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domingo, 9 de março de 2025

JONATHAN COOK: REFÉNS ISRAELENSES E CESSAR-FOGO

Jonathan Cook: Reféns israelenses e o cessar-fogo



Há uma razão premente para manter nossa atenção focada na diretiva Hannibal, escreve Jonathan Cook. Ela se relaciona com o que está acontecendo agora.

Palestinos em Gaza em 29 de janeiro, após o cessar-fogo anunciado no início do mês. (Jaber Jehad Badwan, Wikimedia Commons, CC BY-SA 4.0)

Por Jonathan Cook
Jonathan-Cook.net

Aqueles de nós que continuamos falando sobre o uso que Israel fez da chamada diretiva Hannibal em 7 de outubro de 2023 — na qual Israel matou seus próprios cidadãos para impedir que fossem capturados pelo Hamas — fomos difamados por desculpar os crimes do Hamas naquele dia.

Não é por isso que sinalizamos o problema.

Em parte, isso se deve ao fato de que algumas das imagens mais horripilantes de 7 de outubro, de corpos carbonizados e carros e casas destruídos em Israel — apresentadas como evidência de uma barbárie especial que é supostamente típica dos palestinos — foram quase certamente causadas por Israel invocando sua diretiva de terra arrasada naquele dia.

Essas imagens se tornaram centrais na onda de propaganda lançada por Israel e seus apologistas para justificar o massacre em massa de crianças de Gaza nos 17 meses seguintes.

Mas há também uma razão muito mais urgente e premente para manter nossa atenção focada no papel da diretiva de Hannibal. E ela se relaciona com o que está acontecendo agora.  

[O presidente Donald Trump emitiu ameaças militares sobre as consequências de não entregar reféns israelenses que, segundo o Hamas, se forem realizadas, violariam os termos do cessar-fogo .]

Israel e os EUA ainda estão aplicando a diretiva de Hannibal — contra os prisioneiros israelenses mantidos em Gaza. 

O ponto da diretiva sempre foi impedir que o inimigo pudesse usar reféns israelenses como alavanca para atrair Israel para negociações — principalmente para pressioná-lo a entregar qualquer um dos milhares de reféns palestinos que mantém em seus campos de prisão e tortura . Muitos deles nunca foram acusados ​​ou julgados.

Israel e os EUA nos dizem que precisam bombardear Gaza — no que equivale a um genocídio "plausível", de acordo com a mais alta corte do mundo — para forçar o Hamas a devolver os prisioneiros israelenses. Mas, na verdade, Israel e os EUA estão matando imprudentemente esses mesmos prisioneiros por meio de suas ações.

Why? So they don’t have to negotiate over a ceasefire. So they can carry on with the genocide, without pressure to deal with the fate of the Israelis held in Gaza.

“Bring Them Home” — a giant lights sign by artist Nadav Barnea at Charles Bronfman Auditorium, Heichal Hatarbut, Tel Aviv, Jan. 3, 2024. (Yossipik, Wikimedia Commons, CC BY-SA 4.0)

It was exactly the same reckless approach on Oct. 7, when Israel showed it was indifferent as to whether Israelis lived or died so long as they weren’t taken captive.

[See: What We’re Not Hearing About Oct 7]

That’s why — in one instance we know about — the Israeli military fired into a home in Kibbutz Be’eri, knowing that there were a dozen or more Israelis inside, including children.

The army was completely indifferent as to whether those Israelis would be killed as a result. All but two were. Those witnesses are the main reason we know what really happened.

That’s why Israel’s Apache helicopters recklessly fired on hundreds of cars fleeing the Nova music festival, indifferent to whether the cars contained Hamas fighters or Israeli citizens.

Even the former defence minister, Yoav Gallant, admits the directive was invoked that day.

We’ll never know how many Israelis were killed – in part because Israel will never let us know. It’s even buried many of the destroyed cars to stop a forensic investigation.

But what we do know with certainty is that the Israeli military killed many Israelis on Oct. 7.

Western media have studiously refused to report on the issue of the Hannibal directive, even though it is all over the Israeli media. (See hereherehere and here.)

That is more than just a failure by Western media outlets. It is a crime against journalism — if not complicity in the genocide itself.

Western publics need to know that the Hannibal directive was invoked for a very simple reason: It is a crucial piece of information for assessing the credibility of Israeli and U.S. claims that they are trying to get the Israeli captives back alive and to properly weigh Israel’s motives in returning to the genocide in Gaza.

Notice how, in Trump’s latest deranged tweet, he accuses Hamas of “murdering” the Israelis held in Gaza. That’s pure, Israeli-inspired disinformation.

It is clear that most, if not all, of the dead captives were killed not by their Hamas captors but by Israel’s massive, reckless 15-month bombardment of the tiny territory of Gaza. That same bombardment, the equivalent of six Hiroshimas, has leveled Gaza and killed many tens of thousands — maybe hundreds of thousands — of Palestinians.

Why is Trump so eager to misdirect us?

Because he wants to win our support for Israel’s continuation of its slaughter of the people of Gaza and justify his own decision to supply, as his predecessor did, the weapons needed to continue that genocide.

After all, Trump makes his own genocidal intent expressly clear in addressing “the people of Gaza” and telling them that they will all be “DEAD” if the Israeli captives aren’t handed over. Yet “the people of Gaza” have no control over whether the captives are released.


Notice too that Trump calls Hamas “sick and twisted” for holding on to the bodies of dead Israeli captives, even though it is Israel that is violating the ceasefire agreement that would see those bodies returned.

This has become a further rationalisation by Israel and the U.S. for killing “the people of Gaza.” But Hamas learnt the value of using dead bodies as bargaining chips directly from Israel.

For years, the Israeli government has had a policy of refusing to return to their families the corpses of those Palestinians it has killed, including while in its torture camps. This violation of international law long predates Oct. 7. The Israeli courts have repeatedly approved the policy, accepting the government’s view that the bodies should be held as “bargaining chips.” It gave its backing again in January.

So if Hamas is “sick and twisted,” it is only because Israel is even more sick and twisted. If Trump thinks the people of Gaza deserve a genocide because of their leaders’ “sick and twisted” decisions, should he not be consistent and argue that the people of Israel deserve a similar fate for their own leaders’ “sick and twisted” decisions?

A campaign of lies and disinformation have helped to shred international law over the past year and half. And one of the biggest lies is the pretence that, in slaughtering Gaza’s children, Israel has been acting in the interests of Israelis held in the enclave.

Jonathan Cook is an award-winning British journalist. He was based in Nazareth, Israel, for 20 years. He returned to the U.K. in 2021. He is the author of three books on the Israel-Palestine conflict: Blood and Religion: The Unmasking of the Jewish State (2006), Israel and the Clash of Civilisations: Iraq, Iran and the Plan to Remake the Middle East (2008) and Disappearing Palestine: Israel’s Experiments in Human Despair (2008). If you appreciate his articles, please consider offering your financial support

This article is from the author’s blog, Jonathan Cook.net.

The views expressed are solely those of the author and may or may not reflect those of Consortium News.

domingo, 29 de outubro de 2023

EUA votam na ONU contra cessar-fogo em Gaza, contra a vasta maioria dos países


O vídeo de Ben Norton (Geopolitical Economy Report) explica as relações de vários países e as razões porque votaram duma maneira ou doutra. 

O essencial, é que o direito humanitário está completamente posto em causa, o que mostra a decadência dos EUA e dos países que estão na sua órbita.

Como tenho vindo a sublinhar, a agressividade acrescida dos EUA e da Europa Ocidental são a marca do desespero, de saberem que nada - perante esta situação económica e financeira - poderão fazer. Com efeito, puseram-se a si próprios dentro de uma armadilha, da qual não têm saída possível: A impressão monetária sem limites, para custear despesas militares e manter os lucros da casta bilionária, tem um preço. A  desvalorização acelerada das divisas desses países é o corolário do crescimento exponencial da dívida. 

Perante este cenário, os governantes provocam ou intensificam conflitos, na esperança de que a guerra distraia o povo das faltas cometidas por eles.


PS1: Uma análise da estratégia dos sionistas/neocons que, de tão precisa e rigorosa, me deu frio na espinha:

https://informationclearinghouse.blog/2023/10/30/nakba-2-0-revives-the-neocon-wars/

quarta-feira, 23 de agosto de 2023

CRÓNICA (Nº17) DA IIIª GUERRA MUNDIAL : «NORMALIZAÇÃO» DO ESTADO DE GUERRA NA EUROPA

Uma boa introdução à situação militar e geopolítica no continente europeu, pode ser a visualização da entrevista dada pelo Coronel Douglas Macgregor:

O Coronel explica de forma muito clara porque o melhor que se poderia fazer do lado ocidental era acabar com a guerra na Ucrânia. Porém, o establishment de Washington está cego e insensível à catástrofe que provocou.

Figura: tanque alemão panther destruído pelos soviéticos, na IIª Guerra Mundial. Os modernos tanques panther 
 também têm sido destruídos na guerra Russo-Ucraniana.

Devemos ver os predadores psicopatas que governam os vários países, nomeadamente os mais fortes, como aquilo que são. Os discursos e as posições «de princípio» são apenas paraventos de palavras para encobrir os seus jogos de poder sangrentos.

Os EUA, comandando os seus aliados europeus, obrigando-os a fazer uma guerra não declarada contra a Rússia, estão a ordenar-lhes o «suicídio assistido da Europa».

Com efeito, eles pretendem que o conflito na Ucrânia desemboque numa espécie de situação de instabilidade permanente, nas fronteiras russas.

Eles sabem não haver interesse, da parte dos russos, numa invasão dos territórios onde é maioritária a etnia ucraniana (falantes de ucraniano). Têm já muito que reconstruir nas 4 províncias recém unidas à Federação Russa.

Os americanos desejam que a situação evolua para um cessar-fogo, para viabilizar uma espécie de zona tampão: Uma faixa de território desmilitarizada, que separe os territórios ucranianos, dos novo-russos.

Para eles, isso é satisfatório, pois os países europeus serão obrigados a fabricar armamento em grande escala, para enviar para uma Ucrânia reduzida, mas possuidora de continuidade política. O acordo de cessar-fogo seria suscetível de ser rompido logo que a Ucrânia, «o peão da OTAN», estivesse em condições de levar a cabo uma ofensiva realmente ameaçadora contra o território russo.

Mas este esquema é, para os europeus, o equivalente a terem guerra permanente em casa (no caso das zonas diretamente em conflito), ou muito próximo de casa.

Trata-se da eternização da Europa, enquanto zona de conflito. Os governos americanos adoram a situação, porque continuarão a ser suseranos dos países europeus enfraquecidos e submissos dentro da OTAN.

Por outro lado, a União Europeia, com potencial industrial e a possibilidade de se erguer como bloco autónomo, desaparece. Os EUA vão apoiar os países anglófonos e (re)constituir o seu império com o Reino Unido, Austrália, Canadá, Nova Zelândia e países do «Commonwealth», que mantêm as suas distâncias com os BRICS, ou seja, países que se conservam na órbita de influência anglo-americana. Quanto à Europa da União Europeia, esta vai ser apenas uma «zona tampão».

O sonho utópico dos europeístas está definitivamente acabado. Só há autonomia política, se houver autonomia militar e diplomática: Mas, estas significam -afinal- que têm a sustentação duma economia largamente independente, embora mantendo elevado nível de cooperação com outras zonas.

Este foi o sonho que os sociais-democratas alemães tentaram realizar, mas tiveram que se submeter ao jogo do Tio Sam. Para tornar as coisas bem claras, o Tio Sam rebentou os gasodutos que forneciam energia barata e viabilizavam uma indústria alemã competitiva .

Não esqueçamos que tanto os americanos, como os dirigentes da OTAN (fantoches dos americanos) recusaram - no Outono/Inverno de 2021 - todas as propostas russas para abertura de negociações com vista a obtenção de garantias mútuas de segurança em todo o espaço Europeu.

Os países europeus mostraram o seu estatuto de vassalos, ao não abrirem conversações diretas com os russos, apesar de serem os mais interessados nas soluções diplomáticas e pacíficas para o continente europeu. O fantoche Jens Stoltenberg fazia, por essa altura (meses antes da invasão russa, em 2021), declarações incendiárias, dizendo, em substância: «de cada vez que eles (russos) vierem propor negociações, nós devemos responder com mais armamento, mais sistemas de mísseis, mais tropas da OTAN, nos Estados que fazem fronteira com a Rússia».



O que eu temo é a indiferença, a sujeição da cidadania. Esta, nunca foi tão intensamente condicionada. Depois do primeiro «ensaio» do COVID, fomos transformados em «ratos de laboratório humanos», para ensaios de condicionamento. Há que escrever uma obra - cientificamente consistente - sobre isto. Até agora, tenho podido ler artigos inteligentes sobre o assunto. Porém, os poderes e seus estados-maiores, possuem departamentos de «contra-informação», que se dedicam à guerra psicológica, à propaganda de guerra. Esta, é dirigida às populações dos países que estão «do nosso lado», mais do que às populações «inimigas».

Note-se que este estado de guerra permanente em solo europeu convém a muitos políticos, que assim podem jogar com o medo para se fazerem eleger (ou reeleger). Também serve os grandes patrões, que podem fazer reinar o terror nas suas empresas, despedindo e discriminando quem lhes apetecer, sob pretexto «de se livrarem de elementos subversivos, a soldo de Moscovo, etc.» Se isto vos soa a Guerra Fria, é porque o é efetivamente. Agora, já não dirigida contra a União Soviética e o «socialismo/comunismo», o grande papão. Agora o papão é a Rússia e «o novo Hitler» Putin, etc...

Realmente, tenho pouca esperança no imediato, pois a classe trabalhadora europeia está de rastos, alienada e sem uma perspetiva independente.

A hipótese de criação duma instância partidária ou duma frente, remotamente semelhante às frentes de classe dos anos 1930, é apenas um devaneio, infelizmente.

Como não vai haver uma resposta capaz de enfrentar o perigo, as populações europeias vão pagar. Elas já estão pagando, pois são europeias as populações da Ucrânia, da Rússia e dos países limítrofes que sofrem diretamente o impacto desta guerra cruenta.

Prevejo a continuação do cenário acima traçado, no curto prazo; mas, também, pode estar para durar por tempo indefinido.

Não faço conjeturas sobre a duração desta nova Guerra-Fria, nem sobre os meios pelos quais os povos se livrarão dela. Pelo menos, tentarei alertar as poucas pessoas, ainda capazes de raciocinar de forma livre e independente, de que o que se prepara é talvez pior e certamente diferente dos totalitarismos que estudámos nos livros de História do Século XX.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

PAZ AGORA, POSSÍVEL E DESEJÁVEL

 Desde sempre que sou a favor da paz. Numa guerra, de parte e de outra, há  sempre argumentos válidos ou considerados como tais, para continuar e mesmo intensificar as ações bélicas. Mas, sob nenhum prisma, conseguem convencer-me. Tudo o que invocam os generais de poltrona, resume-se a dois falsos argumentos ou falácias:

1) Falácia do "ou eles, ou nós": se não formos nós a infligir uma derrota sem apelo, serão eles a fazer isso mesmo. Esta aparente necessidade "lógica" deixou de fazer sentido, quando sabemos que um inimigo poderoso, em vias de ser derrotado militarmente, pode ter a tentação de recorrer às armas nucleares. Mas, o argumento também vai contra a realidade histórica, visto que muitas guerras se resolveram através de diplomacia, de negociações para a paz. 

2) Falácia d' "os bons versus os maus": Que eu saiba, as guerras são sempre produto de seres humanos. Nunca nenhum lado tem 100% de razão. Os dirigentes políticos, os governantes de um e doutro lado, tiveram oportunidade de resolver o conflito por meios pacíficos, antes de recorrer a meios militares. Se não conseguiram fazê-lo, isso não significa que fosse impossível, mas que não houve empenho suficiente para encontrar um acordo. Os dirigentes e os propagandistas dirão sempre que a culpa, a falta de boa-fé, veio do lado contrário. De facto, os povos de ambos os lados é que são as vítimas, quase todas inocentes, de tudo o que de perverso, cruel, soberbo ou louco, os seus dirigentes congeminaram. 

Não existe qualquer desculpa para as partes em conflito não negociarem um cessar-fogo, verificado por entidades neutrais, como primeiro passo para as negociações de paz.

A passividade das pessoas, ou sua tomada de partido irracional por um dos lados, em detrimento do outro, tem permitido que os elementos belicistas, de um e de outro lado, pressionem os respetivos governos. Porém, qualquer pessoa culta, com conhecimentos de política, história e diplomacia, sabe que qualquer guerra tem, como desfecho, negociações. Nos casos em que não existiu um acordo de paz, as sociedades continuaram a viver no medo do reacender da guerra.

Se qualquer guerra tem de se concluir por negociações de paz, sabendo nós os incontáveis sofrimentos humanos, sabendo também a imensa destruição e empobrecimento geral, além dos perigos reais de confrontação nuclear, só loucos ou criminosos sociopatas não colocam como primeira prioridade o fim desta guerra e negociações para uma paz duradoura.

Na verdade, quem viu com seus próprios olhos uma guerra, sabe que não existe nada mais próximo do  "inferno na Terra", que isso. Mas, não é indispensável ter-se estado numa situação de guerra para se perceber e sentir verdadeira compaixão pelas vítimas, civis ou militares.

A paz agora é possível e desejável, cabe a cada um de nós fazer o seu melhor para apressar essa solução. A cada momento que passa, nas operações militares em curso, morrem pessoas, quase todas inocentes, mesmo as que vestem uniforme. A melhor maneira de parar uma guerra, é recusar embarcar na lógica falsa que acima apontei e demonstrar - por todos meios - que os povos não querem a guerra, e que os governos têm de trabalhar para a paz.