Muitas pessoas aceitam a situação de massacres de populações indefesas em Gaza e noutras paragens, porque foram condicionadas durante muito tempo a verem certos povos como "inimigos". Porém, as pessoas de qualquer povo estão sobretudo preocupadas com os seus afazeres quotidianos e , salvo tenham sido também sujeitas a campanhas de ódio pelos seus governos, não nutrem antagonismo por outro povo. Na verdade, os inimigos são as elites governantes e as detentoras das maiores riquezas de qualquer país. São elas que instigam os sentimentos de ódio através da média que controlam.
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quinta-feira, 20 de outubro de 2022

EFEITOS PERVERSOS DA SUBIDA DO DÓLAR




Infelizmente para a economia americana e para as economias dos países ocidentais, um dólar «forte» não resulta de uma renovada capacidade produtiva, de um renascer da atividade industrial, como se poderia ingenuamente crer, se apenas nos restringíssemos a medir a força relativa do dólar, em relação a outras divisas dos restantes países ocidentais.

De facto, os EUA estão no meio de uma crise, que se traduz por cada vez menor influência geopolítica, com a deserção da Arábia Saudita e da OPEP do arranjo, que data de 1973 e que deu origem ao «petrodollar». Este está na base do dólar ter sido - nestes anos todos- considerado, por amigos ou inimigos, como moeda de reserva internacional, que todos deviam possuir, pois só com dólares se podia adquirir petróleo.

Porém, a enorme produção de dólares durante todo o período de 2008 até agora, só se tem vindo a acelerar. A recente inversão de tendência da FED é apenas aparente, pois o «Quantitative Tightening», (ou seja, limitação, não redução, do aumento da massa monetária), apenas tem um efeito psicológico. De facto, a FED continua a fazer, através de «swaps» com os grandes bancos sistémicos, operações que se traduzem num aumento do crédito disponível.

Mas, por que razão a FED se sente obrigada a continuar com o «Quantitive Easing» (ou seja, impressão monetária) pela porta do cavalo?

A FED e Jerome Powell temem a possibilidade de congelamento do crédito, a grande ameaça da crise de 2008, que quase se transformou  em  rutura do sistema. Este congelamento ocorreu de novo em Setembro de 2019, com a subida dos juros para valores inéditos de 10%, do mercado «repo», ou seja, o crédito de curto prazo interbancário, antes - portanto - da epidemia do COVID. A partir de Setembro de 2019, a FED começou a fazer o papel de fornecedor de liquidez ao referido mercado «repo», sendo a crise do COVID aproveitada como pretexto para a FED despejar - de forma já não disfarçada - somas abismais nos bancos.

Quanto à subida das taxas de juro das obrigações, esta começou antes da FED e os outros bancos centrais do Ocidente decidirem uma subida das taxas de referência. Estas subidas oficiais foram avalizar aquilo que os mercados secundários já estavam a fazer. Portanto, não é por os presidentes dos Bancos Centrais declararem que vão subir as taxas de juros, que elas sobem. Passa-se o contrário, elas sobem primeiro nos mercados; os bancos centrais são obrigados a seguir a onda.

Com a subida das taxas de juros das obrigações, a situação tornou-se muito perigosa para os mercados financeiros, em particular, tendo em conta os montantes astronómicos de derivados, aos quais estão expostos os grandes bancos sistémicos, os fundos de pensões, as companhias de seguros e o negócio das hipotecas. O Banco de Pagamentos Internacionais (o banco central dos bancos centrais, com sede em Basileia) calcula que existiam, em Junho de 2021, o equivalente de 8.8 triliões de dólares investidos em derivados pelas entidades acima citadas. Destes instrumentos derivados, os mais comuns e que mobilizam maiores somas mundialmente, estão adossados a índices de taxas de juros. A subida rápida destas taxas de juros pode despoletar a venda em cascata e/ou situações de incumprimento. Como as instituições financeiras, bancos e outros, estão muito alavancados, é fatal que vários entrem em falência. Warren Buffet, há muitos anos, dizia que os derivados são «armas financeiras de destruição massiva».


O dólar forte é causador da aceleração da insolvabilidade duma economia ocidental largamente dolarizada. Basta pensar-se na imensa quantidade de dólares emitidos pelos bancos internacionais (não-EUA) e que circulam no sistema financeiro mundial. São impropriamente chamados «euro-dólares» pois, na realidade, são dólares emprestados, ou emitidos por entidades algures no mundo (não apenas na Europa!), fora dos EUA. No momento presente, em todo o mundo, as trocas comerciais e as transações financeiras são em mais de 60%, feitas usando dólares. Isto significa que muitos governos têm de comprar dólares no mercado internacional para poderem pagar prestações e juros das dívidas contraídas em dólares. Isto é particularmente verdadeiro para países frágeis do Terceiro Mundo. Nos mercados, a subida do dólar tem um efeito depressor das exportações dos EUA, enfraquecendo o débil tecido industrial dos EUA. O facto de muitas mercadorias serem importadas pelos EUA, com preços mais baixos, poderá ter um efeito no curto prazo, mascarando perante os eleitores o falhanço da política económica do governo Biden. Porém, creio que, mesmo esse efeito, vai ser anulado pelas ruturas de stocks, pelo aumento da inflação e pelo crescimento do desemprego. De qualquer maneira, a visão politiqueira a curto prazo, tanto em políticas económicas como em geoestratégia, têm sido uma característica da presente administração.

A política de manter um dólar alto tem efeito dramático em países como o Japão, acelerando a sua monetização da dívida e sobretudo obrigando-o a colocar à venda as «Treasuries» americanas, mas para poder fazer face a um custo acrescido (em dólares) das importações. Quando vemos isso em relação a uma economia ainda muito forte, embora também altamente endividada, faz-nos lembrar as economias da Europa, em particular de Portugal, que estão muito endividadas também e que têm uma estrutura produtiva bem mais frágil.

A política económica americana tem sido impiedosa para com os seus aliados, quer estes sejam da Europa Continental, quer do Reino Unido, quer do Japão. Como os poderes dos EUA dispõem do instrumento dólar, usam-no como arma de guerra. São eles que estão a cavar a fossa do seu próprio poderio. Isso não deveria surpreender um estudante da História. Os impérios, em geral, falham pelas medidas que tomam, relativamente a seus súbditos ou vassalos. Não são submersos por uma vaga de invasões de outros poderes, senão quando já estão internamente muito fracos, incapazes de manter o funcionamento do sistema. É exatamente o que estamos a viver agora.




ALGUMAS CITAÇÕES RELATIVAS AO TEMA:

Rising interest rates are also a sea-change for derivatives, and particularly for the banks exposed to them. Interest rates swaps, of which the Bank for International Settlements reckoned there were $8.8 trillion equivalent in June 2021, have been deployed by pension funds, insurance companies, hedge funds and banks lending fixed-rate mortgages. They are turning out to be a financial instrument of mass destruction.

https://www.goldmoney.com/research/banking-crisis-the-great-unwind




As the USD rises in strength on the back of Powell’s impossible Volcker-revival and tangled derivatives, other Dollar-desperate nations from Argentina to Japan find themselves with not enough Greenbacks to pay their debts or settle trades, wires and oil purchases, which thus forces them to print (i.e., debase) more of their local currencies to make USD-denominated payments.

But Japan takes the cake for debasing its own currency all on its own, as no nation has ever loved a money printer and currency-debaser more.

This might explain why Japan is leading the charge in dumping its USTs into the FOREX markets, which only adds more pressure to rising yields and hence rising rates.

Thanks Kuroda—just one more central banker with a mouse-clicker gone mad… Perhaps he’ll be next in line for a Nobel Prize?

But Japan is not alone, as other nations dump the once sacred UST just to keep their currencies afloat…

https://goldswitzerland.com/how-an-illiquid-dollar-ruins-the-world/





"... Rates rising have absolutely frozen the real estate market. If you own a property, who is going to buy it? Rates have gone from 3.25% to more than 7%. I am on the record that once we saw a 3% yield on the 10-Year Treasury, you would start to see a tightness in credit. Now, we are over 4%. What few people are talking about is what has this already done to the derivatives market?

...Think about how big the derivatives market is. Total credit worldwide is $350 trillion, but you have derivatives pushing $2 quadrillion. I have said this all along, derivatives will blow up. Warren Buffett has called them financial weapons of mass destruction. They are far bigger than central banks can fix.”

Holter goes on to say, “The real economy runs on credit. Everything you look at, everything you touch and everything you do every day has many uses of credit to get to the final product or situation..."


" So, once credit freezes up, it’s completely game over. In a past interview, I said they are pulling the plug. They have to pull the plug because, mathematically, the debt cannot be paid. The derivatives cannot perform. So, they have to pull the plug. They also have to do one other thing, and that is they have to kick the table over. What will the false flag event be? I have no idea...

They have to kick the table over so they can say our policies were working, but whatever this event will be stopped them.”



[...]
Equally important are the global ripple effects of the US Fed’s increasingly desperate and distorted actions. The strong USD policies intentionally and currently used by the Powell Fed have had a crippling and destabilizing impact on global currencies, from developed to developing, as the rest of the world has been forced to import US inflation and debase their own currencies to settle trillions in imposed USD transactions. In short, as the USD rises, the rest of the world’s currencies (and hence economies), friend and foe alike, are forced to suffer. As Matthew quips: “With financial and political allies like the U.S., who needs enemies?”



sexta-feira, 8 de maio de 2020

ESTAREMOS A ASSISTIR À BATALHA FINAL?

Uma batalha não é a guerra e esta batalha faz parte de uma guerra híbrida. Neste tipo de guerra, é ainda mais útil - em comparação com a guerra «clássica» - a sabedoria de um Sun Tzu. Ele ensina que o vencedor será quem souber esperar e avaliar acertadamente as forças no terreno, para desferir o golpe decisivo, no momento exacto.  

Gold Coins In Hand

Quando a FED não consegue evitar que a « FED FUNDS RATE implícita» se torne negativa, estando negativas as taxas de referência, incluindo as taxas de juro bancárias, na Europa e no Japão, desde há bastante tempo, isto significaria que a batalha entrou numa fase decisiva: mas qual batalha? 
- A batalha da perda da hegemonia do dólar, pela instauração duma «ordem global monetária» multicêntrica.
Acredito que esta seja a fase definitiva, mas que se trata do início do «último Acto». Por outras palavras, não creio que a tal «ordem global» se erga já amanhã, substituindo a ordem caduca (o petrodólar, que reinou desde 1973, até hoje). Mas, tudo me leva a crer que a hegemonia do dólar US está definitivamente posta em causa.
 O efeito transitório da subida do dólar US, nestes dias de crise económica disfarçados com maciças doses de propaganda (como se fosse «a crise do coronavírus», uma crise...sanitária, portanto), não pode enganar senão o mais ingénuo e crédulo; aquele que pensa que os números a subirem num ecrã da bolsa é sempre bom, em termos de apreciação real dos activos que detém.
Para se perder esta ilusão, basta estudar o caso da Venezuela: a sua bolsa de valores atingia novos cumes a cada dia que passava, à medida que a crise se aprofundava e o Bolivar ia perdendo qualquer resto de valor. As pessoas, em pânico, compravam acções, porque esperavam que algumas empresas não se afundassem e voltassem a ser rentáveis, passada a crise. Qualquer outro investimento (excluindo o ouro e prata físicos, que não são realmente investimentos financeiros) estava destinado a dissolver-se no éter... 
No caso do dólar US, principal divisa de reserva e havendo imensos activos denominados em dólares pelo mundo fora (incluindo as obrigações soberanas de vários países emergentes...), é inevitável que ele cresça, nesta fase. Com efeito, a procura de dólares é motivada tanto pelo medo, que leva os investidores a procurarem refúgio no (falso) porto de abrigo, como pelas vendas maciças de obrigações do Tesouro americano (treasuries) e de outras obrigações denominadas em USD, que são necessariamente saldadas nesta divisa. 
Tal subida do dólar não significa, portanto, que ele seja «mais forte», como repetem «ad nauseam» os noticiários financeiros, mas bem pelo contrário, pois se acompanha duma perda de influência. Precisamente, trata-se da perda de confiança no que foi - durante muitos anos - considerado o melhor «porto de abrigo» financeiro, as «treasuries»! 
Mas, esta subida do dólar, ainda por cima, é muito relativa! Ela apenas se verifica em relação às outras divisas: o dólar está constantemente a desvalorizar-se perante o ouro, a verdadeira reserva de valor, o verdadeiro porto de abrigo.
Nestas circunstâncias, tal como na Venezuela e no Zimbabwe, o dólar irá inflacionar ainda mais os mercados de acções, por um mero cálculo do valor. Com efeito, se tivermos uma acção duma empresa, sendo X a sua cotação num dado momento e numa dada divisa, se o valor dessa mesma divisa descer de modo substancial, então a referida acção vai automaticamente ajustar-se para cima: isto não significa que a empresa - em si mesma - esteja melhor, em termos de desempenho...
Vemos, portanto, como são falsas e enganadoras as narrativas da media financeira: reflectem o interesse muito directo dos seus patrões. Estes patrões podem ser magnates (como Bloomberg, por exemplo) ou Estados (muita imprensa, na Europa, sobrevive graças às ajudas estatais ...), ou uma combinação dos dois.  

Esta guerra é híbrida e global. Oxalá, não haja uma guerra «cinética»! Mas, se perante a guerra híbrida (económica, financeira, comercial, monetária...) temos de raciocinar em termos militares, então é melhor aprender, num curso intensivo, a «Arte da Guerra» de Sun Tzu ou fazer uma revisão aprofundada, à luz dos acontecimentos mais recentes.

PS1: Cynthia Chung, no seu artigo https://www.strategic-culture.org/news/2020/05/07/the-art-of-war-in-the-21st-century/
desenvolve o conceito de Sun Tzu de qual a verdadeira batalha e qual a melhor maneira de a combater.

segunda-feira, 30 de setembro de 2019

A DESDOLARIZAÇÃO JÁ TEM EFEITOS TANGÍVEIS

                


Que relação poderá existir entre:
- a recente crise de liquidez no mercado «ovenight» ou REPO* que obrigou a intervenção da FED, acorrendo com centenas de biliões, para garantir que este mercado se mantinha líquido,
- a intensa venda de treasuries (obrigações do tesouro americano) por parte de competidores mundiais dos EUA, como Rússia e China, 
- a aceitação de moedas outras que não o dólar em pagamento do petróleo, por vários países, incluindo certos emiratos do Golfo
-  a existência de uma indústria do petróleo e gás de xisto nos EUA, cuja produção actual ultrapassa a da Arábia Saudita, mas que tem um défice estrutural, pois a obtenção de cada litro desse petróleo faz-se com prejuízo em dólares, apenas colmatado com o constante bombear de dinheiro por Wall Street

Bem, tudo o que está descrito acima tem-se verificado, significando que o petro-dólar está nas suas últimas. Significa também que não tardará o dia em que os produtores de matérias-primas e de produtos industriais torcerão o nariz a pagamentos em dólares e dirão «não aceitamos pagamento com dólares US».
Para que funcione o sistema do petro-dólar, o qual é o fundamento do domínio financeiro dos EUA sobre o mundo, é necessário que haja uma constante demanda de dólares nos mercados. É assim que o dólar mantém a sua cotação, é assim que existem compradores para as obrigações do tesouro denominadas em dólares, etc. 
O sistema do petro-dólar tem funcionado, visto que há uma demanda constante no comércio internacional, nomeadamente por causa da exclusividade de cotação em dólares do petróleo (acordo de 1973 entre Nixon/Kissinger e Arábia Saudita, depois alargado a toda a OPEP).
Mas, ultimamente,  vimos a Rússia desfazer-se das suas reservas, sob forma de «treasuries» (obrigações do tesouro USA), vimos alguns produtores importantes de petróleo como o Irão, a Venezuela e a Rússia a aceitarem outras divisas - que não o dólar - em pagamento do seu «crude». 
Vemos também que a desconfiança de muitos investidores, incluindo gestores de fundos bilionários, em relação ao sistema do dólar tem aumentado e se exprime na compra (publicitada) de ouro e metais preciosos, com o objectivo de salvaguardar valor do capital, em face da crise sistémica vindoura, anunciada por muitos.
Por outro lado, a grande banca, sobretudo nos EUA, está realmente em grandes dificuldades, pois não consegue já ocultar que a sua rentabilidade mergulhou, que está cada vez mais exposta a investimentos tóxicos, nos quais se incluem os derivados, assim como outros investimentos não rentáveis. 
Entre estes, encontra-se a indústria do «fracking». Desde o primeiro dia desta indústria, o seu funcionamento e viabilidade dependia, não tanto da cotação do barril de petróleo ao nível internacional, como da capacidade dos bancos e entidades financeiras, atraírem dinheiro para a financiar. 
Assim, os pequenos investidores e os investidores institucionais (como seguradoras, fundos de pensões, etc...) foram atraídos a investirem numa indústria que nunca foi rentável, que acumulou sempre perdas. No final, os pequenos vão ficar «depenados», salvando-se os grandes magnates...  
Se a FED e o Tesouro (através do seu fundo financeiro de intervenção) precisam de intervir, baixando as taxas de juro, «imprimindo» dólares, comprando «treasuries», isto vai, obviamente, no sentido de aumentar a quantidade de dólares em circulação. Estes dólares não causam inflação, porque são «enterrados» em dois grandes «poços de dinheiro»: 
- as indústrias bélicas e as guerras, directamente ou por intermediários, pelo mundo fora.
- a indústria do fracking nos EUA, que dá a ilusão de uma grande autonomia energética, mas é sustentada de forma artificial pelo constante colectar de «capital fresco», junto dos investidores que procuram uma maior rendibilidade, a todo o custo**.

Por um lado, o dólar não pode estar em excesso nos mercados mundiais, senão ele vai perder cotação, face a outras moedas e face ao ouro.  
Mas, por outro lado, não podem os bancos (nomeadamente os grandes, que estão no centro do mercado REPO ou «overnight») ficar com falta de liquidez. 
A subida dos juros do «overnight» (nalguns casos, atingiu os 10%, quando o valor «normal» era em torno dos 2%) assinala ao mundo que é difícil obter financiamento, que há falta de liquidez (como aconteceu no desencadear da crise de 2007/2008). 
Daí a injecção de centenas de biliões nesse mercado, por parte da FED. Agora, a FED quer servir-se do pretexto de assegurar a liquidez no mercado REPO, para fazer novo QE (Quantative easing) envergonhado.

Esta «engenharia financeira» global, apenas pode funcionar por algum tempo. 
Assim que existam alternativas viáveis ao dólar, tais como as notas de crédito para pagamento de combustíveis em Yuan, é só uma questão de tempo até o mundo reconhecer que o sistema do dólar já não oferece nenhuma garantia, porque seu valor é mantido artificialmente. 
A força bruta, o poder militar, não podem estar em todo o lado, simultaneamente e em força. 
Não pode o Império do Dólar coagir tudo e todos a usarem a sua moeda, quase em exclusivo, nas relações comerciais e financeiras internacionais, como aconteceu no passado, durante largas décadas, nem manter uma hiper-valorização artificial dos «bonds» americanos, com rentabilidade bem acima das dos bonds de  muitos países, cujas obrigações soberanas oferecem um juro menor e, portanto, são menos atraentes para os investidores.
É só uma questão de tempo, até o império do dólar se desmoronar**. 
Pode ser uma experiência muito dolorosa para o mundo, pois os EUA têm tido a habilidade de «exportar» a sua crise para outros parceiros, nomeadamente, o Japão e a UE. 
Outros países, ditos em desenvolvimento, poderão ficar com as suas economias seriamente afectadas. Por exemplo, muitos países endividaram-se em dólares quando o juro dessa dívida era mais atraente e sobretudo  quando o dólar estava «barato» em relação a outras divisas. Depois, o dólar subiu e manteve-se alto, o que obrigou esses países a fazer um esforço maior no pagamento dos juros e do capital em dívida. 

Penso que os bancos centrais de muitas regiões do mundo, não apenas das «super-potências competidoras» China e Rússia, mas também de muitos outros países, incluindo aliados dos EUA, estão a tomar precauções face a uma enorme crise financeira, que está à vista. 
Não é por acaso que os bancos centrais de vários países  alinhados com os EUA e membros da NATO, como a Turquia ou a Polónia, estão a comprar grandes quantidades de ouro; é porque vêem «o que está escrito na parede»...
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Notas:

* O «REPO» é um mercado de empréstimo dos bancos entre si, de curta duração (por isso o termo overnight): um banco pode precisar de liquidez momentaneamente, sendo normalmente oferecido (a juro baixo) o empréstimo necessário, mediante colateral. Este normalmente, o colateral é sob forma de algo com cotação «triplo A» como obrigações do tesouro dos EUA ou equivalente...

**Ler W. Engdahl «The New American Oil Empire Built on Sand» em: 

*** Para maior esclarecimento, pode-se consultar o recente vídeo de entrevista de Greg Hunter a Rob Kirby: 
https://www.youtube.com/watch?v=xAF6_9_WS8g&t=1227s

domingo, 18 de agosto de 2019

A CRISE VIRÁ DO LADO DA DÍVIDA SOBERANA, DOS TÍTULOS DA DÍVIDA PÚBLICA


                        Resultado de imagem para treasure bond coupon

Sabe-se que o grave problema que afecta o sistema económico e financeiro ocidental é a enormidade da dívida. Dívida dos Estados, dívida das empresas e dívida das famílias... tudo somado, a quantidade de dívida é muito maior do que a existente nas vésperas do colapso de Lehman Brothers!

O processo de um Estado se ver livre da dívida pública é somente um, na prática. Embora, em teoria, um governo pudesse decretar insolvência, reconhecendo estar falido e portanto não pagar aos seus credores, isso é demasiado penoso e politicamente suicida. Portanto, os governos irão fazer aquilo que sempre fizeram, ou seja, inflacionam a sua moeda nacional (no caso do Euro, será antes a moeda comum de uma série de Estados da União Europeia).

Um dos casos mais graves de acentuado crescimento da dívida pública, sem fim à vista e com tendência para se agravar, é o dos EUA. Obama conseguiu o «glorioso feito» de duplicar, durante os seus dois mandatos, a dívida pública acumulada antes dele, desde o início da existência dos EUA.
Nada menos fiável do que os EUA. Se decidirem que algum país está com exigências excessivas, podem simplesmente obliterá-lo do mapa... veja-se o caso da Líbia! 
Mesmo os aliados não estão a salvo de serem «esfolados»: como clausula secreta dos acordos que instituíam o sistema do petro-dólar (em 1973), os sauditas foram obrigados a fornecer muitos biliões em treasuries, que provinham do petróleo, para os seus protectores de Washington disporem dessas somas colossais. Não estão nominalmente na posse do Tesouro, mas é como se estivessem: as tais treasuries servem como «fundo de estabilização» do Tesouro. Quando os mercados variam bruscamente ou quando algo vai num sentido desfavorável aos interesses de Washington, esse fundo gigantesco intervém, discretamente. Os especialistas dos mercados conhecem bem as intervenções do referido fundo.    
É basicamente o medo, a impressionante máquina militar, que impõe «respeito» pelo dólar US, com o qual os EUA compram tudo o que precisam, dando em troca... esses papéis verdes impressos! 

A China foi acumulando, em resultado do seu comércio com os EUA e outras partes do mundo, a gigantesca soma de 1,3 triliões de dólares, que estão sob forma de obrigações do Tesouro dos EUA («treasuries»).
Há quem diga que esta constitui uma arma poderosa da China, que poderá despejar no mercado fazendo baixar subitamente o valor dos referidos treasuries. Mas, isso é falso. Não só não é possível eles desfazerem-se de tal soma bruscamente, como teria um efeito oposto ao desejado. Ainda por cima, poderia desencadear uma guerra, por os EUA se sentirem acossados naquilo que é fundamental para eles, a sustentabilidade da sua dívida...

Os russos, há algum tempo, desfizeram-se de quase todas as suas treasuries. Mas eles tinham muito menos, do que a China tem. O que eles fizeram foi genial: Eles deram os treasuries como aval a vários bancos europeus, para garantia de empréstimos aos mesmos bancos. Depois, fizeram default sobre as dívidas a esses bancos e estes tomaram posse das treasuries, dadas como aval. Assim, não colocaram no mercado essas treasuries e obrigaram a outra parte a aceitá-los. Não me parece que se possa repetir isso.

Os Chineses fizeram a Belt and Road: é - além de outras coisas - um processo lento de se desfazerem de treasuries. Com esses dólares, eles financiam grandes obras, portos, aeroportos, caminhos de ferro, etc. nos países mais diversos, com os quais têm acordos. Ficam aliviados do excedente em dólares e tornam-se credores de vários países, sendo possível que recebam em pagamento géneros (matérias-primas), ou notas de crédito denominadas em Yuan.

Segundo uns analistas, os americanos têm de comprar a si próprios (a FED compra ao Tesouro, o qual emite dívida) cerca de 70% da dívida emitida e têm de fazer malabarismos, usando derivados (credit default swaps), para criar a ilusão de procura de treasuries e assim sustentar seu preço. 
Também conseguem procura porque têm uma taxa ligeiramente acima de zero, enquanto muitas das obrigações europeias (como os bunds alemães) estão com juros negativos, ou seja, o emprestador tem - ao fim de x anos - a soma investida, MENOS uma determinada soma y, correspondente ao juro negativo. 

A dívida excessiva a nível mundial não poderá ser aliviada por uma espécie de «jubileu», pois haverá países que ficam a perder imenso com isso por comparação com outros que até incluem os mais ricos, pois estes têm tido um comportamento irresponsável de acumulação de dívida, sem contrapartida em criação de riqueza. Quando uma pessoa ou uma empresa ou um Estado se endividam pode ser uma coisa boa e sensata ou o contrário: se for para investir em algo que por sua vez irá gerar rendimento, irá produzir algo (bens ou serviços), irá traduzir-se por um acréscimo de rendimento (ao nível dos Estados, maior receita de imposto), então é provável que tal investimento seja sensato e produtivo. Mas um empréstimo gasto em despesa não reprodutível, que não vai gerar capital que o pague no médio/longo prazo, é somente um peso suplementar que incide sobre as economias, sobretudo das gerações futuras. 

Num contexto de sobre-endividamento, a inflação é desejada por bancos centrais e por governos, porque vai «comer» parte da dívida acumulada, ou seja, é como um «default» suave, a uma taxa de uns pouco por cento ao ano, que o público não compreende e atribui à ganância dos comerciantes ou às reivindicações excessivas dos assalariados, etc... mas, não aos verdadeiros culpados.

Perante um aumento descontrolado da dívida, a tentação é desvalorização correspondente do dinheiro, o que tem sido feito, de forma sistemática, sem que as pessoas percebam o que se está a passar: se a inflação registada nas estatísticas ao longo de um ano, for de 2%, por hipótese mas - na verdade -  sendo esta de 4 ou 5 %, como se tem verificado, é muito difícil alguém contrariar o discurso oficial. Seria preciso um instrumento independente, de recolha e tratamento estatístico, algo como um Instituto de Estatística alternativo, ou algo parecido, com credibilidade igual ou superior aos institutos do Estado. 

Portanto, a aceleração da impressão monetária, ou seja,  «Quantitive Easing» e as taxas de juro próximas de zero ou negativas  anunciadas pelos bancos centrais ocidentais, irão apenas contribuir para manter durante algum tempo (quanto?) as bolhas das bolsas de acções, das obrigações, do imobiliário... em que se tem vivido. 
Mas, chegará o momento em que as pessoas compreenderão que estão a ser aldrabadas, que números crescentes não representam aumento de valor, não correspondem a nada de sólido. 

A perda de confiança numa divisa, nas divisas «em papel», é um processo muito rápido: compreende-se que os bancos centrais dos países do Oriente se previnam disso, comprando todo o ouro que podem nos mercados. Alguns financeiros, gerindo fundos bilionários, também compreendem o que se está a passar e também estão a aconselhar os seus clientes a fazer o mesmo.

A subida dos metais preciosos, em especial do ouro (e isto é notável) faz-se, apesar da existência confirmada de conluio entre bancos centrais ocidentais e grandes bancos, emissores de contratos de futuros (um tipo de derivado) sobre o ouro e a prata. Eles despejam no mercado, em momentos especiais, quantidades abismais de contratos. É assim que o preço do ouro e da prata têm sido reprimidos, ao ponto de, em paridade do poder de compra, a prata nunca ter estado tão barata! Se estes contratos correspondessem - de facto - a ouro físico, seria necessária várias vezes a produção anual minerada. Evidentemente, trata-se duma fraude, mas fraude consentida pelas entidades ditas supervisoras dos mercados e pelos bancos centrais.
O sistema de emissão de dinheiro ilimitado e controlado pelas entidades globais, é inviável: dentro de um prazo (não determinável exactamente, pois dependerá da duração e profundidade da crise vindoura), terá de haver uma profunda reforma do sistema monetário.  
Mas, entretanto, é bem provável que haja guerras, revoluções, fomes, transferências de riqueza, fenómenos que se verificaram no passado, em associação com as crises económicas mais graves.

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

A TRAGI-COMÉDIA DO BREXIT

                        

Conforme eu tinha vaticinado há alguns meses, as forças centrífugas predominam nas fileiras pró-governamentais da Grã-Bretanha. Teresa May conseguiu um acordo de saída da UE que tem tudo para enfurecer uns e outros: uns, que votaram a favor do brexit, porque o acordo mantém em vigor muitas das leis e disposições que estiveram na base do descontentamento que levou ao voto no brexit. Outros, os pró-UE, que vêem que a associação com a UE vai continuar, apenas sem possibilidade dos britânicos terem voz e influência no seio dos órgãos de poder da mesma. 

Consequência imediata, 4 ministros do governo May demitiram-se, incluindo o próprio ministro encarregue do brexit. Se eu compreendi, o que se segue será que Theresa May deverá submeter ao parlamento um novo gabinete, que deverá votar - ou não - a nova composição do mesmo. Em alternativa, Theresa May pede à Rainha a dissolução do parlamento e eleições antecipadas.   
Os negócios em geral, especialmente os novos investimentos, serão afectados, pois este cenário deverá conduzir a um período de incerteza. 
Os EUA, que sempre contaram com o Reino Unido como o «cavalo de Tróia» dentro da UE, serão beneficiados no imediato, em termos de taxas de juro das suas «treasuries» e dum aumento do dólar, visto a instabilidade no continente europeu desencadear sempre um «reflexo de protecção» dos capitais em direcção aos EUA. 
A UE, ou melhor, aquilo que resta da UE, será mais frágil, apesar da Comissão Europeia ter averbado uma vitória parcial nestas negociações. Mas esta vitória pode transformar-se rapidamente em «vitória de Pirro», pois também não vejo este resultado como dissuasor de outros países seguirem as pisadas da Grã-Bretanha. 
A incapacidade da UE se definir como um super-estado federal, devido a razões profundas, não devido a caprichos de seus dirigentes, está na raiz de todos os problemas. 
Se não existe uma moeda comum sólida é porque a Alemanha se  negou sempre a colectivizar as dívidas soberanas europeias, porém tem arrecadado - em anos sucessivos - superávits que apenas são possíveis em face dos défices dos seus parceiros de «união». 
A inoperância das instituições europeias faz com que não existam condições, apesar de múltiplas tentativas, de forças armadas comuns dos países da UE, nem mesmo dentro dum «pilar europeu»  da NATO. Esta aliança militar mantém bases americanas um pouco por todo o continente, sendo um processo de «racket» sobre os destinos políticos e a economia europeias, embora a retórica seja de que os americanos estão no continente europeu para «proteger» os seus aliados. 
As oligarquias do poder e dos negócios que dirigem o continente, querem uma UE assim como está; um colosso em termos de população, de economia, de inovação, ciência e cultura, mas um anão militar e diplomático... É isso que lhes permite melhor controlar as massas, encurraladas nos seus países respectivos, ao contrário dos capitais que fluem livremente, não apenas entre países da UE, como atravessando sem restrições as fronteiras virtuais do espaço europeu.
A City de Londres constituiu-se, desde a adesão da Grã-Bretanha à CEE, como um imenso centro de lavagem de dinheiro, de fuga ao fisco dos países continentais e como coordenador doutros paraísos fiscais nas Caraíbas e também nas ilhas do Canal da Mancha.
Não me admirava que o acordo agora alcançado seja o que preserve ao máximo esse papel da City. 
A questão da existência ou não de uma fronteira física separando a Irlanda do Norte da República da Irlanda, por muito importante que seja para as pessoas e para a economia local, pode considerar-se a questão-pretexto que interessa agitar junto das opiniões públicas, para melhor calar aquilo que estava realmente em jogo: a manutenção dos privilégios exorbitantes e  descontrolo completo dos fluxos de capitais que passam pela City de Londres.

Enquanto não houver uma profunda tomada de consciência das pessoas, elas serão manipuladas, sobretudo usando-se a corda sensível do nacionalismo, para serem levadas a aceitar passivamente a continuação de uma oligarquia política, económica e financeira, ao comando dos seus países respectivos. 
A UE tem proporcionado, no fundo, as condições para a classe no poder exercer uma ditadura disfarçada, com o famoso TINA (There Is No Alternative!) 

domingo, 23 de setembro de 2018

OLHANDO O MUNDO DA MINHA JANELA (PARTE I)

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Olhando para o Mundo da minha janela, reparo que o jogo da grande política e estratégia não pára; mas - à superfície - tudo é feito para que as pessoas tenham uma percepção de que «tudo está na mesma». 

Bastam-me dois exemplos para ilustrar esta tendência:

Primeiro, a enorme perda de influência do dólar, o qual já não tem o domínio que teve outrora sobre os mercados financeiros, sobre as trocas comerciais e, sobretudo como moeda de reserva inquestionável, com a qual amigos e inimigos tinham de contar, nos cofres dos seus bancos centrais, sem o que muitas operações vitais deixavam de poder realizar-se. 
Hoje em dia, não apenas se desenvolve o sistema da nota de crédito em Yuan, dando muito maior flexibilidade a trocas efectuadas fora do dólar em África e no Médio Oriente, mas a China e Rússia estão a adquirir uma quantidade recorde de ouro, o que só pode significar que claramente estão a preparar a transição multipolar, como também vão-se livrando do dólar. 
A Rússia praticamente não tem mais «Treasuries» (obrigações do tesouro dos EUA, normalmente usadas como meio de reserva de dólares), lançou-as no mercado em Abril-Maio deste ano e avisou que o dólar já não era um activo «confiável». 
Quanto à China, com a sua «Belt and Road Iniciative» (as Novas Rotas da Seda), tem vindo a fazer empréstimos em dólares (uma maneira inteligente de se livrar deles) a países africanos, os quais podem pagá-los de volta, sob forma de Yuan ou de matérias-primas. 
A China tem usado também «Treasuries» para financiar mega-projectos de infraestruturas -caminhos-de-ferro, portos, aeródromos, estradas, etc. - em todo os espaço euro-asiático, para criação de um espaço único de circulação de mercadorias, desde a península coreana até às margens do Atlântico. 
Poderia continuar a dar exemplos de perda de influência americana e de perda de controle da situação geoestratégica relacionadas com ocaso do dólar, como moeda de reserva universal.  
Basta-me referir que as sanções económicas e as tarifas punitivas decretadas por Trump, apenas indicam fraqueza, não impressionam por aí além, fazem mais mal à população dos EUA e dos seus aliados europeus, do que propriamente aos países alvo das mesmas, nomeadamente o Irão e a China. Têm, ambos os governos destes Estados, meios para circunscrever  e tornear os prejuízos causados e sabem que as ditas sanções são fruto do desespero e susceptíveis de se transformarem em «tiros pela culatra». 
O mundo inteiro vê isso e pensa que os dias do Império do dólar estão contados.

O segundo exemplo, é o da movimentação da Itália para fora da zona euro. Os italianos não querem mais sofrer com o euro. Sabem que o seu caminho é o da saída. 
Mas, querem fazer as coisas de maneira mais inteligente que os gregos, que ficaram entalados com uma dívida impagável e uma espoliação de muitos activos e propriedades (incluindo portos e aeroportos) dados em contrapartida de «resgates» mais que dúbios. 
A Itália tem possibilidade de decretar a saída do Euro mas, para isso, terá de proteger-se de efeitos secundários que poderão ser demasiado penosos, tanto política como economicamente. Só será possível fazerem a transição se tudo for preparado em segredo e no último instante decretarem o controlo de capitais e o fecho  dos bancos (com a possibilidade da população retirar algumas centenas de euros por semana  das suas contas-correntes nos ATM). 
Isto, a acontecer, automaticamente criará uma crise de confiança no espaço europeu,  pelo que todos os países da «eurolândia» serão arrastados para soluções similares se não quiserem logo ver seus próprios bancos colapsar, por insolvência manifesta. 

Estes dois exemplos não me tiram o sono, felizmente, porque eu não detenho meios para influenciar os acontecimentos: só teria se fosse um grande bilionário ou trilionário, dono de bancos  e de ramos inteiros de indústrias.

Mas tenho o bom-senso de me precaver destas eventualidades, que parecem como uma enorme vaga, um tsunami, que se vai aproximando cada vez mais da costa, enquanto as pessoas despreocupadas, não ligam, continuam na praia a apanhar sol e a brincar... 

Não é somente por compaixão e solidariedade humana mais básica, que não tenho vontade que essas pessoas sejam vítimas de uma tal desgraça. Quanto maior número de pessoas souberem precaver-se, melhor estarão - colectivamente - para reconstruir as coisas. 
Não sei como nem quando irá rebentar, mas uma catástrofe económico-política de grandes dimensões está fermentando, somente a media hipócrita, ao serviço dos seus donos, mantém todos distraídos. 

Tenho poucas esperanças numa revolução mundial, que varra de vez este capitalismo depredador e monstruoso: Seria bom que, ao fim e ao cabo, esta crise vindoura assinalasse a morte e enterro do sistema capitalista mundial. Mas isso, embora não seja inverosímil, não me parece provável. 

Em qualquer circunstância, para retomar a analogia da vaga gigante ou tsunami, não perdemos nada por subir para colinas, a umas centenas de metros acima do nível do mar. 
Mesmo que a minha análise seja demasiado sombria e afinal não aconteça nada de muito grave, o que se perdeu, fazendo essa pequena retirada? 
Se, pelo contrário, as minhas previsões se realizarem, aqueles que - por ignorância ou desleixo -  ficam na praia a brincar... com certeza serão varridos e arrastados pelo tsunami, sem salvação possível.