Contrariamente à opinião de António Barreto e de outros, que julgam haver possibilidade de reforma do sistema por dentro (mas acreditarão eles realmente, no seu íntimo, numa tal coisa???) penso que a questão política em Portugal se coloca de outro modo, não meramente por observação das «danças internas» dos partidos, mas sobretudo das realidades sociais, políticas, económicas, internacionais.
A questão política nº1 de Portugal é saber...
- se este país se transforma definitivamente em país destino de férias para a classe média baixa da Europa, enquanto os seus próprios filhos e filhas, não têm outra escolha senão servir nos bares e restaurantes (três meses por ano) ou emigrar para outras paragens onde o seu valor seja mais justamente apreciado...
- ou se Portugal tem energia interna para sacudir os vários jugos (internos e externos) que o prendem como país neocolonial e enceta um caminho de libertação, original, sem dúvida, mas que terá de aprender algo com os outros países neocoloniais que estão tentando agora mesmo libertar-se das suas dependências. No mínimo, deverá tentar encetar o seu caminho sem cair nos erros, alguns fatais, em que caíram outros.
Ora, se a política é protagonizada por forças políticas e por opiniões públicas, creio que as duas hipóteses acima são assimétricas, no que toca às probabilidades de concretização dos respectivos cenários.
- No primeiro caso, estamos perante a realidade vivida; é o presente, a que assistimos.
Para prova disto basta pensar-se no lamentável exemplo do desenvolvimento caótico do «alojamento local»* e nos impasses, nas falsas «soluções» que uns e outros avançam, na esperança vã de saída duma situação de intencional desregulação (a lei da selva capitalista), que foi provocada pelos que (des)governam o país e os seus principais centros urbanos.
- No segundo (encetar a caminhada libertadora), não existe massa crítica, porque a classe que poderia ter nisso um interesse real (e não meramente ideológico ou sentimental ou «nacionalista»), a classe média, é mantida anestesiada, drogada, pela ilusão persistente de que Portugal é um «Estado democrático».
Todos os «espertos», os «doutores da treta» espalhados pela media, mas também pelos partidos, incluindo os ditos de «esquerda», contribuem para a persistência desta visão e reforçam constantemente este complexo.
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*Algumas referências recentes para ajuizarmos o problema do alojamento local:
Alojamento local, legislação:
Deficiente fiscalização:
Guerra jurídica, causada por decisões conflituais:
Ilusão de rentabilidade:
Conflitualidade nos condomínios e projecto-lei:
Gentrificação e alojamento local:
Transformação do centro pelos sectores de luxo: