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domingo, 21 de janeiro de 2024

O SÉCULO DA DERROTA DO OCIDENTE

 Como qualquer poder imperial que tenha tido no passado uma expansão, o poder dos EUA, que é designado eufemisticamente por «Ocidente», está agora em declínio acelerado. Não será como a implosão da URSS, um colapso súbito, será antes um progressivo desmembrar das estruturas internas e internacionais que mantinham o sistema coeso. Esta progressiva perda de prestígio e de influência, são característicos de um Império em decadência. Esta, pode durar varias dezenas, ou mesmo, centenas de anos, nalguns casos. Mas, qualquer que seja o ritmo a que se produzem os fenómenos, eles são caracterizados por um abastardar dos valores. Contrariamente ao que uma mente imbuída de materialismo mecanicista poderia imaginar, aquilo que começa a enfraquecer, não são as estruturas materiais: as bolsas ocidentais podem continuar durante algum tempo a alimentar a ilusão de riqueza, as forças armadas do Império não deixam de ter um potencial de ataque e de destruição considerável, as sociedades  - elas próprias - não deixam de funcionar, por vezes com disfunções graves mas, no conjunto, mantendo uma aparência de normalidade. 

Não; aquilo que enfraquece de forma irreversível, é o aspeto moral ou ético; é o recuo do respeito pela legalidade; é a ausência de freio moral, sobretudo das classes dirigentes, o que se repercute em todos os níveis da sociedade;  é o abastardar das formas de representação da vontade popular; é a transformação de sociedades «liberais», em sociedades policiais, não se distinguindo o comportamento das suas polícias e dos seus tribunais, dos órgãos dos Estados que, no presente ou no passado, são classificados como «totalitários»; sobretudo, trata-se -da parte dos poderes- de impor a violenta opressão sobre os não-privilegiados, através da guerra, que serve às mil maravilhas para projetar os lucros dos consórcios militar-industriais-financeiros-tecnológicos, assim como de pretexto para a vigilância generalizada dos cidadãos; é a ocasião, sonhada pela oligarquia, para fazer passar leis que visam claramente criminalizar as dissidências.  

Quem não está plenamente a  compreender o que se passa agora, ainda está  tempo de o fazer.




Numa entrevista muito esclarecedora, Jacques Baud, antigo membro dos serviços de segurança da Suíça, foi entrevistado em TV Libertés. Nesta, ele descreve o conjunto de erros que o «Ocidente», ou seja, os poderes nos referidos países ocidentais, cometeram na avaliação da situação da Ucrânia, da Rússia e deles próprios. Seguiu-se uma dinâmica nada saudável de persistência no erro: como se o facto de se ser teimoso, pudesse magicamente reverter o erro, pudesse originar uma estratégia bem sucedida. 

O segundo elemento, é o livro de Emmanuel Todd, um conhecido geógrafo, demógrafo, analista das sociedades francesa e europeia, que escreve um livro que já é um marco inevitável no debate político e geopolítico, não apenas na sociedade francesa, como internacionalmente. Não tive ainda ocasião de o ler, mas compreendo, através daquilo que nos diz Pepe Escobar (e outros), que estamos perante o diagnóstico inapelável da decadência do Ocidente. Esta decadência é espelhada através da derrota militar, estratégica, moral e ideológica, do chamado «Ocidente» que, no espaço curto do século XXI, perdeu todo o potencial de simpatia e de possibilidade de encetar uma era de paz e de cooperação com outros poderes económicos e militares. Os governos americanos sucessivos, efetivamente controlados pelos neoconservadores - figuras pouco conhecidas, mas com muita influência na condução das políticas da Casa Branca - deixaram-se enredar na dialética duma nova guerra fria, que eles não poderão «vencer». 

Aliás, a Guerra Fria nº1, não foi o triunfo do poderio americano, antes pelo contrário, pois se tratou de uma implosão - portanto, a partir de dentro - da URSS e do sistema do Pacto de Varsóvia, porque os próprios dirigentes destes Estados compreenderam que o sistema de governança ao qual presidiam, não era sustentável, que estava condenado a ficar cada vez mais para trás na competição tecnológica com os EUA e o Ocidente, portanto, também na inovação nos sistemas bélicos, estreitamente associados às inovações tecnológicas nos campos da informática, da robótica, das tecnologias informação, ou seja, na ciência e tecnologia em geral.

Agora, o comportamento do Ocidente, prevejo, será de tentar cativar os Estados e respetivos povos, que estavam na sua orla e que tentavam não cair na dependência, de uns ou de outros. Nestes casos, prevejo que tentem a técnica da «cenoura ou do pau»: a cenoura de acordos bilaterais, o pau das sanções económicas, seguidas da força militar bruta, caso necessário.   Nos países vassalos dos EUA, pelo contrário, vai haver uma  desaparição da democracia, mesmo da democracia truncada, que existiu desde a segunda metade do século passado. Os povos não serão fáceis de vergar, porque têm um nível geral de educação que torna a propaganda terrorista dos media corporativos menos eficaz. Não se pode enganar um povo permanentemente, com mentiras sucessivas que logo se revelam como tais; uma tal circunstância não pode durar pois que, uma vez que o povo compreende como foi manipulado, é praticamente «imune» às novas campanhas de manipulação de massas. Quando o engano não já funciona, então entra o medo, ou seja, a repressão a quente, já não a supressão seletiva das vozes dissidentes, mas campanhas violentas, ao estilo dos piores regimes totalitários que a humanidade conheceu.

 Finalmente, aquilo que sobressai do panorama atual é que a civilização judaico-cristã, tal como existiu desde a queda do Império Romano até hoje, está ferida de morte. Ela não pode sobreviver aos «mil ferimentos» que são constantemente produzidos, não apenas pelos seus inimigos, como - sobretudo - pela ausência de  discernimento de altos dirigentes dos Estados, quer sejam governos ou Estados-Maiores das forças armadas. A somar a isto, dá-se uma recente e violenta negação dos valores de defesa dos direitos humanos, da liberdade, da democracia, apregoados pelos governos, embora não fossem cumpridos. As situações tornaram-se tão conspícuas que, nem mesmo uma espessa camada de propaganda, pode ocultar a verdade de que à pequena elite, só lhes interessa o poder. Esta elite, para o manter, não hesita em sacrificar centenas de milhares de vidas inocentes e em destruir a hipótese das vítimas sobreviventes poderem ter uma pátria, onde levassem uma vida decente: isto tanto se aplica à Palestina como à Ucrânia.

Não creio que esta fase, de «Guerra Fria 2.0», possa durar: Ela será instável, pois não haverá «equilíbrio do terror», como no tempo da URSS. Haverá sim, um conjunto de ações de destabilização de parte a parte que, ou se resolverão pelo desmantelamento do presente sistema geopolítico, ou talvez ocorra uma fragmentação que inviabilize a tomada de poder por qualquer entidade estatal ou supra-estatal, ao nível mundial. Dada a existência de atores sociopatas na cena mundial, dado o facto deles estarem nas mãos de poderosos lóbis, não se pode excluir, em alternativa, o cenário seguinte: Uma fuga para a frente duma psicopática e aventureira «elite» ao comando de algum Estado, que desencadeie uma guerra nuclear. Isto não está fora dos possíveis. 

terça-feira, 30 de maio de 2023

CRÓNICA ( Nº13 ) DA IIIª GUERRA MUNDIAL

      Trabalhadores completam uma ponte, simbolizando as novas rotas da seda em Pequim

Pepe Escobar:

 https://sputnikglobe.com/20230526/pepe-escobar-eurasian-heartland-rises-to-challenge-the-west-1110600622.html


Quem assimilou a «Arte da Guerra» de Sun Tzu, sabe que a melhor maneira de vencer é não ter que dar combate. Traduzindo e explicitando em pormenor: tornar evidente aos olhos dos adversários, que encetar combate equivale a ser destruído, derrotado, esmagado sem apelo. 

Também é necessário retirar aos chefes da potência adversária todo o desejo e possibilidade prática de, num gesto de desespero, se lançarem numa luta suicida. É fútil esgrimir com força superior, formada por uma coligação de forças bem equipadas, bem treinadas, bem resolutas, que não se deixam dividir por intrigas. 



Em complemento VEJA O VÍDEO SEGUINTE, QUE RESUME MUITOS ASPETOS DA COMPETIÇÃO ENTRE OS EUA E A CHINA:


... E o testemunho de um jornalista que esteve perto da frente de combate de Bakhmut...


 PS1: Há aqui um fator de autoderrota. No futebol, chama-se «golo na própria baliza», mas não é apenas «um golo»; são muitos. 
Todas as pessoas que observam a geoestratégia mundial concordam que tudo aponta para o descalabro do Império. 
É como uma doença escondida que se desenvolve durante anos,  sem sintomas significativos. Mas, quando começa a ser sintomática, é uma devastação na Administração do Estado, nas Forças Armadas, na economia, na liderança política. Leia:

sábado, 11 de fevereiro de 2023

A DESDOLARIZAÇÃO ACELERA-SE

Segundo as últimas notícias, veiculadas por Pepe Escobar, os sistemas de pagamento bancário do Irão e da Rússia estarão em direta interação, em breve, formando uma plataforma imune às intervenções de guerra económica, que os EUA - pretensos «donos do mundo» - quiseram impor.  

Outro sinal claro de desdolarização, é o acordo firmado entre o Banco central da China  e o do Brasil: Estas instituições assinaram um memorando de cooperação permitindo a utilização do RMB (renminbi, o «dinheiro do povo» ou yuan). Isto vai fazer com que avancem significativamente e na prática, os acordos de investimento e cooperação. Mais um passo para a internacionalização do RMB, com a diminuição correlativa da fatia de trocas comerciais efetuadas em dólares.

Como eu tenho afirmado aqui, nestas páginas, o processo da guerra global que podemos chamar a IIIª Guerra Mundial, ocorre em vários planos, desde a parte propriamente militar, até À RÁPIDA TRANSFORMAÇÃO DA PAISAGEM MONETÁRIA, ENTRE OS PAÍSES NÃO TOTALMENTE DEPENDENTES DOS EUA. Note-se, que isto inclui países como a Arábia Saudita e as monarquias do Golfo.

Mesmo países com fortes laços com os EUA, como a Coreia do Sul, são obrigados - em função do contexto global no qual estão inseridos - a não alinharem com os EUA no que toca às sanções, pois isso iria afetar diretamente a sua indústria. 

Não me surpreendem nada estes desenvolvimentos, tenho escrito sobre eles, em várias ocasiões. O que me surpreende é miopia dos poderosos, desde banqueiros até aos generais que, no centro do dispositivo imperial, dispõem de todas as informações e podem fazer uma avaliação realista da situação que eles próprios criaram. Não acredito que eles tenham uma ideia clara do que têm estado fazer. 

De facto, têm estado a dar múltiplos tiros pela culatra (ou no pé). Penso que perceberam já a acumulação de erros estratégicos, que têm levado o Império do Dólar à situação presente. Acredito que, perante este panorama, decidiram fazer «como se», perante as massas dos países que controlam, a começar pelos próprios cidadãos americanos. 

Os povos do chamado «Ocidente» têm sido  sujeitos a uma dose de propaganda impressionante. Alguém que acredite integralmente na paisagem política, económica e militar que é veiculada pela  media  ocidental, é como se estivesse num universo paralelo. Haverá alguns ainda sob essa ilusão, mas muitos outros, embora já tenham descolado do tecido de mentiras propalado pelas fontes nas quais confiavam, estão ainda desprovidos de instrumentos conceptuais para perceberem realmente o que se está a passar.  

segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

«IN GOD DOLLAR WE TRUST» ?

 

                                    Nova Iorque: Empire State Building visto no ocaso


                       Gráfico retirado dum artigo de A. Mcleod, que pode consultar AQUI

Nós somos matraqueados permanentemente com a «força do dólar», em relação às outras divisas ocidentais, pelo menos, as que têm maior peso tanto no comércio, como enquanto membros de SDR,  a famosa «divisa» artificial, que é (de facto) um cabaz de divisas, usado na contabilidade interna do FMI.  Mas, o comércio e a participação dos países nas trocas globais não se resume ao «Ocidente». Este conjunto de países é denominado assim, embora devessem ser designados por aquilo que - de uma forma, ou de outra - são: Constituem os mais fieis aliados (ou vassalos) dos EUA; os países de língua inglesa (Austrália, Nova Zelândia, Reino Unido, Canadá e EUA), a Europa da União Europeia, o Japão, a Coreia do Sul e pouco mais (cerca de 15% da população mundial).

O sistema de Bretton Woods, foi instaurado quando os EUA eram a potência tecnicamente vencedora da 2º Guerra Mundial. A URSS e muitos outros países que lutaram contra as potências do Eixo (Alemanha hitleriana e potências suas aliadas) estavam de rastos. A sua vida económica e social sofreu de tal maneira, que não estavam muito melhor que os países vencidos (Alemanha, Japão, Itália, e outros.)

Assim, quando foram assinados os acordos de Bretton Woods em 1944, e nos anos imediatos, os EUA dominavam o comércio mundial (cerca de 50% deste), possuíam a maioria das reservas de ouro em bancos centrais (cerca de 70 % do ouro guardado nos bancos centrais) e tinham uma infraestrutura industrial intacta e em plena expansão. 

Um sistema de Bretton Woods não poderá voltar a ser reinstalado, não porque seja impossível reinstaurar um padrão-ouro (embora seja uma má solução), mas porque não existe nenhuma potência com o poderio hegemónico dos EUA à saída da IIª Guerra Mundial.

Um futuro multipolar será sempre mais instável, que um futuro unipolar. Mas, um sistema global unipolar não dará a um conjunto de países, possuindo a maioria da população mundial e dos recursos em matérias-primas, a possibilidade de fazerem valer os seus interesses e de poderem negociar em termos aceitáveis, a sua participação no comércio, no investimento e na repartição do bem-estar individual e social, ao nível mundial. Por muito injusto que seja um mundo multipolar, como o foi em diversos períodos da História, para aqueles povos submetidos a um império ou a uma nação mais forte,  nada se compara com a força bruta e a ausência total de consideração pelos direitos e pela dignidade dos mais pobres, num império mundial único, hegemónico. 

O império liderado pelos EUA tem demonstrado isso, neste pequeno intervalo de tempo, que vai da implosão da União Soviética (1991), até hoje. No entanto, reveste o seu desprezo absoluto, com a hipocrisia típica da civilização de comerciantes, aventureiros e donos de escravos - que foram os impérios Português, Espanhol, Britânico, Holandês - especializados na guerra de razia e de rapina, que foi o modo como se expandiram e enriqueceram estas potências coloniais desde o século XVI até hoje. 

Não é por o comércio internacional ser feito em tal ou tal unidade de valor, vulgo «moeda», que a troca é mais ou menos desigual. Desde Ricardo, que se reconhece que determinadas nações têm determinadas vantagens competitivas, no comércio internacional, em relação a determinados produtos industriais, agrícolas ou minerais. É sobretudo o preço do trabalho que conta, por agregado. Assim, os países onde o trabalho é mais barato, foram aqueles que receberam as indústrias deslocalizadas dos países industriais tradicionais, os países europeus ocidentais e os EUA, sobretudo. 

Mas o globalismo, ideologia associada ao neoliberalismo, está completamente posto em causa. Este globalismo «reinou» durante um curto período, em que as potências industriais europeias e norte-americanas exportaram as suas indústrias para beneficiarem da mão-de-obra barata dos países ex- coloniais, ou que tinham uma grande diferença no seu grau de desenvolvimento. Estes países, entretanto, fortaleceram-se e tornaram-se mais capazes de impor suas condições a países outrora dominantes. 

Esta mudança entra em colisão com a mentalidade colonialista e imperialista, das classes dirigentes dos países ocidentais, que também se transmitiu a extratos explorados desses mesmos países.  Órfã de uma instância política que formalmente a representasse, a classe trabalhadora dos países do Ocidente virou-se para os demagogos de extrema-direita, ou confinou-se na rejeição da política. O abstencionismo crónico tem sido maior na classe trabalhadora marginalizada,  do que na «classe média», ou classe trabalhadora integrada, que tradicionalmente vota à esquerda.

Do ponto de vista do império dominante, este já percebeu que é demasiado tarde para inverter a tendência global. Trump não foi bem sucedido, porque - em parte - não conseguiu o entusiasmo interclassista e patriótico que ele esperava para a sua campanha de fazer regressar as indústrias ao solo americano. Sem dúvida, ele foi sabotado pelo «establishment» de Washington, mas também não conseguiu uma adesão significativa dos setores da indústria, ditos «high-tech», tecnológicos. 

As mutações do sistema monetário são sempre consequência de um duplo jogo de forças: As forças relacionadas com o capitalismo mais dinâmico - hoje, a China e outros países asiáticos, principalmente - por um lado, e por outro, com a capacidade militar global: Sabe-se que as simulações duma guerra Russo-Chinesa / Americana (NATO), realizadas no Pentágono, deram invariavelmente resultados negativos para as forças americanas e suas aliadas. 

Assim como a arquitetura de Bretton Woods foi consequência da prevalência dos EUA no comércio, indústria, finanças e domínio militar, após a IIª Guerra Mundial; também a nova arquitetura global do sistema monetário terá de refletir a realidade das trocas comerciais, das forças produtivas, das capacidades de defesa e da inovação tecnológica, que os diversos atores mundiais terão alcançado, na atualidade. 

O facto de o dólar surgir como «forte», em relação a outras moedas ocidentais não significa que a divisa dos EUA continue a possuir a mesma prevalência mundial. Existe uma diminuição significativa das trocas efetuadas em dólares, numa parte importante do Mundo, o que significa que há rutura, face ao período de trocas efetivamente mundializadas. Significa que os países da esfera político-económica do dólar, estão encerrados numa de matriz de tipo neocolonial em que a potência dominante tem a possibilidade (e exerce-a) de dizer o que esses países devem comerciar e com quem, com que tipo de mercadorias e com que formas de pagamento. O sistema de sanções montado pelos EUA é muito astuto, no curto prazo, porém a impossibilidade das empresas europeias comerciarem com países possuidores de grandes reservas de energia (como o Irão) ou com a Rússia e China, que possuem certos produtos praticamente insubstituíveis, no curto prazo (certos metais, como o titânio, ou terras raras, ou ainda, os «microchips»), traduz-se numa perda de competitividade  da União Europeia, nos mercados mundiais. Isto é válido para todos os seus membros, em especial, para o gigante industrial, a Alemanha.

Por contraste, os países dos BRICS+ e das Novas Rotas da Seda têm reais perspetivas de desenvolvimento, de alargamento dos mercados. Os países da «velha Europa» não estarão em condições de competir, devido à diminuição da sua parte nos mercados, ao acréscimo de custos de produção e devido à «mão de aço» da potência «hegemónica regional» , os EUA. Por enquanto, estes comportam-se como o senhor feudal (o suserano) em relação aos vassalos. 

Mas, embora o feudalismo tenha durado alguns séculos, o novo feudalismo dos EUA, perante outro sistema multipolar, não poderá manter uma «hegemonia regional», durante muito tempo. Uma tal situação é intrinsecamente instável, não poderá durar mais do que alguns decénios.

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(1) O  «SDR» significa Special Drawing Rights, em português, Direitos de Saque Especiais.

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PS1: Para compreenderes a estratégia globalista em todas as suas vertentes, lê:

https://www.globalresearch.ca/globalist-cabal-meets-again-prepare-world-domination/5805836

PS2: Os dementes que estão no poder não se importam que seja desencadeada uma guerra nuclear; por outro lado, os povos estão de tal maneira doutrinados, que não percebem realmente o que representa a generalização do conflito Rússia/Ucrânia.  

https://caitlinjohnstone.com/2023/01/25/hardly-anyone-is-thinking-logically-about-the-risk-of-nuclear-war/

sexta-feira, 20 de agosto de 2021

PROPAGANDA 21 [nº8]: Afeganistão, Ópio e Propaganda de Guerra ...


Mapa do Afeganistão, mostrando alguns dos recursos minerais [Retirado de Preliminary Non-Fuel Mineral Resource Assessment of Afghanistan, by Stephen G. Peters, Stephen D. Ludington, Greta J. Orris, David M. Sutphin, James D. Bliss, James J. Rytuba, and others]


Em baixo, uma excelente conversa de Ben Norton e Max Blumenthal dos «Moderate Rebels» e «Grayzone», com Pepe Escobar .

Se confrontarmos os dados apresentados aqui, com aquilo que o público é «autorizado» a conhecer, através do «establishment», vemos o que é realmente a propaganda de guerra. 

A media, ao serviço dos poderes instalados, encobre muitos dos factos que deveriam ser do conhecimento público e abertamente discutidos, para uma avaliação das realidades no terreno. 

Sobre o Sinquião (Xinjiang), por exemplo, a media corporativa omite ou distorce os dados mais importantes relativos à guerra, sobre os jihadistas do Xinjiang, ex-combatentes na Síria, nas fileiras da ISIS e doutros grupos terroristas.

Esta conversa (ver abaixo), fala da retirada do Afeganistão, da via de escoamento do ópio (pela CIA), do conflito em torno dos oleodutos, das matérias-primas (estimadas em 1 trilião de dólares, no subsolo afegão) e da nova guerra fria.




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PS1: Inicia-se nova era pós- invasão americana do Afeganistão. O estado de espírito dos imperialistas parece ser o que vingança, de querer castigar o povo afegão por ter feito sofrer a humilhante derrota ao poderoso exército e ao complexo militar industrial: https://www.moonofalabama.org/2021/09/why-us-plans-for-revenge-in-afghanistan-may-not-succeed.html#more

terça-feira, 22 de dezembro de 2020

ASTROLOGIA PARA O TEMPO DE «GREAT RESET» ???

                                        

              [fig.1: Excerto da  ÓPERA ROCK «HAIR» NA VERSÃO ORIGINAL (1968)]

Não percebo nada de astrologia. Aliás, sou um céptico, pois a minha experiência diz-me que o mundo é caos, especialmente o mundo político, o mundo dos humanos...
[fig.2:  Montagem com conjunção de dois planetas]

Em todo caso, envio-vos o link para esta curiosa análise, feita por uma astróloga (Vanessa Guazzelli) e pelo jornalista Pepe Escobar:

Não acredito patavina nestas «conjunções de astros», aliás, baseadas no sistema de Ptolomeu (como toda a astrologia), o qual foi demonstrado como totalmente falso por Copérnico, por Galileu e por Kepler (embora este, curiosamente, fosse também um astrólogo!).
Eu penso que a astrologia serve para fazer passar aos néscios, aos ingénuos, uma certa visão do futuro, na esperança de que um certo número deles interprete os acontecimentos como «sinal» de que as coisas «confirmam» tal ou tal previsão, que elas se encaminham na direcção prevista...pelo astrólogo!

No artigo, Pepe Escobar, refere que JP Morgan (o fundador do banco com o mesmo nome) dizia que «um milionário não precisa de ter um astrólogo, mas um bilionário precisa». 

                         [fig.3: caricatura do banqueiro JP Morgan]

Eu interpreto isso da seguinte maneira: um milionário, se gerir a sua fortuna com um mínimo de inteligência e bom senso, não precisa de «conselheiros». Mas, um bilionário precisa de ter ao seu serviço vários, não apenas astrólogos, fazedores de opinião, doutores da treta ... etc, para as massas irem na direcção que convém ao bilionário. É cínico, mas está inteiramente correcto. É isso que se verifica aqui e agora...

Estamos em plena mutação, DISSO NÃO TENHAMOS DÚVIDAS, portanto não sei (ninguém sabe) o que trará 2021. 
Na certeza porém, que se deve guardar cabeça fria e não tomar os seus desejos pela realidade. Antes deve-se ter cuidado com a nossa tendência para a auto-ilusão. O nosso espírito crítico e auto-crítico deve exercer-se, mas não devemos adiar o que achamos deve ser feito, na nossa vida pessoal, familiar, social e colectiva. A nossa atenção deve concentrar-se no que é realmente principal: comida, energia, abrigo, sociabilidade, entre-ajuda e visão global. 
Devemos rejeitar a intoxicação mediática, venha de onde vier; as propagandas disfarçadas de informação, as formas de distrair a nossa atenção para coisas que, afinal, são lixo, porque nos distanciam do essencial... 

Feliz entrada na ERA DO AQUÁRIO!

Abraços
Manuel Banet

domingo, 6 de setembro de 2020

[Pepe Escobar] Índia implode a própria Nova Rota da Seda

                          

3/9/2020, Pepe Escobar, Asia Times, aqui traduzido* ao português do Brasil, com permissão do autor. Trad. btpsilveira, da Vila Mandinga

Houve época em que a Índia vendia orgulhosamente a noção de que estabelecia uma Nova Rota da Seda só dela – a qual, partindo do Golfo de Omã para a intersecção da Ásia Central e do Sul, permitiria acesso de Irã, Afeganistão e Ásia Central ao Mar da Arábia – competindo com a Iniciativa Cinturão e Estrada (ICE) da China. 

Hoje, é como se a Índia se autoesfaqueasse pelas costas.

Teerã e Nova Delhi assinaram acordo em 2016 para construir ferrovia de 628 quilômetros, do estratégico porto iraniano de Chabahar até a cidade de Zahedan, no interior, muito perto da fronteira afegã, com uma extensão crucial para Zaranj, no Afeganistão, e adiante.

Estavam envolvidas nas negociações as companhias Iranian Railways e Indian Railway Constructions Ltd. Mas nada aconteceu, devido à morosidade indiana. Assim, Teerã resolveu construir a ferrovia, fosse como fosse, com $400 milhões de dólares de seus próprios fundos e conclusão marcada para março de 2022.

Previa-se que a ferrovia viesse a ser o principal corredor de transporte ligado a substanciais investimentos indianos em Chabahar, seu porto de entrada para o Golfo de Omã, como Nova Rota da Seda alternativa, para o Afeganistão e Ásia Central.

A modernização de infraestrutura das ferrovias e estradas a partir do Afeganistão para seus vizinhos Tajiquistão e Uzbequistão seria o próximo passo.

Toda a operação estava inscrita num acordo trilateral Índia-Irã-Afeganistão assinado em 2016 em Teerã pelo Primeiro Ministro Narendra Modi, o Presidente iraniano Hassan Rouhani e o então Presidente afegão Ashraf Ghani.

As desculpas não oficiais de Nova Delhi giram em torno do medo de que o projeto fosse atacado pelos EUA, com sanções. Nova Delhi conseguiu que o governo Trump suspendesse as sanções contra Chabahar e contra a ferrovia até Zahedan. O problema foi convencer uma gama de investidores parceiros, todos aterrorizados pelo risco de sofrerem sanções.

A verdade é que toda a saga tem mais a ver com o pensamento desejante de Modi, que conta com receber tratamento preferencial, nos termos da estratégia do governo Trump para o Indo-Pacífico, que se baseia de fato num Quad (“Quarteto”) – EUA, Índia, Austrália e Japão, estrutura destinada a conter a China. Esta é a causa de Nova Deli ter decidido cortar as importações de petróleo do Irã.

Assim, para todos os efeitos práticos, a Índia jogou o Irã debaixo do ônibus. Não é de admirar que o Irã tenha resolvido avançar por conta própria, especialmente agora que está escorado pelo “Plano Abrangente de Parceria Estratégica entre a República Islâmica do Irã e a República Popular da China” (ingl. Comprehensive Strategic Partnership between I.R. Iran, P.R. China), acordo de $400 bilhões de dólares e duração de 25 anos, e que sela a parceria estratégica entre China e Irã.

Neste caso, podem ficar sob o controle chinês duas “pérolas” estratégicas no Oceano Índico, a apenas 80 quilômetros de distância uma da outra: Gwadar, no Paquistão, entroncamento chave do Corredor Econômico China-Paquistão (ing. China-Pakistan Economic Corridor, CPEC) de $60 bilhões de dólares; e Chabahar.

Até agora, Teerã nega que o porto de Chabahar venha a ser arrendado a Pequim. Mas há possibilidade real, além dos investimentos chineses numa refinaria de petróleo perto de Chabahar, e, mesmo, no longo prazo, no próprio porto, de uma ligação operacional entre Gwadar e Chabahar. Essa ligação seria complementada pelos chineses que operariam o porto de Bandar-e-Jask, no Golfo de Omã, 350 quilômetros a oeste de Chabahar e muito perto do hiperestratégico Estreito de Ormuz.

Corredores são sempre atraentes

Nem alguma divindade indiana em surto de ressaca conseguiria imaginar “estratégia” mais contraproducente para os interesses indianos, caso Nova Delhi realmente recue da decisão de cooperar com Teerã.

Consideremos o essencial: Teerã e Pequim estarão trabalhando no que, de fato, é expansão massiva do Corredor Econômico China Paquistão, com Chabahar conectado a Gwadar e a seguir à Ásia Central e ao Mar Cáspio, pelas ferrovias iranianas. Estará também ligado à Turquia e ao Mediterrâneo Oriental, via Iraque e Síria, diretamente até a União Europeia.

Esta progressão capaz de mudar o jogo acontecerá no coração de todo o processo de integração da Eurásia – unindo China, Paquistão, Irã, Turquia e, claro, a Rússia, que já está ligada ao Irã pelo Corredor de Transporte Internacional Norte-Sul (ing. International North-South Transport Corridor).

Por enquanto, dadas as reverberações potentes em múltiplas áreas – melhoramento da infraestrutura energética, reformas de portos e refinarias, construção de um corredor de conectividade, investimentos na indústria manufatureira e suprimento pesado de petróleo e gás (questão de segurança nacional para a China) – não há dúvidas de que o acordo Irã-China está mesmo, no momento, sendo minimizado por ambos os lados.

Legenda: Vista aérea do porto iraniano de Chabahar que pode mudar de patrocinador: da Índia para a China.

As razões são autoevidentes – evitar que a ira da administração Trump suba a níveis ainda mais incandescentes, dado que ambos os atores são considerados pelos EUA como “ameaças existenciais”. Mesmo assim, Mahmoud Vezi, chefe de gabinete do Presidente Rouhani, garante que o acordo final Irã-China será assinado em março de 2021.

Enquanto isso, o Corredor Econômico China-Paquistão vai de vento em popa. O que Chabahar supostamente faria para a Índia, já está a pleno vapor em Gwadar. O trânsito comercial para o Afeganistão começou há dias, com cargas a granel vindas dos Emirados Árabes Unidos. Gwadar já começou a estabelecer-se como entroncamento chave no trânsito para o Afeganistão, muito adiante de Chabahar.

O fator estratégico é essencial para Cabul. O país depende de rotas por terra a partir do Paquistão – e algumas podem ser muito inseguras – assim como de Karachi e Porto Qasim. Especialmente para o sul do Afeganistão, a ligação por terra desde Gwadar, cruzando o Baluquistão é muito mais curta e segura.

O fator estratégico é ainda mais vital para Pequim. Para a China, Chabahar não seria prioridade, porque o acesso para o Afeganistão é mais fácil via Tadjiquistão, por exemplo.

Mas a história muda completamente, quando se trata de Gwadar – que se vai convertendo, lenta, mas firmemente, no principal entroncamento da Rota da Seda Marítima, conectando a China e o Mar da Arábia, o Oriente Médio e a África. Islamabad já está recolhendo recursos robustos, em impostos e taxas de passagem.

Resumindo, é jogo de ganha-ganha, mas sempre considerando que desafios e protestos a partir do Baluquistão não vão simplesmente desaparecer, e exigem de Pequim e Islamabad gestão muito cuidadosa.

Para a Índia, o caso de Chabahar-Zahedan não é o único retrocesso recente. O Ministro de Relações Exteriores indiano admitiu recentemente que o Irã desenvolverá “sozinho” o enorme campo de gás Farzad-B no Golfo Pérsico; e que a Índia pode vir a juntar-se à República Islâmica “de forma apropriada em estágio posterior”. O mesmo tipo de “estágio posterior” aplicado por Nova Delhi para Chabahar-Zahedan.

Os direitos de produção e exploração de Farzad-B já foram garantidos há anos para a empresa estatal indiana ONGC Videsh Limitada. Mas aí, mais uma vez, nada acontece, por efeito do proverbial fantasma das sanções.

Vale lembrar que essas sanções já estavam ativadas no governo de Barack Obama. Mesmo assim, naquela época Índia e Irã pelo menos comerciavam bens por petróleo. Projetava-se que Farzad-B voltaria a operar depois da assinatura do JCPOA (chamado “Acordo do Irã”) em 2015. Mas então as sanções de Trump, outra vez, tudo congelaram.

Não é preciso ser mestre e doutor em Ciência Política para saber quem pode acabar por tomar Farzad-B: a China, especialmente depois que, ano que vem, for assinado o acordo de parceria para os próximos 25 anos. 

Contra seus próprios interesses energéticos e geoestratégicos, a Índia na realidade ficou reduzida ao status de mero refém da administração Trump. O objetivo verdadeiro dessa política de dividir para reinar aplicada contra Irã e Índia é impedir que os dois países comerciem usando as respectivas moedas, deixando o EUA-dólar fora do processo, especialmente nos negócios de energia.

O grande quadro, no entanto, sempre tem a ver com o avanço da Nova Rota da Seda através da Eurásia. Com evidências crescentes de integração cada vez mais forte entre China, Irã e Paquistão, o que se vê claramente é que a Índia só permanece integrada com as próprias inconsistências.
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*Grato a Luísa Vasconcellos pelo envio deste artigo traduzido.
MB

sexta-feira, 5 de junho de 2020

[DISTÚRBIOS NOS EUA] DESCONEXÃO / ILUSÃO

TÁCTICA GLOBALISTA: SEMEAR O CAOS PARA DOMINAR

Evitarei repetir aqui, aquilo que pode ser visto e lido no «mainstream». Reflicto, utilizando informações às quais poucas pessoas têm tido acesso, embora sejam públicas. 
Tudo o que escrevo aqui tem o cunho de provisório, de hipotético,  mas penso que dentro de algum tempo poderei fazer um balanço mais bem informado, com base no que entretanto aconteceu e se veio a revelar.

                            City curfews going into effect nationwide - ABC News

Há algumas pessoas que ficam muito entusiasmadas com a propagação do caos. Com a resposta violenta à violência do Estado. Porém, se as violências dos manifestantes (de alguns) servem para alguma coisa, é para legitimar (face às massas temerosas) a repressão mais violenta e impiedosa. O que resulta daí, é a criminalização da contestação e a declaração de que determinado conjunto de ideias (por hipótese anarquistas e extrema-esquerda) são - por definição - «violentas» e devem ser automaticamente excluídas, perseguidas, suprimidas. 
Daniel Estulin afirma que os distúrbios se destinam a impedir a reeleição de Trump, mais do que outra coisa. Que são instigados (na sombra) pelos globalistas banqueiros liberais (como George Soros) e manipulados pelo aparelho do Partido Democrático (principalmente, o clã de Obama e Clinton, que deseja uma desforra).
Um facto que deveria chamar a atenção das pessoas é um tweet supostamente atribuído ao «Antifa»: na realidade, era de autoria de um grupo de extrema-direita sediado na Alemanha. O falso tweet apelava para um ataque indiscriminado contra os subúrbios (ou seja, onde está a classe média). 
Tudo o que se vê é a violência contra alvos fáceis; os comércios, a polícia, etc... Não existe qualquer sentido de classe nestes grupos. Não põem em causa o Estado. Passam ao lado do poder oligárquico, como os grandes bancos, a FED, o Pentágono, etc...Não têm nada que ver com «Occupy Wall Street», pese embora a opinião de Pepe Escobar.
O que me parece é que o caos é a resposta para tornar possível e até desejável (por uma parte do povo...) uma Lei Marcial. 
Tenho a impressão que a oligarquia tem tudo a ganhar com isto, com este caos desejado e preparado: há forças muito obscuras que pretendem a guerra civil, com os Estados «azuis» (pró Partido Democrático) a entrarem em secessão, contra a maioria dos Estados «encarnados», que apoiam Trump (maioria dos Estados, mas com menos população no total). 
Quem tiver ideia de que se assiste a um «levantamento revolucionário», deve realmente pensar duas vezes. Muitos dados vêm contradizer esta hipótese. 
Os sentimentos de pessoas envolvidas directamente nos confrontos podem ser genuínos, mas... não será a primeira, nem última vez, que pessoas com espírito revolucionário, são levadas a cometer actos que vão favorecer exactamente os inimigos contra os quais julgavam estar lutando!!!

PS1: Daniel Estulin explica de forma magistral como as oligarquias estão a manobrar as pessoas. Veja:
https://www.youtube.com/watch?v=i7v2kfcF_AI&feature=youtu.be


quarta-feira, 6 de maio de 2020

CHINA ENSAIA YUAN DIGITAL, CONVERTÍVEL EM OURO

                          10 inolvidables paseos por la mágica SHANGHAI - Viajar es para siempre
                          foto:  Xangai, local da «Shangai Gold Exchange» (SGE)

Segundo o bem informado jornalista Pepe Escobar, um Yuan exclusivamente digital está a ser ensaiado em quatro regiões chinesas. Este seria o protótipo de cripto-Yuan, destinado a garantir aos países que fazem comércio com a China, uma estabilidade no valor da divisa, com benefício imediato na confiança recíproca e, portanto, destronando definitivamente o dólar, até agora mantido como principal divisa de reserva mundial, graças à compra de petróleo usando em exclusividade os dólares no mercado mundial. 
Embora o assunto não seja novo, o facto de haver uma atitude experimental do banco central chinês (PBOC), diz-nos que o lançamento do «cripto-Yuan» com garantia-ouro está para breve.
Não é provável que seja directamente convertível em ouro, mas acredito possa ser usado o «cripto-Yuan» na compra de ouro físico, no mercado de Xangai (SGE). 

Note-se que os mercados de «commodities», em Nova Iorque e Londres, têm servido, há longos anos, aos grandes bancos ocidentais (e Estados que se escondem por trás deles), para manipularem as cotações do ouro e doutros metais preciosos, através da emissão de contratos de futuros vazios (o «ouro-papel»). Portanto, o volume de compras e vendas de contratos de ouro e prata destas plataformas (o COMEX e LBMA) não tem relação com o volume de transacções de metais físicos que aí ocorrem. Tenho dedicado muitos artigos a este assunto desde há longo tempo.
Para evitar a ingerência e as sanções americanas, os chineses e os russos, nas suas trocas comerciais recíprocas, têm saldado os diferenciais destas trocas em ouro ou notas de crédito em Yuan, com possibilidade destas servirem para compra de ouro no mercado de Xangai. 
Segundo Jim Willie*, o mecanismo teria sido aplicado na venda de petróleo à China, pela Arábia Saudita e outras potências petrolíferas do Golfo, embora o façam de forma discreta, para manter uma fachada de fixação dos preços do «crude» em dólares US.

(*pode ver uma entrevista-vídeo recente aqui)

PS1: artigo do SCMP mostra o que é realmente a criptomoeda do People's Bank of China, o cripto-Yuan. Os maiores receios quanto à sociedade de controlo são justificados: https://www.scmp.com/economy/china-economy/article/3083952/what-chinas-cryptocurrency-sovereign-digital-currency-and-why?utm_medium=email&utm_source=mailchimp&utm_campaign=enlz-gme_scmp_focus_hk&utm_content=20200515&MCUID=a41d4f7ba2&MCCampaignID=06b83b1130&MCAccountID=7b1e9e7f8075914aba9cff17f&tc=13

segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

PEPE ESCOBAR: RAÍZES DA DEMONIZAÇÃO DO ISLÃO XIITA, PELOS NORTE-AMERICANOS

                               
17/1/2020, Pepe Escobar, Unz Review
Tradução Amigos do Brasil


O assassinato premeditado pelos EUA, que se serviram de um drone como arma do crime, do major-general Qassem Soleimani, além de uma torrente de ramificações geopolíticas cruciais, mais uma vez empurra para o centro do palco uma verdade bastante inconveniente: a incapacidade congênita das chamadas elites norte-americanas para, pelo menos que fosse, tentar entender o xiismo – e a incansável demonização 24 horas por dia, 7 dias por semana, com o objetivo de degradar não apenas os xiitas mas também os governos liderados por xiitas.

Washington já fazia uma Guerra Longa antes mesmo de o conceito ser popularizado pelo Pentágono em 2001, imediatamente após do 11/9: uma Guerra Longa contra o Irã. Tudo começou mediante o golpe contra o governo democraticamente eleito de Mosaddegh em 1953, substituído pela ditadura do xá. Todo o processo vem sendo super turbinado há mais de 40 anos, desde quando a Revolução Islâmica esmagou aqueles bons velhos tempos da Guerra Fria, quando o xá reinava como o privilegiado “gendarme americano do Golfo (persa)”.

Mas é processo que vai muito além da geopolítica. Não há absolutamente nenhuma maneira de alguém conseguir compreender as complexidades e o apelo popular do xiismo, sem pesquisa acadêmica séria, complementada com visitas a locais sagrados selecionados no sudoeste da Ásia: Najaf, Karbala, Mashhad, Qom e o santuário Sayyida Zeinab perto de Damasco. Pessoalmente, tenho percorrido esse caminho do conhecimento desde o final dos anos 90 – e continuo estudante humilde.

Em espírito de abordagem inicial – para abrir um debate bem informado leste-oeste sobre uma questão cultural crucial, totalmente marginalizada no ocidente ou afogada por tsunamis de propaganda, pedi a colaboração de três excelentes pesquisadores, que ofereceram algumas primeiras impressões.

São eles: Prof. Mohammad Marandi, da Universidade de Teerã, especialista em Orientalismo; Arash Najaf-Zadeh, que escreve sob o pseudônimo de Blake Archer Williams e especialista em teologia xiita; e a extraordinária Princesa Vittoria Alliata, da Sicília, escritora e principal islamologista italiana, autora, dentre outros livros, do hipnotizante Harem – que detalha suas viagens por terras árabes.

Há duas semanas, fui hóspede da princesa Vittoria em Villa Valguarnera, na Sicília. Estávamos mergulhamos numa longa e envolvente discussão geopolítica – da qual um dos principais temas era EUA-Irã – poucas horas antes de um ataque de drone no aeroporto de Bagdá matar os dois principais xiitas na guerra real contra ISIS/Daech e al-Qaeda/al-Nusra: o major-general iraniano Qassem Soleimani e o iraquiano Abu Mahdi al-Muhandis, segundo no comando do grupo Hashd al-Shaabi.

Martírio x relativismo cultural

O professor Marandi oferece explicação sintética: “O ódio irracional dos EUA ao xiismo deriva do forte senso de resistência à injustiça, característico dos xiitas – a história de Karbala e do Imã Hussein e o muito que os xiitas enfatizam a proteção dos oprimidos, a defesa dos oprimidos e a resistência contra o opressor. São ideias que os EUA e as potências ocidentais hegemônicas simplesmente não podem tolerar. “

Blake Archer Williams enviou-me me resposta que foi publicada como artigo à parte. Essa passagem, em que o autor discorre sobre o poder do sagrado, sublinha claramente o abismo que separa a noção xiita de martírio, de um lado, e, de outro, o relativismo cultural ocidental:

“Nada mais glorioso para um muçulmano que alcançar o martírio enquanto luta no Caminho de Deus. O general Qāsem Soleymānī lutou por muitos anos com o objetivo de acordar o povo iraquiano, até o ponto em que eles passaram a desejar assumir com as próprias mãos o comando do destino do próprio país. A votação do parlamento iraquiano mostrou que ele alcançou seu objetivo. Seu corpo foi tirado de nós, mas seu espírito foi amplificado mil vezes, e seu martírio garantiu que fragmentos de sua luz abençoada sejam incorporados nos corações e mentes de todo homem, mulher e criança muçulmana, imunizando todos contra o câncer-zumbi dos relativistas culturais satânicos da Novus Ordo Seclorum [Nova Ordem dos Tempos]. “

[um ponto em discussão: Novus Ordo Seclorum, ou Saeculorum, significa “nova ordem dos tempos”, e deriva de famoso verso de Virgílio que, na Idade Média, era considerado pelos cristãos como profecia da vinda de Cristo. Sobre isso, Williams respondeu que “embora esse sentido etimológico da frase seja verdadeiro e ainda permaneça, a frase foi sequestrada por um George Bush O Jovem como representante da cabala globalista da Nova Ordem Mundial, e é nesse sentido que predomina hoje” [e aparece no verso da nota de 1 EUA-dólar. (NTs)]

Escravizados pelo wahabismo

A princesa Vittoria prefere organizar o debate em torno da atitude dos norte-americanos de não questionar o wahabismo: “Não acho que tudo isso tenha algo a ver com odiar o xiismo ou ignorá-lo. Afinal, o Aga Khan está super inserido na segurança dos EUA, uma espécie de Dalai Lama do mundo islâmico. Acredito que a influência satânica vem do wahabismo e da família saudita, que são muito mais hereges que os xiitas, para todos os sunitas do mundo, mas sempre foram o único contato com o Islã aceito pelos governantes dos EUA. Os sauditas financiaram a maior parte das guerras e dos assassinatos feitos primeiro pelos Irmãos Islâmicos, depois pelas outras formas de salafismo, todos eles inventados sobre base wahabista. “

Assim, diz a princesa Vittoria, “eu não tentaria tanto explicar o xiismo, mas, sim, mais, tentaria explicar o wahabismo e suas consequências devastadoras: daí nasceram todos os extremismos, bem como o revisionismo, o ateísmo, a destruição de santuários e de líderes sufistas por todo o mundo islâmico. E, claro, o wahabismo está muito próximo do sionismo. Existem até pesquisadores que exibem documentos que parecem provar que a Casa de Saud é uma tribo de Dunmeh de judeus convertidos expulsos de Medina pelo Profeta depois de tentarem matá-lo, apesar de terem assinado um tratado de paz. “

A princesa Vittoria também enfatiza o fato de que “a revolução iraniana e os grupos xiitas no Oriente Médio são hoje a única força bem-sucedida de resistência aos EUA, e isso faz com que sejam odiados mais do que outros. Mas, isso, só depois que todos os outros oponentes sunitas foram eliminados, mortos, aterrorizados (pense na Argélia, mas existem dezenas de outros exemplos) ou corrompidos. Essa, é claro, não é posição exclusivamente minha, mas é a posição da maioria dos islamólogos de hoje.”

O profano contra o sagrado

Conhecendo o imenso conhecimento de Williams sobre a teologia xiita e sua experiência em filosofia ocidental, incentivei-o a, literalmente, “pular na jugular” da questão. E ele não fugiu: “A questão de por que os políticos americanos são incapazes de entender o Islã xiita (ou o Islã em geral) é simples: o capitalismo neoliberal irrestrito gera oligarquia, e os oligarcas “selecionam” candidatos que representam seus interesses, já antes de serem “eleitos” pelas massas ignorantes. Exceções populares, como Trump, ocasionalmente escorregam para dentro do poder (ou não, como no caso de Ross Perot, que se retirou sob coação), mas mesmo Trump passou imediatamente a ser controlado pelos oligarcas com ameaças de impeachment, etc. Portanto, o papel do político eleito nas democracias parece incluir não se esforçar para compreender coisa alguma, mas, simplesmente cumprir a agenda das elites que são donos deles, que mandam neles.”

A resposta “pulo na jugular”, de Williams, é ensaio longo e complexo que gostaria de publicar na íntegra, mas só quando nosso debate aprofundar-se – acompanhado de possíveis refutações.

Para resumir, ele esboça e discute as duas principais tendências da filosofia ocidental: dogmáticos versus céticos; detalha como “a trindade sagrada do mundo antigo era de fato a segunda onda dos dogmáticos, tentando salvar as cidades gregas e o mundo grego de maneira mais geral, da decadência dos sofistas”; investiga a “terceira onda de ceticismo”, que começou com o Renascimento e atingiu o pico no século 17 com Montaigne e Descartes; e depois estabelece conexões “com o Islã xiita e com o fracasso do Ocidente em entendê-lo”.

E isso o leva ao “cerne da questão”: “Uma terceira opção e uma terceira corrente intelectual, além e acima dos dogmáticos e céticos, e essa é a tradição dos xiitas tradicionais (em oposição aos filósofos) estudiosos da religião.”

Agora compare tudo isso e o último empurrão dos céticos, “como o próprio Descartes admite, dado pelo daemon que veio a ele em sonhos, e que resultou na escrita de seu Discurso sobre o Método (1637) e Meditações sobre a Primeira Filosofia (1641). O Ocidente ainda sofre efeitos desse golpe, e parece ter decidido deixar de lado os andaimes de sustentação da razão e os sentidos (que Kant tentou em vão conciliar, tornando as coisas mil vezes piores, mais complicadas e desagregadas), para deixar-se afogar e afogar na modalidade autocongratulatória do irracionalismo conhecido como pós-modernismo, que deveria ser chamado de ultramodernismo ou hipermodernismo, pois não está menos enraizado na “virada subjetiva” cartesiana e na “revolução copernicana” kantiana, do que os pré-modernos e modernos”.

Para resumir uma justaposição bastante complexa, “o que tudo isso significa é que as duas civilizações têm duas visões totalmente diferentes sobre o que deva ser a ordem mundial. O Irã acredita que a ordem do mundo deve ser o que sempre foi e é na realidade, gostemos ou não, e mesmo que não creiamos na realidade (como alguns no Ocidente não costumam crer). E o ocidente secularizado acredita numa nova ordem mundana (em oposição à ordem de outro mundo, ou divina).

E, portanto, não é tanto um choque de civilizações, mas um choque de profano contra o sagrado, com elementos profanos nas duas civilizações que combatem as forças sagradas nas duas civilizações. É o choque da ordem sagrada da justiça versus a ordem profana da exploração do homem nas mãos de seu próximo; profanar a justiça de Deus para o benefício (a curto prazo ou mundano) dos que se rebelam contra a justiça de Deus. “

Dorian Gray revisitado

Williams fornece um exemplo concreto para ilustrar esses conceitos abstratos: “O problema é que, embora todos saibam que a exploração do 3º Mundo nos séculos 19 e 20 pelas potências ocidentais foi injusta e imoral, essa mesma exploração continua até hoje. A continuação dessa injustiça ultrajante é a base definitiva para as diferenças existentes entre o Irã e os Estados Unidos, que continuarão inevitavelmente enquanto os EUA insistirem em suas práticas de exploração e enquanto continuarem a proteger os governos de protetorados norte-americanos, os quais só sobrevivem contra a vontade avassaladora do povo que governam, por causa da presença deformante e viciante das forças americanas que os sustentam para que continuem a servir aos interesses dos EUA, não aos interesses dos respectivos governados. É uma guerra espiritual pelo estabelecimento de justiça e autonomia no 3º Mundo.

O Ocidente pode continuar a parecer bem aos seus próprios olhos, porque controla reality-show dito “realidade” (o discurso mundial), mas sua imagem real é bem clara para todos verem, embora o Ocidente continue a se ver como Dorian Gray, no único romance de Oscar Wilde: como uma pessoa jovem e bonita cujos pecados só apareciam num retrato. O ‘retrato’ reflete a realidade que o 3º Mundo vê todos os dias, enquanto o ocidental Dorian Gray continua a se ver como é retratado pelas CNNs e BBCs e New York Times do mundo.”

“O imperialismo ocidental na Ásia ocidental é geralmente simbolizado pela guerra de Napoleão Bonaparte contra os otomanos no Egito e na Síria (1798–1801). Desde o início do século 19, o Ocidente tem sugado a veia jugular do corpo muçulmano político, como um verdadeiro vampiro cuja sede de sangue muçulmano nunca é saciada e que se recusou a soltar a jugular muçulmana.

Desde 1979, o Irã, que sempre desempenhou o papel de líder intelectual do mundo islâmico, levantou-se para acabar com esse ultraje contra a lei e a vontade de Deus, e contra toda decência.

Portanto, trata-se de revisar uma visão falsa e distorcida da realidade, devolvendo-a ao que a realidade realmente é e deve ser: uma ordem justa. Mas essa revisão é dificultada tanto pelo fato de que os vampiros controlam o ‘making-of’ da realidade, quanto pela inaptidão dos intelectuais muçulmanos e por sua incapacidade de entender até os rudimentos da história do pensamento ocidental, seja em seu período antigo, medieval ou moderno. “

Há chance de que o ‘making-of’ da realidade seja desmascarado? É possível que sim: Possivelmente: “O que precisa acontecer é que a consciência mundial abandone o paradigma pelo qual as pessoas realmente creem que um maníaco como Pompeo e um palhaço como Trump representariam o modelo de normalidade; que troquem esse paradigma, por outro, pelo qual as pessoas creiam que Pompeo e Trump são gângsteres, reles bandidos, que fazem o que bem entendam, não importa o quanto sejam repugnantes e depravadas as coisas que eles façam, e o fazem com quase total e absoluta impunidade.

E esse é um processo de rejeitar o discurso do paradigma dominante e de se unir ao Eixo da Resistência, liderado pelo mártir general Qāsem Soleymānī.

Não menos importante, esse processo envolve rejeitar o absurdo segundo o qual a verdade seria relativa (e também, desculpe, Einstein, rejeitar o absurdo segundo o qual tempo e espaço seriam relativos); e abandonar a filosofia absurda e niilista do humanismo; e despertar para a realidade de que existe um Criador e que Ele está realmente no comando.

Claro que tudo isso é demais para a mentalidade moderna tão iluminada, que entende tudo de tuuuuuuuuuuuuuudo!”

Aí está. E isso é só o começo. Acréscimos e refutações são bem-vindas. Convocam-se todas as almas informadas: está aberto o debate.