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terça-feira, 11 de outubro de 2022

Crise energética na UE e oportunidade para os EUA...

 ... de que falava Blinken: Sim, é uma oportunidade para o business americano, sem dúvida. 

O Gás Natural Liquefeito (LNG na sua sigla em inglês) é obtido, nos EUA, a partir de depósitos de gás de xisto. A indústria de produção de petróleo e de gás de xisto apresentou-se primeiro como um grande negócio e muitos investiram nas ações das empresas do xisto. 

Porém, a enorme dívida que se acumulou no setor, tornou-o pouco rentável ou mesmo não rentável. O segmento menos rentável era justamente relacionado com a extração e todo o processamento que leva ao LNG. Com a agudização da crise ucraniana, os poços de gás de xisto e as respetivas empresas tornaram-se de novo rentáveis. 

A garantia de um mercado cativo, o dos súbditos europeus, permite tornar rentável algo que raramente ou dificilmente o podia ser. Com efeito, as operações de compressão e  liquefação do gás natural são onerosas e gastam energia! A armazenagem do LNG, o transporte em navios-cisterna especialmente desenhados para o efeito, a necessidade de instalações portuárias especiais, tanto nos portos de origem como de destino, tornam a margem de lucro destas operações muito pequena.

O processo só pode ser rentabilizado com um preço de monopólio, ou seja, se os compradores estiverem obrigados a abastecer-se de gás natural (LNG) proveniente dos EUA e não da Rússia. 

O atentado terrorista dos gasodutos Nord Stream encontra aí o beneficiário do crime. Os executores podem ter sido, além dos americanos, os britânicos  também, pois estes tinham a motivação, o interesse e a capacidade técnica para isso. Também podem ter colaborado ativamente  os noruegueses e os polacos, que estavam quase a estrear a entrada em funcionamento doutro gasoduto, trazendo gás natural da Noruega para a Polónia. Lembro que são países inteiramente «fieis» à NATO. 

         Reprodução do selo «comemorativo» do atentado contra a ponte da Crimeia.

É bem possível que vários outros países tenham participado, pois as águas onde se deu o atentado são constantemente vigiadas por satélite, por dispositivos de sonar, por câmaras submersas etc., para impedir que qualquer submarino russo possa atravessar essas águas sem ser detetado. Este sistema apertado e sofisticado não podia ser iludido nem pelos russos, nem por ninguém. Logicamente só dando o conhecimento prévio aos países (da NATO) vizinhos (Dinamarca, Alemanha, Suécia e Polónia) esta sabotagem poderia ter sido levada a cabo, não fossem os «sabotadores legítimos» ser confundidos com os mauzões dos russos. 

De qualquer maneira, este atentado não foi isolado. Lembro a frequente utilização da central nuclear de Zaporozjnie (ocupada pelos russos) como alvo dos mísseis ucranianos, arriscando um acidente nuclear com disseminação  de radiatividade no ar e nos rios. Houve também uma central em território russo, que foi alvo de tentativa de sabotagem por parte dum comando ucraniano. 

O atentado contra a ponte que liga a província russa da Crimeia à parte continental da Rússia foi endossado pelo governo e serviços secretos ucranianos. Ele não foi a única causa de retaliação dos russos. Poucas horas depois, houve uma barragem de mais de 70 mísseis russos contra alvos governamentais em Kiev e noutras cidades da Ucrânia. Também foram destruídas centrais elétricas e centros de retransmissão de energia elétrica. 

Os russos deram um claro sinal ao governo do «Banderastan» e às forças políticas que o apoiam, que são teleguiados pelo Pentágono, pela CIA e pelo Departamento de Estado do Tio Sam (juntamente com outros comparsas da NATO). 

 Pelo menos, desde o atentado - por uma agente dos serviços secretos ucranianos - que vitimou  Daria Dugina perto de Moscovo (início de Agosto), os ucranianos intensificaram sabotagens em solo russo e bombardeamentos contra a república do Donestsk, em zonas urbanas sem interesse militar, causando muitos mortos civis. 

Se os americanos, usando os seus fantoches de Kiev, estavam convencidos de que iriam poder continuar com estes atos de terror impunemente, eles iriam redobrar de audácia e criminalidade. 

No geral, muitos países que não estão debaixo da tutela americana percebem as razões que assistem à Rússia, a qual teve (e tem) uma ameaça existencial às suas portas, desde 2014, desde o golpe de estado, cozinhado pela administração americana e vários países da UE.

Pode dizer-se que - na guerra pelos recursos energéticos - a húbris de americanos e outros ocidentais, faz com que estes acabem por perder. Por exemplo, o projeto petrolífero na península de Sakalina, no extremo oriente russo, já não terá a participação de 30% da Exxon-Mobil. Os russos convidaram a Índia a tomar o lugar dos americanos. 

Os países da OPEP irão reduzir a sua produção em 2 milhões de barris diários. Eles argumentam que precisam de sustentar os preços. No entanto, nunca se tinha visto a Arábia Saudita dizer «não» aos americanos, seus protetores e fornecedores de armas. Os americanos estão furiosos e dizem que agora a Arábia Saudita está a «fazer o jogo dos russos». 

O Império não consegue manter sua hegemonia, nem sequer consegue fazer-se respeitar. Mesmo entre os seus vassalos mais submissos, como vários países da NATO, têm uma cidadania que já acordou e compreende que tem sido instrumentalizada por mentiras, contra os seus próprios interesses vitais. 

Os dirigentes destes países só têm duas saídas possíveis: 

- Eliminam ou flexibilizam as sanções, como a Hungria, a Bulgária e agora a Itália, que não deseja com certeza «suicidar-se» para agradar aos americanos... 

- Ou então, vão continuar a política cega contra a Rússia, como fazem o Reino Unido e outros, com o risco do povo perder a paciência e derrubar o governo. 

Aliás, as cidadanias alemã e checa têm demonstrado recentemente que não se identificam com a política dos seus respetivos governos, em relação às sanções contra a Rússia. 

Ângela Merkel, líder de partido conservador e chanceler alemã durante dez anos, teceu fortes críticas à maneira como as relações com Moscovo têm sido levadas a cabo pelas diplomacias do seu país, da UE e dos EUA. 

Espero que os dirigentes europeus, pressionados pelos eleitores, encontrem um caminho para negociar a paz com a Rússia. 

O governo da Ucrânia é totalmente fantoche. Zelensky até sugeriu aos países da NATO que façam uma escalada, usando mísseis nucleares contra a Rússia. É um sociopata perigoso, pois não está preocupado com a aniquilação dos povos, incluindo do seu próprio. Está convencido de que irá sobreviver, num cenário destes. Está tomado pelo «papel de herói»  (de mau ator teatral), querendo que o seu povo e o mundo tomem como verdade a ficção grotesca que ele encarna.

PS1: Um dos números de Zelensky ator!

https://www.armstrongeconomics.com/international-news/ukraine/zelensky-profiting-from-the-war/

PS2: Biden e seu governo devem achar que os europeus são muito estúpidos! Veja: https://www.youtube.com/watch?v=LIg_bluzx_s&feature=youtu.be


PS3: A Alemanha está a jogar cavaleiro solitário, no que toca à crise energética. Ela arrisca causar uma quebra na UE: 

https://www.youtube.com/watch?v=c5SLK_ywJb8


PS4:  Vê este vídeo bem documentado 

https://www.youtube.com/watch?v=zIF2MCGBNOI


segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

BLACKMAIL

 Segundo o pensamento das elites de Washington, para que o império EUA mantenha a sua hegemonia, precisa de inviabilizar a subida de qualquer poderio rival que possa colocar em risco essa hegemonia. É esse o caso da Rússia e da China, segundo os imperialistas americanos. Simples e direto, este raciocínio é falso e especioso. É basicamente erróneo, porque nunca nenhum poder, por maior que fosse, foi detentor duma hegemonia em todo o planeta. Querer isso, é um sonho megalomaníaco, que apenas o Império Britânico, onde «o Sol nunca se punha», tentou (e falhou), durante um período relativamente curto, menos de um século. Os poderes europeus, na sua expansão imperialista e colonial, entraram numa rivalidade mais acesa no século XIX, ao ponto de desembocarem na Iª Guerra Mundial, em 1914.

O sonho imperial de hegemonia planetária está decisivamente posto em causa pela subida em potência da China e da Rússia, aliadas e em sintonia, para enfrentar os ataques raivosos dos governos de Washington e das «repúblicas das bananas», em que se transformaram os países europeus, mesmo os mais ricos e com passado «glorioso». 

Em termos económicos e no longo prazo, os dois gigantes do Continente Euroasiático e seus aliados, estão preparados para enfrentar as mais drásticas sanções que os EUA e o «Ocidente» se lembrem de lançar. De facto, as sanções atualmente em vigor, lançadas com pretextos falaciosos, apenas tiveram efeitos nefastos para as economias europeias. Estas, ficaram com menos mercados para aí colocarem os seus produtos, ficaram também com menos matérias-primas para suas indústrias e carentes de componentes de alta tecnologia, como os «microchips», fabricados quase exclusivamente na China e fornecendo a indústria automóvel e de eletrodomésticos. O embargo de produtos agrícolas à Rússia teve como resultado o desenvolvimento rápido da agricultura russa, fazendo dela um setor exportador, além de ter atingido a autossuficiência no setor alimentar. Pelo contrário, as proibições de exportação para a Rússia, liquidaram muitas pequenas e médias empresas agrícolas europeias. Tiveram especial dureza nos países da orla do Mediterrâneo (exportadores de fruta e legumes frescos).

A fabricada «ameaça de invasão» da Ucrânia pelo exército russo, já tratada por mim detalhadamente noutro artigo  deste blog, tem como única razão de ser, que os americanos temem - acima de tudo - a independência energética dos alemães. 

Com efeito, a Alemanha possui um nível científico e tecnológico muito elevado,  e conservou sua infraestrutura industrial, ao contrário doutros países europeus que a exportaram largamente para o Extremo-Oriente, em particular. Por estes motivos, a Alemanha será, provavelmente, o poder dominante no século XXI, na Europa. Ora, para o imperialismo dos EUA, isso não será nada favorável: Na Alemanha está estacionado (desde o fim da IIª Guerra Mundial) um exército de ocupação americano, essencial para o dispositivo hegemónico no coração da Europa. Mas, nenhuma potência de primeira grandeza ficará satisfeita de ter um corpo estranho permanentemente estacionado no seu território, com as consequências políticas, económicas e de autonomia que isso implica.

A questão do «Nord Stream 2» é - portanto - o fator que está por detrás de toda a histeria fabricada em torno do «perigo» russo, da sua preparação da invasão da Ucrânia, que nunca foi, nem será efetiva, como já demonstrei anteriormente.

O jogo dos EUA é, antes de mais, um jogo de pressão destinado aos «aliados/vassalos» europeus, em particular, sobre os alemães. Do ponto de vista económico, a Rússia está pouco interessada em vender o seu gás natural à Europa. Ela tem um mercado sempre aberto e voraz em recursos energéticos, na China. Ela não terá problemas em colocar aí o seu gás natural, caso os europeus não o comprem. Pelo contrário, estes têm tudo a perder: um abastecimento regular e garantido, com preços estáveis, resultantes de contratos a longo termo. 

Sem isso, será impossível a Europa cumprir a severa transição energética, que a si própria impôs. Não vou aqui discutir se foram sábias, ou não, as decisões políticas e económicas dos governos europeus. Apenas constato que a transição para uma energia menos poluente (eliminação do carvão como fonte de alimentação de centrais elétricas, entre outros objetivos), fica posta em causa, se a Europa não puder contar com o gás russo, no período de transição. 

A referida transição tornou-se mais difícil, pela decisão de desativar as centrais nucleares, um pouco por todo o lado, na Europa, mas em particular, na Alemanha. Foi uma decisão precipitada, motivada, não pela necessidade, mas pelas agendas eleitorais na Alemanha e em vários outros países. 

Todos nós já sabemos que as energias eólica e solar não são operacionais, se não existir outra fonte de energia de produção constante, alimentando a rede elétrica. Por definição, nem as eólicas nem os painéis voltaicos, podem jamais ser fontes constantes. Também não existe qualquer processo pouco dispendioso de armazenar grande quantidade de energia duma fonte intermitente (como são as energias solar e eólica). Portanto, só a energia nuclear ou o gás natural poderiam fornecer a base de estabilidade para as redes de energia elétrica, aquando dos picos de consumo (ou quando é noite, ou quando não há vento).

A «solução» americana, de fornecer à Europa (no caso desta renunciar ao Nord Stream 2) gás de fracking, através da sua liquefação e envio em grandes navios-tanques, é uma «pseudo-solução». Envolve compressão, confinamento em tanques capazes de sustentar uma grande pressão, deslocação em navios-tanques, os quais têm de ter determinadas características. Todas as infraestruturas portuárias e todas as outras componentes do processo terão de ser construídas especificamente para este fim. O resultado é que a montagem do dispositivo  e a operação do mesmo, irão encarecer o produto. O envio de gás por gasoduto, é incomparavelmente mais barato e mais seguro. 

São dois, os motivos que levam os americanos a tentar impor aos europeus a renúncia ao «NS2» e ao gás russo: 

-Querem «desencravar» a indústria do fracking que está em crise: O preço do gás não cobre as despesas de exploração dessas empresas. Estas empresas que exploram o gás de xisto, fizeram empréstimos, sobre empréstimos que foram «segurados» pelos bancos. Estes, por sua vez, venderam esta dívida a clientes, tal como tinham feito com as hipotecas «subprime». A única maneira das empresas de fracking pagarem os empréstimos, é tornarem-se rentáveis, coisa que até agora não provaram sê-lo. Por razões ideológicas, não creio que o governo dos EUA vá subsidiar diretamente o setor do fracking.  Portanto, os vassalos europeus, quer gostem ou não, serão forçados a tornar viável este setor energético dos EUA, que é um enorme buraco, um péssimo investimento. 

- Querem partir a Europa em duas metades assimétricas; a metade que lhes é submissa, totalmente separada da Rússia europeia que é uma fatia muito grande da Europa. Lembremos que esta se estende do Atlântico aos Urais! A necessidade de terem a Rússia como inimiga é, sobretudo, a de terem na mão os seus aliados (súbditos) da Europa ocidental. Poucas pessoas sabem que a Rússia de hoje, apesar de ser um gigante, em termos de área, tem um PIB da mesma ordem de grandeza que uma Itália! Por isso, a estratégia americana é simples; trata-se de manter a tensão nas fronteiras europeias da Rússia, para que se eternize a NATO. Se esta se mantiver, a Europa continuará firmemente sob o controlo da «Nação indispensável» (Barack Obama dixit).

Não é nada difícil compreender - neste imbróglio relativo à «invasão» da Ucrânia - o seu papel de propaganda, de manobra de diversão: Trata-se de dissipar o efeito, nos aliados europeus da NATO, da posição russa de exigir uma negociação séria, para obter garantias sólidas quanto à sua segurança própria e dos seus vizinhos. Os europeus (de todas as nações) só teriam a ganhar com tal abertura de negociações diplomáticas, com vista à obtenção, para a Europa no seu todo, de garantias de estabilidade, tanto em termos militares, como políticos e económicos. Isso não poderá jamais agradar aos imperialistas americanos! 

Em primeiro lugar, ficaria claro que não é assunto deles, não têm legitimidade para se sentarem à mesa das negociações: não tem a ver com as fronteiras americanas, nem diz respeito às relações com os vizinhos dos EUA. Em segundo lugar, poderia desembocar na desativação da NATO, substituída por uma estrutura não-militar, mas diplomática. Essa estrutura iria debruçar-se sobre conflitos pendentes e sobre os futuros. Teria a função de encontrar vias para uma resolução pacífica, diplomática, dos mesmos. Talvez bastasse darem mais operacionalidade à OSCE.

Um «capo» da Máfia nunca vai aceitar que os seus «protegidos» se organizem fora da sua «proteção» (ou racket). Quanto tempo demorará a Europa a libertar-se deste «padrinho»? 

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PS1: Veja o vídeo de entrevista de «Grayzone» AQUI

PS2: Artigo de Mike Whitney extremamente bem documentado e demonstrando o absurdo da política americana em relação à Rússia, agora e desde o fim da Guerra Fria: https://www.unz.com/mwhitney/moscow-to-washington-remove-the-nukes-on-our-doorstep-and-stop-the-eastward-push/

PS3: Hoje 02/02/2022, síntese magistral sobre a crise Rússia/ EUA/NATO/Ucrânia https://www.paulcraigroberts.org/2022/02/02/the-world-needs-a-russian-chinese-pax-romana/ 

PS4: Artigo «How NATO Empire-Building set stage crisis over Ukraine» está escrito na perspetiva do constitucionalismo e dos valores tradicionais da América. É uma crítica contundente da geopolítica e política externa levadas a cabo pelos EUA desde o colapso da URSS. https://www.zerohedge.com/geopolitical/how-nato-empire-building-set-stage-crisis-over-ukraine

PS5: Este artigo descreve o jogo geopolítico americano, ao longo dos anos, em relação ao gás natural russo, importado pela Europa desde os anos 60.  https://www.zerohedge.com/geopolitical/pipeline-politics-hits-multipolar-realities-nord-stream-2-ukraine-crisis

PS6: Maria Zakharova põe a claro a situação de vassalos dos países europeus da NATO, em particular da Alemanha, face aos EUA. O que também eu tinha escrito há um mês. Qualquer pessoa não-mentecapta sabe que é assim. https://www.rt.com/russia/548712-germany-occupied-us-nordstream-zakharova/

PS7: Mike Whitney  «In a world where Germany and Russia are friends and trading partners, there is no need for US military bases, no need for expensive US-made weapons and missile systems, and no need for NATO.» https://www.unz.com/mwhitney/the-crisis-in-ukraine-is-not-about-ukraine-its-about-germany/ 

PS8: Conforme o artigo de Pepe Escobar, a guerra da energia segue o seu caminho, conforme eu previra há mês e meio!