Muitas pessoas aceitam a situação de massacres de populações indefesas em Gaza e noutras paragens, porque foram condicionadas durante muito tempo a verem certos povos como "inimigos". Porém, as pessoas de qualquer povo estão sobretudo preocupadas com os seus afazeres quotidianos e , salvo tenham sido também sujeitas a campanhas de ódio pelos seus governos, não nutrem antagonismo por outro povo. Na verdade, os inimigos são as elites governantes e as detentoras das maiores riquezas de qualquer país. São elas que instigam os sentimentos de ódio através da média que controlam.
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domingo, 16 de julho de 2023

CRÓNICA ( Nº14 ) DA IIIª GUERRA MUNDIAL

                             


Temos de aceitar uma vez por todas que, apesar da guerra na Ucrânia ser uma carnificina como não houve muitas, o cenário principal desta Terceira Guerra Mundial joga-se em planos muito diferentes do mero confronto militar. É um confronto total: Nada mais óbvio, a meu ver, que a luta de uns (BRICS e associados) para arrancarem a hegemonia do dólar, por um lado. Por outro, os EUA e seus aliados, a fazerem tudo para guardar essa hegemonia, incluindo - mas não exclusivamente - através da guerra «cinética» ou dita convencional, fazendo pairar a ameaça de guerra nuclear.

 (Ver minhas crónicas anteriores: Crónica Nº13 da IIIª GUERRA MUNDIAL)

Li alguns artigos (ver links em baixo) e tentei resumir, neste escrito, o que aprendi com eles.



Alasdair Macleod chama-nos a atenção para o anúncio - feito pela Rússia - de que estaria para breve uma nova divisa, da responsabilidade dos BRICS, que seria apoiada no ouro. Os media ocidentais, tentaram - como de costume - ignorar ou minimizar a importância deste passo, anunciado para ser oficializado dentro de tempo muito breve, na cimeira dos BRICS de Johannesburg. Os BRICS,  entretanto, vão-se alargando, a sua estrutura está a fazer a junção com outras instituições da globalização «alternativa», a Organização de Cooperação de Xangai e a União Económica Euroasiática. Trata-se - nada menos - da maioria da Ásia (incluindo países do Médio-Oriente), além de países de África e América Latina. Ao todo, serão uns 61 países (se a minha contagem está certa), a formarem este novo bloco, em torno do núcleo inicial dos BRICS.

A segunda peça, é de autoria de Marcel Salikhov, o diretor do Centro de Peritagem Económica da Escola Superior de Economia de Moscovo, inicialmente publicada no Valdai Discussion ClubEste documento lê-se como sendo uma planificação estratégica para acabar com a hegemonia do dólar. O autor di-lo, sem esconder os objetivos, com a segurança de alguém que sabe ter apoio e colaboração dum conjunto de especialistas monetários de vários países. Estes países constituíram a «Grande Aliança Informal»  que se alargou e consolidou, perante a constatação de que os EUA e seus vassalos não hesitavam em deitar pela borda fora as «regras internacionais», como as do FMI e do Sistema Monetário Mundial (Por ex.: O estatuto especial dos bancos centrais e dos seus ativos), ou a utilização de sanções unilaterais como meio de chantagem política sobre regimes não afetos aos senhores hegemónicos (Aliás, indo contra o espírito e a letra dos tratados da ONU e da OMC).  

Quem quiser, pode compreender -pela leitura do artigo - quais os passos propostos para a derrota do dólar enquanto instrumento bélico, usado para subjugar os Estados, exercendo sobre eles uma chantagem permanente, com o abuso do seu estatuto de «moeda de reserva».

Finalmente, o artigo do jornal on-line britânico Off-Guardian, por Riley Waggaman, correspondente em Moscovo. O rublo digital nasceu oficialmente, tendo a Duma (o parlamento russo) votado a lei na Terça-feira passada (a 11 de Julho de 2023). Note-se - de passagem - o silêncio, a falsa indiferença da media corporativa

O que me parece importante fazer sobressair é que este lançamento do rublo digital não é desgarrado, mas coordenado com o lançamento sob forma digital duma divisa própria dos BRICS. A China, por sua vez, já possui instrumentos técnicos para lançar o Yuan digital em grande escala. Já o fez, a nível experimental, em várias províncias.

Quem está imbuído de conceitos keynesianos, ou deles derivados, tem tendência a desprezar o papel monetário do ouro. Porém, agora, o ouro surge «em todo o seu esplendor». Qualquer país que queira aderir ao «novo clube», quer use um nome novo, ou o nome tradicional da sua divisa própria, precisa de ter um certo grau* de cobertura em ouro nas suas reservas bancárias. Isto tem  a sua lógica: Os países podem fazer comércio entre si usando moedas nacionais respetivas; mas, as trocas deverão ser periodicamente ajustadas pois, por coincidência somente, o valor das exportações dum país, cobriria exatamente o valor das importações do outro. 

[* Não se trata de convertibilidade automática em ouro, dum padrão-ouro como existiu no séc. XIX, até à Iª Guerra Mundial (1914-1918): Nessa época, as notas de banco eram literalmente certificados de ouro. O seu possuidor tinha direito de as trocar pela quantidade correspondente em ouro ao balcão dum banco comercial.]

O resultado de os membros, e da própria organização dos BRICS alargada, terem a sua divisa comum e as divisas digitais dos vários países (rublo, yuan, ...) com o «backing» do ouro, é que esvaziam as moedas digitais  que os países ocidentais pretendem lançar como versões digitais das divisas «fiat». Estas últimas, não são garantidas por nada, a não ser pela «confiança» nos bancos centrais e nos governos que as emitem!


ARTIGOS EM QUE ME BASEEI:

https://www.goldmoney.com/research/the-bell-tolls-for-fiat

https://www.informationclearinghouse.info/57678.htm

https://off-guardian.org/2023/07/15/the-digital-ruble-its-finally-here/


PS1 : Nomi Prins, em entrevista ao KWN, reforça os aspetos da mudança tectónica, referida no meu artigo acima. Veja e leia:

https://kingworldnews.com/nomi-prins-just-warned-what-is-about-to-be-announced-will-shock-the-world/



domingo, 5 de agosto de 2018

JOHANNESBURG: CIMEIRA BRICS PLUS

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Não é o facto da média corporativa ocidental fazer um quase black-out sobre a cimeira dos BRICS em Johannesburg, que acabou agora, que nos deve impedir de tomar conhecimento das decisões aí tomadas, das declarações feitas, do que será a grande cartada de uma integração dos países do «Sul global» para responder à hegemonia decadente e ameaçadora de Washington. Por exemplo: quem, no «Ocidente», sabe que a Turquia, a Jamaica e a Argentina foram convidadas de honra na referida cimeira?

Previamente à cimeira, o mundo tomou conhecimento da decisão do Banco Central da Rússia de vender, em Abril passado, basicamente todas as suas reservas em «treasuries» dos EUA, tendo a Rússia um discurso muito claro justificando o referido passo.      
  
               
A desdolarização da economia mundial, significando com isso que a divisa dos EUA deixa de ser «a moeda de reserva» internacional, tem consequências muito amplas ao nível da perda de controlo por uma potência do grosso do comércio e operações financeiras mundiais. 
Não menos significativa é a consciência clara de que os EUA deixaram de ser um parceiro fiável, como se pode constatar com a desastrosa retirada dos EUA do acordo multi-países que teria permitido levantar as sanções do «Ocidente» ao Irão. Esta retirada foi claramente um triunfo do lóbi sionista nos EUA, o lóbi com mais forte  influência na política internacional dos EUA.  
O Irão tem muito a ver com o acrescento «Plus» na designação dos BRICS. Sendo um país estratégico para a nova rota da seda, tem vindo a aproximar-se do eixo Pequim-Moscovo, sendo certo que irá - em breve - aderir formalmente à OSC Organização de Cooperação de Xangai. Igualmente, o Irão tem sido decisivo na resolução da tragédia da Síria, participando com a Rússia na Conferência de Astana, destinada a dar um futuro político a esse país, após uma guerra civil de sete anos.

As pessoas têm tendência a só atenderem às questões que são ventiladas na grande média: mas esta está, desgraçadamente, ao serviço das grandes corporações e do poder imperial. De maneira que o público dos países ditos «desenvolvidos» e «democráticos», perdeu acesso verdadeiro à informação, não tem portanto instrumentos reais para avaliar o mundo de hoje com realismo e formar um conceito próprio sobre a maneira como os dirigentes têm conduzido as políticas na arena internacional. 
É essa, precisamente, a razão de ser da fraca cobertura e do silêncio dos comentaristas de serviço, no caso da cimeira dos BRICS em Johannesburg e das decisões estratégicas que seus protagonistas têm adoptado, neste e noutros fórums que a precederam.