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domingo, 25 de agosto de 2024

OS PODERES ENLOUQUECIDOS*

(* POWERS GONE CRAZY)

Nesta época contemporânea, posterior à 2ª Guerra Mundial, perante conflitos acesos e guerras brutais cujas vítimas principais são - não esqueçamos - civis indefesos, vem a propósito lembrar que o maior avanço civilizacional, em todos os domínios, tem sido em épocas de paz, de tolerância, de vontade de comerciar e de conhecer outros povos.

Pelo contrário, as épocas de guerra, destruidoras de pessoas e empobrecendo de maneira duradoira os indivíduos e as sociedades, tanto nos vencedores como nos vencidos, foram épocas de estagnação dos saberes e em que recuou o nível de educação da população, em geral.

Um grande paradoxo destas épocas de conflito, é que os beligerantes de ambos os lados julgam estar dentro da razão; os outros seriam os bárbaros, que estariam - pelo menos, no plano moral - abaixo do que seria «o humano». A desumanização do inimigo ocorre antes de haver guerra, propriamente dita. É como se antes da guerra, os inimigos precisassem de ser anulados enquanto seres humanos, para «legitimar» o desencadear da violência, para os exterminar.

No meio da algazarra, os representantes oficiais das diversas religiões e correntes espirituais, são inaudíveis. Se as suas vozes pronunciam palavras sensatas para retomar os caminhos da paz, ou são ignoradas, ou são deturpadas por uma média totalmente ao serviço de um dos lados, o lado do dinheiro e das armas, não o lado do povo e seus interesses vitais. 
Os que fazem exceção, como Romain Rolland, que se colocam «Au-dessus de la mêlée» (acima da refrega), são caluniados (sem se poderem defender) pelos rastejantes vermes, que são parasitas do Estado e dos ricos e fazem seu modo de vida do cobarde insulto.

As multidões foram condicionadas a seguir a força política que faz maior barulho, que fala com «voz mais grossa». Tem-se verificado que este comportamento vai proporcionar que se instale um Estado que não respeita o Direito, um fascismo. Já vemos despontar isso em vários países europeus da OTAN e nos EUA.
O verniz de democracia, de liberalismo, de direitos humanos, estalou. A abjeta bestialidade vem à superfície. Ela é promovida pelos políticos do poder, financiados pelos oligarcas e assessorados por certos intelectuais do lambe-botas.
É a tripla aliança da oligarquia (multimilionários), com a média repleta de intelectuais «subsidiados», que enxameiam os écrans de TV ou «smartphone»,  e com o «Estado Profundo». Esta aliança é que decide os resultados das eleições e a composição dos governos. Com efeito, as eleições estão viciadas à partida, pela impossibilidade dos partidos e candidatos não apoiados pelos grupos acima, fazerem ouvir as suas vozes, esclarecer os pontos do seu programa eleitoral, ou dar a conhecer seus dirigentes e apoiantes mais destacados. Isto acontece, não apenas durante a campanha eleitoral, também nos intervalos  entre as campanhas, de forma permanente.

A exposição intensa nos media é fundamental, nos nossos dias: É indispensável, para alguém se tornar personagem famoso, este simples facto de aparecer frequentemente na TV. O sistema dito de democracia representativa cultiva esta assimetria constantemente: De um lado, as personalidades dentro da «janela de Overton» e do outro, as outras, marginalizadas. A narrativa dominante torna-se assim hegemónica, devido ao efeito seletivo/ amplificador dos media. 
 As pessoas ficam convencidas de seja o que for, se ouvirem e lerem quotidianamente, nos diversos media, basicamente a mesma narrativa, apenas com diferenças de pormenor. Quase ninguém se interessa em saber se existem, e o que exprimem as vozes dissonantes.

Tendo em conta as considerações dos parágrafos acima, torna-se claro que estamos perante a degradação das democracias parlamentares e perante a ascensão dum «Estado corporativo», resultante da fusão das grandes corporações [com os grupos de média associados], com o Estado e seus órgãos [o Executivo, o Parlamento, os Tribunais e Administração Pública].

Com os tentáculos longos e múltiplos, o complexo multimilionário/mediático/político/burocrático tem vindo a dominar a sociedade, não de forma ostensiva, como os totalitarismos do século XX, mas de forma perversa, como um árbitro corrompido. Como alguém que está sempre a favorecer um dos lados, facilitando o avanço dos seus peões, protegendo-os se eles estiverem em apuros, incentivando a deserção nas hostes contrárias, jogando com a possibilidade de ascensão em cargos públicos, etc.

Confesso que - durante muito tempo - achei que as pessoas que beneficiavam diretamente do sistema, eram somente uma ínfima minoria. Agora, tenho opinião substancialmente diferente: Penso que as pessoas mais diversas, das mais variadas condições sociais, económicas, navegam dentro da barca dos vencedores, de forma real ou ilusória, porque os tentáculos do complexo acima mencionado são longos e disseminam-se em toda a sociedade.
Por isso, se houver uma ou várias forças com um discurso crítico em relação ao sistema, não vão conseguir, por si mesmas, diminuir o domínio totalitário sobre as mentes. Tais forças críticas - desde que estejam em pequena minoria na sociedade - não serão brutalmente reprimidas, pelo contrário, serão toleradas. Acabam por servir de alibi para justificar que o sistema, afinal, é o mais democrático possível (sic!).

Esta foi a situação real das sociedades nas democracias liberais, até que o próprio cerne do sistema entrou em crise.
Refiro-me à impossibilidade de continuar com o «esquema, ou pirâmide, de Ponzi», que permitia manter os pobres mais ou menos submissos, dentro do «Estado Social», enquanto - ao mesmo tempo - as oligarquias auferiam lucros substanciais, agora mais com a especulação financeira, do que nas atividades industriais e comerciais do «capitalismo clássico».

É difícil de assinalar o ponto de viragem, porque se trata de um processo complexo, ocorrendo a partir de vários centros de decisão (mesmo se coordenados). Mas, se eu tivesse de escolher uma data para o momento em que caíram totalmente as máscaras «democráticas», seria o 11 Setembro de 2001, quando a potência hegemónica tomou pretexto para desencadear campanhas militares, numa escala e num grau de violência destrutiva não vistas, desde há mais de 50 anos.
Estas campanhas faziam parte de um plano tornado público em 1999 (PNAC). Tenha-se em conta que - muito antes do 11-09-2001 - sete países do Médio Oriente (Afeganistão, Iraque, Síria, Líbia, Irão, Iémen e Líbano) estavam na mira dos redatores do documento (os «neocons»). Consideravam eles que para manter a dominância mundial dos EUA, aqueles regimes teriam de ser submetidos, ou derrubados. Vemos até que ponto os neocons tiveram e têm influência na maior potência militar do Planeta. Todos os governos dos países que não aceitassem submeter-se ao poder hegemónico, estavam sujeitos a ser derrubados, por todos os meios: corrupção, subversão, coerção, sanções, bloqueios e meios militares, incluindo bombardeamentos e invasão.

Mas, a ambição de um Mundo unipolar, com um papel especial para os EUA, é resultante da húbris, da embriaguez da vitória (sobre a URSS). Os gregos antigos consideravam que era um perigo para um general triunfante; que ele poderia - por excesso de húbris - deitar tudo a perder. A «húbris» americana é absolutamente megalomaníaca, não tem qualquer hipótese de se realizar. No entanto, tem criado muito caos e destruição.
Ao querer levar a cabo esta política de híper-imperialismo, os EUA estão a condenar-se a si próprios e ao Mundo inteiro, com a possibilidade terrível duma guerra nuclear, que não terá vencedores e onde os sobreviventes serão mais infelizes do que aqueles que morreram no impacto direto das bombas nucleares.

A crise do imperialismo é relativamente fácil de se compreender. Chegou aos seus limites: A destruição que provoca é como «serrar o ramo onde está sentado». Tornou-se depredador, numa escala insustentável: Tanto em termos de capacidade de regeneração dos ecossistemas naturais, como de alimentação das populações (abandono da agricultura de autossubsistência, pela agricultura industrial virada para exportação); até mesmo as novas tecnologias são reorientadas, com o objetivo de reforçar os dispositivos de vigilância das oligarquias no poder. A produtividade, num sistema onde o lucro fácil da especulação tem rédea livre, não pode deixar de ficar afetada gravemente. Necessariamente, desce a produtividade real, ou seja, a relativa aos produtos e serviços, que são úteis à sociedade. 

Tudo isso sabemos, embora haja uma esquerda que insiste em conceitos marxistas completamente caducos, que podem ter parecido adequados numa altura em que o capitalismo (no séc. XIX) era sobretudo industrial, por oposição ao capitalismo do século XXI, financeiro e digital.  

Com efeito, a crise da esquerda é paralela à crise do capitalismo. Ela não conseguiu integrar, de forma harmoniosa, os interesses dos trabalhadores e da humanidade, com os da natureza, nem tem sabido como combater as novas formas de exploração. Muitas pessoas são encaminhadas para falsas conceções teóricas pois os que controlam os aparelhos partidários, se fossilizaram nesta ou naquela versão do marxismo. 

Por outro lado, tal esquerda ficou «órfã», porque durante anos e decénios, se limitou a arvorar o «socialismo real» como modelo.  Pelo menos, agora, um número significativo de pessoas, à esquerda, já percebe que o «socialismo real» não existe; ou que nunca chegou a existir, na verdade. 

Por muito tristes que sejam as experiências passadas de «socialismo real» em vários países, não se deve fazer tábua-rasa delas; é importante examiná-las criticamente. Pois, «quem não estuda a História, está condenado a repeti-la». Seria a coisa mais estúpida e trágica, repetir os erros de pessoas, partidos e governos, que se intitularam socialistas ou comunistas! Será que as pessoas de esquerda não conseguem descolar das etiquetas, dos slogans, das narrativas heroicas, e usarem as suas faculdades de pensamento?

Sei que existem dentro das fileiras da esquerda pessoas sinceras e inteligentes, que compreendem as tragédias que foram - em numerosos casos - os desempenhos das esquerdas no poder. Provavelmente, muitos têm receio de ir até ao fim do raciocínio, ou de o formular de um modo límpido: 

- Serei eu melhor para fazer tal coisa? Não, por certo: Pela simples razão de que não sou historiador, nem politólogo; não me considero competente para fazer uma «nova síntese».  E não teria qualquer efeito prático, mesmo que a fizesse, e que ela fosse bem feita. Pois, essa nova síntese só teria impacto, se fosse conhecida e discutida. Porém, sabemos como a dinâmica política é tributária da publicidade; se não fores muito conhecido, ninguém te vai ouvir/ler. 

Penso, no entanto, que do ponto de vista filosófico, é necessário nos libertarmos dos conceitos dicotómicos que têm moldado o discurso da política, assim como a forma como costumamos pensar a moral e muitos outros assuntos. 

Um primeiro passo, será nos centrarmos no código de conduta interior, a nossa ética pessoal, uma ética não egocêntrica, mas realista. Uma ética em que nos sentimos ligados, através de laço espiritual, ao Universo e tentamos descortinar, no livro da Natureza, o sentido da nossa caminhada.

 Se a sociedade não está capaz de nos compreender, não vamos gesticular para tentar agradar-lhe. Não vamos tentar ganhar adeptos. Mais frutuoso - em qualquer situação - é agirmos de acordo com o nosso código interior. Isto acabará por dar seus frutos, junto das pessoas que nos são próximas. 

É pelos atos, não pelas palavras, que as mentes se podem abrir. Não devemos ter ilusões de poder. É ilusório crermos que somos capazes de mudar as sociedades, individualmente. No entanto, as sociedades mudam e as vontades e consciências têm um peso neste processo.


terça-feira, 9 de julho de 2024

A DECADÊNCIA DO OCIDENTE

A verdadeira causa do desmoronar do poderio do Ocidente, é dupla:
Por um lado, está fortemente associada a fatores intrínsecos ao sistema, tais como a forma como o próprio sistema foi «moldando» a opinião pública e auto convencendo as elites da propaganda que  segregava.
Mas, por outro lado, é consequência inevitável de forças exteriores ao seu controlo, à sua vontade. Nomeadamente, o desejo de emancipação da maioria das nações e povos do Mundo, que não querem mais ser colónia ou neo-colónia dum império como os houve no século XIX, nem do atual império dos EUA, com as nações vassalizadas ao mesmo.

Penso que se trata, em grande parte, de uma autodestruição, onde os atos dos poderosos e das forças obscuras que os influenciam, acabam por ter o efeito precisamente oposto ao desejado. O aspeto trágico nisto, é que os mais destituídos, os que têm sido oprimidos durante séculos, vão ser (estão a ser) mais uma vez, as principais vítimas dos delírios hegemónicos da casta no poder.



O vídeo acima com a reflexão aprofundada de Michael Brenner sobre os conflitos na Ucrânia e em Gaza, foi publicado em 22 de Março deste ano. Não envelheceu nada, antes pelo contrário, pois os acontecimentos posteriores à conversa com Pascal Lottaz (Neutrality Studies), vêm acentuar a justeza dos pontos de vista do prof. universitário Michael Brenner*

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(*) Professor Emeritus of International Affairs at the University of Pittsburgh and a Fellow at the Center for Transatlantic Relations at John Hopkins 

domingo, 21 de janeiro de 2024

O SÉCULO DA DERROTA DO OCIDENTE

 Como qualquer poder imperial que tenha tido no passado uma expansão, o poder dos EUA, que é designado eufemisticamente por «Ocidente», está agora em declínio acelerado. Não será como a implosão da URSS, um colapso súbito, será antes um progressivo desmembrar das estruturas internas e internacionais que mantinham o sistema coeso. Esta progressiva perda de prestígio e de influência, são característicos de um Império em decadência. Esta, pode durar varias dezenas, ou mesmo, centenas de anos, nalguns casos. Mas, qualquer que seja o ritmo a que se produzem os fenómenos, eles são caracterizados por um abastardar dos valores. Contrariamente ao que uma mente imbuída de materialismo mecanicista poderia imaginar, aquilo que começa a enfraquecer, não são as estruturas materiais: as bolsas ocidentais podem continuar durante algum tempo a alimentar a ilusão de riqueza, as forças armadas do Império não deixam de ter um potencial de ataque e de destruição considerável, as sociedades  - elas próprias - não deixam de funcionar, por vezes com disfunções graves mas, no conjunto, mantendo uma aparência de normalidade. 

Não; aquilo que enfraquece de forma irreversível, é o aspeto moral ou ético; é o recuo do respeito pela legalidade; é a ausência de freio moral, sobretudo das classes dirigentes, o que se repercute em todos os níveis da sociedade;  é o abastardar das formas de representação da vontade popular; é a transformação de sociedades «liberais», em sociedades policiais, não se distinguindo o comportamento das suas polícias e dos seus tribunais, dos órgãos dos Estados que, no presente ou no passado, são classificados como «totalitários»; sobretudo, trata-se -da parte dos poderes- de impor a violenta opressão sobre os não-privilegiados, através da guerra, que serve às mil maravilhas para projetar os lucros dos consórcios militar-industriais-financeiros-tecnológicos, assim como de pretexto para a vigilância generalizada dos cidadãos; é a ocasião, sonhada pela oligarquia, para fazer passar leis que visam claramente criminalizar as dissidências.  

Quem não está plenamente a  compreender o que se passa agora, ainda está  tempo de o fazer.




Numa entrevista muito esclarecedora, Jacques Baud, antigo membro dos serviços de segurança da Suíça, foi entrevistado em TV Libertés. Nesta, ele descreve o conjunto de erros que o «Ocidente», ou seja, os poderes nos referidos países ocidentais, cometeram na avaliação da situação da Ucrânia, da Rússia e deles próprios. Seguiu-se uma dinâmica nada saudável de persistência no erro: como se o facto de se ser teimoso, pudesse magicamente reverter o erro, pudesse originar uma estratégia bem sucedida. 

O segundo elemento, é o livro de Emmanuel Todd, um conhecido geógrafo, demógrafo, analista das sociedades francesa e europeia, que escreve um livro que já é um marco inevitável no debate político e geopolítico, não apenas na sociedade francesa, como internacionalmente. Não tive ainda ocasião de o ler, mas compreendo, através daquilo que nos diz Pepe Escobar (e outros), que estamos perante o diagnóstico inapelável da decadência do Ocidente. Esta decadência é espelhada através da derrota militar, estratégica, moral e ideológica, do chamado «Ocidente» que, no espaço curto do século XXI, perdeu todo o potencial de simpatia e de possibilidade de encetar uma era de paz e de cooperação com outros poderes económicos e militares. Os governos americanos sucessivos, efetivamente controlados pelos neoconservadores - figuras pouco conhecidas, mas com muita influência na condução das políticas da Casa Branca - deixaram-se enredar na dialética duma nova guerra fria, que eles não poderão «vencer». 

Aliás, a Guerra Fria nº1, não foi o triunfo do poderio americano, antes pelo contrário, pois se tratou de uma implosão - portanto, a partir de dentro - da URSS e do sistema do Pacto de Varsóvia, porque os próprios dirigentes destes Estados compreenderam que o sistema de governança ao qual presidiam, não era sustentável, que estava condenado a ficar cada vez mais para trás na competição tecnológica com os EUA e o Ocidente, portanto, também na inovação nos sistemas bélicos, estreitamente associados às inovações tecnológicas nos campos da informática, da robótica, das tecnologias informação, ou seja, na ciência e tecnologia em geral.

Agora, o comportamento do Ocidente, prevejo, será de tentar cativar os Estados e respetivos povos, que estavam na sua orla e que tentavam não cair na dependência, de uns ou de outros. Nestes casos, prevejo que tentem a técnica da «cenoura ou do pau»: a cenoura de acordos bilaterais, o pau das sanções económicas, seguidas da força militar bruta, caso necessário.   Nos países vassalos dos EUA, pelo contrário, vai haver uma  desaparição da democracia, mesmo da democracia truncada, que existiu desde a segunda metade do século passado. Os povos não serão fáceis de vergar, porque têm um nível geral de educação que torna a propaganda terrorista dos media corporativos menos eficaz. Não se pode enganar um povo permanentemente, com mentiras sucessivas que logo se revelam como tais; uma tal circunstância não pode durar pois que, uma vez que o povo compreende como foi manipulado, é praticamente «imune» às novas campanhas de manipulação de massas. Quando o engano não já funciona, então entra o medo, ou seja, a repressão a quente, já não a supressão seletiva das vozes dissidentes, mas campanhas violentas, ao estilo dos piores regimes totalitários que a humanidade conheceu.

 Finalmente, aquilo que sobressai do panorama atual é que a civilização judaico-cristã, tal como existiu desde a queda do Império Romano até hoje, está ferida de morte. Ela não pode sobreviver aos «mil ferimentos» que são constantemente produzidos, não apenas pelos seus inimigos, como - sobretudo - pela ausência de  discernimento de altos dirigentes dos Estados, quer sejam governos ou Estados-Maiores das forças armadas. A somar a isto, dá-se uma recente e violenta negação dos valores de defesa dos direitos humanos, da liberdade, da democracia, apregoados pelos governos, embora não fossem cumpridos. As situações tornaram-se tão conspícuas que, nem mesmo uma espessa camada de propaganda, pode ocultar a verdade de que à pequena elite, só lhes interessa o poder. Esta elite, para o manter, não hesita em sacrificar centenas de milhares de vidas inocentes e em destruir a hipótese das vítimas sobreviventes poderem ter uma pátria, onde levassem uma vida decente: isto tanto se aplica à Palestina como à Ucrânia.

Não creio que esta fase, de «Guerra Fria 2.0», possa durar: Ela será instável, pois não haverá «equilíbrio do terror», como no tempo da URSS. Haverá sim, um conjunto de ações de destabilização de parte a parte que, ou se resolverão pelo desmantelamento do presente sistema geopolítico, ou talvez ocorra uma fragmentação que inviabilize a tomada de poder por qualquer entidade estatal ou supra-estatal, ao nível mundial. Dada a existência de atores sociopatas na cena mundial, dado o facto deles estarem nas mãos de poderosos lóbis, não se pode excluir, em alternativa, o cenário seguinte: Uma fuga para a frente duma psicopática e aventureira «elite» ao comando de algum Estado, que desencadeie uma guerra nuclear. Isto não está fora dos possíveis. 

terça-feira, 4 de julho de 2023

O RENOVO DA FILOSOFIA NATURAL

 

         Figura: simbolismo tranquilo de paisagem holandesa, séc. XVII 

Eu sinto que é necessário eclodir um novo ramo da grande árvore naturalista. Um ramo que pode florescer em meio das estruturas falsamente «inteligentes» e que nos cercam e mesmo nos invadem por todos os lados. 

Já não chega, com efeito, a resistência natural dos seres vivos e mesmo dos humanos, enquanto organismos. Na realidade, o que de positivo se poderia extrair de «progressos científicos e técnicos» neste novo milénio, foi desviado, quando não mesmo anulado, ou subvertido, pela civilização da ganância, do hedonismo e do individualismo exacerbado. Estas três características são apenas diferentes facetas dum fenómeno global de desorientação, decadência e desequilíbrio nas nossas  sociedades tecnologizadas, a saber:  

A ganância é o desejo de enriquecer e acumular riqueza por cima de quaisquer considerações éticas ou morais. Note-se que não considero o desejo de enriquecer, em si mesmo, como um mal. Mas, se as pessoas fossem formadas dentro de padrões de equidade e justiça (o que não acontece, antes pelo contrário) iriam naturalmente considerar que o facto de serem ricas, ou de terem enriquecido, se deve em grande parte, a estarem numa sociedade que lhes  proporcionou as coisas básicas, a própria organização social, sem o que os seus esforços teriam sido fúteis. A maior riqueza implica maior responsabilidade social, implica ter-se em conta a adequação do que se faz com o dinheiro e com  o poder daí decorrente. Isto seria a lógica de indivíduos que foram educados para internalizar certos valores. Pelo contrário, pessoas que não têm uma escala interna de valores acabam fatalmente por pensar que são ricas «porque o mereceram», etc.

Na escala individual, o hedonismo campeia, como forma predominante de comportamento, nas sociedades mais afluentes, mas também nas outras, com uma adoração de quem é rico, tem sucesso, tem fama, tem exposição mediática, etc. 

Este tipo de mediatização da vida pessoal chega ao ponto de uma «mise en scène» da própria vida pessoal e familiar, para se enquadrar dentro do imaginário da multidão adoradora do ídolo.  A media de «massas» é a principal promotora desta despudorada exposição da vida particular das «estrelas» (sejam de cinema, de desporto, de política, de empresários, dos membros de casas reais, etc.). Mas, não seria possível ela fazer este «trabalho de coscuvilhice», se as pessoas, que são o objeto dessa curiosidade, não se prestassem de bom grado ao jogo, não «abrissem as portas», por um lado; por outro,  este jornalismo vai ao encontro do desejo do público, ávido de intriga, de «ver pelo buraco da fechadura», ávido de conhecer as venturas e desventuras dos ricos e poderosos, de as comentar longamente, imaginando-se membro ou, pelo menos, frequentador dessa «elite».

O individualismo exacerbado é dado como «modelo» de comportamento. A ideologia de massas vai buscar todos os casos de «sucesso», que são invariavelmente descritos como a «gesta heroica» de um indivíduo, forçando o destino e finalmente recebendo o justo triunfo e recompensa pela sua persistência etc. Este discurso é um panegírico muito comum nos empresários. Têm todos eles uma característica; a de que «saíram do nada». Mas, também serve o propósito de mitificar a carreira de académicos, de médicos, de políticos, de artistas, etc. Portanto, nesta ideologia, o sucesso é tudo e assim tem-se as maiores nulidades promovidas a modelos de comportamento, de bom gosto e de virtudes!

Seria fácil atribuir isto tudo ao capitalismo, só que tal não decorre automaticamente do capitalismo, ou doutro tipo de organização económica e política da sociedade. Decorre do abandono da ligação do homem, dos homens organizados em sociedade, com a Natureza. 

Com efeito, este divórcio deu-se bastante cedo, na história da humanidade. Mas, embora a tecnologia inventada e desenvolvida, tenha sido sofisticada em vários domínios, desde a mais alta antiguidade, a vida em sociedade era ainda regida pelos ciclos naturais: As pessoas comiam o que a natureza lhes dava, na estação em que ela lhes dava; a agricultura era uma imitação da biologia e da ecologia; não a radical artificialidade, pondo as plantas e os animais em condições antinaturais, como hoje em dia, praticamente em todas as sociedade humanas (desenvolvidas, ou «em desenvolvimento»). 

Hoje tornou-se evidente, a humanidade está a ser acorrentada pelas invenções ou gadgets que alguns inventaram. Os que fabricam estes objetos tecnológicos dirão que eles trazem conforto, prazer, saber, velocidade, etc. Eles querem vender o máximo de produtos... nunca irão desvendar os aspetos negativos; porém, o público desejoso de consumir estes objetos, «esquece-se» de verificar minimamente se as promessas publicitadas, são reais ou apenas uma forma de publicitar o produto, «vendendo sonho».

A humanidade já não está em ligação com o mundo natural, na sua imensa maioria, pois uma maioria dos humanos habita em grandes cidades; outros, habitarão em centros urbanos mais pequenos, mas podem - numa proporção variável - estar tão «mentalmente urbanizados» como os primeiros. Sobretudo, a vida urbana com sua escravidão assalariada, a agressão à saúde e ao equilíbrio humano,  o gigantismo e  fealdade predominante do espaço urbano, etc. é ainda tida como local de vida «ideal», sobretudo pelos habitantes das áreas menos urbanizadas, ou rurais, que restam. Todos - ou quase - anseiam ir para a grande cidade, vista apenas pelas oportunidades, nunca vista através do prisma da exploração desenfreada e da vida antinatural.

Existe algum desejo de subtração a este ambiente urbano e à artificialidade do seu modo de vida mas, em muitos casos, este desejo permanece não realizado; noutros, as tentativas para viver em espaços rurais falham, porque as pessoas foram para lá com visões românticas do que é viver no campo, como agricultores. 

Em qualquer dos casos acima, trata-se duma pequena minoria. Enquanto a imensa maioria das pessoas urbanizadas anseia «estar no campo», mas em férias, apenas. Trazem para o espaço rural o modo de vida urbano («as casas de férias»), fazendo curtas estadias periódicas, numa transumância sazonal das famílias, sobretudo em estâncias de férias na costa, zonas  hipertrofiadas no Verão. São vilas e aldeias inicialmente rurais ou de pescadores, agora apenas vivendo de e para o turismo. 

Mas a Natureza embora esteja doente em muitos sítios é, sem dúvida, mais forte que as «civilizações», que apenas se interessam em extrair dela as matérias-primas, o rendimento, em pô-la a produzir como se duma fábrica se tratasse. A cura para os múltiplos males sociais que assolam a humanidade, não a tenho. Nem creio que alguém -seriamente - a possua. Certamente não a possuem, aqueles que se fazem arautos de filosofias ou ideologias de pacotilha, que aproveitam a moda ecologista, mas são destituídos de conhecimento científico. No fundo, são meramente políticos que se apropriam de slogans ditos «verdes», para melhor deterem as rédeas do poder (e os lucros daí decorrentes). 

Eu, antes de mais, procuro para mim próprio uma filosofia de vida: Um modo de ser e de estar, que seja compatível com as poucas verdades que eu reconheço, como sendo uma base válida para nortear o meu comportamento. Nesta medida, não proclamo que encontrei a solução para os problemas que afligem a humanidade. Tenho algum conhecimento, muito incompleto, dos modos como as sociedades funcionam, como se organizam, como produzem, com se distribuem no espaço, como se sustentam e se destroem a si próprias. Mas, de forma muito incompleta e com muitos erros, pois tenho de me basear por um lado, na experiência própria limitadíssima da sociedade, por outro de recolha de dados transmitidos por outros que - consciente ou inconscientemente - segregam sua visão do mundo (ideologia), ao descreverem os fenómenos sociais.

A filosofia natural parte do reconhecimento de que  Natureza tem um grau de complexidade e sofisticação enormes. Que encontrou soluções de adaptação a vários ambientes, com as suas características físicas próprias e com as comunidades de organismos que aí se encontram e vivem, sem «ajuda» humana de qualquer espécie. É também saber-se «ouvir» os animais e plantas, inclusive os «animais humanos» (e nós próprios), não para tirar daí «lucro» ou vantagem, mas para harmonizar o nosso comportamento, para estarmos inseridos harmoniosamente no Todo que é o Universo.

É uma religião, no sentido de re-unir o Homem com o Todo. As grandes religiões fazem isso, ou fizeram-no numa etapa da sua História, tendo sido reconhecidas como tal pelos que as fundaram, as expandiram e as seguiram. As ideologias, como reduções da «ciência» para servir de meio de alcançar o poder e de o manter, são «religiões», mas no sentido negativo de obscurecerem o relacionamento dos humanos com a Natureza e com o Divino. 

Se Deus é universal, se está em todo lado, se é omnisciente, se transcende tudo o que o espírito humano consegue conceber, então a Natureza é outra forma de designar Deus. Ela está em nós e fora de nós. Está nas estrelas e galáxias, assim como na profundeza dos oceanos e em todo e qualquer lugar que queiramos investigar. Queres respeitar a Natureza, então respeita-a como Divina, não a reduzas a objeto conveniente, ou a fonte de lucro. As relações entre os homens estão subvertidas, porque a relação dos homens com a Natureza e com Deus está subvertida. Só pode haver um progresso verdadeiro, se este progresso for para todos e isto engloba as gerações vindouras. Mas, este o falso progresso é depredador, faz-se à custa da capacidade de regeneração do ambiente e, portanto, das gerações vindouras. A orgulhosa civilização tecnológica mundializada, que nos aparece como «o progresso», não é mais do que a exacerbação do violar das leis naturais e divinas. Esta destruição é não criativa, ou seja, é uma depredação, em especial dos ecossistemas mais produtivos, em abundância e diversidade. 

Pare-se de chorar «lágrimas de crocodilo»,  a hipocrisia que consiste em afixar uma ideologia «verde» ou «ambientalista», para as pessoas se «sentirem bem com as suas consciências» e faça-se o que é necessário e possível, para se subtraírem a vós próprios, mas também ao vosso entorno (família, vizinhos, colegas...) a ideologia que mina e destrói irreversivelmente a capacidade de regeneração da vida.

Viver com consciência é, sobretudo, viver em função dum conhecimento do papel que tenho na Natureza. Quanto mais profundo for esse conhecimento, quanto melhor desempenho o papel que julgo ser o meu, melhor me sinto. Eu julgo que este sentimento é partilhado pelos humanos; senão por todos, por uma grande parte deles. É por isso que mantenho a esperança, apesar deste presente de regressão e degradação civilizacional, de que somos testemunhos.




quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

ACREDITAR OU NÃO ACREDITAR, EIS A QUESTÃO!

NA CIÊNCIA, ACREDITAMOS? 

NO ESTADO, ACREDITAMOS? 

NOS MEDIA, ACREDITAMOS? 

NAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS, ACREDITAMOS?

                William Banzai: https://www.zerohedge.com/news/2022-12-27/trust-science

Não sei se repararam, o verbo «acreditar» é que junta estas frases todas entre si. Mas o que é acreditar: É dar crédito a ...uma pessoa, uma ideia, uma religião, etc. 

As coisas repetem-se, no que toca à credulidade. 

Fazem as pessoas acreditar que um coronavírus é muito perigoso e causa imensos estragos, que a única maneira de nos vermos livres desse pesadelo é andarmos mascarados, enquanto não recebemos uma injeção duma «vacina» experimental (= um veículo de clonagem contendo um gene viral), e nós temos de «acreditar» que esta seja salvadora (1).  

Depois, constatamos que acreditámos nos media, nas autoridades de Saúde, nos fabricantes de vacinas, mas eles «enganaram-se» um pouco e, afinal, estas vacinas não previnem o contágio (curioso, como conservam o nome de «vacina» para algo que nem sequer previne o contágio). O pior é que as tais vacinas, «totalmente seguras», causam miocardites, AVCs e outros efeitos secundários graves, em pessoas saudáveis, com frequência superior a quaisquer outras vacinas, para outras doenças, que tenham sido aplicadas a largas populações.  A partir daqui, passam a chamar de «mortes por COVID», às mortes por injeção de «vacina» contra o COVID (2). 

No caso da guerra com a Ucrânia, dizem eles que a culpa é toda dos russos e de Putin. Mas, «esquecem-se» de dizer que, pelo menos 6 milhões de russos étnicos, vivendo nas Repúblicas separatistas do Don, foram, durante 8 anos acossados, bombardeados, massacrados, num conflito étnico brutal. O silêncio mediático e das chancelarias ocidentais, não foi suficiente para que tais atos fossem completamente ignorados e existem bastas provas desses crimes (3).

Na realidade, segundo o ponto de vista de altos responsáveis de países da NATO, não é «tolerável» que um país (a Rússia) seja tão privilegiado, que tenha, não apenas petróleo e gás natural suficientes para mais de um século, para si e para vender; também com tantos minerais estratégicos, com tanto território (o maior país do mundo, em área) e com potencial que não foi totalmente explorado (4).

Embora não seja frequente - nos media ocidentais - ser discutida a questão das riquezas naturais da Rússia, é ainda menos frequente ouvir-se falar daquilo que os responsáveis da NATO gostariam de fazer com ela: Ou seja, transformar este imenso território numa manta de retalhos de pequenas nações, onde cada nova entidade ficaria sem poder efetivo para negociar a cedência (por preços ridículos) de tais riquezas que, como devem calcular, estarão destinadas aos «civilizados» do Ocidente. Naturalmente, estes mesmos que têm iluminado as  nações que ajudam (5). 

Basta ver os «fogos de artifício» resultantes da alegria dos autóctones, desejosos de aderir ao modo de vida ocidental ... ou será  fogo causado por bombas napalm, bombas de fragmentação, e outras «prendas» que os prestimosos serviços aéreos lhes enviam como «ajuda», a esses povos atrasados???

Como não podia deixar de ser, visto que há guerra na Ucrânia, temos da acreditar nos «correspondentes» ocidentais em Kiev, ou nas capitais de países da OTAN. Eles não param de enviar copiosas «análises», do que se passa no terreno. Diga-se, em abono da verdade, que são totalmente impermeáveis à propaganda russa. Pelo que os órgãos de informação ocidental têm mostrado que as forças armadas ucranianas têm estado a vencer a guerra e que - a qualquer momento - virá a contraofensiva que destruirá o moral das tropas russas e logo  a população russa irá erguer-se em massa contra Putin, o pior facínora que jamais apareceu à face da Terra. Enfim, apenas vos dou uma pequena amostra da «objetiva» media ocidental, que tem alimentado a «reflexão» de tantos defensores da democracia, que é uma maravilha.    Só me resta uma dúvida; Por que razão eles não se mexem ou falam, quando são oprimidos e esmagados países pelas tropas «especiais» do mesmo Ocidente e os mercenários por eles alimentados e armados? Vá-se lá saber porquê... um mistério!

Têm os governos e a media ocidentais declarado que esta guerra na Ucrânia é muito perigosa, que pode desencadear uma escalada para um confronto nuclear. Porém, este facto objetivo nunca é justaposto na média e nos discurso oficiais, com o não menos objetivo facto de o tão odiado Putin ter repetidas vezes dito estar aberto a negociações de paz. Mas a isso, a resposta das chancelarias do Ocidente é um silêncio ensurdecedor. Ou antes, em vez de resposta da diplomacia, enviam-se armas, em cada vez maior número e mais poderosas, aos beligerantes do «nosso» lado, os «Azov» e outros nazis. Não há dúvida que o mundo todo deveria estar extasiado pela bondade e generosidade do Ocidente. 

Se tal não acontece, é porque são uns ingratos, só merecem aquilo que têm: São países atrasados, que apesar do nosso papel civilizador em África, Ásia, América Latina e Oceânia, não souberam aproveitar os benefícios da nossa ocidental generosidade. Agora voltam-se, os ingratos, para a China, que lhes proporciona «pequenas coisas» tais como caminhos-de-ferro, boas estradas, modernos portos e aeroportos, em condições muito razoáveis para os tais países em desenvolvimento, com pagamentos suaves, em períodos alargados.  É verdade que, com isso, poderão arrancar-se ao ciclo do neocolonialismo, deixarão de ter de vender os minerais e produtos agrícolas aos países do Ocidente, a troco de armas, aviões, carros blindados, obsoletos aqui no Ocidente, mas que são perfeitos para as guerras regionais que carinhosamente nós lhes cozinhamos, para os entreter!

Ouvi -no outro dia- alguém, um académico estrangeiro, vaticinar que o Ocidente está muito perto da derrocada, que em todo o lado há sinais de decadência, de corrupção e de brutalidade, que estes sinais já não podem ser disfarçados por retórica «democrática». Mas, claro, vê-se logo que não passa dum «agente de Putin». Porque os principais líderes de opinião do Ocidente, desde Biden a Van der Leyen, desde Trudeau até Klaus Schwab, todos eles nos dizem que estamos no início duma era nova, a «4ª Revolução Industrial». Porque não haveria de acreditar neles? A comunicação social está sempre a apresentar-nos os pontos de vista de personalidades célebres: Todos eles concordam com tal visão do futuro. Quem sou eu para duvidar de gente tão ilustre?

E os bancos? Ah, os bancos e instituições financeiras... como eles gostam do nosso dinheiro! É um mimo vê-los a aproveitarem-se da nossa insaciável gula, do nosso desejo de enriquecer, para eles se banquetearem. Os media também aqui prestam um excelente serviço, embora mais às instituições financeiras, do que a ti, caro leitor.  Se eu lesse todas as coisas que escrevem e se «acreditasse» nelas, seria - com certeza -  «tosquiado» e alguém ficaria um pouco mais afortunado, do que já era. A bolsa é um «jogo» de soma zero: O que significa que, aquilo que uma pessoa ganha, outra perde. Na economia, em geral, pode não ser assim: por exemplo, numa empresa que saiba aplicar uma estratégia inteligente, os empréstimos que fizer irão para o aumento da produtividade, ou para a expansão do negócio.  

Mas, numa economia financeirizada como é a nossa (6), as empresas vão antes fazer lucros através das suas aplicações financeiras. É típico grandes empresas fazerem auto compra dos seus títulos nas bolsas, para aumentar artificialmente o valor das ações. Multiplicaram-se as empresas que se dedicam à gestão de produtos financeiros (por exemplo CDS, ou outros derivados). Tais empresas sabem proteger-se das perdas; os riscos e potenciais perdas, são transferidos para os compradores desses produtos financeiros. Quanto às pessoas atraídas pela miragem dum lucro fácil, elas vão investir no topo dos ciclos. Estas, de certeza, irão ter perdas avultadas. O facto de acreditarem em miragens do dinheiro especulativo, é sinónimo, para tais investidores, de serem depenados!

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(1) O artigo abaixo descreve como as coisas se passaram, em relação ao «golpe de estado global» a pretexto da pandemia de covid: 

 https://unlimitedhangout.com/2022/11/investigative-reports/covid-19-mass-formation-or-mass-atrocity/?utm_source=substack&utm_medium=email

(2) Os numerosos casos de efeitos secundários graves, incluindo letais, da «vacina anti- COVID» foram denunciados por vários autores. Mas, esta inquietante realidade ficou encoberta «casualmente» pela invasão russa de 24 de Fevereiro:

https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2022/02/lesoes-e-mortes-subitas-apos-vacinas.html

(3) É esclarecedora a leitura crítica que Patrick Lawrence faz das declarações da ex-Chanceler Ângela Merkel a dois jornais alemães. Mostram tais entrevistas, o real posicionamento do Ocidente face à Rússia:

https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2022/12/a-alemanha-e-as-mentiras-do-imperio-por.html

(4) Na realidade, para os neocons que controlam o Estado profundo nos EUA a Guerra Fria (nº1) nunca acabou: 

https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2017/11/campanha-contra-russia-assemelha-se-as.html

(5) Os recursos, sempre os recursos... É esta a motivação real das forças atlantistas, para a nova Guerra Mundial não declarada, mas efetiva:

https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2022/02/mais-um-episodio-da-iii-guerra-mundial.html

(6) Não conheço melhor que Michael Hudson, para nos explicar em que consiste a viragem na economia ocidental, do capitalismo industrial para o  capitalismo financeiro:

https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2022/12/entrevista-com-o-prof-michael-hudson.html

https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2022/12/entrevista-com-o-prof-michael-hudson_20.html

domingo, 13 de novembro de 2022

CIVILIZAÇÃO EUROPEIA: DEMOLIÇÃO EM CURSO

«O Mahatma Gandhi, ao ser-lhe perguntado, “O que pensa da Civilização Ocidental?,” consta que respondeu, "Penso que seria uma boa ideia." »

Atribui-se a frase a Gandhi. Não consegui, porém, obter confirmação dele a ter proferido. Mas, mesmo apócrifa, a frase sintetiza o que muitas pessoas pensam sobre o orgulhoso Mundo Ocidental.

A demolição da economia, das instituições e da própria demografia, na chamada «União» Europeia, está em curso. Não nos deveríamos admirar, pois ela foi anunciada e programada de longa data e isso não passou despercebido a quem estava atento. Podemos nos admirar da passividade do povo, perante a demolição em grande escala da sua própria existência, do seu território, da sua cultura, da sua subsistência: Ele cai sempre na esparrela - óbvia - das sereias mediáticas, «É culpa de....» (preenche, com o nome do personagem mais demonizado no momento). Creio que existe um grande número de pessoas que estão confusas, não veem as manobras que as «elites» europeias estão constantemente a efetuar nas suas costas. Mas, também existe um número crescente de pessoas que vê e sabe, mas que tem medo. 

Por isso, este terreno é fértil para demagogos, desde a «extrema direita» à «extrema esquerda» e de tudo pelo meio. Daí se vê que a decadência, que desfigura a imagem das mais belas e emblemáticas cidades da civilização europeia, não é somente exterior, é também uma podridão interna do sistema, dos mais altos responsáveis aos meros executantes, nas instituições políticas, judiciais, científicas ou académicas. A podridão de que falo, deriva da ausência de uma moral ou ética, que permita às pessoas nortearem-se no torvelinho das mudanças nas suas vidas e em torno delas, na sociedade. Pois, a partir do momento em que deixaram de existir valores, destes já não terem sido internalizados, as pessoas ficaram suscetíveis a todas as corrupções.

Há quem aponte o facto de que, nesta sociedade inteiramente mercantilizada, também a consciência das pessoas é como uma mercadoria, ou como pastilha elástica que se pode deformar, esticar e encolher. Alguém disse-me (há muitos anos) que «nesta sociedade, todas as pessoas têm um preço»... Infelizmente, parece-me que sim, embora seja impossível testar a validade de tal afirmação. Mas, ficamos com a impressão de que as instituições foram corrompidas, não somente partidos políticos e diversos corpos do Estado, incluindo Forças Armadas,  Polícia e Tribunais; também na «sociedade civil», na vida económica, das atividades comerciais e industriais, às de prestação de serviços.

Esta é a civilização onde me encontro geográfica e temporalmente, mas não emotivamente, não em termos de ideologia, nem em termos racionais. Ela  irá desaparecer, algum dia. Isto poderá demorar uns cem anos, ou mais. Ou talvez demore muito menos tempo. Ela, a civilização ocidental decadente, não apenas produz no seu interior as substâncias tóxicas que irão causar-lhe a morte, como também vai deixar às gerações vindouras, um terreno largamente improdutivo, quase estéril. 

Há quem defenda que estamos no início duma nova «Idade das Trevas». Tal não me surpreenderia. Evidentemente, não temos possibilidade de dar um salto no tempo para avaliarmos, daqui a 500 anos ou um milénio, se efetivamente terá sido assim. Mas, os sintomas da decadência estão por todo o lado: Da economia, à governação, da ausência de valores (individuais e coletivos), às modas.  

A chamada civilização europeia/ocidental foi propulsora, no passado, de progresso científico e técnico. Devido a este facto, conservou algum prestígio junto dos povos colonizados por ela. Nestes últimos decénios, os povos ex-colonizados têm feito esforços para se libertarem do neo-colonialismo proveniente das antigas metrópoles coloniais. Porém, a superpotência hegemónica tem mantido a dominação global através dum capitalismo predador e parasitário, «financeirizado». Este capitalismo dedica-se a extrair lucro, principalmente em atividades de especulação e não do trabalho produtivo, como na era do capitalismo industrial.

- A aposta otimista é de que a decadência do Ocidente seja acompanhada pela ascensão de novos agregados de nações, erguendo novas civilizações, ou revigorando antigas, aproveitando parte da herança deixada pela civilização europeia moribunda

- A aposta pessimista é de que a civilização ocidental, sob hegemonia anglo-americana, fique cada vez mais agressiva, à medida que vai perdendo influência e poder. Num dado momento do processo, ela poderá desencadear uma guerra nuclear. Todos sabemos que isso implicaria a destruição das sociedades, da humanidade e talvez mesmo, de todas as formas de vida do Planeta, devido à contaminação de longo prazo dos ecossistemas, com os elementos radiativos libertados pelas bombas.


sábado, 4 de novembro de 2017

O QUE AS PALAVRAS ESCONDEM (DOS CÃES E DOS HOMENS)

Os cães não sabem fingir, ou pelo menos não fingem de forma habilidosa, sistemática e continuada. Os cães são superiores aos homens. Porque um cão é indiferente com indiferença, ou é afetuoso com afeto. Não teatraliza, não faz discurso das suas «boas acções». 
Os homens (espécie humana, entenda-se, os dois géneros e quaisquer outras identidades que quiserem), são permanentemente falsos, são incapazes de sentimentos verdadeiros, a não ser quando possuídos de intensas paixões e apenas nesses momentos. 
Fora disso, são dissimulados, hipócritas, ou cínicos. Eles podem declarar tudo  e o seu contrário, para depois fazerem exatamente como se nada tivessem dito ou prometido. 
Os homens que assim agem são muitas vezes considerados e admirados como sendo os «vencedores» e enquanto que os que têm preocupações éticas, que têm pudor e não exibem a sua insignificância... estes, têm em geral a etiqueta de «perdedores».

Esta sociedade está cheia de pessoas que espezinham os outros e de cobardes que tratam os tiranos com deferência e temor, porque reverenciam o poder. 
Esta sociedade está cheia de filhos e filhas que deixam os pais ao abandono, que querem ignorar que seus progenitores estão a passar misérias. 
Eles repudiam-nos, como se não fosse nada com eles; amanhã, se tiverem filhos, acontecerá o mesmo com eles. 

Uma sociedade assim não pode viver, pode apenas fingir que vive, porque a vida não é a satisfação da matéria, mas é antes uma expressão  do espírito cósmico. 
O fato da vida se ter amesquinhado tanto nas nossas sociedades, é sintoma de decadência. Se esta decadência é irreversível ou não; apenas o tempo (longo) o dirá. 
Mas, de facto, estamos em pleno itinerário de decadência civilizacional. 
As culturas, as civilizações, são como os frutos, começam a apodrecer por dentro. No exterior só se notam as marcas quando já a zona central (os sentimentos, as emoções, o saber emocional, o coração, o cerne) está completamente alterada.

Haverá um renovo espiritual, se a humanidade não se auto-destruir de uma das múltiplas maneiras estúpidas que ela inventou para o fazer... bombas nucleares, catástrofes climáticas, perda acelerada de fertilidade dos solos, contaminação das águas, etc. etc.
Porém, este renovo espiritual não é possível nestas situações actuais de decadência generalizada, neste ocaso civilizacional, nestes tempos realmente obscuros. 

Voltaire inventou a figura do senhor Pangloss. Um filósofo que encontrava sempre razões para otimismo, mesmo no meio das maiores desgraças. Se ele vivesse hoje teria muito maior dificuldade em criar um personagem Pangloss contemporâneo. 
As distopias de Orwell ou de Huxley não parecem tão negativas, se comparadas à  horrenda realidade que está perante nós todos. Mas só alguns conservam ainda alguma sensibilidade para compreender que estão a ser testemunhos de uma tragédia.

A humanidade está em perdição permanente e grave: um sintoma disso é a perda do sentido de empatia com quem sofre; aquilo que se chama de compaixão. 
Não existe esse sentimento tão belo e natural, que se pode ver no mundo dos animais e que até se expressa entre espécies diferentes quando uma fêmea de uma espécie adota e aleita uma cria de outra espécie. 

Muitos outros exemplos existem, no comportamento animal, que mostram claramente que eles possuem um elevado sentido moral, muito superior ao de muitos humanos, que dele têm pouco ou nada. 
Mas, os animais não falam...felizmente!
Se os animais falassem.... seriam exactamente (fora as aparências físicas, claro) como humanos. 
Sabemos isso desde os mitos, lendas e fábulas, em que animais simbólicos são postos a falar, a ter comportamentos e emoções de humanos.