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quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

HISTÓRIA DO FIEL AMIGO BACALHAU

 

                             Gadus morhua (o bacalhau)

Os portugueses sabem: O bacalhau tem, em terras lusas, o cognome de «fiel amigo». Este cognome não lhe é conferido em vão. Muitos tiveram e têm nutrição adequada em proteína e noutros nutrientes,  graças ao peixe seco e conservado por salga que, depois de demolhado, pode ser cozinhado,  literalmente, de mil e uma maneiras diferentes.

                                 Seco, salgado e dependurado...

Quem é tradicionalista, em termos culinários, não dispensa o bacalhau cozido na ceia de Natal, acompanhado com couves e batatas cozidas. Condimentado com bom azeite, este prato honra a mesa da Consoada nos lares portugueses, desde tempos imemoriais. Mas, a verdade é que os portugueses consomem bacalhau em qualquer altura; é um prato tradicional e quotidiano, não apenas da época natalícia.


                                         «Fiel amigo» depois de cozinhado...


O documentário abaixo fala da importância do bacalhau na história dos povos basco e viking, em particular. Os peixes em salga e o bacalhau também devem ter desempenhado um importante papel na alimentação das tripulações durante as viagens ultramarinas dos portugueses. Além de que, durante séculos, foi crucial na alimentação das classes populares. Estas, não tinham o poder económico para consumir carnes, ou peixes frescos. Graças ao bacalhau, muitos pobres não sofreram de insuficiência proteica e das doenças associadas.

A epopeia da pesca do bacalhau está relacionada, no documentário, com os mais diversos eventos políticos, guerras, comércio, tráfico de escravos, etc. É uma magnífica resenha histórica, que explica porque as zonas atlânticas ricas em bacalhau, no Canadá, ao largo da Terra Nova, foram tão cobiçadas. O documentário condensa, em 1 hora e 45 minutos, mais de nove séculos de História. No final, teremos de nos render à evidência: O bacalhau é o REI do ATLÂNTICO !





quinta-feira, 12 de setembro de 2019

AMAZÓNIA: INVESTIGADORES BRASILEIROS ENCONTRAM CIVILIZAÇÃO PRÉ-COLOMBIANA

 NOTA DE MANUEL BANET: Estes achados não são inéditos, pois Graham Hancock descreve dados semelhantes, baseados em descobertas arqueológicas similares. Ele escreveu o livro «America Before» (ainda não traduzido para português?) em 2017. 
A arqueologia da América e não apenas do Brasil está em plena «revolução», muitas descobertas antigas são reinterpretadas à luz dos novos conceitos que estão emergindo na antropologia, paleontologia, geologia, arqueologia...

                   Amazônia (arquivo)

Retirado de:

Uma expedição arqueológica à comunidade Bom Jesus da Ponta da Castanha, na Floresta Nacional de Tefé (Flona), no Amazonas, encontrou indícios de que o local pode ter sido densamente habitado no passado.
Alguns dos elementos descobertos indicam que a ocupação da Floresta Amazónica antes da chegada dos colonos portugueses, em 1.500, pode ter sido muito maior do que se imagina.
As crónicas do missionário espanhol Gaspar de Carvajal, que fez uma viagem pelo rio Amazonas no século XVI, descrevem uma área cheia de povos indígenas antes da chegada dos europeus na região.
Essas e outras crónicas da época, que relatam a intensa presença humana na região, foram consideradas exageradas e fantasiosas. Porém, trabalhos recentes de pesquisadores brasileiros confirmam esses dados.

Arqueologia da Amazónia
"Não podemos dizer que é um sítio arqueológico só. O que a gente está vendo é um complexo arqueológico de vários sítios, que podem ter histórias diferentes, mas que estão interligadas", disse Rafael Lopes, pesquisador associado do Grupo de Pesquisa em Arqueologia e Gestão do Património Cultural da Amazónia do Instituto Mamirauá.
​No local foi descoberta uma grande quantidade de vestígios arqueológicos de diferentes períodos de ao menos cinco ocupações humanas diferentes no local. Dentre essas descobertas há cerâmicas da tradição Pocó, que podem ter até 3 mil anos.
Como tradição, os antigos habitantes desses lugares usavam tintas castanha, vermelha, preta e branca para decorar os pratos. Louça semelhante foi encontrada nas descrições das crónicas do sacerdote espanhol.
Perto do complexo arqueológico foi encontrada uma floresta de castanheiros que, embora se estenda por quilómetros ao longo do rio, não ultrapassa os 500 metros de largura. Este padrão não natural de dispersão de árvores é uma indicação de actividades agrícolas durante centenas de anos.
Outra evidência é a presença de terra preta – um solo extremamente fértil associado a uma ocupação humana de longa data do mesmo local.
Cientistas têm colectado material orgânico para datação por radio-carbono, o que permitirá uma melhor compreensão das datas associadas às diferentes ocupações e sua relação com o meio envolvente.
"O mais impressionante do sítio foi a diversidade do contexto arqueológico que ele mostrou. Ficamos um mês aqui trabalhando e conhecemos 1% dele", ressalta Lopes.
Para o arqueólogo do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP, Eduardo Neves, o sítio tem grande potencial para o estudo de diferentes ocupações que ocorreram nessa região da Amazónia.
"Não só pela parte da arqueologia, mas essa perspectiva de integração entre a arqueologia e a história da paisagem. Temos questões muito relevantes aqui para a arqueologia de toda a Amazónia", explica.
A Floresta Nacional de Tefé (Flona) é uma unidade de conservação federal sob gestão do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio)..

[Sobre os fogos na Amazónia: https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2019/08/amazonia-paraiso-cobicado.html ]

sábado, 8 de junho de 2019

ANTIGOS POVOS SIBERIANOS NA ORIGEM DOS POVOS AMERÍNDIOS



A descoberta de um sítio arqueológico datado de cerca de 31 mil anos, revelando um povo antigo, povoando a Sibéria oriental, durante a época do máximo glaciar era, por si só, uma notícia de grande relevância antropológica.
Com efeito, nessa época do paleolítico como era possível os caçadores-recolectores viverem numa estepe gelada, caçando o mamute e o rinoceronte lanígero, com as tecnologias rudimentares da época?
 Mas, como se não bastasse, dois dentes de leite de dois indivíduos distintos aí recolhidos forneceram o ADN para sequenciação total dos genomas. 

                              Image result for DNA from 31,000-year-old milk teeth leads to discovery of new group of ancient Siberians
                                     

A sequenciação revelou a existência de um povo desconhecido, aparentado aos Homo sapiens do paleolítico da Europa, mais do que aos Homo sapiens da Ásia. 
Noutro sítio arqueológico siberiano, entretanto, um esqueleto fóssil de cerca de dez mil anos, revelava o seu ADN ser de um homem com características muito semelhantes aos mais antigos exemplares americanos cuja sequência do ADN foi obtida. 
Ora, neste exemplar com 10 mil anos, cerca de metade dos genes aparentavam-se com os dos dentes de leite acima citados, sendo os restantes genes provenientes de populações asiáticas. 
As populações de origem da América seriam provenientes de populações siberianas antigas, geneticamente aparentadas com europeus, que se tinham cruzado com populações asiáticas.
A descoberta da existência deste povo siberiano arcaico vem portanto resolver o mistério da origem do povo que passou pelo Estreito de Behring, então uma faixa de terra chamada Beríngia, que estava emersa devido à descida do nível do mar em centenas de metros, causada pela glaciação. 
Note-se que os siberianos antigos, vivendo em plena época glaciar, eram povos nómadas, percorrendo longas distâncias em perseguição da caça. Não admira que, juntamente com a fauna que caçavam, tenham passado pela Beríngia e para lá desta, para o continente americano. 

                           Image result for DNA from 31,000-year-old milk teeth leads to discovery of new group of ancient Siberians

Entretanto, com o aquecimento do clima, a fusão dos glaciares e a subida do nível dos oceanos, as populações que se encontravam na América há cerca de 15 mil anos, ficaram isoladas das suas congéneres siberianas. 

sexta-feira, 9 de novembro de 2018

DESVENDADAS ORIGENS E MIGRAÇÕES NO CONTINENTE AMERICANO GRAÇAS AO ADN ANTIGO

No artigo da Science  cuja ilustração reproduzimos abaixo, dá-se conta dos resultados da análise de  64 exemplares de ADN antigo, extraído de ossadas de habitantes do continente americano, desde cerca de 14 500 anos a 500 anos atrás. 
Estes resultam de sítios arqueológicos, datados conforme se pode ver no mapa abaixo, desde o Alasca, no extremo norte, à Patagónia no sul do continente. 


                               



Uma das mais interessantes descobertas é a de múltiplas migrações cujo registo ficou inscrito no ADN dos indivíduos e outra, a existência de uma misteriosa população de origem austral-asiática:
Primeiro Reich tinha descoberto sinais dela em pessoas vivas do Brasil; agora, Willerslev, fornece mais evidências graças ao ADN de uma pessoa que viveu em Lagoa Santa (Brasil) há cerca de 10 mil e 400 anos. 
Pergunta-se como é que uma tal marca genética foi mantida isolada, durante dezenas de milhares de anos, em todo um enorme percurso de migração desde a Beríngia, até ao Brasil?  A alternativa seria uma «invasão» por mar o que - à primeira vista- parece demasiado improvável. 
Com efeito, a Beríngia, durante a última idade do gelo, era uma ponte natural entre o continente euro-asiático e o continente americano. Verificou-se que sepulturas na estepe siberiana de cerca de 15 mil anos revelaram indivíduos cujo ADN estava mais próximo de ADN nativo americano, tendo também parentesco com o ADN antigo europeu. 
Quanto à origem austral-asiática de tais marcadores, não se pode excluir que estes resultem duma distribuição muito mais larga, tendo depois ficado confinado apenas a populações austral-asiáticas, analogamente ao que se passou com o ADN de origem «denisovano», cuja maior percentagem na população actual, se encontra precisamente nessa região (aborígenes australianos e nativos da Papuásia-Nova Guiné)