Não pensem que Egon Von Greyerz é um dos «especialistas» que enxameiam a Internet com os seus prognósticos catastróficos. Como gerente de uma das maiores empresas de armazenamento de metais preciosos do mundo, tem de ter uma atitude responsável.
Ninguém pode assumir que ele seja anticapitalista, nem remotamente. O que me estarrece é que, tanto anticapitalistas como pró-capitalistas, estão a ignorar os avisos deste homem, há uma data de anos, assim como os de um Alasdair Mcleod , entre outros.
A maior parte das pessoas não percebe o que lhes vai cair em cima, porque não consegue fazer a diferença entre a verborreia alarmista destinada a arrebanhar «clicks», e a avaliação realista e fundamentada dos riscos, em particular, dos riscos geopolíticos, assim como os económicos/financeiros, os quais vão de par, evidentemente.
As pessoas estão habituadas a raciocinar, a ver as coisas no curto prazo. Este comportamento pode ter pouca importância nos indivíduos, numa economia que esteja mais ou menos «normal», ou seja, com expansão moderada do PIB, com oportunidades de realizar lucro em várias áreas, de obter dividendos, etc., por cima da taxa de inflação, geralmente baixa, ou, até, muito baixa.
É este cenário no qual os investidores do Ocidente estão habituados a moverem-se, pelo menos, desde o resgate dos grandes bancos e negócios, no rescaldo da última grande crise do capital, em 2008.
As pessoas e organizações, que tenham uma visão mais alargada, serão as que ficarão de pé, depois do «tufão» da próxima grande crise, que se desenha.
No imediato, todos serão severamente afetados. Mas, sobreviverão os que diversificaram seus investimentos para bens sem contrapartidas*, ou seja, bens que não sejam «colateral» duma instituição (banco, fundo de investimento...), que ninguém os tenha na sua custódia**.
Os outros, ou seja, os detentores de ativos financeiros (ações, obrigações, derivados e «cash», todos estes possuem contrapartidas) serão varridos pela onda de falências em série e pela inflação não controlada, que irá desembocar num paroxismo de hiperinflação.
Aliás, este fenómeno de sobre-endividamento das economias não é raro: Há exemplos numerosos, sendo eles causa e consequência de guerras, de ruturas do tecido social, de mudanças tectónicas na distribuição mundial do poder. Quem não percebe isto, é ignorante da História. Há ignorâncias que são fatais.
O pior, é quando pessoas incompetentes, seja qual for a sua tendência política e ideológica, estão ao leme de grandes instituições, de países, ou de organismos supranacionais.
Face ao panorama atual, considero que os BRICS alargados já ganharam, não porque sejam perfeitos, mas porque os dirigentes do «Ocidente coletivo» são de uma incompetência inimaginável, juntamente com sua arrogância, apanágio de imbecis e ignorantes.
Como as sociedades são governadas de cima para baixo, o que se espera de países tão mal governados é apenas o agravamento constante das condições de vida, numa espiral descendente, até se chegar a uma nova «Idade das Trevas» ...
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*Contrapartidas: um ativo dado em garantia, uma hipoteca, um contrato em que uma das partes pode tomar o ativo dado em garantia, caso haja incumprimento.
** A este propósito, veja o documentário de David Webb: https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2023/12/the-great-taking-grande-tomada.html
4 comentários:
Como elemento essencial da mudança de paradigma, sobressai a de-dolarização:
https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2024/01/o-seculo-de-ouro-literalmente.html
Como sempre, não sei agradecer o labor e a inteligência que informam a Cidadania de Manuel Banet. Benvindo blogue.
Abraço do Maximiano Gonçalves
Lena Petrova dá elementos concretos sobre a crise fiscal em curso nos EUA:
https://www.youtube.com/watch?v=ONAMmXPqCeg
Abaixo, infográfico das reservas de ouro dos bancos centrais em todo o mundo:
https://www.zerohedge.com/markets/which-countries-have-largest-gold-reserves
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