao abandono, ou com actividade inadequada (hoje, é possível fazer tais levantamentos com fotografia aérea ou por satélite, a baixo custo). 
A intervenção do Estado deveria ser no sentido de canalizar o esforço financeiro, produtivo, técnico e humano, para re-colonizar zonas do nosso interior, que têm estado ao abandono, nalguns casos, há mais de meio século!

Esta seria a verdadeira política de «Green New Deal» para Portugal, não em detrimento doutros sectores, mas beneficiando do que já existe e tirando máximo partido dos nossos trunfos.
São eles: clima, solo, disponibilidade de mão de obra, capacidade técnica e facilidade de colocação em mercados dos produtos, com elevado valor acrescentado. 

Não é uma utopia. 
Pelo contrário, é uma via alternativa à continuação do marasmo e do complexo em que nos fomos enterrando enquanto Nação *.

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 (*) Ver o meu ensaio «Portugal País Neo-Colonial?».

terça-feira, 19 de novembro de 2019

ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS? - SIM; UM ARREFECIMENTO GLOBAL!

                                   

Aqui, neste blog, tenho discutido a questão das alterações climáticas e o seu significado.
Todos nós sabemos que o clima é por essência variável, sabemos que existem oscilações, anos de seca, anos com demasiada precipitação, etc. 
A climatologia, a ciência do clima, é uma ciência extremamente complexa, comparável em sofisticação a outras duas ciências «históricas», a geologia e a biologia. Com efeito, os ciclos climáticos, proporcionados por fenómenos cósmicos, são da ordem das dezenas de milhares de anos. As oscilações que observamos nos ciclos anuais são significativas ou não, da tendência mais geral? Por outras palavras, a existência de oscilações detectáveis no curto prazo (meteorologia) podem estar correlacionadas ou não, com tendências de longo prazo. 
A interpretação de fenómenos complexos do clima e a previsão no longo prazo são demasiado complexos para os leigos. Devemos incluir na categoria dos leigos, todos os políticos, jornalistas e celebridades mediáticas... 
Porém, a utilização do pretexto da ciência para levar a cabo uma certa política, o eugenismo, tem sido uma constante desde as Fundações Rockefeller e Carnegie, passando pelos eugenismos de Estado (nos EUA, Suécia, Canadá, Austrália, etc.), que antecederam ou foram contemporâneos dos programas monstruosos de eugenismo e apuramento racial nazis, a partir de meados dos anos 30. Depois da derrota da Alemanha nazi, após 1945, o eugenismo fez-se mais prudente e investiu em agendas mais disfarçadas, mas cujo fim essencial era o mesmo:
- Trata-se da elite continuar ao comando mundial, decidindo quais os recursos vão ser utilizados e para que fins, negando a possibilidade de milhões de seres humanos terem direito a viver, supostamente por esgotarem os recursos não renováveis. A ONU serviu-se do Clube de Roma, para fazer passar essa visão catastrófica do futuro do género humano, se não fossem limitados os consumos dos recursos. A «solução» definitiva seria, claro, a limitação ou decréscimo da própria espécie humana.... 
Hoje em dia, somos bombardeados pela propaganda mais insidiosa sobre o suposto aquecimento global, que estaria correlacionado com o aumento das emissões de CO2 antropogénico. 
Esta tese não é verdadeiramente apoiada em dados objectivos, sendo possível colocar em xeque muito do que é apresentado como verdade intangível. 
Estamos num caso típico de condicionamento - pela propaganda - das massas, criando uma psicose colectiva, por forma a promover determinadas soluções, não só tecnológicas, mas também económicas e políticas.
A recusa de muitas pessoas, na esquerda, em ver as coisas objectivamente, deixando-se manipular como peões no jogo globalista, decorre da evolução da própria esquerda: Ela foi cooptada, ao nível mundial, para apoiar esse mesmo globalismo, essa agenda da ONU, ficando também refém das chamadas lutas identitárias, que apenas colocam sectores da população uns contra os outros, enquanto as elites se banqueteiam e fazem as guerras mais bárbaras, com total passividade dos supostamente civilizados.

Ora, no caso do clima, o que acontece, é que a realidade não se conforma com os modelos simplistas e ideológicos dos arautos do «aquecimento global». 
Os factores de curto prazo mais importante nas variações climáticas, são as manchas solares (a sua abundância ou escassez), com os seus ciclos de 11 anos. 
Outros fenómenos astronómicos são causadores de mudanças no longo prazo, como as eras glaciares e interglaciares: entre outros, as ligeiras variações na inclinação do eixo de translação do globo, em ciclos de cerca de 40 mil anos, na sua rotação em torno do Sol. 
Pois bem; estamos agora a atingir um mínimo das manchas solares, o que se traduz por uma antecipação do inverno e, neste ano de  2019, neves tardias, chuvas torrenciais, etc... Nenhum destes fenómenos tem uma explicação fácil e directa. Porém, atribui-los ao suposto aquecimento, mesmo em relação à antecipação da estação fria, é absurdo! É mais absurdo do que insistir na explicação geocêntrica de Ptolomeu, dos movimentos dos astros!

Estamos a atingir um mínimo no ciclo das manchas solares... então, com toda a probabilidade teremos um arrefecimento médio, com antecipação das estações frias, um encurtamento das estações intermédias, o exacerbar de precipitações de neve,  a formação mais frequente de geadas, fenómenos que já começaram a verificar-se.

Há quem diga que podemos estar no início de nova era glaciar: não tenho conhecimentos suficientes para examinar criticamente e ver até que ponto estes argumentos estão baseados em conjecturas fiáveis ou não. Porém, é certo que houve muitos ciclos glaciares e inter glaciares, na história da Terra. Sabemos também que - em tempos históricos, do século XVII ao século XIX - se assistiu a uma mini idade do gelo... 
Estarmos a assistir ao início de uma nova idade do gelo, parece-me perfeitamente possível. 

Aquilo que considero criminoso, para além da exploração da crendice de milhões de pessoas para agendas políticas e elitistas disfarçadas em urgência ecológica planetária, é o seguinte:
Se, na realidade, o clima evolui efectivamente em direcção a uma nova idade do gelo, a propaganda estúpida e demagógica, sobre o suposto aquecimento global, vai inibir que se analise seriamente a questão. Vai induzir políticas e decisões económicas erradas, justamente no ponto crítico, em que a humanidade deveria preparar-se para um fenómeno climático de sentido oposto. Isso terá tradução em milhões de mortes, por escassez de alimentos, visto que as culturas adaptadas aos climas temperados de hoje, deixarão de se poder produzir em muitas zonas continentais Norte-Americanas e Euro-asiáticas. Nestas circunstâncias, as culturas adequadas serão outras e os métodos de cultivo também serão outros e isso não é uma adaptação fácil e rápida, exige uma planificação. 
As pessoas verdadeiramente preocupadas com a fome global, com a pobreza, com a guerra, deveriam estudar a fundo as agendas dos globalistas e dos eugenistas, as quais se confundem em muitas circunstâncias... 
É que o globalismo, na sua visão macroeconómica, utiliza a pseudo-ciência dos Clubes de Roma, dos Painéis Inter-governamentais Climáticos da ONU etc, para fazer avançar uma agenda eugenista de redução da população mundial. Estão preocupados - em especial - em guardar para si o acesso às matérias-primas em determinadas zonas geográficas (África, Amazónia, Sibéria, etc...). 


quarta-feira, 17 de outubro de 2018

CONTROLO DE PRAGAS OU GUERRA BIOLÓGICA?

                

Uma nova invenção à «Dr. Frankenstein» prepara-se no segredo dos laboratórios da DARPA 

Segundo os proponentes da nova biotecnologia, trata-se de fazer com que vírus vegetais capazes de integrar o seu material genético no genoma das plantas infectadas sejam vectores de genes conferindo resistência a pragas, a condições adversas como secas, etc:

        

No entanto, os críticos deste desenvolvimento apontam o facto de que este tem um potencial de dualidade de utilização: ou seja, tanto pode servir para ajudar a proteger culturas, como a disseminar doenças das plantas que arruinariam as culturas de um país inimigo. Este tipo de tecnologias com uso «dual» é explicitamente proibido no âmbito da convenção (assinada pelos EUA) de proibição de armas biológicas. Aquilo que mais faz as pessoas duvidar das boas intenções do referido programa da DARPA é que são bem conhecidas e dominadas as tecnologias de pulverizar aerossóis com vírus (sem necessidade portanto de insectos como vectores). Os críticos da DARPA argumentam, com bom-senso, que a pulverização de tais vírus seria suficiente para proteger as culturas, não sendo de todo necessário os tais insectos-vectores. Além do mais, esses insectos-vectores não são controláveis, ao contrário da pulverização com vírus. 
Por outro lado, o desvio deste instrumento como arma biológica é facílimo, pois basta serem inseridos, nos vírus-vectores, certos genes que inviabilizem as culturas e disseminados os insectos, num país inimigo.

Alguns entusiasmam-se com o desenvolvimento de instrumentos de biotecnologia que tal programa irá trazer, como efeito «colateral». Porém, creio que o risco de uso indevido é demasiado elevado e que estes progressos tecnológicos podem ser levados a cabo noutro tipo de programas, que não tenham o aspecto «Dr. Frankenstein» deste!

domingo, 19 de agosto de 2018

GLIFOSATO, UM PRESENTE ENVENENADO...

                 Farmers spray 200m pounds of weedkiller on crops, including corn, soybeans, wheat and oats, every year. 
      
A estratégia clássica dos grandes grupos económicos é de se expandirem , derrotando toda a concorrência, impondo as suas tecnologias, com exclusão de todas as alternativas, externalizando os danos que estas trazem à sociedade e natureza.

Um caso realmente típico disso é o da Monsanto/Bayer e do seu produto glifosato (comercializado sob o nome de «Roundup»).
Nos anos noventa, a Monsanto desenvolveu um sistema associando herbicidas, entre os quais o glifosato, com plantas de cultivo geneticamente modificadas, para incluírem genes de resistência aos mesmos. Assim, o milho, por exemplo, portador desses genes de resistência podia ser copiosamente tratado com glifosato, apenas as plantas «daninhas» ou espontâneas iriam ser afectadas e erradicadas. A Monsanto gabava-se que as plantações de milho, soja, etc geneticamente modificadas tinham a capacidade de resistir a doses altíssimas de herbicida, garantindo uma  monda química eficaz e a «impossibilidade» (que já se verificou ser falsa; ver, por exemplo, aqui ) de desenvolver resistência aos referidos herbicidas. 

O resultado é que o uso do glifosato se foi expandindo, contaminando muitos ecossistemas agrícolas e naturais, afectando muitas espécies de plantas, que nunca foram invasivas de campos cultivados, sobretudo acumulando-se na cadeia alimentar até ao ser humano.
Estudos com mães lactentes no Brasil, mostraram que 83% destas possuíam vestígios de glifosato no seu leite. O glifosato não é uma substância inócua para os animais e para o homem. O glifosato tem propriedades cancerígenas, mas isto foi intencionalmente ocultado pelas próprias autoridades sanitárias da Alemanha.
Por muito prejudicial que este glifosato seja, devemos ter em perspectiva que é um caso apenas, produzido por uma companhia, mas existem outros milhares que têm efeitos colaterais graves sobre a saúde humana e a Natureza. 
No seu conjunto, a civilização tecnológica tem sido completamente desrespeitadora do princípio de precaução, que implica a não-utilização de qualquer substância, cujo efeito no ambiente possa implicar grave prejuízo (quer no imediato, quer futuramente). 
Na busca do lucro a qualquer preço, os grandes da agro-indústria, da indústria farmacêutica, das biotecnologias, têm distorcido, ocultado, falsificado os dados que tinham obtido nas suas investigações e conseguem comprar os mais diversos poderes públicos, incluindo os próprios legisladores

A sistemática ocultação dos efeitos nefastos faz com que governos e as sociedades aceitem a novidade, se adaptem a ela, usem correntemente esses produtos, sendo depois a sociedade a pagar os referidos efeitos nefastos. Esta externalização dos danos permite que os produtos sejam rentáveis para o seu produtor. 
Com efeito, está-se perante uma ocultação sistemática, conseguida também à custa de uma corrupção do Estado e dos seus agentes.
Se houvesse reconhecimento da perigosidade dos produtos em causa, ou as entidades protectoras da saúde e do ambiente decretavam a sua exclusão do mercado, ou eles seriam severamente regulados e restringidos no seu uso. Tanto num caso, como no outro, não haveria lucro, não poderiam rentabilizar as operações que levaram a colocar o produto no mercado, desde a sua concepção, investigação, desenvolvimento, produção,  até à comercialização. 
Segundo estudo publicado, o custo dos poluentes ambientais excede  9 milhões em vidas humanas e 4,6 triliões dólares anuais, mais do que a guerra, o tabagismo, a fome, ou os desastres naturais.
A sociedade humana e a Natureza são constantemente agredidas, sujeitas às piores depredações e em última instância, à morte, para que os tais gigantes da agro-química ou outras corporações capitalistas de grande poder, continuem a obter os seus lucros!

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

A CIÊNCIA DO VINHO; O ABANDONO DA AGRICULTURA

CIÊNCIA DO VINHO, ENOLOGIA 

O vinho é um sumo de uva fermentado. 
A fermentação realiza-se graças a leveduras que transformam os açúcares presentes na uva em álcool e dióxido de carbono. 
As leveduras não são visíveis à vista desarmada, são micro-organismos. Estão naturalmente presentes na adega, na vinha, na superfície da uva e, geralmente, em todos os lugares onde exista o cultivo da vinha. 
Foram estas, as leveduras ditas «indígenas» ou naturais, durante muito tempo utilizadas para produzir o vinho. As leveduras «indígenas» estão a regressar à produção vinícola - nomeadamente - nos vinhos ditos naturais. 

A ciência do vinho é multissecular em Portugal. 
As nossas vinhas e as castas de origem portuguesa são cuidadosamente  inventariadas, catalogadas e experimentadas, em institutos públicos e nas grandes empresas do sector. 
A genética molecular, as técnicas de recombinação, clonagem e de transformação de leveduras, têm encontrado ultimamente numerosas aplicações no domínio da vinificação. 
Para se fazer vinho digno desse nome, são tão importantes as condições climáticas, do solo, das variedades de vinha, como os micróbios que fazem parte dum ecossistema. 
Além destes factores, evidentemente, há toda uma série de saberes, de técnicas de cultivo da vinha, do processamento do vinho, transmitidos de pais para filhos, mas que também se podem ensinar e aprender, como parte integrante da cultura científica e técnica.

Do ponto de vista económico, o sector vinícola em Portugal tem três tipos distintos de empresas;  as quintas familiares, onde se produz vinho para o auto-consumo e pouco mais; as pequenas e médias empresas, que têm frequentemente uma cooperativa vinícola a apoiá-las, onde se recolhem as uvas, se fermentam, se engarrafam e comercializam e por fim, as grandes empresas exportadoras, organizadas para a conquista dos mercados internacionais. 
Estas grandes empresas estão «verticalizadas» ou seja possuem os terrenos, as vinhas, as adegas, os circuitos de comercialização. Tiveram origem, muitas vezes, em capitais estrangeiros, como na produção de vinho do Porto, na região do Douro. 
Estas três tipificações mostram que há possibilidade de uma economia se diversificar e crescer a partir do sector agrícola e obter um rendimento apreciável, não apenas um auto-sustento. 
A exploração familiar que faz vinho, além de outras produções, porém, não é de desprezar. Muitas famílias do Norte da Europa vieram para Portugal fazer este tipo de agricultura, usando seus conhecimentos técnicos e científicos para construir explorações viáveis e ecológicas. As explorações pequenas e médias para o mercado «bio» têm também futuro no nosso país. 
O sector agrícola em Portugal tem futuro, obviamente, se as condições ambientais excepcionais  forem preservadas. 
  
ABANDONO DA AGRICULTURA

A vocação natural e histórica de Portugal é agrícola.  
Porém, o país é um importador de alimentos; as exportações são muito mais baixas do que as importações, ano após ano, quer em termos de dinheiro, quer em volume de produtos. A produção agrícola e as pescas nacionais não chegam a cobrir 50% das necessidades do mercado interno.

Portugal é um país de clima atlântico sob influência  mediterrânica. Possui os melhores solos para a vinha (solos xistosos) em várias zonas do território. Mesmo noutras zonas, a vinha pode ser cultivada, pois existem castas e técnicas adequadas a essas condições.

Em geral, o que a agricultura de Portugal precisa mais é de água. 


                     Paisagem da Beira, perto de Monsanto                    
                     
A água disponível, na maior parte do território continental, é suficiente para as diversas necessidades humanas, incluindo a agricultura, mas está irregularmente distribuída. Por outras palavras, uma irrigação apropriada é necessária para corrigir esta irregularidade. 
Igualmente, as precipitações também estão irregularmente distribuídas no tempo; embora se possa usar, nalguns casos, uma «rega de emergência» para salvar culturas, numa altura de seca excepcional, o mais adequado será fazer-se a criteriosa selecção das espécies, variedades e cultivares, mais apropriados aos factores climatéricos. Tem também aqui lugar uma genética agrícola, respeitando e tirando partido das características do ecossistema. 
Mas a escassez e/ou irregularidade das precipitações ao longo do ano, faz com que a água seja o factor limitante. 

Pinheiros no campo, quadro a óleo de E. H. Gandon

O abandono dos campos, principalmente na Beira interior e no Alentejo, ao longo de meio século, fez com que se criasse e alargasse a mancha de «deserto verde» ou «floresta de produção», baseada no eucalipto, cujo único escoamento é a produção de pasta de papel. 
Um motor deste fenómeno foi o facto de que, só assim, podiam obter das terras um rendimento pecuniário os proprietários absentistas, perante a quase ausência do trabalho assalariado.  Desde a década de 1960 até hoje, os trabalhadores agrícolas têm emigrado massivamente para as cidades do litoral ou para países europeus com necessidade de mão-de-obra. A emigração rural, o abandono da agricultura, propiciou ainda mais o alargamento do «deserto verde», que impediu na prática a  manutenção das comunidades, obrigando a um maior êxodo, num ciclo vicioso...

Quando penso nisto, fico muito triste, porque é um lento e frio assassinato de um país, de uma cultura, de um povo, de um saber agrícola (que deixou de estar...) enraizado na memória.

As pessoas jovens que estão sem emprego ou com um emprego de má qualidade (mal pago, precário) podiam formar cooperativas e reconverter-se à agricultura. 

Penso que um país com boa sustentabilidade alimentar terá um melhor viver e guardará capacidade para se desenvolver nos restantes sectores. Pelo contrário, a indústria, nesta fase de transição energética, só poderá ter futuro, se não for baseada no petróleo.
A aposta «fácil» mas não sustentável (aqui, em Portugal) é o turismo, que se desenvolve no curto prazo. Deixa determinados sectores inflacionados, tais como o imobiliário e restauração, mas sem reprodução do capital e dos saberes. Pode o turismo ser uma alavanca, mas apenas se este sector for integrado com o sector agrícola e das pescas, numa visão de longo prazo. 

Gostaria de saber a tua opinião sobre este assunto.
 Escreve para manuelbap2@gmail.com
Obrigado!
Manuel Banet