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quarta-feira, 9 de outubro de 2024

O MUNDO NA IIIª GUERRA MUNDIAL / CRÓNICA (Nº33) DA IIIª GUERRA MUNDIAL




Comentário de Manuel Banet:

A situação de impunidade e o à vontade com que Israel se move nos «palcos» internacionais, apesar das comprovadas violações repetidas do direito internacional e dos direitos humanos,  provocam a rutura da Turquia com a OTAN, e a sua aproximação aos BRICSEste é apenas um dos aspetos da total reorganização das alianças geopolíticas, em curso.
Além das duas guerras acesas no presente, nomeadamente na Ucrânia e no Líbano, há muitas zonas sujeitas a confrontos de «baixa intensidade» e das quais quase não se ouve falar. 

No campo económico, as sanções (ilegais) dos países ocidentais, contra certos membros dos BRICS, estão a levar a uma estrutura do comércio internacional separada em duas metades. A necessidade de proteger os bens financeiros dos seus países da rapina exercida pela administração dos EUA, que utiliza o dólar como arma de chantagem e de guerra, levou à construção de outras redes de pagamento internacionais, evitando o SWIFT (controlado pelos EUA), assim como à duplicação - pelos BRICS - de estruturas financeiras e bancárias internacionais, como o FMI e o Banco Mundial.

Entretanto, já existe um número elevado de candidatos à adesão aos BRICS, mesmo antes da conferência anual, em Kazan (Rússia): Nesta, é quase certo que sejam dados passos concretos para instaurar uma divisa nova (de nome provisório «The Unit»), destinada às trocas financeiras e comerciais de grande volume entre os aderentes aos BRICS e, também, envolvendo outros Estados que tenham  acordos com esta aliança. 

A própria ONU está posta em causa, dada a sua inoperância chocante em relação ao genocídio dos palestinianos civis em Gaza e nos Territórios. Ela própria demonstra a sua inutilidade, ao exibir a sua impotência em manter a paz e fazer respeitar as normas básicas da sua Carta. Esta incapacidade deve-se, em larga parte, à incondicional cobertura que recebe Israel dos países ocidentais, nomeadamente dos EUA, que possui poder de veto nas resoluções do Conselho de Segurança da ONU.

A constatação de que os EUA não conseguem impor a sua vontade, apesar do poderio militar que (ainda) possuem, não é tranquilizadora, pois há muitos elementos, na Administração e no Pentágono, que pensam ser possível utilizar bombas nucleares como meio de «esmagar» os adversários, sem que estes tenham a capacidade de responder. Mas isto é falso, trata-se de um delírio perigoso de megalomaníacos. Por outras palavras, em caso de confronto nuclear global, a destruição mútua e recíproca está garantida. 

A necessidade de convergência de todas as vontades pela afirmação de políticas de paz e pelo fim da guerra como meio de resolução dos conflitos, vai-se tornando cada vez mais evidente, à medida que a situação internacional se agrava. 

sexta-feira, 26 de julho de 2024

Caminhando sonâmbulos para a EXTINÇÃO NUCLEAR


 Scott Ritter, ex-inspetor no processo de desarmamento entre as duas superpotências de então, a URSS e os EUA, avisa que pode vir a guerra nuclear em 2026, depois de se ter deixado caducar o prazo do último tratado que  suspendia a instalação de mísseis nucleares intermédios, no continente europeu. 

Se estes mísseis intermédios estiverem instalados, o tempo de avaliação do perigo real de um ataque, em vez de 20 minutos, para uma ou outra parte, ficará reduzido a 5 minutos. Isto apenas dá para decidir um ataque preventivo, pela parte supostamente atacada. Um erro de deteção -de um lado, ou de outro- pode muito bem acontecer nestas circunstâncias e desencadear um ataque nuclear, sem que tenha sido decidido pelos responsáveis ao nível político.

Mas, o melhor é ouvir as explicações de Scott Ritter neste vídeo.

domingo, 21 de julho de 2024

DECLARAÇÃO DA OTAN E ESTRATÉGIA MORTAL NEOCONSERVADORA [Jeffrey Sachs]

 https://www.unz.com/article/the-nato-declaration-and-the-deadly-strategy-of-neoconservatism/

                     Foto: Biden discursando num encontro da OTAN, em Bruxelas


Em prol da segurança da América e da paz mundial, os EUA deveriam abandonar imediatamente o objetivo de hegemonia dos neocons, favorecendo em vez disso, a diplomacia e a coexistência pacífica.

In 1992, U.S. foreign-policy exceptionalism went into overdrive. The U.S. has always viewed itself as an exceptional nation destined for leadership, and the demise of the Soviet Union in December 1991 convinced a group of committed ideologues—who came to be known as neoconservatives—that the U.S. should now rule the world as the unchallenged sole superpower. Despite countless foreign policy disasters at neocon hands, the 2024 NATO Declaration continues to push the neocon agenda, driving the world closer to nuclear war.

The neoconservatives were originally led by Richard Cheney, the Defense Secretary in 1992. Every President since then—Clinton, Bush, Obama, Trump, and Biden—has pursued the neocon agenda of U.S. hegemony, leading theU.S. into perpetual wars of choice, including Serbia, Afghanistan, Iraq, Syria, Libya, and Ukraine, as well as relentless eastward expansion of NATO, despite a clear U.S. and German promise in 1990 to Soviet President Mikhail Gorbachev that NATO would not move one inch eastward.

The core neocon idea is that the U.S. should have military, financial, economic, and political dominance over any potential rival in any part of the world. It is targeted especially at rival powers such as China and Russia, and therefore brings the U.S. into direct confrontation with them. The American hubris is stunning: most of the world does not want to be led by the U.S., much less led by a U.S. state clearly driven by militarism, elitism and greed.

The neocon plan for U.S. military dominance was spelled out in the Project for a New American Century. The plan includes relentless NATO expansion eastward, and the transformation of NATO from a defensive alliance against a now-defunct Soviet Union to an offensive alliance used to promote U.S. hegemony. The U.S. arms industry is the major financial and political backer of the neocons. The arms industry spearheaded the lobbying for NATO’s eastward enlargement starting in the 1990s. Joe Biden has been a staunch neocon from the start, first as Senator, then as Vice President, and now as President.

To achieve hegemony, the neocon plans rely on CIA regime-change operations; U.S.-led wars of choice; U.S. overseas military bases (now numbering around 750 overseas bases in at least 80 countries); the militarization of advanced technologies (biowarfare, artificial intelligence, quantum computing, etc.); and relentless use of information warfare.

The quest for U.S. hegemony has pushed the world to open warfare in Ukraine between the world’s two leading nuclear powers, Russia and the United States. The war in Ukraine was provoked by the relentless determination of the U.S. to expand NATO to Ukraine despite Russia’s fervent opposition, as well as the U.S. participation in the violent Maidan coup (February 2014) that overthrew a neutral government, and the U.S. undermining of the Minsk II agreement that called for autonomy for the ethnically Russian regions of eastern Ukraine.

The NATO Declaration calls NATO a defensive alliance, but the facts say otherwise. NATO repeatedly engages in offensive operations, including regime-change operations. NATO led the bombing of Serbia in order to break that nation in two parts, with NATO placing a major military base in the breakaway region of Kosovo. NATO has played a major role in many U.S. wars of choice. NATO bombing of Libya was used to overthrow the government of Moammar Qaddafi.

The U.S. quest for hegemony, which was arrogant and unwise in 1992, is absolutely delusional today, since the U.S. clearly faces formidable rivals that are able to compete with the U.S. on the battlefield, in nuclear arms deployments, and in the production and deployment of advanced technologies. China’s GDP is now around 30% larger than the U.S. when measured at international prices, and China is the world’s low-cost producer and supplier of many critical green technologies, including EVs, 5G, photovoltaics, wind power, modular nuclear power, and others. China’s productivity is now so great that the U.S. complains of China’s “over-capacity.”

Sadly, and alarmingly, the NATO declaration repeats the neoconservative delusions.

The Declaration falsely declares that “Russia bears sole responsibility for its war of aggression against Ukraine,” despite the U.S. provocations that led to the outbreak of the war in 2014.

The NATO Declaration reaffirms Article 10 of the NATO Washington Treaty, according to which NATO’s eastward expansion is none of Russia’s business. Yet the U.S. would never accept Russia or China establishing a military base on the US border (say in Mexico), as the U.S. first declared in the Monroe Doctrine in 1823 and has reaffirmed ever since.

The NATO Declaration reaffirms NATO’s commitment to biodefense technologies, despite growing evidence that U.S. biodefense spending by NIH financed the laboratory creation of the virus that may have caused the Covid-19 pandemic.

The NATO Declaration proclaims NATO’s intention to continue to deploy anti-ballistic Aegis missiles (as it has already done in Poland, Romania, and Turkey), despite the fact that the U.S. withdrawal from the ABM Treaty and placement of Aegis missiles in Poland and Romania has profoundly destabilized the nuclear arms control architecture.

The NATO Declaration expresses no interest whatsoever in a negotiated peace for Ukraine.

The NATO Declaration doubles-down on Ukraine’s “irreversible path to full Euro-Atlantic integration, including NATO membership.” Yet Russia will never accept Ukraine’s NATO membership, so the “irreversible” commitment is an irreversible commitment to war.

The Washington Post reports that in the lead-up to the NATO summit, Biden had serious qualms about pledging an “irreversible path” to Ukraine’s NATO membership, yet Biden’s advisors brushed aside these concerns.

The neoconservatives have created countless disasters for the U.S. and the world, including several failed wars, a massive buildup of U.S. public debt driven by trillions of dollars of wasteful war-driven military outlays, and the increasingly dangerous confrontation of the U.S. with China, Russia, Iran, and others. The neocons have brought the Doomsday Clock to just 90 seconds to midnight (nuclear war), compared with 17 minutes in 1992.

For the sake of America’s security and world peace, the U.S. should immediately abandon the neocon quest for hegemony in favor of diplomacy and peaceful co-existence.

Alas, NATO has just done the opposite.


(Republished from Common Dreams by permission of author or representative)

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Pode ver o vídeo recente de diálogo sobre geoestratégia, entre Larry Johnson (antigo analista da CIA) e Pepe Escobar (jornalista brasileiro, baseado na Tailândia).
Veja também este vídeo, excerto de entrevista ao Prof. Jeffrey Sachs; é muito esclarecedor.

terça-feira, 5 de setembro de 2023

MENTALIDADE DE GUERRA ESTÁ A EMPURRAR UCRÂNIA E EUROPA PARA O SUICÍDIO [Pascal Lottaz]


 Não é difícil definir o campo da justiça e da lealdade para com todos os povos: A justiça e a consideração por todos os povos, em especial os que sofrem de uma guerra cruenta (e nunca por sua culpa, ao contrário dos chefes respetivos) obrigam a que se exija o cessar-fogo imediato, seguido de verdadeiras conversações de paz, com todos os intervenientes diretos e indiretos desta guerra. Esta foi a minha posição desde o início da invasão russa e mantenho-a. A destruição física e moral desta guerra só tem paralelo com as duas últimas guerras mundiais. Na verdade, trata-se também de uma guerra mundial, pois ocorre no plano da economia mundial (sanções, boicotes) e também na media global, sendo totalmente acertada a frase de que «numa guerra, a primeira baixa é a verdade». 

 Iniciativas para a paz nunca são demasiado cedo ou demasiado tarde. Elas são bem-vindas, pois evitarão o sofrimento pelas vidas que se perdem, ou pelos que ficam estropiados para sempre. 

terça-feira, 18 de outubro de 2022

[Gonzalo Lira] PONTO DE VIRAGEM (NA GUERRA) ESTÁ PRESTES A ACONTECER


 Gonzalo Lira, em Kharkov (Ucrânia) é observador direto do conflito da Rússia com a NATO. No Ocidente, as pessoas têm sido sistematicamente enganadas pela media sobre a situação no terreno. Estão sempre a dizer que os russos estão a perder, que a Ucrânia vai ganhar a guerra, o que não tem ponta de realidade! Ele defende que há uma grande probabilidade (sua estimativa é de 6/10, de acontecer) da NATO desencadear uma guerra nuclear. Oiça a lógica de Gonzalo no vídeo acima.

terça-feira, 12 de julho de 2022

O VERDADEIRO PACIFISMO

 


Eu não tenho a pretensão de ditar a moral ao Mundo. Quando encontro indivíduos que estão muito imbuídos das suas certezas, que acham que os outros têm de ouvir as razões pelas quais o seu campo, os exércitos de tal ou tal nação, deverão vencer, porque têm a «razão», a «justiça», a «história», do seu lado (agora já passou de moda dizer que têm «Deus a seu lado»), eu simplesmente evito a discussão. Percebo que se trata de alguém autoritário, incapaz de recuo, de análise crítica. Quando, ainda por cima, essa pessoa vem com lições de moral, impor-nos o que considera ser «a solução» para a guerra, autoproclamando-se pacifista, também evito discutir, porque percebo que é de todo inútil. É perder o meu tempo e energia, que são bem poucos e ainda mais preciosos, com indivíduos que não têm em consideração que a guerra, seja ela qual for, nunca foi «solução» para nada, senão talvez para consolidar o poder de ditadores e demagogos sobre as populações, as suas principais vítimas. *

Ser-se pacifista, é advogar-se - no concreto - um imediato cessar-fogo, como primeiro passo para negociações de paz, sob os auspícios duma entidade aceite por ambas as partes. A imposição de uma «paz» após a destruição completa dum dos lados, não se chama «paz», mas «rendição». 

Curiosamente, ambos os lados desta guerra da Ucrânia, que é sobretudo da NATO contra a Rússia, estão a advogar o mesmo. Tanto a Rússia como os EUA e seus aliados, só se satisfazem com a derrota completa do campo inimigo. Nesta fase da guerra, nem um nem outro, desejam que se abram conversações, que desemboquem num cessar-fogo. Aliás, ambas as partes importam-se pouco com os ucranianos, os  civis em particular. 

O povo ucraniano, ou russo, ou de qualquer país da NATO, não é, nem deverá ser considerado como responsável por aquilo que seus governos façam ou deixem de fazer. Na guerra, como no resto, os povos são rebanhos dóceis, sempre atirados para a carnificina, recoberta por discursos altissonantes, hinos patrióticos e, sobretudo, por uma propaganda de guerra, um condicionamento psicológico, de 24 h sobre 24h, onde não é tolerada qualquer outra perspetiva, quer vinda de personalidades, ou do cidadão comum. O silenciamento é real, porque alguém dissidente não tem meios de resposta ao mesmo nível de difusão. Isto não perde validade com a ilusão dos Twitter, ou outras mal designadas «redes sociais»; aliás, os donos das mesmas emitem regras para os «fact checkers» que excluem - sem apelo - qualquer voz realmente dissidente. Estas são, na realidade, as novas máquinas de propaganda ao serviço dos poderes, mas que não se mostram como tal. A perversidade é fazer crer que o vulgar cidadão pode «exprimir-se livremente», desabafar a sua ira,  júbilo, ou ódio, em geral, contra o Outro. O Outro, é aquele que se odeia, que nos condicionaram a odiar, mais que tudo, que se gostaria de ver triturado, anulado, feito em pó. Por isso, não surpreende a grande facilidade com que as potências nucleares se põem a «brincar com o fogo», arriscando a cada momento uma deriva para o que supostamente, «queriam evitar», ou seja, para uma nuclearização da guerra.

Se as pessoas individuais carregam certa dose de responsabilidade, é certo que se trata mais de um crime ou uma falta por omissão. Não se pode atribuir ao soldado raso a responsabilidade pelas decisões estratégicas, decididas pelo governo e pelo estado-maior do seu exército. Isso seria imbecil. Mas o soldado individual tem responsabilidade no que faz ou deixa fazer, por exemplo, se comete um crime de guerra, ou é conivente com ele. 

O mesmo se passa na esfera civil: Se as pessoas insistem em «acreditar», como se fossem factos inquestionáveis, nas mentiras produzidas pela media, embora saibam claramente que inúmeros veículos de informação, desde contas Twitter, a canais do Youtube e até cadeias de TV (o mesmo se passa na China e na Rússia, num certo grau),  são simplesmente censuradas, estão a ser coniventes com os crimes. 

Se alguém assume que determinada narrativa é inquestionável, que «é a verdade» e, sobretudo, não tolera que outras pessoas tenham pontos de vista diferentes, opiniões divergentes ou venham a público expor outros factos, essa pessoa está - na realidade - a colaborar ativamente na transformação de uma situação de supressão das liberdades transitória, para uma permanente.

Como assim? Caminha-se para a institucionalização de um estado de guerra permanente entre grandes potências. Isso conduz ao endurecimento dos respetivos regimes, sempre com o sacrossanto pretexto da «defesa nacional». O condicionamento das pessoas vai ser - cada vez mais - acompanhado por repressão, que pode ir até ao «desaparecimento», quer de pessoas anónimas, ou figuras públicas.

Todos os regimes procedem do mesmo modo: O poder autocrático ou as tendências mais autoritárias que existam numa nação, são sempre favorecidas pela guerra. Quer essa nação esteja a «ganhar» ou a «perder», a casta que domina o governo consegue, através da guerra, consolidar o seu poder, de modo impensável em tempo de paz.  

Esta é a chave para se compreender o que agora se está passar na Ucrânia, na Europa da NATO e na Rússia. Goste-se ou não, o facto é que estão a ser criadas as condições para um eternizar da guerra. Nada disto seria possível, se a guerra fosse resultante da vontade apenas do povo ou de ambos os povos em contenda. Pode existir um momento inicial (nalguns casos) em que a maioria da população, iludida, deseja a guerra. Mas, se fosse ela própria a decidir da continuação ou não da mesma, perante o horror e o cansaço de tanta destruição, tanta barbárie, ela iria rapidamente pedir um cessar-fogo e negociações. 

Creio que Mattias Desmet tem razão ao caraterizar o estado em que se encontra o mundo de hoje, enquanto resultante duma «formação de massas»; na sequência de Gustave Le Bon, no final do XIX, que considerava a psicologia de massas como um fenómeno essencialmente coletivo, que se apodera da vontade dos indivíduos; e na continuidade de Hannah Arendt, testemunha direta de dois monstruosos totalitarismos no século XX (o Nazismo e o Estalinismo) que refletia e escrevia sobre a forma como os poderes estatais se transformam em autoritários e estes «deslizam» em totalitários: A natureza das «simples» ditaduras e dos regimes totalitários é semelhante, à superfície. Mas, profundamente, a «tomada de posse» dos indivíduos, no totalitarismo, ocorre «por dentro», ou seja, os indivíduos são sujeitos a lavagem ao cérebro tão completa, que desejam no íntimo cumprir aquilo que o poder totalitário exige deles, isto é, o sacrifício mais total.** 

Nós verificamos que o condicionamento das massas, desencadeado na grande operação do COVID (que existiu enquanto epidemia viral, disso não tenho dúvidas) foi um laboratório mundial para testar a submissão das massas, a facilidade com que aceitavam mentiras da media, com que deixavam suas liberdades fundamentais serem suprimidas, do dia para a noite. Vimos também a cobardia dos intelectuais, o silêncio dos carreiristas, a conivência objetiva dos que não queriam ficar expostos, apesar de se mostrarem críticos, em conversas privadas. Esta operação não desencadeou, mas tornou mais provável uma guerra como a que tristemente está a acontecer agora em solo europeu. Por sinal, não é a «primeira guerra» intraeuropeia, desde há 70 e tal anos, como a propaganda atlantista dizia: num processo tipicamente «orwelliano», esquece que houve, em 1999, a guerra desencadeada pela NATO contra a Jugoslávia (Sérvia). Durante semanas a fio, houve bombardeamentos da NATO sobre zonas civis de Belgrado. Este crime hediondo foi feito à margem de qualquer legalidade internacional. 

Não sei quem realmente disse pela primeira vez  que «a guerra é a saúde dos Estados»: Existe um ensaio inacabado de Randolph Bourne  com este título. Mas, eu considero tão ou mais rigorosa a frase «War is a Racket» («A Guerra É Uma Chantagem»), título do livro de Smetley Butler, coronel dos EUA  ativo no período das guerras dos EUA contra o México (da qual resultou a anexação do Texas), Cuba (guerra hispano-americana) e as Filipinas. Aliás, obras literárias de militares, ou ex-militares, que estiveram numa guerra, presenciaram seu horror e denunciaram o «racket» (ou chantagem), não são raras. Algumas, têm o estatuto de obra-prima da literatura universal, como é o caso de «Guerra e Paz» de Leon Tolstoi.*** 

Evidentemente, não irei fazer aqui um rol das personalidades que lutaram numa guerra e que depois se tornaram convictas pacifistas. Tenho admiração por elas; elas defenderam pontos de vista muito minoritários em diversas ocasiões e, por vezes, com graves implicações para si próprias. 

Estes exemplos fazem-me ter uma esperança em que se ergam vozes, bem mais poderosas que a minha, com capacidade de mobilização e de iluminação. Espero que, através delas, se despertem as consciências de muitas pessoas que não perderam o essencial do humanismo.

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https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2022/02/se-queres-paz-prepara-paz.html

A minha posição desde o dia um desta guerra, tem sido de apelar ao cessar-fogo e conversações de paz. São os povos as inocentes vítimas das guerras. Quanto mais se prolonga uma guerra, maior o seu sofrimento, maior a destruição. O movimento pacifista internacional é muito claro, apela a um cessar-fogo. Nenhum dos «manda-chuva» da NATO faz isso. Querem mais guerra e é nisso que apostam.

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* * Não esqueçamos os processos de Moscovo, na era Estalinista, em que bolcheviques da primeira hora se humilhavam publicamente num julgamento fantoche, pedindo da sua condenação sem apelo, como forma última de se redimirem por terem sido opositores ao Secretário Geral, Joséf Estaline.  Também não me esqueço de todos os chorrilhos de mentiras que foram despejados sobre a população alemã condicionando-a odiar os judeus, os bolcheviques, os socialistas, os ciganos, os liberais, etc. De facto, embora se calasse, toda a população sabia que os judeus e os dissidentes políticos iam parar a campos de concentração, mesmo que nem todos soubessem dos detalhes macabros do que se passava lá dentro. Todos sabiam, igualmente, que as grandes fábricas usavam trabalho forçado (escravos), a IG-Farben, Siemens, Krupp, etc.

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*** Infelizmente, certas interpretações do romance distorcem a verdade profunda que Tolstoi quis veicular e que foi, aliás bem captada na sua época, na sua sociedade (segunda metade do século XIX). Mas isto seria, por si só, tema para um artigo dedicado ao grande romancista! 

terça-feira, 11 de janeiro de 2022

CIMEIRA DE GENEBRA E DEFESA DA AUTONOMIA DOS EUROPEUS


1-Os EUA são uma república; não são uma democracia.
Expandem-se pelo mundo fora, através da disseminação duma ideologia em que, supostamente, têm o condão de decidir quais são as forças e países democráticos ou antidemocráticos.
Invariavelmente, as forças tidas como «democráticas» são as que se ajoelham diante do poderio do Império, que prestam vassalagem ao poder hegemónico. Não importa qual a coloração política dos governos. Se forem pró-imperialistas, serão sempre bem-vindos. Temos o exemplo da Ucrânia, governada por uma coligação (ou cartel?) de forças, unidas para sacar o máximo deste país empobrecido, causar o máximo de desestabilização (1) em relação à Rússia e para desempenhar o papel que os EUA querem que eles representem.


2- Os EUA assumem-se como «suseranos» da Europa e ninguém os mandatou para tal
Os EUA fazem correr um risco enorme à Europa, se falharem agora uma ronda negocial onde ainda é possível encontrar uma saída que satisfaça todas as partes a partir do imbróglio causado pelos países da NATO e dos EUA. Lembremos que eles, coletivamente, traíram as promessas feitas a Gorbatchov e, depois a Yeltsin, de que os países que fizessem fronteira com a Rússia (todos eles ex-membros da URSS ou do Pacto de Varsóvia), não iriam jamais ser englobados na NATO. Pois fizeram exatamente o contrário, sem que houvesse justificação, até contrariando a própria Carta do Atlântico, na medida em que esta aliança, teoricamente, se apresentava como «defensiva».


3- Os europeus podem e devem encontrar um «modus vivendi» com a Rússia
Ora, não havendo mais Pacto de Varsóvia e não havendo vontade expansionista da Rússia, como se pode considerar a expansão da NATO, até às fronteiras da Rússia, com exercícios de tropas da NATO, no Báltico ou na Roménia, e mesmo, desde há algum tempo, sob forma encapotada, treinos de tropas de «elite» e colocação de mísseis, no território da Ucrânia? Eu considero que é um cerco e um provocar constante (2), não é uma atitude responsável, que possa conduzir a uma paz no teatro europeu.
Isto, independentemente das simpatias que se tenha ou não em relação à figura de Putin. Só sei que ele não é o «ditador», o «Stalin», que a propaganda descarada dos media ocidentais está sempre disposta a fazer. Muitos jornalistas ou são ingénuos, ou são comprados: Estão sempre a fazer «análises» sobre as intenções da Rússia, que convêm aos senhores da guerra. Refiro os «neocons», a indústria de armamento, o Estado Profundo, que inclui, nos EUA, o aparato de espionagem (17 agências) e a burocracia militar do Pentágono.


4- A paz no continente europeu implica acordo(s), tratado(s)
A única hipótese de haver paz no continente europeu é de um acordo entre as potências europeias. Isto não só não precisa, como até nem deveria incluir os EUA. Os EUA não têm nada que estar a «proteger-nos», com bases militares, nos vários territórios e países da NATO. Na verdade, apenas transformam esses países em alvos preferenciais em caso de guerra, são ocupações militares, que pesam muito no orçamento de cada país. Além disso, implicam que todo o sistema e equipamento militar desse país seja complementar das máquinas de guerra, de norma americana. Parte muito substancial do equipamento, desde os aviões a jato (de medíocre qualidade, dizem os especialistas) até às munições das espingardas automáticas, é patenteado por empresas dos EUA e fabricado nos EUA. Os políticos dos países do Ocidente sabem muito bem que não existe verdadeira independência em relação ao Tio Sam. Sabem que existe uma situação de semicolónia; só os povos desses países não o percebem claramente ainda. Os povos de outras regiões do mundo compreendem; também pessoas com espírito íntegro e independente, como Paul Craig Roberts, sabem-no e não se coíbem de afirmá-lo.


5- Condições para uma Europa Livre
Uma Europa Livre, significa uma Europa em Paz e uma Paz real significa a desnuclearização e troca de informações permanente, respeitante aos contingentes militares, com tratados que garantam a segurança das fronteiras, a não-ingerência nos assuntos internos, também garantindo a liberdade de circulação dos cidadãos e a proibição de formas de agressão não declaradas como a «guerra híbrida» que inclui a guerra económica (as sanções, os embargos, as barreiras comerciais e ao investimento).
Parece que isto deveria ser a aspiração comum de todos. Mas, pelo contrário (3), as forças que impedem que isto aconteça, estão vinculadas ao «altantismo», à NATO, à dependência da Europa em relação aos EUA. Neste momento, os perigos vêm de «think tanks» imbuídos de mentalidade de guerra-fria (4). Querem ver na Rússia de hoje, um prolongamento do «Império Soviético», o que não é factual nem realista. Mas, perigosamente, tal insistência ideológica acaba por fortalecer as tendências nacionalistas na Rússia.
Para uma Europa livre, do Atlântico aos Urais, deveria haver uma conferência intereuropeia, sem ingerência de outros países. As forças que, em cada país, lutarem por este objetivo, estão a maximizar a autonomia e independência do mesmo
Mais cedo ou mais tarde, essa reconfiguração vai ocorrer.
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PS1: Vendo os recentes desenvolvimentos no âmbito das conversações (falhadas) entre Rússia e EUA/NATO, apercebo-me que do lado ocidental há apenas má vontade. Começaram por reduzir as questões à entrada da Ucrânia na NATO, quando se trata afinal da garantia para a Rússia que não será ameaçada por bases, rampas de lançamento de mísseis, constantes manobras às suas fronteiras. Parece-me que, agora, os ocidentais estão a fazer «bluff» com sanções, não tomam uma atitude responsável. E, claro que estão a fazer isso com pleno acordo dos responsáveis máximos.

PS2: o fosso entre EUA e Rússia, tornou-se muito grande. Por isso, seria bom que instâncias terceiras que fossem aceites pelas duas partes pudessem intervir, para reatar o diálogo e evitar que descarrile de novo.

PS3: Quem irá pagar o preço de um crescendo nesta «guerra de sanções» entre a UE/EUA (NATO) e Rússia? Os europeus, pois dependem, num terço das suas necessidades, do gás russo e não terão possibilidade imediata de o substituir. Os americanos poderão assim capturar o mercado do gás natural europeu.


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(1) https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2022/01/guerra-com-russia-percecao-do-perigo.html


(2) https://www.globalresearch.ca/blinken-stoltenberg-unleash-unprecedented-diktat-ultimatum-russia-following-nato-fm-meeting/5766645


(3) https://www.unz.com/pgiraldi/where-are-the-realists/


(4) http://thesaker.is/the-south-needs-a-sane-foreign-policy/

sábado, 1 de janeiro de 2022

GUERRA COM A RÚSSIA: PERCEÇÃO DO PERIGO

Fig.1: Mapa da Ucrânia e das suas regiões, com as componentes étnicas e nacionais respetivas

Vejam o mapa acima, que quantifica as regiões da Ucrânia em termos étnicos e linguísticos. Será que isto pode ser um motivo válido para o desencadear da Guerra Mundial nº3? 
- Os problemas interétnicos decorrem de ou agudizaram-se após o golpe de Maidan, pró- UE e pró-Atlantista, tendo resultado na secessão pacífica, por referendo, da Crimeia, assim como na criação de repúblicas russófonas no Don, mantendo-se, desde então (2014) um conflito permanente com o poder de Kiev.
Estas situações são dramáticas, trágicas em si mesmas para as populações envolvidas. Não me parece que justifiquem que a NATO ou quaisquer outras instâncias tenham que «meter a pata» na Ucrânia. Tão pouco uma invasão russa traria qualquer melhoria objetiva da situação. Do ponto de vista dos interesses estratégicos da Rússia, uma tal hipótese é claramente vista, quer pelos círculos próximos de Putin, quer ela generalidade dos observadores, como um   enorme disparate. 
Resolver o problema, implica uma desescalada. Mas para se desescalar, tem de haver garantias reais e não vagas, de que a NATO não vai englobar a Ucrânia, que não vai incluir este país falido, governado por fanáticos anti-russos entre os seus membros. Compreende-se a preocupação do governo russo: Os adeptos de Stepan Bandera, com influência em sectores do governo e nas forças armadas,  têm uma ideologia ultra-nacionalista e alimentam a histeria anti-russa.  
A inclusão deste país na NATO iria desencadear ataques e provocações permanentes contra a Rússia e contra as repúblicas separatistas russófonas do Don, até ao ponto em que a Rússia seria encurralada (e também pressionada pela opinião pública russa) a reagir. Aí, a clausula de defesa dum membro da NATO justificaria a intervenção da Aliança como um todo. Um contra-ataque seria desencadeado e teríamos a terceira guerra mundial, em breve transformada em holocausto nuclear. Este cenário está bem presente, como forma  de chantagem, face à Rússia; é «brincar com o fogo», pois pressupõe uma escalada, um subir de tensão insuportável. 
Num contexto assim, qualquer manobra mal pensada, de um ou doutro lado, poderá ser o rastilho para a conflagração total. Esta, não ficará muito tempo ao nível de armas convencionais. Isto porque, logo que uma potência estiver «na mó de baixo» militarmente, sentirá o apelo irresistível para usar a arma nuclear. A partir daí, haverá uma troca de ataques nucleares, cujo desfecho é pior do que «1000 Hiroxima e Nagasaki». 
Quando vejo a media propalar, de forma acrítica e criminosa, a tese falsa de que a Rússia ameaçaria invadir a Ucrânia, fico preocupado, não apenas pela «lavagem ao cérebro» que estão a efetuar aos cidadãos, mas porque esta fase de pesadas manobras de propaganda costuma anteceder o desencadear duma guerra «a quente». 
Não, a Rússia não tem interesse nenhum em invadir a Ucrânia. Ficaria a braços com um problema muito pior do que foi o Afeganistão da era soviética e as altas esferas russas, tanto militares como civis, sabem perfeitamente que esta intervenção foi o erro que precipitou a queda da URSS: repetir isso, seria suicidário.

Mas, admitamos (por hipótese) que os russos «são uns mauzões», que não se pode confiar neles, etc. Então pergunto, qual é a relação de forças militares, ao nível mundial, entre as forças russas e as dos EUA, a NATO e todos as outras potências com eles alinhadas?

Só para se ter uma ideia de qual império tem sido mais agressivo, juntei abaixo um mapa das intervenções de cariz militar ou de sabotagem pela CIA, levadas a cabo pelos EUA, desde a IIª Guerra mundial. 

Fig.2: Mapa de intervenções militares dos EUA e de golpes da CIA desde a IIª Guerra Mundial

Afinal, quem são os «bullies»? Não estaremos a ver o «bully» a acusar a parte mais fraca exatamente daquilo que ele costuma fazer? Fazendo acusações infundadas como forma de chantagem e para forçar o apoio dos vassalos à sua causa?

Num cenário de guerra que se inicie na Europa, veja no mapa abaixo a quantidade de bases, dotadas de capacidade nuclear, que a NATO mantém e que são pontos de estacionamento e de trânsito de armas nucleares.

         Fig. 3: Bases da NATO com capacidade nuclear, em torno das fronteiras russas

Para mim, não há dúvida que existe perigo de guerra nuclear. Se ela vier a acontecer será, com toda a probabilidade, em resultado de uma escalada: Haverá continuadas fricções entre superpotências militares, primeiro acendendo guerras «por procuração», seguidas ou acompanhadas por provocações, do tipo de ataques de falsa-bandeira. Isso fornecerá o pretexto para desencadear uma guerra total. 
Os poderes militares em confronto cedo irão ter a tentação do recurso às armas nucleares, quer como forma de «neutralizar» o adversário, quer porque se encontram em situação difícil e o recurso às armas nucleares pode parecer-lhes a «única saída» para evitar um total desastre. 
Conclusão: a desnuclearização deveria ser a questão prioritária nº1 das potências, grandes, médias e pequenas, pois uma Terra devastada, contaminada, incapaz de sustentar a vida humana e as outras formas de vida, não pode ser desfecho desejável para nenhuma das partes. Ou seja, não haverá vencedor. 
Tornar a guerra nuclear mais próxima, mais verosímil, é um crime contra a humanidade, em si mesmo. É isso que as pessoas comuns devem compreender e têm de mostrar aos poderosos (de quaisquer nações) que não aceitam viver debaixo do medo do holocausto nuclear.

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PS1: No dia do início (10-01- 2021) das conversações entre Rússia e EUA, em Genebra, a perspetiva de um avanço significativo parece não convencer a maioria dos observadores. 
No entanto, os EUA estão numa posição em que não podem ditar as condições de um desanuviamento, à Rússia. Por outro lado, os seus vassalos da NATO, devem estar a pressionar os EUA a serem flexíveis. Perante uma maior deterioração das relações entre Rússia e UE, os perdedores seriam estes últimos. Enfim, na minha perspetiva, os EUA e a NATO têm toda a vantagem em trabalhar para uma solução. O Ocidente está em situação de obter um acordo sem «perder a face»... Desde que exista um mínimo de sentido de responsabilidade, de parte a parte; desde que predomine a abordagem diplomática sobre a militar. 

PS2: um deputado ucraniano, de um partido da coligação governamental diz que possui informações de que EUA e Rússia estão de acordo em que a Ucrânia não deva ser aceite na NATO. Do lado russo insiste-se nas garantias:

PS3: Um artigo de Mike Whitney extremamente bem documentado e demonstrando o absurdo da política americana em relação à Rússia, agora e desde o fim da Guerra Fria:

sexta-feira, 23 de abril de 2021

AMEAÇA DE GUERRA NUCLEAR É O ASSUNTO MAIS URGENTE NO MUNDO

        Por Caitlin Johnstone 

              

              Míssil «Titã», foto de https://www.rt.com/op-ed/521740-threat-nuclear-war-urgent/

Não existe assunto mais urgente no mundo que o da iminente possibilidade de que toda a gente possa morrer numa guerra nuclear. É loucura não estarmos a falar sobre isso todo o tempo.

O Comando Estratégico dos EUA, o ramo das forças armadas dos EUA responsável pelo arsenal nuclear, tweetou o seguinte na Terça-feira passada:

“O espectro de conflitualidade hoje, não é linear, nem previsível. Devemos ter em conta a possibilidade de um conflito conduzindo a situações, nas quais um adversário colocasse a opção de utilização de armas nucleares como a sua opção menos má.”

Esta declaração, que o STRATCOM designou como fazendo parte dum «rascunho» da Declaração de Posição ( Posture Statement) que submete todos os anos ao Congresso dos EUA, estava um bocado intensa para aparecer no Twitter.

Ela desencadeou uma série de respostas assustadas. Este susto era devido, não a qualquer inexactidão da  afirmação da STRATCOM, que era franca, mas à estranha situação de que o risco nuclear crescente  no nosso planeta quase não aparece à superfície, no discurso «mainstream».

Ler a continuação deste artigo de Caitlin Johnstone no seu site AQUI


quinta-feira, 25 de março de 2021

[Manlio Dinucci] Mísseis hipersónicos dos EUA na Europa, a cinco minutos de Moscovo

Retirado de: https://www.globalresearch.ca/us-hypersonic-missiles-europe-five-minutes-moscow/5740790?print=1

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Cerca de seis anos atrás, quando intitulamos "Os mísseis estão voltando para Comiso?" em «Il Manifesto» (9 de Junho de 2015), nossa hipótese de que os EUA queriam trazer seus mísseis nucleares de volta para a Europa foi ignorada por todo o arco político-média. Os eventos subsequentes mostraram que o alarme, infelizmente, tinha fundamento. Agora, pela primeira vez, temos a confirmação oficial.

Há poucos dias, em 11 de Março, uma das principais autoridades militares dos Estados Unidos, General James C. McConville , Chefe do Estado-Maior do Exército dos Estados Unidos, confirmou isso. Não numa entrevista à CNN, mas durante um discurso numa reunião de especialistas na Escola de Média e Assuntos Públicos George Washington - aqui temos a transcrição oficial do General McConville: Não apenas relatou que o Exército dos EUA está se preparando para implantar, evidentemente visando a Rússia, novos mísseis na Europa, mas revelou que serão mísseis hipersónicos, um novo sistema de armas extremamente perigoso.

Esta decisão cria uma situação de altíssimo risco, semelhante ou pior que a vivida pela Europa durante a Guerra Fria, como linha de frente do confronto nuclear entre os EUA e a URSS.

Os mísseis hipersónicos - sua velocidade é 5 vezes superior à do som (Mach 5), ou seja, mais de 6.000 km / h - constituem um novo sistema de armas com capacidade de ataque nuclear superior à dos mísseis balísticos. Enquanto estes seguem uma trajectória de arco na maior parte acima da atmosfera, os mísseis hipersónicos seguem uma trajectória de baixa altitude na atmosfera directamente em direcção ao alvo, que eles alcançam em menos tempo, penetrando nas defesas inimigas.

                       

Em seu discurso na Escola de Média e Assuntos Públicos George Washington, o General McConville revelou que o Exército dos EUA está preparando uma "força-tarefa" («task force») com "capacidade de disparo de precisão de longo alcance que pode variar de mísseis hipersónicos, a capacidade de médio alcance para mísseis de ataque de precisão e esses sistemas têm a capacidade de penetrar num ambiente de Negação Aérea Anti-Acesso ”. O General afirmou que “ vemos o futuro daquela ser no Pacífico, provavelmente dois no Pacífico ” (evidentemente dirigido contra a China) ; vemos uma na Europa (evidentemente dirigido contra a Rússia) ; e as estamos construindo enquanto falamos ”. 

Em comunicado oficial, a DARPA informou ter encarregado a Lockheed Martin de fabricar “um sistema de armas hipersónicas de alcance intermediário lançado em terra”, ou seja, mísseis com alcance entre 500 e 5.500 km pertencentes à categoria proibida pelo Tratado de Intermediário Forças nucleares assinadas em 1987 pelo presidente Gorbachev e pelo presidente Reagan; o tratado foi desfeito pelo presidente Trump em 2019. De acordo com as especificações técnicas fornecidas pela DARPA, será “um novo sistema que permite que as armas planadoras hipersónicas aumentem de forma rápida e precisa em alvos críticos e sensíveis ao mesmo tempo que penetram nas defesas aéreas inimigas modernas. O programa está desenvolvendo um impulsionador avançado capaz de entregar uma variedade de cargas úteis em vários intervalos e plataformas de lançamento terrestre móveis compatíveis que podem ser rapidamente implantadas ”.

O Chefe do Estado-Maior do Exército e a Agência de Pesquisa do Pentágono informaram, portanto, que os Estados Unidos em breve implantarão mísseis hipersónicos, armados com " uma variedade de cargas úteis " (isto é, ogivas nucleares e convencionais), na Europa (há rumores de uma provável primeira base na Polónia ou na Roménia). Mísseis hipersónicos nucleares de alcance intermediário instalados em “plataformas móveis de lançamento terrestre”, ou seja, em veículos especiais, poderiam ser rapidamente implantados nos países da NATO mais próximos da Rússia (por exemplo, as Repúblicas Bálticas). Já tendo a capacidade de voar a cerca de 10.000 km / h, os mísseis hipersónicos serão capazes de alcançar Moscovo em cerca de 5 minutos. 

A Rússia também está construindo mísseis hipersónicos de alcance intermediário, mas, ao lançá-los de seu próprio território, não pode atingir Washington. No entanto, os mísseis hipersónicos russos poderão atingir as bases dos Estados Unidos em poucos minutos, em primeiro lugar as nucleares, como as bases de Ghedi e Aviano, e outros alvos na Europa. A Rússia, tal como os Estados Unidos e outras nações, está implantando novos mísseis intercontinentais: o Avangard é um veículo hipersónico com um alcance de 11.000 km e armado com várias ogivas nucleares que, após uma trajectória balística, desliza por mais de 6.000 km a uma velocidade quase 25.000 km / h. Mísseis hipersónicos também estão sendo construídos pela China. Como os mísseis hipersónicos são guiados por sistemas de satélite, o confronto ocorre cada vez mais no espaço: para isso, a Força Espacial dos Estados Unidos foi criada em 2019 pela administração Trump.

As Forças Aéreas e Navais, que possuem maior mobilidade, também estão equipadas com armas hipersónicas. Essas armas abrem uma nova fase da corrida armamentista nuclear, tornando o Novo Tratado de Início, recentemente renovado pelos EUA e pela Rússia, em grande parte desactualizado. Esta corrida passa cada vez mais do nível quantitativo (número e potência das ogivas nucleares) ao nível qualitativo (velocidade, capacidade de penetração e localização geográfica dos veículos de lançamento nuclear). No caso de um ataque ou ataque presumido, a resposta é cada vez mais confiada à inteligência artificial, que deve decidir o lançamento dos mísseis nucleares em poucos segundos ou fracções de segundo. Aumenta exponencialmente a possibilidade de uma guerra nuclear por engano, um risco que ocorreu várias vezes durante a Guerra Fria. O “Doutor Strangelove” [personagem dum filme de Stanley Kubrick] não será um general maluco, mas um supercomputador enlouquecido.

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Este artigo foi publicado originalmente em italiano no Il Manifesto.

Manlio Dinucci é Pesquisador Associado do Center for Research on Globalization.