domingo, 6 de março de 2022

«MUNDOS SEPARADOS». O AUTORITARISMO, A GUERRA E A GEOPOLÍTICA

                  


Incessante tendência dos autoritários de todas as cores ideológicas em querer moldar o mundo exterior à IMAGEM DO SEU MUNDO INTERIOR, TEM CONSEQUÊNCIAS que estão de todos à vista. 

Comento o excelente artigo, de LIAM COSGROVE «The US Is Culpable in Today's Ukraine Crisis  - How the incessant neo-conservative urge to reshape foreign nations in the Western image has brought us to the brink of World War.»
Curiosamente, os herdeiros da ideologia liberal (quase toda a classe política dos países ditos do «ocidente») têm muito mais traços de autoritarismo, do que os que estiveram (caso dos russos), ou mesmo ainda estão (caso dos chineses), debaixo de regimes totalitários.
Mas, ao fim e ao cabo, como eu repetidas vezes avisei, o cisma entre o Ocidente e o Oriente, vai traduzir-se por dois mundos separados
Quando não se confrontarem com armas, quando não fizerem guerra por procuração («proxi-wars») farão pelo menos, guerra económica, política, ideológica, ou «de informação». A globalização «feliz» advogada por ambos, acabou. Agora, será a pseudo-globalização do calvário dos povos, com a forma simbólica de cruz: o eixo «vertical» - os atlantistas, contra o eixo «horizontal» - os euro-asiáticos.
Ver o meu artigo QUEM SÃO OS VENCEDORES DA TRANSFERÊNCIA DE RIQUEZA DO «GREAT RESET»?. Quanto aos vencidos, o resultado desta crise é o empobrecimento geral, mais cruel para os pobres, o reforço dos traços autoritários, o estreitamento da «janela de Overton» até ser praticamente indistinguível de um regime fascista, como foi Portugal, durante os 48 anos de Salazar e Caetano, um dos membros iniciais da NATO*. Talvez piores sejam estes regimes, que agora se estão a instalar em toda a Europa, na concha vazia das democracias liberais. Não só haverá uma profunda ruptura dentro da sociedade, como não haverá qualquer tolerância para pessoas com ideologias divergindo da ortodoxia imposta pela ditadura «democrática». O «fascismo Mc Donald» irá fazer com que estas pessoas sejam ostracizadas, perseguidas, não haverá «direitos humanos» para elas. Os dissidentes no Ocidente, estão já a ser pior tratados, nalguns casos, do que os da URSS, quando esta existia. É que a campanha continuada dos media corporativos, juntamente com a aprovação, em grande parte do público, das discriminações a pretexto de COVID e o infame passe vacinal, vieram mostrar que os governos ocidentais podiam avançar com este autoritarismo, deixando intacta a letra da lei, para a esvaziar do seu conteúdo, impondo novas realidades sociais e políticas, em seus respectivos países. Isto foi analizado por Hannah Arendt, há quase um século. Porém, os que se reclamam de esquerda, anti-fascistas, etc, estão completamente olvidados da análise que ela fez dos totalitarismos.
É que estes «esquerdistas» também são autoritários; são adoradores do Estado. Eram eles, que achavam que as medidas de «lockdown» e a imposição do passe vacinal, não apenas eram justificadas em nome da «saúde pública», como queriam mais energia e celeridade na sua implementação.
De facto, os liberais genuínos, os libertários, os anarquistas pacifistas e outros não-autoritários, já estão completamente excluídos do discurso público, que se tornou num discurso meramente do poder, com várias cambiantes, para dar ilusão de democracia. 
Não sei até onde a ausência de vergonha, a hipocisia e o puro sadismo poderão chegar, mas podemos ver o paralelo histórico da instalação das ditaduras totalitárias do passado onde, após o esmagamento da oposição (quer na Alemanha de Hitler, quer na URSS de Estaline), aumentou o nível de repressão feroz, indiscriminada e sem qualquer preocupação em guardar as aparência da legalidade. Nas ditaduras «vulgares», tais regimes, depois de terem triunfado, de terem consolidado a sua vitória, vão querer dar uma aparência de respeito pelos direitos humanos, de tolerância, etc. Mas, nos regimes totalitários, uma vez consolidado o poder, a repressão é intensificada, como nunca antes. Isto é um facto que se tem observado repetidas vezes, que os dissidentes de hoje terão de ter em conta. 
Esperemos que tal não aconteça, mas não sejamos ingénuos ao ponto de acreditar que a salvação esteja nos bandidos de um bando,  que eles se vão arriscar a derrubar os do outro bando, sobretudo quando estão a beneficiar do estatuto de «oposição» tolerada, construtiva, etc. dentro do regime!
No plano mundial, teremos uma polarização, do «império ocidental» sob a garra reforçada dos EUA, enquanto no «império oriental», a China dominará a Rússia. Isto será consequência da Rússia ter sido expulsa violentamente da esfera internacional e diabolizada pelos europeus.

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*Sim, a NATO aceitou no seu seio o regime fascista de Portugal, a tal estrutura atlântica destinada a defender as democracias contra o comunismo totalitário!

12 comentários:

Manuel Baptista disse...

Cailtin Johnstone num artigo muito bem documentado, diz aquilo que é preciso reafirmar perante a histeria dos ocidentais. Leia: https://caitlinjohnstone.com/2022/03/06/ukraine-is-a-sacrificial-pawn-on-the-imperial-chessboard/

Manuel Baptista disse...

Uma fonte credível, não comprometida com um ou outro lado.
https://www.youtube.com/watch?v=wDsWLnfoObY

Manuel Baptista disse...

CJ Hopkins; um autor imprescindível, pois repõe as coisas no seu sítio! Leia:
https://cjhopkins.substack.com/p/revenge-of-the-putin-nazis

Manuel Baptista disse...

E se a avalanche de sanções contra a Rússia fosse um enorme tiro no pé de quem as decretou?
E se a Rússia ficasse mais forte, como já aconteceu na sequência de 2014, construíndo a sua autonomia alimentar e noutros sectores, assim como um aprofundamento da ligação à China?
http://thesaker.is/america-shoots-its-own-dollar-empire-in-economic-attack-on-russia/

Manuel Baptista disse...

Philip Giraldi põe em contexto esta guerra, recordando os episódios longínquos e próximos que deveriam ser do conhecimento de qualquer que escreva sobre a Ucrânia:
https://www.unz.com/pgiraldi/who-wants-war-with-russia/

Manuel Baptista disse...

O congelamento do petróleo russo e as consequências para a Europa

https://odysee.com/@AlexanderMercouris:a/oil-price-surges-as-bllinken-floats:e

https://www.moonofalabama.org/2022/03/to-punish-russia-the-liberal-order-attempts-to-suicide-itself.html#more

Manuel Baptista disse...

Austrália e outros países pró-americanos deitaram fora toda a hipocrisia e fazem censura total, veja: https://caitlinjohnstone.com/2022/03/08/australian-government-sanctions-people-for-sharing-unauthorized-thoughts/

Manuel Baptista disse...

https://off-guardian.org/2022/03/08/timeline-the-crimean-referendum/
Ver acima, uma cronologia de como a Crimeia se afirmou repetidas vezes independente de Kiev e como o referendo para reunificação com a Rússia não deixou dúvidas, incluive a observadores ocidentais. Pense que os media ocidentais sabem isto tudo, mas omitem, distorcem e mentem para agradar aos seus governos.

Manuel Baptista disse...

Os americanos apenas conseguem a colaboração para as sanções contra a Rússia, dos seus aliados da NATO e dos «Five Eyes» (Austrália, Nova Zelândia, Canada, Reino Unido e EUA). Veja o artigo abaixo:
https://www.moonofalabama.org/2022/03/the-sanction-backlash-will-push-the-west-to-accept-russias-demands.html#more

Manuel Baptista disse...

A falsificação do real joga em pleno numa guerra. Mesmo antes dela se iniciar, com tropas e canhões, já a verdade está moribunda: https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2021/12/falsificacao-do-real-enquanto-estrategia.html

Manuel Baptista disse...

https://www.moonofalabama.org/2022/03/challenge-response-how-russia-is-countering-western-moves-against-it.html#more
Tud se encaminha para uma fratura entre o Leste e Ocidente, sendo a linha divisória a Rússia, Bielorússia e partes da Ucrânia (talvez mais que as Rep. do Donbass). Do outro lado estarão países limítrofes Bálicos, a Polónia, a parte da Ucrânia que restar, a Roménia e Bulgária, além da Turquia.
Vai ser uma extensa zona de fricção, tanto mais que os conflitos étnicos são muitos e cicatrizes de guerras passadas são frescas. Mas, a zona não europeia da Rússia, em combinação com a China e rep. da Ásia Central, irá ter um desenvolvimento - com ou sem sanções - muito grande, devido ao dinamismo da economia chinesa. Ela precisa das matérias-primas e combustíveis da Rússia.

Manuel Baptista disse...

Estamos a assistir em direto ao fim da globalização:
https://www.armstrongeconomics.com/international-news/britain/liz-truss-becomes-pm-dark-day-for-britain/