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quarta-feira, 17 de abril de 2024

COMO SITUAR O CONCEITO DE «REVOLUÇÃO», NA HISTÓRIA?

 A história que nos é ensinada nas escolas, desde há gerações, segue uma vulgata marxista, o mesmo é dizer, que é algo ideológico.

No cerne dos preconceitos que enformam as gerações de estudantes formados após o 25 de Abril de 74, sobressai o de «revolução». Nenhum conceito poderia ser ensinado de modo mais confuso e mais ideológico. Fala-se de revolução a torto e a direito, a propósito de golpes de Estado e outros derrubes mais ou menos violentos, em contradição com os sistemas políticos instituídos.

Mas, na verdade, não houve senão duas revoluções, no sentido marxista (sem ironia!): pois a teoria marxista acentua o facto de uma revolução implicar profundas modificações no modo de produção, por sua vez, transformando as relações sociais, em profundidade e de modo duradoiro. A partir da consolidação da nova ordem, muitos aspetos super estruturais das sociedades, ficam profundamente modificados.

Para se aderir a esta visão do que seja «a revolução», teremos necessariamente de excluir as «revoluções políticas», as mudanças políticas, mesmo que elas nos pareçam muito significativas. De facto, o que é apontado como revoluções não o foram, por certo; mas foram antes epifenómenos de algo que estava a agir em maior profundidade.

A «revolução francesa», por exemplo, foi o derrube de uma ordem monárquica mas, nem por isso foi a transformação radical da forma produtiva, nem sequer da dominância das classes. A transição da sociedade agrária para a sociedade industrial estava muito avançada quando, a 14 de Julho de 1798, um grupo de populares parisienses tomou a Bastilha. As relações de produção continuaram as mesmas, antes e depois da «revolução», não foi pelo facto de um certo número de cabeças rolarem, nem de propriedades, que antes pertenciam a aristocratas, passarem a pertencer a burgueses, que se modificou em profundidade a relação entre as classes e nem sequer ao nível do poder político. Note-se que os cargos políticos, já antes da chamada revolução, eram largamente ocupados por elementos da alta burguesia, os quais exerciam esses cargos no poder central e provincial do Estado, muitas vezes relacionados com funções legislativas e da justiça. Mesmo nos altos postos das forças armadas, um campo supostamente reservado à nobreza, as classes não nobres iam progressivamente tomando conta de mais e mais postos. Não devemos ficar iludidos pelo facto do monarca enobrecer um alto funcionário ou uma alta patente do exército: era uma forma, por um lado, de mostrar confiança nesse indivíduo e, por  outro, demonstrar que, servindo o reino, se podia ascender aos cargos e privilégios mais elevados, independentemente da origem social. Napoleão, auto- coroando-se de imperador dos franceses, apenas acentuou essa tendência, que já vinha de longe, criando uma nova  aristocracia, desde barões a príncipes.

Não se encontra, no domínio  da política, nenhum aspeto de fundo que tenha modificado realmente a estrutura das relações sociais. Alguns burgueses tiveram oportunidade de enriquecer, tomando as propriedades das ordens religiosas. Note-se que, eles já pertenciam aos extratos elevados da burguesia, quando compraram (por bem pouco!) os bens das ordens religiosas, postos à venda pelo Estado «revolucionário». 

Poderíamos facilmente mostrar que, ao longo do período napoleónico, contrariamente à mitologia, as classes populares (operários, artesãos, camponeses), não só ficaram subjugadas pelos mesmos ou por outros senhores, como se acentuou a proletarização brutal. Foram colocadas pessoas de ambos os sexos, de todas as idades e incluindo crianças, numa relação de dependência e precariedade, que se traduziu em miséria para as classes populares urbanas. As pessoas esquecem muitas vezes a enorme sangria que foram as guerras revolucionárias e napoleónicas: Durou cerca de 25 anos, em várias partes da Europa. Foi um rasto de destruição «a ferro e a fogo», desde Lisboa  até Moscovo. Estas guerras forçaram comunidades rurais inteiras a migrarem para as cidades, visto que as suas explorações agrícolas tinham sido devastadas ou tinham perdido sua viabilidade económica. 

Do ponto de vista estritamente político, após as guerras napoleónicas reconstituiu-se rapidamente a aliança entre a alta burguesia e a aristocracia. Os governos e monarquias constitucionais que se formaram em quase toda a Europa, são o resultado disso. De fora, ficaram apenas elementos mais radicais, como os republicanos, que continuaram a ser perseguidos: não houve «liberdade de imprensa», nem liberdade de qualquer espécie, durante largos períodos do século XIX, tanto nos países onde tinha havido forte apoio às ideias revolucionárias, como nos que não se deixaram seduzir por elas.  

Na verdade, o fenómeno político, as revoluções liberais, anti autoritárias, anti monárquicas, que houve ao longo do século XIX, são sobretudo o epifenómeno duma profunda transformação na estrutura produtiva. A revolução industrial, que se tinha desenvolvido bem antes, desde o século XVIII, pelo menos, estava a transformar as relações entre classes em profundidade, mas de uma forma silenciosa, não em consequência de qualquer proclamação de princípios revolucionários. O que houve de revolucionário (sem aspas) ao nível da produção, foram, entre outros, a primeira mecanização, a utilização de máquinas a vapor e a concentração de trabalhadores em grandes manufaturas. Estes, eram frescamente saídos dos campos, onde seu trabalho deixou de ter viabilidade económica. 

A concentração de proletários nos centros urbanos, por sua vez, obrigou à transformação das práticas agrícolas: a utilização de processos mecânicos, a generalização dos adubos, os tratamentos fitossanitários, a maior racionalidade no uso dos solos e das culturas, produziram aumentos significativos da produtividade agrícola. Assim se criaram os excedentes que permitiram alimentar a massa humana cada vez maior, nas cidades industriais, porém utilizando muito menos braços nas tarefas agrícolas.  

Portanto, a revolução industrial é o grande motor das transformações. Estas, não se limitaram ao século XIX:

Obviamente, a «grande revolução russa» correspondeu à transformação do país essencialmente agrário, numa potência industrial moderna. Que esta transformação se tenha operado a partir de 1917 sob um governo despótico, totalitário, não impede que tal transformação tenha sido o principal aspeto estrutural da «revolução russa». Os bolcheviques, para efetivação da sua tomada de poder, souberam aproveitar as simpatias de partes do campesinato e do proletariado citadino, por determinadas ideias sociais, o socialismo, o comunismo e o anarquismo. Estes foram instrumentalizados, por vezes esmagados, para a transformação desejada pela «elite» soviética. Não esqueçamos a famosa fórmula de Lenine: «o comunismo consiste nos sovietes, mais a eletrificação do país».

É estranho, mas os que se dizem marxistas não conseguem fazer leituras objetivas dos fenómenos sociais e políticos, quando neles estão envolvidos partidos e correntes «comunistas». A mesma incompreensão dos fenómenos leva certos «revolucionários auto-proclamados » a fazerem uma leitura totalmente errada do  maoismo e do processo de emancipação da China, da sua passagem de uma sociedade atrasada, com características feudais, para uma grande potência industrial e tecnológica. 

Nós - porém - não estamos bloqueados por preconceitos ideológicos. Temos acesso  a um manancial de factos registados, pelo menos desde o início do século XIX, até hoje: não precisamos de distorcer a realidade, ou de fabricar «narrativas convenientes», para convencer os outros de que temos razão, que estamos na linha justa, etc. 

É necessário compreender que a revolução industrial continua, que ela não parou: não é como um comboio que parte dum ponto, para chegar à estação de destino final. A revolução industrial tem vários episódios, continua a modificar a infraestrutura produtiva, a transformar as relações sociais, a condicionar a vida das nações e dos indivíduos e (como epifenómeno) segrega ideologias, as quais são uma espécie de «secreção» que o tecido social produz, enquanto este vai sofrendo inúmeras micro transformações.

A outra grande revolução na história da humanidade, é a revolução agrária. Ela dura desde há cerca de 10 mil anos. No presente, também continua e as suas transformações estão interligadas com as transformações da revolução industrial. Talvez, um dia escreva sobre a revolução agrária. De qualquer maneira, está tão ligada com as primeiras civilizações, que seria necessário compulsar um número impressionante de dados, só para darmos conta da origem e do desenvolvimento desta revolução agrária. É como fazer a história da humanidade, excetuando o longo período paleolítico.

Não poderei pretender mais, neste pequeno texto, do que delinear as questões teóricas em relação com o conceito de revolução e expressar estranheza, perante a «cegueira voluntária» dos que se assumem como sábios, como sabendo em profundidade as coisas, mas que cometem as mais grosseiras falhas de lógica, de bom-senso, para já não falar de método científico. Não poderei convencer tais  indivíduos de que estão errados. Estão numa esfera do tipo crença religiosa, dentro dos seus casulos mentais, sem nenhuma abertura para a realidade... 

Assim constatei, em vários, ao longo da minha vida. Felizmente, existem espíritos mais abertos, que conseguiram aperceber-se das falsidades que lhes andaram a contar durante boa parte da sua vida. 

Mas, aos outros, que não estejam vinculados às falsas religiões das ideologias, digo-lhes: - Vejam este escrito como chamada de atenção e um apelo ao vosso espírito crítico. Não é por algo ser crença de muita gente à vossa volta, que isso é «verdade», nem tão pouco, que seja a verdade a versão oficial, canónica da História, ensinada desde a escola primária, à universidade! 

Eu não pretendo ser detentor da verdade. Apenas tento equacionar os dados do problema ... claro que posso também me enganar. Porém, espero que o meu comportamento desinibido desencadeie nalguns o desejo de inquirir estes assuntos por eles próprios.

quarta-feira, 20 de setembro de 2023

APONTAMENTOS SOBRE ARTE POÉTICA

Existem tantas formas de escrever poesia quantas as personalidades dos / das poetas que a escrevem.

A característica que considero fundamental, numa composição poética, é sua música. Música intrínseca, ou seja, o discurso moldado para produzir determinadas sonoridades e ritmos, com suas cadências e andamentos, tonalidades e  orquestrações. No fundo, esta foi e continua a ser a matéria-prima poética, o ingrediente principal da magia que nos envolve e surpreende. 

Os atributos acima citados, aplicam-se tanto a uma composição musical, como a uma composição poética. É costume classificar-se as duas em categorias diferentes, estão arrumadas em prateleiras separadas, uma das partituras,  outra dos livros de poesia. Mas, afinal, são o mesmo, somente utilizando notações diferentes.

As pessoas estão demasiado imersas numa norma estreita, racionalizadora. Uma prova dessa estreiteza, é pretender sempre encontrar «o sentido» num poema. Uma peça musical instrumental, salvo quando classificada como «música descritiva», não suscita um tal afã nos auditores, de encontrar «sentido». 

Outra maneira das pessoas passarem ao lado da essência duma obra de arte, seja ela musical, poética ou outra, é estarem interessadas, quase exclusivamente, nas circunstâncias em que o autor escreveu o poema /partitura, que significado essa composição teve na sua vida, etc. Tudo o que é exterior à obra propriamente dita, é esmiuçado como se fosse uma prova de erudição, de bom gosto, até!  

Mas, as pessoas passam e a obra fica... Não me refiro, apenas, às que criaram a obra, mas também às outras, contemporâneas, que a aplaudiram ou ignoraram.

Por vezes, está-se perante um «nado-morto», quando a obra é medíocre. Na nossa época, existe muita arte morta, a arte dita comercial, epítome do mau gosto, que se vende bem. E não me estou a referir a determinado estilo, corrente, ou moda. Mas, no que há de mais baixo em qualquer género de música ou de literatura. 

A facilidade em escrever e em obter visibilidade (sites na Internet, por ex.) para os escritos, acrescenta uma camada suplementar de ilusão: Porém, não muda em nada a essência do que é produzido, nem a qualidade intrínseca da obra, ou seu valor artístico e literário. 

Esta multiplicação do «lixo» obriga a usar critérios muito mais exigentes. A cacofonia impede que se oiça a boa música, a boa poesia, a boa prosa. 

A verbalização imatura, despudorada, dos sentimentos é uma pornografia. Distingue-se a pornografia de arte erótica, pelo facto daquela apelar somente ao instinto sexual, sem veicular qualquer forma de beleza.

A destruição das formas de arte, muito em particular da música e da poesia, tem sido levada a cabo pela multiplicação da mediocridade. A produção industrial do que vem intitulado como «música» ou «literatura», torna mais difícil a abordagem da arte e obriga a um elitismo, mesmo quando se defende posições antielitistas, na sociedade em geral. 

Vive-se numa época em que muitos perderam as referências do passado e, portanto, deixou de haver possibilidade -para a imensa maioria - de construir um gosto pessoal, usando critérios estéticos próprios. 

Atualmente, não existe um «cânon» nas artes, «vale tudo». Não seria necessário, no entanto, (re)instituir um cânon. Supondo que tal fosse possível, nem acharia desejável. O conhecimento das diversas escolas estéticas deveria fazer parte da formação, desde a infância. A educação do público seria o meio mais importante - a meu ver - de restaurar a qualidade nos domínios artísticos; infelizmente, vai-se no sentido exatamente oposto.


sexta-feira, 22 de julho de 2022

O QUE MOVE O MUNDO?

            Salvador Dali (1931): SEIS APARIÇÕES DE LENINE SOBRE UM PIANO

 O que move o mundo, as sociedades? Existe algum princípio gerador da evolução das sociedades? Existe(m) força(s) determinante(s) da História?

Aqui, neste breve ensaio, apenas poderei aflorar as questões acima enunciadas.

Durante muito tempo, as pessoas estiveram convencidas que as ideias é que moviam o mundo. Que eram as ideias que impulsionavam o «progresso». A própria ideia de «progresso», surgiu assim e foi-se afirmando uma corrente progressista, ou seja, que via o tal progresso como inevitável e - sobretudo - como algo de positivo para os destinos coletivos da humanidade. 

Esta ideia, que se foi afirmando durante o período chamado das «Luzes», teve como principais propagandistas pessoas pertencentes à burguesia, a classe em ascensão nessa época (séc. XVIII e XIX). Os intelectuais, que não estivessem ao serviço do aparelho da Igreja, os «batalhões» de intelectuais laicos, eram recrutados entre os filhos de pessoas abastadas, que podiam dar uma educação «liberal» à sua descendência. As filhas, continuavam discriminadas e tinham, em geral, uma preparação para serem «boas donas de casa, esposas e mães». 

Este grupo de intelectuais oriundos da burguesia adquiriu rapidamente o controlo das instituições públicas, decisivas na época  e que ainda o são: as instituições científicas, as universidades, o ensino médio e superior; a magistratura, incluindo advogados, juízes, procuradores e notários; as burocracias estatais, a administração nos ministérios, não só postos de nomeação governamental, como de «carreira» (hoje, designados como fazendo parte do «Estado profundo») e as elites militares, especialmente, nos postos que implicavam saber técnico, tais como Artilharia e Engenharia militar.

Não irei detalhar muito mais sobre a formação e evolução da intelectualidade dos últimos duzentos anos. Mas irei sublinhar que a quase totalidade da classe política, incluindo os  revolucionários, é oriunda dessa camada: São pessoas oriundas da burguesia com um nível de educação, que lhes confere um estatuto «superior». Um exemplo deste estatuto especial, consiste na situação dos médicos, não só hoje  - talvez hoje, a perder um pouco do seu brilho - como nos séculos XIX e XX. Eram (e são) pessoas respeitadas, veneradas como sacerdotes laicos da religião da «ciência». Esta «ciência» é somente a expressão da ideologia cientista ou mecanicista. Muitas pessoas procuram, por ambição própria ou induzidas pelos progenitores, uma carreira de prestígio, que lhes dê superioridade social (e económica), algo que se designa por «status». Além do aspeto económico, o aspeto de prestígio social está na base de muitas das «escolhas» de carreira, que não são «livres escolhas», porque as pessoas são empurradas para elas. 

Embora esta casta ou camada, a burguesia intelectual, não seja geralmente a detentora direta dos meios de produção (empresas), beneficia - ainda assim - duma parte do «bolo», visto que o excedente dos lucros desses meios de produção vem alimentar instituições onde esta intelectualidade floresce. Basta pensar-se nas  universidades privadas e nas doações por grandes patronos, as corporações gigantes e com muitos lucros, que fazem assim autopromoção com o seu «mecenato» cultural e científico, ao mesmo tempo que baixam o seu nível de impostos (aqueles aos quais não têm maneira de escapar). 

Será essa intelectualidade, com o seu brilhantismo e capacidade de persuasão, que nos quer convencer de que «são as ideias que fazem andar o mundo para a frente». Estão a defender o seu estatuto e a sua posição económica,  sem dúvida, mas não se apercebem disso, na maior parte. Estão convictos de que têm uma «missão». Aliás, quanto mais convictos forem disso, melhor irão desempenhar o papel que lhes foi atribuído. São como missionários e a sua religião é somente uma - apesar da diversidade aparente - a «religião do progressismo».


No entanto, com o crescimento das forças produtivas do capitalismo, outras visões se vieram opor a esta visão de idealismo ingénuo, de que as «ideias faziam avançar o mundo».

A difusão de teorias políticas e sociais no século XIX e XX, veio dar a prioridade às chamadas «forças materiais», em particular, ao capital e ao trabalho humano. Marx e o marxismo são creditados - inadequadamente, a meu ver - por tal mudança de perspetiva. Mas ao fetichismo das ideias, apenas se substituiu o fetichismo da mercadoria, do capital, do dinheiro. O chamado «Materialismo histórico» é uma ideologia inventada por Marx e por Engels, sobretudo para justificar a sua teoria política, de que a sociedade, fatalmente, iria transformar-se em socialista e, depois, em comunista. Com o fervor dos propagandistas, mas com grande deficiência ao nível filosófico, trataram de «justificar» as suas crenças, com uma visão global da História e da Sociedade que viesse «confirmar» a sua escolha por um determinado modelo de sociedade (a sociedade comunista autoritária). Marx era um discípulo de Hegel. Daí que tenha vertido a sua visão da História, da Sociedade e da própria Natureza, numa matriz de Dialética. Na época, meados do século XIX, a crença ou fé na ciência, mais propriamente num cientismo materialista, era muito difundida nas classes intelectuais onde também se difundiam propagandas revolucionárias e socialistas de vários matizes. Para «fundamentar» as suas crenças e dar-lhes uma aparência de «teoria científica», Marx e Engels foram buscar argumentos aos economistas clássicos (Adam Smith, David Ricardo, etc.), e também aos socialistas franceses (Proudhon, nomeadamente), assim como a muitos cientistas sociais e naturais, da época. Embora eles tivessem um grande poder de síntese, deve-se ter em conta que existem poucos conceitos e teorias, que se creditam como sendo «marxistas», que sejam realmente de Marx e Engels. Quanto muito, eles foram seus difusores; serviram-se de certos conceitos como os de «mais-valia», de «classes sociais» (ambos presentes nos economistas ingleses clássicos, tal como em Proudhon e noutros socialistas franceses), etc. Os marxistas que lhes sucederam, mostrando enorme ignorância ou má-fé (ou as duas coisas), limitaram-se a tomar como «palavra de Evangelho» tudo o que liam nos escritos de Marx e Engels, sem ter em conta que eles estiveram envolvidos em violentas polémicas com seus opositores, nomeadamente, com autores anarquistas e outros socialistas não-autoritários. Os que ergueram as primeiras cooperativas, os sindicalistas da primeira hora, os que fundaram comunas e as fizeram funcionar, todos eles foram apodados de «socialistas utópicos» por Marx. Porém, o comunismo autoritário que defendia tinha todas as características duma utopia! O socialismo prático dos operários que se auto-organizavam em cooperativas, formando associações sindicais e fazendo frente à exploração dos patrões, enfim todos os que estavam empenhados na luta de classes, nessa época, eram esses mesmos que Marx considerava utópicos! Hoje em dia, muitos marxistas que repetem as mesmas atoardas, estão a reproduzir falsos argumentos, usados com uma finalidade difamatória, por uma das partes em polémica. 

Na verdade, assistiu-se, desde então até agora, ao crescimento da «religião materialista», não firmada em qualquer ciência, mas na ideologia. O termo ideologia significa uma «teoria política que é avançada para facilitar a tomada de poder, ou fundamentar a manutenção desse poder». Portanto, é o contrário, em termos teóricos e práticos, da ciência propriamente. A dita ideologia, declarada repetidamente como «verdade científica», tem servido aos sequiosos de poder para exercerem esse poder sobre os proletários, sobre o povo em geral, para impor a sua «ditadura do proletariado». Qualquer pessoa que estude, em profundidade, o que Marx e sucessores entendem pela expressão «Ditadura do Proletariado» (como eu estudei), irá chegar à conclusão de que se trata da (auto)justificação da dominação da nova classe burocrática sobre a sociedade em geral. Na verdade, este conceito de «Ditadura do Proletariado» é a única originalidade do marxismo, enquanto teoria política. Tudo o resto - conceitos de socialismo, comunismo, luta de classes, proletariado, etc. - são conceitos, ou que Marx foi buscar aos teóricos da economia clássica (burgueses), ou que eram lugares-comuns do movimento socialista, operário, na sua época. É revoltante ver-se o grau de ignorância de muitos militantes comunistas e socialistas atuais, sobre os factos acima apontados. Estes factos são sobejamente conhecidos dos intelectuais dos vários partidos, mas eles omitem-nos, porque acham que são verdades «inconvenientes» para as massas.

A difusão do marxismo levou a que muitas pessoas, que pouco sabem de Marx e que nunca se consideraram marxistas, adotem (sem saberem) conceitos típicos de Marx e dos seus adeptos: Uma visão determinista, no campo social e da História, é marxista, faz parte do chamado «Materialismo Histórico». O facto de se considerar tal ou tal posição como «materialista» é, muitas vezes, fruto da ignorância sobre os conceitos de matéria e de energia da Física contemporânea. O ensaio «Materialismo e Empiriocriticismo» de Lenine, é um exemplo disso, quando discute a natureza da matéria e da energia. Ele utilizou argumentos de autoridade e citações de cientistas, mas fora de contexto. Dominique Lecourt escreveu um interessante estudo sobre essa obra. Na época posterior a Lenine, na URSS, a deriva do regime fez com que se erigisse uma «ciência proletária», em oposição à «ciência burguesa». Algo semelhante aconteceu na «Revolução Cultural» chinesa. Em ambos os casos - além duma selvagem perseguição, que custou a vida a cientistas íntegros - a ciência e a técnica  sofreram atrasos tais, que se reflectiram em desastres económicos, distanciando esses países em relação aos EUA e outros países ocidentais. Isto aconteceu tanto na URSS de Estaline, como na China Popular de Mao.

O fracasso do marxismo enquanto teoria coerente do Mundo e da evolução histórica, não significa que os erros do cientismo, do materialismo mecanicista, do determinismo, do «ideologismo», tenham sido varridos para sempre, da teoria, ou da prática políticas. Infelizmente, existe muita gente, que foi - duma forma ou doutra - influenciada pelos preconceitos e pelas distorções ideológicas acima referidos. Muito do que se passou na «crise do COVID» seria impossível sem a forte difusão do materialismo vulgar, ele próprio resultante duma versão caricatural do marxismo. 

Em termos gerais, o espírito crítico e o conhecimento real da Evolução Histórica, são «venenos mortais» para quaisquer ideologias totalitárias de «esquerda» ou de «direita». No nosso tempo, os conhecimentos relevantes, tanto em História, como em Ciências Sociais, aumentaram de tal maneira em número e complexidade, que a generalidade das pessoas não os pode facilmente assimilar. Isto facilita a tarefa aos autoritários de toda a espécie, pois fazem passar por «ciência», aquilo que é apenas a sua ideologia. Isto não acontece somente com marxistas, mas com muitas outras correntes, que florescem, principalmente, nos meios académicos. Não vejo outra solução para o problema, senão aumentar a difusão da educação para um espírito crítico. Caso contrário, arriscamo-nos a cair noutra ideologia intolerante, de sentido contrário à que queremos combater.

Num Mundo caótico, onde se desenvolvem forças de destruição que ameaçam a própria base da civilização contemporânea, também é muito necessário o BOM SENSO: Não emitir a torto e a direito teorias, nos domínios económico e social, apresentando-as como se fossem a «VERDADE». Deveria haver mais senso e espírito crítico, para não se aceitar argumentos, pelo facto de serem enunciados por «autoridades académicas ou científicas». 

quinta-feira, 17 de março de 2022

DECIDI COMPRAR UM POLÍTICO!! [MonaLisa Twins]




                  https://www.youtube.com/watch?v=_QAKz_cxTlQ


I bought myself a politician Cause I have never said I’d play it fair They’re currently on sale Just picked them up from Yale They're even cheaper if you take a pair And on a whim I also bought the opposition It’s better to be safe, you never know And then for even less I also bought the press To wrap it up and I was good to go Who would have thought that no one dared to stop me on my joyride (Oh what a joyride) Who would have thought that I could bring the whole world to its knees And now the time has come to buy my way into the limelight (Just got the time right) As universal scientist and generous philanthropist, my shopping list confirms my expertise I bought myself a politician Cause I have never said I’ll play it fair If they’re not on sale I pick them up from jail It doesn’t hurt to have a few to spare Who would have thought that no one dared to stop me on my joyride (Oh what a joyride) Who would have thought that I could bring the whole world to its knees And now the time has come to buy my way into the limelight (So I can shine bright) As universal scientist and generous philanthropist, my shopping list confirms my expertise If you look closely you can see I’m on a mission There’s something that I really wanna do I’m promising you health I’ll save you from yourself That’s how I’m gonna try To get you to comply Might even have to lie so that you will let me buy you too

Esta paródia do mundo da política e da sociedade, em geral, é somente um pouco exagerada. Elas divertem-me! Espero que a si também porque, além da sátira, são reais talentos. 

 Abaixo, 3 clips, com versões de canções de  The Beatles