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sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

A CORRIDA AO OURO AINDA AGORA COMEÇOU

 


Seria difícil alguém contradizer Lena Petrova. Ela fundamenta rigorosamente cada afirmação que faz. Independentemente do «recado publicitário» no fim do vídeo,  são apresentados vários indicadores por Lena Petrova. O sentido destes indicadores é perfeitamente claro. 

A corrida ao ouro é impulsionada por bancos centrais, sem dúvida a China e outros países do oriente, ou ligados aos BRICS, mas também do campo ocidental, como é o caso da Polónia. 

Os bancos centrais compram ouro em quantidades tais, que o ouro minerado, anualmente, não chega: Isto significa que o ouro guardado em cofres, está a ser descarregado no mercado por uns e adquirido por outros. Penso que os primeiros são -sobretudo- os bancos comerciais do Ocidente. Estes têm de fazer face à subida rápida dos juros das obrigações e de cobrir suas perdas em apostas feitas nos mercados de derivados. Estes mercados são dos mais opacos em toda a finança, pois suas operações executam-se, geralmente, sem serem incluídas nos balanços das entidades bancárias. 

As grandes fortunas privadas e os "hedge funds", estão - pelo contrário - a imitar os bancos centrais orientais. Não se pode querer sinal mais claro de estarmos próximo dum ponto de inflexão no sistema monetário internacional. 

O que me parece mais provável, é os bancos centrais ocidentais «levarem ao tapete» suas respetivas divisas e tentarem, depois ou em paralelo, o «passe de mágica», da introdução das divisas digitais emitidas pelos bancos centrais (CBDC). 

Isto não vai resolver nada: Quanto muito, vai dar a ilusão ao público não-esclarecido, de que se entrou num novo paradigma. Na realidade, estão a camuflar as dívidas incorridas pelos Estados e outras entidades. O incumprimento destas dívidas e diversas obrigações irá sobretudo impactar os pobres e as classes médias. A classe financeira e os Estados entrarão em incumprimento, mas farão o jogo de apagar ou baralhar as pistas. 

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PS1 (15/12/2023): Dentro de pouco tempo, vamos ver a FED anunciar a inversão da política de subida das taxas de juro - ou seja - de restrição do crédito. Irá iniciar novo ciclo de expansão monetária, ou «Quantitative Easing»: A retoma da impressão monetária irá aumentar a pressão inflacionista. 

Em ambos os casos (restrição ou expansão do crédito), a economia real irá sofrer, com terríveis consequências para todos nós (ver AQUI , ou AQUI , entre vários outros artigos publicados).

domingo, 16 de julho de 2023

CRÓNICA ( Nº14 ) DA IIIª GUERRA MUNDIAL

                             


Temos de aceitar uma vez por todas que, apesar da guerra na Ucrânia ser uma carnificina como não houve muitas, o cenário principal desta Terceira Guerra Mundial joga-se em planos muito diferentes do mero confronto militar. É um confronto total: Nada mais óbvio, a meu ver, que a luta de uns (BRICS e associados) para arrancarem a hegemonia do dólar, por um lado. Por outro, os EUA e seus aliados, a fazerem tudo para guardar essa hegemonia, incluindo - mas não exclusivamente - através da guerra «cinética» ou dita convencional, fazendo pairar a ameaça de guerra nuclear.

 (Ver minhas crónicas anteriores: Crónica Nº13 da IIIª GUERRA MUNDIAL)

Li alguns artigos (ver links em baixo) e tentei resumir, neste escrito, o que aprendi com eles.



Alasdair Macleod chama-nos a atenção para o anúncio - feito pela Rússia - de que estaria para breve uma nova divisa, da responsabilidade dos BRICS, que seria apoiada no ouro. Os media ocidentais, tentaram - como de costume - ignorar ou minimizar a importância deste passo, anunciado para ser oficializado dentro de tempo muito breve, na cimeira dos BRICS de Johannesburg. Os BRICS,  entretanto, vão-se alargando, a sua estrutura está a fazer a junção com outras instituições da globalização «alternativa», a Organização de Cooperação de Xangai e a União Económica Euroasiática. Trata-se - nada menos - da maioria da Ásia (incluindo países do Médio-Oriente), além de países de África e América Latina. Ao todo, serão uns 61 países (se a minha contagem está certa), a formarem este novo bloco, em torno do núcleo inicial dos BRICS.

A segunda peça, é de autoria de Marcel Salikhov, o diretor do Centro de Peritagem Económica da Escola Superior de Economia de Moscovo, inicialmente publicada no Valdai Discussion ClubEste documento lê-se como sendo uma planificação estratégica para acabar com a hegemonia do dólar. O autor di-lo, sem esconder os objetivos, com a segurança de alguém que sabe ter apoio e colaboração dum conjunto de especialistas monetários de vários países. Estes países constituíram a «Grande Aliança Informal»  que se alargou e consolidou, perante a constatação de que os EUA e seus vassalos não hesitavam em deitar pela borda fora as «regras internacionais», como as do FMI e do Sistema Monetário Mundial (Por ex.: O estatuto especial dos bancos centrais e dos seus ativos), ou a utilização de sanções unilaterais como meio de chantagem política sobre regimes não afetos aos senhores hegemónicos (Aliás, indo contra o espírito e a letra dos tratados da ONU e da OMC).  

Quem quiser, pode compreender -pela leitura do artigo - quais os passos propostos para a derrota do dólar enquanto instrumento bélico, usado para subjugar os Estados, exercendo sobre eles uma chantagem permanente, com o abuso do seu estatuto de «moeda de reserva».

Finalmente, o artigo do jornal on-line britânico Off-Guardian, por Riley Waggaman, correspondente em Moscovo. O rublo digital nasceu oficialmente, tendo a Duma (o parlamento russo) votado a lei na Terça-feira passada (a 11 de Julho de 2023). Note-se - de passagem - o silêncio, a falsa indiferença da media corporativa

O que me parece importante fazer sobressair é que este lançamento do rublo digital não é desgarrado, mas coordenado com o lançamento sob forma digital duma divisa própria dos BRICS. A China, por sua vez, já possui instrumentos técnicos para lançar o Yuan digital em grande escala. Já o fez, a nível experimental, em várias províncias.

Quem está imbuído de conceitos keynesianos, ou deles derivados, tem tendência a desprezar o papel monetário do ouro. Porém, agora, o ouro surge «em todo o seu esplendor». Qualquer país que queira aderir ao «novo clube», quer use um nome novo, ou o nome tradicional da sua divisa própria, precisa de ter um certo grau* de cobertura em ouro nas suas reservas bancárias. Isto tem  a sua lógica: Os países podem fazer comércio entre si usando moedas nacionais respetivas; mas, as trocas deverão ser periodicamente ajustadas pois, por coincidência somente, o valor das exportações dum país, cobriria exatamente o valor das importações do outro. 

[* Não se trata de convertibilidade automática em ouro, dum padrão-ouro como existiu no séc. XIX, até à Iª Guerra Mundial (1914-1918): Nessa época, as notas de banco eram literalmente certificados de ouro. O seu possuidor tinha direito de as trocar pela quantidade correspondente em ouro ao balcão dum banco comercial.]

O resultado de os membros, e da própria organização dos BRICS alargada, terem a sua divisa comum e as divisas digitais dos vários países (rublo, yuan, ...) com o «backing» do ouro, é que esvaziam as moedas digitais  que os países ocidentais pretendem lançar como versões digitais das divisas «fiat». Estas últimas, não são garantidas por nada, a não ser pela «confiança» nos bancos centrais e nos governos que as emitem!


ARTIGOS EM QUE ME BASEEI:

https://www.goldmoney.com/research/the-bell-tolls-for-fiat

https://www.informationclearinghouse.info/57678.htm

https://off-guardian.org/2023/07/15/the-digital-ruble-its-finally-here/


PS1 : Nomi Prins, em entrevista ao KWN, reforça os aspetos da mudança tectónica, referida no meu artigo acima. Veja e leia:

https://kingworldnews.com/nomi-prins-just-warned-what-is-about-to-be-announced-will-shock-the-world/



quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

Causas da inflação: Pelo lado da procura ou pelo lado da oferta?

 Quando observamos a situação atual da economia e mercados nos países ocidentais, depara-se-nos uma situação estranha. 

As causas da inflação podem ser esquematicamente atribuídas a um excesso da procura (quando há mais dinheiro disponível do que bens consumíveis); ou a uma escassez da oferta, quando a produção não consegue satisfazer a procura dos consumidores (há menos produtos do que compradores dos mesmos).

Todos nós sabemos que a «crise do COVID» desencadeou uma resposta coordenada mundial de lockdown (confinamento) durante o mês de Março de 2020, tendo havido uma redução muito grande de toda a espécie de atividades económicas e de trocas comerciais, no mundo inteiro. As restrições draconianas supostamente necessárias para combater o vírus, foram muito pouco eficazes* no combate à epidemia. Porém, foram «eficazes» em perturbar gravemente a logística, o aprovisionamento das cadeias de produção, montagem e distribuição, de toda a espécie de bens manufaturados. 

Quem conhece o funcionamento de quaisquer empresas industriais sabe que elas - mesmo as maiores - tiveram imensas dificuldades. Algumas tiveram de interromper a produção - por exemplo, nalguns modelos de eletrodomésticos ou de carros - porque tinham esgotado os stocks de «chips» e de outras componentes essenciais e não facilmente substituíveis. Isto passou-se nos anos de 2020-2021.

 O sistema de produção industrial montado nos últimos decénios, adoptou a estratégia industrial do «Just In Time», ou seja, as componentes são produzidas à medida das necessidades de incorporação destas no produto final. Assim, os fabricantes evitam a existência de grandes stocks de componentes, a sua gestão complexa, os espaços de armazém a que obrigam, etc. Mas, por outro lado, é um sistema muito frágil, suscetível de ficar paralisado por causa de uma secção da empresa, ou de um fornecedor externo, que estejam a funcionar mal, ou estejam paralisados, por qualquer razão. 

As ruturas nas cadeias de produção foram um dos fatores que levaram a uma situação inédita, nos tempos recentes: Haver nítida escassez da oferta dos bens, em relação à procura. 

Depois, a situação não voltou inteiramente ao normal, pois as estruturas mais frágeis tiveram imensas dificuldades, que não foram colmatadas pelas ajudas dos Estados. Estas ajudas foram canalizadas para dois setores: a banca e as grandes empresas e o «dinheiro de helicóptero», as ajudas diretas para as pessoas, numa espécie de antevisão de um «rendimento universal» em certos países. As repercussões desta rutura ainda hoje se notam na estrutura produtiva, principalmente nos países do Ocidente, pois houve demasiados elos da cadeia de produção que foram interrompidos. Como sabemos, há muita externalização de serviços no funcionamento concreto das economias dos países afluentes. São estas, em geral empresas pequenas ou médias, as mais afetadas pela crise desencadeada pela resposta ao COVID. Quantas ficaram debilitadas? Quantas acabaram por fechar? Todos estes casos vão traduzir-se numa «escassez da oferta», que - muitas vezes - tem efeitos de desorganização noutros setores. Ao nível dos preços, houve uma subida não motivada pelo aumento da massa monetária em circulação (ou independente disso).

Por outro lado, criou-se um ambiente de «Guerra Fria nº2», com as sanções drásticas contra a Rússia e a criação de dificuldades nas relações com a China. As consequentes dificuldades dos países ocidentais, no abastecimento de gás natural e de petróleo, fizeram com que houvesse - a partir de Março de 2022 - uma subida muito grande dos preços  da energia. Esta inflação também é causada pela «falta de oferta», por escassez dos combustíveis: Aqui, trata-se de escassez autoinfligida, pois a Rússia não utilizou a «arma do petróleo» como contraposição às sanções muito duras dos países da NATO, em consequência da invasão da Ucrânia, em Fevereiro de 2022. Temos aqui uma segunda causa, muito importante, de inflação. O preço da energia não descerá facilmente para níveis semelhantes aos que vigoravam há apenas três anos atrás. O efeito direto é no consumo das famílias, afetadas pelas faturas bruscamente crescentes do gás, da eletricidade e de gasolina. Porém, muitas atividades económicas são severamente castigadas pelo aumento da componente energética nos seus custos de produção: A maior parte das empresas fica no dilema de aumentar os preços dos seus produtos devido ao aumento da fatura energética, ou de manter os preços para não perder clientes e ficar afetada no seu rendimento, podendo mesmo ter de decretar falência.

Uma subida das taxas de juro vai encarecer o crédito e logo, em muitos casos, vai «arrefecer» a procura. Por exemplo, juros mais altos = menos crédito à habitação = menos compradores de casas. Mas, tais subidas de taxas de juros funcionam para situações em que haja maior disponibilidade das empresas e dos particulares para consumirem mais. Ou seja, a subida da taxa de juros, só tem efeito se e somente se houver um excesso de capital disponível no sistema. Não se trata disso, no caso atual, mas da escassez ao nível da produção, da oferta de produtos. Logo, os «remédios» que os bancos centrais - a pedido dos governos - aplicam, são totalmente ineficazes para minorar a crise. Pior: são prejudiciais, pois limitam o crédito à produção das empresas, quando justamente, era preciso aumentar tal produção. As medidas levadas a cabo pelos governos e bancos centrais ocidentais não servem, porque é a capacidade produção em variados setores que está a ser afetada. As economias ocidentais sofreram uma retração - brutal nalguns casos - da oferta: A única política económica eficaz passará por criar condições materiais, concretas, para acabarem os estrangulamentos artificiais da produção. 

Um levantamento das sanções absurdas contra a Rússia impõe-se. Aliás, estas sanções são causadoras do maior dano aos próprios países que as decretaram. A Rússia tem-se mostrado capaz de lhes fazer frente. Tem mostrado possuir uma economia muito mais resiliente do que os políticos do ocidente julgavam. Sobretudo, não sofreu de isolamento ao nível internacional, como aqueles esperavam. Tem alargado as relações a todos os níveis com a China, a Índia e os países da Ásia do Sul e do Médio Oriente.

Há quem pense que a política monetária e financeira seguida no Ocidente está a precipitar os países  para o colapso. Porém, será um colapso desejado, procurado, pois vem tornar possível, aquilo que em circunstâncias «normais» não o era. Refiro-me à digitalização a 100%, ou seja, os únicos instrumentos monetários legais seriam as divisas digitais emitidas pelos bancos centrais. A economia seria mais controlável pelos governantes,  mas isso não implica melhorias para as pessoas comuns, antes pelo contrário. Mas, tal como na saga da pandemia de COVID, uma psicose de medo pânico pode levar as pessoas a fugirem para «soluções» que vão ao contrário da sua autonomia. As pessoas trocam, com demasiada facilidade, as parcas liberdades de que AINDA gozam, pela segurança (FALSA) que lhes promete um Estado todo poderoso, em união com as grandes corporações**. 

A definição do fascismo - segundo o próprio Mussolini - está a ser realizada, agora, em frente dos nossos olhos, pela plutocracia e  governos «ocidentais»: A união do Estado com as corporações.

 


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(*) sabemos que as poucas nações (como a Suécia, mas não é caso único) que não entraram numa política mais estrita de confinamentos, tiveram taxas de morbilidade e de mortandade causadas pelo vírus Sars-Cov-2, da mesma ordem de grandeza e não superiores, às que fizeram confinamentos estritos.

(**) pense-se nos setores de AI, robótica, comunicação massificada, redes sociais cujos proprietários são magnates, redes de distribuição mundiais, etc. 


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Para saber mais sobre o assunto, consultar:

https://www.goldmoney.com/research/winter-in-central-europe-and-for-the-dollar

https://goldswitzerland.com/in-the-end-the-goes-to-zero-and-the-us-defaults/

https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2022/11/crise-sistemica.html

https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2022/09/colapso-progrmado.html