Mostrar mensagens com a etiqueta moeda de reserva. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta moeda de reserva. Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, 17 de novembro de 2022

SOBRE O CRASH DE FTX E AS DIVISAS DIGITAIS DOS BANCOS CENTRAIS

 Toda a construção parece, agora, que se sabe muito mais coisas sobre FTX e seu dono, algo muito frágil e ligado ao meio corrupto da política americana. Mas, embora as perdas para o dono e para os investidores em criptos sejam avaliadas em mais de 20 biliões de dólares, pode considerar-se que o mundo não ficou mais pobre. Porquê? Porque a imensa maioria das pessoas, AGORA, não vai colocar as suas poupanças em veículos tão especulativos, em que se arriscam a perder tudo se a plataforma onde colocaram os seus bitcoins e outras cripto, entrar em falência

Agora, também se perfila no horizonte próximo a possibilidade de entrada em vigor de divisas cripto, emitidas pelos bancos centrais ocidentais. É verdade que o país mais avançado nesta digitalização a 100%  do dinheiro é a China, que colocou experimentalmente, em várias províncias, cripto-Yuan em circulação. Porém, aquilo que transparece dos estudos dos BRICS e de uma série de países a eles associados, é que a própria ideia de  nova divisa de reserva mundial, que de facto seja aceite como tal, não pode ser a divisa nacional, seja de que país for.



O reino do dólar como moeda de reserva, «obrigava» a que os EUA tivessem défices comerciais e da balança de pagamentos permanentes, em ordem a fornecerem o mercado mundial em dólares, sempre «consumidos» pelos diversos países - amigos ou inimigos dos EUA - no comércio e nas operações de financiamento internacionais. Além disso, os EUA não resistiram à tentação de se aproveitarem, de todas as maneiras, do seu monopólio de emissão da moeda de reserva mundial. Com efeito, o défice crónico da balança de pagamentos e comercial dos EUA era suportado pela emissão de dólares, os quais deixaram de estar indexados ao ouro desde 1971. Isto significa que os EUA recebiam matérias-primas e produtos manufaturados, que eles «pagavam» com pedaços de papel. Estes, apenas eram aceites porque os outros países os aceitavam também como forma de pagamento. Este sistema era gerador de inflação, visto que os EUA têm emitido muito mais dólares, do que os mercados financeiros e comerciais mundiais conseguem absorver. A crise mundial de inflação, agora em curso, não é mais do que a consequência de 8 anos de «quantitative easing» pela FED.  Agora, nem a Arábia Saudita está muito interessada em que lhe paguem o petróleo em dólares. Logicamente, estando o reinado do dólar a chegar ao fim, pode-se imaginar que os que desenham a nova moeda de reserva mundial, queiram evitar para esta os defeitos de que sofria o dólar, enquanto desempenhava esta função.  

- É verdade que os cidadãos de um determinado Estado, se lhes impuserem que a sua moeda seja digital, não terão muitas hipóteses de evitar usá-la no quotidiano. Por isso, as moedas digitais emitidas por bancos centrais, têm garantidos os mercados internos dos respectivos países. Mas, para terem aceitação inequívoca, ao nível internacional, têm de ser mais do que «digitais», têm de estar indexadas a algo de tangível, como matérias-primas estratégicas e/ou metais preciosos. É nesse sentido que caminham os que estão a construir uma nova moeda de reserva mundial. Provavelmente existirá um cabaz de moedas nacionais e que inclua também certas matérias-primas e metais preciosos. Isto significa que será uma moeda digital mundial muito estável, com um câmbio estável, não só para as divisas presentes no cabaz, como para as outras. Outra vantagem para os países detentores da nova unidade de valor monetário será terem acesso às matérias primas e ao ouro.

- O corte entre os blocos «euro asiático» e o «ocidental/anglo-americano» vai dar-se não somente em termos de alianças militares, mas também de blocos comerciais e espaços de circulação de divisas internacionais: Se as hostilidades se agudizarem e prolongarem, pode mesmo acontecer que não haja convertibilidade direta entre as moedas de reserva que vierem a ser adotadas num e noutro campo. 

PS1: Parece que o dono de FTX, « Sam Bankman-Fried-on-Amphetamines » era, não só um drogado, mas também tinha o cérebro bastante afetado. Então, o autor do artigo seguinte coloca a questão de Sam ser apenas um simples joguete ("patsy"), tendo por detrás a manipulá-lo alguém poderoso: 

https://www.unz.com/kbarrett/sam-bankman-fried-on-amphetamines/

sexta-feira, 9 de setembro de 2022

CRÓNICA (nº7) DA III GUERRA MUNDIAL - A EMERGÊNCIA DE UM NOVO PADRÃO MONETÁRIO

                                                              
                                                       Bolsa do Ouro em Xangai


Antes de mais nada, devo especificar que o meu papel, a minha função, é sobretudo de refletir sobre o que se passa à minha volta e no mundo. Não é de fazer propaganda ou de «fazer claque» por um dos lados, enaltecendo as virtudes de uns e denunciando os podres de outros.
Como testemunho interessado (pois vivo neste mundo, não num mundo imaginário) verifico que realmente estamos numa confrontação global de longa duração.
Sendo que este confronto é por razões bastante fundas, não se resolve portanto, senão por uma nova arquitetura global. Ou seja, que «Novo Mundo», que nova «Ordem Mundial» está aí às portas do futuro?
Este novo mundo não nos cai dos céus, resulta da ação dos homens, não apenas de chefes de estado e governo, como também dos povos e de uma multiplicidade de fatores imponderáveis, que estão sempre a brotar no quotidiano. Temos prova disso quando «grandes cataclismos» anunciados, afinal, são «nothing-burgers» e o reverso, coisas triviais que se avolumam, fazem bola de neve e transformam completamente o cenário.
Hoje, irei falar da guerra mais difícil de perceber para o comum dos mortais, a que tem a ver com a ordem financeira e monetária global. O assunto não será esotérico, em si mesmo. Não, antes é simples de se compreender, na essência.
Mas, somos impedidos de prestar atenção pela nossa mente dominada pelas notícias a cada instante, pela media que satura todos os nossos canais com lixo informativo e nos impede de tomar recuo e pensar por um lado, por outro, a des-educação em que se transformou o ensino, a todos os níveis, causando a cada vez mais visível catástrofe dos «analfabetos funcionais»: Refiro pessoas que sabem ler e escrever, que podem manipular com à-vontade o computador ou smartphone e são, no entanto, profundamente ignorantes do mundo em que vivem. A nível universitário, esta nova patologia é ainda mais conspícua, em combinação com uma autossuficiência, uma afirmação enfática de banalidades ou slogans, apresentados como «verdades eternas».
Na ordem mundial saída da II Guerra Mundial - o acordo de Bretton Woods, que reuniu as nações vencedoras (incluindo a URSS) para arquitetar uma nova ordem financeira mundial - foi muito evidente o peso e influência dos EUA. Não apenas na criação do FMI e Banco Mundial, com regras que colocam (ainda hoje) estas instituições como instrumentos dóceis do imperialismo americano, como na própria existência de uma moeda especial, o dólar dos EUA, entronizado no papel de reserva mundial, ou seja, daquela que os bancos centrais de todos os países teriam de possuir e, portanto, que teria o papel de intermediário nas transações financeiras e comerciais internacionais, não apenas de Estado para Estado, mas em transações entre bancos, para pagamentos de bens industriais, agrícolas, etc.
Esta arquitetura foi possível porque Keynes, representante do Reino Unido à conferência, não teve apoio suficiente em torno do seu projeto de «bancor», divisa que não pertenceria a um banco central nacional, pois seria um cabaz de algumas das moedas mais representativas.
Este bancor, se tivesse sido adotado, poderia desempenhar um papel estabilizador das relações monetárias internacionais, visto que a oscilação duma moeda fazendo parte do bancor, não seria suficiente para desequilibrar o conjunto, sendo certo que, quando uma divisa diminui, é sempre em relação a outra(s), que aumenta(m) (veja-se o que está a acontecer à relação dólar-euro neste momento).
No concreto, Bretton Woods assumiu que a divisa dólar (a moeda de reserva mundial) era remível por ouro a 35 dólares a onça, sendo que este valor vigorava somente nas trocas entre bancos centrais, não era um valor correlacionado diretamente com o comércio de ouro.
Assim, os países tinham a possibilidade de trocar (ao nível dos bancos centrais) seu excedente de dólares, em ouro. Mas, quando houve a guerra do Vietname, os EUA começaram ter grandes aumentos de despesas, aumentos dos défices orçamentais e muitos (entre eles, os britânicos e os franceses) decidiram começar a trocar as notas de dólar por onças de ouro, fazendo descer significativamente as reservas de ouro em Fort Knox.
Nixon, em 1971 decidiu «provisoriamente» desindexar o dólar do ouro, tendo - a partir daí - a cotação do ouro subido de 35 dólares /onça, para mais de 800 dólares / onça. Hoje (09/09/2022), situa-se em 1720 dólares /onça. Para os EUA, era vital conseguirem manter o dólar como a divisa de reserva mundial, o que lhes conferia o «exorbitante privilégio» (Giscard d'Estaing) de ter défices crónicos, no orçamento e na balança de pagamentos, sem ter severas consequências com isso, enquanto quaisquer outros países mergulhariam em crise grave.
Foi Kissinger que negociou com o então rei Saud da Arábia Saudita, o chamado acordo dos petrodólares, em 1973, pelo qual os EUA dariam proteção militar sem limites e apoio ao Reino saudita, em troca deste apenas aceitar dólares como pagamento do seu petróleo.
Como a Arábia saudita era o maior produtor de petróleo nessa altura e como tinha o controlo da OPEP, não foi difícil a norma de pagamento do petróleo só em dólares, se estender a todos os outros exportadores, incluindo países que não faziam parte da OPEP (como a URSS, por exemplo). Começou assim o reinado do petrodólar, que está agora no seu fim.
Com efeito, a Rússia e a China primeiro, mas depois também a Índia, o Irão e outros países estão de acordo e já começaram a fazer troca direta, o diferencial do comércio bilateral sendo saldado com ouro, evitando assim envolver dólares nas trocas comerciais, ou então usando as divisas nacionais respetivas nas trocas bilaterais (rublos/yuan; rupias/rublos; etc...) com o mesmo fim.
Os países da Ásia supracitados sempre consideraram que o ouro era dinheiro. Foram sobretudo os bancos centrais asiáticos que adquiriram imenso ouro, mormente quando vendido a preço de saldo (por ordem do PM britânico Gordon Brown, mas também outros países ocidentais) nas primeiras duas décadas do século XXI. Igualmente, o ouro é considerado como reserva de valor, desde tempos imemoriais, pelas pessoas em toda a Ásia, incluindo as mais modestas.
Não admira portanto que a Rússia, em pagamento dos seus combustíveis, comprados por países «não-amigos», institua a regra de que serão pagos em rublos ou em ouro. Está perfeitamente em linha com a situação de rutura final com um Ocidente cheio de arrogância e agressividade, que provocou a Rússia ao ponto desta ser obrigada desencadear uma guerra preventiva.
O aspeto caricato disto, é que os sauditas têm comprado petróleo russo (com desconto), que depois revendem ao preço de mercado aos ocidentais. O acordo dos petrodólares foi completamente virado de «cabeça para baixo»: Pois, agora, não se trata de quem venda o petróleo, ter de aceitar dólares. Agora, quem quiser petróleo, terá de se contentar com o que lhe é oferecido a um certo preço, determinado pelo vendedor!
É inevitável, com ou sem guerra da Ucrânia, que os países produtores de bens e matérias primas, que  têm produzido para os ocidentais tudo ou quase tudo o que faz o conforto das suas vidas, queiram ver-se livres da ditadura do dólar.
O SWIFT e o dólar foram transformados em arma de guerra económica, contra o Irão e uma série de outros regimes (Venezuela, Coreia do Norte, etc.). Não apenas estas sanções são ilegais, como os americanos rasgaram o princípio da territorialidade das leis, com as sanções e ameaças de sanções contra bancos ocidentais (suíços, franceses) que infringissem os embargos decretados por Washington, não por quaisquer decisões das Nações Unidas. Estes bancos tiveram de pagar pesadas multas, sob ameaça de serem impedidos de ter sucursais e de fazer negócio, de qualquer espécie, nos EUA.
O pretexto das sanções contra o Irão, foi também o que «justificou» a prisão arbitrária da vice-presidente da Huawei no Canadá, quando esta regressava duma conferência internacional na América Latina. Isto foi considerado uma afronta nacional na China.
O comportamento dos EUA em relação a todos os que não estejam completamente submissos é duma brutalidade incrível. O que fizeram ao Iraque e à Líbia, permite-nos dizer que eles são os «bullies», que usam a força bruta para intimidar e fazer valer as «leis» que eles próprios decretam, mas que não possuem validade nenhuma nos outros países, face à lei internacional.
As construções de plataformas de negociação, de trocas comerciais, de defesa e de assistência mútua têm-se multiplicado, do Mar Báltico, ao Mar da China. Os países asiáticos têm estabelecido acordos de cooperação, que incluem as Novas Rotas da Seda, uma rede de transportes fluviais, ferroviários, rodoviários, assim como portos e aeroportos. Criaram e desenvolvem bancos, destinados a financiar os grandes projetos nos seus países e nos países do Terceiro Mundo. Têm a Organização de Cooperação de Xangai, para combater o terrorismo e para encontrar soluções negociadas em diferendos. Os BRICS são uma alternativa com voz própria, ao G7 e aos atlantistas que costumavam falar em nome «da comunidade internacional», que eram eles somente, afinal de contas.
Chegou agora o momento, face ao extremismo das sanções da parte dos países da NATO, da Rússia fazer aquilo que tinha - com certeza - planeado há muito. Estou a falar da criação de uma plataforma para negociar o ouro, em Moscovo, com os seus padrões e fazendo concorrência à londrina LBMA.
O objetivo será, com certeza, fazer o que é necessário, para sanear o referido mercado. Vai impossibilitar a especulação com contratos de futuros, responsável pela manutenção da cotação do ouro, muito abaixo do que seria normal, face à queda dos ativos financeiros, a cada crise do capitalismo. Com efeito, se o público começasse a ver que o ouro é realmente um refúgio eficaz em termos de conservação de valor, ao contrário do dólar e de quaisquer outras «divisas fiat», então haveria uma corrida para adquirir ouro e a confiança no dólar-rei desfazia-se por completo. O mesmo, em relação aos ativos financeiros denominados em dólares.
Uma moeda de reserva internacional com a sustentação do ouro e de matérias primas, como metais estratégicos, petróleo e gás, é o que os parceiros Euro-asiáticos estão AGORA a negociar.
Não se enganem; se isto não é reportado no Ocidente, isto significa que É IMPORTANTE. O que é importante tem sido ocultado do público, na esperança - absurda e fútil - de que seus efeitos sejam menos severos, do que efetivamente são. É «tapar o sol com uma peneira»!

Em complemento: Leia o artigo, muito bem escrito e cheio de dados factuais, de Mcleod:

 https://www.goldmoney.com/research/an-asian-bretton-woods


---------------------

https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2022/03/cronica-da-terceira-guerra-mundial.html

https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2022/03/cronica-da-terceira-guerra-mundial_13.html

https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2022/03/cronica-da-terceira-guerra-mundial_0396436697.html

https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2022/03/cronica-da-terceira-guerra-mundial_24.html

https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2022/04/cronica-da-terceira-guerra-mundial-um.html

https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2022/04/cronica-da-iiimundial-guerra-biologica.html


sexta-feira, 11 de março de 2022

CRÓNICA (nº1) DA TERCEIRA GUERRA MUNDIAL - MÚLTIPLOS TIROS NO PÉ




Vivemos em tempos interessantes; interessantes, no sentido de algo inédito. Não é todos os dias que se observa um Império a desmoronar-se. Pois creio, sinceramente, que é este espectáculo que temos diante dos nossos olhos.

O gigante americano ficou ébrio da vitória sobre seu arqui-inimigo, a URSS. Desde então (1991), tem multiplicado as agressões. Começou depressa e em solo europeu. Lembremos que foi por sua iniciativa e com ajuda do governo vassalo da República Federal da Alemanha, que  começou o desmembramento da República Federativa da Jugoslávia. O Ocidente mostrou particular raiva contra os sérvios, que sempre foram russófilos. Toda a história da horrível guerra civil jugoslava está manchada pela ingerência «humanitária» (criminosa, na verdade) dos ocidentais, com ou sem a capa da ONU, até ao ponto máximo da guerra dita do Kosovo (1999), em que foi bombardeado pela NATO um país europeu, a Sérvia, que não estava a ameaçar nenhum membro daquela Aliança. Foi um crime de guerra, agravado pelo facto de terem efetuado bombardeamentos aéreos indiscriminados, matando e ferindo inúmeros civis, nomeadamente, em hospitais e noutros locais sem função militar, assim como na embaixada da China, um muito sério incidente diplomático. 

Mas, eles não se ficaram por aqui. Como vingança contra os Talibans, que afinal de contas, tinham dito apenas que queriam ver provas de que Osama Bin Laden estava implicado nos ataques do 11/9, para o entregar às autoridades americanas, decidiram fazer um ataque-relâmpago ao Afeganistão, com «carpet bombing», ou seja, um attaque aéreo com uma densidade de bombardeamento que não deixava pedra sobre pedra, nem qualquer sobrevivente. Foi assim que iniciaram a campanha. Depois, puseram no governo de Kabul,  fantoches por eles escolhidos:  Senhores da guerra, subsidiados pela CIA, que se dedicavam a proteger o cultivo do ópio e a traficá-lo na Ásia Central. Também tinham interesse num projetado gasoduto, que conduziria o gás natural da Ásia Central, para portos nas costas da Ásia do Sul e daí, para o resto do mundo (projeto da UNOCAL). 

Digo isto, porque as pessoas são bombardeadas pela falsa narrativa (fake news) de que «nunca tinha havido uma guerra no solo europeu desde 1945»! Com esta falsa narrativa, tipicamente orwelliana, a media mainstream está a tentar erradicar a memória do crime da chamada guerra do Kosovo. Continuam a fazer o jogo da superpotência americana e dos seus «gnomos» europeus. Quando referem a invasão e ocupação do Iraque, mostram-se falsamente objetivos, pois escondem que as causas desta invasão foram completamente diferentes. A superpotência americana não tolerava que Saddam Hussein (o ex-vassalo, que fez guerra por procuração contra o Irão Xiita, lembrem-se) se tivesse rebelado e iniciado a venda do petróleo noutras divisas (nomeadamente, o euro), que não o dólar. Isso custou-lhe a vida e de um milhão de civis iraquianos, que - supostamente - os americanos e seus aliados tinham vindo «libertar» ! 

Mas o monstro globalista entendeu que não era ainda chegado o momento de partilhar o poder, fosse com quem fosse. Obama e Hillary e os neocons que os apoiavam, fizeram a guerra da Líbia, outro Estado próspero. Era o Estado com mais elevado nível de vida, em toda a África. E tudo isto, porquê? Porque Kaddafi tinha tido a ousadia de propor, numa cimeira africana, uma moeda única africana (à semelhança do euro) para os africanos deixarem de entregar suas riquezas, a troco duma moeda sobre a qual não tinham qualquer controlo (em dólares e/ou euros). Para cúmulo, tinha proposto que o «novo dinar» fosse garantido pelas reservas de petróleo dos participantes e em ouro. Duram até hoje os efeitos da destruição da Líbia e sua transformação em campo de treino e ação para diversas fações da Jihad. Fizeram reverter à miséria total um país que foi rico. Foi transformado num Estado falido onde, nas praças centrais, se podem observar mercados de escravos (em pleno século XXI). Só quem está fanatizado, é que não vê os intuitos civilizacionais e democráticos do «Ocidente»!

A densidade e velocidade dos acontecimentos faz com seja difícil manter atualizada uma cronologia. Para mim, é ponto assente, que os que em 2013-14 incitaram e promoveram o golpe Neo-Nazi de «Euromaidan» (Victoria Nulan, o embaixador dos EUA na Ucrânia e o Presidente Barack Obama), deveriam sentar-se na bancada dos réus, dum tribunal penal internacional. Mas, tal tribunal teria de se guiar pelas regras do Direito Internacional para fazer justiça. Embora eu não acredite que tal aconteça, estou convicto que, para estes criminosos não haverá nunca perdão. São criminosos contra a humanidade. As pessoas que reviram os olhos e pensam que estou a exagerar, infelizmente, só "sabem" o preconceito, não sabem Direito Internacional, nem as Convenções de Genebra, nem a Jurisdição resultante dos Julgamentos de Nuremberga, nem os princípios e declarações vinculativas da ONU, etc.

Claro que nenhum dos povos-mártires vai esquecer. Só para falar dos últimos 25 anos: ex-Jugoslávia, Afeganistão, Iraque, Líbia, Síria, Iémen. E, agora é a vez da Ucrânia, incitada pelos americanos a fazer a guerra nos territórios do Donbass, causa imediata da intervenção russa. Também não esquecerão, que têm sido objeto de bárbaras e ilegais sanções económicas, definidas (pela ONU) como actos de guerra. Têm sofrido sanções ilegais os seguintes países: Rússia, China, Irão, Venezuela, Coreia do Norte, Cuba, etc., países não alinhados com Washington. Lembro que as convenções internacionais consideram crime, o que os ocidentais fazem constantemente: Impor sanções unilaterais (ou seja, sem a aprovação do Conselho de Segurança da ONU), sabendo muito bem que, quem sofre é a população inocente dos crimes, supostos ou reais, cometidos pelos governos respetivos. 

A loucura dos chamados «líderes» do Ocidente, chegou ao ponto de diabolizarem e encorajar atitudes raivosas e histéricas de discriminação, quando não de agressão, contra cidadãos russos. Estes, para manterem seu posto de trabalho, teriam de vir a público e por escrito declarar que estão contra Putin e contra a invasão. Estes, que não se ajoelham, mesmo que estejam de acordo com ambas as afirmações, podem recear ser destituídos da nacionalidade russa, em consequência de declaração pública, assimilável a traição. Seja qual for o motivo da recusa, os recalcitrantes são corridos, enxotados, demitidos, expulsos dos empregos. Ah! Esta União Europeia, paladina dos Direitos Humanos, estamos realmente edificados pelo seu sentido de justiça, de equidade! Que belo exemplo estão dando ao Mundo!

Agora, com as loucas sanções, o senil Joe Biden e sua coorte de neoconservadores (disfarçados, ou não) pensa estar a dar o golpe mortal à economia russa, proíbindo a importação de petróleo russo. Este constituía cerca de 7% do petróleo total importado pelos EUA, muito pouco, mas o suficiente para impedir a operação de muitas refinarias que, durante décadas, estiveram adaptadas a processar petróleo «pesado» venezuelano e, depois das sanções impostas à Venezuela (e do roubo das suas contas e de seu ouro!), recorriam ao petróleo do Yukon (Rússia) com uma composição compatível com as ditas cujas refinarias. Seria surpreendente que Biden conseguisse a reviravolta do Congresso, para anular as sanções impostas. Mas, mesmo nesta eventualidade, para a Venezuela  iria demorar dois anos, responder à procura acrescida de «crude», porque teria de repor em funcionamento poços e meios para transportar o petróleo. O preço do crude e da gasolina refinada, aumentaram exponencialmente, nos EUA. Coisa que determina - em qualquer país - uma recessão económica, visto que com o preço da gasolina, sobem os preços de todas as mercadorias, dos alimentos aos produtos das indústrias que ainda lá restam. A medida recebeu um «não» da UE e dos países tradicionalmente aliados de Washington, pois atualmente dependem em 40% (petróleo e gás) em média, das importações vindas da Rússia.

 É notável que a Rússia, no meio de tantos atos hostis, de sanções contra o seu banco central (ação inédita, o congelar dos ativos do mesmo), da expulsão do sistema SWIFT de muitos bancos russos etc., não tenha decidido fechar a torneira do gás e não receber novas encomendas de crude, dos países que adoptaram tais sanções. 

Esta guerra é híbrida. No teatro da Ucrânia, há operações militares, com mortos e feridos,  deslocados, destruição de infraestruturas. Noutro plano, o da economia e finanças, há a outra guerra, de sanções e contra-sanções. A consequência é o que estamos a presenciar em todo o mundo (inclusive, em países neutrais): os preços dos combustíveis fósseis sobem em flecha; há escassez de matérias-primas, por não-produção, ou por falta de abastecimento, ou estrangulamentos nos transportes; há receio fundado de uma crise alimentar mundial, visto que os adubos precisam de componentes do petróleo. Além disso, a Rússia e a Ucrânia, juntas, asseguravam uma percentagem muito elevada das exportações de trigo (da ordem de 30% do total mundial, salvo erro). A Rússia não usou (até agora) a arma alimentar; caso o fizesse, as nações mais atingidas seriam as do Terceiro Mundo. Vão, os «mentirosos» dos governos e da média dizer que isto tudo «é culpa do Putin», etc., mas quem se deixa convencer por tais «argumentos», é a faixa da população mais desinformada e acrítica. 

A guerra contemporânea joga-se em múltiplos planos. Não falei aqui dos ciber-ataques, prefiro deixar o tópico para outra ocasião. Resumindo, a guerra contemporânea reveste-se, simultaneamente: 

- Da forma clássica, com tropas, armamento, etc. 

-De guerra diplomática, com nações não envolvidas, a serem capturadas e arrastadas para tomar posição. 

- Da guerra económica, que no presente atinge o auge, com sanções e contra-sanções, bloqueios e mudanças rápidas de parcerias comerciais.

- De guerra cibernética, com ações de «hackers», ao serviço das agências de espionagem, quer para obter informação do inimigo, quer para danificar seus ficheiros e dispositivos.

- Finalmente, a guerra «cognitiva» (ou guerra de propaganda), está dirigida tanto às populações inimigas, como amigas

Todos nós - queiramos ou não - estamos envolvidos; quer estejamos a milhares de quilómetros das operações militares ou muito próximos, vamos ter dificuldades económicas, devido à hiperinflação, a escassez de bens (quer por falta de produção ou de transporte, ou devido ao regime de sanções); seremos bombardeados por notícias ( tal como na pandemia do COVID), muitas falsas, distorcidas, fora do contexto, impondo uma «ortodoxia» sobre todos os assuntos relativos à guerra e a posição que seria «correto», «moral», «patriótico», tomar. 

Receio que a minha posição de condenar toda e qualquer guerra e de levantar a voz por conversações de cessar-fogo, seguidas de conversações de paz, não se faça muito ouvir, nestes tempos. A «bandeira» da liberdade de expressão, sem a qual não existe democracia liberal, já caíu das mãos dos que, ontém, se diziam seus defensores. Eles são, agora, defensores duma censura férrea!

A ruína do sistema mundial capitalista está em curso. A globalização está completamente posta em causa. O dólar está em apuros e não acredito que possa continuar durante muito tempo a ser a principal moeda de reserva do sistema bancário, ou até, em termos comerciais. 

As criptomoedas mostram a sua instabilidade inerente: Não terão, no futuro, capacidade para substituir o sistema monetário, dito de Bretton Woods, já muito abalado. Mas, a única forma dum mundo caótico funcionar, quando a paz voltar, quando for necessário estabelecer um novo sistema monetário, é a seguinte: 

- Haverá várias divisas, assim como ouro e petróleo (e, talvez, outras matérias-primas), formando um cabaz, parecido com o atual «SDR» (Special Drawing Rights) do FMI, mas com estatuto muito mais amplo. Com efeito, os SDR funcionam sobretudo como moeda contabilística interna do FMI, embora seja possível os governos fazerem empréstimos em SDR e podem também ter fundos em SDR. Mas, o dólar americano continua a ser a moeda de reserva mais usada, pelos bancos centrais do mundo inteiro. Ora, isto inclui a China, a qual possui perto de um trilião em bonds do tesouro dos EUA . Ela vai tirar as suas conclusões do comportamento do Ocidente, que rouba o ouro e as reservas dos bancos centrais. Foram os casos recentes, com a Venezuela e Afeganistão. Agora, também, com o roubo das reservas do Banco Central da Rússia. A ligação estratégica entre a Rússia e China vai-se reforçar e aprofundar. Um maior fluxo comercial existirá entre eles, os dois gigantes do Continente Euro-asiático. Uma fatia substancial do comércio, abrangendo também outras nações, vai fazer-se em rublos ou em yuan, ou até com troca de mercadorias por ouro (ou certificados-ouro). O ouro vai de novo, tal como fez durante milhares de anos, entrar por via das trocas comerciais, no sistema financeiro mundial. Isto equivale à morte do dólar, enquanto moeda de reserva. Pois, será claro para muitos países que, em vez de reservas em dólares, que podem ser congeladas, ou mesmo expropriadas por decisão de Washington, mais vale terem ouro em reserva, podendo facilmente transacionar bens de importação ou exportação, por ouro (os bonds em Yuan convertíveis em ouro, no mercado de Xangai, são para isso).

Os EUA e aliados da NATO e UE, têm estado a dar tiros no pé; as medidas que tomam contra a Rússia estão a «fazer boomerang». Estranhamente, eles próprios estão a precipitar a queda do Império do dólar, a perda de sua hegemonia mundial. Não perfilho os sistemas políticos e ideológicos vigentes na Rússia ou na China; porém, reconheço que seus governos estão a usar, com inteligência e astúcia, os instrumentos ao seu dispor, nesta guerra total e híbrida, característica da  IIIª Guerra Mundial.


PS1: Omiti a guerra biológica na panóplia da guerra híbrida: Talvez seja tão ou mais horrível que a guerra atómica. Os russos encontraram na Ucrânia laboratórios, financiados pelos EUA e cumprindo encomendas dos mesmos, dedicados ao fabrico e testagem de armas biológicas, perto da fronteira com a Rússia.  

PS2 : O «think tank» Rand Corporation é extremamente poderoso e influente na determinação da política externa e na geo-estratégia do governo dos EUA. Aqui, Manlio Dinucci dá-nos a análise impressionante dos seus planos em relação à Rússia, com particular destaque para o papel da Ucrânia.  

Overextending and Unbalancing Russia.

https://www.globalresearch.ca/rand-corp-how-destroy-russia/5678456

PS3: O fim do reino do dólar está próximo. Prova disso, é a proclamada vontade da Arábia Saudita em vender petróleo, recebendo yuans. Embora continue a vender uma maioria do petróleo em dólares, a outros clientes , o «tabu» está quebrado. O Emirato de Abu Dhabi já está a alinhar-se pela mesma posição. Se os produtores de petróleo começarem a aceitar outras divisas, que não o dólar, a base financeira do império americano fica ferida de morte. Saiba porquê no artigo seguinte: 

https://www.zerohedge.com/markets/petrodollar-cracks-saudi-arabia-considers-accepting-yuan-chinese-oil-sales


sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

O PARADOXO DO DÓLAR VERSUS VALORAÇÕES BOLSISTAS

 



A FED (Reserva Federal Americana, o banco central dos EUA) tem criado dólares desde Março deste ano, como nunca antes, embora antes fosse já profícua em tal actividade. Esta criação monetária, vai acabar por minar a capacidade do dólar permanecer como moeda de reserva mundial. 

Quando os detentores de dólares exteriores aos EUA - o que inclui os bancos centrais de todos os países do mundo, gostem ou não do governo dos EUA - ficarem convictos de que este já perdeu demasiado valor, que não compensa deter dólares, pois existe cada vez maior desconfiança em relação a esta divisa... então, será o fim da sua hegemonia, quer como valor de reserva, quer no comércio mundial. 

Ora, este momento aproxima-se a grande velocidade, pois existe uma consciência clara de que a FED está apostada em produzir moeda, mesmo com o risco de destruir o seu valor, para «salvar» a economia dos EUA.  

É aqui que reside o paradoxo. 
A FED equaciona - erradamente - a propulsão dos valores bolsistas para alturas estratosféricas, à saúde da economia americana, no seu todo. 
Em resultado da impressão monetária, o dólar vai descendo em termos relativos face a outras moedas, mas também vai perdendo credibilidade no público em geral e nos investidores. Verifica-se já a tendência dele deixar de ser refúgio preferido («safe haven») em tempos de crise.
 
A classe dos multimilionários e bilionários (os 0.01%), está constantemente a ganhar com a situação, visto que os activos bolsistas são parte substancial da sua riqueza total. Note-se que são eles os donos das empresas cotadas em bolsa, ou accionistas de relevo das mesmas. A tabela acima é bem elucidativa sobre o maná que receberam os muito ricos, desde o início da crise «do Covid».
  
Porém, ser-se rico em dólares hoje, pode significar perder-se tudo amanhã, se esta moeda sofrer uma crise hiper-inflacionária. Apostar que isso não ocorrerá jamais, ou que não ocorrerá em vida dos investidores actuais, é uma aposta muito arriscada.

Como referi num artigo publicado recentemente, se grandes países (como a China e a Rússia) decidirem indexar suas moedas respectivas ao ouro, com a garantia do ouro - que possuem em quantidade - isto será o toque de finados do dólar, enquanto moeda de reserva mundial. 

As pessoas e instituições irão optar por algo que possua a sólida garantia do ouro, de preferência a uma moeda sem qualquer esteio sólido, de um país com economia terciarizada e com défice crónico. Não poderão confiar num país assim, ainda por cima, com uma moeda constantemente inflacionada por emissões do banco central, não correspondentes a verdadeira riqueza. 

O «exorbitante privilégio», de que já falava Valéry Giscard D'Estaign, significa que os EUA, pelo facto do dólar ter sido designado «moeda de reserva mundial» nos acordos de Bretton Woods de 1944, está constantemente a ter défices orçamentais e comerciais, sem sofrer qualquer penalização, pois «exporta» a inflação gerada pelo seu próprio banco central. 
Com esses dólares produzidos a partir de nada, compra todo o género de produtos, desde matérias-primas a produtos transformados, que custaram muito a produzir, nos países que os exportam para os EUA. 
Estes produtores, em troca, recebem dólares, que apenas valem enquanto o mundo estiver convencido do seu valor. A partir do momento em que o esquema for claro para muitos, o risco de se possuir dólares será considerável. 

Porque, nessa altura, os dólares, que circulam pelo mundo fora, irão regressar aos EUA, onde produzirão uma hiperinflação e - mesmo - a falência do próprio Estado, visto que o Tesouro não poderá colocar sua dívida, senão a juros tão elevados, que serão impossíveis de suportar pelo Orçamento Federal. Então, será o colapso.

São as consequências deste paradoxo que a classe dos super-ricos quer evitar a todo o custo... mas, através de truques de magia, como o «Great Reset» e o seu cortejo de ideias mal cozinhadas, dos patrões de Davos...

Mas, a realidade é sempre mais forte: 
Se não acreditamos no «movimento perpétuo», nem na «quadratura do círculo», porque havemos de crer que, pelo facto das divisas se tornarem exclusivamente digitais, se resolverão os problemas da economia real, ou seja, a produção e a  justiça da repartição?

quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

PREVISÕES DE SAXO BANK PARA 2020

                             


Estas «Outrageous Predictions» do Saxo Bank são, afinal de contas, um somatório de acontecimentos julgados improváveis mas não impossíveis de acontecer. Caso algum deles se concretizar, deverá ser muito perturbador dos mercados e da economia. 


A previsão nº10, da China lançar uma moeda de reserva que afaste a dependência do sistema monetário internacional do dólar (como se vê na imagem junta) não me parece nada improvável. 

Os bancos centrais da China e da Rússia, nomeadamente, já ensaiam soluções de cripto-moedas controladas pelos bancos respectivos.

Por outro lado, ergueram uma réplica do FMI e do Banco Mundial, o Asian Infrastructure Investment Bank, um banco que tem sido vector essencial no desenvolvimento das Novas Rotas da Seda.

A quantidade de ouro detida pela China não é, de facto, conhecida. Muitos analistas consideram que seja muito maior que a quantidade oficialmente indicada. 

A China lançou recentemente e pretende ver alargada a utilização de seus instrumentos próprios de dívida, a curto e médio prazo, análogos aos bilhetes do tesouro e às obrigações do tesouro dos EUA. 
Serão análogos, só com uma pequena diferença: são remíveis em ouro físico, na bolsa de Xangai. 

Veremos, ao longo de 2020, quais as previsões «extravagantes» do Saxo bank, que se afigurem acertadas...

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

PARA QUANDO O FIM DO DÓLAR COMO MOEDA DE RESERVA?

Já há algum tempo que tinha aventado esta hipótese e mesmo afirmado ser inútil, ao fim e ao cabo, uma moeda de reserva (ver aqui). No entanto, estes processos são «tectónicos», ou seja, no mundo de hoje, estendem-se por dezenas de anos. 
Um caso muito típico disso, é o do ministro alemão que apela à criação de um sistema europeu em alternativa ao sistema SWIFT, de pagamentos internacionais. Este sistema, embora sediado na Bélgica, é controlado nos EUA. Todas as pessoas bem informadas sabiam disso, evidentemente, desde a sua criação. Mas, o facto do ministro alemão exprimir isso, mostra como as sanções irracionais e prejudiciais contra a Rússia e agora também contra o Irão, impostas pelo Império têm um efeito negativo, não apenas nos referidos países, como também nos aliados (na realidade súbditos) europeus. Os EUA queriam afirmar, com essas sanções, a sua posição de potência hegemónica; afinal, o que conseguiram foi afastar os seus melhores aliados na Europa.
Do lado do grupo dos «sancionados», a reacção foi criar um sistema financeiro alternativo. A Rússia e a China possuem sistemas equivalentes ao SWIFT, mas sob controlo dos seus bancos centrais respectivos. A contrapartida para a NATO é um sistema de defesa e segurança, a Organização de Cooperação de Xangai, que agrupa também as ex-repúblicas soviéticas da Ásia e à qual o Irão está em processo de adesão. A Turquia fez um pedido formal, na última cimeira da organização, facto que se pode correlacionar com a guerra económica decretada por Washington. A Rússia, a China e mais de sessenta nações constituem os parceiros de um banco internacional de desenvolvimento, o equivalente do Banco Mundial, que tem financiado múltiplos projectos, principalmente em África, atraindo assim um número crescente de nações deste continente a fazerem parte de um mundo onde as trocas são feitas fora do dólar. 
A forma preferida de reserva dos dólares, detidos ao nível dos bancos centrais, tem sido as obrigações do Tesouro dos EUA, a dez anos. Estas têm sido vertidas no mercado, em grande quantidade nos últimos tempos, pela Rússia e pela Turquia. Também o foram, há algum tempo atrás, pelo Japão. Ora, a cotação destas obrigações não se alterou de modo significativo, o que implica terem sido absorvidas por entidades misteriosas, como o Luxemburgo ou as Ilhas Caimão, sem dúvida por ordem do governo dos EUA, visto que a Reserva Federal (o banco central dos EUA) não terá sido um comprador maciço destas «treasuries», nestes últimos tempos. Os EUA não poderão indefinidamente usar estratagemas para aguentar a cotação das «treasuries» e portanto do dólar. Chegará um momento, quando houver um volume significativo de trocas usando o Yuan (não esquecer o recente lançamento do petro-yuan, um contrato de futuros para compra de petróleo usando a moeda chinesa), em que muitos países não verão vantagem nenhuma em possuir em reserva dólares, visto que as suas trocas comerciais e seus pagamentos serão maioritariamente fora do mundo dominado pelo dólar.
Caminha-se assim, a passos largos, para um mundo formado por dois grupos de Estados, num sistema internacional bipolar. Um mundo estará dentro da esfera de controlo angloamericano, com o dólar a reinar como dono e senhor de todas as transacções comerciais que se efectuem no seu interior. Outro, será o mundo dominado pela nova potência dominante mundial - a China - tendo como parceiros e aliados, a Rússia e praticamente toda a Ásia central e oriental. Mesmo o Paquistão, mesmo o Japão, estão a orientar-se em direcção aos BRICS e a participar activamente em projectos importantes da Nova Rota da Seda. Porque têm simpatia pelos Estados fundadores dos BRICS? Porque têm afinidades com o regime herdeiro de Mao? Porque eles próprios mudaram radicalmente seu governo? Não, não e não! Simplesmente, sabem ver de onde o vento sopra e não querem ficar para trás.
As «luminárias» que se exibem nos media neste país e, infelizmente, também no chamado «mundo ocidental», nunca põem as questões pertinentes, nunca explicam o contexto em que as coisas ocorrem. Também o seu «império» é de curta duração: Ao fazerem um «blackout» de todas as notícias que contradizem a narrativa simplista de Washington, Londres, Bruxelas... ao sonegarem dados importantes sobre os BRICS e questões associadas, estão a descredibilizar-se junto duma parte do público, a parte que não renunciou a pensar pela sua própria cabeça.
Temos de recorrer à RT e ao Asian Times e outros meios informativos, ditos «alternativos», pois a media «mainstream» tornou-se repositório da pior propaganda, não havendo praticamente nenhuma verdade nas «notícias» por eles cozinhadas...



https://www.zerohedge.com/news/2018-08-21/germany-calls-global-payment-system-independent-us

http://thesaker.is/so-what-will-the-sanctioned-supergroup-do/


quarta-feira, 8 de agosto de 2018

A POLÍTICA DE SANÇÕES, UM SINTOMA CLARO DA PERDA DE INFLUÊNCIA

                           Resultado de imagem para iran sanctions 2018


Quando é preciso exercer pressão, ameaçar, fazer guerra económica, isso significa que a liderança de um país não tem mais capacidade de provocar a adesão dos aliados e o respeito dos adversários.
As sanções unilaterais que Washington tem promovido como forma de impor a sua vontade, embora as apresente com o pretexto falacioso de que o faz para «punir» actos supostamente contra os direitos humanos das populações, são a maior evidência da decadência dos EUA e da complexa rede de dependências económicas, políticas, institucionais e militares que se tem auto-designado por «Ocidente». 
Os impérios são mortais, como a História o tem mostrado repetidamente. 

Está-se num ponto de transição em relação a todo um conjunto de parâmetros...

- Moeda de reserva: O dólar foi - desde Bretton Woods em 1944 - erigido em moeda de reserva, tendo mantido a sua paridade ao ouro (35 dólares por uma onça de ouro) até Nixon despegar o dólar desse compromisso, em 1971. A partir deste momento, todo o sistema monetário internacional entrou numa espiral de inflação e instabilidade. A conservação artificial dos diversos países no sistema dólar foi obtida graças ao acordo com a Arábia Saudita, conseguido por Kissinger em 1973, segundo o qual os EUA iriam sempre defender o regime saudita, enquanto este exigisse que seu petróleo fosse pago em dólares. Sendo a Arábia Saudita, nessa data (1973), o mais importante país exportador de petróleo da OPEP, todos os outros fizeram o mesmo; só aceitaram dólares em pagamento do seu petróleo.
O petrodólar está a perder a proeminência, pois vários países exportadores estão explicitamente a estabelecer contratos em que o petróleo (ou o gás) já não é pago em dólares: caso da Rússia, especialmente, com seus gigantescos contratos com a China. Mas também é o caso do Irão, da Venezuela, de Angola e mesmo do Catar. 
Não tarda muito que a própria Arábia Saudita aceite os yuan em pagamento de petróleo. A China é o maior comprador do petróleo saudita e instituiu recentemente um sistema «petro-yuan», em que as notas de crédito emitidas em yuan podem ser convertidas em ouro, no mercado de Xangai. A Rússia e o Irão, utilizando o referido petro-yuan, têm aumentado suas compras de ouro ou de produtos chineses. 

- Armamento: A superioridade dos sistemas de mísseis russos é tal que, a Turquia e a Arábia Saudita, aliados tradicionais dos EUA, preferiram adquirir SS-300, aos equivalentes americanos.
 Por outro lado, a Rússia com um orçamento militar muito menor que o dos EUA, consegue modernizar e tornar operacionais todos os ramos das suas forças armadas, depois destes terem sofrido, durante a década de 90. 
A colaboração entre a China e a Rússia vai potenciar os sistemas de defesa de ambos. Por exemplo, a detecção precoce e resposta adequada a um ataque surpresa, na China, beneficia dum melhor desempenho, em relação a quaisquer outras potências,  devido à sua rede instalada de supercomputadores.
Além disso, os armamentos russos mostraram sua eficácia recentemente, na guerra na Síria. A superioridade de tais armas impressionou de tal maneira generais dos EUA e da NATO, que estes aconselharam maior prudência ao presidente.

-A perda de aliados: Em pouco tempo, vários países «emergentes» começaram a descolar da vassalagem em relação aos EUA e a fazerem acordos de cooperação militar (as Filipinas com a China, por exemplo), de investimento em infraestruturas, etc. É o caso dos mais de  60 países envolvidos na «Belt and Road Iniciative». É ainda o caso de numerosos países africanos, que têm feito acordos mutuamente  vantajosos, podendo ficar com portos, caminhos de ferro, etc. a troco de suas matérias-primas...
Mas o mais grave ainda, é a discordância que pode chegar a uma completa desautorização pelos parceiros da NATO. Nomeadamente, apesar da admoestação e ameaças de Trump, os alemães prosseguem com o projecto «Nord Stream 2», em parceria com a Rússia, negando-se a aceitar quaisquer sanções. Além deles, muitas outras vozes europeias vêm clamando pelo fim das sanções contra este país.

- Recuo da globalização: Embora explicitamente desejada pelo actual ocupante da Casa Branca, a retirada de vários acordos  em instâncias da globalização, traduz-se por perda de influência. São os casos da retirada, ou desistência, dos acordos TPP e TTIP, assim como as exigências de renegociação do NAFTA, a  possibilidade de saída da OMC ou de organismos especializados da ONU... tudo isto contraria o poderio dum Império que se vê na liderança do Mundo globalizado. 

                          Resultado de imagem para iran sanctions 2018

- A retirada dos EUA do acordo multi-partido com o Irão trouxe ao de cima uma contradição flagrante entre a vontade do poder dominante e dos seus aliados/vassalos europeus. Estes, além do aprovisionamento em petróleo e gás, estão muito empenhados em estabelecer contratos de todo o tipo, desde obras públicas à aeronáutica, com o Irão.

- A utilização da arma das sanções é apenas eficaz se os países se vergarem, se submeterem. Pois, se não se sentirem intimidados, a ameaça surge apenas como forma brutal de pressão, como injustiça feita em primeiro lugar aos povos, não aos líderes dos países sancionados. 
Quando as sanções são unilaterais, quando são decididas ilegalmente e à revelia da ONU, apenas têm um efeito de intimidação, mas não chegam a ser eficazes, logo à partida. 
De certeza que os EUA sabem isso, visto que experimentaram esta situação com suas sanções contra Cuba, que perduraram cerca de 50 anos! No final, tiveram de as levantar; tinham-se tornado um anacronismo grotesco.

Sendo esta política internacional o equivalente do proverbial «pau», sem a «cenoura» para amenizar,  amigos e inimigos concluem que é melhor reforçar laços com outros, diversificar as parcerias: ficar exclusivamente na órbita de Washington, só traz limitações e não resulta em vantagens de qualquer espécie. 
Longe vão os dias em que os EUA eram vistos - por alguns - como sinónimo de segurança e desenvolvimento!

quarta-feira, 6 de junho de 2018

ESTRATÉGIA DA CHINA PARA A TRANSIÇÃO

                             

Muito se tem escrito em Portugal sobre a China, sobre os investimentos chineses em infraestruturas um pouco por todo o lado, a sua insaciável fome de matérias-primas, em particular de petróleo. Mas poucas vezes nos é explicado o papel das plataformas de negociação do ouro e do yuan, como forma de adquirir um cada vez maior pedaço do comércio internacional e de assegurar que o abastecimento do «Império do Meio» não será dramaticamente afectado pela crise que está «levedando» nos mercados internacionais, da finança ainda dependentes do dólar. 
A importância do ouro, nesta estratégia, não pode ser deixada de lado, sob pena de não se compreender rigorosamente nada do grande jogo do «Império do Meio». O artigo seguinte é muito esclarecedor: 

Belt & (Yellow Brick) Road: China Is Absolutely Dominating The Global Gold Trade

A China não pretende que a sua moeda se torne o substituto do dólar como moeda de reserva; pretende que o valor do seu excedente em dólares (mais de 1,2 milhares de milhões de dólares em obrigações do Tesouro dos EUA) não seja completamente evaporado pela política hiperinflacionária dos bancos centrais e governos ocidentais. 
Tem lançado a iniciativa «Belt and Road» ou «Nova Rota da Seda» para firmar e consolidar as bases de parcerias com os mais diversos países, em trocas comerciais mutuamente vantajosas, sem quaisquer compromissos que não sejam os decorrentes do que é acordado entre as partes. Os numerosos países que aderem a esta plataforma poderão contar com instrumentos de crédito muito eficientes - os contratos de petróleo em yuan são apenas um exemplo - que permitirão a esses países dispensar o dólar como moeda de reserva. A nota de crédito de Yuan remível em ouro, por outro lado, será um instrumento de crédito que oferece mais estabilidade e garantias de pagamento do que as notas de crédito em dólares até agora utilizadas correntemente no comercio em grosso, como no pagamento das mercadorias de um navio num porto.
Para se ver menos susceptível perante uma eventual queda do dólar, a China tem usado os dólares para muitas das obras de infraestrutura (portos, caminhos de ferro, estradas, etc.), em especial, nos países que participam na «Belt & Road Initiative». Para se ver livre do seu excedente de dólares, estabeleceu recentemente um contrato com Angola, em como receberia petróleo angolano em pagamento de um empréstimo em dólares que Angola precisava e que a China se apressou a conceder-lhe.    
Se a China estivesse interessada em sabotar o dólar que é, junto com o poderio militar, a forma concreta que os EUA têm de dominar o mundo, poderia fazê-lo, desfazendo-se de suas enormes reservas em «treasuries» (as obrigações do tesouro dos EUA). Porém, isso seria suicidário para ela própria, pois os EUA e o Ocidente, que está na «esfera de influência do dólar», no seu conjunto, são os seus maiores parceiros comerciais. Por outro lado, através desta política de gastar nas infraestruturas o seu excedente em dólares, dirigida a países recém independentes do jugo colonial, terá uma aceitação muito maior e poderá sem forçar nada concluir, futuramente, trocas comerciais em yuan, não em dólares. 
A partir do momento em que uma maior fatia do petróleo e doutras matérias primas forem transaccionadas noutras divisas, que não o dólar, a dominação deste (e da potência que o emite, os EUA) ficará muito limitada. 

É muito provável que o sistema monetário internacional evolua de maneira relativamente pacífica,  como aconteceu com a substituição da Libra esterlina, moeda de reserva durante mais de um século e que foi progressivamente perdendo peso a favor do dólar.

domingo, 2 de abril de 2017

SERIAMENTE, O REINO DO DÓLAR ESTÁ A CHEGAR AO FIM





Quando Nixon decretou unilateralmente que o dólar deixava de ser convertível em ouro (a cotação fixa da onça de ouro era de 35 dólares), fez ruir o sistema de Bretton Woods, em que as diversas nações tinham as suas divisas indexadas ao dólar, porque este era convertível em ouro e, portanto, todas as divisas indirectamente também estavam ligadas ao padrão-ouro.
O sistema de câmbios flutuantes, que se seguiu, foi factor de variação especulativa das diversas moedas, inclusive do dólar, acrescentando incerteza a algo – a economia- que, por natureza,  já era incerto.
Mas o dólar continuou a reinar, como moeda de reserva, devido ao acordo firmado entre Kissinger e o rei Saudita, em como os preços e pagamentos de «crude» saudita seriam feitos exclusivamente em dólares, sendo garantido – em contrapartida- um apoio incondicional ao regime, o qual, lembremos era o mais obscurantista e despótico dentro dos países árabes. Todos os potentados produtores de petróleo tinham, na prática, que seguir o acordo EUA-Saudita,  moldando até hoje a política de todas as nações exportadoras de petróleo, com a excepção da URSS/Rússia. 
Os que tentaram sair desse exclusivismo do dólar, pagaram com sua vida (Saddam Hussein, Muamar Khadafi) e seus países foram devastados, suas populações massacradas, a guerra civil fustigando o que restava deles. Menos sucesso tiveram com a Síria e o Irão, embora os EUA tenham tentado; não desistiram ainda de desestabilizar e suprimir estes regimes.
O estado do mundo não podia ser mais caótico do que hoje em dia, com um império ferido de morte, mas ainda suficientemente poderoso para desencadear guerras mortíferas ou  para desestabilizar as fronteiras de seus adversários (Ucrânia, sujeita um golpe fascista em Fev. de 2014 e Sul da China, palco de provocações da US Navy junto a territórios insulares contestados pelos filipinos e pelos vietnamitas).
Neste contexto, concretizou-se a aceleração de um noivado entre os gigantes  Rússia e China, em que ambos tinham interesse estratégico, complementaridade económica e fronteiras comuns vastíssimas.
Agora, temos conhecimento de que os respectivos Estados irão transaccionar sem o recurso ao dólar, usando «trade note», ou seja, notas comerciais convertíveis em ouro. Por exemplo, um carregamento de petróleo e um carregamento de bens electrónicos são trocados: a diferença entre os dois será saldada em Yuan, sendo que se usará uma nota de crédito comercial convertível em ouro. Assim, o Estado Russo, por exemplo, poderá cambiar em ouro uma certa quantia de «trade note» no Mercado de Ouro de Xangai. 
A partir deste momento, o dólar deixa de entrar na equação. Os russos e chineses argumentam com as vantagens de evitar as flutuações de câmbios, o que é verdade, se pensarmos que o rublo tem sido sujeito a ataques especulativos e tem enfraquecido notoriamente face ao dólar. 
Mas além deste aspecto, existe o facto de os EUA se arrojarem o papel de árbitros e juízes em quaisquer transacções efectuadas usando a sua moeda. Usando sofismas, o sistema judiciário americano penalizou com biliões bancos de países terceiros que tinham – em perfeita legalidade – negociado com o Irão, não nos EUA, mas dentro das fronteiras e jurisdições dos seus próprios países. Ou seja, os EUA impunham as sanções ao Irão, que eles próprios decretaram, como pretexto para vergar à sua vontade política outras entidades (bancos…) de países terceiros, sob ameaça de multa ou de deixar de poder efectuar qualquer actividade nos EUA. 
Na perspectiva dos russos, esta fuga a transaccionar em dólares, tornou-se portanto um desígnio estratégico, não por vontade deliberada de afundamento do dólar como moeda comercial ou de reserva, mas como meio de escapar ao regime de sanções, cada vez mais abrangente e que os americanos continuam a impor aos seus parceiros europeus, usando todas a chantagens possíveis.
Sem este regime de pressão constante, desde a guerra a quente, até às sanções e pressões de chantagem/boicote, os EUA não teriam conseguido manter até hoje a hegemonia do dólar, quer como moeda de reserva, quer como principal divisa das trocas comerciais.
Porém, o reino do dólar está a chegar ao fim: a Arábia Saudita está a aumentar o intercâmbio comercial e de grandes obras com a China, que é – actualmente - o seu principal cliente comprador de petróleo. Não tarda muito que o Reino saudita aceite as notas comerciais denominadas em Yuan e convertíveis em ouro, tanto mais que eles foram espoliados pelos americanos do ouro que estava à custódia de bancos suíços, UBS e Credit Suisse, nomeadamente, os tais que foram sujeitos a multas pesadas.
O dólar não tem nada a garanti-lo, a não ser a força bruta, militar, do maior império que consegue ter a maioria dos gastos mundiais em defesa, com armamento e com as mais de 800 bases militares espalhadas pelo mundo. 

O Império não tem tido sucesso militar/político nos últimos tempos: 
- Tem sido um longo fiasco, o seu envolvimento contra os taliban no Afeganistão, há 16 anos sob tutela da NATO, porém sem qualquer solução política. 
- No Iraque, o governo deste país inclina-se cada vez mais para o lado do Irão. 
- No Iémen, a guerra suja por procuração  - levada a cabo pela força aérea saudita contra o povo, mas com apoio dos EUA - tem sido um fracasso. 
- Não se pode falar de vitória em relação à Líbia, em que a coligação «ocidental» destruiu um país, mas onde não existe solução política devido à interferência constante dos «ocidentais». 
- O envolvimento dos EUA, Sauditas, Quatar, Turquia e outros, na criação e propulsão do «Estado Islâmico», que desestabilizou o Iraque e a Síria, está agora mais que evidente para todo o mundo. 

Nada do que se tem passado nos últimos dois decénios, no Médio Oriente, significa uma vitória material ou, sequer, moral dos EUA e seus súbditos.

Como não têm infraestruturas em bom estado, indústrias transformadoras, nem algo de realmente interessante para exportar além de filmes de Hollywood e armamento, terão necessariamente de chegar a um ponto de ruptura, pois não poderão continuar sempre a emitir dívida e inundar os mercados financeiros com essa dívida, como se ela valesse qualquer coisa. 
Os chineses e outros dizem, com razão, que os americanos lhes compram equipamentos, matérias-primas, toda a gama de produtos industriais, pagando com uma moeda de «Jogo Monopoly».

Não há dúvida que existem certos factos demasiado pesados para serem omitidos.
Vai tornar-se mais e mais óbvio que os EUA estão completamente falidos, que a sua dívida é impagável e que os juros da mesma não podem senão subir, causando a falência de algo tão importante como o seu sistema de pensões. O conhecimento da falência de vários fundos de pensões, de sistemas de fornecimento de água, do péssimo e inoperante sistema de saúde mais caro do mundo, são hoje tão evidentes, que nem os mais ardentes defensores do sistema o contestam, limitam-se a omitir os factos. Mas os que têm preocupação em chegar a um retrato verdadeiro da situação, apenas têm de «juntar os pontos entre si».
Este império é um edifício que parece sumptuoso e poderoso à distância, mas que está cheio de rachas e de pequenas avarias, que se vão tornando mais graves, porque a reparação não é possível ou mesmo que fosse possível, implicaria reduzir privilégios dos «0.1%».

Na realidade, não existe vantagem em países pequenos se encolherem à sombra ameaçadora do «Tio Sam» ou de outra super-potência. Terão futuro, somente se tomarem seus destinos nas suas mãos, emancipando-se duma tutela que apenas significa submissão.
Não significa isto mudar-se de «dono», ou seja passarmos a depender de Chineses e/ou Russos, por exemplo. 
Mas antes, que é possível um pequeno país singrar no Mundo globalizado, sem demasiadas dependências, equilibrando as influências, tratando de obter acordos mutuamente vantajosos com todos (estratégia «win, win»), preservando a sua independência nacional. Esta significa ter autonomia para decidir internamente todos os assuntos que dizem respeito ao nosso povo, tendo força suficiente para resistir a parcerias que implicassem uma vassalagem.