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segunda-feira, 22 de julho de 2024

MARCHAS MILITARES & TATTOOS (Segundas-f. musicais N. 10)

                            https://www.youtube.com/watch?v=LE8koZD-3pM


 A marcha das moças de Helsingor (Dinamarca) é cativante. Tem a perfeição dum mecanismo bem oleado e, em simultâneo, a graça feminina e jovem, de que é composta.

Porém, não sou apreciador da música militar, que se destina a pôr toda a gente a marchar e a marcar passo, ao ritmo dos tambores e das cornetas. Prefiro canções irónicas, como «Cachorro Vira-Lata» de Carmen Miranda, ou «Caporal Casse-Pompon» de Jacques Brel.

Podemos ouvir - neste vídeo - uma rapsódia de várias marchas militares. As melodias são bem distintas; por vezes, no intervalo entre as peças, ouve-se o rolar dos tambores. 

Compreendo que este espetáculo encha de orgulho pessoas dos países de origem das bandas musicais. As evoluções da banda no estádio, quanto melhor coordenadas forem, mais impressionantes serão. Por isso, a coreografia foi cuidadosamente escolhida, em função das músicas.

Enquanto se trata apenas de fazer evoluir  a banda num estádio, mostrando impecável coordenação dos seus movimentos com os ritmos musicais, tudo pode parecer inócuo, inocente

Porém, as coisas não se ficam por aqui. Trata-se de public relations (PR) junto do povo a que pertence a banda e junto de outros povos, também. A perfeição da execução, tanto musical como coreográfica, destina-se a inspirar admiração e apoio à instituição militar.

O que está tão bem coordenado no "Tattoo", também o será, aquando de manobras militares a sério. É um raciocínio ilógico, mas funciona ao nível subliminar. É a mensagem implícita dos Tattoos e marchas militares, em todas as nações. 

Antigamente, as bandas militares acompanhavam os regimentos até ao campo de batalha, a pouca distância do inimigo. 
Hoje não é assim, claro, mas suas atuações continuam a infundir sentimentos patrióticos.
Neste século, em que a guerra se tornou num mero negócio de chacina, sobretudo de populações civis indefesas, em que a ameaça de guerra nuclear paira sobre todas as cabeças, ainda há público entusiasta nestas manifestações de militarismo. Muitas pessoas reagem de modo infantil perante estas exibições: Com as marchas e paradas militares, ficam empolgadas, querem logo seguir a banda e o cortejo militar atrás dela!

sábado, 8 de junho de 2024

PORQUE É QUE O COMPLEXO MILITAR INDUSTRIAL NOS ESTÁ MATANDO A TODOS

 Quando uma bomba explode, rasga a carne, quebra os ossos, rebenta com caixas cranianas, faz mortes e pessoas estropiadas, diminuídas para toda a vida. Mas também há alguém que aproveita, que lucra com isso, que fica rico.

Mas o mal não se limita às vítimas diretas das bombas. Cada dólar* gasto com bombas (e material militar em geral) é um dólar que foi subtraído a programas com efeitos imediatos na dinamização da economia, na educação, no sistema de saúde, na investigação médica, etc. Todos ficamos mais pobres. O Estado de que somos cidadãos, em vez de arcar com despesas que - por sua vez - vão gerar mais produtividade e bem-estar social, vai «enterrar» essas somas em instrumentos de destruição. 

A indústria armamentista é a mais poluidora que se possa imaginar. Além dos consumos de energia fóssil, para construção e operação das suas máquinas, é preciso termos presente que a mineração de metais raros e outros, para as ligas metálicas especiais, é muito depredadora do ambiente. 

As bombas e outro armamento só podem ter dois fins, ou são utlizados, causando um tremendo custo humano e destruição ambiental (mil vezes pior na emissão de poeiras e de gases com efeito de estufa que quaisquer outras indústrias). Se não forem utilizadas estas munições e armamento, ficarão armazenados, o que tem os seus custos próprios . No final, acabarão por ser descartados, sem que os materiais sejam reciclados, as carcaças inúteis serão enterradas, causando contaminação  permanente dos solos e subsolos, algo não visível pelo cidadão comum.

Nós ouvimos muitas vezes críticas dirigidas aos Estados, por irem em socorro de empresas em maus lençóis, ou em risco de falência. Pois a indústria armamentista não apenas tem um excelente cliente único (as forças armadas do Estado), como este cliente não regateia preços e costuma fazer encomendas abundantes, além de apoiar (e pagar) investigação aplicada com fins bélicos e de isentar de impostos essas indústrias benfeitoras da humanidade.

 Note-se que, em termos de PIB, este pode ser inflado pelo aumento de produção de armamento. Porém, isso não significa que o país em causa esteja a nadar em prosperidade, nem que essa produção seja, de algum modo, impulsionadora de maior bem estar, de mais recursos para desenvolver outras indústrias, ou para o desenvolvimento dos países para onde os armamentos são exportados.

A utilização bárbara para fazer a guerra, não só se traduz num sofrimento humano infinito, sobretudo afetando a população civil, também causa a destruição em larga escala do equipamento, infraestrutura produtiva e vias de comunicação dos países em contenda. Isto significa incontáveis biliões de dólares investidos, que se transformam em ruínas e que - no melhor dos casos - irão ser de novo gastos, durante largos anos, para reconstruírem essas infraestruturas civis: Muitas vezes, os países ficam totalmente de rastos e não têm capitais próprios para fazer tal coisa. Caem no ciclo de dependência, de pedir empréstimos a países ricos, ou a instituições internacionais por estes controladas.

Podeis perguntar: «Mas se afinal é um mau negócio para o Estado, os cidadãos e todas as atividades que não sejam as próprias fábricas de armamento, como é possível que esta indústria floresça e tenha sempre investimentos abundantes sob forma de capitais públicos ou privados?» A resposta é simples e complexa, ao mesmo tempo: 

- os industriais têm os políticos no bolso, através de doações milionárias que fazem para as campanhas eleitorais dos políticos, sem as quais estes não têm qualquer hipótese de serem eleitos, nem mesmo de ficar entre os mais votados.

- A máquina de suborno é apenas um pormenor (importante), mas é o sistema inteiro do capitalismo decadente que está afinal em causa. O capitalismo passou há muito a era construtiva. Precisa de capital e de mais capital, para alimentar a especulação financeira. O grande e o pequeno especulador sabem perfeitamente que um investimento nas indústrias de armamento tem um retorno assegurado: é uma garantia que não é dada por nenhum outro investimento no setor industrial; por exemplo, vemos grandes construtores automóveis ficar em maus lençóis e mesmo irem à falência, o mesmo se passa com grandes empreendimentos imobiliários,  ou turísticos, ou cadeias de restaurantes ou qualquer outro setor civil. Tal não acontece na indústria militar; note-se que empresas de aeronáutica civil estão associadas com empresas de aviação militar. De facto, são os mesmos grandes acionistas que controlam os dois ramos industriais, embora nominalmente apareçam como distintos (exemplo: a Boeing).

Conclusão: A própria sociedade civil está refém dos grandes construtores de material bélico; eles conseguem fazer inflectir as elites políticas com muita facilidade, para que estas adotem as políticas que mais os favoreçam. Os políticos sabem isso, mas não vão revelar a «galinha dos ovos de ouro» ao público, era o equivalente a matar a dita galinha. A media, o jornalismo de massas, também não revela, apenas sublinha o «avanço tecnológico», a «eficácia» de novos sistemas de armamentos, faz publicidade grátis ou mediante subornos, criando no público a ideia (falsa) de que forças armadas assim equipadas poderão vencer quaisquer inimigos em combate. Neste contexto, não nos deve admirar que surjam constantes focos bélicos, em várias partes do Mundo. Só ainda não começaram com guerras diretas entre grandes potências, ainda que as guerras por interpostos («proxi wars») não tenham cessado, desde o fim da II. Guerra Mundial, até hoje! 

O mercado da morte, da morte industrial, é o produto desta sociedade: Todas as pessoas que ingenuamente se preocupam com a habitabilidade do planeta, daqui a 20 , 30, 40 ou 50 anos, deviam refletir, sem dúvida. O efeito das indústrias de armamento traduz-se por:

- Causar enorme mortandade e destruição nas sociedades (sendo civis as principais vítimas, em geral)

- Causar destruição de capital produtivo, fábricas e instituições diversas (hospitais, escolas, centros de investigação, etc.). 

- Distorção do próprio funcionamento das instituições dos países, através da corrupção dos que exercem cargos políticos

- Desvio de enormes somas, que poderiam ser investidas de forma produtiva. Cada dólar investido em armamento, é um dólar perdido para o investimento produtivo em indústrias civis,  etc.

- Aumento dos riscos de guerra generalizada e portanto, da destruição da vida no planeta, pois o fomentar de  guerras parciais ou locais, é o método eficaz para se gerar uma situação internacional de grandes tensões, desembocando numa guerra nuclear entre as grandes potências. 

- A destruição dos ecossistemas, dos habitats naturais, extinção de espécies, poluição marítima, aérea e dos solos, não esquecendo a sempre possível poluição de longo termo, gravíssima, causada pela explosão de engenhos nucleares.  

Eu renunciei a encadear estas consequências acima em ordem crescente de gravidade, pois há uma relação intrincada de causas e consequências. Isto só reforça a ideia de extrema perigosidade e parasitagem sobre a sociedade do complexo militar-industrial.

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* O orçamento de «defesa» dos países da OTAN perfaz, anualmente, dezenas de milhares de milhões de dólares (mais de 10 000 000 000 $). Os EUA são, de longe, o país que mais gasta em armamento.

domingo, 26 de maio de 2024

Craig Murray: O IMPULSO PARA A GUERRA

No Ocidente, qualquer desvio de qualquer ponto da arquitectura das crenças neoliberais é um desafio para todo o sistema e, portanto, deve ser erradicado.

O primeiro-ministro Robert Fico no Parlamento da UE em Estrasburgo, em julho de 2016.” (Parlamento Europeu, Flickr, CC BY-NC-ND)

O encolher de ombros coletivo com que a mídia ocidental e a classe política notaram a tentativa de assassinato do primeiro-ministro eslovaco, Robert Fico, vem revelando.

Consegue imaginar a indignação e a emoção que teriam sido expressadas pelas potências ocidentais se não fosse Fico, mas sim um líder pró-Ucrânia e anti-Rússia dentro da UE, que tivesse sido atacado? As novas encomendas de armas que teriam sido apresentadas aos fabricantes de armas, as tropas que teriam sido mobilizadas, os sabres que teriam sido sacudidos?

Em vez disso, temos os meios de comunicação social a dizer-nos que Fico se opôs ao envio de armas para a Ucrânia e se opôs a ameaçar a Rússia. Disseram-nos que ele não aceitou a narrativa dominante sobre as vacinações contra a Covid. A mídia não diz que ele merecia levar um tiro, mas eles vêm muito, muito perto.

Os colegas líderes da UE seguiram a forma correta ao fazer declarações de choque e repulsa pelo ataque a Fico, mas foram formais e superficiais. A mensagem “na verdade não é um de nós” foi muito clara.

Existe agora um conjunto ordenado de crenças neoliberais que qualquer pessoa numa nação ocidental que participe em assuntos públicos deve subscrever, ou elas estarão fora de questão.

Não subscrever todas estas crenças faz de você um “populista”, um “teórico da conspiração”, um “fantoche de Putin” ou um “idiota útil”.

Estas são algumas das “crenças-chave”:

1) A riqueza só é criada por um pequeno número de capitalistas ultra-ricos, dos quais depende, em última análise, o emprego de todos os outros.
2) As leis que regem as estruturas financeiras devem, portanto, tender a concentrar a riqueza nestes indivíduos, para que possam distribuí-la como quiserem.
3) A moeda criada pelo Estado só deve ser concentrada e distribuída a instituições financeiras privadas.
4) Os gastos públicos são sempre menos eficientes que os gastos privados.
5) A Rússia, a China e o Irão representam uma ameaça existencial para o Ocidente. Isso compreende tanto uma ameaça económica como uma ameaça física e militar.
6) O colonialismo foi uma bênção para o mundo, trazendo desenvolvimento económico, comércio e educação a pessoas de culturas inferiores.
7) O Islão é uma ameaça aos valores ocidentais e ao desenvolvimento mundial.
8) Israel é um projecto necessário para difundir os valores ocidentais no incivilizado Médio Oriente.
9) A segurança exige a dedicação de recursos muito substanciais à produção de armas e à condução de guerras contínuas.
10) Nada deve ameaçar os interesses militares e da indústria armamentista. Nenhuma batalha contra a corrupção ou o crime pode substituir a necessidade de o complexo industrial militar de segurança ser completamente incontestado e internamente supremo.

Ortodoxias Dependentes

TikTok. (Solen Feyissa, Flickr, CC BY-SA 2.0)

Dentro desta arquitectura de crenças, outras ortodoxias dependem, tais como a forma correcta de responder a uma pandemia complexa, ou o apoio à NATO e a impunidade para os serviços de segurança. (O apoio a Israel é provavelmente melhor retratado como um ponto dependente, mas com o tema de Gaza tão proeminente neste momento, mudei-o figurativamente para a estrutura principal.)

Qualquer desvio em qualquer ponto de crença é um desafio para todo o sistema e, portanto, deve ser erradicado. Notarão que não há espaço algum, nesta arquitectura de pensamento, para valores como a liberdade de expressão ou a liberdade de reunião. Eles simplesmente não cabem. Nem é possível nesta arquitectura incorporar a democracia real, o que daria às pessoas a escolha daquilo em que acreditar.

Se aceitarmos esta arquitectura de pensamento, então devemos argumentar que o genocídio em Gaza é uma coisa boa, e ameaça toda a estrutura se afirmarmos que não é uma coisa boa. É por isso que temos assistido ao espectáculo de políticos que desafiam e depois reprimem o seu próprio povo, dispostos a colocar todo o seu capital político ao serviço do sionismo genocida.

As palavras lutam para transmitir os horrores que todos vimos em Gaza, e de forma alguma diminui o terrível sofrimento nem a extensão do crime observar que causou uma grande ruptura no sistema de crenças neoliberal que não pode ser escondida do povo .

Gaza tem ramificações que levam a questionamentos em todo o sistema. Porque é que o Tik Tok está a ser proibido, para impedir que as pessoas obtenham informações sobre Gaza? Por que é um problema que a plataforma seja propriedade da China?

O que a China fez que a torna inimiga? A China não tem planos militares para o Ocidente. Das compras recentes que a maioria de nós fez de bens físicos, uma grande proporção veio da China. Por que um parceiro comercial importante é um “inimigo”?

Por que a Rússia é nossa inimiga? A noção de que o exército russo irá desembarcar em Wash é totalmente implausível. O Estado russo, ao longo de séculos e de regimes extremamente diferentes, nunca teve a menor vontade de invadir as Ilhas Britânicas. No Reino Unido, sob vários governos, durante quase três séculos, charlatães têm alegado uma ameaça de invasão russa para justificar maiores despesas com a defesa.

Por que a necessidade de ter “inimigos”?


[Craig Murray é autor, locutor e ativista dos direitos humanos. Foi embaixador britânico no Uzbequistão de agosto de 2002 a outubro de 2004 e reitor da Universidade de Dundee de 2007 a 2010. Sua cobertura depende inteiramente do apoio do leitor. As assinaturas para manter este blog funcionando são recebidas com gratidão.]

Este artigo é de CraigMurray.org.uk.

sábado, 18 de novembro de 2023

4 FRAGILIDADES DO IMPÉRIO [ Parte II]

Na Parte I deste ensaio, analisámos as fragilidades dos EUA em relação ao sistema monetário mundial e a situação precária do dólar, enquanto moeda de reserva global. Nessa mesma parte I, analisámos igualmente a disponibilidade de energia, suas diversas fontes e sua gestão, assim como a importância da mesma nas guerras levadas a cabo pelo Império.
Na parte II, iremos nos debruçar sobre as fragilidades imperiais do poderio militar e sobre a media corporativa (a «mass media»), enquanto instrumento de propaganda do novo totalitarismo.





PODERIO MILITAR



Todos os impérios baseiam-se na força sobre outras nações e na expansão territorial. Ambas as características são dependentes de um exército, uma máquina de guerra bem equipada e treinada, que possa conquistar, manter as conquistas e forçar a submissão dos povos.
O exército dos EUA tem de corresponder às missões que lhe são confiadas pelo poder político. Mas este, dominado nas últimas décadas pela fação mais belicista ,«neocon» do Status Quo, tem usado a força militar a torto e a direito. As guerras do império são essencialmente de agressão, quer ocorra ou não a invasão terrestre do território inimigo, quer haja ou não uma coligação com potências vassalas.
O facto mais saliente, em termos geopolíticos, é que desde o 11 de Setembro de 2001, as guerras em que os EUA se envolveram, foram todas derrotas militares, o que tem um efeito dentro dos próprios EUA, mas também junto dos outros governos e povos, aliados ou adversários.
Os EUA mantêm cerca de 800 bases em todo o Globo; algumas, têm poucas centenas de soldados; outras têm dezenas de milhares. O dispositivo para este domínio global é muito complexo e pesado.
Tanto em equipamento, como armamento, combustível, meios de transporte e logística, estas bases são uma pesada e complicada estrutura, que tem o Pentágono como vértice.
A OTAN, com sede em Bruxelas, reúne grande número de países europeus, mas é controlada por Washington. O comandante-chefe é sempre um general dos EUA. Várias bases na Europa são utilizadas para armazenar cabeças nucleares e vetores correspondentes (mísseis ou aviões). Estas bases estão em violação de leis de países como Itália, que proíbem o estacionamento e trânsito de armas nucleares.
Quase oitenta anos após o fim da II Guerra Mundial, uma potência vencedora (os EUA) continua a ocupação militar da Alemanha, da Itália e de outros países. Teoricamente, estes exércitos de ocupação americanos fazem parte do dispositivo multinacional da OTAN. Porém, as bases da OTAN funcionam segundo o modelo americano e estão submetidas à cadeia de comando, dominada por generais dos EUA. Formalmente, os EUA não estão a «ocupar» estas nações. Mas, é assim que parte significativa da população os vê. O mesmo ou semelhante, se passa com o Japão e a Coreia: Nestes casos, trata-se apenas de contingentes dos EUA. O modelo é reproduzido noutras paragens, em maior ou menor escala.
Em bases de maior dimensão, os militares têm bairros separados nas vilas ou cidades próximas dos quartéis, onde vivem com as suas famílias. Estas pequenas amostras de «American way of life» vivem em circuito fechado, ignorando largamente a vida e cultura dos países onde estão instalados. Isto provoca grande frustração na população autóctone e também torna as bases menos capazes de se defenderem de um ataque. É verdade que eles têm militares e polícia dos próprios países ocupados, que podem servir como agentes repressores de qualquer movimento de contestação violenta, ou pacífica das bases. Mas, tal não impede o surgimento de movimentos significativos de rejeição das bases. Em vários pontos (Okinawa, no Japão, Jeju, na Coreia do Sul, em La Rota, em Espanha, etc.) essa contestação pacífica tem feito manifestações todos os anos.
De um momento para o outro, num país qualquer, pode despoletar-se um processo que obrigue à saída duma base dos EUA nesse território. Tal é verosímil que aconteça na Síria ou no Iraque. Também é possível na Turquia, um importante membro da OTAN: As posições tomadas pelo seu presidente, Erdogan - para as quais tem apoio popular massivo - têm entrado em choque com as posições de Washington.
O dispositivo de domínio global dos EUA, por mais forte e potente que seja, é demasiado frágil para aguentar ataques em simultâneo às suas bases, em pontos geográficos distantes.
Também se verifica que - no terreno - as forças dos EUA não estão capazes de combater numa campanha antiguerrilha, como se verificou no Afeganistão e noutros cenários recentes. Em consequência disso, a estratégia dos EUA tem consistido em arrasar todas as estruturas «revertendo-as à idade da pedra». Mas, tais «feitos de armas» são horrendos crimes de guerra que ficam gravados na memória coletiva dos povos-mártires.
A doutrina de que os EUA podem usar, em primeiro lugar, armas nucleares «táticas» foi emitida e aprovada, logo no início deste século. Esta doutrina foi um recuo em relação à doutrina prévia. Anteriormente, os EUA usariam a arma nuclear como dissuasora, como resposta a um ataque nuclear, nunca preventivamente. Tal posicionamento era mais adequado ao desanuviamento entre superpotências. Mas justamente, é isso que os «neocons» querem evitar. Eles estão convencidos que os EUA podem ganhar uma guerra nuclear e assim manter sua hegemonia mundial. É para esse objetivo que apontam o programa (o PNAC) dos neocons, as suas declarações e os seus atos. A China e a Rússia são vistas como inimigas, sujeitas a provocações ou, mesmo, a «guerras através de intermediários». Isto acontece, porque os neocons têm dominado sucessivas administrações, quer elas sejam Democratas, ou Republicanas.




MÍDIA CORPORATIVA OU DE MASSAS

A «liberdade de imprensa» é porventura a característica mais saliente da democracia liberal. Mas as chamadas «democracias liberais» já não são nem uma, nem outra coisa.
A era da Internet foi uma decepção, pois não deu fácil e livre  acesso à informação e à difusão de informação «cidadã», com um mínimo de impacto. O dispositivo cedo foi controlado por grandes conglomerados de mídia, encerrando os internautas numa espécie de mundo fictício - a verdadeira «matrix» - de que só alguns têm plena consciência.   
Os provedores de Internet pertencentes às grandes corporações da Silicon Valley foram abordados pelo poder político em relação aos «abusos» que podiam cometer os usuários da Internet. Serviram-se de pretextos, como o do combate à pedofilia, à pornografia infantil, ao terrorismo islamista, etc. para os forçar a desempenhar o papel de agentes de vigilância massiva. Assim, o pequeno mundo de Google, Facebook, Microsoft, Youtube, etc ficou perante o seguinte dilema: ou mantinham uma estrita neutralidade e ficavam confinados às margens, ou aceitavam jogar o jogo e teriam imensos contratos do governo. Inclusive tiveram e têm contratos em parceria com as agências de «inteligência» (de espionagem), a NSA, a CIA, etc., permitindo a estas realizar atividades de espionagem em massa, de censura e de intoxicação da opinião pública, proibidas pela constituição às agências governamentais. Agora são o domínio de «entidades privadas», que recolhem e analisam os nossos dados e depois os fornecem ao Estado.
O que resta, em termos de «democracia», é uma paisagem esquálida, onde mais de 90% de cidadãos não têm efetivamente acesso a informação significativa, apenas recebem informações de agências, televisões, jornais, sites internet, «sérios», «credíveis», que fornecem informação aprovada pelo governo, ou pelas agências deste. 
O caso mais patente foi aquando da encenação da pandemia de Covid: Esta foi o pretexto para calar (enquanto não se podem eliminar) os dissidentes, lançando campanhas de difamação pública, perante as quais não havia a mínima possibilidade de retorquir, desmentir, ou contradizer. Depois, foi a campanha histérica anti-russa, aquando da invasão russa da Ucrânia, que «justificou» mais umas tantas excomunhões. Agora mesmo, é a campanha terrorista unânime dos media «de referência», equiparando as pessoas que estão contra a limpeza étnica dos palestinianos por Israel, a terroristas, antissemitas, apoiantes do Hamas, etc. 
Que podemos dizer? 
Sem informação livre, não existe democracia. Estamos a atingir o ponto em que os poderes das  chamadas «democracias ocidentais», deixam cair a máscara e se revelam como executantes de dispositivos totalitários, pondo em cena o pesadelo orwelliano ou plagiando as medidas de controlo social da China «comunista».
As pessoas viveram numa atmosfera de relativa liberdade de opinião, no Ocidente, quando isso era importante para afirmar o contraste com os regimes totalitários da URSS e de seus aliados. Estava-se numa era de confronto entre duas superpotências, dois modos de conceber o mundo, dois modelos de sociedade. Assim, a imprensa ocidental foi - durante algum tempo - relativamente livre e relativamente independente do poder de Estado. Não deixo -porém - de relativizar, pois muita imprensa estava nas mãos de grandes magnates. Estes não iriam permitir que tudo fosse publicado, sobretudo se colidia com os seus impérios.  
O chamado «4º poder» significou que a imprensa tinha independência em relação aos outros três poderes do Estado (poder legislativo ou parlamento, o executivo ou governo e  o judicial ou os tribunais). Agora, «o 4º poder» significa que a imprensa e media em geral são os porta-vozes do poder do dinheiro, o qual tem os políticos na mão.  
Se os donos dum grupo de media acharem que isso coincide com seus interesses,  deitam abaixo um governo; se acham que um governo impopular deve ficar, custe o que custar, vão promover campanhas a favor do governo e de difamação da oposição.
Quem não reconhece a situação, ou faz parte do dispositivo governamental/ mediático, ou é mantido na ignorância sobre os mecanismos do poder e  a manipulação das consciências.   
O que acontece com este processo, é que (citando Hannah Arendt): «Se todos te mentem constantemente, o que vai acontecer, não é que passas a acreditar nas mentiras; é que deixarás de acreditar seja no que for». 
Já há cada vez mais pessoas que rejeitam as narrativas do poder e que são céticas radicais. Esperemos que elas consigam contrariar a deriva totalitária a que assistimos no Ocidente.

quinta-feira, 25 de maio de 2023

Movimento pela paz, contra a OTAN: DISCUSSÃO SOBRE UNIR PARA A PAZ


domingo, 5 de março de 2023

A SITUAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

Serão precisos muitos mortos e feridos numa guerra, para a cidadania europeia acordar e exigir Paz aos seus dirigentes? Creio que sim, creio que - infelizmente - as pessoas ficaram dessensibilizadas da guerra por múltiplas técnicas de supressão dos sentimentos (pelo medo e pelo horror), suprimiram a solidariedade humana, que uma guerra deveria suscitar.




Da parte dos poderes, da OTAN e dos seus chefes, dos parlamentares, dos primeiros ministros europeus, dos seus governos, em relação à Ucrânia, assistimos a mais de oito anos de manipulação dos sentimentos, de mentira institucionalizada e o militarismo descarado, que vai até à recusa de negociar. Assistimos a tudo isso - nós - da cidadania europeia. Mas, a cidadania manteve-se numa letargia inquietante da qual está, apenas agora, a despertar.
Não sei sobre o assunto, senão consultando fontes diversas, não apenas da media «mainstream», como também opiniões críticas, de pessoas que têm um conhecimento aprofundado e - nalguns casos - direto do que se está a passar nesta guerra do «Ocidente» contra a Rússia, em solo ucraniano e usando o povo ucraniano como «carne para canhão».
A eficácia da neutralização dos sentimentos pelo aparelho ideológico - da media e governos fusionados- experimentou-se durante a crise do SARS-Cov-2. Esta pseudo- pandemia continua a fazer vítimas. As das injeções de «vacina», que apenas serviram para aumentar os lucros da Pfizer e doutros gigantes da indústria farmacêutica. Mas, também são vítimas, as corajosas pessoas que se ergueram contra a monstruosidade e perderam o emprego, não receberam indemnização nenhuma, nem será feita justiça, pelo andar das coisas.
Juntaram as duas coisas: A psicose coletiva do COVID e a crença na propaganda de guerra do Ocidente sobre as sua própria população. Estes mecanismos implicaram a supressão ou inversão dos sentimentos das pessoas «normais» que receberam constantes mensagens de propaganda, como avisos assustadores, falsas informações, descrevendo o inimigo como inumano, tranquilizando a má consciência que grande parte poderia ter, através de respostas ilusórias, tais como:
«O vírus é muito mau e muito mortífero, mas nós sabemos resolver o assunto, que se resume a que te submetas e te vacines, não prestando atenção a avisos vindos de pessoas maldosas, pois a única cura é uma vacinação maciça de todos, incluindo idosos, grávidas e crianças...»
ou
«O Putin é o novo Hitler, a Rússia é o reino do Mal, mas nós vamos apoiar sem desfalecer, de todos os modos, a valente e democrática Ucrânia. Não há dúvida que os maus dos russos vão sofrer uma derrota, face às sanções impostas pelo Ocidente e ao seu apoio em armamento, peritos, mercenários, biliões e mais biliões de dólares».
Note-se que, até pouco tempo antes da invasão russa, o perigo de milícias ucranianas de extrema-direita, integradas nas forças armadas desse país, foi assinalado pela própria media mainstream. Depois, esses elementos de extrema direita desapareceram do «écran mediático» e passaram a ser «heróis». Estas mentiras cosidas com um fio bem visível não apoquentam as pessoas, mesmo depois delas perceberem que, afinal, foram enganadas. Isto só é possível com a ilusão continuada de que as «democracias» ocidentais têm eleições ditas «livres».
Os partidos autorizados pertencem ao espectro de «admissibilidade» dos donos do sistema. De qualquer maneira, só têm hipótese de vencer, quando forem partidos bem financiados, o que implica grandes donativos de grandes multimilionários e das suas empresas. Na comunicação social, a janela de Overton ainda é mais estreita, com seus «fazedores de opinião» nos diversos canais televisivos. Partidos ou candidatos que saem fora do «script» de antemão decidido, são logo calados ou difamados. Ficarão com sua imagem associada àquilo que o eleitor típico mais detesta. Os partidos ou candidatos atacados não têm meios para desfazer as calúnias e repor a verdade. E as coisas estão feitas exatamente para funcionar deste modo.
Qualquer pessoa que use o seu cérebro, que não vá atrás de qualquer propaganda e que conheça algo da história do século vinte, não através das «histórias míticas» mas através de bons autores, que analisam em profundidade os regimes totalitários do passado, irá reconhecer que ou estamos já num totalitarismo, ou para lá caminhamos.
Os que apontam o dedo a regimes «comunistas», dizendo que esses é que são os «verdadeiros» totalitários, são pessoas imbuídas da ideologia neoliberal, ou seus propagadores. Com efeito, é um facto que vários regimes, ditos «comunistas», são capitalismos de Estado com pouca preocupação pela liberdade dos cidadãos.
Mas no «Ocidente» estamos em capitalismo de grandes monopólios (multinacionais), que capturaram o Estado; são outra modalidade de capitalismo de Estado. Os cidadãos não são ouvidos ou respeitados: São antes enganados, manipulados, nutridos de falsidades, de propaganda, como «manada de gado» para fazer exatamente o que a oligarquia quer. Não há qualquer respeito pelos indivíduos, pelos seus direitos cívicos e humanos.
Em que é que uns e outros diferem? No modo como agem e se posicionam, mas ambos os sistemas estão basicamente a fazer a mesma coisa, ou seja,  manterem-se no poder, alargando o controlo a todas as esferas; suprimindo a verdadeira concorrência, tanto no plano económico (com as "rendas de monopólio", presentes em ambos os sistemas), como no plano político, anulando os direitos individuais, coletivos e sociais (suprimem-nos na prática, embora os mantenham nas suas constituições).
Só com imenso trabalho de educação (auto- educação) e de abertura crítica, podemos sair da redoma mental (a Matrix verdadeira) que nos encerra a todos, com o resultado de ficarmos impotentes: Não sabendo «ler» a realidade, não são somente os bons sentimentos que nos permitem combater esta situação. É também necessária uma inteligência de como funcionam os sistemas, para se conseguir mudar algo.
Isso não é dado pela educação formal. Nem vale a pena explicar porquê: Se houvesse uma aprendizagem de pensamento crítico, a cidadania despertaria e nunca permitiria que a acorrentassem, como o têm feito as «elites» políticas e económicas deste mundo.


quarta-feira, 9 de novembro de 2022

MICHAEL HUDSON: PORQUE RAZÃO OS EUA TÊM UMA POSIÇÃO ÚNICA NA HISTÓRIA DO IMPERIALISMO?


 O Prof. Michael Hudson dá uma entrevista memorável, que não deverá deixar de ouvir/ver! (para melhor compreensão pode acionar as legendas automáticas em inglês)

terça-feira, 1 de março de 2022

«LE DÉSERTEUR» DE BORIS VIAN // QUANDO A MÚSICA DÓI



Aqui, uma das músicas que nos encheram o espírito e o coração, nos idos anos sessenta do século passado. Ou foi há vinte séculos???
Elas estão mais esquecidas porque raramente são evocadas ou retomadas, ao contrário das produções do showbiz, a máquina do espetáculo. Não é por acaso que existe - vemos à nossa volta, agora mesmo - uma sociedade sem memória coletiva, sem conhecimento da história, descerebrada. 
Infelizmente, eu terei de ser um desertor, se isto continua a ir de mal para pior. Demasiados sinais vão nesse sentido.
Não compreendo bem como as pessoas se deixam tomar pela paixão a favor da guerra, mas penso que esteja relacionado com a manipulação dos instintos profundos de sobrevivência, do medo da morte e de serem ostracizadas. Poucos são os homens e mulheres que têm a coragem (sim, hoje em dia é precisa) de pensarem por si próprios/as e, igualmente, de serem coerentes consigo próprios/as. 
Apesar do meu ceticismo, apelo ao bom-senso, à humanidade, ao sentido de responsabilidade de todos/as que me leem:
Não vamos, intencionalmente ou não, assoprar os ventos da guerra. Agora, do lado dos poderes, há um desencadear de furacões e tornados. 
Se queres a paz, trabalha pela paz!
Uma paz dentro de ti, com os outros, com aqueles/as com quem te sentes em dissonância, especialmente. 
Este Mundo é para ser partilhado por todo o género humano, por todas as culturas e países. 
A guerra, seja a que nível for, é sempre uma má solução; ou melhor, não é realmente uma solução. 
Tudo o que deixa, é desespero, destruição, amargor e desejo de vingança, nos que a sofrem. Em geral, sofrem muito também os que não têm um mínimo de participação na loucura coletiva. 

O meu coração não pode ter sentimentos antagónicos contra os povos, sejam eles quais forem... Os povos ucraniano, russo, da União Europeia, britânico, dos EUA... Não tenho nada contra eles (e os restantes)! 
Mas, tenho contra os dirigentes, os líderes que, ao longo de décadas, nos têm coletivamente levado para o abismo, passo ante passo, falhando redondamente na promessa (explícita ou implícita) de criar condições de segurança coletiva, para as nossas sociedades, para o Mundo.

O que parece extremo, de minha parte, não o é, afinal. Sempre foi a mensagem do humanismo, da filosofia, da espiritualidade. Se procurarem, verão que temos exemplos claros disso, no presente e nas tradições dos diversos países, que estão agora tão apartados. 
Neste contexto, é preciso evitar o mal que consiste em diabolizar o outro, em colocá-lo (explícita ou implicitamente) num plano de «não humano». 

A propaganda apoderou-se da media, sobretudo a media com meios mais poderosos de difusão. Em simultâneo, são censuradas informações e opiniões, que se afastem da ortodoxia ditada pelos poderes, nesta Guerra Global em que nos encontramos mergulhados. Estes mecanismos acabam por anular qualquer réstia de liberdade. Eles tendem a extravasar para aquelas áreas e assuntos que os poderes decidam que são «tabu». Porque, sem liberdade de informação e de opinião, não se pode manter nenhuma liberdade verdadeira.

Será que a humanidade se vai deixar levar - mais uma vez - ao matadouro? Desta vez, seria a vez definitiva; se houver vida, não haverá nada que valha a pena viver, no seguimento duma guerra nuclear. Note-se que é impossível haver uma guerra nuclear limitada. Nas circunstâncias atuais, há a certeza de que um primeiro golpe nuclear, por um dos adversários, não vai impedir que o outro conserve várias possibilidades de contra-ataque nuclear. 
Mesmo que não houvesse uma tal riposta, o «inverno nuclear», isto é, o arrefecimento brusco do clima e a diminuição duradoira da fotossíntese, devido às partículas de poeira radiativa em suspensão depois das explosões,  causaria o definhar lento, horrível e definitivo da espécie humana. 
Querem isso ... Ou preferem acordar da ilusão e do condicionamento e agir responsavelmente, como humanos? 



Le Déserteur

Le déserteur
Monsieur le Président
Je vous fais une lettre
Que vous lirez peut-être
Si vous avez le temps
Je viens de recevoir
Mes papiers militaires
Pour partir à la guerre
Avant mercredi soir
Monsieur le Président
Je ne veux pas la faire
Je ne suis pas sur terre
Pour tuer des pauvres gens
C'est pas pour vous fâcher
Il faut que je vous dise
Ma décision est prise
Je m'en vais déserter
Depuis que je suis né
J'ai vu mourir mon père
J'ai vu partir mes frères
Et pleurer mes enfants
Ma mère a tant souffert
Qu'elle est dedans sa tombe
Et se moque des bombes
Et se moque des vers
Quand j'étais prisonnier
On m'a volé ma femme
On m'a volé mon âme
Et tout mon cher passé
Demain de bon matin
Je fermerai ma porte
Au nez des années mortes
J'irai sur les chemins
Je mendierai ma vie
Sur les routes de France
De Bretagne en Provence
Et je dirai aux gens
Refusez d'obéir
Refusez de la faire
N'allez pas à la guerre
Refusez de partir
S'il faut donner son sang
Allez donner le vôtre
Vous êtes bon apôtre
Monsieur le Président
Si vous me poursuivez
Prévenez vos gendarmes
Que je n'aurai pas d'armes
Et qu'ils pourront tirer

 

domingo, 13 de fevereiro de 2022

Os Senhores do Mundo e os Povos do Mundo




With God on our Side*
(música e letra de Bob Dylan)

«With God on our side», ou «Gott mit uns», etc... Sempre a mesma cantilena. Será que vai funcionar também desta vez? Será que a propaganda maciça dos media serviçais dos poderes poderá persuadir nossos povos que a «Rússia é o nosso inimigo e é o império do Mal»???
As pessoas que estão conscientemente a soprar os ventos de discórdia e de guerra, deveriam ter medo de já não estar «na Graça de Deus», caso fossem cristãs. Porque, a maior parte dos governantes e dos que os manipulam, dizem-se «cristãos». Cristãos, que não hesitam em atacar um país fundado na base do cristianismo ortodoxo, há cerca de um milénio, onde a aventura do comunismo autoritário e oficialmente ateu, se saldou num retumbante fracasso. Nesse fracasso, teve imenso peso a espiritualidade do povo russo, que nunca esqueceu a sua relação de origem com o cristianismo. Foi a sua fé que lhe permitiu aguentar com paciência, coragem e estoicismo, os cerca de 70 anos terríveis, incluindo os da IIª Guerra Mundial e os de Estaline.
Francamente, eu estou mais perto dos cristãos ortodoxos russos, que dos cristãos ocidentais, que dizem seguir os Evangelhos e a Religião do Amor, mas que - porém - fazem tudo ao contrário dos ensinamentos de Jesus Cristo. Estes, só têm como finalidade aguentar-se no poder, porque o poder significa benesses, privilégios, opressão dos menos fortes. Onde é que isto é «cristão»?
A canção de Bob Dylan tem-me obcecado nestes últimos dias. É como música de fundo, descrevendo acertadamente a hipocrisia dos poderes «cristãos» e a ilusão de um povo. Na canção de Bob Dylan, trata-se dos EUA e do povo americano, mas - igualmente - pode ser qualquer um, do campo «Ocidental». Estes, têm sido abundantemente aspergidos com propaganda de ódio contra tudo o que seja russo*. Têm sido doutrinados, têm sofrido lavagens ao cérebro, por políticos e media de massas sem escrúpulos, constantemente.
O renovo do belicismo e da agressividade (fabricada) contra a Rússia não tem outro fim, senão manter as pessoas num complexo de medo.
Agora, que a narrativa do COVID está (quase) desacreditada, eles estão a inundar as mentes com outro «papão»!! Já não servem as narrativas utilizadas até há bem pouco tempo:
-Nem o «vírus mortífero» que já está amansado,
- Nem «o terrorismo jihadista», que agora serve na Síria para fazer a guerra em «nosso nome»,
- Nem «o comunismo», que já não assusta, como na Guerra Fria Nº1, agora é um «fantasma de anteontem».
Então, agora é o medo pânico da guerra: Enquanto eles conseguirem manter as pessoas num complexo de medo, sabem muito bem que elas não se atreverão a rebelar-se contra eles, os poderes que as oprimiram e oprimem, que lhes mentem constantemente e são culpados dos crimes mais graves.
Causar uma guerra é um crime contra a humanidade e incitar à guerra, é também um crime contra a humanidade. Porque será que este princípio acima, que é o da ONU, soa agora como «irrealista», quando deveria reunir o consenso mais amplo, entre as nações e os povos???
- A resposta é que não existe, na maioria dos dirigentes ocidentais, verdadeira compreensão do que seja a paz. Além disso, o poder hegemónico de Washington, levou a que eles se tomassem, a si próprios, pelos «Senhores do Mundo**».
A conivência com os poderes criminosos nunca foi uma atitude cristã. Os cristãos foram perseguidos inúmeras vezes no passado histórico e continuam a sê-lo no presente. A perseguição mais grave, no entanto, é o que eu chamaria de extinção por dentro do cristianismo. Fazer dele uma mera «decoração», um «ritual social», é a pior traição que se possa fazer. São cúmplices igrejas e seus chefes, de várias denominações, assim como hierarquias, que não fazem nada de positivo para dissipar os ventos da guerra e militarismo, que têm sido assoprados ultimamente.
Será que as suas palavras só se aplicam quando servem a propaganda dos seus governos, quando vêm reforçar o complexo de medo?
- Se a resposta é sim, então devemos rezar um requiem pelas mesmas igrejas e pelos seus dirigentes, pois estão mortas, em termos de fé cristã. Estão mortas, deixaram de estar na cristandade. Há pessoas individuais, dentro dessas instituições, que não perderam a coragem, que dizem as verdades, mas elas são (ainda) demasiado poucas. Demasiadas «ovelhas» estão desatentas, ou tomadas pela hipnose coletiva. Há uma janela estreita de tempo para que elas acordem, antes que os globalistas levem a cabo seus planos sinistros.
A força do povo é muito maior do que ele próprio suspeita. Vejam-se os presentes exemplos de movimentos de desobediência massiva e não violenta do povo cristão do Canadá, de França, de vários outros países ocidentais. Verifico que estes movimentos são inclusivos, são tolerantes, não-violentos. É exatamente aquilo que se espera duma luta de povos profundamente cristãos (e mesmo que alguns tenham outras religiões, ou sejam agnósticos, ou ateus). Estes povos estão fartos e já acordaram para o que as «elites» dos seus países, e a «elite» globalista, querem impor a nós todos.
É fácil nos conectarmos uns com os outros, é fácil e necessário - neste contexto - construir alianças pelos nossos interesses, no curto e longo prazo, isto constitui a verdadeira cidadania. Só assim poderemos, no longo prazo, construir a sociedade que todos desejamos. Uma tal sociedade terá as melhores relações possíveis com os outros povos. Isto é também o que estes querem.
A isso chama-se viver em paz, a Paz do Senhor: Esta Paz encontra-se no coração de cada pessoa, individualmente, quer seja cristão, ou tenha quaisquer outras posições religiosas e filosóficas. Deveria estar, em particular, no coração de alguém que se assume como cristão. Seja de que tendência for, um cristão tem de recusar a histeria belicista e, pelo contrário, espalhar o espírito de paz à sua volta, apoiando as iniciativas que reforçam a paz e o bom entendimento entre os povos, sem sectarismos, sem atitudes racistas, ou xenófobas. Todos os povos são muito semelhantes em suas aspirações mais profundas pela paz.

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(*) Excerto da letra
«I've learned to hate the Russians
All through my whole life
If another war comes
It's them we must fight
To hate them and fear them
To run and to hide
And accept it all bravely
With God on my side »

(**)
Em termos cristãos, a designação «Senhor do Mundo» é sinónimo de «Senhor dos Infernos». Não sei o que pensa o leitor sobre a existência do inferno e do mal. Mas é evidente para mim, que esta época é marcada por um total divórcio entre a Palavra dos Evangelhos e a prática dos que se dizem cristãos. Infelizmente, há demasiados cristãos de base, com sua indiferença ou ilusão, que acabam por reforçar os poderosos, através do voto, do apoio e do silêncio cúmplice perante tudo o que sabem, no foro íntimo, que está mal e que é anticristão.